D O. Seficiência S I E R / e f i c ienergética ê n c i a e n er g é t i c a DOSSIER energia Por: João Campos nos setores agrícola e agropecuário A situação económica que Portugal atravessa faz com que os profissionais de todos os setores económicos estejam (ainda) mais sensíveis às questões da energia e sua economização. O setor agrícola não é exceção: produtores e técnicos procuram soluções para fazer baixar a conta da eletricidade. A importância que a eficiência energética pode ter para a economia nacional é imensa. Quando pensamos em Eficiência Energética, fazêmo-lo numa perspetiva de obter um consumo inferior de energia, sem por em causa o nível de conforto. Algumas medidas corriqueiras, como apagar uma luz ao sair de casa, podem ser facilmente executadas. Portugal apresenta execelentes condições edafo-climáticas que, como se sabe, podem trazer inúmeras vantagens para atividade agrícola e produção e transformação de energia. Na agricultura, o aproveitamento destes benefícios poderá ser sinónimo de redução de custos de produção e consequentes ganhos de competitividade. Prevê-se que, no futuro, as energias renováveis contribuam de modo significativo para a eficiência energética e para a redução de emissões de gases de estufa nos setores produtivos agrícolas. Josué Morais, Engenheiro Eletrotécnico, contextualiza a situação atual em Portugal: “Existem já muitas aplicações e outras estão em desenvolvimento que poderão contribuir para a melhoria da produção no setor agrícola.” A introdução das energias renováveis tanto para utilização direta na produção como no tratamento de subprodutos agrícolas para produção de energia elétrica, por exemplo através da Biomassa, tem já algumas aplicações, contudo há ainda “um longo caminho a percorrer.” O Diretor da Revista “O Electricista” refere que o acesso e os preços das tecnologias em questão têm de se tornar cada vez fácil e atraente. “Na divulgação também há muito a fazer, pois existem tecnologias mais ou menos consistentes que poderiam já ter mais aplicações e ainda são pouco conhecidas. Por outro lado, a crise criou dificuldades no acesso ao crédito par alavancar os projetos.” Cláudio Monteiro, docente na Faculdade de Engenharia da Faculdade do Porto, destaca as particularidades das explorações agrícolas que lhes conferem características positivas para o aproveitamento das energias renováveis: " são caracterizáveis por serem sistemas isolados, por disporem de muito espaço disponível e por disporem de resíduos biológicos com potencial para aproveitamento energético. O Diretor da "Renováveis Magazine" salienta que "as (energias) renováveis são especialmente viáveis em locais onde as soluções de rede elétricas são caras, com elevadas per- Josué Morais é licenciado em Engenharia Eletrotécnia e possui uma Pós-Graduação em Eficiência Energética e Utilização Racional de Energia Elétrica A combinação entre renováveis e agricultura, é portanto um "casamento" perfeito de eficiência, viabilidade técnica e sustentabilidade, refere Cláudio Monteiro. AS ENERGIAS RENOVÁVEIS NA AGRICULTURA AGROTEC / FEVEREIRO 2014 67 D O S S I E R / e f i c i ê n c i a e n er g é t i c a das e problemas técnicos de distribuição. "A combinação entre renováveis e agricultura, é portanto um "casamento" perfeito de eficiência, viabilidade técnica e sustentabilidade." Por sua vez, Ilídio Martins, da Federação Nacional de Regantes de Portugal (FENAREG), aborda a questão da rega: "Hoje já podemos dispor de sistemas de monitorização e telegestão autónomos, associados a painéis solares, normalmente em locais onde não existe energia elétrica, ou havendo, em situações em que se torna mais económico". Como referiu Ilídio Martins, existem já sistemas de rega de pequenas parcelas e abeberamento alimentados por sistemas solares e eólicos. "Neste campo há que continuar a introduzir inovação e aumentar a capacidade de obter energia renovável, reduzindo assim a emissão de gases com efeito de estufa e reduzindo a dependência externa". O Diretor da Fenareg aborda também a questão da competitividade, no que à rega diz respeito: "(...) a redução dos custos dos equipamentos e o melhoria da sua eficiência podem ser determinantes para aumentar a introdução das renováveis nos sistemas hidroagrícolas. Ilídio Martins reforçou ainda que é preciso "continuar a apostar na tecnologia, em sistemas de monitorização, atuar em tempo real nos sistemas de distribuição e de irrigação, e corrigir em tempo real." "A formação contínua dos técnicos e dos empresários agrícolas na área da gestão da água e da energia podem e devem ser indispensáveis para se continuar a aumentar a eficiência destes fatores", concluiu. 68 ENERGIA SOLAR (FOTOVOLTAICA E TÉRMICA), EÓLICA OU BIOMASSA? Em muitas situações o custo de eletricidade produzido a partir de sistemas fotovoltaicos já é mais barato que o custo da eletricidade da rede, sendo esta diferença um valor acrescentado direto. Com a diferença de que o custo da eletricidade fotovoltaica resulta de um investimento inicial enquanto que o custo da eletricidade da rede é um custo mensal. "Além da vantagem económica existe a vantagem ambiental, que em alguns casos pode mesmo ser valorizadas numa perspetiva de marketing verde (ver caixa)," acrescenta Claudio Monteiro. Os sistemas fotovoltaicos farão mais sentido se houver consumo de eletricidade. Em geral, qualquer lugar em Portugal é um bom local para instalar painéis solares fotovoltaicos. Marketing ambiental, ou Marketing Verde é a estratégia de marketing direcionada para o processo de venda de produtos e serviços que são baseados nos seus benefícios ao meio ambiente. Uma empresa que adota um posicionamento sustentável, é considerada, perante a sociedade, ecologicamente consciente (fonte: wikipedia). Josué Morais defende que as aplicações solares fotovoltaicas podem ser uma aposta interessante para aplicações financeiras em unidades de Micro e Miniprodução de energia elétrica para venda à rede, e em muitas aplicações diretas nos sistemas produtivos, reduzindo a dependência energética que vezes tem elevado peso nos custos de exploração, melhorando assim a competitividade, muito necessária nos dias de hoje. “Penso que deveriam existir mais incentivos à aplicação das energias renováveis na agricultura como forma de fomentar a sua utilização e o desenvolvimento de mais soluções que aportem mais-valias num setor que se tem desenvolvido bastante ultimamente, apesar da crise”, conclui”. A utilização de painéis solares fotovoltaicos será especialmente eficiente de bombagem de água, particularmente no verão em que a radiação solar é mais intensa, em iluminação autónoma de cercas eletrificadas, em sistemas autónomos de alimentação elétrica em locais longe da rede, tais como adegas, lagares de azeite, celeiros, armazéns, refrigeração de frutas e outros produtos, sistemas de vigilância e proteção, entre outros. A energia solar térmica pode também ser usada para vários fins, tais como limpezas, climatização de estufas e locais de criação de animais, incubadoras de ovos, aquecimento de biodigestores para produção de biogás, entre outros. A título exemplificativo, foi desenvolvido um projeto pioneiro cujo objetivo é tornar uma estufa agrícola, termicamente autónoma usando um inovador sistema solar térmico. Sucintamente, o objetivo deste projeto é verificar a nível energético e, consequentemente, económico a viabilidade de construção de estufas agrícolas, com um elevado grau de eficiência térmica usando coletores solares térmicos de baixa temperatura para o aquecimento de água, a qual servirá de acumulador de calor e de meio de transporte da energia térmica para o interior da estufa e, desse modo, reduzir a percentagem de energia de origem fóssil necessária para manter o ambiente da estufa dentro dos parâmetros requeridos pelo tipo de cultura. A energia eólica é utilizada desde há séculos na bombagem de água com os “cataventos”, e na moagem de grãos através dos moinhos eólicos. “Contudo, parece terem caído em desuso, embora mantenham grande potencial nessa vertente. Se na moagem a industrialização, a refinação das técnicas e as quantidades não se coadunem com a pequena escala dos moinhos referidos, na bombagem de água ainda faz muito sentido a sua utilização”, adianta Josué Morais. A biomassa é hoje uma oportunidade de negócio em crescimento em Portugal (n.d.r.: ver artigo seguinte). Para além da produção de energia elétrica nas centrais de biomassa que possuímos, utilizando a biomassa florestal ou dos resíduos sólidos urbanos, poderá ter um grande potencial de crescimento face ao custo da fatura energética nos setores produtivos. O fabrico de “pelets” e “brickets” para queima em caldeiras e lareiras, tem crescido ultimamente, devido aos custos da fatura energética com eletricidade e gás essencialmente. Pode ser utilizada em muitas das utilizações referidas na energia solar térmica. A SITUAÇÃO ATUAL EM PORTUGAL Muito haverá ainda para fazer e desenvolver no que à energia diz respeito em Portugal. Contudo, os produtores estão cada vez mais sensibilizados, facto que não passa desperce- D O. Seficiência S I E R / e f i c ienergética ê n c i a e n er g é t i c a DOSSIER Edgar Moreira defende que a população vê novamente a agricultura como fonte de rendimento e subsistência bido às empresas, que disponibilizam já variadas soluções. Para Edgar Moreira, neste momento o setor agrícola é o mais dinâmico e com maior potencial de crescimento em Portugal. "Após vários anos de incêntivos para o abandono das culturas, nos ultimos anos temos vindo a observar uma revitalização da Agricultura e Agropecuária. A população volta a procurar a agricultura como fonte de rendimento e subsistência", refere o diretor da Energia em Conserva. "O cliente final está cada vez mais preocupado com as alterações climatéricas, levando a que cada vez mais, prefira produtos associados a menores emisões de CO2 e com maior consciência produtiva", remata Edgar Moreira. Claudio Monteiro refere que os equipamentos são cada vez mais eficientes, pelo que as novas instalações refletem de forma natural uma melhoria quanto à eficiência. Nas instalações mais antigas existe obviamente uma preocupação com os custos da energia mas essa preocupação não tem sido suficiente para motivar uma transformação para melhor, facto que em tudo se assemelha a outros setores. Josué Morais corrobora e explica que há ainda muito a fazer. No entanto, o especialista em Eficiência Energética refere que atualmente existe já uma vasta gama de soluções eficientes aplicáveis aos sistemas energéticos na agricultura, tais como: –– Bombagem eficiente com uso de controladores (vulgo VEV) para os motores de rega e utilização de motores cada vez mais eficientes. O dimensionamento das bombas segundo as utilizações é também um processo crítico nesta matéria; –– –– Monitorização da humidade do solo, permitindo uma rega seletiva e quantificada ao estritamente necessário; Sistema de iluminação eficiente para naves de produção e outros usos, recorrendo a lâmpadas de LED e outras lâmpadas de eficiência elevada. O CASO DA ÁGUA Hoje em dia, "economizar água" e "economizar energia" são conceitos indissociáveis. A evolução tecnológica dos sistemas de distribuição de água tem levado a uma maior dependência de energia. A tecnologia permite controlar os processos de irrigação, desde a origem da água (furos, albufeiras, rios, etc), aos sistemas de distribuição (canais, condutas, estações elevatórias...) até à própria aplicação da água às culturas (gota-a-gota ou aspersão). No Alqueva, a gestão de água novos blocos de rega permite monitorizar todas as operações de fluxo de em tempo real, bem como a medição e entrega ao agricultor. "Em todo o sistema de Alqueva, desde a barragem principal, aos reservatórios, as barragens secundárias, as estações elevatórias, os canais 7 PONTOS PARA AUMENTAR A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: 1) Medição da energia nos principais processos produtivos. Ao conhecermos os consumos poderemos de forma mais objetiva analisar e posteriormente atuar nas áreas de maior consumo. A monitorização da energia utilizada é a base de um bom sistema de gestão de energia. Sem estes dados não sabemos como utilizamos a energia no respetivo negócio. 2) A utilização de motores elétricos mais eficientes e a otimização dos motores existentes, aplicando sistemas de arranque suave ou variadores de velocidade. Este aspeto é sobretudo importante no que respeita a sistemas de bombagem, seja para rega seja para sistemas de alimentação de água (poço/depósito) 3) Nos sistemas de aquecimento e de ventilação a utilização de sondas de temperatura, CO2, amoníaco e humidade integrados num sistema de controlo de em conjunto com relés de estado sólidos de comando analógico, além de garantir um ambiente correto reduz-se o consumo energético. Não esquecer que o controlo de temperatura e o das variáveis ambientais deverão estar controlados em conjunto, caso contrário corre-se o risco de estar a consumir energia desnecessária no aquecimento e na ventilação. Uma melhoria nas condições ambientais tem como resultado um aumento da produtividade. Como exemplo numa instalação pecuária para criação de porcos a ventilação poderá representar até 23% da energia consumida. 4) O controlo de iluminação, quer com a utilização de lâmpadas de menor consumo quer com sistemas automáticos de controlo permitem poupanças interessantes de energia elétrica. 5) A utilização de sistemas fotovoltaicos para produção de energia elétrica / aquecimento serão sem dúvida soluções a estudar para redução de custos. 6) Em sistemas de distribuição automática de alimentos para animais, a aplicação de sistemas de controlo de nível de produto (sensores capacitivos ou ultrassónicos por exemplo) em conjuntos com sistema de monitorização de algumas grandezas elétricas permitira gerir mais eficazmente as matérias-primas e garantir que os sistemas funcionam corretamente, alertando os operadores para qualquer situação anómala. 7) Um aspeto muitas vezes descurado é a manutenção e conservação dos diversos equipamentos (mecânicos e elétricos) assim como a verificação periódica da precisão dos sistemas de controlo, sobretudo no que respeita às sondas de medida. Não esquecer que em algumas zonas o ambiente é bastante agressivo no que respeita a equipamentos elétricos e eletrónicos. (Fonte: Carlo Cavazzi) AGROTEC / FEVEREIRO 2014 69 D O S S I E R / e f i c i ê n c i a e n er g é t i c a e a própria rede secundária é controlada com recurso a novas tecnologias de monitorização e telegestão, refere Ilídio Martins. O Vice-Presidente da FENAREG refere que nos últimos dez anos, as médias unitárias de produção de tomate e milho duplicaram em Portugal, sem que tivesse aumentado o consumo unitário de água, o que confirma que a água aduzida às culturas corresponde a uma dotação muito mais eficiente, tranduzindo-se em produção. "Hoje o agricultor pode saber quando regar equanto regar. Sistemas de monitorização da água no solo (sondas de humidade aliadas a software de análise que cruzam essa informação com parâmetros de solo e dados meteorológicos reais) permitem acompanhar a água ao longo do ciclo vegetativo das plantas, indicando a oportunidade e as reais necessidades de rega", conclui Ilídio Martins. Contudo, e apesar do avanço tecnológico da região do alqueva, Portugal continua a ter muitas sistemas de rega com mais de 50 anos de serviço, que carecem reabilitação e modernização urgentes. Isto porque "alguns são antigos e estão claramente ultrapassados em termos de eficiência e tecnologia, outros porquesendo novos carecem de atualização e afinação para melhorar a sua rentabilidade", conclui. O que fazer para melhorar a Eficiência Energética no uso da água? Por força da sensibilização e pelos custos da energia, começam a dar-se passos importantes na utilização de energias renováveis associadas à rega. "Hoje já podemos dispor de sistemas de monitorização e telegestão autónomos, associados a painéis solares, normalmente em locais onde não existe energia elétrica, ou havendo, em situações em que se torna mais económico", explica Ilídio Martins. Atualmente, existem já sistemas de rea de pequenas parecelas e abeberamento alimentados por sistemas solares ou eólicos. Neste campo há que continuar a introduzir inovação e aumentar a capacidade de obter energia renovável, reduzindo assim a emissão de gases com efeito de estufa e reduzindo a dependência externa. A redução dos custos dos equipamentos e o melhoria da sua eficiência podem ser determinantes para aumentar a introdução das renováveis nos sistemas hidroagrícolas", conclui. 70 SOLUÇÕES A Carlo Gavazzi possui na sua vasta gama de produtos e soluções para a área da agropecuária nomeadamente para aplicações em maquinaria agrícola, silos, sistemas de distribuição de alimentos para animais e sistemas de rega. Desde uma solução completa em contadores e analisadores de energia, aos mais variados tipos de sensores (capacitivos, ultrassónicos, sensores ambientais), relés estáticos e arrancadores suaves até aos sistemas de rega. A Ameno disponibiliza vários equipamentos de climatização de estufas, vacarias e ambientes exteriores. Alguns dos aparelhos que utilizam apenas água e eletricidade, consomem cerca de ¼ da energia dos sistemas de ar condicionado e reduzem a temperatura em cerca de 10ºC. A Energia em Conserva dispõe de soluções de produção energia elétrica, sistemas de energia renovável isolados da rede ou de venda à rede elétrica; bombeamento de água com recurso à energia fotovoltaica; sistemas de aquecimento, arrefecimento e ventilação; câmaras frigoríficas; sistemas de iluminação que permitem potenciar o crescimento das plantações e ajudar no combate da podridão nos períodos com menor amplitude solar; produção de água quente com recurso a energias renováveis, secadores solares para desidratação tanto de frutas, como ervas. A Frezite produz e comercializa equipamentos para a captação e gestão de água, o que permite escolher a solução mais adequada ao projeto. A partir da radiação solar que os painéis solares convertem em energia elétrica, torna-se possível acionar bombas que extraem água de poços ou tanques para aproveitamento da mesma. A solução FREZIPUMP VP 100/ VR 100 garante que enquanto houver radiação solar (luz do dia), haverá disponibilidade de água. Em particular para o mercado agrícola as soluções da Grundfos otimizam não só o uso eficiente da energia, mas também a utilização eficiente da água. Soluções de rega desenvolvidas pela Grundfos são compostas por bombas e quadros elétricos com variação de velocidade que permitem incorporar informação de sensores de humidade no solo e de previsão meteorológica ou outros para que permitam bombear a quantidade de água certa, quando esta é necessária e com o menor consumo energético possível. A FF Solar apresenta formas de aproveitar as energias renováveis em substituição dos escassos combustíveis fósseis. Microprodução, miniprodução, sistemas de bombas, térmicos e de aquecimento/arrefecimento, são algumas das soluções. O sistema de bombagem solar da Zehp Solar aproveita os recursos sustentáveis da energia solar fotovoltaica. De forma simples e eficaz viabiliza a captação de água de qualidade em locais remotos e regiões desprovidas de energia elétrica, para atender ao consumo humano, rega ou outros fins, como por exemplo bebedouros de animais.