10 popular catarinense > imbituba > sexta-FEIRA - 3 - junho - 2011 Maria Aparecida Pamato Santana Revivendo a história Imbitubense Um grande artista português e a Cerâmica “Henrique Lage” O jornal “O Albor”, de Laguna, edição n°1.238 de 01/01/1928, publica a seguinte nota: “Rio, 30 publica matéria de Faustino Passarelli: “Uma Visita à Cerâmica de Imbituba”, fazendo elogios ao trabalho desse artista e industrial. Nas fotos abaixo, uma amostra da produção artística do ceramista e pintor Ferreira. O industrial Henrique Lage, pretendendo desenvolver a indústria em Imbituba, adquiriu as máquinas necessárias para a montagem de uma grande fábrica de material sanitário e objetos de louça”. Henrique convidou, inicialmente, para dirigir a fábrica, o italiano experiente no ramo, Pietro Favalli. Ele não conseguiu, segundo imbitubenses mais antigos acertar o ponto da massa (biscoito) ao utilizar o produto básico extraído da região carbonífera. Parte da produção se quebrava. “Tanto que a Cerâmica de Imbituba só trabalhava com o barro (chamado barro branco) extraído das minas de carvão de Lauro Müller (O Albor – 1933). Em fevereiro de 1910, veio para o Brasil fixando-se na cidade de Pelotas-RS, Eduardo Ferreira; que bastante tempo depois, teria seu nome ligado à Cerâmica Henrique Lage. Eduardo veio com a esposa brasileira, Amélia de Carvalho Ferreira, natural de São Francisco de Paula - RS e os filhos Hilda (06/01/1903) e Mário Jorge de Carvalho Ferreira (10/09/1906), nascidos na cidade do Porto – Portugal. Ferreira, português de origem (cidade do Porto), nasceu em 13/06/1875. Filho mais novo de José Maria Ferreira, negociante proprietário dos “Grandes Armazéns Hermínios”, natural da Freguesia de Mello, concelho de Gouveia, bispado da Guarda, e de Hermínia Augusta Borges Ferreira, também do Porto. Em 12/06/1892, o Gymnasio Lauret e Sala D´artes, do Porto, conferiu-lhe a medalha “Ao Mérito”, em prata de lei, um dia antes de completar 17anos. Na adolescência, sua tendência e aptidões artísticas já deslumbravam o meio em que vivia pelos conhecimentos sobre pinturas artísticas. Detinha-se diante de mosteiros, igrejas e palácios suntuosos, admirando o que lhe alimentava a imaginação nas pinturas dos azulejos, técnicas que exigia perfeição, não possibilitando consertos ou arremates. O jornal português “O Primeiro de Janeiro” do Porto, publicou em 11 de janeiro e em 29 de maio de 1908, artigos elogiosos aos “azulejos d’arte” produzidos por Eduardo Ferreira que tinha seu ateliê “sob a igreja da Trindade”. Publicou, ainda, a abertura da temporada de águas no Hotel da Torre, Entre os Rios, onde Eduardo ofereceu ao balneário duas molduras de azulejos retratando dois dos fundadores do hotel. Cita mais adiante, que o artista participou do jantar de encerramento da temporada com sua esposa e os galantes filhinhos (Hilda 5 anos e Mário 2 anos). Em Pelotas, permaneceu até 1915 quando foi para a Companhia Cerâmica Villa Prudente – SP, onde permaneceu até 1919, período em que montou, em São Paulo, a primeira fábrica do Brasil para o preparo de faianças e porcelana, possuindo dez anos de experiência nas indústrias cerâmicas da França, Alemanha, e de Portugal. De telhas e tijolos, a Villa Prudente passou à produção de cerâmica artística. Entrou, em 1919, para a Cia Paulista de Louças Ceramus, permanecendo como Diretor Técnico até 1923, quando assume o Cargo de Diretor Gerente da Manufatura Nacional de Porcelanas em Inhaúma – Rio de Janeiro. O “Jornal do Brasil” publica, em 1930, artigo ”Azulejos”, servindo para a apresentação do “Grande Artista Português” – Eduardo Ferreira com a descrição de um grande painel de azulejos, o maior da América do Sul, com motivos alusivos ao chá, ao café e ao cacau, para ornamentar um café e restaurante à Rua Visconde de Inhaúma, esquina com a Rua da Quitanda. Além de outro, ao fundo, ilustrando o cardápio. Outra coluna do jornal, “Albor” mais tarde, faz a seguinte menção: “Aqui em Santa Catarina, um painel sacro do Artista Eduardo, denominado “O Batismo”, encontra-se na igreja do Mirim (Imbituba). Na foto, ao lado do painel, sua neta Jussara. Em janeiro de 1932, atendendo aos insistentes convites de Henrique Lage, o Sr. Eduardo veio conhecer as condições de vida em Imbituba e do trabalho na Cerâmica Henrique Lage. Já contratado para dirigi-la, retornou ao Rio de Janeiro, para tratar da transferência ao novo domicilio. Voltou a Imbituba somente em 22/08/1932, após ter o salvo conduto das autoridades federais, motivado pelo conturbado clima político da época (Revolução de 30), restringindo o direito de ir e vir. Após sua entrada no Grupo Lage, o Sr. Eduardo fez parte de uma comissão de cinco membros os “Big Five”, com Osvaldo dos Santos Jacintho, Álvaro Dias da Rocha, Álvaro Lage e Ernani Bittencourt Contrin (pai) para assessorar Henrique Lage. O jornal “Albor”, em 06/08/1933, Segundo o colunista Passarelli, “não fosse o artista de espírito tão retraído que é, estaria hoje, por certo, coberto de glórias”. (1933). Sua filha Hilda casou-se com o viúvo e catarinense Racine Leite em 22/02/1952. o casal não teve filhos. Já o filho Mário, homem muito culto, faleceu, solteiro em 28/09/1969. O Sr. Eduardo Ferreira, viúvo, casou-se com a jovem lagunense e professora em Imbituba Jupira Pigozzi, filha de Luiz Alfredo Pigozzi e de Celina Galletti Pigozzi. Dessa união, nasceu o filho único do casal, Eduardo Sérgio Pigozzi Ferreira, em Imbituba, na residência dos pais, dentro da área da então Cerâmica Henrique Lage. Eduardo, com 2 ou 3 anos, sentado diante de um painel de autoria do pai, em casa. Participando da Feira de Amostras de Santa Catarina, em Florianópolis (11/05/1940), com as suas produções artísticas, em Sessão Magna de Encerramento, ocorrida no Salão de Festas do Lira Tênis Clube (12/04), a Comissão Julgadora conferiu à Cerâmica a medalha de ouro e a distinção máxima o Grande Prêmio, com ata publicada no Diário Oficial do Estado em 24/04/1940. O Sr. Eduardo Ferreira veio a falecer no Hospital de Laguna, aos 65anos de idade. Seu caráter, seu dom artístico, suas obras de inconfundível talento, sua simplicidade e, principalmente, o respeito devotado aos seus operários, segundo relatos, credenciam a Eduardo Ferreira, no curto espaço de tempo que dedicou a Cerâmica Henrique Lage, uma página de ouro na História de Imbituba. Seu filho, Eduardo Sérgio, com 5 anos, e sua mãe, após o falecimento de seu pai, passaram a morar em Laguna, com a família materna. Retornaram a Imbituba quando Dona Jupira conseguiu emprego como escrituraria na Cia Docas, residindo no Imbituba Hotel. Eduardo, aos 10 anos, foi matriculado no internato do Colégio Catarinense (Florianópolis). Mais tarde, diplomouse em Economia e Administração de Empresa. Herdou dos pais a inteligência, a modéstia e o amor a esta terra, dedicando-se à pesquisa de campo sobre Imbituba. Ainda solteiro, ele e sua progenitora passaram a morar a Rua João Rimsa quando se casou com a Professora e Supervisora Escolar Marilda Cargnin Ferreira. O casal tem 3 filhos: Jussara, Ricardo e Eduardo e reside na mesma casa. Dados e fotos fornecidos pelo Sr. Eduardo Sérgio P. Ferreira, a quem agradecemos pela gentil acolhida.