UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO
DOS SINOS – UNISINOS
Prof. JOSÉ ODELSO SCHNEIDER
Participação – identidade - sustentabilidade
1. Um questionamento básico
2. Cooperativismo como instrumento de
sustentabilidade
3. Ações relacionadas a sustentabilidade em
geral
4. Qual é importância da relação entre o
cooperativismo e a sustentabilidade?
5. Desenvolver a “cultura do cuidado!”
6. Quatro âmbitos específicos da sustentabilidade.
7. Cooperativismo e sustentabilidade - Seu
impacto político-social
8. Os Valores universais do cooperativismo: a
primeira camada do seu alicerce!
1. Um questionamento básico
Há uma pergunta central, que nos faz refletir se cooperativismo é um
complemento ao capitalismo atual, ou uma alternativa democrática
em um cenário moderno, entre outros aspectos, a ser visto como
relevante instância em busca do desenvolvimento sustentável.
O cooperativismo é um complemento ao capitalismo atual, ou uma
alternativa democrática a ele em um cenário moderno? Analisando a
história contemporânea do movimento, o autor fornece subsídios para
o debate
A Organização Internacional do Trabalho assim a categorizou, em
2002: "Cooperativa se define como uma associação autônoma de
pessoas unidas voluntariamente para satisfazer suas necessidades e
aspirações econômicas, sociais e culturais em comum através da
criação de uma empresa de propriedade conjunta e gerida de forma
democrática".
Elas geram mais empregos que as empresas transnacionais e seu
órgão
representativo
desde
1895,
a
Aliança
Cooperativa
Internacional, afirma que há no mundo cerca de 1,2 bilhões de
cooperados.
Ainda são o que movem o que se convencionou chamar de economia
social, ou solidária, na qual os gordos lucros trimestrais, os ternos
Armani e os Bimas dos executivos não são uma meta prioritária.
O pai ideológico das cooperativas, o reformista social Robert Owen (17711858) acreditava que elas seriam as sementes de uma transformação
substancial do capitalismo. Com um funcionamento diverso da dinâmica
competitiva das empresas capitalistas, elas operariam uma mudança da
noção de mercado.
Cinco anos depois do nascimento de Owen, Adam Smith dizia que no caso
um homem era "ao mesmo tempo patrão e operário, desfrutando sozinho
do produto integral de seu trabalho", mas fazendo a ressalva que "essas
casos não são muito frequentes".
De qualquer forma, para quem vive a realidade da pujança do setor de
serviços
das
grandes
cidades,
as
cooperativas
de
produtores,
principalmente as agrícolas, que são sua maioria, não são entidades
visíveis, não obstante sua evidente importância. Sobre seu papel, o autor
Vianna Lopes prefere dizer que, diferentemente do socialismo, que seria
uma inversão do capitalismo, o cooperativismo seria seu desdobramento.
Vianna Lopes , jornalista e conhecedor do cooperativismo, acredita que
as cooperativas de trabalhadores aprofundam a emancipação do
trabalho que, voluntariamente associado, "propicia aos associados
maior controle de sua destinação e de seus frutos efetivos." O capital
inicial de uma cooperativa é, afinal, a associação, e nisto ela se
distingue de uma corporação, até porque a decisão coletiva orienta o
alcance e o sentido de seus empreendimentos.
E como consequência, os movimentos de cooperados radicalizam a
característica empreendedora do capitalismo, conferindo-lhe uma face
por assim dizer mais humana. Noções refrescantes, estas, e tão mais
próximas do Fórum Social que de Davos - a nos fazer pensar sobre
movimentos quase invisíveis para nós urbanos, ou portadores de uma
miopia social induzida pela mídia, , mas que tem enorme relevância.
Lopes é um cientista social interdisciplinar que coordena o grupo de
pesquisas
"Cidadania
Contemporânea"
da
Fundação
Casa
de
Rui
Barbosa, um importante polo de saber localizado no Rio de Janeiro. É
autor de diversos trabalhos sobre políticas publicas. A pergunta central
que
ele
faz
neste
livro
é
importante:
o
cooperativismo
é
um
complemento necessário ao capitalismo atual? Ou sua alternativa
democrática na modernidade? O sistema seguirá existindo em favor dos
1% em detrimento dos outros 99%?
O cooperativismo é uma doutrina, um sistema, um movimento ou
simplesmente uma atitude ou disposição que considera as cooperativas
como uma forma ideal de organização das atividades socioeconômicas da
humanidade, o que não difere muito do conceito de sustentabilidade, que
é a capacidade do ser humano interagir com o mundo preservando o meio
ambiente para não comprometer os recursos naturais das gerações
futuras.
A união de pessoas com o intuito de buscar uma melhor solução para
todos, além de ser mais viável e inteligente, é sustentável. O mundo está
repleto de exemplos de pessoas organizadas nas mais diversas formas e
em todas as atividades econômicas, que produzem mais, ganham mais,
distribuem melhor as riquezas e acima de tudo, vivem mais e felizes.
Há mais de 100 anos o cooperativismo já pensa assim e vem mudando o
mundo, envolvendo 1,2 bilhões de pessoas em mais de 90 países.
Por isso, durante a Feira do Empreendedor, de 1 a 3 de junho em Dourados,
o sistema OCB/MS acabou discutindo o tema cooperativismo e sustentável,
visando instrumentalizar os participantes de elementos básicos necessários
para
o
conhecimento
do
cooperativismo,
como
alternativa
ao
desenvolvimento sustentável, bem como da gestão e participação na
cooperativa.
As palestras se destinaram e foram direcionadas para
produtores rurais,
profissionais liberais, estudantes e professores, além do público da feira. E
tratou da globalização da economia e o cooperativismo; a cooperativa como
instrumento de desenvolvimento sustentável; os princípios cooperativistas; a
importância
cooperativas;
do
trabalho
diferenças
organizado;
entre
orientação
cooperativas,
mercantil, fundações, ong`s e oscip`s.
para
constituição
associações,
de
empresa
Cooperativismo é um movimento, uma filosofia de vida e um modelo
socioeconômico capaz de unir desenvolvimento econômico e bem-estar
social. Seus referenciais fundamentais são: participação democrática,
solidariedade, independência e autonomia.
É o sistema fundamentado
1. na reunião de pessoas e não no capital.
2. Visa à satisfação das necessidades do grupo e não do lucro.
3.Busca prosperidade conjunta e não individual. Estas diferenças fazem
do cooperativismo a alternativa socioeconômica que leva ao sucesso
com equilíbrio e justiça entre os participantes.
Associado
a
valores
universais,
o
cooperativismo
se
desenvolve
independentemente de território, língua, credo ou nacionalidade.
Cooperativismo é a doutrina que preconiza a colaboração e a associação
de pessoas ou grupos com os mesmos interesses, a fim de obter
vantagens comuns, ou seja, para si e para os outros, em suas atividades
econômicas.
O associacionismo cooperativista tem por fundamento o progresso social
da cooperação e do auxílio mútuo segundo o qual aqueles que se
encontram na mesma situação desvantajosa de competição conseguem,
pela soma de esforços, garantir a sobrevivência. Como fato econômico, o
cooperativismo atua no sentido de reduzir os custos de produção, obter
melhores condições de prazo e preço, edificar instalações de uso comum,
colocar no mercado o que o associado produz, enfim, interferir no sistema
em vigor à procura de alternativas a seus métodos e soluções.
Seus princípios, estabelecidos em 1966
pela Aliança Cooperativa
Internacional, remontam a outros fixados em 1844 e resumem-se em:
adesão livre; gestão democrática; taxa limitada de juro ao capital social;
sobras
eventuais
aos
cooperados,
que
podem
ser
destinadas
ao
desenvolvimento da cooperativa, aos serviços comuns e aos associados,
proporcionalmente a suas operações; neutralidade social, política, racial
e religiosa; ativa colaboração das cooperativas entre si e em todos os
planos, local, nacional e internacional; constituição de um fundo de
educação dos cooperados e do público em geral.
Uma
cooperativa
é
uma
sociedade
cujo
capital é
formado
pelos
associados e tem a finalidade de somar esforços para atingir objetivos
comuns que beneficiem a todos.
Há
muitos
tipos
de
cooperativas.
Algumas
têm
como
finalidade
a
comercialização de bens produzidos por seus membros. Essas são as
chamadas cooperativas de produção.
Outras têm a finalidade de comprar bens de consumo e revendê-los a seus
associados a preços mais baratos que os do mercado; são as cooperativas
de consumo. Outras fornecem recursos financeiros aos seus associados;
chamam-se cooperativas de crédito.
Outras, finalmente podem prestar serviços, como transporte de carga,
abastecimento
de
água,
cooperativas de serviço.
distribuição
de
energia
elétrica;
são
as
Nas cooperativas a produção é armazenada para posterior negociação.
Isso elimina a figura do atravessador, fator encarecedor que não remunera
a produção.
Sustentabilidade é isso, atender o produtor, o consumidor e o prestador
de serviços, sem sacrificar a cadeia produtiva, o resto é utopia e
discurso politico.
Os homens vêm trabalhando em conjunto, desde os tempos primitivos,
na colheita e na produção de bens. Alguns homens defenderam a idéia
de que todos os frutos do trabalho comum deveriam ser repartidos
igualmente. Outros argumentam que todas as vezes que esse sistema foi
tentado os trabalhadores perderam o estímulo pelo trabalho, ficaram
desinteressados e insatisfeitos.
Robert Owen, industrial inglês e William King, médico, nos
inícios do Século XIX, foram as primeiras pessoas do mundo
moderno a tentar organizar uma
beneficiar
os
empregados
e
empresa destinada a
consumidores.
Não
obteve
grande sucesso.
William King, chegou a recomendar aos
operários
possuíssem
que
suas
próprias
máquinas.
Sustentabilidade é um termo usado para definir ações e atividades
humanas que visam suprir as necessidades atuais dos seres humanos,
sem comprometer o futuro das próximas gerações.
Ou
seja,
a
sustentabilidade
está
diretamente
relacionada
ao
desenvolvimento econômico e material sem agredir o meio ambiente,
usando os recursos naturais de forma inteligente para que eles se
mantenham no futuro. Seguindo estes parâmetros, a humanidade pode
garantir o desenvolvimento sustentável.
Sustentabilidade é a habilidade de sustentar ou suportar uma ou mais
condições, exibida por algo ou alguém. É uma característica ou
condição de um processo ou de um sistema que permite a sua
permanência, em certo nível, por um determinado prazo.
Ultimamente este conceito, tornou-se um princípio, segundo o qual o
uso dos recursos naturais para a satisfação de necessidades presentes
não pode comprometer a satisfação das necessidades das gerações
futuras, o que requereu a vinculação da sustentabilidade no longo
prazo, um "longo prazo" de termo indefinido, em princípio.
Sustentabilidade também pode ser definida como a capacidade do ser
humano interagir com o mundo preservando o meio ambiente para não
comprometer os recursos naturais das gerações futuras. É um conceito
que
gerou
dois
programas
nacionais
no
Brasil.
O
Conceito
de
Sustentabilidade é complexo, pois atende a um conjunto de variáveis
interdependentes, mas podemos dizer que deve ter a capacidade de
integrar as Questões Sociais, Energéticas, Econômica e ambiental.
Recomendações Gerais:
- Exploração dos recursos vegetais de florestas e matas de forma
controlada,
garantindo
o
replantio
sempre
que
necessário.
- Preservação total de áreas verdes não destinadas a exploração
econômica.
- Ações que visem o incentivo à produção e consumo de alimentos
orgânicos, pois estes não agridem a natureza além de serem benéficos
a saúde dos seres humanos.
- Exploração dos recursos minerais (petróleo, carvão, minérios) de forma
controlada,
racionalizada
e
com
planejamento.
- Uso de fontes de energia limpas e renováveis (eólica, geotérmica e
hidráulica) para diminuir o consumo de combustíveis fósseis. Esta ação,
além de preservar as reservas de recursos minerais, visa diminuir a
poluição do ar.
- Criação de atitudes pessoais e empresarias voltadas para a reciclagem de
resíduos sólidos. Esta ação além de gerar renda e diminuir a quantidade de
lixo no solo, possibilita a diminuição da retirada de recursos minerais do
solo.
- Desenvolvimento da gestão sustentável nas empresas para diminuir o
desperdício de matéria-prima e desenvolvimento de produtos com baixo
consumo de energia.
- Atitudes voltadas para o consumo controlado de água, evitando ao máximo
o desperdício. Adoção de medidas que visem a não poluição dos recursos
hídricos, assim como a despoluição daqueles que se encontram poluídos ou
contaminados.
Benefícios
A adoção de ações de sustentabilidade garantem a médio e longo prazo um
planeta em boas condições para o desenvolvimento das diversas formas de
vida, inclusive a humana. Garante os recursos naturais necessários para as
próximas gerações, possibilitando a manutenção dos recursos naturais
(florestas, matas, rios, lagos, oceanos) e garantindo uma boa qualidade de
vida para as futuras gerações. Sustentabilidade é uma maneira de crescer de
forma que não agrida algo ou alguém.
O cooperativismo contemporâneo é um modelo socioeconômico que visa
o desenvolvimento econômico e o bem-estar social das comunidades
onde estão inseridos. Por sua vez, a sustentabilidade também busca os
dois aspectos que citamos acima, acrescentando a eles a dimensão
ambiental, com base na conservação dos recursos naturais para as
gerações futuras.
A presença de cerca de 7.000 cooperativas e 11,5 milhões de
associados no Brasil, são números que mostram a importância deste
setor para o desenvolvimento do País, bem como a sua própria
sustentabilidade.
Atualmente, as cooperativas atuam em diversas áreas, como agropecuária,
comércio, habitação, educação, entre outros. Também segundo a OCB, em
2012, o cooperativismo injetou R$ 9 bilhões na economia nacional, apenas
com salários e benefícios ao trabalhador.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 50% de
toda a produção agropecuária brasileira passa por uma cooperativa. Em
2011, haviam mais de 1.500 cooperativas agrícolas no Brasil, totalizando
aproximadamente 1 milhão de cooperados, o que mostra a importância de
continuarmos
estreitando
a
relação
entre
cooperativismo
e
sustentabilidade.
Somente por meio do desenvolvimento agrícola sustentável seremos
capazes de
superar os desafios demográficos e atender a crescente
demanda mundial por alimentos, fibras e energia.
Segundo o relatório “Perspectivas da População Mundial: Revisão de
2012”, divulgado pela ONU em junho de 2013, a população do planeta
chegará a 9,6 bilhões de pessoas em 2050.
Os
países
emergentes”,
em
desenvolvimento,
em
especial
os
“países
serão os que mais impactarão nesse crescimento,
sobretudo com o aumento da renda per capita e da expectativa de
vida da população, que será majoritariamente urbana. Nesse
processo, o Agro brasileiro é altamente competitivo, pois além de
reunir
condições favoráveis de clima e solo, pode promover o
desenvolvimento
socioeconômico
produtores rurais, incluindo aqui
e
beneficiar
milhares
de
a agricultura familiar e o seu
potencial de produção de alimentos sadios.
Para inserir os pequenos produtores na cadeia de valor do agronegócio
e torná-los cada vez mais competitivos, as cooperativas
têm o
importante papel de indutoras de práticas sustentáveis aos seus
cooperados. São elas quem podem oferecer programas de treinamentos
e capacitação, como os que já são disponibilizados por meio do Serviço
Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop).
Além disso, as cooperativas já oferecem
assistência técnica, acesso à
tecnologia inovadoras, projetos de Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL), acesso a financiamentos e aos canais de comercialização
da produção.
Por sua natureza, as cooperativas já oferecem ao seus cooperados uma
série de benefícios, aos quais podem ser acrescidas iniciativas para
melhorar
a
gestão
e
promover
ações
de
responsabilidade
socioambiental nas comunidades onde atuam, contribuindo para o
melhor entendimento sobre a relação entre o cotidiano das pessoas e a
sustentabilidade.
O grande desafio para o futuro do cooperativismo será continuar
investindo na capacitação de suas lideranças, visando acelerar a
incorporação
de
práticas
sustentáveis
de
boa
governança,
de
qualificada gestão antes, dentro e fora da porteira, beneficiando toda a
cadeia produtiva onde atuam.
A preocupação pela sustentabilidade envolve o empenho pela sua
realização em quatro âmbitos específicos.
O
princípio
da
sustentabilidade
aplica-se
desde
um
único
empreendimento e a uma pequena comunidade (a exemplo das
ecovilas), até o planeta inteiro. Para que um empreendimento humano
seja considerado sustentável, é preciso que seja:
- ecologicamente correto e adequado
- economicamente viável, com parcimônia no uso dos recurso
- socialmente justo, extensivo a todos nos seus benefícios
- politicamente democrático, participativo e gerador de protagonismo
Três níveis de atenção básica como demandas da sustentabilidade:
•
Na
Questão
Social:
Sem
considerar
a
questão
social,
não
há
sustentabilidade. Em primeiro lugar é preciso respeitar o ser humano,
para que este possa respeitar a natureza. O do ponto de vista do ser
humano, ele próprio é a parte mais importante do meio ambiente.
• Na Questão Energética: Sem considerar a questão energética, não há
sustentabilidade. Sem energia a economia não se desenvolve. E se a
economia não se desenvolve, as condições de vida das populações se
deterioram.
• Na Questão Ambiental: Sem considerar a questão ambiental, não há
sustentabilidade. Com o meio ambiente degradado, o ser humano abrevia
o seu tempo de vida; a economia não se desenvolve; o futuro fica
insustentável.
Na opinião de Orlando Borges Muller, Presidente da Central Sicredi Sul,
nos últimos cinco anos, a sustentabilidade tem ocupado os debates no
meio empresarial, da produção industrial e rural ao comércio e
serviços. As empresas e entidades dos diversos segmentos buscam
alinhar suas estratégias e sua gestão a uma governança com perfil
sustentável.
A
grande
indagação
está
em
como
conciliar
os
princípios
da
sustentabilidade às realidades particulares de cada empresa, segmento
e tipo de negócio, e através dessa lógica, desenvolver ações junto aos
stockholders e às comunidades que reflitam, de forma concreta, o
significado da sustentabilidade.
No
cooperativismo,
porém,
há
uma
vantagem
no
entendimento
da
sustentabilidade em nossos negócios. Já olhamos, pensamos e agimos com
foco no coletivo. O que nos confere uma flexibilidade intrínseca na atuação da
gestão.
O desenvolvimento sustentável é para as cooperativas um princípio de
valoração na relação entre seus associados e a sua atividade-fim. Crescer e
buscar
resultados
positivos
é
uma
questão
coletiva,
onde
todos
são
corresponsáveis pelas conquistas. E o valor monetário, social ou ambiental
proveniente desse esforço coletivo é devidamente distribuído conforme o
envolvimento de cada um.
A sustentabilidade no cooperativismo nos dá o legado de termos fundamentos
ainda mais arraigados em critérios participativos e que representam –
efetivamente – na essência do nosso negócio, o ser cooperativo. E esse
conceito reflete o princípio existencial da sustentabilidade: o olhar responsável
e comprometido diante do resultado de qualquer ação seja ela na gestão, na
educação e na relação com a comunidade
O cooperativismo e o desenvolvimento sustentável são, cada vez mais, um
sinônimo do outro. Sem o comprometimento com o coletivo, nós não
existimos. Quando a sociedade entender que ter uma postura cooperativa
é o caminho para a diminuição de conflitos e para um crescimento gradual
de todos, iniciaremos a construção de um mundo melhor: cooperativo,
sustentável, participativo e coletivo.
Isto por que o cooperativismo não apenas se preocupa com o bem estar e
a dignidade individual, mas se baseia nos valores da ajuda mútua, da
responsabilidade, democracia, igualdade, equidade e solidariedade. O
cooperativismo nasceu no final do século 19, na Inglaterra dos tempos da
Revolução Industrial, quando 28 tecelões se uniram para fundar uma
sociedade com uma visão diferente de mercado.
Ela buscava ser uma alternativa econômica ao capitalismo acelerado
da época, que causou a Questão Social, tendo o trabalhador com a
grande
vítima,
causando
aumento
exagerado
nos
preços,
no
desemprego e na jornadas de trabalho cansativas para mulheres e
crianças.
Com o passar dos anos, mais pessoas foram aderindo da cooperação e
da solidariedade e a noção de cooperativismo foi se adaptando aos
novos tempos. A essência, no entanto, continua a mesma.
De
acordo
com
a
definição
proposta
pela
Aliança
Cooperativa
Internacional (ACI), cooperativa é uma associação de pessoas que se
unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades
econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de
propriedade comum e democraticamente gerida. É uma cultura
baseada
na
solidariedade,
confiança
e
na
ação
coletiva.
Sustentabilidade é a capacidade de um indivíduo, grupo de
indivíduos ou empresas e aglomerados produtivos em geral,
manterem-se inseridos num determinado ambiente sem, contudo,
impactar violentamente esse meio. Assim, pode-se entender que
isso significa a capacidade de usar os recursos naturais e, de
alguma forma, devolvê-los ao planeta através de práticas ou
técnicas desenvolvidas para este fim.
O cooperativismo, como se sabe, é possivelmente o único movimento
socioeconômico
do
planeta
que
se
desenvolve
sob
uma
mesma
orientação doutrinária, e assim é desde o seu surgimento na primeira
metade do Século XIX (1844), em Rochdale, na Inglaterra.
Os direcionadores doutrinários vêm representados especialmente por
valores e princípios, adotados em todo o mundo. E o que vem antes!? Os
valores, perenes, de raízes mais profundas – a base de toda a estrutura -,
precedem e dão origem aos princípios. Estes, por sua vez, traduzem os
valores e os levam à prática no meio cooperativo. Os princípios são uma
espécie de ponte ligando grandes diretrizes a ações. Para dar a
necessária dinâmica e atualidade à doutrina cooperativista, os princípios
– diversamente dos valores –- são passíveis de revisão (atualização) na
linha de tempo, o que, por sinal, já aconteceu algumas vezes no âmbito
da Aliança Cooperativa Internacional (ACI).
Diferentemente dos princípios, delimitados formalmente, não existe rol
conclusivo ou exaustivo de valores. Das inúmeras referências feitas por
doutrinadores no mundo todo, a enunciação mais recorrente recai sobre a:
1)
SOLIDARIEDADE,
cuja
essência
reside
no
compromisso,
na
responsabilidade que todos têm com todos, fazendo a força do conjunto e
assegurando o bem de cada um dos membros. É uma espécie de
reciprocidade
obrigacional,
justificada
pelo
interesse
comum.
Ser
solidário é praticar a ajuda mútua (esta, por vezes, aparece como valor
autônomo), é cooperar por definição, é tornar o empreendimento sólido.
2) Liberdade, que está no direito de escolha pela entidade cooperativa,
tanto na hora do ingresso como no momento da saída, podendo a pessoa,
enquanto cooperado, mover-se e manifestar-se de acordo com a sua
vontade
e
coletivamente.
consciência,
respeitados
os
limites
estabelecidos
3) Democracia, que está diretamente relacionada ao pleno direito de o
associado participar da vida da cooperativa em toda a sua dimensão,
especialmente pela palavra e pelo voto, implicando, em contrapartida,
respeito às decisões majoritárias. Indica também acesso universal, sem
discriminação de qualquer espécie. É pela democracia que se exerce a
cidadania cooperativa.
4) Equidade, que se manifesta, fundamentalmente, pela garantia da
igualdade de direitos, pelo julgamento justo e pela imparcialidade, tanto
em aspectos econômicos como sociais.
5)
Igualdade,
que
impede
a
segregação
em
razão
de
condição
socioeconômica, raça, gênero ou sexo, ideologia política, opção religiosa,
idade ou de qualquer outra preferência ou característica pessoal. A todos
devem ser assegurados os mesmos direitos e as mesmas obrigações.
6) Responsabilidade, que tem a ver com a assunção e o cumprimento de
deveres. Como cooperada, a pessoa é responsável pela viabilidade do
empreendimento, incumbindo-lhe operar com a cooperativa e participar
das atividades sociais. Cada qual responde pelos seus atos, devendo
conduzir-se com retidão moral e respeito às regras de convívio adotadas
coletivamente.
7) Honestidade, que se liga à verdade por excelência. É uma das
marcas de pessoas de elevado caráter. Tem a ver com retidão,
probidade e honradez. Dignidade, enfim.
8) Transparência, que diz respeito à clareza, àquilo que efetivamente é,
sem ambiguidade, sem segredo. No meio cooperativo, todos têm de ter
conhecimento preciso sobre a vida da entidade: sua gestão, seus
números, suas regras.
9) Consciência socioambiental, que se conecta ao compromisso do
empreendimento cooperativo, naturalmente de caráter comunitário, com
o
bem-estar
das
pessoas
e
com
a
proteção
do
meio
ambiente
compreendidos na sua área de atuação, preocupação que envolve
desenvolvimento econômico e social e respeito ao equilíbrio e às
limitações dos recursos naturais.
A palavra-chave, aqui, é sustentabilidade. Pelo seu significado e a sua
atualidade, estuda-se no âmbito da ACI dedicar ao tema um novo (8º) e
exclusivo princípio universal do cooperativismo.
Essas, portanto, são as diretrizes mais abrangentes do movimento
cooperativista, e que influenciam a elaboração dos princípios e das regras
aplicáveis a todas as organizações de natureza cooperativa nos quatro
cantos do mundo.
“As cooperativas são um exemplo virtuoso de resistência à crise
– Uma experiência a ser copiada e apoiada!”
(Primeiro Ministro Enrico Letta da Itália, durante a reunião da ACI/Itália
e suas 3 Confederações, 2011).
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/estante/cooperativismo-contemporaneo743720.shtml,20.02.14
. Orlando Borges Muller. Presidente da Central Sicredi Sul;
http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=150826, 20.02.14
Ênio Meinen, advogado, pós-graduado em direito e em gestão estratégica de pessoas e autor de vários livros
sobre cooperativismo de crédito – área na qual atua há 30 anos -, entre eles “O cooperativismo de crédito
ontem, hoje e amanhã” (obra em que baseado este artigo). Atualmente, é Diretor de Operações do Banco
Cooperativo do Brasil – Bancoob. (55)
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José Schineider