UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS Prof. JOSÉ ODELSO SCHNEIDER Participação – identidade - sustentabilidade 1. Um questionamento básico 2. Cooperativismo como instrumento de sustentabilidade 3. Ações relacionadas a sustentabilidade em geral 4. Qual é importância da relação entre o cooperativismo e a sustentabilidade? 5. Desenvolver a “cultura do cuidado!” 6. Quatro âmbitos específicos da sustentabilidade. 7. Cooperativismo e sustentabilidade - Seu impacto político-social 8. Os Valores universais do cooperativismo: a primeira camada do seu alicerce! 1. Um questionamento básico Há uma pergunta central, que nos faz refletir se cooperativismo é um complemento ao capitalismo atual, ou uma alternativa democrática em um cenário moderno, entre outros aspectos, a ser visto como relevante instância em busca do desenvolvimento sustentável. O cooperativismo é um complemento ao capitalismo atual, ou uma alternativa democrática a ele em um cenário moderno? Analisando a história contemporânea do movimento, o autor fornece subsídios para o debate A Organização Internacional do Trabalho assim a categorizou, em 2002: "Cooperativa se define como uma associação autônoma de pessoas unidas voluntariamente para satisfazer suas necessidades e aspirações econômicas, sociais e culturais em comum através da criação de uma empresa de propriedade conjunta e gerida de forma democrática". Elas geram mais empregos que as empresas transnacionais e seu órgão representativo desde 1895, a Aliança Cooperativa Internacional, afirma que há no mundo cerca de 1,2 bilhões de cooperados. Ainda são o que movem o que se convencionou chamar de economia social, ou solidária, na qual os gordos lucros trimestrais, os ternos Armani e os Bimas dos executivos não são uma meta prioritária. O pai ideológico das cooperativas, o reformista social Robert Owen (17711858) acreditava que elas seriam as sementes de uma transformação substancial do capitalismo. Com um funcionamento diverso da dinâmica competitiva das empresas capitalistas, elas operariam uma mudança da noção de mercado. Cinco anos depois do nascimento de Owen, Adam Smith dizia que no caso um homem era "ao mesmo tempo patrão e operário, desfrutando sozinho do produto integral de seu trabalho", mas fazendo a ressalva que "essas casos não são muito frequentes". De qualquer forma, para quem vive a realidade da pujança do setor de serviços das grandes cidades, as cooperativas de produtores, principalmente as agrícolas, que são sua maioria, não são entidades visíveis, não obstante sua evidente importância. Sobre seu papel, o autor Vianna Lopes prefere dizer que, diferentemente do socialismo, que seria uma inversão do capitalismo, o cooperativismo seria seu desdobramento. Vianna Lopes , jornalista e conhecedor do cooperativismo, acredita que as cooperativas de trabalhadores aprofundam a emancipação do trabalho que, voluntariamente associado, "propicia aos associados maior controle de sua destinação e de seus frutos efetivos." O capital inicial de uma cooperativa é, afinal, a associação, e nisto ela se distingue de uma corporação, até porque a decisão coletiva orienta o alcance e o sentido de seus empreendimentos. E como consequência, os movimentos de cooperados radicalizam a característica empreendedora do capitalismo, conferindo-lhe uma face por assim dizer mais humana. Noções refrescantes, estas, e tão mais próximas do Fórum Social que de Davos - a nos fazer pensar sobre movimentos quase invisíveis para nós urbanos, ou portadores de uma miopia social induzida pela mídia, , mas que tem enorme relevância. Lopes é um cientista social interdisciplinar que coordena o grupo de pesquisas "Cidadania Contemporânea" da Fundação Casa de Rui Barbosa, um importante polo de saber localizado no Rio de Janeiro. É autor de diversos trabalhos sobre políticas publicas. A pergunta central que ele faz neste livro é importante: o cooperativismo é um complemento necessário ao capitalismo atual? Ou sua alternativa democrática na modernidade? O sistema seguirá existindo em favor dos 1% em detrimento dos outros 99%? O cooperativismo é uma doutrina, um sistema, um movimento ou simplesmente uma atitude ou disposição que considera as cooperativas como uma forma ideal de organização das atividades socioeconômicas da humanidade, o que não difere muito do conceito de sustentabilidade, que é a capacidade do ser humano interagir com o mundo preservando o meio ambiente para não comprometer os recursos naturais das gerações futuras. A união de pessoas com o intuito de buscar uma melhor solução para todos, além de ser mais viável e inteligente, é sustentável. O mundo está repleto de exemplos de pessoas organizadas nas mais diversas formas e em todas as atividades econômicas, que produzem mais, ganham mais, distribuem melhor as riquezas e acima de tudo, vivem mais e felizes. Há mais de 100 anos o cooperativismo já pensa assim e vem mudando o mundo, envolvendo 1,2 bilhões de pessoas em mais de 90 países. Por isso, durante a Feira do Empreendedor, de 1 a 3 de junho em Dourados, o sistema OCB/MS acabou discutindo o tema cooperativismo e sustentável, visando instrumentalizar os participantes de elementos básicos necessários para o conhecimento do cooperativismo, como alternativa ao desenvolvimento sustentável, bem como da gestão e participação na cooperativa. As palestras se destinaram e foram direcionadas para produtores rurais, profissionais liberais, estudantes e professores, além do público da feira. E tratou da globalização da economia e o cooperativismo; a cooperativa como instrumento de desenvolvimento sustentável; os princípios cooperativistas; a importância cooperativas; do trabalho diferenças organizado; entre orientação cooperativas, mercantil, fundações, ong`s e oscip`s. para constituição associações, de empresa Cooperativismo é um movimento, uma filosofia de vida e um modelo socioeconômico capaz de unir desenvolvimento econômico e bem-estar social. Seus referenciais fundamentais são: participação democrática, solidariedade, independência e autonomia. É o sistema fundamentado 1. na reunião de pessoas e não no capital. 2. Visa à satisfação das necessidades do grupo e não do lucro. 3.Busca prosperidade conjunta e não individual. Estas diferenças fazem do cooperativismo a alternativa socioeconômica que leva ao sucesso com equilíbrio e justiça entre os participantes. Associado a valores universais, o cooperativismo se desenvolve independentemente de território, língua, credo ou nacionalidade. Cooperativismo é a doutrina que preconiza a colaboração e a associação de pessoas ou grupos com os mesmos interesses, a fim de obter vantagens comuns, ou seja, para si e para os outros, em suas atividades econômicas. O associacionismo cooperativista tem por fundamento o progresso social da cooperação e do auxílio mútuo segundo o qual aqueles que se encontram na mesma situação desvantajosa de competição conseguem, pela soma de esforços, garantir a sobrevivência. Como fato econômico, o cooperativismo atua no sentido de reduzir os custos de produção, obter melhores condições de prazo e preço, edificar instalações de uso comum, colocar no mercado o que o associado produz, enfim, interferir no sistema em vigor à procura de alternativas a seus métodos e soluções. Seus princípios, estabelecidos em 1966 pela Aliança Cooperativa Internacional, remontam a outros fixados em 1844 e resumem-se em: adesão livre; gestão democrática; taxa limitada de juro ao capital social; sobras eventuais aos cooperados, que podem ser destinadas ao desenvolvimento da cooperativa, aos serviços comuns e aos associados, proporcionalmente a suas operações; neutralidade social, política, racial e religiosa; ativa colaboração das cooperativas entre si e em todos os planos, local, nacional e internacional; constituição de um fundo de educação dos cooperados e do público em geral. Uma cooperativa é uma sociedade cujo capital é formado pelos associados e tem a finalidade de somar esforços para atingir objetivos comuns que beneficiem a todos. Há muitos tipos de cooperativas. Algumas têm como finalidade a comercialização de bens produzidos por seus membros. Essas são as chamadas cooperativas de produção. Outras têm a finalidade de comprar bens de consumo e revendê-los a seus associados a preços mais baratos que os do mercado; são as cooperativas de consumo. Outras fornecem recursos financeiros aos seus associados; chamam-se cooperativas de crédito. Outras, finalmente podem prestar serviços, como transporte de carga, abastecimento de água, cooperativas de serviço. distribuição de energia elétrica; são as Nas cooperativas a produção é armazenada para posterior negociação. Isso elimina a figura do atravessador, fator encarecedor que não remunera a produção. Sustentabilidade é isso, atender o produtor, o consumidor e o prestador de serviços, sem sacrificar a cadeia produtiva, o resto é utopia e discurso politico. Os homens vêm trabalhando em conjunto, desde os tempos primitivos, na colheita e na produção de bens. Alguns homens defenderam a idéia de que todos os frutos do trabalho comum deveriam ser repartidos igualmente. Outros argumentam que todas as vezes que esse sistema foi tentado os trabalhadores perderam o estímulo pelo trabalho, ficaram desinteressados e insatisfeitos. Robert Owen, industrial inglês e William King, médico, nos inícios do Século XIX, foram as primeiras pessoas do mundo moderno a tentar organizar uma beneficiar os empregados e empresa destinada a consumidores. Não obteve grande sucesso. William King, chegou a recomendar aos operários possuíssem que suas próprias máquinas. Sustentabilidade é um termo usado para definir ações e atividades humanas que visam suprir as necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das próximas gerações. Ou seja, a sustentabilidade está diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico e material sem agredir o meio ambiente, usando os recursos naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro. Seguindo estes parâmetros, a humanidade pode garantir o desenvolvimento sustentável. Sustentabilidade é a habilidade de sustentar ou suportar uma ou mais condições, exibida por algo ou alguém. É uma característica ou condição de um processo ou de um sistema que permite a sua permanência, em certo nível, por um determinado prazo. Ultimamente este conceito, tornou-se um princípio, segundo o qual o uso dos recursos naturais para a satisfação de necessidades presentes não pode comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras, o que requereu a vinculação da sustentabilidade no longo prazo, um "longo prazo" de termo indefinido, em princípio. Sustentabilidade também pode ser definida como a capacidade do ser humano interagir com o mundo preservando o meio ambiente para não comprometer os recursos naturais das gerações futuras. É um conceito que gerou dois programas nacionais no Brasil. O Conceito de Sustentabilidade é complexo, pois atende a um conjunto de variáveis interdependentes, mas podemos dizer que deve ter a capacidade de integrar as Questões Sociais, Energéticas, Econômica e ambiental. Recomendações Gerais: - Exploração dos recursos vegetais de florestas e matas de forma controlada, garantindo o replantio sempre que necessário. - Preservação total de áreas verdes não destinadas a exploração econômica. - Ações que visem o incentivo à produção e consumo de alimentos orgânicos, pois estes não agridem a natureza além de serem benéficos a saúde dos seres humanos. - Exploração dos recursos minerais (petróleo, carvão, minérios) de forma controlada, racionalizada e com planejamento. - Uso de fontes de energia limpas e renováveis (eólica, geotérmica e hidráulica) para diminuir o consumo de combustíveis fósseis. Esta ação, além de preservar as reservas de recursos minerais, visa diminuir a poluição do ar. - Criação de atitudes pessoais e empresarias voltadas para a reciclagem de resíduos sólidos. Esta ação além de gerar renda e diminuir a quantidade de lixo no solo, possibilita a diminuição da retirada de recursos minerais do solo. - Desenvolvimento da gestão sustentável nas empresas para diminuir o desperdício de matéria-prima e desenvolvimento de produtos com baixo consumo de energia. - Atitudes voltadas para o consumo controlado de água, evitando ao máximo o desperdício. Adoção de medidas que visem a não poluição dos recursos hídricos, assim como a despoluição daqueles que se encontram poluídos ou contaminados. Benefícios A adoção de ações de sustentabilidade garantem a médio e longo prazo um planeta em boas condições para o desenvolvimento das diversas formas de vida, inclusive a humana. Garante os recursos naturais necessários para as próximas gerações, possibilitando a manutenção dos recursos naturais (florestas, matas, rios, lagos, oceanos) e garantindo uma boa qualidade de vida para as futuras gerações. Sustentabilidade é uma maneira de crescer de forma que não agrida algo ou alguém. O cooperativismo contemporâneo é um modelo socioeconômico que visa o desenvolvimento econômico e o bem-estar social das comunidades onde estão inseridos. Por sua vez, a sustentabilidade também busca os dois aspectos que citamos acima, acrescentando a eles a dimensão ambiental, com base na conservação dos recursos naturais para as gerações futuras. A presença de cerca de 7.000 cooperativas e 11,5 milhões de associados no Brasil, são números que mostram a importância deste setor para o desenvolvimento do País, bem como a sua própria sustentabilidade. Atualmente, as cooperativas atuam em diversas áreas, como agropecuária, comércio, habitação, educação, entre outros. Também segundo a OCB, em 2012, o cooperativismo injetou R$ 9 bilhões na economia nacional, apenas com salários e benefícios ao trabalhador. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 50% de toda a produção agropecuária brasileira passa por uma cooperativa. Em 2011, haviam mais de 1.500 cooperativas agrícolas no Brasil, totalizando aproximadamente 1 milhão de cooperados, o que mostra a importância de continuarmos estreitando a relação entre cooperativismo e sustentabilidade. Somente por meio do desenvolvimento agrícola sustentável seremos capazes de superar os desafios demográficos e atender a crescente demanda mundial por alimentos, fibras e energia. Segundo o relatório “Perspectivas da População Mundial: Revisão de 2012”, divulgado pela ONU em junho de 2013, a população do planeta chegará a 9,6 bilhões de pessoas em 2050. Os países emergentes”, em desenvolvimento, em especial os “países serão os que mais impactarão nesse crescimento, sobretudo com o aumento da renda per capita e da expectativa de vida da população, que será majoritariamente urbana. Nesse processo, o Agro brasileiro é altamente competitivo, pois além de reunir condições favoráveis de clima e solo, pode promover o desenvolvimento socioeconômico produtores rurais, incluindo aqui e beneficiar milhares de a agricultura familiar e o seu potencial de produção de alimentos sadios. Para inserir os pequenos produtores na cadeia de valor do agronegócio e torná-los cada vez mais competitivos, as cooperativas têm o importante papel de indutoras de práticas sustentáveis aos seus cooperados. São elas quem podem oferecer programas de treinamentos e capacitação, como os que já são disponibilizados por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop). Além disso, as cooperativas já oferecem assistência técnica, acesso à tecnologia inovadoras, projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), acesso a financiamentos e aos canais de comercialização da produção. Por sua natureza, as cooperativas já oferecem ao seus cooperados uma série de benefícios, aos quais podem ser acrescidas iniciativas para melhorar a gestão e promover ações de responsabilidade socioambiental nas comunidades onde atuam, contribuindo para o melhor entendimento sobre a relação entre o cotidiano das pessoas e a sustentabilidade. O grande desafio para o futuro do cooperativismo será continuar investindo na capacitação de suas lideranças, visando acelerar a incorporação de práticas sustentáveis de boa governança, de qualificada gestão antes, dentro e fora da porteira, beneficiando toda a cadeia produtiva onde atuam. A preocupação pela sustentabilidade envolve o empenho pela sua realização em quatro âmbitos específicos. O princípio da sustentabilidade aplica-se desde um único empreendimento e a uma pequena comunidade (a exemplo das ecovilas), até o planeta inteiro. Para que um empreendimento humano seja considerado sustentável, é preciso que seja: - ecologicamente correto e adequado - economicamente viável, com parcimônia no uso dos recurso - socialmente justo, extensivo a todos nos seus benefícios - politicamente democrático, participativo e gerador de protagonismo Três níveis de atenção básica como demandas da sustentabilidade: • Na Questão Social: Sem considerar a questão social, não há sustentabilidade. Em primeiro lugar é preciso respeitar o ser humano, para que este possa respeitar a natureza. O do ponto de vista do ser humano, ele próprio é a parte mais importante do meio ambiente. • Na Questão Energética: Sem considerar a questão energética, não há sustentabilidade. Sem energia a economia não se desenvolve. E se a economia não se desenvolve, as condições de vida das populações se deterioram. • Na Questão Ambiental: Sem considerar a questão ambiental, não há sustentabilidade. Com o meio ambiente degradado, o ser humano abrevia o seu tempo de vida; a economia não se desenvolve; o futuro fica insustentável. Na opinião de Orlando Borges Muller, Presidente da Central Sicredi Sul, nos últimos cinco anos, a sustentabilidade tem ocupado os debates no meio empresarial, da produção industrial e rural ao comércio e serviços. As empresas e entidades dos diversos segmentos buscam alinhar suas estratégias e sua gestão a uma governança com perfil sustentável. A grande indagação está em como conciliar os princípios da sustentabilidade às realidades particulares de cada empresa, segmento e tipo de negócio, e através dessa lógica, desenvolver ações junto aos stockholders e às comunidades que reflitam, de forma concreta, o significado da sustentabilidade. No cooperativismo, porém, há uma vantagem no entendimento da sustentabilidade em nossos negócios. Já olhamos, pensamos e agimos com foco no coletivo. O que nos confere uma flexibilidade intrínseca na atuação da gestão. O desenvolvimento sustentável é para as cooperativas um princípio de valoração na relação entre seus associados e a sua atividade-fim. Crescer e buscar resultados positivos é uma questão coletiva, onde todos são corresponsáveis pelas conquistas. E o valor monetário, social ou ambiental proveniente desse esforço coletivo é devidamente distribuído conforme o envolvimento de cada um. A sustentabilidade no cooperativismo nos dá o legado de termos fundamentos ainda mais arraigados em critérios participativos e que representam – efetivamente – na essência do nosso negócio, o ser cooperativo. E esse conceito reflete o princípio existencial da sustentabilidade: o olhar responsável e comprometido diante do resultado de qualquer ação seja ela na gestão, na educação e na relação com a comunidade O cooperativismo e o desenvolvimento sustentável são, cada vez mais, um sinônimo do outro. Sem o comprometimento com o coletivo, nós não existimos. Quando a sociedade entender que ter uma postura cooperativa é o caminho para a diminuição de conflitos e para um crescimento gradual de todos, iniciaremos a construção de um mundo melhor: cooperativo, sustentável, participativo e coletivo. Isto por que o cooperativismo não apenas se preocupa com o bem estar e a dignidade individual, mas se baseia nos valores da ajuda mútua, da responsabilidade, democracia, igualdade, equidade e solidariedade. O cooperativismo nasceu no final do século 19, na Inglaterra dos tempos da Revolução Industrial, quando 28 tecelões se uniram para fundar uma sociedade com uma visão diferente de mercado. Ela buscava ser uma alternativa econômica ao capitalismo acelerado da época, que causou a Questão Social, tendo o trabalhador com a grande vítima, causando aumento exagerado nos preços, no desemprego e na jornadas de trabalho cansativas para mulheres e crianças. Com o passar dos anos, mais pessoas foram aderindo da cooperação e da solidariedade e a noção de cooperativismo foi se adaptando aos novos tempos. A essência, no entanto, continua a mesma. De acordo com a definição proposta pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI), cooperativa é uma associação de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade comum e democraticamente gerida. É uma cultura baseada na solidariedade, confiança e na ação coletiva. Sustentabilidade é a capacidade de um indivíduo, grupo de indivíduos ou empresas e aglomerados produtivos em geral, manterem-se inseridos num determinado ambiente sem, contudo, impactar violentamente esse meio. Assim, pode-se entender que isso significa a capacidade de usar os recursos naturais e, de alguma forma, devolvê-los ao planeta através de práticas ou técnicas desenvolvidas para este fim. O cooperativismo, como se sabe, é possivelmente o único movimento socioeconômico do planeta que se desenvolve sob uma mesma orientação doutrinária, e assim é desde o seu surgimento na primeira metade do Século XIX (1844), em Rochdale, na Inglaterra. Os direcionadores doutrinários vêm representados especialmente por valores e princípios, adotados em todo o mundo. E o que vem antes!? Os valores, perenes, de raízes mais profundas – a base de toda a estrutura -, precedem e dão origem aos princípios. Estes, por sua vez, traduzem os valores e os levam à prática no meio cooperativo. Os princípios são uma espécie de ponte ligando grandes diretrizes a ações. Para dar a necessária dinâmica e atualidade à doutrina cooperativista, os princípios – diversamente dos valores –- são passíveis de revisão (atualização) na linha de tempo, o que, por sinal, já aconteceu algumas vezes no âmbito da Aliança Cooperativa Internacional (ACI). Diferentemente dos princípios, delimitados formalmente, não existe rol conclusivo ou exaustivo de valores. Das inúmeras referências feitas por doutrinadores no mundo todo, a enunciação mais recorrente recai sobre a: 1) SOLIDARIEDADE, cuja essência reside no compromisso, na responsabilidade que todos têm com todos, fazendo a força do conjunto e assegurando o bem de cada um dos membros. É uma espécie de reciprocidade obrigacional, justificada pelo interesse comum. Ser solidário é praticar a ajuda mútua (esta, por vezes, aparece como valor autônomo), é cooperar por definição, é tornar o empreendimento sólido. 2) Liberdade, que está no direito de escolha pela entidade cooperativa, tanto na hora do ingresso como no momento da saída, podendo a pessoa, enquanto cooperado, mover-se e manifestar-se de acordo com a sua vontade e coletivamente. consciência, respeitados os limites estabelecidos 3) Democracia, que está diretamente relacionada ao pleno direito de o associado participar da vida da cooperativa em toda a sua dimensão, especialmente pela palavra e pelo voto, implicando, em contrapartida, respeito às decisões majoritárias. Indica também acesso universal, sem discriminação de qualquer espécie. É pela democracia que se exerce a cidadania cooperativa. 4) Equidade, que se manifesta, fundamentalmente, pela garantia da igualdade de direitos, pelo julgamento justo e pela imparcialidade, tanto em aspectos econômicos como sociais. 5) Igualdade, que impede a segregação em razão de condição socioeconômica, raça, gênero ou sexo, ideologia política, opção religiosa, idade ou de qualquer outra preferência ou característica pessoal. A todos devem ser assegurados os mesmos direitos e as mesmas obrigações. 6) Responsabilidade, que tem a ver com a assunção e o cumprimento de deveres. Como cooperada, a pessoa é responsável pela viabilidade do empreendimento, incumbindo-lhe operar com a cooperativa e participar das atividades sociais. Cada qual responde pelos seus atos, devendo conduzir-se com retidão moral e respeito às regras de convívio adotadas coletivamente. 7) Honestidade, que se liga à verdade por excelência. É uma das marcas de pessoas de elevado caráter. Tem a ver com retidão, probidade e honradez. Dignidade, enfim. 8) Transparência, que diz respeito à clareza, àquilo que efetivamente é, sem ambiguidade, sem segredo. No meio cooperativo, todos têm de ter conhecimento preciso sobre a vida da entidade: sua gestão, seus números, suas regras. 9) Consciência socioambiental, que se conecta ao compromisso do empreendimento cooperativo, naturalmente de caráter comunitário, com o bem-estar das pessoas e com a proteção do meio ambiente compreendidos na sua área de atuação, preocupação que envolve desenvolvimento econômico e social e respeito ao equilíbrio e às limitações dos recursos naturais. A palavra-chave, aqui, é sustentabilidade. Pelo seu significado e a sua atualidade, estuda-se no âmbito da ACI dedicar ao tema um novo (8º) e exclusivo princípio universal do cooperativismo. Essas, portanto, são as diretrizes mais abrangentes do movimento cooperativista, e que influenciam a elaboração dos princípios e das regras aplicáveis a todas as organizações de natureza cooperativa nos quatro cantos do mundo. “As cooperativas são um exemplo virtuoso de resistência à crise – Uma experiência a ser copiada e apoiada!” (Primeiro Ministro Enrico Letta da Itália, durante a reunião da ACI/Itália e suas 3 Confederações, 2011). http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/estante/cooperativismo-contemporaneo743720.shtml,20.02.14 . Orlando Borges Muller. Presidente da Central Sicredi Sul; http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=150826, 20.02.14 Ênio Meinen, advogado, pós-graduado em direito e em gestão estratégica de pessoas e autor de vários livros sobre cooperativismo de crédito – área na qual atua há 30 anos -, entre eles “O cooperativismo de crédito ontem, hoje e amanhã” (obra em que baseado este artigo). Atualmente, é Diretor de Operações do Banco Cooperativo do Brasil – Bancoob. (55)