O Enfermeiro e a Morte Profª Emanuelle F. de Souza Os aperfeiçoamentos dos cuidados médicos e a nutrição permitiram que a maioria das pessoas sobrevivam até á velhice. Mas apesar de todos os avanços da ciência moderna, 100% das pessoas ainda morrem. Uma vez no hospital ninguém menciona a possibilidade de a doença ser fatal: a morte é tratada como um segredo criminoso. Os tradicionais costumes de luto tem vindo sendo abandonados e os rituais de cremação ou enterro perderam muito do seu significado emocional. Cada geração e cada sociedade desenvolveu as suas próprias soluções para o problema da morte. No entanto, todas as sociedades vêem a morte como uma transição relativamente a pessoa que morre. Os tempos de morte e desolação, são tempos em que as pessoas precisam umas das outras. A morte é um fato a viver e como tal faz parte da vida. A morte é algo que desconhecemos, mas em relação a qual profundamente não duvidamos. “ E como a outra face da lua, nunca a vemos mas sabemos que existe, podemos compreender a face que nos é revelada: a vida .” Se soubermos assumir que a morte enquadra a nossa existência, podemos concentrarmo-nos melhor na sua vivência quotidiana, equacionando o que fazemos e para que o fazemos. Durante muito tempo a morte foi considerada como um tabu. Mas a partir da década de 50/60, a morte começou a sair da clandestinidade. Antes morria-se em casa, quase ritualmente, hoje morre-se “ cientificamente “, no hospital, as escondidas da família, rodeado do silêncio “ mortal”, e o morto não entra em casa. A morte acaba também por estar na mão dos médicos, quando o doente não é deixado morrer naturalmente, antes fica ligado a aparelhos sofisticados que o mantêm artificialmente á vida. “ Ao refletir sobre a morte e ao estar consciente dela, a vida adquire um sentido pleno” Dalai Lama A morte é natural a vida. Escondendo a morte, estamos de qualquer forma a esconder ou a desvalorizar a vida. A morte não é mais que uma passagem para outra vida e que o “ instante da morte é uma experiência única, bela, libertadora que se vive sem medo nem angústia “. Ross Algumas vezes questionamonos sobre a morte desta ou daquela pessoa. Muitas vezes sentimo-nos embaraçados com o momento da morte, mas sempre nos sentimos solidários com a pessoa no seu processo de morrer. Consciencializamos também que a morte da pessoa nos confronta com os limites da nossa atuação e por isso algumas vezes nos sentimos “incapazes“. Chegamos a ter medo da nossa fragilidade perante a morte de outro, nos sentimos incapazes de lidar com a pessoa e de não saber como gerir a sua revolta, angústia e, mesmo a sua aceitação. Parece haver um contra senso, quando pregamos o direito a vida, remetemos a pessoa ao esquecimento e recusamos a solidariedade a essa pessoa que se confronta com o seu fim. A pessoa, antes de morrer, tentará transmitir aos que a acompanham o essencial de si própria. O tempo que antecede a morte pode ser simultaneamente o de uma realização da pessoa e da transformação do que a rodeia. Quando nada mais nos resta a fazer, podemos ainda amar e sermos amados, e muitos moribundos, no instante de deixarem a vida , nos têm lançado esta mensagem: “ não passem ao largo da vida, não passem ao largo do amor”. Devemos nesta fase final, olhar em frente e apoiarmo-nos uns aos outros, em vez de rodearmos a morte de silêncio e solidão. “A vida é uma doença incurável que fatalmente acaba sempre e a principal diferença entre nós e os nossos doentes prende-se com a possibilidade deles virem a morrer primeiro...” “ É preciso toda a vida para aprender a morrer “ Séneca “ A morte é a outra face da vida...” Autor desconhecido “Quem ensinar o homem a morrer, ensiná-lo-á também a viver...” Montaigne Referências Bibliográficas: ARIÈS, Philippe - O homem perante a morte. Mem Martins : Europa América, 2000. ISBN 972-1-01152-5. 341p. BARROS DE OLIVEIRA, J. H. - Viver a morte - abordagem antropológica e psicológica. Coimbra : Almedina, 1998. ISBN 972-40-1063-5. 256p. CABRAL DE FRIAS, Cidália De Fátima - A aprendizagem do cuidar e a morte. Loures : Lusociência, 2003. ISBN 972-8383-50-9. 210p. HENNEZEL, Marie De - Diálogo com a morte. Lisboa : editorial noticias, 1997. ISBN 972-46-0793-3. 173p. PARKES, Colin Murray et al- Morte e luto através das culturas. Lisboa : Climpesi Editores, 2003. ISBN 972-8449-38-0. 297p.