DESESTRUTURAÇÃO DO CAMPO E RURALIDADE NO ESPAÇO URBANO DE ITABAIANA/SE 1 Maria Domingas dos Santos, Universidade Federal de Sergipe [email protected] Resumo Este trabalho tem como finalidade analisar o processo de desestruturação do campo e ruralização na periferia da cidade de Itabaiana/Se, avaliando as condições de vida da população e os rebatimentos deste processo na estrutura rural e urbana, por meio do levantamento dos problemas sócio-espaciais encontrados nessa área. Para o desenvolvimento da pesquisa e estudo da problemática em questão foi necessária a leitura em fontes que discutem a temática, assim como a realização de pesquisa de campo, com aplicação de questionário e entrevistas, baseando-se no método dialético para explicar melhor a realidade a fim de não se desprender da totalidade das relações que rege a sociedade. O processo de ruralização do urbano está associado à desestruturação do campo, onde se verifica a sujeição da força de trabalho, dos desprovidos de recursos, ao capitalismo. Neste contexto o campo é “esfacelado “e seus moradores expulsos”, processo esse que intensifica a urbanização e conseqüentemente o agravamento dos problemas sócio-espaciais, visíveis na expansão da cidade, em áreas destituídas de infra-estruturas de bens e serviços. Assim como outros municípios do Brasil, o município de Itabaiana apresenta um processo de fragmentação da área rural contribuindo para a migração da população para as periferias urbanas resultando com isso no surgimento de novos espaços que não são rurais nem são urbanos. Essa população que migra se adéqua a uma vida meio urbana e meio rural. A presença de ruralidade no espaço urbano de Itabaiana está associada à desestruturação da vida no campo, uma característica das desigualdades e disparidades que o capitalismo produz e reproduz na sociedade. Palavras-chave: ruralidade no urbano, desestruturação do campo, novos espaços Abstrat This paper aims to analyze the process of disintegration of the field and ruralization on the outskirts of Itabaiana / If, assessing the living conditions of the population and the aftermaths of this process in rural and urban structure, through a survey of the socio-spatial problems found in this area. For the development of research and study of the problem in question was required reading in sources that discuss the theme, and the conduct of field research, with application of questionnaires and interviews, relying on dialectical method to explain the reality order not to break off all relations of governing society. The process of urban ruralization is associated with disruption of the field, where there is the subjection of the workforce, the lack of resources, to capitalism. In this context the field is "shattered" and their inhabitants expelled, "a process that intensified urbanization and consequently the deterioration of socio-spatial problems, visible in the expansion of the city, in areas devoid of infrastructure goods and services. Like other municipalities in Brazil, the municipality Itabaiana shows a process of fragmentation of rural areas contributing to population migration to the urban periphery, thus resulting in the emergence of new spaces that are not rural nor urban. This fits the population that migrates to a life through urban and rural areas. The presence of rurality in the urban space of Itabaiana is associated with the disintegration of the 1 Eixo Tematico: Urbanização e Ruralidade country life, a feature of inequalities and disparities that capitalism produces and reproduces society. Keywords: rurality in urban disintegration of the field, new spaces INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como finalidade analisar o processo de desestruturação do campo e ruralização na periferia da cidade de Itabaiana/Se, avaliando as condições de vida da população e os rebatimentos deste processo na estrutura rural e urbana, por meio do levantamento dos problemas sócio-espaciais encontrados nessa área. Parte-se do pressuposto que o processo de ruralização do urbano está associado a desestruturação do campo, onde se verifica a sujeição da força de trabalho, dos desprovidos de recursos, ao capitalismo. Neste contexto o campo é “esfacelado “e seus moradores expulsos”, evidenciando a sujeição da força de trabalho ao capitalismo. Esse processos refletem as características presentes na atual sociedade. Propusemo-nos a estudar essa temática porque em Itabaiana, a exemplo do que acontece em outras cidades e municípios do Brasil, a realidade revela um processo de fragmentação da área rural que contribui para a migração da população para as periferias urbanas ocasionando com isso o surgimento de novos espaços meio rural e meio urbano. A investigação da realidade partiu do pressuposto que o processo de ruralização do espaço urbano de Itabaiana está associado à desestruturação do campo, onde se verifica a sujeição da força de trabalho, dos desprovidos de recursos, ao capitalismo, produzindo rebatimentos sócio-espaciais, visíveis nas áreas de expansão da cidade, as quais são destituídas de infra-estrutura de bens e serviços. Para um melhor esclarecimento da problemática em questão abordaremos de que forma a desestruturação do campo influencia a organização do espaço urbano e quais as conseqüências sócio-espaciais que esse processo impõem a população. Procedimentos Técnicos e Metodológicos Para um melhor desenvolvimento da pesquisa e problemática em questão foi necessária a leitura de fontes que apresentam o processo de ruralização do urbano associado à desestruturação do campo e suas várias interpretações. Realizou-se também um trabalho de campo, no qual foi aplicada a técnica de registro fotográfico e de entrevistas junto à população que vive na periferias em Itabaiana. Para que houvesse uma melhor compreensão dessa problemática e dos resultados obtidos nas entrevistas, a pesquisa foi baseada no método dialético, para melhor compreender a realidade estudada, a fim de não se desprender da totalidade das relações que produzem esta realidade. Assim, a dialética permite mostrar a essência a partir da realidade apreendida como concreticidade de um todo que possui sua própria estrutura organizacional. RESULTADOS E DISCUSSÃO A DESESTRUTURAÇÃO DO CAMPO E PROBLEMAS ENFRENTADOS NO URBANO Desde o surgimento das sociedades humanas são muitas as causas que levam o ser humano a se deslocar. Nas ultimas décadas esse processo é intensificado pelas crises do sistema capitalismo que se impõem a tudo e a todos, a desestruturação do campo é uma dessas imposições e acaba por impulsionar um processo de mobilidade populacional que é uma característica das desigualdades e disparidades que o capitalismo produz e reproduz na sociedade. Desse modo, na sociedade capitalista a mobilidade representa um meio para a reprodução do capital, uma vez que uma força de trabalho “livre” e “móvel” torna-se essencial para o processo de acumulação. Nesse sentido uma massa de trabalhadores “latentes” ou ou “estagnados” seguindo os movimentos do capital, representa um indicador de desenvolvimento capitalista (BECKER, 1997) Para a efetivação desse processo, os pequenos proprietários de terra são expropriados no modo de produção capitalista e são forçados a se inserir em outro modo de vida nas periferias das cidades a fim de buscar algum tipo de trabalho, não conseguindo o almejado acabam por sobreviverem de atividades meio rurais e meio urbanas, resultando assim no surgimento de novos espaços que não são propriamente urbanos nem rurais. Maia em seu artigo HÁBITOS RURAIS EM VIDAS URBANAS coloca que: A cidade expande-se sobre o campo. Desaparecendo portanto o até então evidente conflito campo X cidade. O espaço mundial parece caminhar para uma total urbanização, guiado pelos anseios de uma sociedade urbana. Contudo,como já dissemos anteriormente, a realidade em sua complexidade não se mostra homogênea, e o espetáculo da cidade vai-se compor não só pelo progresso, mas também por seu reverso. E o campo, longe de ter desaparecido, permanece nas dissimulações dos seus limites.(Maia, 1999,p.215) O de desestruturação do campo processo intensifica a urbanização, que ocorreu a partir da segunda metade do século XX em várias cidades brasileiras, intensos fluxos de caráter rural-urbano ocorreram nas décadas de 50 e 60, representativos de um período marcado por crescente concentração fundiária e pela industrialização nos grandes centros urbanos do Sudeste brasileiro. (BECKER,1997, p. 321).A população dessas cidades cresceu de forma mais acelerada que a oferta de emprego, habitações, infra-estrutura urbana e serviços sociais. Isso contribuiu para que as condições de vida dessas camadas mais pobres piorassem. Atualmente esse processo se constitui em um cenário de ruralização urbana, resultado da não absorção dessa população pelos setores formais da sociedade urbana. Na escala local, o município de Itabaiana revela o processo de ruralização nas periferias urbanas, lugar de destino dos expulsos do campo e lugar onde se notou um agravamento dos problemas socioambientais como: falta de infra-estrutura, de saneamento básico, péssimas condições de moradia de saúde, educação, entre outros.Este processo reflete o caráter excludente do modo de produção capitalista, que não tem como essência a satisfação das necessidades dos indivíduos. Menezes coloca que: busca-se esclarecer como a concentração de capital e a concentração espacial das atividades possuem um nexo casual comum, ocasionando uma concentração espacial muito maior do que a decorrente das necessidades técnicas do processo produtivo. Destemendo, as populações das áreas desfavorecidas sofrem com o empobrecimento relativo. (2000.p.3). Então, a busca incontrolável da reprodução capitalista produz e reproduz novos espaços. Espaços que têm por características a reprodução rápida do capital e espaços totalmente distintos, porém que se completam na obtenção e reprodução do lucro, e que se caracteriza como espaços marginalizados. È nesses espaços que os camponeses expulsos, geralmente, se fixam, formando em uma cidade, as periferias urbanas com características rurais. A desestruturação do campo provoca uma nova reestruturação do espaço urbano, transformando o urbano de Itabaiana. Esse novo rearranjo espacial traduz a maneira como esse novos moradores se inserem na estrutura urbana. Tradicionalmente essa inserção ocorre subordinada aos interesses do capital, que para se reproduzir exclui a maior parte da população e beneficia uma parcela mínima. Essa maioria acaba fazendo parte da grande informalidade dos centros urbanos, o que refleti diretamente no seu modo de vida.Martins coloca que: “È na cidade que se torna mais evidente e dramática a chamada exclusão social”. A excludência, porém, vem se transformando num modo de vida. Ao contrario do que ocorre no passado, deixa de ser transitória e se torna permanente. È um modo de vida dominado pela concepção de não pertencimento. ”(Martins,2002,p.18) O sistema capitalista modela o espaço urbano de modo que a cidade não absorve a população que chega do campo, visto que esta não consegue se inserir no mercado urbano formal de trabalho, se submetendo a trabalhos degradantes com baixa renda. Disto resulta no caráter de ruralização, à medida que essa população não consegue viver o cotidiano urbano e nem voltar ao campo, o que propicia um desenvolvimento de atividades próprias do campo no urbano. Neste sentido, se observa que: nas últimas décadas vai ficando evidente uma certa ruralização das cidades, uma certa adaptação precária e insuficiente de seus habitantes ao mundo urbano, não só uma certa revitalização de costumes e tradições rurais, como se observaria em São Paulo, mas também uma certa reinvenção adaptativa da vida social, com base nas ruínas culturais do campo e da cidade. (MARTINS, 2002, p.147). Assim, a desestruturação do campo impõe novos espaços rurais e urbanos, espaços esses desfavorecidos e desestruturados. Nas cidades surge aglomerados humanos desasistidos e o campo tornas reserva de valor nas mãos de grandes latifundiários. RURALIDADE NO ESPAÇO URBANO DE ITABAIANA/SE A desestruturação do campo, reflexo do desenvolvimento do capitalismo com a introdução de tecnologia no mesmo, vem impulsionando uma aglomeração intensa nos centros urbanos. Este fator proporcionou e continua proporcionando um novo rearranjo espacial urbano, impondo a cidade de Itabaiana pontos de ruralização, que define uma nova configuração espacial. Ao analisarmos a estrutura organizacional de Itabaiana percebemos que há uma reestruturação espacial resultante da desestruturação do campo. A exemplo do que acontece em outras cidades e municípios do Brasil, Itabaiana, não está fora dessa realidade, pois Itabaiana se caracteriza como um centro comercial regional do Estado de Sergipe e como tal sua área tem cada vez mais atendido as “ordem” do sistema capitalista de produção. A partir do momento em que o capital começou a influenciar/transformar a estrutura produtiva a produção ficou dependente deste e quem não possuí-lo estará impossibilitado de participar do ciclo da produção. Assim: A técnica de irrigação é o elemento fomentador da dissolução da visão tradicional do trabalho, pois personifica a penetração da lógica do capital na produção camponesa. Ao se introduzir uma base técnica produtiva demandante de capital para a sua manutenção, inevitavelmente o “alcolviteiro”entra em ação, convulsiona e passa a comandar a racionalidade econômica da produção camponesa. O camponês forca-se a superar suas visão edilícia do trabalho e, conseqüentemente, a relação natural com a terra para transforma - lá em empreendimento visando a renda-dinheiro.(ANTONELLO, 2001,p.179) Em Itabaiana, Antonello coloca também que, a irrigação tornou se a base técnica da produção a qual demanda de capital para se manter. Assim quem não dispõem de capital para se insere neste processo é expulso dele. Em função da exigüidade da unidade de produção familiar dedica a produção de subsistência, raramente ocorre excedente possível de comercialização desses produtos; pelo contrario, em muitos casos, o camponês não retira da terra o suficiente para manutenção integral; vacila o equilíbrio entre o que é possível obter da terra e as necessidades de existência do grupo familiar. Nos casos em que apresentam algum “excedente”, as quantidades são ínfimas.(ANTONELLO, 20001,P.179) Nesse contexto, para entendermos a realidade do processo de surgimento de novos espaços em Itabaiana foi necessário fazermos uma análise empírica do espaço urbano, especialmente nas áreas de expansão: bairro Campo Grande e bairro Bairro Bananeira. No bairro Campo Grande as características rurais no urbano eram evidentes, ou seja, há um processo de ruralização dessa área os moradores, em sua maioria oriundo das zona rural migraram para áreas periféricas após serem destituídas de suas terras vieram para o urbano, mas com atividades próprias do campo, tais como: criação de animais, cultivo de hortaliças e verduras, práticas essas identificadas como rurais presentes da cidade. Este bairro se apresenta uma enorme fragilidade social, tem um crescimento desordenado, não houve um planejamento,se caracteriza como espaço pouquíssimo valorizado, é depreciação em termos sociais e econômicos, a infra-estrutura inexiste, o esgoto é a céu aberto e apresenta grande quantidade de crianças na rua. Esse é provalvemente o bairro de destino dos migrantes menos favorecidos, pois é o lugar onde a terra é mais barata porque não há nenhuma infra-estrutura. O bairro Bananeiras apresenta uma população que não está inserida no setor formal, muitos estão no comércio informal ou na prestação de serviços. Essa área é composta também por população que migra do campo para a cidade, mas que ainda vive de atividades agrícolas. . Esses bairros possuem pouca ou nenhuma infra-estrutura, apresentam serviços sanitários precários (água, esgoto, lixo) ameaçando o quotidiano das populações pobres, além de serem desassistidos das políticas públicas esses bairros são visto como os responsáveis pelo agravamento dos problemas sócio-espacial urbanos. Nesse contexto percebemos que a cidade é estruturada e configurada a partir de interesses e determinações econômicas, visto que ao se pensar na estruturação da cidade põem-se em primeiro plano o econômico deixando totalmente às margens as reais necessidades da população. Esses interesses econômicos provocam impactos de ordem sócioespaciais na estrutura do município CONCLUSÕES O processo de desestruturação do campo influencia o crescimento urbano de Itabaiana, formando uma nova configuração espacial da cidade, a qual empurra a população não absorvida pelo setor urbano para áreas periféricas revelando o agravamento dos problemas, visto que essa população vive em bairros com condições inadequadas de sobrevivência vitima de uma grande violência urbana. A desestruturação do campo, reflexo do desenvolvimento do capitalismo com a introdução de tecnologia no mesmo, vem impulsionando uma aglomeração intensa nos centros urbanos. Este fator proporcionou e continua proporcionando um novo rearranjo espacial urbano, impondo a cidade de Itabaiana pontos de ruralização, que define uma nova configuração espacial. Assim, ao observar o espaço rural e urbano de Itabaiana com uma visão critica, fundamentada na conservação das condições vida da população, objetiva-se intensificar tanto as relações de diversidades sociais quanto estruturais necessárias para amenizar os problemas sócio-espaciais do município. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICO ANTONELLO, Idenir Terezinha.A Metarmofose do Trabalho e a Mutação do Campesinato.São Cristóvão , Se;NPGEO, UFS,2001.290p. BECKER, Olga Maria Schild. Explorações geográficas: percursos no fim do século/ Iná Elias de Castri, Paulo Cesar da Costa Gomes, Roberto Lobato Corrêa (organizadores) - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. GHIZZO, Márcio Roberto, ROCHA, Márcio Mendes. Contextualização dos estudos de mobilidade da população nas ciências humanas. 2008. MAIA, Doralce Sátyro. Hábitos Rurais em Vidas Urbanas in:DAMIANI,Amélia Luisa, CARLOS, Ana Fany, CEABRA,Odette Carvalho de Lima (organizadores) O Espaço no Fim do Século: A Nova Raridade. São Paulo:contexto, 1999. MARTINS, José de Souza. A sociedade vista do abismo. Editora Vozes, 2002. WWW. Ub.es/geocrit/Sn-69-45.htm MENEZES, Maria Lucia Pires. Tendências atuais das migrações internas no Brasil.Revista Eletrônica de Geog