O espaço do jovem na cidade Prof. Dr Nabil Bonduki A presente proposta, formulada no âmbito do Workshop “ADOLESCÊNCIA E VIOLÊNCIA: CONSTRUINDO E INTEGRANDO REDES DE PROTEÇÃO”, objetiva debater a relação entre juventude, habitação e espaço público urbano, assim como propor ações e políticas voltadas a criar melhores condições de desenvolvimento e inteiração dos jovens no território da cidade, na perspectiva de enfrentar, de forma substantiva, a relação entre violência e juventude que se manifesta no ambiente urbano. O trabalho estará voltado para o momento em que o adolescente/jovem passa a ter autonomia de locomoção e passa a vivenciar, na sua plenitude, o espaço da cidade, não se restringindo apenas ao ambiente familiar e ao entorno próximo da casa. Trata-se de uma mudança substancial na vida e na noção de liberdade do jovem, que vem acompanhada de novas necessidades e expectativas. Nesta fase, o jovem se libera da tutela dos pais ou responsáveis e passa a experimentar um novo ambiente, pouco acolhedor, além de vivenciar novas sociabilidades. O processo é vivido por todos os segmentos sociais, mas, sobretudo para o jovem da baixa renda, ganha maior repercussão. Para este segmento, o espaço da moradia passa a ser extremamente insuficiente, transformando-se em fonte permanente de insatisfação. São habitações pequenas, densamente ocupadas e divididas por vários membros da família, de diferentes gerações, hábitos e práticas sociais. Enquanto o jovem de classe média, que vive em moradias maiores e mais confortáveis, busca criar um ambiente que lhe permite construir e refletir sua nova identidade – que se manifesta no desejo de ter um quarto só para ele, onde possa “construir um mundo a sua semelhança” – o jovem de baixa renda, ou aquele que encontra resistência familiar para demarcar um espaço de identidade, não tem essa possibilidade, o que gera a necessidade de buscar no ambiente público da cidade espaços de sociabilidade, identidade e afirmação. O trabalho proposto pretende analisar como o jovem se relaciona no e com o território da cidade. Questões como a formação de gangues e tribos, pichações, carência de espaços e equipamentos públicos adequados para a sociabilidade juvenil, a problemática da mobilidade urbana etc deverão se tratadas buscando olhar a cidade do ponto de vista do jovem, para entender melhor essa relação na perspectiva de apontar propostas de políticas públicas que vinculem o urbanismo com a juventude. Nabil Bonduki É arquiteto e urbanista, doutor em Estruturas Ambientais Urbanas pela USP e professor de urbanismo e planejamento urbano na Escola de Engenharia de São Carlos e na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, ambas da Universidade de São Paulo, desde 1986. Foi presidente do Sindicato dos Arquitetos do Estado de São Paulo (1986-9), Superintendente de Habitação Popular da Prefeitura de São Paulo (1989-92), membro do Conselho Nacional das Cidades (2003-4) e vereador da cidade de São Paulo (2001-4). Na Câmara Municipal de São Paulo, entre outras funções, foi presidente da Comissão Extraordinária da Juventude (2001-3), vice-presidente da Comissão de Política Urbana, Metropolitana e de Meio Ambiente (2003-4) e relator do texto final do Plano Diretor Estratégico de São Paulo (2002). Foi autor de 44 projetos de lei, emendas à Lei Orgânica do Município e projetos de resoluções, entre os quais os que criaram o Observatório Parlamentar da Juventude e o Programa de Valorização de Iniciativas Culturais, voltado ao apoio de projetos culturais desenvolvidos por jovens. Consultor de política urbana em várias cidades brasileiras, tem inúmeros trabalhos publicados, como os livros “Origens da habitação social no Brasil” (Estação Liberdade, 1998) e “Habitat: práticas bem sucedidas em habitação, meio ambiente e gestão urbana das cidades brasileiras” (Studio Nobel, 1996).