UNINGÁ – UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR INGÁ FACULDADE INGÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENDODONTIA DENISE LOPES LORENZON O USO SISTÊMICO DE ANTIMICROBIANOS EM ENDODONTIA PASSO FUNDO 2007 1 DENISE LOPES LORENZON O USO SISTÊMICO DE ANTIMICROBIANOS EM ENDODONTIA Monografia apresentada à unidade de Pósgraduação da Faculdade Ingá – UNINGÁ – Passo Fundo-RS como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Endodontia. Orientador: Prof. Ms. Mateus Silveira Martins Hartmann PASSO FUNDO 2007 2 DENISE LOPES LORENZON O USO DE SISTÊMICO ANTIMICROBIANOS EM ENDODONTIA Monografia apresentada à comissão julgadora da Unidade de Pós-graduação da Faculdade Ingá – UNINGÁ – Passo Fundo–RS como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Endodontia. Aprovada em ___/ ___/_____. BANCA EXAMINADORA: ________________________________________________ Prof. Dr. José Roberto Vanni _________________________________________________ Prof. Ms. Mateus Silveira Martins Hartmann ________________________________________________ Prof. Ms. Volmir João Fornari 3 RESUMO Este trabalho tem por objetivo esclarecer as dúvidas mais freqüentes dos cirurgiõesdentistas sobre a prescrição dos antimicrobianos em endodontia, a partir de uma revisão bibliográfica. Observou-se que rotineiramente o cirurgião-dentista se vê frente a situações onde é necessário o uso de antimicrobianos. Assim, é preciso ter um conhecimento abrangente sobre a microbiologia, as bactérias mais presentes na cavidade bucal e sua patogenicidade. Deve-se conhecer também a evolução das infecções, e através de uma noção clara do comportamento microbiano e dos medicamentos disponíveis atualmente no mercado, poder optar pelo medicamento ideal para cada caso. Com isso o profissional estará exercendo sua profissão de forma segura e eficaz em todos os casos infecciosos que são freqüentes no seu dia-a-dia. Verificou-se que há consenso quanto à utilização dos antimicrobianos, em casos de abscessos perirradiculares agudos com envolvimento sistêmico e quando ocorre a sua disseminação com tumefações difusas. Da mesma forma, em casos de abscessos perirradiculares agudos em pacientes de risco, avulsões dentárias e como uso profilático em pacientes de risco. Com relação à cirurgia parendodôntica observou-se ainda certa discordância entre os pesquisadores e poucos indicam a utilização de antibióticos. Palavras-chave: Endodontia. Antimicrobianos. Prescrição de medicamentos. 4 ABSTRACT This study was literature review aimed at elucidating the most frequent doubts of dentists concerning the prescription of antimicrobials in Endodontics. The dentist routinely has to deal with situations in which the use of antimicrobial agents is required, which demands a comprehensive knowledge of microbiology, the bacterial species most commonly found in the oral cavity and their pathogenicity. In addition, the dentist should be aware of the evolution of the infections and, based on a clear perception of the bacterial behavior and on the medications currently available on the market, be able to choose the ideal medication for each case. In this way, the dentist will be undertaking his/her professional duties in a safer and effective manner in all infectious cases, which are frequent in the daily practice. It was observed that there is consensus regarding the use of antimicrobial in cases of acute periradicular abscesses with systemic involvement as well as in the event of dissemination with diffuse tumefactions. Likewise, in cases of acute periradicular abscesses in risk patients, dental avulsions and prophylactic administration in risk patients. With respect to paraendodontic surgery, there is a little disagreement among the researchers and few authors indicate the use of antibiotics. Key Words: Endodontics. Antimicrobials. Prescription of medicaments. 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 6 2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................ 8 2.1 HISTÓRICO .................................................................................................................. 8 2.2 TIPOS DE ANTIMICROBIANOS ............................................................................ 12 2.2.1 Penicilinas ............................................................................................................... 12 2.2.2 Cefalosporinas......................................................................................................... 15 2.2.3 Lincosaminas .......................................................................................................... 16 2.2.4 Macrolídeos............................................................................................................. 17 2.2.5 Tetraciclinas ............................................................................................................ 18 2.2.6 Quinolonas .............................................................................................................. 18 2.2.7 Aminoglicosídeos ................................................................................................... 19 2.2.8 Vancomicina ........................................................................................................... 19 2.2.9 Metronidazol ........................................................................................................... 20 2.3 INDICAÇÕES PARA O USO DE ANTIMICROBIANOS ..................................... 21 2.3.1 Abscesso perirradicular agudo com envolvimento sistêmico ................................. 22 2.3.2 Disseminação do abscesso perirradicular agudo com a ocorrência de tumefações difusas ............................................................................................................................... 22 2.3.3 Abscesso perirradicular agudo em pacientes de risco............................................. 22 2.3.4 Avulsão dentária ..................................................................................................... 26 2.3.5 Sintomatologia e/ou exsudação persistentes ........................................................... 26 2.3.6 Uso profilático em pacientes de risco ..................................................................... 27 2.3.6.1 Recomendações da Profilaxia da Endocardite ................................................. 28 2.3.6.2 Não há recomendação da Profilaxia da Endocardite ....................................... 29 2.3.6.3 Regime profilático padrão................................................................................ 29 2.3.7 Cirurgia Parendodôntica ......................................................................................... 30 2.4 PESQUISAS SOBRE A EFETIVIDADE ANTIMICROBIANA E MICRORGANISMOS PRESENTES EM ALGUNS CASOS ENDODÔNTICOS...... 32 2.4.1 Canal já obturado com lesão periapical .................................................................. 32 2.4.2 Dentes com periodontite periapical sintomática e assintomática ........................... 33 2.4.3 Dentes com necrose pulpar e que apresentam sintomatologia................................ 33 2.4.4 Flare-up endodôntico em dentes com necrose pulpar e assintomáticos ................. 34 2.4.5 Pulpite irreversível .................................................................................................. 36 2.5 POSOLOGIA ............................................................................................................... 37 3 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 42 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 43 6 1 INTRODUÇÃO A partir do século XVII, com as primeiras descobertas sobre os microrganismos, o ser humano começou a conhecer esse mundo microscópico tão complexo, bem como a influência do mesmo no seu dia-a-dia. Com o passar do tempo e com os avanços tecnológicos cada vez maiores, o mundo científico pôde conhecer e entender melhor a relação entre os microrganismos e as doenças mais freqüentes. Com a confirmação em 1882, de que os microrganismos eram os responsáveis por grande parte das infecções que muitas vezes resultavam em mortes ou traziam graves problemas ao ser humano, a comunidade científica avançou na descoberta de artifícios para debelar essas infecções a partir de pesquisas que eram cada vez mais realizadas por cientistas na época. (SIQUEIRA JÚNIOR, 2004). Estas constatações fizeram os cientistas evoluírem na busca de algo que pudesse combater as bactérias. Os antimicrobianos começaram a ser pesquisados a partir da descoberta da penicilina por Alexander Fleming, em 1928, uma revolução para o início do combate as infecções que tanto preocupavam a comunidade científica (SIQUEIRA JÚNIOR, 2004). Com o passar dos anos, as pesquisas se intensificaram e muitos tipos de antimicrobianos acabaram sendo descobertos. Alguns foram produzidos naturalmente e outros seriam produzidos de maneira semi-sintética ou biossintética (MENDES, 2002). A evolução científica proporciona atualmente aos profissionais da área da saúde um grande número de tipos de antimicrobianos. Muitos deles são os mesmos do início do século XX, como a penicilina que ainda tem sido utilizada freqüentemente pelos profissionais da área saúde e, apesar de ter sido ao longo dos anos excessivamente utilizada, ainda traz ótimos resultados em muitas infecções. Porém, o uso indiscriminado de antimicrobianos está preocupando o mundo científico devido à constatação do aumento da resistência bacteriana aos antibióticos que até pouco tempo tinham excelentes resultados (MENDES, 2002). Observou-se que infecções que antes eram debeladas facilmente atualmente precisam de antibióticos de última geração e em doses maiores. Assim, hoje, uma das constatações é a necessidade do conhecimento preciso das bactérias e o que elas podem causar se estiverem em condições propícias para se desenvolverem, fator que ocasiona infecções graves ao ser humano. Além disso, é necessário o domínio da evolução das infecções, saber qual o tipo das bactérias mais presentes em cada 7 uma delas e assim, prescrever ao paciente o antimicrobiano mais eficaz, e apenas em casos onde ele é indispensável para o restabelecimento de sua saúde. O número de antimicrobianos à disposição dos profissionais da área odontológica é imenso. Vai desde os antibióticos como a penicilina, cefalosporinas, lincosaminas, macrolídeos, tetraciclinas, quinolonas, aminoglicosídeos e vancomicina até o quimioterápico metronidazol (TORTAMANO, 1997). Diante disso, esses profissionais têm o dever de conhecer adequadamente o efeito de cada um e qual a sua melhor aplicação na área odontológica. Especificamente, no campo da Endodontia, no qual as infecções pulpares estão presentes na prática clínica, é essencial que o cirurgião-dentista tenha também um domínio sobre as infecções endodônticas, que são várias e merecem um cuidado especial por parte do profissional, uma vez que o uso ou não de antimicrobianos para o seu tratamento ainda gera muita discordância no meio científico. Portanto, este trabalho de revisão bibliográfica tem por objetivo esclarecer as dúvidas mais freqüentes dos cirurgiões-dentistas sobre a prescrição dos antimicrobianos em Endodontia. 8 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 HISTÓRICO Segundo Siqueira Júnior (1997), no final do século XVII (1670), Anton Van Leeuwenhoek fez as primeiras observações sobre as estruturas das bactérias, visualizando seus três tipos morfológicos básicos (bastonetes, esferas e espiralados). Bammann e Estrela (1999) apontam que, apesar dessa descoberta acontecer anos atrás, somente na terceira década do século 20, com o avanço da microscopia eletrônica, foi possível estabelecer qual era a estrutura celular desses microrganismos. Com o avanço dos estudos, estabeleceu–se que os microrganismos podiam ser divididos em duas estruturas celulares: procariótica (bactérias) ou eucarióticas (fungos e protozoários), já os vírus não se enquadravam nessa classificação. O corpo humano possui uma população microbiana 10 vezes superior ao número de células que o compõe, e essa microbiota começa a colonizar o corpo humano a partir do seu nascimento, pois até então o seu organismo é estéril do ponto de vista microbiológico. A cavidade bucal possui uma microbiota complexa, tanto qualitativa como quantitativamente. Isso é caracterizado pela presença de bactérias gram-positivas, gram- negativas, fungos, protozoários e vírus, conforme Quadro abaixo (Quadro 1) (BAMMANN e ESTRELA, 1999). Quadro 1- Bactérias encontradas na cavidade oral AERÓBIAS (FACULTATIVAS) Cocos Gram-positivos Streptococcus sp.* Bacilos Gram-positivos ANAERÒBIAS Cocos Gram-positivos Peptostreptococcus* Bacilos Gram-positivos Lactobacillus Actinomices* Corynebacterium* Eubacterium sp. Cocos Gram- negativos Neisseria Bacilos Gram- negativos Enterobacteriaceae** Bifidobacterium sp. Cocos Gram- negativos Veillonella* Bacilos Gram- negativos Fusobacterium sp. 9 Bacteróides sp. Campylobacter Leptotrichia Selenomonas sp. Espiroquetas Treponema sp. * Correspondem a 80% da flora cultivável ** Raros em indivíduos sadios, ocorrendo em idosos e imunodeprimidos Modificado de Mendes (2002). Dentre os microrganismos orais, Bammann e Estrela (1999) afirmam que as bactérias são os agentes patogênicos que mais participam das doenças endógenas como a cárie, a doença periodontal e as patologias pulpares e periapicais. Elas promovem uma agressão ao hospedeiro e desencadeiam uma reação do mesmo. O conhecimento da anatomia bacteriana é importante, pois são nessas estruturas que irão agir os antimicrobianos. As bactérias possuem a parede celular que irá determinar se ela será gram-positiva ou gram- negativa. A parede celular da gram- negativa é mais complexa que a da grampositiva, nela há a presença do lipopolissacarídio (LPS) que é a endotoxina dessa bactéria, sendo liberado durante a lise da célula e também durante o seu crescimento e multiplicação, mostrando com isso o potencial tóxico da bactéria e induzindo complexas reações orgânicas (BAMMANN e ESTRELA, 1999). A membrana citoplasmática localiza-se logo abaixo e possui funções essenciais à bactéria, assim muitos antimicrobianos têm ela como alvo de ação. No citoplasma, ocorrem complexas reações químicas. Nele estão os ribossomos que representam a síntese protéica; é nessas estruturas que certos antimicrobianos se fixam e interferem na construção dessas macromoléculas. Algumas bactérias possuem plasmídios que são os responsáveis pela resistência bacteriana a diferentes antimicrobianos. Os endosporos, por sua vez, auxiliam na resistência bacteriana a diferentes antimicrobianos e frente a condições adversas. Outras estruturas são: o glicocálice, que dentre outras funções auxilia na estimulação da resposta imune e na patogenicidade das bactérias; os flagelos, que realizam a motilidade bacteriana e possuem a propriedade de quimiotaxia, levando a bactéria para ambientes favoráveis; os pili ou fímbrias, presente apenas nas gram- negativas e as estruturas fibrilares, que ocorrem apenas nas bactérias gram-positivas (BAMMANN e ESTRELA, 1999). 10 Barbosa e Torres (1999) apontam que a presença de oxigênio influencia no metabolismo bacteriano, o que permite classificá- las em: aeróbias estritas (precisam de oxigênio para crescer), microaerófilas (necessitam de baixos teores de oxigênio para se desenvolver), aeróbias facultativas (possuem uma característica que permite seu crescimento tanto na presença como na ausência de oxigênio), aerotolerantes (são bactérias que toleram a presença de oxigênio, mas não o utilizam) e anaeróbias estritas (são bactérias que não suportam a presença de oxigênio). Baumgartner (1997) afirma que quando o organismo apresenta condições bioquímicas e fisiológicas apropriadas ocorre a sua colonização por parte dos microrganismos, que pode ser permanente quando possui uma relação simbiótica com o hospedeiro. No entanto, se eles ganharem acesso a uma área normalmente estéril, vão invadir, colonizar, se multiplicar e produzir a sua atividade patogênica. Com relação às infecções endodônticas, os microrganismos podem seguir vários caminhos para infectar a polpa: podem invadí- la através dos túbulos dentinários expostos por cáries (via de entrada mais comum), ou lesões que causem fraturas, fissuras ou desloque o dente ou através da anacorese, processo onde o sangue transporta microrganismos para uma área de inflamação onde então eles causam uma infecção. Goldstein (1989) aponta que a via de acesso das bactérias à polpa são as bolsas periodontais profundas que levam bactérias aos canais laterais. Observa-se que há uma grande variedade de microrganismos, e apenas alguns são relevantes nas infecções endodônticas (Quadro 2). Quadro 2 - Microrganismos de Importância Endodôntica* Anaeróbias Aero-MicroFacultativos** Cocos Gram- Peptostreptococcus positivos C o c o s G r a m - Streptococcus positivos Enterococcus Bastonetes Gram- Actinomyces Bastonetes Gram- Actimomyces positivos Eubacterium positivos Propionibacterium Lactobacillus Corynebacterium 11 Cocos Gram- Veillonella negativos C o c o s G r a m - Neisseria negativos Bastonetes Gram- Porphyromonas Bastonetes Gram- Capnocytophaga negativos Prevotella negativos Eikenella Levedura Cândida Fusobacterium Selenomonas Campylobacter Espiroquetas Treponema *Adaptado de Nair ** Aerotolerantes-Microaerófilos-Facultativos Modificado de Bamann e Estrela (1999). Durante anos, as doenças infecciosas causadas principalmente por bactérias foram a causa de grande parte da mortalidade mundial. Mas, com a descoberta dos antibióticos no início do século 20, houve um maior controle dessas infecções. A descoberta ocorreu por acaso, quando John Tyndall, em 1875, observou que esporos de um fungo que contaminou seus tubos de cultura poderiam destruir bactérias. Não foi dada importância a isso, pois nessa época estavam fazendo as primeiras descobertas sobre as bactérias e só em 1882 que Robert Koch demonstrou que as bactérias poderiam causar doenças. Mas a descoberta da penicilina foi creditada a Alexander Fleming que também descobriu por acaso, quando um fungo (penicillum notatum) contaminou suas placas que continham Staphylococcus aureus. Após isso, ele pesquisou e verificou que essa substância que ele deu o nome de penicilina também era eficaz contra outros microrganismos e publicou seu trabalho em 1929 (SIQUEIRA JÚNIOR, 2004). A penicilina só começou a ser usada em pacientes na década de 40, após muita investigação de um grupo de pesquisadores de Oxford (SIQUEIRA JÚNIOR, 2004). Mendes (2002) afirma que os antimicrobianos são substâncias capazes de atuar contra bactérias (antibacterianos), fungos (antifúngicos), protozoários (antiprotozoários), helmintos (anti- helmínticos) e vírus (antivirais). Os antimicrobianos são classificados em antibióticos que são de origem natural (produzidos por várias espécies de microrganismos) e que se subdividem em semi-sintéticos e biossintéticos; ou podem ser quimioterápicos que são 12 obtidos por síntese laboratorial. Os antibacterianos podem ser bactericidas (destroem as bactérias) ou bacteriostáticos (inibem o crescimento e a multiplicação das bactérias). Siqueira Júnior (2004) afirma que os antibióticos são substâncias que podem ser produzidas por um microrganismo ou trata-se de um produto desenvolvido por síntese química que, em baixas concentrações, inibe ou destrói os microrganismos. Os antibióticos podem ser de amplo espectro, agem sobre gram-positivos e gram- negativos, ou de pequeno espectro, agem sobre um número reduzido de espécies. Cada antibiótico pode agir em alguma das estruturas bacterianas (Quadro 3). Quadro 3 – Efeito dos antibióticos sobre as estruturas bacterianas: Efeito sobre as estruturas Exemplos de antibióticos bacterianas Inibição da síntese da parede celular B-lactâmicos, Vancomicina, Bacitricina Ação sobre a membrana citoplasmática Polimixinas, Poliênicos Inibição da função do DNA Metronidazol, Quinolonas, Novobiocina Inibição da síntese de proteínas Aminoglicosídeos, Cloranfenicol, Macrolídeos Tetraciclinas, Clindamicina, Lincomicina Inibição da síntese de ácido fólico Sulfonamidas, Trimetoprim 2.2 TIPOS DE ANTIMICROBIANOS 2.2.1 Penicilinas Segundo Siqueira Júnior (2004), penicilina é um termo genérico para um grupo de estrutura química similar que possui como núcleo molecular o ácido 6-amino-penicilânico. Possui também em sua estrutura um anel beta- lactâmico. Eles atuam sobre a síntese da parede celular agindo de forma bactericida e obtendo um bom efeito em microrganismos que estão se proliferando, o que ocorre numa infecção. Groppo, Fiol e Andrade (2006) afirmam que as penicilinas são os antibióticos menos tóxicos em uso, devido ao fato de atuarem sobre a parede celular já que esta, não está presente nas células dos seres humanos. Mas cerca de 5% a 10% dos pacientes podem 13 apresentar algum tipo de reação de hipersensibilidade, sendo o antibiótico que mais causa reações alérgicas (o que ocorre mais com as soluções injetáveis). Outros efeitos adversos que podem ocorrer seriam: diarréia, vômito, dor abdominal e enxaqueca. Segundo Siqueira Júnior (2004), as penicilinas de acordo com a sua origem classificam-se em três grupos: Penicilina G cristalina Naturais Penicilina G procaína Penicilina G benzatina Biossintéticas Penicilina V (fenoimetil penicilina) oxacilina Isoxazolil penicilinas cloxacilin dicloxaciclina Semi-sintéticas ampicilina Aminopenicilinas amoxicilina As penicilinas naturais são produzidas por fungos. São mal absorvidas por via oral, mas através da via parenteral ocorre uma completa absorção e são eliminadas pelos rins de forma in natura. As penicilinas G atuam principalmente sobre cocos gram-positivos, anaeróbios gram-positivos, e em alguns anaeróbios gram- negativos, como o Porphyromonas gingivalis, Prevotella intermédia e Fusobacterium nucleatum. Elas não agem sobre bactérias que produzem penicilinases (beta- lactamases), enzimas que têm a característica de destruir o anel beta- lactâmico de algumas penicilinas, inativando-as. A penicilina G, que são as penicilinas naturais, subdivide-se em: penicilina G procaína (administração intra-muscular) possui dissolução lenta e mantém índices séricos por 12 a 36 horas; e a penicilina G benzatina (administração intramuscular) dissolve-se menos ainda podendo manter os índices séricos durante várias semanas. Há também a penicilina G potássica (administrada por via venosa) usada apenas em ambiente hospitalar (GROPPO, FIOL e ANDRADE, 2006). 14 Tortamano (1997) afirma que a penicilina G cristalina sódica ou potássica é eliminada rapidamente pela urina e exige intervalos curtos de aplicação (4 a 6 horas). As penicilinas biossintéticas são usadas somente por via oral. Tem uma potência inferior a da penicilina G, mas assim como elas também não resistem a penicilinase. Assim, é indicada apenas em infecções leves causadas por germes sensíveis (estreptococos e pneumococos). Exemplo desse grupo é a fenoximetilpenicilina ou penicilina V (TORTAMANO, 1997). Com relação às penicilinas semi-sintéticas, Tortamano (1997) aponta que com o surgimento de alguns derivados semi-sintéticos das penicilinas houve uma redução de lacunas deixadas pelas penicilinas naturais e biossintéticas. Os produtos semi-sintéticos podem ser de pequeno espectro: como no caso do grupo das isoxazolil-penicilinas, absorvidas por via oral ou parenteral e que atuam principalmente sobre germes gram-positivos e são resistentes a penicilinase; ou esses produtos podem ser de largo espectro, que atuam sobre cocos grampositivos e negativos e sobre bacilos gram- negativos. Nesse grupo só a metampicilina é resistente as penicilinases. Groppo, Fiol e Andrade (2006) como os demais autores também incluem nesse grupo das penicilinas semi-sintéticas a ampicilina e a amoxicilina e afirmam que a amoxicilina é melhor absorvida por via oral e melhor tolerada pelo organismo, sendo menos comum distúrbios gastrintestinais quando comparada com a ampicilina, além disso, ela mantém uma concentração maior no soro e nos tecidos sendo assim administrada em intervalos de 8 horas. Com relação a esses dois tipos de antibióticos nenhum deles atua contra as espécies bacterianas produtoras de beta- lactamases. Existem algumas substâncias que inibem as beta- lactamases como o imipenem, sulbactam, tazobactam e o clavulanato de potássio. O clavulanato de potássio é um sal potássico do ácido clavulânico, substância produzida pela fermentação do Streptomyces clavuligerus, tem fraca atividade antibacteriana, mas possui uma ação inibitória sobre as betalactamases, se unindo irreversivelmente a estas enzimas. Assim, o microrganismo torna-se sensível às penicilinas que antes eram suscetíveis as beta- lactamases (GROPPO, FIOL e ANDRADE, 2006). Segundo Groppo, Fiol e Andrade (2006), na endodontia a amoxicilina e a ampicilina, são muito utilizadas no dia-a-dia. Observaram uma preferência pela amoxicilina, pois a absorção da ampicilina é afetada pela presença de alimento e causa mais distúrbios gastrointestinais. 15 Siqueira Júnior (2004) afirma que a amoxicilina é o antibiótico de primeira escolha em endodontia por agir sobre a maioria dos tipos de anaeróbicos, como porphyromonas, prevotella, fusobacterium, peptosteptococcus, campylobacter e actinomyces e de facultativos, como estreptococos, enterococos e capnocytophaga. 2.2.2 Cefalosporinas Segundo Siqueira Júnior (2004), as cefalosporinas possuem o ácido 7-aminocefalosporânico como seu núcleo básico. Com modificações no seu anel beta- lactâmico houve uma maior resistência às beta-lactamases do que as penicilinas, mas a sua atividade sobre os gram-positivos ficou reduzida. Ela atua inibindo a síntese da parede celular das bactérias, assim elas são bactericidas e exigem que a bactéria esteja em crescimento para poderem atuar adequadamente. As cefalosporinas podem ser divididas em quatro gerações: As cefalosporinas, de primeira geração, têm ação sobre cocos gram-positivos (Streptococcus pyogenes, Streptococcus pneumoniae, estafilococos e peptostreptococos), Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e Proteus mirabilis. Exemplos: cefalexina, cefadroila, cefalotina, cefazolina e a cefradina. Cefalosporinas, de segunda geração, têm um efeito reduzido sobre os grampositivos quando comparada com as e primeira geração. São mais eficazes contra E.coli, K.pneumoniae, P. miabilis, Haemophilus influenzae, Neisseria gonorrhoeae e Neisseria meningitidis. Exemplos: cefaclor, cefonicida, cefamandol, ceforanida, cefuroxima. Cefalosporinas, de terceira geração, possuem ainda menor efeito sobre grampositivos, mas têm boa eficácia sobre microrganismos gram- negativos resistentes a outros antibióticos como, Enterobacteriacea, Pseudomonas aeruginosa, Prevotella spp. e bacteróides fragilis. Também são resistentes às beta- lactamases de muitas bactérias gramnegativas. São indicadas apenas em infecções graves. Exemplos: cefixima, cefmenoxima, cefotaxima, ceftazidima, cefluprenam e cefoselis. As cefalosporinas, de quarta geração, resistem à inativação pelas beta- lactamases, são eficazes contra gram- negativos e também agem contra gram-positivos, principalmente os estafilococos. Como a da geração anterior também só é indicada em infecções graves. Exemplos: cefpiroma, cefepima, cefquinoma, cefclidina, cefluprenam, cefoselis. Groppo, Fiol e Andrade (2006) afirmam que as cefalosporinas têm um uso limitado na odontologia, pois possuem praticamente o mesmo perfil da penicilina, sendo que 16 esta tem a vantagem de ser menos tóxica. Além disso, deve-se ter um cuidado com a sensibilidade cruzada onde cerca de 10 % a 15% dos pacientes alérgicos às penicilinas também podem ser alérgicos às cefalosporinas. Outra observação deve ser dada com relação ao uso prolongado desse medicamento, principalmente de cefalosporinas, de terceira geração, em hospitais que pode levar ao aparecimento da colite pseudomembranosa, a qual deve ser tratada imediatamente. Segundo Silva, Matos e Lopes (2000) elas não atuam bem em infecções associadas a anaeróbios estritos, o que é freqüente em endodontia e não penetram bem em tecido ósseo. Assim, muitos autores acreditam que esse fármaco não tem potencial adequado para ser utilizado comumente em infecções endodônticas, existindo outros medicamentos mais indicados nessas infecções. 2.2.3 Lincosaminas Trabulsi, Mimica e Mimica (1999) afirmam que desse grupo fazem parte dois antimicrobianos: a lincomicina e a clindamicina. Segundo Tortamano (1997), a lincomicina é bacteriostática, possui um espectro de ação semelhante ao da eritromicina e pode ser empregado por via oral ou parenteral. Age muito bem sobre cocos gram-positivos e sobre estafilococos produtores de beta- lactamases. Possui boa distribuição sobre os tecidos, principalmente ósseo, assim sua indicação é mais apropriada em casos de infecções ósseas, como a osteomielite crônica estafilocócica. A lincomicina é menos ativa que a clindamicina, principalmente frente aos anaeróbios estritos (TRABULSI, MIMICA e MI MICA, 1999). Groppo, Fiol e Andrade (2006) colocam que a clindamicina é o único antimicrobiano do grupo das lincosaminas que é indicado em odontologia. Esse fármaco atua inibindo a síntese protéica bacteriana, sendo bacteriostático, mas em altas concentrações torna-se bactericida. A clindamicina é bem absorvida por via oral e atravessa facilmente as barreiras teciduais, obtendo altas concentrações em abscessos. Siqueira Júnior (2004) afirma que a clindamicina possui atividade antibacteriana sobre estreptococos, estafilococos e anaeróbios estritos, como: Peptostreptococcus, Eubacterium, Selenomonas, Campylobacter, Clostridium, Actinomyces, Veillonella, Fusobacterium, Prevotella e Porphyromonas. Ao administrar a clindamicina ao paciente, este 17 deve ficar sob observação principalmente com relação aos efeitos adversos, pois pode desenvolver a colite pseudomenbranosa (desequilíbrio da microbiota intestinal e proliferação do Clostridium difficile). Condição esta que deve ser tratada de imediato, com a suspensão do uso do medicamento e administração de metronidazol (250 mg, 4 vezes ao dia, por duas semanas) se não resolver indica-se o uso da vancomicina e o emprego de um reconstituinte da flora intestinal como o Floratil. Por possuir um bom espectro de ação e penetrar bem tecido ósseo a clindamicina é considerada a droga de escolha para tratar infecções endodônticas em pacientes alérgicos à penicilina ou resistentes a elas. 2.2.4 Macrolídeos Groppo, Fiol e Andrade (2006) afirmam que o grupo dos macrolídeos inclui a eritromicina, espiramicina, a claritromicina e a roxitromicina, que possuem em comum sua estrutura química, a qual apresenta um anel lactônico de 15 átomos. Outro tipo é a azitromicina, que possui uma alteração estrutural, a qual lhe conferiu um alcance de maiores concentrações nos tecidos infectados. Esse medicamento pertence ao grupo dos azalídeos que seriam “parentes próximos” dos macrolídeos. Esse grupo também é afetado pela presença de beta-lactamases, o que reduz e seu efeito frente a bactérias que produzem essa enzima. Os macrolídeos agem inibindo a síntese protéica bacteriana, sendo bacteriostáticos, mas em concentrações elevadas tornam-se bactericidas. São bem absorvidos por via oral e distribuemse para a maioria dos tecidos. Possuem baixa toxicidade, para evitar o aparecimento da icterícia colestática indica-se o uso da eritromicina na forma de estearato e não na forma de estolato. Trabulsi, Mimica e Mimica (1999) e x p l i c a m q u e a eritromicina age principalmente sobre bactérias gram-positivas e cocos gram- negativos, além de espiroquetas e alguns bacilos gram-negativos. Apesar de a eritromicina ser o tipo de macrolídeo mais conhecido, a azitromicina e a claritromicina apresentam vantagens sobre ela. Já que elas possuem maior resistência à degradação por ácidos gástricos, menor irritação e maior eficácia contra alguns patógenos, como gram- negativos. Deve observar o horário de administração, pois os macrolídeos têm sua absorção interferida pela presença de alimentos. Observou-se que apesar do espectro de ação da azitromicina ser amplo, ela não é mais eficaz do que a amoxicilina ou a clindamicina (SIQUEIRA JÚNIOR, 2004). 18 Tortamano (1997) aponta que a eritromicina apesar de ser menos eficaz que a penicilina, é uma boa opção em casos que não se pode utilizá-la, como em pacientes alérgicos a ela, por exemplo. A espiramicina é um antibiótico que mantém boas concentrações nos tecidos orais, permanecendo neles por dias, o que serve de indicação nos casos de periodontopatias. 2.2.5 Tetraciclinas Groppo, Fiol e Andrade (2006) afirmam que as tetraciclinas podem ser de origem natural ou sintética, sendo o cloridrato de tetraciclina, a doxiciclina e a minociclina os antibióticos de aplicação na odontologia. Esse tipo de antibiótico age inibindo a síntese protéica bacteriana, sendo bacteriostáticos. O seu espectro de ação é amplo agindo nas infecções causadas por Actinomyces, Actinobacillus, Bacteróides sp., Clostridium, Propionibacterium, Eubacterium, Peptococcus e Fusobacterium. As tetraciclinas têm boa absorção por via oral, principalmente a doxiciclina. Mas de acordo com Siqueira Júnior (2004), a ingestão de leite e alimentos contendo sais de magnésio, hidróxido de alumínio ou bicarbonato de sódio pode afetar a absorção da tetraciclina. Ao indicar a terapia medicamentosa com a tetraciclina, deve-se ter cuidado com os efeitos adversos como irritação gástrica, fotossensibilização e superinfecções (por estafilococos e Cândida albicans). Além disso, deve-se cuidar com o depósito deste antibiótico em dentes e ossos, que ocorre durante a sua formação. Sendo assim é contraindicado o uso desse medicamento durante a gravidez e em crianças até os doze anos de idade (TORTAMANO, 1997). Siqueira Júnior (2004) afirma que hoje as tetraciclinas não são indicadas em casos de infecções de origem endodôntica, pois verifica-se que é comum a presença de resistência bacteriana a estes antibióticos. 2.2.6 Quinolonas Segundo Siqueira Júnior (2004), as quinolonas são totalmente sintéticas e atuam inibindo a ação do DNA- girase. Têm atividade sobre bacilos e cocos Gram- negativos, 19 facultativos ou aeróbios: Enterobacteriaceae, P. aeruginosa, N. gonorrhoeae, N. meningitidis e Mycobacterium. Como não atuam bem contra estreptococos, enterococos e anaeróbios estritos, possuem pouca utilidade na endodontia. Sendo indicada apenas em infecções persistentes ou secundárias causadas por P. aeruginosa ou casos de osteomielite por Staphylococcus spp. Dentre os tipos de quinolonas apenas o Ciprofloxacin é usado em endodontia. 2.2.7 Aminoglicosídeos Os aminoglicosídeos agem fixando-se ao ribossoma bacteriano, sendo bactericidas. São ativos contra bactérias gram-positivas e gram- negativas, como a Pseudomonas aeruginosa e Escherichia coli, e atuam também contra estafilococos que produzem beta- lactamases. Em odontologia seu uso é restrito a associação da gentamicina ou da amicacina com uma penicilina em infecções graves e em ambiente hospitalar. Cuidar os efeitos adversos, pois podem ser nefrotóxicos e também lesar o nervo auditivo (GROPPO, FIOL e ANDRADE, 2006). 2.2.8 Vancomicina Groppo, Fiol e Andrade (2006) afirmam que esse antibiótico age inibindo a síntese da parede celular, sendo bactericida. Atua contra cocos gram-positivos, como o Pneumococcus, Streptococcus e Staphylococcus aureus. Possui graves efeitos adversos como nefrotoxicidade e ao ser administrado por via intravenosa pode causar dor e flebite. Em odontologia seu uso é limitado, apenas em hospital e em infecções graves por Staphylococcus aureus e somente após ter falhado o uso de outros antibióticos. É indicado também para profilaxia da endocardite bacteriana em pacientes cardiopatas de alto risco e que sejam alérgicos a penicilina e não possam tomar medicamento por via oral. 20 2.2.9 Metronidazol O metronidazol não é um antibiótico e sim um quimioterápico, que seria um antimicrobiano que é produzido em laboratório. Sua inclusão nesse estudo é necessária devido ao seu freqüente uso em casos de infecção endodôntica através da sua associação com alguns tipos de antibióticos. Segundo Tortamano (1997), o metronidazol é um quimioterápico bactericida, que age interferindo no metabolismo celular. Atua por difusão, promovendo um efeito bactericida específico para anaeróbios. Silva, Mattos e Lopes (2000) apontam que ele apresenta excelente penetração em tecido ósseo e em abscesso. É o quimioterápico de escolha em casos refratários à terapêutica com penicilina ou clindamicina. Seu uso é muito comum em infecções endodônticas severas se associado à amoxicilina. Esse medicamento é bem absorvido por via oral, atravessa as barreiras teciduais e é bem distribuído na saliva e no fluido tecidual, por exemplo, no ligamento periodontal. Atua contra praticamente todos os bacilos anaeróbios gram-negativos. Mas, as bactérias aeróbias e microaerófilias são resistentes a ele. Deve-se cuidar com os efeitos adversos desse medicamento que pode causar gosto metálico - devido a sua excreção pelo ligamento periodontal, dor estomacal, náuseas e vômitos. Se administrado em doses largas e por muito tempo pode provocar neuropatia periférica. Não deve ser consumido álcool durante o seu uso, pois pode causar reações tipo dissulfiram. O efeito dissulfiram é o acúmulo de acetaldeído que provoca reações muito desagradáveis descritas até mesmo como “uma sensação iminente de morte”, caracterizada por palpitações, queda da pressão arterial, dor no peito, dificuldade respiratória, vermelhidão da face e pescoço, náuseas, vômito e transpiração excessiva. É mais assustadora do que grave. Também podem potencializar o efeito de anticoagulantes (GROPPO, FIOL e ANDRADE, 2006). Baumgartner, Hutter e Siqueira Júnior (2007) concordam com a colocação de Groppo, Fiol e Andrade (2006) quanto à proibição do consumo de álcool durante o uso do metronidazol e afirmam ainda que a supressão do uso de bebidas alcoólicas deve continuar por pelo menos três dias após o término do tratamento com esse antibiótico. Além disso, eles salientam que não deve ser indicado o uso de metronidazol para pacientes que estejam tomando lítio. Mendes (2002) salienta ainda que o metronidazol é contra- indicado em gestantes e lactantes, e deve ser usado com cuidado por pacientes com história de convulsões. 21 2.3 INDICAÇÕES PARA O USO DE ANTIMICROBIANOS Observa-se que as opções de antimicrobianos são muitas e para obtermos sucesso na endodontia é necessário conhecermos bem sua atuação e quais as infecções que realmente necessitam o seu uso. Hoje muitos autores afirmam que a grande maioria das infecções endodônticas não necessita o uso de antimicrobianos. O que é confirmado por várias pesquisas, até mesmo em casos onde a antibioticoterapia era freqüente. Para Souza (2003) existem basicamente duas razões que justificariam a indicação de antibióticos: a resolução da doença e/ou a proteção do organismo. Ele salienta ainda o fato de que para a medicação sistêmica atuar ela precisa da circulação sangüínea para chegar até o local da infecção e isso é uma condição limitada em endodontia principalmente num canal radicular necrosado. Também se observa que na endodontia as bactérias estão normalmente dentro de um sistema de canais radiculares, ou seja, na luz do canal radicular, nos túbulos dentinários, nas ramificações de um modo geral no canal cementário, locais esses que dificultam a atuação do antibiótico, e no corpo da lesão, onde os microrganismos estão mais expostos aos antibióticos e aos mecanismos de defesa do organismo, mas se eles estiverem agrupados na forma de biofilme haverá uma maior dificuldade de eliminá- los. Baumgartner, Hutter e Siqueira Júnior (2007) colocam que o uso de antibióticos de forma correta deve sempre vir associado com o tratamento endodôntico apropriado, isso em casos de presença de infecção progressiva ou persistente com sinais e sintomas sistêmicos, como febre (37,8°C), malária, celulites, trismos inexplicáveis e edema progressivo e/ou persistente. Pois, nesses casos o antibiótico atua como adjunto à limpeza do sistema de canais radiculares que funciona como um reservatório de microrganismos. Souza (2003) afirma que o maior argumento para a indicação de antibióticos em endodontia está no fato de que ele promove um combate mais efetivo na infecção e assim, o seu uso proporciona uma maior proteção ao organismo. Segundo Siqueira Júnior (2004), as situações que necessitam de antimicrobianos e que parece ser um consenso entre os autores seriam: o abscesso perirradicular agudo com envolvimento sistêmico; a disseminação do abscesso perirradicular agudo com a ocorrência de tumefações difusas; o abscesso perirradicular agudo em pacientes de risco; a avulsão dentária; a sintomatologia e/ou exsudação persistentes e o uso profilático em pacientes de risco. 22 Andrade e Souza Filho (2006) fazem ainda uma referência da necessidade do uso de antimicrobianos em caso de cirurgia parendodôntica. 2.3.1 Abscesso perirradicular agudo com envolvimento sistêmico Nestes casos os pacientes imunocomprometidos podem não responder adequadamente à bacteremia e ocorrer complicações sistêmicas. Deve-se sempre lembrar que pacientes saudáveis, onde ocorre a drenagem via incisão e/ou via canal radicular, seguida pelo preparo químico-mecânico completo do canal radicular, não é preciso o uso de antibioticoterapia (SIQUEIRA JÚNIOR, 2004). Cohen (2000) afirma que o abscesso perriradicular agudo é um exsudato purulento e doloroso ao redor do ápice que ocorre após a necrose do dente, radiograficamente o ligamento periodontal pode estar normal ou ter um ligeiro espessamento. Isso ocorre, pois a infecção se disseminou rapidamente antes que fosse possível detectar a desmineralização da lâmina cortical. 2.3.2 Disseminação do abscesso perirradicular agudo com a ocorrência de tumefações difusas Nesta situação ocorre a presença de celulite e devido a isso o antimicrobiano é indicado, pois pode conter a infecção (SIQUEIRA JÚNIOR, 2004). Cohen (2000) aponta que os sinais e sintomas mais comuns nesses casos são: a presença de edema leve a intenso, dor moderada a intensa, que ocorre com a percussão e a palpação, e um ligeiro aumento na mobilidade dentária, em casos mais graves pode ocorrer febre. 2.3.3 Abscesso perirradicular agudo em pacientes de risco Esses pacientes seriam os imunocomprometidos, imunossuprimidos, diabéticos não-controlados e aqueles propensos à endocardite infecciosa. Nesses casos a resistência do organismo é baixa, e como é freqüente o estabelecimento de bacteremia nessas infecções, o 23 antibiótico é decisivo para controlar a infecção e impedir a ocorrência de complicações sistêmicas (SIQUEIRA JÚNIOR, 2004). Goldstein (1989) afirma que a destruição óssea provocada pelo abscesso perirradicular agudo pode provocar depende de uma complexa interação entre o hospedeiro e as bactérias, interação esta que seria a ativação dos osteoclastos, e a presença de endotoxinas bacterianas e outras substâncias desconhecidas produzidas pelas bactérias. O cirurgiãodentista deve estar atento a esses casos, pois alguns espaços anatômicos são interligados e essa infecção periapical pode se disseminar para áreas distantes. Assim, conhecer adequadamente a anatomia desses espaços é essencial para evitar danos maiores ao paciente. Após analisar as características dos abscessos perirradiculares agudos, nas três situações anteriormente descritas, observa-se que de forma geral, alguns estudos suportam a opinião dos autores acima destritos. A seguir serão relatadas algumas pesquisas que confirmam a necessidade do uso de antimicrobianos em abscessos perirradiculares agudos com envolvimento sistêmico e a sua disseminação com a ocorrência de tumefações difusas, assim como em abscessos perirradiculares agudos em paciente de risco. Mattheus, Sutherland e Basrani (2003) afirmaram, após realizar uma revisão sistemática da literatura, que o abscesso perirradicular agudo é resultado de uma infecção localizada e a dor ocorre devido a uma inflamação no tecido perirradicular. Assim, o uso do antibiótico para controlar as complicações sistêmicas decorrentes desse abscesso como a dor, por exemplo, é inadequada. Eles concluíram que para o alívio da dor e o inchaço, o procedimento de drenagem deveria ser iniciado assim que possível. Observaram também que o uso de antibióticos sistêmicos nesses casos só é indicado se houver complicações sistêmicas (febre, linfadenopatia ou celulite) ou se o paciente for imunocomprometido. Nesses casos deve-se associar o uso de antibióticos e a drenagem do abscesso. De acordo com tais autores, o abscesso apresenta-se com o dente não vital, dor de início rápido, latejante, inchaço é palpável, flutuante, pode ser localizado ou difuso e não há radioluscência periapical evidente. Baumgartner, Hutter e Siqueira Júnior (2007) apontam que em qualquer infecção que apresente celulite deve ser realizada a drenagem, pois o uso apenas do antibiótico, provavelmente não resolverá o problema, porque o antibiótico precisaria, neste caso, se espalhar pelo fluido edematoso e pelo pus, com isso apenas uma concentração mínima de antibiótico chegaria até a fonte da infecção. Observaram que após a drenagem ocorre uma melhor circulação nos tecidos vizinhos a infecção e com isso maiores concentrações de antibióticos chegam até a lesão. 24 Cohen (2000) afirma que quando há um edema difuso, a infecção já está avançada e é necessário um tratamento mais agressivo, para tentar controlar a disseminação da infecção. Assim, é necessário o uso de antibioticoterapia sistêmica para qualquer caso de edema difuso, mesmo após se conseguir a drenagem a partir do canal radicular ou dos tecidos moles. Esse autor aponta também que nesses casos, freqüentemente estão presentes os bacteróides, microrganismos que produzem beta-lactamase, o que prejudica o efeito da penicilina isoladamente, sendo assim, faz-se necessária a sua associação com o metronidazol. Em casos, porém, em que o paciente é alérgico a penicilina e apresenta infecções anaeróbicas-aeróbicas mistas, recomenda-se o uso da eritromicina ou da clindamicina. Khemaleelakul, Baumgartner e Pruksakorn (2002) realizaram um estudo para identificar as bactérias presentes nas infecções endodônticas agudas. Foram feitas aspirações da coleção purulenta de abscessos de 17 pacientes. As amostras foram processadas em condições anaeróbias, foram isoladas e identificadas por métodos bioquímicos e moleculares, Após isso, foi avaliada a sua susceptibilidade antimicrobiana através do E-test. Destas amostras foram isoladas 127 cepas de bactérias. Destas, 80 eram bactérias anaeróbias e 47 bactérias aeróbias. Nestes, 82% eram bactérias anaeróbias estritas e microaerófilas. O gênero de bactéria mais encontrada foi a Prevotella e o Streptococcus, o que confirma a existência, no caso de abscesso agudo, de uma infecção mista e com a predominância de bactérias anaeróbias. Quanto à susceptibilidade antimicrobiana eles verificaram que 81% das bactérias foram suscetíveis a penicilina V, 88% das bactérias foram suscetíveis ao metronidazol, 100% das bactérias foram destruídas pela associação de amoxicilina e ácido clavulânico e 89% das bactérias não resistiram a clindamicina. Jacinto et al. (2006) realizaram um estudo para investigar a prevalência do Porphyromonas gingivalis no canal radicular de dentes com abscesso e investigar a sua sensibilidade antimicrobiana. Eles removeram amostras de 70 raízes de dentes com abscesso, elas foram isoladas através de métodos apropriados para espécies anaeróbias. Foram isolados 352 tipos individuais de bactérias pertencendo a 69 espécies bacterianas diferentes, 83% eram bactérias anaeróbias estritas e 47,5% eram de bactérias gram- negativas. A Porphyromonas gingivalis foi encontrada em 20 canais radiculares e esteve presente mais nos casos sintomáticos, com a presença de exsudato purulento e dor na palpação. Todas as amostras de Porphyromonas gingivalis foram sensíveis a amoxicilina, amoxicilina e ácido clavulânico, cefalexina, clindamicina, benzilpenicilina, metronidazol e tetraciclina. Mas a concentração inibitória mínima mais baixa foi observada para a associação de amoxicilina e ácido 25 clavulânico e para a clindamicina (esta foi ainda menor). Já um tipo de bactéria foi resistente à eritromicina e oito espécies bacterianas foram resistentes à azitromicina. Baumgartner e Xia (2003) afirmam que a prescrição dos antimicrobianos em abscesso endodôntico deve ser associada ao tratamento clínico. E que eles são indicados apenas quando houver sinais e sintomas de participação sistêmica, ou em pacientes com infecção em progresso e também em pacientes imunocomprometidos. Apontam ainda que deve-se escolher o antimicrobiano baseado no conhecimento da eficácia de cada antimicrobiano sobre as bactérias freqüentemente encontradas em infecções severas. As infecções endodônticas são ecossistemas de bactérias e que os seus subprodutos podem ser nutrientes para outras bactérias, fazendo com que uma dependa das outras. Com isso um antimicrobiano que atua sobre certa bactéria pode destruir outras que seriam resistentes a ele. Baumgartner e Xia (2003) fizeram um estudo, no qual realizaram testes de susceptibilidade aos antibióticos frente a um painel de bactérias. Neste estudo, foram aspiradas bactérias assepticamente com uma agulha de um abscesso endodôntico, cultivados e identificados. Cada uma das 98 espécies de bactérias fez o teste de susceptibilidade num painel de seis antibióticos, usando o E-test. O resultado foi o seguinte: associação da amoxicilina e ácido clavulânico: 98 de 98 (100%) espécies bacterianas foram susceptíveis; clindamicina: 94 de 98 espécies (96%) não resistiram; amoxicilina: 89 de 98 (91%) espécies foram susceptíveis; penicilina V: 83 de 98 espécies (85%) foram destruídas; metronidazol: 44 de 98 espécies (45%) não resistiram. Nessa pesquisa, o metronidazol apresentou maior resistência, mas em combinação com a penicilina V ou a amoxicilina, sua susceptibilidade aumentou para 93% e 99% respectivamente; para os autores o antibiótico ideal é a penicilina V, pois atua sobre anaeróbios facultativos e estritos, tem toxicidade baixa e custo baixo. Apesar da amoxicilina isolada ou de seu uso associado ao ácido clavulânico terem apresentado melhores resultados não são indicadas devido ao seu amplo espectro de atuação, que inclui bactérias de outras partes do corpo e com isso pode aumentar o risco de selecionar microrganismos resistentes fora da cavidade oral. A claritromicina é outro antibiótico que foi testado e teve boa eficácia, mas ainda está sob investigação, pois não há uma concentração inibitória mínima. 26 2.3.4 Avulsão dentária Após o reimplante de dentes avulsionados o uso do antibiótico auxilia no prognóstico. O mais indicado é a amoxicilina, por sete dias, ou em caso de alergia a ela indica-se a clindamicina (SIQUEIRA JÚNIOR, 2004). Longman et al. (2000) afirmam que o uso de antibióticos sistêmicos profilaticamente é indicado em caso de reimplante de dentes avulsionados, tanto em pacientes saudáveis como em casos de doenças cardíacas. Mas, em pacientes imunocomprometidos, transplantados e que fazem diálise ou que realizam radioterapia na boca o reimplante é contraindicado. Hammarstrom et al. (1986 - apud Trope et al., 2007) realizaram um estudo onde eles apontam que os antibióticos sistêmicos ao serem prescritos no momento do reimplante e antes do tratamento endodôntico são eficazes na prevenção da invasão de bactérias da polpa necrosada e, da reabsorção inflamatória que normalmente ocorre após o reimplante. Eles afirmam ainda que o uso de antibióticos sistêmicos deve iniciar na consulta de emergência e continuar até que a contenção seja removida. 2.3.5 Sintomatologia e/ou exsudação persistentes Nessas situações em que a terapia endodôntica tradicional com instrumentação e medicação intracanal não promove uma resposta adequada, pode–se lançar mão de antimicrobianos para combater os sinais e sintomas (SIQUEIRA JÚNIOR, 2004). Longman et al. (2000) relatam em seu artigo que encontraram vários estudos que mostram evidências de que o uso de antibióticos no momento da obturação, quando há pus remanescente no interior do canal radicular, mesmo após ter sido realizada medicação intracanal em diferentes sessões endodônticas auxiliava na resolução do problema. Mas, também observaram que não havia evidência científica de que esta prática era benéfica. Sendo o mais indicado nesses casos continuar realizando as trocas de medicação intracanal e reinstrumentando o dente no lugar de realizar a obturação. Noda et al. (2000) afirmam que alguns casos endodônticos não melhoram seus sintomas clínicos apesar da terapia de rotina. Nestes casos, há a suspeita de que há o envolvimento de algumas espécies diferentes de bactérias das encontradas normalmente nos casos agudos. Os autores observaram que algumas investigações mostram que há uma 27 diferença na microflora de canais radiculares de casos agudos e crônicos. Devido a isso, é importante principalmente em casos persistentes identificar a flora envolvida na lesão. Os autores utilizam o método pré-cultura para identificar a bactéria e têm obtido melhores resultados do que com os métodos tradicionais. Esse método foi utilizado pelos autores em 15 pacientes que tinham o diagnóstico de periodontite apical crônica com sinais e sintomas clínicos. O resultado deste estudo mostrou que cocos anaeróbios facultativos gram-positivos, assim como alfa-streptococcus, enterococcus faecallis, foram os microrganismos mais encontrados em casos persistentes, mas também detectaram a presença de bactérias anaeróbias obrigatórias como bacteróides, fusobacterium, peptostreptococcus e propionibacterium. Após essa análise, foi realizado o teste de susceptibilidade aos antibióticos (foram utilizados antibióticos do grupo das penicilinas, cefalosporinas, aminoglicosídeos, tetraciclinas e outros). No teste verificaram que o enterococcus faecallis foi altamente resistente aos antibióticos testados, especialmente aos do grupo das cefalosporinas. O que confirma que esse microrganismo é uma bactéria que possui resistência a várias drogas, o que pode ser relevante para indicar uma prescrição específica de certos antibióticos em casos de um tratamento endodôntico prolongado. 2.3.6 Uso profilático em pacientes de risco Normalmente a bacteremia é baixa durante o procedimento endodôntico, mas é o tempo suficiente para poder causar endocardite infecciosa em pacientes com suscetibilidade de desenvolver essa doença, nesses casos, deve-se seguir o regime profilático proposto pela American Heart Association (AHA) – Associação Americana do Coração. A profilaxia antibiótica seria a administração de antibióticos em pacientes sem infecção, para prevenir a colonização bacteriana e reduzir o risco desses pacientes terem complicações pós-operatórias (SIQUEIRA JÚNIOR, 2004). Segundo Andrade, Volpato e Ranaldi (2006) a endocardite infecciosa é uma infecção rara que ocorre na superfície do endocárdio, que normalmente envolve as valvas cardíacas, e seus principais fatores de risco são as lesões do endocárdio provocadas por doenças congênitas ou adquiridas. O processo ocorre com a formação de plaquetas e de fibrina no local, colonização bacteriana e formação de vegetações, com posterior disseminação da infecção por via sanguínea. A maioria dos casos de endocardite infecciosa é de origem bacteriana, mas outros microrganismos podem causar a doença, inclusive fungos. 28 Em 1997, a AHA publicou a nona revisão de suas recomendações para a prevenção da endocardite infecciosa. A profilaxia é recomendada para pacientes com maior risco de desenvolver a doença, comparado com o da população em geral. Wannmacher e Ferreira (2002) colocam que a profilaxia antibiótica não deve ser encarada como única medida capaz de impedir a infecção após um processo invasivo. Com medidas de esterilização e cuidados com a técnica e limpeza adequada pode-se evitar muita infecção. Apontam também que se deve seguir alguns princípios para a profilaxia: seleção do paciente; análise dos procedimentos; definição do agente etiológico; seleção adequada do antimicrobiano; monoterapia; usar o antimicrobiano no momento adequado e curta duração. Wahl e Pallasch (2005 apud Andrade, Volpato e Ranaldi, 2006) apontam ainda que a AHA recomenda a profilaxia antibiótica para a endocardite infecciosa em quase todo procedimento odontológico associado com sangramento excessivo, mas hoje observaram uma tendência de se restringir a profilaxia antibiótica somente antes das exodontias, cirurgia gengival e colocação de implantes. Goldstein (1989) afirma que durante o tratamento endodôntico a bacteremia pode ser evitada se a instrumentação ficar inteiramente limitada ao canal radicular. Mas se o instrumento ultrapassar esse limite pode levar o conteúdo do canal radicular em massa para a circulação sistêmica, causando uma bacteremia imediata e transitória que dura cerca de 10 minutos, mas é tempo suficiente para colonizar uma válvula cardíaca lesada. 2.3.6.1 Recomendações da Profilaxia da Endocardite (Andrade, Volpato e Ranaldi, 2006) A) Condições de alto risco: - Valvas cardíacas protéticas (qualquer tipo). - Endocardite bacteriana prévia. - Condutos pulmonares sistêmicos construídos cirurgicamente. - Doenças cardíacas congênitas cianóticas complexas, como a transposição de grandes artérias, os estados ventriculares simples e a tetralogia de Fallot. B) Condições de risco moderado: - A maioria das malformações cardíacas congênitas, outras que as já descritas. - Disfunção valvar adquirida (ex. doença cardíaca reumática). 29 - Cardiomiopatia hipertrófica. - Prolapso de valva mitral com regurgitação valvar e/ou espessamento dos folhetos valvares. 2.3.6.2 Não há recomendação da Profilaxia da Endocardite (Andrade, Volpato e Ranaldi, 2006) A) Condições de risco mínimo (similar ao da população em geral) - defeito septo atrial secundum isolado. - Correção cirúrgica de defeito septo atrial, ventricular ou ducto arterial patente (sem resíduo após 6 meses). - Cirurgia prévia de derivação de artéria coronária. - Prolapso de valva mitral sem regurgitação valvar. - Murmúrios (sopros) cardíacos fisiológicos ou funcionais. - Doenças de Kawasaki prévia sem disfunção valvar. - Febre reumática prévia sem disfunção valvar - Marcapassos cardíacos (intravascular e epicárdio) e desfibriladores implantados. 2.3.6.3 Regime profilático padrão Andrade, Volpato e Ranaldi (2006) relatam que o regime profilático padrão recomendado pela AHA seria: -Adultos - 2 g de amoxicilina em dose única, uma hora antes do procedimento. -Crianças – 50mg/kg de amoxicilina em dose única, uma hora antes do procedimento. A amoxicilina é tão efetiva quanto à ampicilina ou à penicilina V sobre os estreptococos alfa- hemolíticos (por exemplo, os streptococcus viridans que são a causa mais comum de endocardite infecciosa após certos tratamentos odontológicos), mas é a droga de escolha, pois é melhor absorvida pelo trato gastrintestinal e proporciona níveis sanguíneos mais elevados e duradouros (ANDRADE, VOLPATO e RANALDI, 2006). Andrade, Volpato e Ranaldi (2006) afirmam que no caso de pacientes alérgicos à penicilina é recomendado: - Adultos: - 600mg de clindamicina em dose única, uma hora antes do procedimento; ou - 500mg de azitromicina em dose única, uma hora antes do procedimento. 30 - Crianças: - 15mg/kg de azitromicina em dose única, uma hora antes do procedimento. Wannmacher e Ferreira (2002) observaram que as administrações de profilaxia aos pacientes devem ser realizadas com intervalos. É necessário um período de duas semanas entre as administrações profiláticas de clindamicina, e no caso da amoxicilina, é indicado o seu uso no máximo duas vezes em um mês. Lavelle (1996) aponta que além dos pacientes que possuem doenças valvulares pré-existentes, pode-se verificar que há um aumento na implantação bacteriana entre pacientes que abusam de drogas parenteral, pacientes obstétricos e pacientes com infecções nosocomiais. Assim, deve-se ter um maior cuidado para prevenir também essas mais recentes formas de endocardite infecciosa, que requer do cirurgião-dentista um maior conhecimento destes problemas, pois cabe a ele realizar uma avaliação clínica de cada caso específico e indicar corretamente a profilaxia antibiótica. Além disso, o cirurgião dentista deve acompanhar o paciente após o procedimento dentário, ele tendo ou não recebido a indicação de profilaxia antibiótica. 2.3.7 Cirurgia Parendodôntica Nesta situação, o emprego de antibióticos de forma profilática ainda é muito restrito e não é indicado pela maioria dos autores incluindo Siqueira Júnior (2004). Segundo Andrade e Souza Filho (2006), o endodontista no planejamento da cirurgia parendodôntica deve se preocupar com a prevenção da infecção da ferida cirúrgica e de acordo com suas pesquisas atualmente muitos autores concordam que se as medidas de assepsia e anti-sepsia forem realizadas adequadamente, não é necessário fazer uso de profilaxia antibiótica, a não ser em casos onde o paciente apresente um sistema imune comprometido ou tenha condições de risco para desenvolver infecções à distância. Mas, devese levar em consideração o fato de que a cirurgia parendodôntica é indicada normalmente devido a fracassos ocorridos no tratamento endodôntico convencional, o que indica a presença de microrganismos no interior do sistema de canais radiculares e na região periapical. Assim, quando é necessária a realização de cirurgia parendodôntica em presença de lesão periapical deve-se indicar o uso de antibióticos pré-operatório para prevenir a disseminação microbiana da área dos canais radiculares e da lesão periapical para outras áreas mais distantes. O regime 31 mais indicado é o uso de amoxicilina 1 a 2 g, via oral, em dose única, ou azitromicina 500 mg, para alérgicos às penicilinas 30 minutos antes do início dos procedimentos. Lindeboom et al. (2005) realizaram uma pesquisa para determinar o papel da administração de profilaxia antibiótica no caso de cirurgia parendodôntica. O estudo foi prospectivo, duplo-cego e placebo controle com o intuito de comparar a administração de 600 mg de clindamicina 1 hora antes da cirurgia com um placebo. Foram incluídos no estudo 256 pacientes que necessitavam de cirurgia parendodôntica, a média de idade foi de 44,4 anos, sendo 147 do sexo feminino e 109 masculinos. Após a cirurgia, foram observados por 4 semanas para avaliar os pacientes segundo os parâmetros clínicos de infecção. Os pesquisadores concluíram que estatisticamente não houve diferença entre o uso da profilaxia com clindamicina ou com o placebo para prevenção de infecção pós-operatória em cirurgia parendodôntica. Vigil et al. (1997) realizaram uma pesquisa para identificar a sensibilidade antibiótica de bactérias retiradas de lesões periapicais de tecidos periradiculares de 28 casos endodônticos refratários que requeriam cirurgia, eles foram submetidos a diagnóstico histológico e cultura microbiológica. Verificaram que 79% das lesões tinham microrganismos. Nos 22 casos encontraram cultura de bactérias gram-positivas, em 15 casos eram polimicrobianas e em 7 casos eram espécies simples isoladas. No total 33 espécies diferentes foram encontradas os microrganismos mais comuns: propionibacterium acnes, staphylococcus epidermides, streptococcus intermedius, wolinella recta, fusobacterium species e clostridium species. Com relação à susceptibilidade antimicrobiana esse estudo não encontrou evidências claras de que há resistência aos antibióticos entre as espécies tesadas. Johnson e Witherspoon (2007) afirmam que apesar do uso rotineiro de antibióticos de forma profilática para cirurgia parendodôntica não ser recomendado, há casos específicos onde o seu uso seria indicado como em pacientes imunocomprometidos, pacientes com comprometimento sistêmico e em diabéticos, pois nesse caso a cicatrização pode ficar comprometida. 32 2.4 PESQUISAS SOBRE A EFETIVIDADE ANTIMICROBIANA E MICRORGANISMOS PRESENTES EM ALGUNS CASOS ENDODÔNTICOS As situações endodônticas apresentadas acima seriam as mais indicadas para o uso de antibioticoterapia, segundo os autores citados. No entanto, verifica-se que muitos autores estão realizando pesquisas para definir quais os microrganismos que são freqüentemente encontrados na endodontia e que papel os antibióticos desempenham nestes casos. Eles buscam principalmente estabelecer os antibióticos que apresentam os melhores resultados frente a esses diversos casos endodônticos, que fazem parte do dia-a-dia do cirurgião-dentista. Entre eles estão: 2.4.1 Canal já obturado com lesão periapical Pinheiro et al. (2003) fizeram um estudo para avaliar os microrganismos presentes em dentes com endodontia e avaliar a sua sensibilidade aos antimicrobianos. Avaliaram 30 dentes de pacientes que tinham feito a endodontia por volta de 4 anos e tinham evidência de periodontite apical. Deviam ser pacientes saudáveis e que não tinham tomado antibióticos nos últimos 3 meses. As amostras foram isoladas através de técnicas microbiológicas avançadas para espécies anaeróbias. O resultado foi que isolaram 55 espécies bacterianas, destas 80% eram gram-positivas e 58% eram microrganismos anaeróbios facultativos. Os gêneros bacterianos encontrados freqüentemente foram: enterococcus faecallis, streptococcus, peptostreptococcus e actinomices. Para testar a susceptibilidade desses microrganismos aos antibióticos foi usado o E-test. Foi observado através deste teste que todas as espécies estudadas foram susceptíveis a benzilpenicilina, amoxicilina e a associação de amoxicilina e ácido clavulânico. Eles verificaram também que 20% das cepas do enterococcus faecallis foram resistentes à eritromicina e 60% resistiram à azitromicina. Com este estudo os autores concluíram que nestes casos a flora microbiana predominante é anaeróbia facultativa, grampositiva e que a bactéria mais encontrada é o enterococcus faecalis. Pinheiro et al. (2004) realizaram um estudo, in vitro, para avaliar e sensibilidade da bactéria enterococcus faecallis que foi isolada a partir de lesões periapicais em canais radiculares que já possuíam endodontia. Para isso 21 amostras de enterococcus faecallis foram isoladas e testadas a fim de verificar a sua susceptibilidade antimicrobiana. Foi utilizado para isso o E-test. Os autores verificaram que todas as amostras foram suscetíveis a 33 penicilina in vitro, mas a concentração inibitória mínima da amoxicilina e da associação de amoxicilina e ácido clavulânico foi mais baixa do que a da benzilpenicilina. Todas as cepas estudadas também foram suscetíveis à vancomicina e ao moxifloxacim. Já 95,2% foram suscetíveis ao cloranfenicol, 85,7% foram suscetíveis à tetraciclina e à doxiciclina e 80,9% não resistiram à ciprofloxacina. Com relação à eritromicina apenas 28,5% das amostras foram suscetíveis, frente à azitromicina apenas 14,2% foram destruídas. 2.4.2 Dentes com periodontite periapical sintomática e assintomática Jacinto et al. (2003) realizaram um estudo para analisar a microbiota de canais radiculares que apresentavam peridontite apical e possuíam ou não sintomatologia. Fizeram através do E-test uma avaliação da susceptibilidade antimicrobiana de algumas bactérias anaeróbias. O objetivo era investigar a relação entre a flora bacteriana de dentes com periodontite apical e a presença de sinais e sintomas clínicos. Para isso utilizaram amostras microbianas de 48 canais radiculares, destes 29 eram sintomáticos e 19 assintomáticos. Isolaram 218 culturas, destas foram observadas 48 espécies microbianas diferentes e 19 gêneros diferentes. Os pesquisadores observaram que nos canais radiculares de dentes sintomáticos havia mais anaeróbios obrigatórios e um número maior de espécies bacterianas do que em dentes assintomáticos. Além disso, os resultados encontraram relação entre microrganismos específicos, principalmente os anaeróbios gram- negativos e a presença de dor espontânea ou anterior, sensibilidade à percussão, dor à palpação e edema. Com relação à susceptibilidade antimicrobiana observaram que todos os microrganismos não resistiram à amoxicilina e à associação de amoxicilina e ácido clavulânico e ao cefaclor. Já a prevotella intermédia / nigrescens teve uma baixa sensibilidade para a penicilina G. 2.4.3 Dentes com necrose pulpar e que apresentam sintomatologia Henry, Reader e Beck (2001) realizaram um estudo prospectivo, randomizado, duplo-cego, placebo controle para determinar o efeito da penicilina na dor pós-operatória e no inchaço em dentes necrosados sintomáticos. Participaram do estudo 41 pacientes, cada um teve o diagnóstico clínico de um dente necrosado, sintomático, com radioluscência periapical associada. Após a endodontia, os pacientes receberam aleatoriamente doses orais para 7 dias 34 (28 cápsulas de 500mg, para serem tomadas a cada 6 horas) de penicilina ou um placebo controle de maneira duplo-cego. Os pacientes receberam também ibuprofen, acetaminofem com codeína (30mg) e um diário de 7 dias para anotar a dor, dor a percussão, inchaço e o número e o tipo de medicação usada para a dor. A maioria dos pacientes com dente necrótico sintomático têm dor pós-operatória significante e precisa de medicação analgésica. Após avaliar o relato dos pacientes os autores concluíram que a administração de penicilina pósoperatória não reduziu significativamente a dor, a dor a percussão, o inchaço ou o número de medicamentos analgésicos. O que levou os autores a perguntar se os achados dolorosos periapicais relacionados a um dente com necrose pulpar fosse causado pelas bactérias, porque a penicilina não reduziu os sintomas pós-operatórios? Os autores comprovaram que clinicamente o antibiótico tem pouco efeito uma vez que a inflamação/infecção periapical é estabelecida, continuando seu curso próprio até se resolver e ter sua recuperação natural. Geralmente na maioria dos casos a definição da dor ocorre pelo terceiro dia. Foi verificado também, nesse estudo, em que o uso de analgésicos foi maior até o terceiro dia, que com relação ao inchaço não houve diferença entre os dois grupos. 2.4.4 Flare-up endodôntico em dentes com necrose pulpar e assintomáticos Pickenpaugh et al. (2001) realizaram um estudo prospectivo, randomizado, duplocego e placebo controle para determinar o efeito da profilaxia com amoxicilina na ocorrência de flare-up endodôntico em dentes com necrose pulpar e assintomáticos. Participaram do estudo 70 pacientes que tinham como diagnóstico clínico dentes com necrose pulpar, assintomáticos associada à radioluscência periapical. Uma hora antes do tratamento, os pacientes receberam aleatoriamente 3 g de amoxicilina ou 3 g de um placebo controle de uma maneira duplo-cega. Após o tratamento cada paciente recebeu ibuprofen, acetaminofen com codeína (30mg) e um diário para anotar a dor, o inchaço, a dor a percussão e o número de medicação usada. Os resultados demonstraram que 10% dos pacientes tiveram um flare-up caracterizado por dor e inchaço pós-operatório de moderado a intenso, isso começou 30 horas após o tratamento endodôntico e persistiu por uma média de 74 horas. O que levou os autores a concluir que uma dose profilática de amoxicilina não influenciou significativamente a ocorrência do flare-up endodôntico nos dentes com necrose pulpar assintomáticos. Ainda, segundo Pickenpaugh et al. (2001), esse estudo vai ao encontro com os achados de outros pesquisadores como Torabinejad et al. (1988), que acreditam que os 35 antibióticos são menos eficazes do que os analgésicos para reduzir as complicações das emergências endodônticas, e com os estudos de Waltom e Chiappinelli (1993) que também concluíram que os sintomas pós-operatórios não foram afetados pela administração profilática de antibióticos. Mas, ainda, segundo Pickenpaugh et al. (2001), outros autores como Morse et al. (1990), discordam desses resultados e segundo suas pesquisas, recomendam o uso de antibióticos para prevenir o flare-up. Morse et al. (1990) realizaram um estudo com 200 pacientes que receberam aleatoriamente cefadroxil ou eritromicina (base ou estearato) para avaliar qual antibiótico seria mais eficaz na prevenção de flare-up em dentes assintomáticos com necrose pulpar associado à lesão periapical. Observaram que ocorreu flare-up em 2% dos casos e não houve diferença entre os antibióticos avaliados. Os autores, como já citado anteriormente, realizaram outros estudos para avaliar a influencia da profilaxia antibiótica em dentes assintomáticos com necrose pulpar e lesão periapical associada. Foi realizada pelos autores uma análise comparativa dos resultados desses estudos, os anteriores e o atual, onde concluíram que profilaxia antibiótica reduziu significativamente a incidência de flare-up, assim como houve diminuição dos sintomas depois de realizada a endodontia em dentes necrosados assintomáticos. Menezes et al. (2002) afirmam que nas infecções endodônticas o uso de antibióticos deve vir sempre acompanhado de procedimento local e só em quadros infecciosos que comprometam o paciente. Apontam que eles não reduzem ou diminuem a duração da dor produzida pela infecção, não previne m o flare-up pós-operatório dado confirmado pela pesquisa de Pinckenpaugh et al. (2001) que usou doses profiláticas de amoxicilina e não teve efeito em flare-up de dentes assintomáticos necróticos. O uso pelos endodontistas de antibioticoterapia profilaticamente está baseada principalmente num estudo feito por Burke e Miles, em 1958, no qual demonstraram que os antibióticos devem estar no organismo quando a ferida é semeada pelas bactérias para serem eficazes, isto é, uma dose profilática. O atraso de 3 a 4 horas na administração antibiótica resultaria em lesões que eram idênticas aquelas de casos que não receberam profilaxia. 36 2.4.5 Pulpite irreversível Souza (2003) afirma que o tratamento da pulpite sintomática, ou seja, o controle da dor é obtido através da atuação do profissional e não necessita de medicação sistêmica. Sabe-se que nesse caso não há presença de microrganismos e por isso não há justificativa para utilizar a medicação sistêmica nem com finalidade antimicrobiana e muito menos profilática. Keenan et al. (2006) realizaram uma Revisão Cochrane para buscar evidências de confiança sobre a eficácia da prescrição de antibióticos em pacientes com pulpite irreversível. Houve um número limitado de experiências que tinham os métodos que o artigo exigia. Foi identificada uma revisão sistemática que ofereceu uma confirmação de evidências fortes de que na ausência de complicações sistêmicas, o antibiótico sozinho não tem nenhum controle do abscesso agudo localizado. As pesquisas indicaram que embora a dor do abscesso apical agudo fosse conseqüência de um processo infeccioso, a infecção está localizada e que mesmo neste estágio terminal de pulpite irreversível, o uso dos antibióticos como única terapia ou como terapia auxiliar permanece questionável. Outro achado desse estudo foi a pesquisa do serviço de saúde nacional britânico, na qual se confirmou que havia uma evidência de excesso de prescrição imprópria de antibióticos na Odontologia. O antibiótico foi prescrito em casos em que não havia evidências de seu benefício e observaram que a história social do paciente (8%), a pressão do tempo (30%) e a expectativa do paciente (8%) foram fatores não-clínicos responsáveis pela prescrição dos antibióticos. Estas afirmações são confirmadas por Yingling, Byrne e Hartwell (2002), que realizaram um estudo com cirurgiões-dentistas da Associação de Endodontistas Americanos, o qual indicou a prescrição de antibióticos por razões médicolegais por alguns endodontistas, unicamente para satisfazer as expectativas do paciente. Estes estudos confirmam que, apesar de ser praticamente um consenso entre os cirurgiões-dentistas de que o antibiótico não auxilia na diminuição da dor em pulpite irreversível, ainda observa-se o seu uso nesses casos. Esta utilização inadequada pode contribuir para o aumento da resistência bacteriana aos antibióticos, além de expor o pacientes a possíveis efeitos adversos destes medicamentos e a um gasto desnecessário com medicação que não está trazendo benefício algum para a resolução da sua doença. 37 2.5 POSOLOGIA Souza (2003) relata que existem diversos protocolos de medicação sistêmica e estes estão em constante modificação ao longo do tempo. Ele afirma que isso ocorre devido a alguns fatores como a falta de parâmetros bem definidos, a dificuldade de diagnóstico devido a sua subjetividade, e também à quantidade e à qualidade das bactérias, além, é claro, do momento do sistema imunológico do paciente, entre outros. Com isso a indicação correta e a posologia, ficam dependendo muito da interpretação do profissional. Para Kolowski Júnior (2002), na determinação dos regimes posológicos ideais deve-se levar em consideração fontes de variabilidade interfatoriais, intrafatoriais e multifatoriais, que podem atuar individual ou multidisciplinarmente. Com a avaliação desses fatores, é possível determinar um regime profilático adequado que restabeleça a saúde do paciente. Com relação às doses dos antibióticos ela deve ser controlada para que atinja no organismo uma concentração adequada na fase necessária ao controle da proliferação bacteriana. Assim, muitas vezes, é necessário utilizar a dose de ataque e após, doses de manutenção, até 48 horas depois de cessar a sintomatologia. Normalmente, na endodontia, o fármaco de escolha é do grupo das penicilinas, mas quando há infecções persistentes e/ou refratárias deve-se avaliar a história clínica do paciente e escolher um novo medicamento que realize o efeito adequadamente. Baumgartner, Hutter e Siqueira Júnior (2007) apontam que a duração do tratamento de uma infecção endodôntica é de seis a dez dias consecutivos. Normalmente observa-se uma melhora no quadro clínico do paciente no período de 24 a 48 horas após o tratamento inicial e o início da prescrição do medicamento. Eles salientam ainda que o ideal é o uso da medicação em dosagem alta e por um curto período de tempo. Indicam o uso da medicação através de uma dose plena, para elevar o nível sérico inicial da droga e após segue-se o uso de doses de manutenção. Assim, dessa maneira, o risco de selecionar microrganismos resistentes é mais baixo. Menezes et al. (2002) afirmam que a amoxicilina é o antibiótico de 1ª escolha em infecções orais. Mas em casos de abscessos crônicos ou de resistência antibiótica, é indicado associá- la ao ácido clavulânico. Já em casos de pacientes alérgicos deve-se ter cuidado, pois as cefalosporinas também podem produzir hipersensibilidade. Assim, o estolato de eritromicina é o substituto mais freqüente, ou, pode-se usar a clindamicina. 38 Raldi, Oliveira e Marques (2002) afirmaram que no caso de pacientes adultos a posologia ideal e o tipo de antibiótico dependem da infecção. Desta maneira, os autores subdividem as infecções em: - Infecções leves a moderadas – a 1ª escolha é a amoxicilina 500 mg, devendo-se realizar a dose de ataque tomando 1 g na primeira dose, seguida de 500 mg, de 8 em 8 horas. Já a 2ª escolha, seria o uso da eritromicina 500 mg, seguindo o mesmo esquema terapêutico, 1 g na primeira dose, seguida de 500 mg, de 8 em 8 horas (alternativa para pacientes alérgicos a penicilina). - Infecções severas – é indicado o uso de associações como, amoxicilina 500mg, devendo ser tomada 1 g na 1ª dose, seguida de 500 mg, de 8 em 8 horas, juntamente com o metronidazol 250 mg, de 8 em 8 horas. Como 2ª escolha o uso da associação da amoxicilina e ácido clavulânico 500mg, de 8 em 8 horas. Um esquema seguro para pacientes alérgicos à penicilina seria o uso da clindamicina 300 mg, sendo que a dose de ataque deve ser realizada com a tomada de 600 mg na primeira dose, seguida de 300 mg, de 6 em 6 horas. Segundo Andrade e Souza Filho (2006), o cirurgião-dentista ao prescrever os antimicrobianos deve levar em consideração o curso e a gravidade da infecção, além da história do paciente em relação ao uso das penicilinas (Quadro 4). Quadro 4 – Protocolo medicamentoso em endodontia Doses de ataque dos antibióticos Doses de manutenção dos antibióticos (adultos e crianças acima de 12 anos) (adultos e crianças cima de 12 anos) Abscessos apicais localizados na região Abscessos apicais localizados na região sub- sub-perióstica ou submucosa: Amoxicilina 1 g perióstica ou submucosa: Amoxicilina 500 mg a cada 8 horas Pacientes alérgicos às penicilinas: Pacientes Eritromicina 1 g ou Azitromicina 500 mg alérgicos às penicilinas: Eritromicina 500 mg a cada 6 hora s o u Azitromicina 500 mg a cada 24 horas 39 Abscessos apicais com característica de Abscessos apicais com características de maior maior gravidade: Amoxicilina 1 g + g r a v i d a d e : A moxicilina Metronidazol 250 mg Pacientes alérgicos 500 mg + Metronidazol 250 mg, a cada 8 horas às penicilinas: Pacientes Clindamicina 600 mg alérgicos às penicilinas: Clindamicina 300 mg a cada 8 horas Modificado de Andrade e Souza Filho (2006). Ferreira (2002) ao contrário dos autores citados anteriormente não comenta a necessidade da dose de ataque ao indicar o uso de antimicrobianos em infecções endodônticas. A autora sugere o seguinte esquema de administração de antimicrobianos em casos de infecções apicais e periapicais (Quadro 5). Quadro 5 – Esquema de antimicrobianos em Endodontia Antimicrobianos Pró-dose Via Intervalo (horas) Penicilina V 500.000UI Via Oral (VO) 6 Ampicilina 500 mg VO 6 Amoxicilina 500 mg VO 8 Amoxicilina/ Ácido clavulânico 500 mg VO 8 Eritromicina 250 mg VO 6 Cefalexina 250-500 mg VO 6 Clindamicina 150-300 mg VO 6 Modificado de Ferreira (2002). Além da correta indicação e do tipo ideal de antimicrobianos indicados em casos de infecções endodônticas, deve-se levar em consideração a condição financeira do paciente. E nesses casos, onde o paciente tem dificuldade para adquirir o medicamento, deve-se indicar o uso de medicamentos genéricos que são facilmente encontrados e têm um custo mais acessível, o que muitas vezes garante a realização adequada do tratamento pelo paciente. Anderson e Roberts (1996) afirmam que com relação à posologia de antibióticos para crianças, a penicilina V é o antibiótico mais indicado para tratar infecções dentárias. A ampicilina e a amoxicilina são úteis em casos de infecções, mas devido ao aumento no desenvolvimento da resistência a esses agentes principalmente pelo H. influenzae, essas drogas não são indicadas em preferência à penicilina G ou V. Já em casos de infecções nas quais há a presença de estafilococos produtores de penicilinase, a droga de escolha seria uma 40 das penicilinas desenvolvidas para serem resistentes à penicilinase como, por exemplo, a oxacilina, a meticilina, a nafcilina, a cloxacilina e a dicçoxacilina. Ainda, segundo Anderson e Roberts (1996), em casos de pacientes alérgicos à penicilina pode-se usar a eritromicina, pois seu espectro de ação é semelhante ao da penicilina com acréscimo de alguns estafilococos produtores de penicilinase (clamídeas, Legionella, micoplasma e outros), sendo uma droga excelente para infecções dentárias. Porém, independente do tipo de infecção a maioria dos autores recomendam um tempo médio de uso da medicação de cinco a sete dias. Tortamano e Rocha (2000) esclarecem os antibióticos mais indicados nas infecções bucodentárias em odontopediatria e a sua posologia ideal (Quadro 6). 41 Quadro 6 – Antibióticos indicados em odontopediatria e sua posologia Grupo Nome Nome genérico comercial V Pen-Ve-Oral Posologia 40000 a100000 UI K g/peso/dia de 6 em 6 horas (suspensão) G Benzetacil 40000 UI kg/peso/dia de frasco/ampola Despacilina Oxacilina Oxacilina Penicilinas 50 a 100 mg Kg/peso/dia de 6 em 6 horas (suspensão) Ampicilina Binotal 50 a 100 mg Kg/peso/dia de 6 em 6 horas (suspensão) Amoxicilina Amoxil 50 a 100 mg Kg/peso/dia de 8 em 8 horas (suspensão) Estearato de Pantomicina eritromicina Claritromicina 40 a 50 mg Kg/peso/dia de 6 em 6 horas (suspensão) Klaricidil Macrolídeos 7,5 a 15mg Kg/peso/dia de 12 em 12 horas (suspensão) Azitromicina Zitromax 10 mg Kg/peso/dia de 12 em 12 horas (suspensão) Lincomicina Fosfato de Frademicina lincomicina Clindamicina Cloridrato de (xarope) Dalacin C clindamicina Nistatina 30 a 60 mg Kg/peso/dia de 6 em 6 horas 10 a 20 mg Kg/peso/dia de 6 em 6 horas (suspensão) Micostatin 60000 UI Kg/peso/dia de 6 em 6 horas (suspensão) Modificado de Tortamano e Rocha (2000). 42 3 CONCLUSÃO Ao analisar todos os tópicos apresentados nesta revisão bibliográfica, considerando o grande interesse desse assunto ao longo dos anos e as várias pesquisas já realizadas, foi possível concluir que: - Há consenso da utilização dos antimicrobianos entre os pesquisadores que são nos casos de abscessos perirradiculares agudos com envolvimento sistêmico e a sua disseminação com a ocorrência de tumefações difusas, do abscesso perirradicular agudo em pacientes de risco, da avulsão dentária e do uso profilático em pacientes de risco. - Com relação à cirurgia parendodôntica constata-se discordância entre os pesquisadores, pois poucos indicam a utilização de antibióticos. Mas devido aos tópicos apresentados, sugere-se a realização de dose profilática de 1 a 2 g de amoxicilina 30 minutos antes do procedimento cirúrgico, já em pacientes alérgicos é indicado 500 mg de azitromicina. - A posologia depende do grau da infecção. Em infecções leves indica-se o uso de 500 mg de amoxicilina de 8 em 8 horas. Em pacientes alérgicos, utiliza-se 300 mg de clindamicina de 8 em 8 horas. Já em casos de infecções graves o indicado é 500mg de amoxicilina associado a 250 mg de metronidazol de 8 em 8 horas, em pacientes alérgicos usase 300 mg de clindamicina de 8 em 8 horas. - Em casos de dentes com endodontia e lesão periapical, nas periodontites periapicais sintomáticas e asssintomáticas, em dentes com necrose pulpar e que apresentam sintomatologia, flare-up endodôntico em dentes com necrose pulpar e assintomáticos, e também em inflamação pulpar, muitas pesquisas estão sendo realizadas para verificar se o uso d e a ntimicrobianos influencia clinicamente. Nestes casos, observa-se que a análise dos pesquisadores confirma a inexistência ou um pequeno efeito do uso de antimicrobianos. 43 REFERÊNCIAS ANDERSON, J. A.; ROBERTS, M. W. Antimicrobianos. In: PINKHAM, J. R.; Odontopediatria – Da infância à adolescência. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas, 1996. p. 134-141. ANDRADE, E. D.; SOUZA FILHO, F. J. Protocolos farmacológicos em endodontia. In: ANDRADE, E. D. Terapêutica Medicamentosa em Odontologia. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2006. p. 169-178. ANDRADE, E. D.; VOLPATO, M. C.; RANALDI, J. Pacientes que requerem cuidados adicionais. In: ANDRADE, E. D. Terapêutica Medicamentosa em Odontologia. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2006. p. 117-158. BAMMANN, L. L.; ESTRELA, C. Aspectos Microbiológicos em Endodontia. In: ESTRELA, C.; FIGUEIREDO, J. A. Endodontia – Princípios Biológicos e Mecânicos. 1. ed. São Paulo: Artes Médicas, 1999. p. 169-187. BARBOSA, H. R.; TORRES, B. B. Nutrição e metabolismo bacterianos. In: TRABULSI, L. R. et al. 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