Vestibular PUCRS 2015/1 Resolução da Prova de Literatura em Língua Portuguesa COMENTÁRIO GERAL SOBRE A PROVA A Prova de Literatura teve como eixo temático o racismo nas mais variadas esferas do cotidiano, propondo-se a discutir a “interface entre racismo e literatura”. Centrando-se na prosa (à exceção da letra da música de Chico Buarque de Hollanda), não se ateve à periodização, mas, sim, à temática enunciada. As questões exigiram dos candidatos tanto reflexão e compreensão textual - por meio da análise de conjuntos de afirmativas - quanto conhecimento sobre períodos e obras literárias, pontuando a necessidade de identificação autor e obra. De um modo geral, a prova testou o domínio do aluno sobre a disciplina de Literatura e a capacidade de reflexão, especialmente por meio da compreensão de textos em prosa. Mais uma vez, não incluiu questões acerca de literatura portuguesa, conteúdo listado em seu edital. Foram cobrados conhecimentos sobre obras dos seguintes autores, na ordem abaixo: • BERNARDO GUIMARÃES • LIMA BARRETO • ÁLVARES DE AZEVEDO • MACHADO DE ASSIS • SIMÕES LOPES NETO • ARIANO SUASSUNA • JOÃO UBALDO RIBEIRO • JORGE AMADO • CHICO BUARQUE DE HOLLANDA • JOSÉ DE ALENCAR • RADUAN NASSAR • LYGIA FAGUNDES TELLES • LYA LUFT 31. Alternativa (C) I – CERTA: “tens uma cor linda, que ninguém dirá que gira em tuas veias uma só gota de sangue africano.” II – CERTA: “A senzala nem por isso deixa de ser o que é: uma senzala.” / “sei conhecer o meu lugar.” III – ERRADA: A obra em questão integra uma das manifestações da prosa romântica brasileira, a saber, a prosa regionalista. 32. Alternativa (B) V – Observe: “2º Negro – É longe a tua terra? Lá só há negro? / 3º Negro – Não sei... Não sei... Era pequeno. / – Minha terra... Não sei... / Negra Velha – Eu não sei nada mais donde vim.” F – Lima Barreto é classificado como escritor Pré-Modernista, sendo sua linguagem simples, inclusive, criticada por críticos literários de então. Portanto, em tudo difere dos recursos expressivos empregados na poesia simbolista. Além disso, não se observam no trecho sinestesia (sensações oriundas de diferentes órgãos dos sentidos) ou antíteses (aproximação de opostos). F – A obra citada narra a trajetória de Policarpo Quaresma (século XIX), cujo sentimento ufanista o fez amar a pátria acima de tudo. Ao final, o protagonista percebe que todo esse amor fora em vão, visto que suas críticas a uma atitude do governo levam-no ao cárcere e à morte. 33. Alternativa (A) O determinismo caracteriza o Naturalismo brasileiro. A negra Bertoleza, nascida escrava, assim morreria – nem mesmo sonhava ascender socialmente: seu objetivo era servir seu homem (João Romão). O escritor francês Émile Zola foi o fundador e o principal representante da estética naturalista. Inspirado na filosofia positivista e na medicina da época, Zola partia da convicção de que a conduta humana é determinada pela herança genética, pela fisiologia das paixões e pelo ambiente. 34. Alternativa (E) F – O excerto tão somente descreve a atividade de Cândido Neves, não se evidenciando no trecho intromissão do narrador (que não é personagem desse conto, mas, sim, narrador onisciente em 3ª pessoa), nem mesmo digressões típicas da obra machadiana. V – Observe: “Como o negócio crescesse, mais de um desempregado pegou em si e numa corda, foi aos jornais, copiou anúncios e deitou-se à caçada. No próprio bairro havia mais de um competidor.” V – O conto citado na afirmativa traz como personagem Lucrécia, jovem escrava duramente castigada pela sua “sinhá”, devido à distração quando realizava um trabalho de bordado. V – Caso tomemos como principais obras de Machado seus romances da 2ª fase, de fato, o tema do racismo não prepondera, contudo há passagens antológicas sobre tal temática, por exemplo, em Memórias Póstumas de Brás Cubas (capítulo “O Vergalho”). 35. Alternativa (B) A questão requeria do candidato conhecimento específico sobre tal conto de Simões Lopes Neto, além da óbvia relação autor-obra. Todavia, o emprego do adjetivo “regional” poderia levar à eliminação das demais alternativas. 36. Alternativa (D) I – ERRADA: Observe os trechos “sinto que estou diante de uma grande figura. Não quero faltar com o respeito a uma pessoa tão importante” / “não é lhe faltando com o respeito não, mas eu pensava que o senhor era muito menos queimado.” II – CERTA: Observe o trecho “Eu, Jesus, nasci branco e quis nascer judeu, como podia ter nascido preto.” III – CERTA: Questão que requeria do candidato conhecimento específico da obra. De fato, Chicó é o contador de causos, o mentiroso ingênuo que cria histórias apenas para satisfazer um desejo inventivo. Ele se aproxima do narrador popular, e suas histórias revelam muito do prazer narrativo desinteressado da cultura popular. IV – CERTA: No último ato da peça, ocorre o julgamento dos personagens que foram mortos por Severino de Aracaju, e do próprio Severino, morto devido a uma facada desferida porJoão Grilo. Logo, percebe-se a relação entre a obra de Suassuna e o "Auto da Barca do Inferno", de Gil Vicente, em que uma série de personagens é julgada por seus atos em terra e tem como juízes um anjo e um demônio. Fica evidente o cunho de sátira moralizante da peça, que assume uma posição cujo foco está na base da pirâmide social, a melhor maneira de desvelar os discursos mentirosos das autoridades e integrar os homens e mulheres por meio da compaixão, a qual só os desprendidos podem desenvolver. 37. Alternativa (E) I – CERTA: as perguntas da neta permitam tal inferência, sobretudo o trecho “O nome de minha mãe, o nome verdadeiro, era Naê? Quem foi o caboco Capiroba?” II – CERTA: é possível inferir tal afirmativa por meio dos trechos “foi uma velha gorda, corró, mentirosa, safadosa...” e “E nunca teve nenhuns cabocos Capirobas, menina, nunca teve nada disso, isso é tudo lenda!” III – CERTA: Questão que requeria do candidato conhecimento específico da obra. De fato, Trate-se de uma obra regionalista, que tem como tema o banditismo no sertão e que usa uma linguagem coloquial e repleta de regionalismos, alguns termos sendo criação do próprio autor (assemelhando-se, pois, de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa). A narrativa está centrada em um monólogo, quebrado por alguns diálogos, do sargento da polícia militar de Sergipa, Getúlio Santos Bezerra. 38. Alternativa (B) I – CERTA: É possível fazer tal inferência por meio do uso das expressões “alemão”, “negro”, Europa central”. II – ERRADA: Questão que requeria do candidato conhecimento específico sobre a obra Jorge Amado. O escritor é representante da segunda fase do Modernismo no Brasil, voltada para os romances regionalistas. No entanto, a obra de Jorge Amado é dividida pelos críticos literários em romances da Bahia ou proletários, que retratam a vida na cidade de Salvador, como é o caso de Suor, O país do Carnaval e Capitães da areia; romances ligados ao ciclo do cacau, que correspondem aos livros Cacau e Terras do sem-fim; crônicas de costumes, a exemplo de Jubiabá, Mar Morto e Gabriela, cravo e canela. III – ERRADA: Questão que requeria do candidato conhecimento específico sobre as obras citadas. Tereza Batista cansada de guerra é um romance publicado em 1972.. O livro conta a história de uma jovem obrigada a se prostituir. No conjunto de seus romances, destaca-se como um dos mais vigorosos do ponto de vista político – fato ainda mais notável por ter surgido no auge da ditadura militar – e um dos mais ousados no terreno do erotismo. Memorial de Maria Moura – imenso painel de relações sociais, culturais, morais e afetivas entre personagens – foi escrito por Rachel de Queiroz. O romance é uma das narrativas mais marcantes da escritora, e a trama situa-se em meados de 1850, no sertão. Misturam-se na narrativa todas as forças e fraquezas, todas as virtudes e defeitos da condição humana, desde o amor ao ódio, desde o crime ao remorso. Na obra são retomados alguns dos temas básicos de Rachel de Queiroz: o Nordeste problemático, a preocupação social, a força da autora como criadora de figuras femininas singulares. IV – CERTA: Questão que requeria do candidato conhecimento específico sobre a obra citada. O romance Capitães de areia, que retrata o cotidiano de um grupo de meninos de rua, procura mostrar não apenas os assaltos e as atitudes violentas de sua vida bestializada, mas também as aspirações e os pensamentos ingênuos, comuns a qualquer criança. O chefe do grupo Capitães da Areia é um jovem chamado Pedro Bala. Outras personagens que merecem destaque são Sem Pernas (menino que uma vez fora pego pela polícia e que, por isso, passou a ser um jovem amargo que odiava a tudo) e Pirulito (um menino de forte convicção religiosa e que irá abandonar o roubo). 39. Alternativa (E) V – Observe os trechos “Lavando a roupa encardida, esfregando o chão” / “Negra é a vida consumida ao pé do fogão” V – Observe o trecho “O branco inventou que o negro / Quando não suja na entrada / Vai sujar na saída” que denuncia o estereótipo e o preconceito. Observe, ainda, “Que mentira danada, ê / Na verdade a mão escrava / Passava a vida limpando / O que o branco sujava, ê”, trecho que comprova a inversão de papéis. F – Não há tal proposição na letra. V – Questão que requeria do candidato conhecimento específico sobre a obra citada. O livro Gota d'água critica o capitalismo, mostrando a realidade social da baixa classe brasileira. A peça, de Chico Buarque e Paulo Pontes, modifica a tragédia grega Medeia, de Eurípides, contextualizando-a com o Rio de Janeiro da década de 1970. Transforma a protagonista na sofrida Joana, e Jasão, em um sambista, autor da canção que intitula a peça. Elementos presentes na cultura brasileira, como o samba e a macumba, são acrescentados ao mito, além da focalização no contexto brasileiro, no sofrimento de um povo pobre, morador de um conjunto habitacional e explorado por Creonte, dono das casas. 40. Alternativa (C) I – ERRADA: Muito pelo contrário, a presença do elemento indígena (protagonista ou não) é rara na literatura brasileira contemporânea (protagonista indígena = 1,5% / personagens indígenas = 1,2%), diferentemente do que se observa na obra de Alencar, que – ao buscar tematizar o Brasil em sua literatura – escreveu Iracema, O Guarani e Ubirajara, cujos protagonistas eram indígenas, mesmo que idealizados conforme as cores do Romantismo brasileiro. II – ERRADA: A fim de responder corretamente à pergunta, a despeito da estatística evidente (protagonista negro = 5,8% / personagem negra = 7,9% X protagonista branco = 84,5% / personagem branca = 79,8%), o candidato deveria saber que o protagonista de Lavoura arcaica não é negro. A história apresenta uma família tradicional libanesa cristã. O narrador é André, que sofre devido a um conflito interior e a uma grande convulsão sentimental. Ele foge de casa depois de se apaixonar pela irmã, Ana. III – CERTA: Questão que requeria do candidato conhecimento específico sobre as obras citadas. As parceiras, de Lya Luft, narra a trajetória de mulheres da mesma família que estão fortemente marcadas por perdas, por fracassos e pela loucura. Esse grupo de mulheres que compõe a família da protagonista se estrutura por meio de três gerações: a avó (a bisavó de Anelise viera da Alemanha com sua única filha, Catarina); a mãe e as tias; Anelise e sua irmã. As meninas, de Lygia Fagundes Telles, traça um paralelo entre a vida de três jovens Ana Clara, Lia e Lorena - que vivem em um pensionato de freiras em São Paulo durante o período da ditadura militar no Brasil. Lorena, filha de família burguesa, é culta, virgem e sonhadora. Ana Clara, linda como uma modelo, divide-se entre o noivo rico e o amante traficante. Lia, filha de baiana e alemão, vai para São Paulo estudar Ciências Sociais fugindo da superproteção da mãe e do passado sombrio do pai, um ex-militar nazista.