Depois de O HIPNOTISTA, eis que chega O EXECUTOR
Lars Kepler, a grande revelação do policial nórdico
«Não há margem para dúvidas de que O Executor é um
dos melhores livros suecos dos últimos anos. É também
uma obra notável em termos de mérito literário. Melhor
é impossível!»
Göteborgsposten
«O Executor fala-nos do pacto que o músico Paganini
fez com o Diabo em troca do seu virtuosismo. Também o
leitor estará disposto a vender a sua alma em troca da
leitura ininterrupta deste livro.»
Arbetarbladet
«Há crime para lá de Millennium.»
Os Meus Livros
Longe de imaginar o que está por detrás destas mortes, Joona Lina
mergulhará numa investigação que o conduzirá, através de uma vertiginosa
sucessão de acontecimentos, a uma descoberta diabólica. Existem pactos
que nem mesmo a morte pode quebrar…
«Joona Lina é um polícia deveras merecedor
de uma série de romances.»
José Riço Direitinho, Ípsilon
«A nova sensação do policial sueco.»
Sol
«O Hipnotista é o mais hipnótico policial
que li este ano.»
Paulo Nogueira, Expresso
O EXECUTOR
Lars Kepler é o pseudónimo de uma dupla
de escritores de sucesso na Suécia:
Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho
Ahndoril. O Hipnotista, anteriormente
publicado pela Porto Editora, foi o primeiro
livro que escreveram juntos e está a ser
adaptado ao cinema pela mão do realizador
Lasse Hallström. Os direitos de tradução
para O Executor estão cedidos até ao
momento para 24 países.
© Anna-Lena Ahlström
«Uma vez mais, o romance negro deitou por terra o mito
da idílica sociedade nórdica.»
El Periódico
Uma mulher aparece misteriosamente morta numa embarcação de recreio
ao largo do arquipélago de Estocolmo. O seu corpo está seco, mas a
autópsia revela que os pulmões estão cheios de água. No dia seguinte, Carl
Palmcrona, director-geral de Armamento e Infraestruturas de Defesa da
Suécia, é encontrado enforcado em casa. O corpo parece flutuar ao som de
uma enigmática música de violino que ecoa por todo o apartamento.
Chamado ao local, o comissário da polícia Joona Lina sabe que na sua
profissão não se pode deixar enganar pelas aparências e que um presumível
suicídio não é razão suficiente para fechar o caso. Haverá possibilidade de
estes dois casos estarem relacionados? O que poderia unir duas pessoas
que aparentemente não se conheciam?
LARS KEPLER O EXECUTOR
«Lars Kepler, os sucessores de Larsson.»
El Mundo
DO AUTOR DE O HIPNOTISTA
www.portoeditora.pt
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A premonição
Penélope Fernández sente um calafrio a percorrer-lhe a espinha.
O seu coração começa a bater mais depressa, e ela lança um rápido olhar
por cima do ombro. Talvez tenha tido um pressentimento daquilo que
lhe irá acontecer mais tarde, naquele mesmo dia.
Apesar do calor no estúdio, Penélope nota uma sensação de frescura
na cara devido à maquilhagem; aplicam-lhe uma base cremosa no rosto
e retiram-lhe o gancho com a pomba da paz do cabelo, antes de aplicarem a espuma para lhe delinear os longos caracóis.
Penélope Fernández é a presidente da Associação Sueca para a Paz e
Arbitragem. Conduzem-na em silêncio até ao plateau e a jovem senta-se
à luz dos holofotes, em frente de Pontus Salman, o director executivo da
fábrica de material bélico Silencia Defence AB.
A pivô do noticiário, Stefanie von Sydow muda de tema, olha directamente para a câmara e começa a falar dos despedimentos que se seguiram à compra da Aktiebolag Bofors pelo grupo britânico de defesa, BAE
Systems Limiteds. Dirige-se depois a Penélope:
– Penélope Fernández, tem feito duras críticas, em vários debates,
aos negócios de exportação de armamento sueco. Recentemente fez uma
comparação com o escândalo francês conhecido como Angolagate. Políticos e homens de negócios em altos cargos foram processados por corrupção e contrabando de armas e agora condenados a longas penas de
prisão… Mas nunca vimos nada parecido aqui na Suécia, pois não?
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– Isso pode ser interpretado de duas maneiras – responde Penélope
Fernández. – Ou os nossos políticos funcionam de forma diferente ou é
o nosso sistema judicial que funciona de forma diferente.
– A senhora sabe muito bem – diz Pontus Salman – que temos uma
longa tradição de…
– Segundo a lei sueca – interrompe Penélope Fernández –, o fabrico
e a exportação de material bélico são proibidos.
– Nisso está claramente enganada – diz Salman.
– Os artigos 3.º e 6.º da legislação sobre material bélico – especifica
Penélope.
– No entanto, a Silencia Defence recebeu uma resposta preliminar
positiva – diz ele com um sorriso.
– Sim, porque de outra forma estaríamos perante um crime de
grande escala e…
– Mas agora temos de facto uma licença – interrompe ele.
– Não se esqueça de que o material bélico se destina a…
– Espere um pouco, Penélope – intervém a pivô Stefanie von Sydow,
e faz um gesto com a cabeça para Pontus Salman, que erguera a mão em
sinal de não ter terminado.
– Todas as transacções são examinadas de antemão – esclarece Salman. – Ou directamente pelo Governo ou pela Direcção-Geral de Armamento e Infra-Estruturas de Defesa, caso tenha ouvido falar nela.
– A França tem uma entidade correspondente – objecta Penélope.
– E, no entanto, houve material bélico no valor de oito mil milhões de
coroas que foi parar a Angola, apesar do embargo da ONU, apesar de
uma proibição totalmente vinculativa…
– Agora estamos a falar da Suécia.
– Compreendo que as pessoas não queiram perder os seus empregos,
mas mesmo assim gostaria de ouvir como justifica o senhor a exportação
de enormes quantidades de munições para o Quénia. É um país que…
– A senhora não tem absolutamente nada que nos possa apontar –
interrompe Salman. – Nada, nem um único pormenor, ou tem?
– Lamento, mas não posso…
– Tem algo em concreto em que se possa basear? – intervém Stefanie
von Sydow.
– Não – responde Penélope Fernández e baixa o olhar. – Mas eu…
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– Então, julgo que seria apropriado apresentar desculpas – diz Pontus Salman.
Penélope olha-o nos olhos, sente a irritação e a frustração a ferver-lhe o sangue, mas faz um esforço para se dominar. Pontus Salman
mostra um sorriso condescendente e começa de seguida a falar da
fábrica de Trollhättan. Afirma que duzentos postos de trabalho foram
criados quando a Silencia Defence obteve a autorização para iniciar a
actividade. Salman explica o que significa o relatório preliminar favorável e a fase em que se encontra a produção. Fala longa e demoradamente sobre o assunto de maneira a não sobrar espaço para a sua
adversária responder.
Penélope ouve e faz um esforço para afastar o perigoso orgulho do
seu coração. Prefere pensar em como ela e Björn dali a pouco se encontrarão no seu barco. Irão fazer a cama, encher o frigorífico e o pequeno
congelador portátil. Imagina os copos gelados de vodka e o arenque de
escabeche, com molho de mostarda, batatas novas, ovos cozidos e tostas
estaladiças que comerão. Vão pôr a mesa no convés da popa, ancorar
num pequeno ilhéu do arquipélago e passar horas a comer enquanto o
sol se põe no horizonte.
Penélope Fernández sai da Televisão Sueca e começa a caminhar em
direcção à rua Valhallavägen. Ficara sentada à espera durante quase duas
horas para participar noutro debate televisivo quando o produtor veio
explicar que tinham sido obrigados a retirar a sua participação para emitir um especial com cinco conselhos rápidos sobre como conseguir uma
barriga lisa no Verão.
Ao longe, no final da esplanada de Gärdet, vê a grande tenda colorida do Cirkus Maximum. Um tratador de animais lava dois elefantes à
mangueirada. Um dos elefantes eleva a tromba e recolhe o forte jacto de
água na boca.
Penélope tem apenas vinte e quatro anos, o seu cabelo negro e
ondulado chega-lhe um pouco abaixo dos ombros. À volta do pescoço
cintila uma curta corrente de prata com um pequeno crucifixo, lembrança da sua primeira comunhão. A sua pele tem um tom suavemente
dourado; «como azeite virgem ou mel», escreveu uma vez um colega seu
do terceiro ciclo para um trabalho que consistia em descrever o aspecto
dos colegas de turma. Os olhos são grandes e sérios. Mais do que uma
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vez ela ouviu comentar a sua espantosa semelhança com a estrela de
cinema Sophia Loren.
Penélope tira o telemóvel da mala e telefona a Björn para dizer que
está a caminho, que vai apanhar o metropolitano na praça Karlaplan.
– Penny? Aconteceu alguma coisa?
– Não, porquê?
– Está tudo pronto, deixei uma mensagem no teu voice-mail, só falta
tu chegares.
– Também não temos pressa, pois não?
Quando Penélope se encontra na comprida e íngreme escada rolante
que desce para a plataforma do metropolitano, o seu coração começa a
bater com mais rapidez em virtude de um súbito mal-estar, e fecha os
olhos. A escada afunda-se ainda mais, torna-se mais estreita e o ar é cada
vez mais frio.
Penélope Fernández nasceu em La Libertad, uma das maiores regiões
de El Salvador. A mãe de Penélope, Claudia Fernández, foi presa durante
a guerra civil e Penélope nasceu numa cela de prisão onde quinze
mulheres cativas deram o seu melhor para ajudar no parto. Claudia era
médica e tivera um papel activo em campanhas de consciencialização
da população. O que a levara à célebre prisão do regime fora o facto de
ter tentado difundir informação sobre o direito dos trabalhadores a
criarem sindicatos.
Penélope só abre os olhos quando chega à plataforma do metropolitano. A sensação de clausura desaparecera. Pensa de novo em Björn, que
está à sua espera junto ao clube náutico de Långholmen. Ela adora tomar
banho nua, mergulhar do barco e não ver mais nada senão o mar e o céu.
O metro chega na sua rápida e agitada corrida, e a luz intensa do sol
entra pelas janelas quando as carruagens saem do túnel e entram na estação da Cidade Velha.
Penélope Fernández odeia guerras, violência e o poder bélico; é uma
aversão tão profunda e ardente que a impeliu a licenciar-se em Ciências
Sociais e Políticas e a fazer uma pós-graduação em Uppsala, no Departamento de Pesquisa de Paz e de Conflitos. Trabalhou para a organização
humanitária Action contre la Faim, no Darfur, juntamente com Jane
Oduya, e escreveu um artigo que mereceu muita atenção para o jornal
Dagens Nyheter acerca das mulheres no campo de refugiados e as suas
tentativas de refazer uma vida normal depois de cada violação. Há dois
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anos, sucedeu a Frida Blom como presidente da Associação Sueca para a
Paz e Arbitragem.
Quando Penélope desce em Hornstull e sai da estação directamente
para a luz do sol é invadida por um repentino e inexplicável desassossego
e desce a correr a Pålsundsbacken, em direcção à rua Söder Mälarstrand,
atravessa a passo apressado a ponte que conduz a Långholmen e continua pelo caminho à esquerda, em direcção à marina de recreio; o pó que
os seus pés levantam envolve-a como uma névoa no ar abafado.
O barco de Björn está atracado à sombra da ponte Västerbron, e os
movimentos da água criam uma rede de luz vacilante que se reflecte nas
vigas de aço pintadas de cinzento da elevada estrutura.
Ela consegue vê-lo no convés da popa, com um chapéu de cowboy,
imóvel, os braços à volta do corpo e os ombros encolhidos.
Penélope mete dois dedos à boca e assobia, e Björn sobressalta-se: o
seu rosto transfigura-se, como se tivesse apanhado um enorme susto.
Vira-se em direcção ao cais e o seu olhar depara-se com ela; a expressão
nos seus olhos continua apreensiva quando ele se aproxima da prancha
de embarque.
– Que bicho te mordeu? – pergunta Penélope, continuando a descer
a escada para os ancoradouros.
– Não foi nada – responde Björn, enquanto endireita o chapéu na
cabeça e tenta um sorriso.
Abraçam-se e ela sente que as mãos dele estão geladas e a camisa
está molhada nas costas.
– Estás todo transpirado – observa.
Björn evita olhá-la nos olhos.
– Foi um stresse para conseguir ter tudo pronto para sairmos.
– Trouxeste a minha mala?
Ele assente com a cabeça e faz um gesto em direcção ao camarote.
O barco balança ao de leve sob os pés de Penélope, e ela sente os cheiros
do plástico aquecido pelo sol e da madeira envernizada.
– Acorda! – diz ela a rir. – Parece que não estás aqui.
O cabelo cor de palha de Björn espeta-se para todos os lados em
pequenas rastas; os olhos azul -claros parecem os de uma criança,
meigos.
– Estou aqui – diz ele e baixa o olhar.
– Em que estás a pensar tão absorto?
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– Que vamos poder estar juntos – responde e põe os braços à volta
da sua cintura. – Que vamos fazer amor no meio da natureza.
Roça os lábios pelo cabelo dela.
– Achas? – sussurra ela.
– Sim.
Ela ri-se da sua sinceridade.
– A maioria… pelo menos as mulheres, acham certamente que essa
é uma ideia romântica um pouco sobrevalorizada – observa. – Estar deitada no chão no meio de formigas e pedras e…
– É tal e qual como tomar banho nu – insiste ele.
– Então tens de me convencer – diz ela maliciosa.
– E vou fazê-lo.
– Como? – ri-se ela no momento em que o telemóvel começa a tocar
na sua mala.
Björn fica paralisado; o seu rosto empalidece por completo. Penélope
comprova pelo ecrã do telemóvel que a chamada é da irmã mais nova.
– É a Viola – explica rapidamente a Björn antes de atender:
– Olá, irmãzinha.
Ouve-se a buzina de um carro e a irmã grita qualquer coisa do outro
lado.
– Que besta – diz zangada.
– O que se passa?
– Acabou-se – diz a irmã. – Acabei com o Sergej.
– Outra vez... – acrescenta Penélope.
– Sim – responde Viola baixinho.
– Desculpa – diz Penélope. – Percebo que estejas triste, claro.
– Não é assim tão grave, mas… A mãe disse que iam sair com o
barco e pensei… gostaria muito de fazer-vos companhia, se não se
importarem.
Faz-se silêncio.
– Fazer-nos companhia? – repete Penélope e ouve a falta de entusiasmo na sua própria voz. – É que eu e o Björn precisamos de passar
algum tempo a sós, mas…
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2
O perseguidor
Penélope está na cabine do leme vestida com um airoso páreo azul à
volta das ancas e a parte de cima de um biquíni branco com o símbolo da
paz no peito direito. A luz de Verão banha o seu corpo através do pára-brisas. Com cautela, rodeia o farol de Kungshamn, manobrando o iate
para dentro do pequeno estreito.
A sua irmã mais nova, Viola, levanta-se da espreguiçadeira cor-de-rosa no convés da popa, na qual passou a última hora a fumar um
cigarro de haxixe com movimentos lentos, de cabeça coberta com o chapéu de cowboy de Björn e com uns enormes óculos de sol com lentes
espelhadas.
Viola faz cinco tentativas falhadas de levantar a caixa de fósforos do
chão com os dedos dos pés, antes de desistir. Penélope não consegue evitar um sorriso. Viola entra pela porta de vidro do salão e pergunta se a
irmã quer que a substitua.
– Caso contrário, vou até à cozinha preparar uma margarita – diz
descendo a escada.
No convés da proa Björn está deitado numa toalha de praia com
uma edição de bolso das Metamorfoses de Ovídio a fazer de almofada.
Penélope nota que a amurada em que Björn apoia os pés está ferrugenta na base. Ele recebeu o barco como prenda do pai quando fez vinte
anos, mas não tem dinheiro suficiente para conseguir mantê-lo em bom
estado. Foi o único presente que o pai alguma vez lhe ofereceu, à excepção
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de uma viagem. Quando o pai fez cinquenta anos, convidou Björn e
Penélope para passarem umas férias num dos seus melhores hotéis de
luxo, o Kamaya Resort, situado na costa oriental do Quénia. Penélope
não suportara o hotel e dois dias depois viajara para o campo de refugiados de Kubbum no Darfur, no Sul do Sudão, onde o grupo de ajuda
humanitária francesa Action Contre la Faim se encontrava.
Penélope reduz a velocidade de cruzeiro de oito para cinco nós
quando se aproximam da ponte Skurusundsbron. Onde se encontram
não ouvem o menor ruído do trânsito denso que passa por cima. No
momento em que se dirigem para uma zona que se encontra à sombra,
ela repara num barco de borracha preto encostado ao pilar de betão; é
uma embarcação do mesmo tipo que as forças navais militares usam, um
RIB provido de casco de fibra de vidro e motores extremamente potentes.
Logo após passar a ponte Penélope dá-se conta de que há uma pessoa sentada no barco; um homem agachado na sombra, de costas voltadas. Ela não sabe explicar por que motivo sente a pulsação acelerar
repentinamente quando o vê, mas há algo estranho na nuca dele e
naquelas roupas pretas. Sente-se como se estivesse a ser observada, apesar de ele estar de costas para ela.
Ao entrar novamente na zona iluminada pelo sol, Penélope sente
um arrepio percorrer-lhe o corpo, ficando com pele de galinha.
Depois de passar a enseada de Duvnäs, aumenta a velocidade para os
quinze nós. Os dois motores a diesel rugem, deixando um rastro de
espuma quando o barco toma velocidade.
O telemóvel de Penélope toca. Vê o número da mãe no ecrã; talvez
tenha visto o debate na televisão. Penélope pensa por um instante que a
mãe está a telefonar para lhe dizer que ela se tinha saído bem e que
estava bonita, mas sabe que isso não passa de mera fantasia.
– Olá, mãe.
– Ai – diz a mãe baixinho.
– O que tens?
– São as costas… tenho de fazer naturopatia – explica Cláudia e
ouve-se o som que parece água da torneira a encher um copo. – Liguei
só para saber se a Viola já falou contigo.
– Ela está aqui no barco – diz Penélope, ouvindo a mãe beber.
– Ah, está convosco… achei que lhe faria bem.
– Claro que lhe fará bem.
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– O que vão comer?
– Hoje vamos jantar arenque em escabeche, batatas cozidas, ovos…
– Ela não gosta de arenque.
– Mãe, a Viola telefonou‑me porque…
– Eu sei que não estavas a contar que ela também fosse – interrompe
Claudia. – E é justamente por isso que estou a perguntar.
– Fiz almôndegas – diz Penélope com paciência.
– E chega para todos? – pergunta a mãe.
– Se chega? Isso depende…
Cala‑se e olha fixamente a superfície brilhante da água.
– Posso dar as minhas à Viola – assegura Penélope indulgente.
– Se não chegar para todos – diz a mãe. – É só isso que quero dizer.
– Já percebi – diz Penélope baixinho.
– Agora devo ter pena de ti? – pergunta a mãe, tentando conter a
irritação.
– É só que… efectivamente, a Viola já não é nenhuma criança e…
– Estás a desiludir‑me.
– O quê?
– Costumas comer as minhas almôndegas no Natal e na festa do
Solstício e…
– Não preciso de as comer – diz Penélope precipitadamente.
– Ainda bem – diz a mãe num tom seco. – Fica assim combinado.
– Só estou a dizer que…
– Não precisas de cá vir na festa do Solstício – interrompe a mãe
exaltada.
– Oh, mãe, porque tens sempre…
Ouve‑se um clique quando a mãe, sem mais, desliga. Penélope cala‑
‑se, tremendo de raiva. Olha para o telefone antes de o desligar.
O barco move‑se lentamente por cima dos reflexos verdes lançados
pelas frondosas colinas. A escada da cozinha range e, passado um
momento, aparece a figura instável de Viola com a margarita na mão.
– Era a mãe?
– Sim.
– Tem medo que não me dêem de comer? – pergunta Viola com um
sorriso.
– Há comida de sobra – responde Penélope.
– A mãe não acredita que sou capaz de tomar conta de mim.
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– Ela está apenas preocupada – explica Penélope.
– Nunca se preocupa contigo – observa Viola.
– Eu governo‑me.
Viola bebe um gole do seu copo e olha demoradamente pelo
pára‑brisas.
– Vi o debate na televisão – diz de seguida.
– Esta manhã? O meu frente‑a‑frente com o Pontus Salman?
– Não, foi na… semana passada. Estavas a falar com um homem
arrogante que… que tinha um nome bonito e…
– Palmcrona – diz Penélope.
– Exactamente, Palmcrona…
– Irritei‑me, senti‑me a ferver de raiva e as lágrimas a subirem‑me
aos olhos. Apeteceu‑me cantar Masters of Wars do Bob Dylan ou sair a
correr dali para fora batendo com a porta.
Viola aponta para os braços da irmã quando ela se estica e abre a
janela do tecto.
– Pensei que não costumavas depilar as axilas.
– Não, mas tenho aparecido tantas vezes nos media que…
– A vaidade atingiu‑te em cheio – brinca Viola.
– Não quero ser vista como uma idealista sem noção da realidade só
por causa de uns pêlos por baixo dos braços.
– E então como vai a linha do biquíni?
– Mais ou menos…
Penélope levanta o páreo e Viola solta uma gargalhada.
– O Björn gosta – sorri Penélope.
– Bem, com aquela rasta dele, também não pode dizer grande coisa.
– Já tu depilas‑te como deus manda – diz Penélope num tom áspero.
– Para agradares aos teus tipos casados e a esses idiotas com grandes
músculos e…
– Já sei que tenho um péssimo critério – interrompe Viola.
– Só para algumas coisas.
– Nunca fiz nada como deve ser.
– O que devias fazer é melhorar as tuas notas e…
Viola encolhe os ombros:
– Afinal fiz o exame de acesso ao ensino superior.
Continuam a avançar em marcha lenta pelas águas transparentes,
com gaivotas a seguir o barco em alto voo.
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– E como correu? – pergunta Penélope passado um bom bocado.
– Achei a prova fácil – responde Viola e lambe o sal da borda do copo.
– Quer dizer que correu bem, então – sorri Penélope.
Viola confirma com um aceno de cabeça enquanto pousa o copo na
mesa.
– Mas bem até que ponto? – quer Penélope saber, e dá‑lhe uma leve
cotovelada.
– Tive nota máxima – diz Viola baixando o olhar.
Penélope lança um grito de alegria e abraça a irmã com força.
– Sabes o que isso significa? – pergunta Penélope excitadíssima.
– Vais poder escolher qualquer curso que queiras, com entrada garantida
em qualquer universidade, é só escolheres: Economia, Medicina,
Jornalismo…
A irmã ri‑se, corada, e Penélope dá‑lhe outro abraço que lhe atira o
chapéu ao chão. Faz‑lhe uma festa na cabeça, ajeita‑lhe o cabelo da
mesma maneira que costumava fazer quando eram crianças, tira o gan‑
cho com a pomba do seu próprio cabelo e prende‑o no da irmã, olha‑a
nos olhos e sorri.
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Um barco à deriva na baía Jungfrufjärden
A proa corta a superfície lisa como se fosse uma faca, produzindo
um som dilacerante. Navegam a alta velocidade formando ondas que
chegam a terra. Rasgam as ondas, a quilha ressalta ruidosamente, a água
levanta‑se em jorros à volta do barco. Penélope conduz o barco para a
baía com os motores a trabalhar na potência máxima. A proa ergue‑se e
a espuma branca das águas separa‑se atrás da popa.
– Estás louca, rapariga – grita Viola e tira o gancho do cabelo, tal
como costumava fazer em criança assim que terminavam de penteá‑la.
Björn acorda quando fazem uma paragem na ilha de Gåsö. Compram
gelados e bebem uma chávena de café. Viola quer jogar minigolfe no
pequeno campo de golfe, e já é tarde avançada quando prosseguem viagem.
A bombordo, toda a baía se estende como um gigantesco chão
empedrado.
O plano é atracarem em Kastskär, uma ilha desabitada em forma de
ampulheta. No lado sul há uma frondosa enseada onde poderão ancorar
o barco, nadar, fazer um churrasco e pernoitar.
– Vou descer até ao camarote a descansar um pouco – diz Viola com
um bocejo.
– Vai lá, então – responde Penélope com um sorriso.
Viola desce a escada e Penélope concentra‑se na condução. Reduz a
velocidade e mantém debaixo de olho a sonda electrónica, atenta aos
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bancos de areia à medida que se vão aproximando de Kastskär. A pro‑
fundidade diminui repentinamente, dos quarenta para os cinco metros.
Björn entra na cabine do leme e beija a nuca de Penélope.
– Queres que comece a cozinhar? – pergunta‑lhe.
– A Viola ainda precisa de dormir mais um pouco.
– Agora pareces a tua mãe a falar – diz ele com voz meiga. – Ela já te
telefonou?
– Já.
– Para comprovar se sempre deixámos a Viola vir?
– Sim.
– Discutiram?
Penélope nega com um gesto de cabeça.
– O que tens? Estás triste?
– Não, é só que a minha mãe…
– O quê?
Penélope limpa as lágrimas das faces, sorrindo.
– Não me quer lá na festa do Solstício – explica.
Björn abraça‑a.
– Não devias ligar ao que ela diz.
– E não ligo.
Penélope manobra o barco muito, muito devagar em direcção ao
interior da enseada. Os motores trabalham suavemente. Já se encontram
tão perto da costa que ela consegue sentir o cheiro da vegetação da ilha.
Lançam a âncora, soltam a corda e aproximam‑se pelo meio das
rochas. Björn salta para terra com a corda e ata‑a à volta do tronco de
uma árvore na encosta íngreme.
O chão está coberto de musgo. Ele permanece ali a olhar para Pené‑
lope. Alguns pássaros mexem‑se nas copas das árvores quando o cabres‑
tante faz barulho.
Penélope veste uns calções e uns ténis brancos, salta para terra e
agarra a mão estendida de Björn. Ele rodeia‑lhe o corpo com os braços.
– Vamos dar uma vista de olhos à ilha?
– Não tinhas de me convencer de alguma coisa? – pergunta ela num
tom provocador.
– Das vantagens do direito ao livre acesso – diz ele.
Ela assente com um sorriso enquanto ele lhe afasta o cabelo da cara
e lhe acaricia a maçã do rosto e a sobrancelha espessa e negra.
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mas de um momento para outro sente um arrepio. De súbito, os pássaros
deixam de cantar e cai um silêncio quase absoluto; apenas se ouve o cha‑
pinhar da água contra o casco e o surdo rangido da corda atada à volta
da árvore. Inesperadamente, Penélope toma consciência dos seus pró‑
prios movimentos. Desce a escada que leva à popa e vê a porta do cama‑
rote dos hóspedes aberta. A luz do candeeiro está acesa, mas Viola não se
encontra ali. Penélope nota que a sua mão treme quando bate à porta da
pequena casa de banho. Abre‑a, olha à sua volta e volta a subir para o
convés. Ao longe, vê Björn a meter‑se na água. Faz‑lhe sinal com a mão,
mas ele não a vê.
Penélope abre as portas envidraçadas do salão, passa pelos sofás
azuis, pela mesa de teca e pela cabine do leme.
– Viola? – chama ela baixinho.
Desce para a cozinha, tira uma panela do armário, mas larga‑a em
cima do fogão quando sente a pulsação acelerar. Dá uma rápida vista de
olhos à casa de banho grande e continua a andar para o camarote na
proa onde ela e Björn costumam dormir. Abre a porta, percorre o espaço
mal iluminado com o olhar e ao princípio pensa que se está a ver a si
própria reflectida no espelho.
Viola está sentada na borda da cama, imóvel, com uma mão apoiada
na almofada cor‑de‑rosa comprada numa loja de artigos em segunda mão.
– O que estás a fazer aqui dentro?
Penélope ouve a sua própria voz a perguntar à irmã o que está a
fazer no camarote, apesar de já ter percebido que alguma coisa não bate
certo. Viola está pálida, com o rosto baço e molhado, o cabelo empapado
e desgrenhado.
Penélope aproxima‑se, segura na cara da irmã com as mãos, geme
baixinho e, de seguida, grita, com o rosto encostado ao dela:
– Viola! O que aconteceu? Viola!
Percebe o que está mal: não se sente qualquer respiração no corpo
da irmã, a sua pele não irradia calor; não há nada que reste nela, a chama
da vida está apagada. O espaço reduzido do quarto escurece, aperta‑se à
volta de Penélope. Com uma voz que não reconhece, torce‑se em gemi‑
dos e tropeça para trás, atira a roupa para o chão, o ombro choca com
força no umbral da porta. Dá meia‑volta e corre pela escada acima.
Quando chega ao convés, tenta recuperar o fôlego, como se estivesse
a ponto de se afogar. Tossindo e arquejando, olha à sua volta com o terror
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gélido a alastrar‑se dentro do corpo. Na praia, cem metros mais à frente, vê
um homem estranho de roupa preta. De alguma maneira, Penélope com‑
preende como tudo se enquadra: ela sabe que se trata do mesmo homem
que viu no barco militar na penumbra, debaixo da ponte; o mesmo que lhe
virou as costas quando eles passaram. Percebe que foi aquele homem ves‑
tido de negro quem matou Viola e que ainda não terminou.
O homem está na praia a acenar em direcção a Björn, que nada a
uns vinte metros de terra, chama por ele e levanta o braço. Björn ouve‑o
e pára de nadar, mantém‑se a boiar e procura a terra com o olhar.
O tempo parece ter‑se detido. Penélope lança‑se em corrida para a
cabine do leme, remexe na gaveta das ferramentas, encontra uma faca
com cabo de plástico e corre de volta para o convés.
Ela vê como Björn nada a braçadas lentas, vê os anéis de água à sua
volta. Ele olha para o homem com uma expressão intrigada. O homem
faz‑lhe sinal para se aproximar, insiste que ele venha. Björn mostra um
sorriso hesitante e começa a nadar para a praia.
– Björn! – grita Penélope a plenos pulmões. – Afasta‑te da praia!
O homem em terra vira‑se na sua direcção e começa a correr para o
barco. Penélope corta a corda, escorrega no convés de madeira molhado,
levanta‑se, entra aos tropeções na cabine e liga o motor. Sem olhar para
trás, iça a âncora e, ao mesmo tempo, mete a marcha‑atrás.
Björn deve tê‑la ouvido, porque se afastou da praia e agora está a
nadar para o barco. Penélope dirige o iate na sua direcção, ao mesmo
tempo que repara que o homem mudou de direcção e corre, encosta
acima, para o lado oposto da ilha. Percebe que o seu perseguidor anco‑
rou o seu barco de borracha preto na enseada norte.
Ela sabe que não há a mínima hipótese de andar mais depressa do
que ele.
O barco pesado faz um ruído surdo e prolongado quando Penélope
dá a volta em direcção a Björn. Ela grita‑lhe, aproxima‑se, reduz a veloci‑
dade e estende‑lhe o croque. A água está fria. Björn parece assustado e
exausto; a sua cabeça desaparece constantemente debaixo da superfície.
Sem querer, Penélope magoa‑o com a ponta do croque, a testa começa a
sangrar‑lhe.
– Agarra‑te! – grita ela.
O barco de borracha preto já começou a rodear a ilha; ela ouve o
som inconfundível do motor. Björn faz um esgar de dor e, após várias
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tentativas, acaba por conseguir prender o braço à volta do croque. Pené‑
lope puxa‑o tão depressa quanto pode para a plataforma de mergulho e
ele agarra‑se à borda. Sem querer, Penélope deixa cair o croque e vê‑o a
afastar‑se na água.
– A Viola está morta! – grita e ouve o desespero e o pânico a
misturarem‑se na sua voz.
Logo que Björn consegue agarrar‑se‑se com firmeza à escada, ela
corre para a cabine do leme e acelera a fundo.
Björn sobe a amurada e ela ouve‑o a gritar que se dirija em linha
recta para a ponta da ilha de Ornäs.
O som ensurdecedor dos motores do barco de borracha aproxima‑
‑se atrás deles.
Ela gira num ângulo apertado, ouvem‑se estrondos debaixo do
casco.
– Ele matou a Viola – geme Penélope.
– Cuidado com as rochas submersas – adverte Björn a tiritar.
O barco de borracha já rodeou a ilha de Stora Kastskär e ganha velo‑
cidade no mar aberto e plano.
O sangue escorre pelo rosto de Björn.
Aproximam‑se rapidamente da ilha grande. Björn vira‑se, vê o barco
de borracha talvez a uns trezentos metros de distância.
– Para o embarcadouro!
Ela vira, mete a marcha‑atrás e quando desliga o motor a proa choca
contra o embarcadouro com um rangido. O costado roça contra uma
escada de madeira molhada. As ondas agitadas abatem ‑se sobre as
rochas e logo retrocedem. O iate inclina‑se para o lado, a escada desfaz‑
‑se em estilhaços; a água transborda a amurada. Björn e Penélope aban‑
donam o barco e sobem para o molhe. Atrás de si ouvem como o
costado range quando balança contra o paredão. Precipitam‑se para
terra enquanto o barco de borracha se aproxima com os motores a rugir.
Penélope escorrega, apoia‑se com a mão e começa a subir ofegante a
praia inclinada em direcção à vegetação. Os motores do barco de borra‑
cha silenciam‑se, e Penélope sabe que o avanço deles é insignificante. Ela
e Björn correm por entre as árvores, penetram no bosque, ao mesmo
tempo que os seus pensamentos voam em pânico e o olhar procura um
lugar onde se possam esconder.
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– Como podes ser tão bela?
Por fim, dá‑lhe um beijo leve nos lábios e de seguida começam a
andar em direcção ao bosque de árvores baixas.
No meio da ilha há uma clareira com grandes tufos de erva. Borbo‑
letas e pequenos abelhões esvoaçam por cima das flores do campo. Está
calor ao sol, vê‑se a água brilhante entre as árvores do lado norte. Mantêm‑
‑se de pé, quietos, hesitantes; olham‑se com um sorriso para logo fica‑
rem sérios.
– E se aparece alguém?
– Somos os únicos nesta ilha; não há mais ninguém.
– Tens a certeza?
– Quantas ilhas e ilhéus há no arquipélago de Estocolmo? Trinta
mil? Mais até, de certeza – diz ele.
Penélope tira a parte de cima do biquíni, descalça os ténis e baixa as
cuecas do biquíni juntamente com os calções, ficando nua no meio da
relva. A sua primeira sensação de embaraço é quase de imediato substi‑
tuída por outra de pura alegria. Há algo de muito excitante na brisa do
mar na sua pele, no calor que ainda emana do chão.
Björn observa‑a, sussurrando que não é machista, mas que tem de a
estudar detidamente. Ela é alta, os seus braços são musculosos e macios.
A cintura fina e as coxas fortes fazem com que se pareça com uma antiga
deusa traquinas.
Björn sente as mãos a tremer ao tirar a T‑shirt e os compridos cal‑
ções de banho às flores. É mais novo do que ela, o seu corpo é juvenil,
quase imberbe, e tem os ombros queimados do sol.
– Agora é a minha vez de olhar para ti – diz ela.
Ele sente‑se corar e aproxima‑se dela com um grande sorriso.
– Não me deixas ver?
Ele nega com a cabeça e esconde a cara no meio do pescoço e do
cabelo dela.
Começam a beijar‑se, sem se mexer, apenas com os corpos muito
juntos enquanto as suas bocas se encontram. Penélope sente a língua
quente de Bjorn na boca e uma sensação de extrema felicidade percorre‑
‑lhe o corpo; faz um esforço para deixar de sorrir e apenas se entregar ao
beijo. Os dois respiram com mais intensidade. Ela sente como Björn
começa a ter erecção, como o seu coração bate com mais força. Deitam‑
‑se na relva, impacientes. A boca dele procura os seios dela, os mamilos
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castanhos, beija‑lhe a barriga e abre‑lhe as coxas. Quando a olha pensa
que é como se os seus corpos emanassem luz própria sob o sol do entar‑
decer. Tudo é de súbito extremamente íntimo e sensível. Ela já está
húmida e inchada quando ele começa a lambê‑la, suave e demorada‑
mente; passado um pouco, ela afasta‑lhe a cabeça. Aperta as coxas, sorri‑
‑lhe e enrubesce; sussurra‑lhe que se ponha em cima dela, puxa‑o para
si, guia‑o com a mão e deixa‑o deslizar para dentro de si. Ele respira
pesadamente junto ao seu ouvido e ela fixa o olhar no céu rosado por
cima deles.
Um pouco mais tarde, Penélope levanta‑se, espreguiça‑se, dá uns
passos e olha em direcção às árvores.
– O que é? – pergunta Björn com voz turva.
Ela volta‑se para ele, que continua sentado nu no chão, a sorrir‑lhe.
– Queimaste os ombros.
– Como todos os verões.
Ele afaga ao de leve a pele vermelha nos ombros.
– Vamos voltar, estou com fome – diz ela.
– Gostava de dar umas braçadas na água.
Ela volta a vestir as cuecas e os calções, calça‑se e fica de pé com a
parte de cima do biquíni na mão. Percorre com o olhar o peito liso de
Björn, os músculos dos braços, a tatuagem na omoplata, o bronze pouco
cuidado até encontrar os seus claros olhos brincalhões.
– Da próxima vez ficas tu por baixo – sorri ela.
– Da próxima vez… – repete ele a rir‑se. – Já sabia que ias gostar.
Penélope ri‑se enquanto faz um gesto de negação com o dedo. Ele
deita‑se de costas e, com uma expressão feliz, fixa o céu. Ela ouve‑o asso‑
biar uma melodia, absorto nos seus pensamentos, quando começa a
atravessar a floresta a caminho da pequena enseada onde o barco se
encontra ancorado.
Antes de continuar, detém‑se alguns segundos para vestir a parte de
cima do biquíni.
Quando sobe para bordo, pergunta‑se se Viola ainda estará a dormir
no camarote. Tem a intenção de pôr a panela ao lume com as batatas
novas e alguns ramos de aneto antes de ir tomar duche e mudar de
roupa. Estranhamente, o convés está molhado como se tivesse havido
um aguaceiro; Viola deve tê‑lo lavado por alguma razão. Penélope tem a
sensação de o barco estar diferente, não sabe muito bem definir porquê,
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Depois de O HIPNOTISTA, eis que chega O EXECUTOR
Lars Kepler, a grande revelação do policial nórdico
«Não há margem para dúvidas de que O Executor é um
dos melhores livros suecos dos últimos anos. É também
uma obra notável em termos de mérito literário. Melhor
é impossível!»
Göteborgsposten
«O Executor fala-nos do pacto que o músico Paganini
fez com o Diabo em troca do seu virtuosismo. Também o
leitor estará disposto a vender a sua alma em troca da
leitura ininterrupta deste livro.»
Arbetarbladet
«Há crime para lá de Millennium.»
Os Meus Livros
Longe de imaginar o que está por detrás destas mortes, Joona Lina
mergulhará numa investigação que o conduzirá, através de uma vertiginosa
sucessão de acontecimentos, a uma descoberta diabólica. Existem pactos
que nem mesmo a morte pode quebrar…
«Joona Lina é um polícia deveras merecedor
de uma série de romances.»
José Riço Direitinho, Ípsilon
«A nova sensação do policial sueco.»
Sol
«O Hipnotista é o mais hipnótico policial
que li este ano.»
Paulo Nogueira, Expresso
O EXECUTOR
Lars Kepler é o pseudónimo de uma dupla
de escritores de sucesso na Suécia:
Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho
Ahndoril. O Hipnotista, anteriormente
publicado pela Porto Editora, foi o primeiro
livro que escreveram juntos e está a ser
adaptado ao cinema pela mão do realizador
Lasse Hallström. Os direitos de tradução
para O Executor estão cedidos até ao
momento para 24 países.
© Anna-Lena Ahlström
«Uma vez mais, o romance negro deitou por terra o mito
da idílica sociedade nórdica.»
El Periódico
Uma mulher aparece misteriosamente morta numa embarcação de recreio
ao largo do arquipélago de Estocolmo. O seu corpo está seco, mas a
autópsia revela que os pulmões estão cheios de água. No dia seguinte, Carl
Palmcrona, director-geral de Armamento e Infraestruturas de Defesa da
Suécia, é encontrado enforcado em casa. O corpo parece flutuar ao som de
uma enigmática música de violino que ecoa por todo o apartamento.
Chamado ao local, o comissário da polícia Joona Lina sabe que na sua
profissão não se pode deixar enganar pelas aparências e que um presumível
suicídio não é razão suficiente para fechar o caso. Haverá possibilidade de
estes dois casos estarem relacionados? O que poderia unir duas pessoas
que aparentemente não se conheciam?
LARS KEPLER O EXECUTOR
«Lars Kepler, os sucessores de Larsson.»
El Mundo
DO AUTOR DE O HIPNOTISTA
www.portoeditora.pt
04331.10
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ISBN 978-972-0-04331-3
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