1 Se os problemas falassem... Exercício de Terapias Familiares (adaptado de M. Gonçalves) Vamos entrevistar um problema....a anorexia, a depressão, a raiva, o medo,....vamos tentar perceber como é que ele se infiltra nas pessoas, como comanda as suas vidas, como se imiscui na dinâmica das famílias..... Uns são os problemas ...os outros são os repórteres... O objectivo é que os repórteres consigam escrever um artigo sobre as características do problema, a forma como “trabalha”, os contextos em que se sente á-vontade, as coisas de que não gosta nada, os contratempos, as derrotas, os seus objectivos. Para facilitar, imaginem o problema como um “comando terrorista”, e querem saber tudo sobre ele. Problema: Vai representar o problema, sobre a forma como ele é experienciado, vivido, pela família, por exemplo: “Sou o medo do desconhecido do João e restringi-o à sua casa, e até mesmo à sua cama, durante grande parte dos seus 35 anos de vida. Ele é epiléptico, por isso precisa de mim para o manter seguro. O médico diz que a medicação é suficiente, mas eu sei contornar essas indicações. Aproveito as vezes em que ele está com dúvidas e insinuome, como por exemplo, relativamente ao casar com a Joana. O João tem andado a tentar arranjar trabalho, mas aí eu é que ficaria desempregado, por isso, ando a lutar para o convencer de que ele trabalhar, está completamente fora de questão. Ás vezes o João acha que o seu mundo é muito pequeno, limitado, e que devia matar-se, mas então, eu lembro-o que se tentar aventurar-se aí sim, é que irá certamente morrer.” Instruções: Só responde se for entrevistado por um Repórter; se perceber que a pessoa é um terapeuta disfarçado de repórter, diga-lhe que não confirma nem desmente, e só retorna à entrevista se ela for de reportagem. Imagine mesmo que é uma pessoa-mistério, de quem se quer saber o pormenor mais pessoal. Vá criando história em torno dessas formas “misteriosas” da sua vida de guerrilha, dentro da família e dos elementos que a constituem. 2 Repórteres: O que um repórter leva para um encontro com um “comando terrorista” é uma imensa curiosidade em saber tudo sobre ele, quem é, o que faz, porque faz, como actua, o que sente....Assim, depois de saberem “a identidade do problema”, por exemplo, o Medo do Desconhecido do João, entrevistam-no sobre o modo como ele se estabeleceu, como se mantém e como faz para exercer a sua influência no João, na sua família, nos seus amigos, colegas de trabalho e outras pessoas significativas da sua vida. Não seja reservado, um repórter é “discretamente descarado” nas questões que levanta e nos temas que aborda... solicita informação, pormenores, descrições de acções. Não se deixe seduzir pelo problema, e evite a tentação de o tratar (curar), fazer juízos no sentido de tentar mostrar-lhe os erros da sua estratégia, ou dizer-lhe o que ele deveria ou não fazer, eles não gostam nada dessas “dicas” e deixam de estar disponíveis para a reportagem. Tente limitar-se à clarificação dos seus objectivos, às estratégias que usa, para conseguir o que quer e ser persuasivo, que pessoas e condições é que o ajudam nessa campanha de guerrilha....e lembre-se TRATE SEMPRE O PROBLEMA PELO SEU NOME PRÓPRIO, POIS ELE GOSTA DE SE SABER RECONHECIDO. Tem agora um conjunto de questões que o podem orientar na entrevista ao problema, numa primeira parte da entrevista: o Então, Medo do Desconhecido do João, como é que entraste para a vida dele? o Que representavas para ele na altura? E agora, ainda mantêm essa relação? o Qual é a tua intenção, mantê-lo jovem? o Porque é que lhe dizes que há perigo sempre que ele se aproxima de alguém? o Como é que o conseguiste convencer a seguir as tuas instruções? o Que fizeste para abalar a auto-confiança do João? o Como é que convidaste o Pessimismo para a sua vida? E porque é que o fizeste? o Como é que convenceste o João de que tu é que sabes o que ele deve fazer da sua vida? o O que é que fizeste para que os teus argumentos vencessem os dele? o Costumas usar ameaças? Quais têm sido as mais eficazes? o O whisky é um colaborador teu? O que é que o whisky faz ao João que te dá mais poder? 3 Agora, tem um conjunto de questões que podem orientar a segunda parte da entrevista, relativa aos lapsos do Problema ao exercer a sua influência, ou seja, os seus fracassos, as suas derrotas, as vitórias da pessoa sobre ele: o Medo do Desconhecido do João, alguma vez o João foi capaz de resistir ao que tu lhe dizes e à tua tentativa de lhe incutir terror? o Alguma vez ele te desafiou em pensamento? o Alguma vez ele conseguiu apreciar a vida, apesar da tua voz insistente? o Como é que ele fez? O que aconteceu para ele conseguir não te dar ouvidos? o Quando é que começaste a perceber que ele já não te ligava tanto como antes? o Começa a ser difícil para ti continuar a controlar o João? Como é que isso te faz sentir? o O que vais fazer para tentar restabelecer o controlo que tinhas sobre o João? o Se ele continuar a ignorar-te, que vais fazer da tua vida? Que pensas fazer em relação ao João? Reflectir sobre o exercício (10’ depois dele ter terminado: o Como foi ser Problema? o O que o surpreendeu como Problema? o Como foi ser Repórter? o O que o surpreendeu como Repórter? o Que impressões pode retirar daqui para a intervenção terapêutica?