CAPÍTULO 1
•
A
lgumas noites a lua parece furiosa ao nascer sobre
Los Angeles, esta Cidade dos Anjos. Afinal de contas,
somos anjos armados, anjos que reciclam cuidadosamente as
latas de refrigerante, mas jogam substâncias químicas nas
piscinas aquecidas que construíram a apenas alguns quarteirões do mar. Assim, às vezes, quando nasce no horizonte poluído, a Lua tem um tom raivoso de vermelho, um lembrete
brilhante de que somos anjos tentando criar um inferno na
Terra.
Esta é uma dessas noites. Estou no telhado do Observatório Griffith, olhando a Lua, e sinto sua raiva como se fosse
minha. Onde está o pedaço de paraíso que me prometeram?
Uma vida de paz e sucesso conquistada honestamente? Onde
está o homem que posso acreditar ser ético na busca por grandeza? O que aconteceu com a simplicidade de saber, com total
clareza, o que é certo e o que é errado?
Você jogou isso fora, diz meu anjo interior. Você ouviu seu
demônio e escolheu um caminho diferente.
É verdade, mas não quero assumir essa responsabilidade.
O vento fica mais forte, desarruma meu cabelo e o joga de um
lado para outro enquanto eu encaro a Lua vermelha. Quero
que o vento me purifique e sopre para longe os erros e a
imoralidade.
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Mas existem outras coisas que eu quero mais. Robert
Dade, por exemplo. Sempre que ele se aproxima de mim, sinto um impulso irresistível de ceder. Pensei que, ao terminar
com meu noivo controlador, Dave, eu passaria a guiar minha
vida.
Só que agora tenho apenas outra versão do mesmo destino. Dave me controlava me deixando com culpa e vergonha,
até mesmo medo. Robert me controla com um beijo.
Um beijo na nuca, um toque nas costas, uma carícia na
parte interna da coxa — é tudo que ele precisa fazer. Meu
corpo abafa as mensagens de minha mente. Eu achava que
meu relacionamento com Robert me encorajava, mas é ele
quem está no controle.
Tremo enquanto a Lua continua a subir, perdendo um
pouco do brilho avermelhado. Penso em Tom, o homem que
ainda ontem era meu chefe. Será que ele também está olhando
a Lua? Tom perdeu o emprego apenas porque me insultou e
Robert descobriu. Não foi minha intenção, e, mesmo que fosse, uma vingança executada por outra pessoa não é vingança.
Mas quando Robert me toca do jeito certo, eu esqueço.
Esqueço o que quero, ou melhor, esqueço que quero outras
coisas além dele.
Se Robert estivesse aqui, agora, neste telhado, com turistas e observadores de estrelas se revezando em telescópios antiquados, será que eu o deixaria me tocar? Se ele estivesse atrás
de mim e deslizasse a mão para meu seio, será que eu
protestaria?
Juro, só de pensar nele já me faz latejar. Talvez ele seja a
Lua e eu, o oceano, e minhas marés sejam puxadas a novas
alturas pela força de sua presença.
O pensamento me agita e me perturba. Afinal de contas,
o oceano tem sua própria força, não tem? Ele se move com o
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vento; oferece e destrói em igual medida. As pessoas amam e
temem o oceano. Elas o respeitam.
Mas sem a Lua o oceano não passa de um lago.
Preciso da Lua.
Dou meia-volta e desço a escada em curva até o térreo do
prédio. Aguente firme, Kasie. Mas não sei se consigo. Não consigo controlar minhas marés.
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CAPÍTULO 2
•
D
irijo por um tempo antes de voltar para casa. Quando
chego, vejo imediatamente o Alfa Romeo Spider dele estacionado. É impossível não ver. Robert se destaca menos; está recostado na minha porta, fora do carro. Seus braços estão cruzados
e o cabelo grisalho brilha com o leve orvalho da noite. Estaciono
meu carro, mas não desligo o motor. Parte de mim sabia que ele
viria. O que não quer dizer que eu esteja pronta.
Mas não tenho escolha. Então desligo o carro e me aproximo com cautela.
— Dessa vez você não entrou — digo.
Ele dá um sorriso triste.
— Estou tentando encontrar um meio-termo entre ser
protetor e ser invasivo. Achei que não entrar em sua casa seria
um bom começo.
Não consigo evitar um sorriso.
— Está aprendendo.
Insiro a chave na fechadura, abro a porta e deixo que ele
me acompanhe até a sala.
— Ainda assim — continuo, já dentro de casa, ele se
sentando no sofá —, você podia ter ligado.
— Podia, mas não liguei.
Eu me viro para Robert. Não o entendo. Há momentos
em que não sei bem se gosto dele. Mas, por Deus, eu o
desejo.
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— O que veio fazer aqui?
— Você não vai me deixar — diz ele, simplesmente.
— Acha que essa decisão cabe a você?
— Acho. — Ele inclina a cabeça e sorri. — Eu precisaria
ter feito algo específico para você querer se afastar. Como não
fiz, você não pode querer outra coisa a não ser ficar.
— Você não fez nada específico?
Não menciono Tom. Nem é preciso.
— Kasie.
Robert suspira como se estivesse um pouco ­decepcionado
com minha falta de visão.
— O modo como Tom falou com você... as coisas que
disse... Se um dos superiores dele tivesse ouvido, Tom não teria perdido o emprego?
— Mas eles não ouviram. Você está falando de hipóteses,
escolhendo sua verdade. Tom me ajudou quando Dave estava
tentando me humilhar. Isso também faz parte da história.
— E se Tom pensasse que ficar do lado de Dave seria
bom para os próprios interesses, ainda acha que ele teria ajudado você?
— Não sei, Robert. — Jogo as mãos para o alto, exasperada. — Você acha que Stalin teria ajudado a derrotar Hitler
se a Rússia não tivesse sido invadida? Às vezes não precisamos
analisar motivações. Às vezes podemos só ficar aliviados porque os nazistas perderam.
Robert se recosta no sofá, os olhos se iluminando por eu
desafiá-lo.
— Também fico aliviado pela derrota dos nazistas, mas
não acho que isso dê um passe livre a Stalin.
— Tom não é Stalin.
— Não, Stalin merecia morrer. Tom só merece perder o
emprego.
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Ele olha para a rua quando um caminhão passa fazendo
barulho.
— São negócios, Kasie. Tom assediou sexualmente uma
funcionária e desagradou um cliente muito importante. P
­ es­soas
são demitidas por esse tipo de coisa o tempo todo.
— Mas ele não foi demitido por me assediar.
Robert faz pouco de meu argumento.
— Teria sido... constrangedor se a reclamação fosse feita
por você, e você não queria levar isso adiante. Então, eu simplesmente providenciei que as alegações fossem feitas por outras pessoas.
Estamos andando em círculos, e agora me sinto zonza
demais para continuar.
Olho fixamente para o teto branco-gelo. Sempre mantive
minha casa simples, sofisticada e confortável, mas agora esta
sala me parece complicada e desregrada, e não me sinto nada à
vontade. Tudo em Robert me agita. A voz dele vibra em mim
como uma batida de rock, me avivando, amplificando emoções que, não fosse isso, poderiam ser suprimidas.
— Acabei de sair de um relacionamento — relembro.
— Passei anos sendo controlada pela visão que outra pessoa
tinha de mim, e agora você quer me controlar também.
— Não. — Ele se levanta e se aproxima de mim. — Não
quero controlar você.
Robert desliza os dedos sob meu queixo e guia meu rosto
em sua direção.
— Eu gostaria de corromper você... pelo menos um
pouco.
— Me corromper?
— Kasie, se você me deixar ajudar, podemos ter tudo. As
pessoas que zombariam de você ou tentariam dificultar sua
vida? Elas se curvariam a nós. Tom foi um sinal de alerta. Pre14
cisamos desses sinais. Os outros precisam saber o que acontece
com quem tenta nos derrubar, com quem tenta nos
humilhar.
— Você está falando da vida de um homem.
— Estou falando de vencer.
A mão de Robert escorrega para minhas costas e eu instintivamente me inclino para ele, pressionando os seios contra
seu peito.
— Quero que pare de interferir nas carreiras dos meus
colegas de trabalho.
— Ah, mas você quer tantas coisas — murmura ele,
mordiscando minha orelha. — O que você mais quer, Kasie?
Justiça? Poder? — Ele me empurra de leve contra a parede; sua
língua toca a base do meu pescoço. — A mim?
Tento responder, mas as mãos dele estão em minha blusa, tirando-a, desabotoando a minha calça e deixando-a cair.
Robert dá um passo para trás, pega o celular do bolso e o
aponta em minha direção.
— Quero esta imagem. Quero poder olhar para você
quando não estivermos juntos.
Imediatamente sinto meu rosto esquentar e tento me cobrir com as mãos, mas ele sacode a cabeça.
— Não, deixe os braços ao lado do corpo. Você nunca
deve ter vergonha de se mostrar. Quando tivermos terminado,
ninguém terá coragem de questionar sua audácia. Você será
admirada.
Deixo os braços caírem, mas com dificuldade. Isso não
está certo, nem sei por que estou permitindo... Exceto pelo
fato de que quero permitir.
— Você não vai mostrar isso a ninguém — digo. É uma
pergunta? Uma afirmação? Um pedido? Simplesmente não sei
mais.
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Eu deveria estar horrorizada, mas a ideia de ser vista... a
audácia sem consequências....
Coloco o cabelo para trás, abaixo a cabeça em um ângulo
provocante e chamo a atenção da câmera.
Ele abre um sorriso de aprovação e tira outra foto antes
de deixar o celular em uma mesinha lateral. Lentamente, tira
o paletó e o apoia em uma cadeira enquanto eu permaneço
colada à parede, presa por uma força invisível.
Robert volta ao sofá e faz um gesto para que eu vá até ele.
Ando como uma mulher sob hipnose. Talvez eu esteja mesmo hipnotizada. Talvez ele tenha lançado um feitiço sobre mim.
Subo no colo dele, só de calcinha e sutiã. As mãos de
Robert cobrem meus seios.
— Tire isso — diz ele, suavemente, mas com um tom
autoritário que não me passa despercebido.
Tiro o sutiã, deixando os seios livres. Ele os toca com
movimentos lânguidos, quase casuais, apertando-os levemente, brincando com os mamilos até ficarem duros e ansiosos.
— Você fica linda desse jeito — diz ele. — Deveríamos
combinar de um dia você vestir só isso, só essa calcinha. — Ele
passa o dedo pelo elástico e puxa. — Podemos jantar desse jeito, ver TV, conversar enquanto tomamos café, com você quase
nua, completamente disponível para que eu a toque e a prove.
Então ele se inclina para a frente e beija meus seios enquanto sua mão desliza para dentro da minha calcinha, encontrando o clitóris e me fazendo ofegar.
— Você faria isso por mim, Kasie?
Fico vermelha, sabendo que a resposta deveria ser não,
mas faço que sim.
— E o que você faria por si mesma? — pergunta ele, escorregando um dedo para dentro de mim. — Se eu lhe der o
mundo em uma bandeja, você vai aceitar?
— Robert...
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Quero explicar, dizer que ele está errado, mas ele começa
a mexer o dedo. Cobre meu pescoço e meus ombros de beijos,
querendo me provocar, não saciar. Gemo e instintivamente
arqueio o quadril contra ele.
— Você vai ver, Kasie. — As carícias dele se tornam mais
intensas, e sinto o orgasmo chegando. — Todos seguirão nossas regras, e as mudaremos conforme nossa vontade. Toda essa
sua preocupação com a opinião dos outros será desnecessária.
Ninguém vai julgar você, ninguém vai ousar julgar.
Robert coloca mais um dedo dentro de mim e eu gozo,
bem ali, no colo dele. Tremo, agarrando seus ombros, cravando os dedos no tecido de sua camisa, apertando sua pele. Acho
que digo o nome dele, mas tudo é tão intenso que fica difícil
saber o que estou fazendo, o que estou dizendo... É um caos.
É espetacular.
Ele me empurra, me deitando de costas, e tira minha
calcinha, depois se ergue para despir-se, me observando enquanto respiro com sofreguidão. Ele está nu agora; sua ereção
me procura, seus músculos rígidos e esculpidos apenas insi­
nuam o verdadeiro poder deste homem. Ele se abaixa e acaricia meu rosto. É um toque gentil, tão terno quanto sensual.
— Você é muito linda — diz ele, calmamente. — Diga
que sabe disso.
Não sei como responder. Tremo de expectativa e tento
abraçá-lo, mas Robert segura meus pulsos e me impede de
tocá-lo, mesmo quando dá um passo para mais perto.
— Diga, Kasie. Diga que é linda.
Eu me contorço levemente e tento me virar, mas ele guia
meu rosto em sua direção.
— Diga.
Aperto os lábios e olho para ele com as pálpebras
semicerradas.
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E então algo acontece comigo. Puxo o braço com força e
o afasto. Robert observa, intrigado, quando me levanto lentamente até ficar de joelhos, minha postura ereta enquanto o
olho nos olhos, com insolência.
— Eu sou linda — digo; minha voz é confiante, forte e,
até mesmo a meus ouvidos, sedutora.
Ele sorri e se ajoelha diante de mim no sofá. Fica me
olhando enquanto me deito de costas, com movimentos lânguidos e sensuais, os joelhos ainda dobrados e as costas arquea­
das. Coloco os braços acima da cabeça, como se estivesse posando para uma foto.
— Eu sou linda — repito.
Ele está em cima de mim agora, segurando meus ombros. Eu o sinto, duro, contra minha coxa.
— Agora, Robert. Entre em mim agora.
E, com um gemido, ele obedece, me penetrando com
movimentos circulares amplos. Seu quadril se move contra o
meu enquanto mantenho a pose, como uma bailarina erguida
bem alto pelo parceiro. Ele está muito fundo agora, dando estocadas fortes, estimulando todos os nervos, e, como um leve
aplauso que se transforma em uma ovação, sinto o orgasmo
tomar conta de mim. Meu corpo se contrai ao redor dele, prendendo-o enquanto tremo, e um grito escapa de meus lábios.
Neste momento, acredito em tudo isso. Sou linda e
poderosa.
E vou dominar. Talvez não o mundo, mas certamente
este homem.
Desdobro as pernas com cuidado, esticando-as, uma de
cada lado do corpo dele. Robert se levanta, apoiando-se nos
joelhos para me dar espaço, mas não espero que se abaixe de
novo. Em vez disso, eu me apoio nos pés e ergo o quadril,
pressionando a pelve contra a dele, fazendo-o ir fundo de no­
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vo. Desta vez, sou eu quem determina o ritmo, saboreando a
fricção enquanto faço meu quadril subir e descer no ar. Vejo
o que estou fazendo com ele; Robert está ofegante, os braços
tremendo, e sei que não é por causa do esforço. Isso é
empolgante.
E quando não consegue mais se conter, ele segura minhas
pernas e, ainda de joelhos, as apoia em seus ombros. Com um
braço de cada lado do meu corpo, Robert assume a liderança
mais uma vez. E, de novo, vai fundo em mim, vulnerável e
forte e enlevado pelo êxtase perfeito.
— Vou lhe dar tudo — murmura ele. — Tudo. E você
vai aceitar.
Lá fora, o vento forte bate contra as janelas enquanto eu
grito; é animal e quase assustador, simplesmente delicioso. Seguro os braços dele quando outro orgasmo, ainda mais forte,
toma conta de mim. E, enquanto a sensação me percorre, eu o
sinto explodir dentro do meu corpo, deixando que eu absorva
seu poder.
Um poder suficiente para conquistar o mundo.
Talvez até para conquistar Robert.
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Algumas noites a lua parece furiosa ao nascer sobre Los Angeles