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AVC
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Cerca de 14% dos centros de tratamento ainda não têm qualquer
apoio
Mais de metade dos doentes «sem acesso a
unidades de AVC»
Em muitas unidades de AVC há problemas de «exclusão de doentes». E não existem
registos comuns, nem comunicação, nem protocolos de colaboração para orientação de
cuidados. Tudo isto numa altura em que o sector está sujeito a cortes, alertou o
neurologista Vítor Tedim Cruz no Congresso Português do AVC, que se realizou no
Porto.
Em Portugal, nos últimos anos surgiram mais unidades de AVC e a respectiva via verde,
instituiu-se a trombólise e, no geral, há «melhorias discretas» nos indicadores de saúde
(a taxa de mortalidade por AVC diminuiu um pouco). No entanto, há um «problema
grave de exclusão de doentes», ou devido à idade, ou à morbilidade prévia, ou à
localização geográfica, pelo que «há cerca de 50% a 66% dos doentes que não têm
acesso às unidades de AVC».
De acordo com o balanço efectuado por Vítor Tedim Cruz, assistente de Neurologia do
Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga/Santa Maria da Feira, as assimetrias
regionais explicam parte deste problema, mas há outra questão a considerar: 14% das
unidades não têm qualquer apoio, ou seja, «não há sequer comunicação ou um
protocolo de colaboração para a orientação dos cuidados».
Por outro lado, «não existem registos comuns, nem dados robustos de suporte para
tomada de decisões», advertiu o neurologista, que falava sobre «Unidades de AVC —
uma visão actual da realidade portuguesa», tema que encerrou o programa científico do
6.º Congresso Português de AVC, que decorreu no Porto Palácio Hotel de 2 a 4 de
Fevereiro.
«Isto é crítico, sobretudo numa fase em que o SNS está sob cortes, pois como não
existem números vai ser difícil explicar onde não se deve cortar», sendo que «isso vai-se
reflectir no agravamento da saúde dos portugueses», alertou o especialista.
Doença que «mais camas ocupa»
Isto acontece em relação à patologia — o AVC — «que mais camas ocupa nos
hospitais», sendo o primeiro GDH em dias de internamento e o quarto em número de
doentes saídos, lembrou Vítor Cruz.
E partindo do princípio que, em Portugal, quem tem 65 anos «apenas pode esperar
viver, em média, mais 6,6 ou 5,4 anos», e que noutros países esses valores sobem para
15 anos de vida saudável, o neurologista verifica que o AVC «tem muito que ver com
isto». Ou seja, se querermos em Portugal mudar o prognóstico destes doentes «temos
que mudar este indicador».
Considerando a capacidade hospitalar portuguesa, Vítor Cruz estima que haja cerca de
721 camas ocupadas por AVC ao longo de todo o ano, sendo que só 33% destes
doentes são admitidos nas unidades de AVC. «Quando tentamos perceber o que se
passou no País ao longo deste tempo através dos dados sobre mortalidade por AVC
isquémico [indicador da OCDE], vemos que Portugal melhorou um pouco (de 8,1 para
6,2), mas mantém uma posição muito abaixo dos países da OCDE», indicou o
neurologista.
Mesmo assim, a mortalidade por AVC hemorrágico é sempre maior entre nós,
acrescentou Vítor Cruz: «Portugal é o país onde, tanto no AVC isquémico como no
hemorrágico, os valores são mais elevados.» Apesar de tudo, lembrou, «temos
conseguido diminuir a incidência e mortalidade por AVC».
Certificação «é incontornável»
Um certo desequilíbrio na cobertura do AVC, sobretudo quanto a distribuição de camas,
foi também evocado no debate. De acordo com os resultados de um inquérito promovido
no ano passado pela Sociedade Portuguesa do AVC, citado pelo neurologista, o número
máximo de camas disponíveis para AVC no âmbito das unidades respectivas é de 265
(os dados do Alto Comissariado para a Saúde indicam que há apenas 182 camas),
estando sedeadas em 30 unidades; no entanto, de acordo com Vítor Cruz, é difícil saber
«se estas camas são dedicadas».
«Não sabemos muito sobre a qualidade das nossas unidades, mas sabemos que há
zonas onde não há mesmo camas», admitiu o neurologista, argumentando: «E se há
zonas que não têm muita densidade populacional, há outras com elevada densidade, o
que significa que estamos longe de conseguir uma cobertura eficaz».
Quanto à certificação das unidades, o neurologista afirmou que «é um processo
incontornável» a que urge pôr ordem, sendo no entanto preciso «integrar as unidades e
geri-las de forma eficaz para conseguir chegar a toda a gente».
«Ou se conseguem gerir estes recursos ou vai ser difícil obter ganhos em saúde»,
sublinhou o especialista.
Para além da certificação, Vítor Cruz lembrou que as unidades precisam de produzir
dados de conjunto que permitam «monitorização e antecipar mudanças», porque em
Portugal «não se sabe o que está a acontecer com esta doença», ou seja, de que tipo
são os AVC».
Manuel Morato
… CAIXA …
Faltam neurologistas em muitas unidades
«Cerca de 14% das unidades de AVC assumem que não têm apoio de Neurologia»,
quando nestas unidades os cuidados devem ser «orientados por neurologistas»,
considerou Vítor Tedim Cruz, lembrando, de resto, que há ensaios clínicos que
comprovam a importância destes especialistas «e há evidência de que isso é eficaz». É,
http://www.tempomedicina.com/Arquiv.aspx
29-03-2012
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portanto, «difícil perceber» a falta desse apoio, «porque se há coisas que fazem parte
das unidades de AVC são os cuidados orientados por neurologistas».
É claro que «a presença do neurologista implica prescrição de mais exames — mais
ressonâncias, mais angiografias, etc. — mas isso repercute-se em mais ganhos em
saúde», defendeu o especialista, acrescentando: «Há mais doentes que têm alta,
independentes, nas unidades de AVC do que nas unidades ou enfermarias gerais onde
não há neurologistas.»
… CAIXA …
265 camas em 30 unidades
E a quantos doentes podemos oferecer as 265 camas? Para o neurologista, se o tempo
médio de internamento nas unidades for de 10 dias, conseguem-se tratar 9672
doentes/ano, o que «está muito longe dos 25 mil doentes com AVC que acabam por ser
internados» em Portugal.
No entanto, se houver estrangulamentos nas altas e as demoras médias aumentarem
para 15 dias, a capacidade de oferecer este recurso baixa para 6500 doentes/ano; se for
possível obter demoras médias de cinco dias com grandes unidades de reabilitação de
suporte, as «unidades de AVC podem receber cerca de 20 mil doentes /ano».
… CAIXA …
«Muito se evoluiu nos últimos anos»
Para Miguel Rodrigues, coordenador da Unidade de AVC do Hospital de Garcia de Orta
e comentador da mesa «Unidades de AVC — uma visão actual da realidade
portuguesa», o problema das regiões sem cobertura por unidades de AVC «é
preocupante», ou seja, «não se compreende porque é que um doente que está em
Santarém ou em Beja vai ter que se deslocar».
De qualquer forma, este neurologista considera que, entre nós, «muito se evoluiu nos
últimos anos» e um AVC «chega em tempo de evolução para tratamento à maior parte
dos hospitais».
… CAIXA …
Trombólise chega apenas a 3%
Segundo um inquérito feito a nível europeu num elevado universo de hospitais, citado
por Vítor Tedim Cruz, e que inclui 12 unidades de saúde portuguesas, apenas 14% dos
doentes tinham acesso a Primary Stroke Centers e 86% eram relegados para
enfermarias gerais ou estruturas inferiores, sendo que as tombólises chegavam apenas
a 3,3% dos doentes.
Apesar de tudo, segundo o neurologista, a Alemanha e a Áustria «conseguiam
providenciar acesso» a cerca de 30% de todos os doentes com AVC a centros que
cumpriam certificações da ESO (European Stoke Organization).
TEMPO MEDICINA 1.º CADERNO de 2012.02.13
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