Capa
Empreendedorismo e
juventude na dose certa
Marcelo Manfredini, Diretor da Celta Engenharia, conseguiu, em apenas nove anos, transformar sua empresa
em referência nacional na área de Engenharia de Telecomunicações. Aos 34 anos de idade, ele tem em
suas mãos contratos milionários com as maiores operadoras de telefonia móvel do Brasil e está a um
passo de colocar a Celta no cenário mundial dos negócios.
FERNANDO RIEGEL
D
epois de uma longa conversa com
Marcelo Manfredini na matriz da
Celta Engenharia em Porto Alegre,
não há dúvida de que a simpatia do empresário é um dos motivos do seu sucesso. Ele mesmo admite que o bom relacionamento que mantém até hoje com todas as pessoas envolvidas nos negócios
da empresa é um dos maiores responsáveis pelo rápido crescimento da Celta.
A gana de ter seu próprio negócio
O pai de Marcelo, Gilberto Machado –
querido e conhecido por todos como Giba
-, fez longa carreira e grandes amizades
na antiga Companhia Riograndense de
Telecomunicações – CRT e também com
outros profissionais da área. Marcelo cresceu achando que a profissão do pai, enquanto funcionário público, era muito
pacata e foi alimentando a vontade de ter
seu próprio negócio.
Cursou Engenharia Civil na Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do
Sul – PUCRS, impulsionado pelo gosto pela
matemática e pelo desenho. “Via os arranha-céus e me imaginava ‘tocando’ uma
obra dessas”. Depois de formado, fundou,
em 1997, uma sociedade que deu origem
à Celta Engenharia. No começo, a empresa atuava exclusivamente na área de Engenharia Civil, prestando serviços de manutenção predial, fechando alguns contratos de construção com investidores.
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REVISTA TOP OF BUSINESS
Marcelo mantém contato direto com as equipes técnicas nas torres de transmissão através do rádio.
Entre a metade e o final da década de
90, a tecnologia de telefonia móvel foi
implantada e começou a se popularizar
no Brasil. Nesta época, Marcelo se interessou pela área e percebeu que era um
negócio que iria movimentar muito dinheiro, que muitas pessoas iriam utilizar e nunca “acabaria”. Era a chance de
ele fazer a Celta crescer, de transformála em algo grande. Foi então que resolveu aproveitar a boa rede de relacionamentos que o pai possuía na área das
telecomunicações para entrar neste nicho de mercado. Através do contato indicado por Gilberto, ele foi até o gerente de operações da Telet (antiga Claro),
e conseguiu fechar um contrato para
realizar pequenos serviços. Como nesta
época, ele mesmo ia com seu carro fazer os serviços, acabou tendo contato
com a GVT, que estava iniciando suas
operações no Rio Grande do Sul. E assim foi mais um negócio fechado, entre
tantos que viriam.
O diferencial
Segundo Marcelo, as empresas que estão hoje no mercado se “equivalem” em
equipe técnica, infra-estrutura, etc. Ele
afirma que, como “ninguém trabalha
sozinho”, o diferencial de uma empre-
Junho-Julho|2006
Interconexão: processo que faz a conexão entre uma operadora fixa e uma móvel. Grosso modo, é uma conexão que permite
a você ligar de um telefone móvel para um telefone fixo e vice-versa.
ARQUIVO/EMPRESA
A conquista de regiões e Estados
E
Técnico escalando torre de telefonia celular de 60 metros
para realizar a manutenção corretiva.
sa é sua rede de relações, aliado à ousadia, à perspicácia e à empatia nas negociações. No seu caso em particular, ele
admite que existe uma certa desconfiança pelo fato de ser mais jovem que a
maioria das pessoas com as quais mantém vínculo de negócios e isso o obriga
a ser mais contundente na hora de mostrar credibilidade e competência. “Se eu
não tivesse construído meu ‘network’
com fidelidade, amizade e parceria, hoje
eu não estaria onde estou - e estou muito aquém de onde quero chegar”, complementa Marcelo.
Mas este cuidado com as pessoas envolvidas com a Celta não se limita ao que
está “fora” da empresa. Manfredini orgulha-se da sua equipe de trabalho, principalmente, porque tem um feedback
positivo do relacionamento que mantém com eles através dos clientes. “É
comum eu encontrar clientes e eles me
dizerem para levantar as mãos para o
céu por causa da fidelidade da equipe da
Celta”. Ele revela que o segredo é mostrar a todos os colaboradores que a empresa só existe graças ao cliente e, principalmente, não manter uma distância
hierárquica entre ele e os funcionários.
época, Marcelo trouxe para a Celta um
engenheiro com grande experiência, mesmo tendo a consciência da dificuldade
que seria pagar o salário do profissional,
mas afirma ter sido um investimento, já
que o engenheiro foi o mentor de uma
geração de técnicos da Celta. Inclusive,
Marcelo, que tinha formação somente em
Engenharia Civil, aproveitou a experiência do seu novo colaborador para melhorar seu know-how. Posteriormente, fez
cursos na área de telecomunicações e hoje
possui vasto conhecimento adquirido,
principalmente, no trabalho do dia-a-dia.
Ainda em 2001, a Celta começou a
prestar serviços exclusivos para a Telet
em toda a região de Caxias do Sul, mediante um contrato que abrangia a manutenção de 180 torres de transmissão
da operadora. Hoje a empresa é responsável pela manutenção de todas as torres da Claro nos três Estados da região
Sul do Brasil. “Desde 1999 até 2006, o
faturamento da Celta nunca deixou de
crescer”, complementa Manfredini. O
Estado do Espírito Santo é o próximo a
ser atendido, e a previsão é prestar serviços no Uruguai em 2007.
ARQUIVO/EMPRESA
A Celta tem sua matriz localizada
em Porto Alegre e filiais em
Caxias do Sul, Pelotas, Santa
Maria e Passo Fundo, além dos
técnicos localizados em bases no
interior do Estado.
m 2000, a Celta tinha 3 colabora do
res, entre eles, a então secretária
Cristiane Moreira. Marcelo fala sobre os
“bastidores” da época: “Eu ia com meu
carro cheio de equipamentos pedir crédito em banco pra comprar menos de 10
mil reais em pecinhas, porque a Celta
não tinha crédito na praça pra comprar
equipamento de telefonia. Clientes atrasavam pagamentos, e eu ainda estava pagando as prestações do carro”. Cristiane vivenciou o tempo das “vacas magras”
e, graças a sua confiabilidade e competência, ainda está na Celta. Mais do que
isso: hoje no cargo de Gerente de Suprimentos e MRO (Manutenção, Reparo e
Operações), ela é uma das “cabeças da
empresa” – como a define Marcelo – e
responsável pelo gerenciamento das equipes, que somam, aproximadamente,
1000 pessoas.
Em 2001, já eram 20 funcionários.
Ano a ano, Manfredini se propunha novamente a meta de crescer mais. “Eu dizia pra mim mesmo : – eu tenho que me
atualizar, eu tenho que estar cercado de
gente que entende do negócio, trazer gente boa pra dentro da empresa”. Nessa
Filial da Celta em Caixas do Sul.
Hora de recuar, hora de avançar
Em 2004, a Celta Engenharia recebeu
uma proposta da mexicana Telecom
Américas para executar serviços de interconexão entre telefonias móvel e fixa na
Venezuela e no México. Marcelo não deu
prosseguimento às negociações de fechamento do contrato, por considerar que
não era oportuno na época. “Entrar em
outro país e montar uma megaestrutura
em tempo recorde... ainda não era o momento!” Manfredini optou por melhorar
a estrutura e a atuação da Celta dentro
do Brasil e organizar um forte banco de
RH com técnicos especializados e disponíveis . Por meio de seus contatos, fez
chegar até à Telecom Américas a informação de que não tinha sido uma renuncia definitiva para, com essa atitude, deixar a proposta “em aberto”. Marcelo faz
uma analogia futebolística para explicar
o caso: “Um jogador de futebol que recebe uma proposta para entrar em outro
clube e decide ficar porque está bem no
time, valoriza seu passe. Ou seja, a Celta
valorizou seu passe e agora foi solicitada
novamente para realizar estes serviços
para a Telecom Américas”.
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centemente, a Celta passou a prestar serviços de manutenção cor retiva
na Região Sul para a Nextel, que procurou a Celta por uma indicação da
Claro. Marcelo comenta orgulhoso: “Entramos pela porta da frente na
Nextel”. Com o fechamento desse novo contrato, o número de funcionários diretos da empresa, que era de aproximadamente 600 funcionários,
passará a ser mais de 1000.
Marcelo comenta que o fechamento de contratos com diversas operadoras é facilitado pelo fato de a Celta já ter equipes atuando na área de cobertura nos três Estados da região Sul. Isso permite que a empresa ofereça
serviços com um preço menor graças à economia nos custos de deslocamento. Além disso, outro serviço realizado pela empresa e que reduz custos é a
manutenção de torres compartilhadas entre mais de uma operadora.
Além de realizar trabalhos para gigantes da telefonia, a Celta está em
fase de negociação com empresas de telecom do Oriente Médio e quer ampliar sua atuação para a área de planejamento em Engenharia de Telecomunicações, a convite da Claro. Isso significa que a empresa não realizará
mais somente manutenção, e sim aplicará know-how próprio no planejamento de redes e na área de transmissão.
Telecom com alcance e profundidade
A Celta Engenharia presta serviços de manutenção de telefonia móvel.
Dentro desta área, dá suporte preventivo e corretivo a todo e qualquer sistema de transmissão de celular. Marcelo explica que “todas as alterações
técnicas das operadoras de celular são terceirizadas. A responsabilidade
pelo sinal das operadoras com as quais trabalhamos chegar em perfeitas
condições é da Celta. No caso da Claro, temos um centro de monitoramento
24 horas que fica dentro da operadora. São 14 pessoas que gerenciam
todas as torres de transmissão do sinal no Rio Grande do Sul. Quando acontece qualquer problema, umas destas acionistas entra em contato com a
equipe mais próxima do local”. Para isso, possui frota de veículos monitorada por uma central de logística exclusiva da empresa.
A Celta também constrói, implanta e coloca em operação as torres de
transmissão chamadas de ERB – Estação Rádio Base - e realiza serviços
de interconexão entre operadoras fixa e móvel. Trabalha também com
outras operadoras além da Claro: Tim, Oi, Intelig, Embratel e Vivo. Re-
A Celta em números
Quando perguntado sobre o significado da Celta em sua vida, Marcelo
fica sem palavras. Ensaia uma ou outra declaração, mas é visível a dificuldade que tem para definir em uma simples frase. Finalmente, ele fala: “Eu
acordo e durmo com a Celta na cabeça. A ligação é muito forte. Ela é meu
motivo de orgulho e o fato de ela ter dado certo fez com eu passasse a
acreditar muito mais em mim.”
E, neste momento em que a entrevista fica ainda mais informal, Marcelo
fala da importância que ele atribui à sua família – seus 2 irmãos, Rafael e
Fábio, que também trabalham na Celta - e comenta feliz sobre seu casamento, que acontecerá em Outubro deste ano. Afirma que seu sucesso está
relacionado com estabilidade sentimental, em ter alguém que se preocupe
com ele: “Durante o tempo em que fiquei separado, sentia falta de uma
relação estável e isto refletia no meu trabalho. Eu sou um cara família”. E
diz ter encontrado em Bruna uma companheira para todas as horas, inclusive nos inúmeros compromissos empresariais: “Você vai a um jantar de
negócios, estão lá todos os empresários sempre acompanhados de suas esposas. Ser solteiro, jovem e sozinho não ‘pega’ bem”. Ele se autodefine como
um “cara família” e a maneira como fala da sua noiva, Bruna, e de sua filha,
Marcelly, confirma a declaração. Foi pai com apenas 18 anos e há aproximadamente 2 anos convidou a filha, que acabou de completar 15 anos e
morava com a mãe, para morarem juntos. Conta feliz do orgulho que via
nos olhos de Marcelly quando ele a deixava na porta da escola nas primeiras vezes, e ela dizia para as amigas: “olha, este é meu pai”.
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Manfredini esquiando para aliviar
as pressões da vida de empresário.
ARQUIVO PESSOAL
arcelo é uma pessoa que tem uma linguagem simples e fala sempre
com empolgação, principalmente quando o assunto é a Celta, sua filha
Marcelly, sua noiva Bruna, carros e esportes - principalmente esqui aquático, esporte que praticou profissionalmente e no qual até ganhou títulos. Pratica atividades físicas desde jovem. “Freqüentei a academia desde os 14 anos,
joguei futebol, sempre me preocupei com o corpo, a alimentação”.
Com tanta responsabilidade em suas mãos, Marcelo confessa que há horas
em que fica muito estressado e que, mesmo quando algum problema o deixa
muito preocupado, não consegue desabafar. “Minha noiva reclama, mas eu
não consigo falar”, ele comenta. Mas pelo seu próprio bem e pelo bem da
empresa se permite dar umas escapulidas da Celta, pegar a lancha e ir esquiar na Ilha da Pintada, localizada no Guaíba. “Assim, eu consigo desopilar e
volto novo!” E, mesmo tendo uma rotina cheia de trabalho, fora da Celta
também tem uma vida agitada: “Gosto de sair, ver o movimento, sair pra
jantar com a Bruna, ouvir a história de alguém”.
ARQUIVO PESSOAL
FERNANDO RIEGEL
Valor aproximado do faturamento anual da empresa, incluindo obras
emergenciais: 28 milhões de reais.
Valor estimado de investimentos a serem feitos a partir do 2º
semestre de 2006 até o final de 2007: 1,3 milhões de reais em
equipamentos, na ampliação do sistema de logística e no
monitoramento da rede de telecomunicações na região Sul.
Marcelo acompanhado de sua mãe,
Tânia (E), Bruna ao seu lado e a
mãe de Bruna, Liliana Sogari (E).
Junho-Julho|2006
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