ANO XXXI Diego Domínguez “Tentamos fazer programas de seguro eficientes ao máximo possível, sempre enfocando a estabilidade no futuro” Chefe do Departamento de Gestão de Seguros Industriais da Navantia O seguro baseado no uso Um novo conceito de produto segurador MANUELA ALCAÑIZ ZANÓN, MERCEDES AYUSO GUTIÉRREZ, ANA M. PÉREZ-MARÍN O mercado de microsseguros na Espanha Possibilidades para a sua implantação MARÍA PÉREZ MARTÍN Reflexões sobre a Gerência de Riscos Rumo a uma gerência de riscos competente FRANÇOIS SETTEMBRINO T ERCEIRO QU ADRIM EST RE 2014 120 VE R S ÃO B R AS I LE I R A A BIBLIOTECA FUNDACIÓN MAPFRE AO ALCANCE DE SUAS MÃOS Descubra o aplicativo gratuito para aparelhos móveis: a Biblioteca FM. Acesse as novidades e todos os serviços do Centro de Documentação e baixe documentos que você poderá consultar depois, sem precisar de de conexão, com apenas um clique. Instale gratuitamente o aplicativo pela App Store ou pelo Google Play, ou escaneando os seguintes códigos QR: Para mais informações: +34 91 602 52 21 editorial O fim de uma etapa Há 31 anos a FUNDACIÓN MAPFRE decidiu criar uma publicação que refletisse suas iniciativas e mostrasse sua visão de Gerência de Riscos de forma simples e informativa. Em seus 120 números, a revista nos relatou sobre Gerência de Riscos no mercado latino-americano. O final de 2014 trouxe novos ares para a revista Gerência de Riscos e Seguros. Este número que você tem em mãos é o último número impresso desta revista. Daqui em diante, novos formatos de comunicação serão usados para acompanhar a irreversível consolidação dos meios de comunicação digitais, que não podemos brecar e que ainda por cima respeitam o meio ambiente. A MAPFRE GLOBAL RISKS assumirá a partir de agora. Por 31 anos nós trabalhamos muito para criar e divulgar informações relacionadas a Seguro e Gerência de Riscos entre profissionais e a comunidade científica. Somos verdadeiramente gratos àqueles que tornaram esta revista possível e desejamos toda a sorte possível para a nova equipe. O número 120 inclui uma entrevista interessante com Diego Domínguez, Gerente Corporativo de Seguros da Prosegur, uma empresa que tem controle de riscos em seu DNA. Entre outras coisas, o sr. Domínguez explica por que, para conseguir enfrentar os novos riscos, é importante estar pelo menos dois passos à frente. O primeiro estudo foi escrito por um grupo de pesquisadores do Riskcenter da Universidade de Barcelona e discorre sobre a relação entre o uso e a sinistralidade dos automóveis, e como o seguro baseado no uso se tornou uma referência para novos produtos seguradores. O segundo estudo trata dos microsseguros na Espanha, sua distribuição, cobertura de riscos e oportunidades comerciais; também aborda sua possibilidade de quebrar o ciclo da pobreza e superar a vulnerabilidade vivenciada por alguns grupos sociais em situação difícil. O terceiro estudo é uma reflexão importante em linha com a ativação do processo de certificação dos gerentes de riscos. Ele aborda os princípios básicos sobre os quais se fundamenta uma gerência de riscos competente. Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 3 editorial Este número termina com as habituais seções sobre livros e com as notícias da AGERS, IGREA e FERMA. Como sempre, esperamos que a revista seja do seu agrado. Gostaríamos de expressar nosso agradecimento sincero e de coração a todos os nossos leitores, com os quais tivemos o privilégio de estar em contato por meio dos 120 números da revista, e especialmente aos cerca de 5.000 assinantes procedentes de mais de 30 países, cuja fidelidade nos acompanhou ao longo destes 31 anos. Nosso compromisso com todos vocês é continuar trabalhando na divulgação da Gerência de Riscos e manter-lhes informados sobre as diversas atividades que realizarmos. Agradecemos sua companhia, proximidade e, sobretudo, sua fidelidade. Desejamos que continuem a se sentir parte essencial da revista e esperamos poder continuar contando com a sua colaboração. Aguardamos ansiosamente pela futura revista! FUNDACIÓN MAPFRE Instituto de Ciencias del Seguro Paseo de Recoletos, 23. 28004 Madrid (España) Tel.: +34 91 581 12 40. Fax: +34 91 581 84 09 www.gerenciaderiesgosyseguros.com PRESIDENTA: Mercedes Sanz Septién DIRETOR: José Luis Ibáñez Götzens CHEFE DE REDAÇÃO: Ana Sojo Gil COORDENAÇÃO: María Rodrigo López CONSELHO DE REDAÇÃO: Irene Albarrán Lozano, Alfredo Arán Iglesia, Francisco Arenas Ros, Montserrat Guillén Estany, César López López, Juan Carlos López Porcel, Jorge Luzzi, Francisco Martínez García, Eduardo Pavelek Zamora, Mª Teresa Piserra de Castro, César Quevedo Seises, Daniel San Millán del Río, François Settembrino. DESIGN E REALIZAÇÃO EDITORIAL: Comark XXI Consultores de Comunicación y Marketing del Siglo XXI S.L. IMPRIME: CGA Versão Brasileira: FUNDACIÓN MAPFRE - Delegação Brasil DIREÇÃO: Fátima Lima COORDENAÇÃO: Cristiane Kanashiro TRADUÇÃO E REVISÃO: Maristela Leal Casati PROJETO GRÁFICO E DESIGN ADAPTADO: EW21 Propaganda A revista Gerência de Riscos e Seguros não se responsabiliza pelo conteúdo de nenhum artigo ou trabalho assinado por seus autores, e o fato de publicá-los não implica concordância ou identificação com os trabalhos expostos nesta publicação. É proibida a reprodução total ou parcial dos textos e ilustrações desta revista sem a autorização prévia do editor. 4 Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 SEGUNDO QUADRIMESTRE 2014 índice Obs.: Versão brasileira traduzida da edição original bilíngue (espanhol e inglês) da Revista Gerencia de Riesgos y Seguros, 3º Quadrimestre de 2014. 120 Entrevista 6 Diego Domínguez, Gerente Corporativo de Seguros da Prosegur “Tentamos fazer programas de seguro eficientes ao máximo possível, sempre enfocando a estabilidade no futuro” Estudos O seguro baseado no uso: um novo conceito de produto segurador MANUELA ALCAÑIZ ZANÓN, MERCEDES AYUSO GUTIÉRREZ, ANA M. PÉREZ-MARÍN................................................................... 14 O mercado de microsseguros na Espanha: possibilidades para a sua implantação MARÍA PÉREZ MARTÍN................................................................... 24 Reflexões sobre a Gerência de Riscos FRANÇOIS SETTEMBRINO............................................................... 34 Notícias 42 Atividades da AGERS no último trimestre de 2014. Congressos da IGREA Sobre Mercado de Seguros na América Latina e Tendências de Mercado. A FERMA pede para renovar a isenção por categorias no REC para grupos res(seguradores). Comemoração do 40º aniversário da FERMA. Agenda 2014 49 Livros 50 Caderno Nacional 56 Cristiane Alves, Presidente da ABGR Pulso firme na gestão de riscos Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 5 entrevista “Tentamos fazer programas de seguro eficientes ao máximo possível, sempre enfocando a estabilidade no futuro e a consolidação em todos os países” A atividade da Prosegur está diretamente relacionada ao risco, tanto que, de acordo com Diego Domínguez, “se não tivéssemos um sistema de Gerência de Riscos dentro da empresa, dificilmente poderíamos fornecer estes serviços”. Seu desafio é responder ao ambiente em mudança. “A Prosegur está crescendo rápida e continuamente, e isto requer que sejam desenvolvidos programas de seguros e que eles evoluam conforme as necessidades do negócio e os objetivos da empresa”, diz ele. Diego Domínguez GERENTE CORPORATIVO DE SEGUROS DA PROSEGUR Texto: ALICIA OLIVAS Fotos: ALBERTO CARRASCO 6 Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 7 estudo A Prosegur é uma das principais multinacionais do setor de segurança privada, com quase quarenta anos de experiência. Em sua opinião, de que forma a Gerência de Riscos contribuiu para o que a empresa é hoje? Na Prosegur nossa atividade está relacionada ao risco. Temos três linhas de negócio: Vigilância, Logística de Valores e Gerenciamento de Dinheiro e Tecnologia, que engloba nossos serviços de alarme. Estas três atividades estão diretamente relacionadas ao risco, de modo que, se não tivéssemos um sistema de Gerência de Riscos dentro da empresa, não poderíamos realizar estes serviços de forma correta. 8 Esta relação com o risco significa que os clientes nos transferem responsabilidades, e isso é uma garantia que precisamos ter dentro da empresa para que nossos programas sempre apoiem ou garantam essas responsabilidades. “ESTA EMPRESA ESTÁ TÃO LIGADA AO RISCO EM SUA ATIVIDADE QUE TODOS NA ORGANIZAÇÃO PRECISAM ESTAR CIENTES DISTO” Quais áreas e divisões da Prosegur estão envolvidas no “gerenciar” os riscos? No quadro organizacional da empresa existe a Área de Segurança e Riscos, que, por sua vez, se divide em duas áreas: a Área de Segurança e Intervenção, cujo objetivo básico é a identificação, o controle e o acompanhamento dos riscos operacionais, e a Área de Gerência de Seguros, onde, Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 com o apoio direto da área anterior, decidimos a melhor estratégia de transferência de riscos, para o mercado ou por outros mecanismos de transferência: retenções, franquias, cativas e autosseguro. A Área de Segurança e Riscos é corporativa, ou seja, ela estabelece as políticas e os procedimentos em todo o mundo tanto para a identificação, controle e monitoramento quanto para a transferência do risco, a fim de que estas normas e procedimentos sejam implantados igualmente em todos os países. Então esta área dispõe de pessoal em cada um dos países onde a empresa está estabelecida? É isso mesmo. No total, a Área de Segurança e Riscos consiste de mais de 80 pessoas, parte delas alocadas para trabalhar em todos os países onde estamos presentes e a outra parte na matriz, e elas sempre dependem hierarquicamente da área corporativa, independente de sua localização física. A Prosegur está presente em 17 países e em cada um deles há uma estrutura que equivale àquela que existe no escritório corporativo. CULTURA DO RISCO Vocês estão conseguindo criar uma verdadeira consciência do risco no cotidiano da organização? Com certeza. Esta empresa está tão ligada ao risco em sua atividade que todos na organização precisam estar cientes disto, desde o Departamento Comercial, que é o que o cliente vê, o primeiro contato e também o principal seletor do risco e o que nos ajuda a identificar os riscos na gerência sênior. Todos devem estar conscientes de que somos uma empresa ligada ao risco. Portanto, isso é algo que precisa ser abordado e é uma mensagem que a cultura da empresa está assimilando. Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 “DEVEMOS ESTAR SEMPRE UM PASSO À FRENTE DAS NECESSIDADES E GARANTIR QUE AS POLÍTICAS E OS PROGRAMAS CORPORATIVOS SEJAM ADEQUADOS” Oferecer serviços de segurança significa que o cliente transfere seus próprios riscos para a Prosegur. Como vocês enfrentaram este desafio? Esta é uma das grandes diferenças entre nós e outras empresas. Em primeiro lugar, temos de assegurar nosso próprio ativo imobilizado para o nosso pessoal (150.000 funcionários), mas também as responsabilidades que os clientes transferem para nós. A única forma de fazê-lo é tendo uma boa Gerência de Riscos, com normas e procedimentos estabelecidos em nível corporativo e implementados localmente. Também é importante que haja clareza no tocante à transferência de riscos, sempre tendo em mente o objetivo da empresa. A Prosegur está presente em 17 países em quatro continentes. Como a dimensão internacional da empresa impacta a Gerência de Riscos? Atuar em 17 países em quatro continentes significa trabalhar com visões culturais diferentes. Há países onde a Prosegur já era uma empresa reconhecida e outros onde começamos do zero e tivemos que trazer a nossa cultura conosco. Isso afeta o cotidiano, ou seja, pouco a pouco estas políticas e procedimentos são implementados para que todos os países se sintam cada vez mais “Prosegur” e para que todos nós estejamos cada vez mais seguindo a mesma cartilha. Como área corporativa de seguros, trabalhamos para integrar os riscos e as apólices, os riscos existentes e os novos de cada um dos países em nosso programa corporativo. Quais são os pilares da estratégia da Prosegur para os próximos anos e qual será a abordagem da Gerência de Riscos? O plano para os próximos anos continua sendo muito parecido com o dos anos anteriores: continuar crescendo como 9 entrevista empresa e continuar desenvolvendo os serviços tradicionais de Transporte ou Logística de Valores e Gerenciamento de Dinheiro, Vigilância e Tecnologia, Alarmes... Mas também se contempla o desenvolvimento de novos produtos como, por exemplo, no campo da segurança cibernética e novas soluções de gestão de dinheiro. Este plano também acarreta um desafio: devemos estar sempre um passo à frente das necessidades e garantir que as políticas e os programas corporativos sejam adequados e possam se adaptar a essas novas necessidades. OS RISCOS Quem são os responsáveis pela identificação, controle e acompanhamento dos riscos da empresa na Espanha e nos países onde vocês estão presentes? A Área de Segurança e Riscos tem como função principal identificar, controlar e monitorar os riscos operacionais da empresa. Após a conclusão deste estudo, ela estabelece as normas e políticas para que a Gerência de Riscos seja aplicada da mesma forma em todos os países. A Área de Seguros complementa a parte de análise, identificação e acompanhamento com a transferência, e assim chegamos ao que é o conceito de Gerência de Riscos. Poderia falar um pouco sobre seu Mapa de Riscos? A Prosegur tem um Mapa de Riscos que é atualizado anualmente e inclui todas as áreas de negócio da empresa (Logística de Valores, Vigilância, Tecnologia e Alarmes) e as áreas de apoio, e a avaliação é feita tanto no âmbito corporativo quanto por país. Sua atualização e seus 10 “NÃO ME ATREVERIA A DIZER QUE UMA LINHA DE NEGÓCIO ESTÁ MAIS EXPOSTA QUE OUTRA, PORQUE O TRATAMENTO DO RISCO DEVE SER O MESMO” resultados fornecem ao departamento de Auditoria Interna uma ferramenta-chave para realizarem seu trabalho. Isto permite a identificação e a avaliação de riscos que são cruciais para o negócio da Prosegur, o conhecimento de riscos assumidos que devem ser monitorados e a definição de controles que atenuam o impacto associado à materialização dos riscos para a elaboração do planejamento anual de auditoria interna. Por outro lado, no processo de atualização anual do Mapa de Riscos são identificados e priorizados os piores, e seu gerenciamento é avaliado regularmente pelo Comitê Corporativo de Riscos. Que áreas de negócio da Prosegur concentram o maior número de ameaças? Como Área de Seguros e com a responsabilidade pela transferência de riscos, as três áreas apresentam ameaças, e eu não me atreveria a dizer que uma linha de negócio está mais exposta que outra, porque o tratamento do risco deve ser o mesmo. São três atividades cujos riscos, se não forem bem transferidos, podem afetar a conta de resultados; portanto, seus riscos devem ser tratados com a mesma importância. É verdade que existem duas atividades, a Vigilância e o Transporte de Fundos, que, por representarem um volume maior de negócios que as demais, obviamente geram uma frequência de riscos maior. Portanto, há um impacto maior dessas duas do que da Tecnologia, embora seja verdade que a ameaça está presente neste ramo de negócio também, e o risco é constante. Em suma, quais são os riscos que mais lhe preocupam? Nós nos preocupamos com o risco Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 operacional, e este é o tipo de risco em que focamos como Área de Seguro. Portanto, eu diria que este é o tipo de risco que mais nos preocupa. Primeiro, porque está numa área em que podemos ter um impacto e, segundo, porque, devido às características desta empresa, se os clientes transferem seus riscos para nós, no fim das contas é aí que nós temos de nos concentrar. TRANSFERÊNCIA E RETENÇÃO DOS RISCOS Qual é a política da Prosegur para a transferência e a retenção dos riscos? Que papel vocês dão ao seguro? O seguro desempenha um papel fundamental. A transferência nos ajuda a mi- “A TRANSFERÊNCIA NOS AJUDA A MINIMIZAR OS IMPACTOS NA CONTA DE RESULTADOS. ELA É, PORTANTO, DE VITAL IMPORTÂNCIA” nimizar os impactos na conta de resultados. Ela é, portanto, de vital importância. Nós temos uma política de cobertura de 100% e de arriscar o mínimo possível. Aplicamos uma estratégia de retenção equilibrada e eficiente após determinarmos os níveis de franquia que podemos assumir sem prejudicar os objetivos da empresa. Também estudamos alternativas de transferência de riscos, para não transferi-los para o mercado. Um exemplo seriam as transferências para fundos de autosseguro, como temos na Austrália, ou para cativas. Quais são as principais características de seus programas de seguros? Os riscos de maior impacto são cobertos por programas de seguros corporativos, cuja ideia é que todos os países estejam sob a mesma cobertura. Tentamos fazer programas de seguros eficientes ao máximo possível, sempre enfocando a estabilidade no futuro e a consolidação em todos os países. Outra característica é a sua capacidade de desenvolvimento, ou seja, que os programas de seguros não sejam estáticos, mas sim evolutivos, capazes de assumir as necessidades futuras da empresa. Vocês estão encontrando dificuldades no mercado de seguros para alguns riscos? Quais? Eu não diria dificuldades, mas, sim, estamos começando a ver que, com a tendência de mudança que há nos riscos, o futuro das companhias de seguros deveria se abrir para a subscrição multilinha. Estou falando de conseguir cobrir várias linhas de seguro com uma única apólice. Este é um assunto que está muito parado na subscrição atual do mercado. Há poucas opções de empresas capazes de oferecer um produto Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 11 entrevista “guarda-chuva”, que cubra Responsabilidade Civil com Danos e outros produtos: Marítimo, Transporte, etc. A realidade é que na Prosegur os riscos evoluem, e um risco pode estar vinculado a várias linhas em uma companhia de seguros. Por esta razão, muitas vezes a opção mais desejável seria uma apólice multilinha, mas hoje em dia isso é complicado. O que um gerente de riscos procura em suas seguradoras? Em primeiro lugar, que seja uma companhia capaz de entender as necessidades do cliente, ou seja, que se reúna com o segurado e entenda seu projeto e suas necessidades. Depois vem a capacidade de subscrição: a seguradora precisa ter visão ampla para poder entender que a subscrição como é feita hoje pode ser limitada ou mais complexa e, portanto, oferecê-la separadamente ao invés de em “pacotes” de produtos. Em terceiro lugar, eu procuraria uma seguradora com experiência, uma companhia em que os subscritores e os corretores saibam o que estão fazendo e sobre o que estão falando. Por fim, solvência e presença internacional também são dois aspectos da maior importância. “OS RISCOS DE MAIOR IMPACTO SÃO COBERTOS POR PROGRAMAS DE SEGUROS CORPORATIVOS” A Prosegur agora está apostando em uma nova linha de negócio, a segurança cibernética, que é cem por cento tecnologia. Fazemos análises de empresas, de seus sistemas de segurança, de seus sistemas de computação, de suas fraquezas, etc. Temos nos concentrado nesta área e acreditamos que a tecnologia seja o futuro. Você acha que na Prosegur vocês também são inovadores no gerenciamento de riscos? Eu diria que somos pioneiros no setor, dada a especificidade da nossa atividade. Além disso, nossa Gerência de Riscos é muito bem vista pelo mercado de SEGURANÇA E GERÊNCIA DE RISCOS Qual é o papel da tecnologia na segurança do futuro? Um papel muito importante. O desenvolvimento do produto está ligado às novas tecnologias. Existe o produto tradicional, que é o que já temos atualmente, mas é claro que é preciso desenvolver novos produtos, e sem tecnologia eles não fazem sentido. 12 Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 seguros. Não se trata de sermos ou não inovadores, e sim de darmos a máxima importância a esta questão, que é o que fazemos. “OS GERENTES DE RISCO PRECISAM MUDAR SEU JEITO DE FAZER AS COISAS, PORQUE ESTAMOS Olhando para o futuro, quais são as tendências que o sr. identifica na Gerência de Riscos e no papel dos gerentes? EM UM AMBIENTE DE MUDANÇAS” obrigando a ser cada vez mais criativos e, por outro, os gerentes de risco precisam mudar seu jeito de fazer as coisas, porque estamos em um ambiente de mudanças. Os riscos tradicionais já estão claros, e nós já os identificamos, mas estão surgindo novos riscos, o que nos obriga a prestar atenção e a encontrar soluções novas continuamente. Gostaria de salientar dois pontos. Por um lado, a evolução dos riscos está nos “PRECISAMOS ENFRENTAR AS NECESSIDADES FUTURAS E PERMANECER DOIS PASSOS À FRENTE” Depois de se formar em Administração de Empresas em 2002, Diego Domínguez junta-se à MAPFRE Industrial, onde ficou por cinco anos. Após uma fase na Área Internacional da Willis em 2007, chega à Prosegur para trabalhar no Departamento Corporativo de Gerência de Seguros, do qual é diretor desde 2013. A principal função da área que dirige é “desenvolver a estratégia de asseguramento do grupo, ou seja, em nosso departamento, uma vez identificados os riscos, decidimos a melhor forma de transferi-los para o mercado ou buscamos alternativas de transferência, sempre de acordo com os objetivos da empresa”, observa Domínguez. Para realizar este trabalho com êxito, em sua opinião o fator-chave é ter uma boa equipe. “Neste momento, o Departamento de Seguros possui cerca de 20 pessoas, todos elas especialistas em seguros”. Outro elemento de suma importância é “ter o apoio da empresa e da gerência sênior para a nossa estratégia”. Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 Até agora, uma de suas maiores realizações na Prosegur foi “o desenvolvimento e a consolidação de programas de seguros”. O negócio de seguros se encontra “em um ambiente de grandes mudanças, que está crescendo com muita rapidez, e isto requer que os programas de seguros sejam desenvolvidos e evoluam conforme as necessidades do negócio e os objetivos da empresa. Eu diria que o sucesso existirá se esses programas forem capazes de adotar essas novas perspectivas e se considerarmos a consolidação em todos os países onde estamos”. Este contexto em constante evolução no campo da Gerência de Riscos também constitui um grande desafio para ele. “Precisamos enfrentar as necessidades futuras e permanecer dois passos à frente, de forma que os programas corporativos e as apólices de seguros sempre estejam adequados para a cobertura necessária e para que possamos dar a solução para o negócio e minimizar todos os impactos na conta de resultados”, conclui. 13 estudo O SEGURO baseado no uso O seguro de automóvel Pay-As-You-Drive (PAYD, ou “Pague conforme você dirige”), comercializado em vários países, se transformou numa referência básica para um novo produto segurador: o seguro baseado no uso. Este documento inclui a análise da literatura disponível sobre isso e um estudo empírico e, a partir deles, demonstra a relação entre o uso e a sinistralidade e reflete sobre a aplicação de produtos baseados no uso não só no seguro de automóvel, mas nos seguros em geral. MANUELA ALCAÑIZ ZANÓN MERCEDES AYUSO GUTIÉRREZ ANA M. PÉREZ-MARÍN RISKCENTER UNIVERSIDADE DE BARCELONA O seguro Pay-As-You-Drive (PAYD, ou “Pague conforme você dirige”) é um novo conceito em seguro de automóvel comercializado em vários países. Ele também é conhecido como “seguro baseado no uso”, porque o prêmio é determinado em função da quilometragem do veículo, além das características tradicionais de risco usadas na taxação. O cálculo dos prêmios considera outras variáveis que caracterizam o padrão de condução do segurado, como excesso de velocidade, o tipo de vias e o horário em que ele circula com mais frequência. Desta forma, é possível oferecer a cada tipo de motorista um seguro de automóvel mais personalizado. Em última análise, 14 aqueles que usam mais o veículo pagarão um prêmio maior, porque têm maior exposição ao risco de acidente. Não há dúvida de que elaborar este tipo de produto é um processo complicado, ainda mais que há pouca literatura relevante e pouquíssima estatística. Este trabalho, então, teve três objetivos principais. Primeiro, fizemos uma ampla análise da literatura sobre o assunto; segundo, refletimos sobre como estender a idéia do seguro baseado no uso para outros produtos de seguros que não o de automóvel; e, em terceiro e último lugar, por meio de um estudo empírico, constatamos a importância dos fatores associados ao uso como explicativos da sinistralidade para segurados que contrataram apólices PAYD. O trabalho está dividido da seguinte forma: a seção 1 contém uma descrição dos diferentes comportamentos ao volante e sua associação com um risco maior de acidentes; Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 na seção 2 descrevemos como funcionam os sistemas de taxação no seguro PAYD; a seção 3 traz nossas considerações sobre como transferir este novo conceito de seguro para outros produtos além do seguro de automóvel; a seção 4 contém os resultados da aplicação empírica, e a última seção apresenta as conclusões deste estudo. 1. Conduta ao volante e risco de acidente Diversos autores, incluindo Rice et al. (2003), Jun et al. (2007), Laurie (2011), Litman (2005, 2011) e Williams et al. (2012), mostram a influência que os fatores associados ao uso têm na sinistralidade. Mais Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 especificamente, fica claro que o número de quilômetros rodados tem uma relação direta com a exposição ao risco e com a probabilidade de um acidente. Além disso, autores como Litman (2005) e Langford et al. (2008) concluem que esta relação não é proporcional, dado que os motoristas que usam mais o veículo tendem a ter menos acidentes por unidade de distância percorrida que aqueles que o utilizam menos. No que diz respeito à velocidade, fica evidente sua relação com a gravidade dos acidentes que podem ocorrer (OMS, 2004; Jun et al., 2007, 2011). Mais especificamente, Elvik et al. (2004) concluem que há uma forte associação estatística entre velocidade e sinistralidade viária: se a velocidade média do tráfego 15 estudo diminuir em 10 por cento, o número de mortos em acidentes cai 37,8% (com base em dados da Suécia e Noruega). Da mesma forma, também se constata que o tipo de via por onde o veículo circula com mais frequência está associado com o risco de um acidente acontecer. Mais especificamente, as vias urbanas foram identificadas como as mais perigosas em diversos estudos. Para exemplificar, Laurie (2011) determinou que a taxa de acidentes em vias urbanas na Grã-Bretanha é 8,26 vezes maior que nas estradas. Akerstedt et al (2001) estudaram a probabilidade de um acidente acontecer em função dos diferentes horários (com base em dados da Suécia). Para os acidentes em que não houve o fator excesso de álcool no sangue, o momento de maior perigo é por volta das 4 da manhã, horário em que há 5,7 vezes mais chance de se ferir num acidente e 11,4 vezes mais de morrer. Além disso, o risco de acidente também é influenciado pelos dias em que o motorista usa seu veículo com mais frequência. Para exemplificar, o perigo aumenta entre motoristas jovens nas noites do fim de semana e mais ainda se eles estiverem dirigindo um veículo de grande potência (conforme constataram Doherty et al., 1998 e Williams et al., 2012). A sinistralidade também está ligada à razão pela qual se usa o veículo. Em termos mais específicos, Elias et al. (2010) estudaram o tipo de atividade diária e os padrões de deslocamento dos motoristas (com base em dados de Israel) e concluíram que as pessoas que usam o veículo para ir para o trabalho, embora também façam outras atividades aproveitando os trajetos, têm menos chance de sofrer sinistros que as que usam o veículo para atividades que não sejam ir trabalhar ou estudar. Desta forma, demonstrou-se que o risco de acidente é maior em trajetos que não têm uma finalidade específica. Outra variável que descreve o padrão de condução é o número de freadas ou desacelerações bruscas de um motorista. Conforme concluíram 16 Jun et al. (2007), este acaba sendo outro fator que ajuda a explicar a sinistralidade. Este efeito é especialmente importante em deslocamentos matinais por qualquer via e em deslocamentos noturnos nas estradas locais. Nesses casos não costuma haver congestionamento nas vias de circulação, de modo que isso poderia gerar um descuido na distância de segurança, além de outras distrações causadas pelo uso de telefones celulares, etc. (de acordo com Farmer et al., 2010). Além disso, também verificou-se que a comercialização das apólices PAYD provoca mudanças nos hábitos de condução dos segurados, pois eles são estimulados a reduzir sua exposição ao risco para, assim, se beneficiar com um prêmio menor (Bolderdijk et al., 2011). Além disso, este sistema de taxação torna o seguro mais acessível, o que ajuda a reduzir o número de veículos que circulam sem seguro. Os efeitos positivos da coGerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 mercialização das apólices PAYD vão mais longe (Peña, 2007), dado que, ao incentivar uma menor utilização do veículo, consegue-se reduzir o número total de quilômetros rodados, a sinistralidade, problemas de congestionamento do trânsito, os gastos públicos com a manutenção das estradas e até mesmo os problemas causados pela poluição (Parry, 2004, 2005). 2. Os guro sistemas de taxação para o se- PAYD Litman (2011) dividiu os sistemas de taxação aplicáveis às apólices PAYD em três tipos. O primeiro, chamado Fator Taxa de Quilometragem (MRF), considera a quilometragem anual do segurado como uma variável a mais na composição do preço e oferece descontos para os segurados que dirigem menos que um determinado número de quilômetros por ano. O problema deste sistema é que ele se baseia na estimativa da quilometragem anual declarada pelo próprio segurado, que pode reduzir este número. No segundo tipo de sistema, chamado Prêmio por Quilômetro (PMP), atribui-se aos segurados um taxa por unidade de distância percorrida, com base nas variáveis atuariais tradicionais usadas para a taxação do seguro de automóvel. A principal desvantagem deste sistema está em como medir e controlar a distância percorrida por cada veículo (Guensler et al., 2003). Na maioria a medição é feita pelo odômetro, condição que pode levar a fraude pelo usuário, se o aparelho for adulterado. Finalmente, o desenvolvimento tecnológico de hoje oferece a possibilidade de controlar o uso do veículo e os hábitos de condução de forma objetiva. Assim, surge o terceiro tipo de sistema, baseado no GPS, que permite estabelecer uma taxa por quilômetro rodado, levando também em con- sideração o tipo de via, o horário de condução, a porcentagem de excesso de velocidade de acordo com o tipo de via e até mesmo as desacelerações bruscas. Este tipo de sistema é o mais utilizado atualmente e é oferecido como opcional, sempre que houver o consentimento do segurado para a instalação de um GPS. 3. O seguro baseado no uso além do seguro PAYD Após analisar a literatura existente, fica claro que o seguro PAYD é a aplicação básica do seguro baseado no uso e que não se contemplam possíveis usos em outros produtos de seguros. Este é o segundo objetivo deste trabalho. Nesta seção discutiremos como conceber produtos baseados no uso no campo de seguros em geral. Neste contexto, o primeiro exemplo de fatores baseados no uso nos seguros em geral (além do PAYD) é o seguro residencial. Este tipo de seguro estabelece a distinção entre a residência habitual e a segunda residência para determinar o prêmio, o que é um claro exemplo de fator associado ao uso. E é possível estender essa ideia para outros produtos de seguros. Mais especificamente, no seguro de acidentes do trabalho podemos encontrar fatores associados à realização da atividade que podem ser levados em conta na taxação. Desta forma, incentivos para reduzir a sinistralidade no local de trabalho1 podem se refletir na deter- O Real Decreto espanhol 404/2010, de 31 de março, que regula a criação de um sistema de redução das quotizações por contingências trabalhistas para as empresas que exercem um papel de importância na redução e prevenção de acidentes de trabalho. 1 APÓS ANALISAR A LITERATURA EXISTENTE, FICA CLARO QUE O SEGURO PAYD É A APLICAÇÃO BÁSICA DO SEGURO BASEADO NO USO E QUE NÃO SE CONTEMPLAM POSSÍVEIS USOS EM OUTROS PRODUTOS DE SEGUROS Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 17 estudo minação do prêmio de qualquer tipo de seguro de acidentes do trabalho, inclusive os contratados por trabalhadores autônomos. Este é o chamado sistema bonus-malus no seguro de acidentes do trabalho (FUNDACIÓN MAPFRE, 2010). Nos seguros de acidentes do trabalho há uma série de fatores tradicionais associados ao tipo de atividade profissional realizada, que são classificadas em grandes grupos (agricultura, construção, etc.), às características do trabalho realizado dentro dessa profissão (por exemplo, no campo da construção, azulejista para altura inferior a 5 metros ou, no caso da agricultura, agricultor com condução de máquinas) e à idade do indivíduo. A estes poderiam se somar os fatores que estão diretamente relacionados com a forma em que o trabalho é feito, o que pode ter um impacto direto na sinistralidade declarada. Conhecer os hábitos e condutas do indivíduo no trabalho pode ser muito importante para calcular os prêmios de forma justa para os seguros de acidentes do trabalho. Existem fatores de comportamento que estão diretamente relacionados ao risco, mas muitas vezes são difíceis de medir. As medidas de prevenção de riscos podem ter uma influência significativa no risco de um acidente acontecer, e um seguro de acidentes deveria, em sua taxação, prever sistemas de validação destas medidas, que geralmente são negligenciadas. A questão é como a companhia seguradora faria para analisar a exposição ao risco quando se trata de um seguro de acidentes do trabalho. Embora num seguro PAYD o segurado concorde com a instalação de um GPS que permita que sejam feitos os controles sobre o tipo de condução, num seguro de acidentes do trabalho o segurado pode concordar com inspeções em suas atividades laborais sem que tenha que haver um sinistro para isso. Em outras palavras, são inspeções preventivas. Desta forma, ao contratar o seguro de acidentes do trabalho, o segurado pode concordar que a empresa verifique, de modo aleatório durante a vigência da apólice, se ele está seguindo determinadas normas de segurança no trabalho. Consentir com auditorias voluntárias (sem obrigação legal) é uma das opções contempladas na RD 404/2010 da Espanha. A exposição ao risco de sofrer um acidente no local de trabalho será reduzida com o cumprimento de qualquer uma ou com várias das exigências técnicas previstas no referido Decreto Real, como, por exemplo, aumentar os próprios recursos preventivos, implementar planos de segurança viária relacionados a atividades profissionais, reduzir o número de trabalhadores expostos a atividades profissionais e acompanhar de perto as taxas de acidentes no trabalho, considerando tanto o número de acidentes do trabalho relatados como sua gravidade. Por fim, no que diz respeito à cobertura do risco de acidentes no itinerário, é óbvio que o seguro de automóvel baseado no uso faz todo sentido. NOS SEGUROS DE ACIDENTES DO TRABALHO HÁ UMA SÉRIE DE FATORES TRADICIONAIS ASSOCIADOS AO TIPO DE ATIVIDADE PROFISSIONAL, ÀS CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO REALIZADO E À IDADE DO INDIVÍDUO. A ESTES PODERIAM SE SOMAR OS FATORES QUE ESTÃO DIRETAMENTE RELACIONADOS COM A FORMA EM QUE O TRABALHO É FEITO 18 Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 Tabela 1. Valores médios para motoristas com e sem sinistros. Sinistros Média (Desvio padrão) Nenhum sinistro Média (Desvio padrão) Idade do motorista (anos) 27,18 (3,10) 27,65 (3,09) Tempo de carta (anos) 6,73 (2,94) 7,27 (3,07) Idade do veículo (anos) 8,69 (4,11) 8,76 (4,19) Potência do veículo (hp) 98,36 (27,46) 96,98 (27,83) Variável 4. Análise empírica Em seguida, apresentamos os resultados da análise empírica realizada com uma amostra de uma companhia espanhola de 25.014 segurados jovens que contrataram uma apólice PAYD cuja vigência foi durante o ano todo de 2011. Sabemos que 17,6 por cento das apólices registraram algum sinistro e 82,4 por cento, nenhum. Mostraremos os resultados de uma análise descritiva tanto das variáveis tradicionais usadas na taxação dos prêmios quanto dos fatores associados ao uso do veículo. Para cada caso, faremos a distinção entre motoristas com e sem sinistros. Análise descritiva Em relação ao gênero, observamos como a porcentagem de homens é ligeiramente maior no grupo de segurados com sinistros (50,32 por cento) em comparação ao grupo sem sinistros (48,61 por cento). Além disso, a porcentagem de motoristas que estacionam seu veículo na garagem é um pouco maior para os motoristas com sinistros (78,17 por cento) do que para aqueles que não tiveram sinistros (77,21 por cento). A Tabela 1 mostra as médias das variáveis numéricas analisadas. Mais especificamente, verificamos que os motoristas com sinistros são em média um pouco mais jovens e mais inexperientes ao volante do que os que não tiveram sinistros. Além disso, a idade do veículo é em média praticamente a mesma para os motoristas com e sem sinistros. Por fim, com relação à potência Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 média do veículo conduzido, observa-se que ela é superior para os segurados com sinistros em comparação àqueles que não tiveram nenhum. Complementando, a quilometragem média anual foi maior para os motoristas com sinistros (7.962,36 km) em comparação com aqueles que não tiveram nenhum (6.987,86 km). Também foi mais alta a quilometragem média noturna para os segurados com sinistros (609,94 km) em comparação com os que não declararam nenhum sinistro (513,41 km). A Figura 1 mostra o perfil de condução dos motoristas com e sem sinistros. A porcentagem de circulação em vias urbanas é em média mais elevada entre os que tiveram sinistros em comparação com os que não tiveram (27,56 por cento vs. 25,51 por cento). Figura 1. Perfil de condução para motoristas com e sem sinistros. % Circulação noturna 6,85% % Excesso de velocidade 6,28% 7,16% 6,60% 25,51% % Circulação em vias urbanas 27,56% Sem sinistros Com sinistros 19 estudo Tabela 2 mostra os resultados da estimativa do modelo. Em seguida, analisamos o efeito de cada uma das variáveis sobre a probabilidade de sinistro. Podemos observar que, quanto mais experientes são os motoristas, menor é a probabilidade de sinistro. Além disso, os coeficientes associados aos grupos etários definidos não são significativos, provavelmente devido à alta correlação que existe entre a idade do motorista e o tempo de carta. No que diz respeito à potência do veículo, nossos resultados indicam que uma potência maior aumenta a probabilidade de sinistro. Por outro lado, nem o gênero, nem o local de estacionamento, nem a idade do veículo afetam significativamente a probabilidade de sinistro. No que se refere às variáveis associadas ao uso Também podemos ver como, em média, os motoristas com sinistros ultrapassam os limites de velocidade em maior medida que aqueles sem qualquer sinistro (6,60 por cento vs. 6,28 por cento). Por último, em média a porcentagem de circulação noturna (km noturnos sobre o total de km rodados) é superior para os motoristas que tiveram sinistros (7,16 por cento) em comparação com aqueles que não tiveram nenhum (6,85 por cento). Resultados da modelização Ajustamos um modelo de regressão logística para a previsão da probabilidade de sinistro em função das variáveis tradicionais usadas na taxação e os novos fatores associados ao uso do veículo. A Tabela 2. Resultados estimados do modelo de regressão logística Constante Idade 25-28 Idade ≥ 29 Masculino Tempo de carta do motorista segurado Idade do veículo segurado Potência do veículo segurado Estacionamento: garagem Número de quilômetros rodados por ano Número de quilômetros noturnos rodados no ano Quilômetros noturnos: entre 11 e 20% do total Quilômetros noturnos: entre 21 e 30% do total Quilômetros noturnos: mais de 30% do total Porcentagem de excesso de velocidade: entre 0 e 2% Porcentagem de excesso de velocidade: entre 3 e 5% Porcentagem de excesso de velocidade: entre 6 e 11% Porcentagem de circulação em vias urbanas Odds ratio Coef. Erro Padrão valor-p (razão de chances) -2,487 -0,037 -0,034 -0,035 -0,060 0,005 0,003 0,031 7,8e-5 5,5e-5 -0,115 -0,189 0,088 -0,150 -0,004 0,049 0,020 0,128 0,047 0,059 0,036 0,008 0,004 0,001 0,041 5,7e-6 4,4e-5 0,057 0,123 0,227 0,056 0,054 0,054 0,001 0,000a 0,436 0,563 0,329 0,000a 0,205 0,000a 0,451 0,000a 0,212 0,042b 0,123 0,699 0,007a 0,943 0,368 0,000a 0,083 0,964 0,967 0,966 0,941 1,005 1,003 1,032 1,0001 1,0001 0,891 0,828 1,092 0,861 0,996 1,050 1,020 Categorias de referência: idade (≤ 24 anos); gênero (feminino); estacionamento (vias públicas); porcentagem de quilômetros noturnos em comparação com o total (0 - 10%); porcentagem de excesso de velocidade acima do limite permitido (≥ 12%). Qui-quadrado: 608,932 (valor-p = 0,000); -2log-verossimilhança: 22677,913; graus de liberdade: 16. a significância a 1%; b significância a 5%. 20 Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 em comparação com a categoria de referência (excessos de velocidade acima de 11 por cento). CONCLUSÕES do veículo, observamos que, à medida que aumenta a quilometragem, aumenta a probabilidade de sinistro. Da mesma forma, uma maior porcentagem de circulação por vias urbanas está significativamente associada a uma maior probabilidade de sinistro. Com relação ao horário de condução, a probabilidade de sinistro para os que dirigem entre 11 e 20 por cento dos quilômetros à noite é menor que a probabilidade de sinistro para os que dirigem menos à noite. Da mesma forma, dirigir mais de 20 por cento dos quilômetros à noite não está associado a uma sinistralidade significativamente maior. Isso provavelmente se deve a uma taxa maior de sinistros entre os indivíduos que não dirigem à noite com frequência, só em ocasiões específicas. Por fim, no que diz respeito à velocidade, podemos ver que os segurados que ultrapassam os limites de velocidade em no máximo 2% são aqueles que têm menor probabilidade de sinistro. Quando o excesso de velocidade passa desse limite, não se observam diferenças significativas na sinistralidade Concluindo, podemos dizer que o seguro de automóvel PAYD representa a mudança para um novo conceito de produto de seguro: o baseado no uso. A partir da análise da literatura existente e do estudo empírico realizado, constatamos que existem evidências sobre a relação entre o uso e a sinistralidade. Além disso, neste trabalho estendemos a ideia de seguro baseado no uso para tipos de apólice além da do seguro de automóvel, como o seguro residencial (em que já existe a distinção entre domicílio habitual e segunda residência) ou mesmo o seguro de acidentes do trabalho (em que o conhecimento dos hábitos do indivíduo em seu trabalho diário pode ser considerado no cálculo dos prêmios, além de cobrir o risco de acidente no itinerário, razão pela qual o seguro de automóvel baseado no uso se aplicaria). Acreditamos que nos próximos anos o conceito de seguro personalizado pode se consolidar como uma nova tendência em taxação, tendo como referência básica o seguro baseado no uso. Estudos como os realizados neste trabalho podem ser relevantes para se enfrentar os novos desafios do setor de seguros e da ciência atuarial. Este artigo foi extraído do trabalho cuja pesquisa recebeu um auxílio. Sua versão integral pode ser baixada do site www.fundacionmapfre.org (Cuaderno 199 El seguro basado en el uso). NOS PRÓXIMOS ANOS O CONCEITO DE SEGURO PERSONALIZADO PODE SE CONSOLIDAR COMO UMA NOVA TENDÊNCIA EM TAXAÇÃO, TENDO COMO REFERÊNCIA BÁSICA O SEGURO BASEADO NO USO Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 21 estudo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS —Akersted,T., Kecklund, G., Hörte, L.G. (2001) Night Driving, Season, and the Risk of Highway Accidents. Sleep, 24, 4. —Bolderdijk, J.W., Knockaert, J. Steg, E. M. e Verhoef, E.T. 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Carreteras, 54, 156/Nov-Dic. —Real Decreto 404/2010, de 31 de marzo, por el que se regula el establecimiento de un sistema de reducción de las cotizaciones por contingencias profesionales a las empresas que hayan contribuido especialmente a la disminución y prevención de la siniestralidad laboral, Ministerio de Trabajo e Inmigración, BOE de 1 de abril de 2010. —Rice,T. M., Peek-Asa, C. e Kraus, J.F. (2003) Nighttime driving, passenger transport, and injury crash rates of young drivers. Injury Prevention, 9, 3, 245250. —Williams, A. F.,West, B.A. e Shults, R.A. (2012) Fatal crashes of 16- to 17-year-old drivers involving alcohol, nighttime driving, and passengers. Traffic Injury Prevention, 13, 1, 1-6. Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 DICIONÁRIO MAPFRE DE SEGUROS Definições de 6.000 palavras e termos relacionados com seguro e gerência de riscos com sua tradução equivalente em inglês. Consultas gratuitas e interativas online: www.diccionariomapfredeseguros.com Mais de um milhão de consultas em 2013. Para mais informações: +34 91 602 52 21 www.fundacionmapfre.org Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 23 estudo Microsseguros na Espanha: a corrida já começou! A nova configuração da sociedade espanhola decorrente da crise possibilita a introdução de produtos inovadores, como os microsseguros, que já existem nos países em desenvolvimento. Este documento analisa as oportunidades que este novo mercado oferece e as características que os microsseguros precisam ter para poderem ser implementados na Espanha, e apresenta alguns exemplos. MARÍA PÉREZ MARTÍN ATUÁRIA AVALON NETWORKING E instein dizia que as crises são uma bênção tanto para as pessoas quanto para os e países, já que trazem progresso. E se a verdade não for esta, precisamos fazer com que seja. Não temos alternativa. Esta crise deixou claro que precisamos nos reinventar, buscar produtos sustentáveis e admitir que é vital que a maioria da população seja de classe média; caso contrário, não há mercado. E sem mercado, o sistema que temos fica insustentável. O que se observa atualmente é que a base da pirâmide está cada vez maior, porque está ocorrendo uma transferência de massa populacional da classe média para as classes de baixa renda. 24 É, portanto, crucial que as partes interessadas (instituições públicas e privadas) planejem ações que conduzam à inovação de produtos. Estes produtos devem não só fornecer um bem-estar (atual ou futuro) à classe média, mas também ajudar a aumentar o número de pessoas nesta classe, oferecendo opções de poupança e de seguro que permitam que pessoas de baixa renda aumentem seu poder aquisitivo, sem ficarem sujeitas a riscos que as coloquem no limiar da pobreza ou que as distanciem ainda mais da classe média. Para as pessoas entre a linha da pobreza e as classes mais baixas, existe um novo conjunto de produtos financeiros chamados “micro”: microsseguros e microcrédito, ou, de modo geral, microfinanças. Mais especificamente, os microsseguros estão sendo aplicados em países Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 ILLUSTRATION STOCK em desenvolvimento há algumas décadas. O objetivo é tentar quebrar o ciclo da pobreza, reduzir a vulnerabilidade das pessoas de baixa renda e ser um de instrumento condutor para que essas pessoas possam desenvolver e controlar seus próprios bens e sua receita, para que elas não dependam mais (ou ao menos não unicamente) de auxílios e bolsas, para que elas Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 possam se valer de instrumentos que lhes permitam trabalhar com suas próprias economias, ao invés de depender de doações, empréstimos ou assistência governamental ou de ONGs, ou até mesmo ser vitimadas por usurpadores. Tomemos, por exemplo, os quatro casos expostos por Carlos Ruano Espi em sua tese Invitación al microseguro (“Convi25 estudo FALA-SE MUITO DESTE TIPO DE PRODUTO COMO UMA MEDIDA PREVENTIVA EM CASO DE DIFICULDADES PESSOAIS APÓS DESASTRES NATURAIS, COMO O TUFÃO HAYAN NAS FILIPINAS, OU EVENTOS LIGADOS ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 26 te ao microsseguro”)[1]: a La Equidad na Colômbia e a AIG em Uganda, com microsseguros de vida, três seguros de saúde na Índia, dois casos de microsseguro multirrisco na França e dois casos de microsseguro agrário de tipo paramétrico. Estes exemplos incluem vários ramos de seguro de vida e não vida. Devido à sua proximidade da Espanha, examinaremos um pouco mais os casos de microsseguros no país vizinho. Conforme descrito neste artigo, houve um acordo de colaboração entre duas companhias de seguros e uma instituição de caridade dedicada ao microcrédito. O acordo era oferecer um seguro multirrisco às pessoas que estivessem começando seu negócio em casa e um seguro multirrisco para as pessoas que tivessem um local para seu novo negócio a menos de um euro por dia, com o valor adicional necessário para estes produtos e um serviço de acompanhamento durante os três primeiros anos, ao final dos quais se propunha passar para o seguro tradicional. Mas esta proposta da AXA, MACIF e ADIE não é a única. O Entrepreneurs de la Cité oferece produtos similares. Em ambos o acompanhamento e o aconselhamento no início da atividade são cruciais para oferecer apoio e orientar os novos negócios a adotarem uma boa estratégia de marketing. Fala-se muito deste tipo de produto como uma medida preventiva em caso de dificuldades pessoais após desastres naturais, como o Tufão Hayan nas Filipinas, ou eventos ligados às mudanças climáticas. Em 16 de novembro de 2013, Francisco Javier Garaoya, em um dos muitos conteúdos sobre microsseguros que há em seu blogue El microseguro inclusivo, da Red Cumes (FUNDACIÓN MAPFRE), nos dizia em um artigo sobre mudanças climáticas e microsseguros como estes tinham atenuado as consequências desas- trosas de uma seca na Etiópia, na forma de um microsseguro agrário paramétrico: “Como exemplo de um programa bem sucedido, é preciso mencionar o caso da seca na Etiópia no ano passado. Quando os satélites registraram as condições de seca, mais de 12.000 agricultores receberam um total de 322.772 dólares (200.000 euros) em pagamentos por meio da Iniciativa de Resistência R4 Rural, um programa de microsseguro agrícola baseado em índices e adaptado às particularidades climáticas dos países em desenvolvimento[2]”. Temos, portanto, a chance de inovar com novos produtos para atingir um público maior e de desenvolvê-los para atender as políticas corporativas de responsabilidade social e de marketing social. E não se esqueçam de que isso envolve não só fornecer seguro para pessoas de baixa renda, mas também ajudá-las a atingir o limiar da classe média (expandindo, assim, o mercado tradicional), mitigando os danos e efeitos que certos Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 eventos causam em suas economias e que lhes obrigam a reduzir sua poupança atual ou futura devido a empréstimos (tanto no mercado como na família e com amigos). Estamos, então, falando de reverter as tendências sociais do momento. Esta é a base dos produtos microsseguradores mencionados anteriormente e que já podem ser encontrados na França. Estamos diante de um mercado imenso para produtos de seguros, onde a força dos grandes números age naturalmente e, portanto, onde se podem esperar ganhos. Mas esses ganhos não acontecerão no curto prazo. Dadas algumas peculiaridades deste mercado, a expectativa deve ser de perdas nos primeiros anos. A implementação destes produtos será lenta, já que ainda há um longo caminho adiante. Precisamos estudar bem o mercado para podermos determinar por quais necessidades as pessoas realmente estão dispostas a pagar um microprêmio. Precisamos gerar demanda. E, enquanto criamos um mercado, estamos assumindo riscos com pouca distribuição e alta probabilidade de antisseleção e fraude. No entanto, não podemos aplicar carregamentos ao prêmio como nos seguros tradicionais, uma vez que assim não conseguiríamos atrair o mercado-alvo. Em princípio, estes efeitos iniciais podem ser corrigidos, aliviados ou convertidos em investimento, se: As perdas iniciais forem assumidas via Responsabilidade Social Corporativa: Que investimento em políticas de RSC de uma companhia de seguros pode ser melhor que criar um produto de baixo custo para famílias de baixa renda? Começarmos criando microsseguros coletivos com subscrição obrigatória. “Este mecanismo limita as chances de antisseleção e perGerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 mite uma subscrição de riscos mais solvente” [3]. Criarmos alianças com instituições públicas ou organizações não-governamentais, como a DKW vem fazendo com a Fundación Tierra Nueva com microsseguros de saúde para as pessoas no sul de Quito (Equador). E não podemos esquecer as políticas de resseguro, cosseguro e outras formas de divisão de riscos. As primeiras companhias a estimular estes mercados suportarão os maiores riscos técnicos ou de subscrição e terão gastos maiores com a introdução do produto; no entanto, elas se tornarão as líderes deste grande mercado potencial. Tem-se, portanto, uma visão dupla do microsseguro: propulsor financeiro e oportunidade financeira. E, como aponta Craig Churchill[4], “independente de o microsseguro ser visto de uma perspectiva de proteção social ou como uma oportunidade de mercado, o corpo da estrutura do seguro e suas operações básicas serão em grande parte os mesmos”. Quando planejamos estes produtos para a Espanha, que não é um país em desenvolvimento, temos não só de aprofundar o produto, ver como ele se define e funciona nos países onde já se trabalha com ele, mas também redefinir certos aspectos para podermos encaixá-lo no sistema, situação e cultura atuais deste país. Discutir as diferentes medidas que existem para aproximar o conceito de pobreza ao campo numérico não é o objetivo deste artigo. Existem inúmeras definições e tipologias de pobreza, que dependem de ela ser medida em termos relativos ou absolutos, por unidades monetárias ou em porcentagens. Com base na definição que vemos em quase todos os estudos sobre microsseguros, ou seja, a definição do Banco Mundial – pobre é aquele que vive A IMPLEMENTAÇÃO DESTES PRODUTOS SERÁ LENTA, JÁ QUE AINDA HÁ UM LONGO CAMINHO ADIANTE. PRECISAMOS ESTUDAR BEM O MERCADO PARA PODERMOS DETERMINAR POR QUAIS NECESSIDADES AS PESSOAS REALMENTE ESTÃO DISPOSTAS A PAGAR UM MICROPRÊMIO 27 estudo PODEMOS PENSAR EM SISTEMAS BONUS-MALUS, SISTEMAS DE PARTICIPAÇÃO NOS RESULTADOS, RECOMPENSAS POR NENHUM SINISTRO, SERVIÇOS ADICIONAIS QUE AGREGUEM VALOR AO SEGURO, DE MODO QUE O CLIENTE SINTA QUE ESTÁ RECEBENDOOS CONFORME PAGA, E NÃO SE ACONTECER OU DEIXAR DE ACONTECER UMA SITUAÇÃO INESPERADA 28 com menos de 730 dólares norte-americanos por ano. Esta medida não pode ser aplicada à pobreza na Espanha. Aqui, o limiar de pobreza é medido conforme os critérios recomendados pela Eurostat e usando uma mediana estatística que não é sensível a extremos. Ele corresponde a 60 por cento desta medida. É uma medida relativa, que varia de acordo com a distribuição de renda no ano anterior, razão pela qual não é fixa (varia conforme variar a média, e esta, de acordo com a variação da distribuição de renda da população). De acordo com os dados provisórios de 2013 da Pesquisa Espanhola de Condições de Vida (ECV)[5] realizada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), na Espanha o limiar da pobreza para lares de uma pessoa está em 7.040 euros por ano (cerca de dez vezes mais que a definição do Banco Mundial). A pesquisa também conclui que “40,9 por cento dos lares não estão preparados para lidar com despesas inesperadas”, o que representa um aumento em comparação com anos anteriores. Outra observação é que “16,9% dos lares dizem que eles têm bastante dificuldade para pagar as contas do mês”. Só este breve comentário leva a uma profusão de perguntas e respostas sobre negócios e desenvolvimento social. Deveríamos pesquisar com que tipos de despesas inesperadas estas famílias se deparam: Qual é o custo desses imprevistos? Que medidas são tomadas para evitá-los? Como eles lidam com a situação? Usam o que têm na poupança ou endividam-se de novo, contraindo novas obrigações em cima dessa perda, sem nenhum crescimento ou benefício no futuro? Quanto à dificuldade para pagar as contas do mês, ela poderia levar a atrasos no pagamento dos prêmios, abandonos e cancelamentos? Quais prêmios podem ser oferecidos que não estrangulem as famílias? Como podemos oferecer os sistemas de pagamento para evitar inadimplências? Poderíamos considerar, por exemplo, prêmios mensais de valor muito baixo. Talvez até prêmios em prestações dividindo o risco ao invés do prêmio. E a grande questão, o grande medo que há por trás das companhias de seguros: o risco moral, a fraude, o uso indevido do seguro. Que medidas podem ser tomadas para evitar o uso indevido? Podemos pensar em sistemas bonus-malus, sistemas de participação nos resultados, recompensas por nenhum sinistro, serviços adicionais que agreguem valor ao seguro, de modo que o cliente sinta que está recebendo-os conforme paga, e não se acontecer ou deixar de acontecer uma situação inesperada. Considerando-se todos esses aspectos, será que este mercado potencial se asseguraria? Será que ele estaria disposto a pagar um prêmio, por menor que seja, Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 para assegurar um evento incerto? Até onde vai a cultura asseguradora em nosso país? Sem dúvida, a cultura financeira e asseguradora na Espanha está bem mais disseminada e penetrou mais fundo no mercado que em qualquer um dos países onde o microsseguro está se desenvolvendo (à exceção de exemplos menores em países como a França, conforme mencionado acima). Seguro é um conceito que todo mundo conhece, mesmo que se restrinja ao pagamento do seguro obrigatório do automóvel. Além disso, diferente dos países em desenvolvimento onde o microsseguro está sendo implementado e usado, na Espanha não temos problema com canal de distribuição. Da contratação on-line, ao alcance da grande maioria, até a contratação por meio de agentes e corretores locais (e muitos corretores rurais), não há impedimentos. Isto não significa que não se deva continuar buscando novos canais e inovações para que o seguro chegue a todos. Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 Para isto, precisamos considerar a possibilidade de que o microsseguro tenha uma regulamentação própria, para poder ampliar a oferta de meios de intermediação de seguros, além dos corretores e agentes. Uma das características destes produtos é, como veremos no final deste artigo, a simplicidade do produto. Uma simplicidade associada a uma gestão não necessariamente qualificada como a dos seguros tradicionais. De modo que não seria necessário ser corretor para comercializar esses produtos: eles podem ser oferecidos por empreendedores locais ou distribuído por agentes comissionados. Além disso, há certos aspectos do contrato de seguro, como a suspensão da cobertura na ausência de pagamento. Esta é uma população sensível e por isso deve-se agir com cautela e gerenciar os recebíveis de uma forma amistosa, acessível e flexível. Os prêmios pendentes poderiam ser descontados da indenização no caso de sinistro, ou deve-se facilitar o pagamento dos prêmios. Todos os envolvidos neste conceito concordam que os contratos de microsseguros devem ser simples, claros, sem muitas exclusões ou até sem exclusão alguma. Ou seja, conforme define Michael J. McCord, eles devem ser produtos S.U.A.V.E. (da sigla em inglês “Simples, Compreensíveis, Acessíveis, Valiosos, Eficientes”)[6]. E como lidar com isso? Parece difícil de acreditar, mas redigir contratos de seguro simples e claros, sem muitos detalhes legais, é um grande desafio. Portanto, as coberturas precisam estar bem definidas e estabelecidas em suas próprias definições, sem a necessidade de ter que se remeter às exclusões e às “letras miúdas”. Ao invés de fazer contratos All Risks (“Todos os Riscos”) com várias páginas de exclusões, devemos pensar em contratos resumidos, onde as coberturas sejam relacionadas uma TODOS OS ENVOLVIDOS NESTE CONCEITO CONCORDAM QUE OS CONTRATOS DE MICROSSEGUROS DEVEM SER SIMPLES, CLAROS, SEM MUITAS EXCLUSÕES OU ATÉ SEM NENHUMA EXCLUSÃO. DEVEM SER PRODUTOS S.U.A.V.E. (DA SIGLA EM INGLÊS “SIMPLES, COMPREENSÍVEIS, ACESSÍVEIS, VALIOSOS, EFICIENTES”) 29 estudo ELE É UM PRODUTO COMPLETO, QUE COBRE A NECESSIDADE EXATA DE UM INDIVÍDUO QUE SE CARACTERIZA POR TER RENDA BAIXA E, PORTANTO, UMA CASUÍSTICA DE RISCO E NECESSIDADES DE COBERTURA DIFERENTES DAS DO MERCADO TRADICIONAL 30 a uma, com definição e escopo específicos. Este conceito de sensibilidade também se aplica à gestão dos sinistros e, consequentemente, à vistoria e avaliação de danos. Não é possível submeter uma população que está se esforçando para se proteger da vulnerabilidade em que se encontram – pelo pagamento de um prêmio por um período indeterminado até que a situação objeto do seguro ocorra – a demoras na gestão de seu sinistro. É justamente por essas necessidades que esse tipo de população não consegue ter acesso a outros recursos. Se ocorrer o sinistro, cada dia sem assistência aumentará ainda mais sua queda de renda. É por esta razão que não devemos pensar em termos do processamento tradicional de sinistros, solicitação de documentos, prazos limitados... Precisamos enxergar mais longe, agir com rapidez com o mínimo de documentação ou sem documentação alguma, e fornecer ajuda e orientação para termos acesso à documentação que seja imprescindível para a companhia. A peritagem é uma tarefa que também precisa ser reinventada: em potencial, os peritos e os reparadores da companhia podem e devem orientar e auxiliar na gestão da documentação de forma direta e proativa. Também precisamos encontrar formas de reparar e mitigar danos e educar para a prevenção de sinistros com vistorias proativas de risco que ajudem a impedir acontecimentos futuros. A indenização também deve ser redesenhada. Primeiro porque ela se torna uma forma de fornecer orientação, auxílio, prevenção e educação aos segurados. As companhias se aproximam dos clientes e lhes oferecem assistência. Além disso, porque também precisamos inventar outros meios de indenização que realmente compensem os segurados e os deixem na mesma situação em que se encontravam antes do sinistro, sem regras de proporcionalidade (cuja aplicação decorre de um erro de subscrição), lidando com o coneito de depreciação de forma muito cautelosa. Muitas vezes a indenização financeira não permite que o segurado adquira um bem que lhe dê a mesma utilidade que o bem sinistrado. Às vezes isso acontece porque lhe faltam meios de busca. Neste novo conceito, além da indenização financeira, temos de nos preocupar com o reparo. Um reparo que restitua a utilidade do bem danificado. Gerenciar a aquisição de um bem de características e idade bastante semelhantes aos do bem sinistrado no mercado de segunda mão é outra forma de indenizar, restabelecendo a utilidade. Temos que reinventar totalmente a gestão dos sinistros. O leitor que não conhecia estes produtos antes da leitura deste artigo já deve ter percebido que estamos falando de um produto de seguro em que não se trata de reduzir as coberturas em relação às do seguro tradicional, mas sim de ajustá-las para um novo perfil de cliente de baixa renda e com situações de risco diferentes. O valor segurado será menor e, portanto, o prêmio também. Mas isso não significa corte de coberturas nem diminuição do valor segurado. Ele é um produto completo, que cobre a necessidade exata de um indivíduo que se caracteriza por ter renda baixa e, portanto, uma casuística de risco e necessidades de cobertura diferentes das do mercado tradicional. É um erro típico associar este tipo de seguro a um seguro de baixo custo, ou pensar que este tipo de produto só pode incluir seguro de vida ou de risco em massa. Dadas as características deste novo mercado, o produto tem de ser adaptado não somente em seus custos e análise Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 dos diferentes riscos, mas em seu conceito, composição, definição, contratação, gestão e tratamento. O mercado já implementou alguns produtos de microsseguro que podem funcionar, embora ainda precisemos, obviamente, realizar os devidos estudos de mercado e da demanda particular de pessoas de baixa renda, mas a priori podem-se coletar algumas informações dos dados agregados da economia e avaliar microsseguros que considerem estes aspectos que os números gerais nos dão, como desemprego. Seguro-desemprego não é um produto novo. Considerando-se o trabalho temporário, o mercado de empregos irregular e instável, não podemos oferecer prêmios mais baixos para que este mercado possa ter acesso a este tipo de seguro. Contudo, se considerarmos os indivíduos de baixa renda com um emprego mais ou menos fixo (termos de contrato Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 indefinidos e contratos para obras e serviços, pessoas que demonstram continuidade de trabalho em vários anos, mesmo com várias mudanças de emprego, etc.), podemos estabelecer períodos de carência e, além disso, criar, por exemplo, um produto que cubra o desemprego de longa duração, não o desemprego em si: a indenização é paga após dois anos de desemprego, ou ao se esgotar o benefício contributivo, com um mínimo de seis meses, etc. Esta solução seria uma quantia temporária pequena, por exemplo, de um valor total previamente acordado (como 300 euros). Ela seria um complemento a um possível auxílio do governo (os famosos 400 euros) por um período previamente acordado. Uma vantagem deste tipo de microsseguro seria a agilidade do primeiro pagamento, se comparado ao longo período de espera pelos benefícios do governo. A vulnerabilidade do segurado seria, assim, reduzida, o que é o intuito de um microsseguro. Este produto deve ser acompanhado de um serviço de orientação e assistência para a procura de emprego desde o momento em que se fica desempregado. Isto muitas vezes evitaria o esgotamento do benefício contributivo (e o início do recebimento da renda segurada) e agregaria um valor que o cliente vê e recebe. O desemprego que atinge vários membros da família é outro problema que pode ser abordado com produtos de microsseguro. Seria viável criar um produto que ofereça uma renda temporária para um valor total previamente acordado se vários membros de uma mesma família acabam ficando em situação de desemprego (ambos os pais vivendo com menores, dois membros de uma família com três trabalhadores adultos, etc.). Este produto também deveria incluir um serviço de orientação, conforme o exemplo acima, com O MERCADO JÁ IMPLEMENTOU ALGUNS PRODUTOS DE MICROSSEGURO QUE PODEM FUNCIONAR, EMBORA AINDA PRECISEMOS, OBVIAMENTE, REALIZAR OS DEVIDOS ESTUDOS DE MERCADO E DA DEMANDA PARTICULAR DE PESSOAS DE BAIXA RENDA 31 estudo NA CRIAÇÃO DE MICROSSEGUROS É MUITO IMPORTANTE FORNECER VALOR AGREGADO AO PRODUTO. OS CLIENTES ESTARÃO CIENTES DISSO QUANDO PRECISAREM FAZER UM PAGAMENTO OU QUANDO OCORRER UM SINISTRO 32 a possibilidade de se combinar ambos os produtos. Na criação de microsseguros é muito importante fornecer valor agregado ao produto. Os clientes estarão cientes disso quando precisarem fazer um pagamento ou quando ocorrer um sinistro e também receberão algum tipo de serviço da empresa que lhe agregue valor. Após grandes catástrofes, vemos muitas pessoas que não têm um seguro de propriedade que as proteja desse risco pelo Consorcio de Compensación de Seguros. Talvez elas não queiram fazer um alto desembolso anual para um dano típico causado por água, roubo, danos estéticos, etc., conforme os que uma apólice PME ou multirrisco residencial cobre. Mas estas mesmas pessoas teriam pagado um prêmio mais baixo por um risco coberto por um consórcio e até mesmo por certos riscos maiores não cobertos pelo consórcio. Um seguro de grande risco é um grande microsseguro. E neles já trabalham as grandes resse- guradoras por meio de seus estudos: a Munich Re e a Swiss Re (através de uma fundação ad hoc, a primeira colabora com a Organização Internacional do Trabalho na pesquisa sobre microsseguros). Na busca de produtos de seguro coletivo, a fim de diminuir, como dizíamos, o efeito da antisseleção, podemos criar seguros coletivos para famílias monoparentais, oferecendo um serviço de assistência para os filhos e para o lar em caso de doença grave, hospitalização, etc., para evitar que as crianças sofram ainda mais nessas situações difíceis. Também devemos considerar produtos coletivos para autônomos, serviços domésticos (empregados contratados ou que trabalham por hora), etc. Seguros contra despejo que cubram um serviço de aluguel de três a seis meses, se a família for despejada por falta de pagamento. Esta cobertura pode ser comercializada por uma instituição bancária para seus devedores imobiliários em Gerência de Riscos e Seguros • nº 11 29 0-2014 colaboração com uma companhia de seguros independente e com serviços de consultoria jurídica e mediação. Na Life há um nicho importante de microsseguros que cobre as diferenças do poder aquisitivo de pessoas que estão começando a receber pensões contributivas ou não contributivas com base em seu salário anterior. Já existem alguns exemplos destes produtos no mercado espanhol. A ARAG oferece um microsseguro de defesa e compensação de danos, e a Adeslas Segur Caixa oferece microsseguro de assistência odontológica. No entanto, eles precisam ser estudados cuidadosamente para que se possa confirmar que são exemplos de microsseguros, e não de seguro de baixo custo. No primeiro caso, não conseguimos obter mais informações sobre este produto, nem on-line nem por qualquer outro meio, para poder identificar características de “microsseguro”. No segundo caso, o site da companhia oferece um produto dental barato com uma série de condições gerais “tradicionais”, o que não parece ser um bom exemplo de um produto simples. No entanto, ele não é oferecido como microsseguro, mesmo que esta tenha sido a designação pela qual ele ganhou o prêmio de 2012 de inovação em seguros da associação ICEA. De qualquer forma, outros exemplos surgirão com o estudo da população e suas necessidades e demandas. Este tipo de seguro deve sempre oferecer um valor agregado para assegurar um bom relacionamento entre as companhias e seus segurados durante todo o período de vigência do contrato. A corrida já começou. Gerência de Riscos e Seguros • nº 11 29 0-2014 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Ruano Espí, Carlos. Invitación al microseguro. Tesis fin de máster en Dirección de Entidades Aseguradoras y Financieras y Cursos de Postgrado-Universidad de Barcelona. Sin publicar. Cedida por el autor. [2] Garayoa Arruti, Francisco J. El cambio climático y la protección de los microseguros [Web] http://elmicroseguroinclusivo.redcumes. com/2013/11/16/cambio-climatico-yproteccionmicroseguros/ [Consulta 20 de Enero 2014]. [3] Wipf, John; Liber, Dominic; Churchill, Craig. Diseño de productos y seguro de manejo de riesgos. Capítulo 3. «Protecting the poor: A microinsurance compedium».Vol. I. Ed. Organización Internacional del Trabajo. Editado en España por Plaza y Valdés Editores. Madrid 2009. 165-166. [4] Chruchill, Craig. ¿Qué es el seguro para los pobres? Capítulo 1. «Protecting the poor: A microinsurance compedium». Vol. I. Ed. Organización Internacional del Trabajo. Editado en España por Plaza y Valdés Editores. Madrid 2009. 16-17. [5] Notas de prensa INE, 20 de noviembre de 2013. Http://www.ine.es/prensa/prensa.htm [20/11/2013]. [6] McCord, Michael J. SUAVE checklist for microinsurance products: Enhancing the potential for success. Appleton:The MicroInsurance Centre, LLC, January 2012. 33 estudo Gerência de Riscos A CHAVE... E TRÊS LINHAS DE REFLEXÃO Agora que o processo de certificação dos gerentes de risco está em andamento, vale a pena recordar alguns princípios básicos para se assentar uma Gerência de Riscos competente. Contribuiremos com algumas linhas de reflexão que podem deixar o terreno fértil para a implementação de uma gestão sistemática dos riscos. A Gerência de Riscos é uma tarefa de grande importância dentro de qualquer organização, mas, como em qualquer missão importante, requer visão prévia. Este artigo tem como objetivo desenvolver esta visão em processo de evolução. FRANÇOIS SETTEMBRINO GERENTE DE RISCOS FERMA 34 Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 M ais de meio século atrás, os inventores da Gerência de Riscos aventuraram-se a lançar as bases do sistema. Como não havia nada sobre o assunto, eles precisaram recorrer à própria coragem para adentrar um caminho ainda não trilhado. O mais difícil foi perder o hábito de considerar como matéria-prima apenas os riscos segurados ou asseguráveis. O futuro mostrou que eles tinham razão nisso, já que os “novos riscos” percebidos ao longo do tempo não estão todos segurados, nem mesmo são totalmente asseguráveis. Vamos primeiro voltar nossa atenção para alguns princípios em torno dos quais, do ponto de vista dos pioneiros, o sucesso da Gerência de Riscos gira incondicionalmente: A gerência sênior tem de se envolver do início ao fim do processo a ser implementado. Cabe a ela tomar a iniciativa, fornecer os recursos adequados e mantê-lo na direção certa. Um processo tão vital assim não pode ser negligenciado e ficar à sua própria mercê: ele precisa ser constantemente alimentado para conseguir sobreviver. Dependendo do tamanho da empresa, seu sistema organizacional, sua localização geográfica, seus objetivos e seus processos operacionais, a Gerência de Riscos será mais ou menos centralizada. ILLUSTRATION STOCK Simplificando, a literatura atual a respeito continua a falar do Gerente de Riscos. Na verdade, seria melhor falar da entidade Gerência de Riscos, porque ninguém consegue dar conta desta tarefa sozinho numa empresa grande. Partindo desta base, continuaremos usando o termo “Gerente de Riscos” apenas para facilitar a compreensão. Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 Os gerentes de riscos precisam de um lugar na estrutura corporativa. Os pioneiros entenderam rapidamente que, a partir do momento em que eles eram integrados no organograma da empresa, no departamento financeiro, por exemplo, eles perdiam toda a liberdade de ação. Optaram, portanto, por uma função staff, a única que permitia que eles se relacionassem de modo completamente autônomo com a gerência sênior. O que surpreende mesmo hoje em dia é que eles geralmente conseguiam esta posição com facilidade... naquela época. Mas agora poucas empresas consideram a hipótese. O que incomoda muitos dirigentes é ter de tolerar que, em sua própria organização, 35 estudo alguém tenha o direito e a obrigação de fazer críticas e dar broncas. Esta abordagem conflita com o egocentrismo latente que ocorre com frequência – até demais – nos altos escalões. Os gerentes de risco precisavam ter alguma autoridade para que pudessem agir, rompendo essa inércia. Nossos pioneiros tinham de conquistar o direito de obter informações de todos os níveis da organização e obter as respostas para todas as suas perguntas. Desde o início, já se sabia que o estudo de muitas questões envolvia várias áreas ao mesmo tempo e que a melhor forma de lidar com elas era formando grupos multidisciplinares sob a supervisão do gerente de riscos. Em ambos os casos, qualquer que fossem os resultados de suas indagações e discussões, eles estariam sujeitos à diretoria ou ao conselho, que então toma as devidas decisões e determina as tarefas complementares. Não há dúvida de que eles é que deveriam tomam as grandes decisões, já que, no que concerne à Gerência de Riscos, são os dirigentes que dirigem e são eles que terão de se responsabilizar por estas decisões. Uma das funções confiadas ao gerente de riscos ou à entidade Gerência de Riscos é a de encarregar-se da formação e conscientização interna sobre o assunto. Quando esta tarefa era realizada com o pessoal de alto nível, geralmente não havia nenhum problema. Como já foi levantado anteriormente, eles haviam iniciado o processo todo e sabiam muito bem de sua importância. Os trabalhadores do dia a dia estavam mais familiarizados com os verdadeiros problemas e solicitavam ao mesmo tempo informa36 O QUE INCOMODA MUITOS DIRIGENTES É TER DE TOLERAR QUE, EM SUA PRÓPRIA ORGANIZAÇÃO, ALGUÉM TENHA O DIREITO E A OBRIGAÇÃO DE FAZER CRÍTICAS E DAR BRONCAS ções e formação, demonstrando, portanto, um grande interesse. Os mais refratários geralmente eram aqueles que ocupavam uma posição na média gerência, presos entre a cruz de seus objetivos e a caldeira do melhor rendimento possível. Portanto, estes últimos eram os que tinham de ser controlados mais de perto, com seminários e boletins informativos. Além disso, as tecnologias em contínua evolução deram grande apoio nesse sentido. Uma das consequências indiretas foi a obrigação do gerente de riscos e de sua equipe de buscar formação de alto nível continuamente para se manterem atualizados. Se eliminarmos qualquer um dos elementos mencionados acima, fica praticamente impossível assentar as bases para uma verdadeira Gerência de Riscos, e foi exatamente isso o que aconteceu. Quando os pioneiros deixaram a área, raramente foram substituídos por sucessores viáveis. A gerência e os gerentes começaram a se interessar apenas pelo valor de mercado de suas empresas, os investidores voltaram seus interesses para as fusões e aquisições e prestou-se muito menos atenção aos riscos, já que o foco estava todo nas operações financeiras. Os riscos continuavam presentes, mesmo que os dirigentes se fizessem de surdos e cegos cada vez mais. Da Enron para Fukushima, passando pela crise das subprime, a lista de desastres é incrivelmente longa e impressionante. Agora é preciso urgentemente reverter o processo e voltar às boas práticas, como no início. Os esforços que estão sendo feitos para certificar esta função certamente são um passo na direção certa. Além disso, será preciso voltar a educar os dirigentes, porque nada será possível sem eles a bordo. Ainda há muito a fazer! Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 de alguma forma, de introdução ou de estímulo para se pesquisar o tema com mais profundidade no futuro. Para começar, vamos analisar o conceito de risco cibernético. Têm havido constantes ataques no mundo todo, não só a empresas e organizações diversas, mas também a cada um de nós. Nós, meros indivíduos insignificantes, somos vítimas de ataques na mesma medida que as grandes organizações, seja para acompanhar nossos hábitos de compra, saber sobre nossas relações íntimas, nossa situação financeira ou nossos relacionamentos bancários. Enfim, tudo. E isso ocorre em meio à maior indiferença de nossa parte. Quase todo mundo sabe dos perigos das redes sociais, mas quase todos nos acomodamos e causamos riscos que descobrimos Cada organização é “uma” e, portanto, NÃO EXISTE E tarde demais. Para não mencionar empresas “única”. Por isso, não existe e nunca existi- NUNCA EXISTIRÁ ou governos, já que todos os dias ficamos rá um modelo único de Gerência de Riscos UM MODELO sabendo que nenhuma empresa ou governo que possa ser aplicado em todos os casos, para ÚNICO DE conseguiu implantar proteções suficientes GERÊNCIA DE toda e qualquer circunstância. Com base nos nem eficazes. A engenhosidade dos crimiprincípios expostos anteriormente, que cons- RISCOS RISCOS nosos é tal que eles sempre levam vantagem tituem a base para uma “chave” corretamente QUE POSSA no que diz respeito à sofisticação de suas estruturada, cada organização terá de adaptá- SER APLICADO vítimas. Sua vantagem chega a um extremo -los a seu perfil, a seus procedimentos, a suas EM TODOS tal que eles são capazes de instalar secretalimitações financeiras, políticas e geográficas e OS CASOS, mente um dispositivo permanente dentro à sua própria cultura. É um processo de lon- PARA TODA dos computadores em que eles penetraram, go prazo, que não tem fim e que precisa ser E QUALQUER o que lhes permite rastrear tudo o que aconpensado e repensado constantemente. Por CIRCUNSTÂNCIA tece neles e escolher o momento ou a vítima esta razão, a profissão de Gerente de Riscos é de um ataque-surpresa. É para ficarmos de emocionante. braços cruzados? De jeito nenhum. Ao conTambém seria útil rever as possibilidades trário, os mecanismos de defesa precisam de formação e disponibilidades para evitar ser mantidos sob escrutínio permanente, um alto grau de dispersão. pois, quanto mais rápido se descobre uma Vejamos agora três exemplos que poinvasão, mais rápida a resposta. A formadem servir como linhas de reflexão e facilição dos usuários é essencial para evitar que tar uma melhor compreensão dos fenômeeles se cansem e se esqueçam das regras de nos que ocorrem. Cada uma destas linhas segurança que atrasam seu trabalho. Já não mereceria uma análise aprofundada com a se trata mais de uma questão puramente dedicação dos especialistas no assunto. Os de TI. Com o aumento do teletrabalho e parágrafos a seguir não têm esta ambição, a proliferação de cartões inteligentes, está mas podem despertar o interesse e servir, ficando confusa a distinção entre trabalho e Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 37 estudo redes sociais; as portas de acesso se encontram onde menos se espera, e documentos confidenciais são às vezes tão pouco secretos que é muito fácil obtê-los. Este é um quadro típico de Gerência de Riscos, onde o problema precisa ser abordado com profundidade e em conjunto, com a gerência sênior decidindo a estratégia a ser adotada e as ações a serem tomadas. Todos sabem da existência das backdoors, que foram sub-repticiamente deixadas no sistema operacional de qualquer computador. Elas permitem que qualquer um em posse das senhas necessárias consiga passar por todos os sistemas de autenticação e infiltrar-se no computador. O Google, Outlook e companhia também não são exceção. Mas há piores, como o sistema de compartilhamento anônimo Darknet (ou deep web). Ele facilita a comunicação às escondidas de qualquer sistema de monitoramento de espionagem ou interceptação de comunicações. Ele foi recebido de braços abertos por internautas censurados, perseguidos ou coagidos por alguns poderes ditatoriais. É a única forma que eles têm de divulgar sua sina e se comunicar livremente. Mas o mesmo sistema também é uma bênção para todas as redes mal-intencionadas, que podem realizar suas atividades com total impunidade. Até agora a Darknet continua impenetrável, e a encriptação que utiliza tem sido intransponível. O mais trágico deste enigma é que ele logo tornará obsoleta parte das famosas atividades de espionagem que foram feitas com grande complexidade técnica e que acabaram de virar manchete nos noticiários internacionais. Foram buscar lã e saíram tosquiados... Mas para os nossos fins aqui, os riscos, então, se tornaram incontroláveis, porque não conseguimos saber quem está alimentando a Darknet nem o que está acontecendo pelas costas de todos: segredos de fabricação, estoques de todos os tipos, clientes, fornecedores, produtos 38 estratégicos, etc... Se há uma forma de brecar isto, ainda não sabemos, e é algo que demandará muita inteligência. Mas quem vai se encarregar disso? Eis a questão. A segunda linha de reflexão diz respeito ao capital humano e às “pessoas” que o formam. Este capital humano geralmente é subestimado ou maltratado. Também é curioso que seu destino tenha sido confiado aos especialistas de “recursos humanos”. Esta terminologia se parece demais com a dos outros recursos das empresas, tais como matérias-primas, energias, terceirizações, etc... E da mesma forma, se algum recurso humano se tornar muito caro ou muito difícil de gerir, ele é simplesmente substituído. É por esta razão que o quadro de funcionários é tratado como uma Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 A Gerência de Riscos do outro lado do Atlântico foi timidamente reincorporando as preocupações dos stakeholders, ou seja, OUTRO LADO das “partes interessadas” ao processo. Estas DO ATLÂNTICO FOI TIMIDAMENTE incluem principalmente os funcionários, REINCORPORANDO mas também os sindicatos, os clientes, os sócios, os fornecedores, as empreiteiras e AS PREOCUPAÇÕES os contratados, os investidores e credores, sem esquecer o fisco e o meio ambiente. DOS Além das citadas, que não são poucas, há STAKEHOLDERS também os concorrentes. Em conjunto ou AO PROCESSO individualmente, estas partes pertencem a diferentes classes de vulnerabilidade, como expectativas pessoais, perdas de informações, perdas de recursos, danos materiais, etc. Todas merecem atenção e cuidados permanentes. Existem muitas formas de lidar com elas. Se pensarmos bem, logo percebemos que esta segunda linha permeia todo o tecido empresarial e, além disso, a governança volta a ocupar a posição de responsabilidade que nunca deveria ter abandonado. O resultado imediato é que a Gerência de Riscos está se familiarizando novamente com fonte de energia qualquer: se for muito os princípios de precaução e prevenção. Só caro, ele é substituído ou deslocado para podemos fazer prevenção se considerarmos outro lugar, sem qualquer consideração os riscos que têm probabilidade mensurável, sobre os problemas humanos que isso enquanto que a precaução pode ser aplicada pode gerar. Prova disso são as Bolsas de quando não podemos calcular a amplitude Valores, que sempre reagiram favorável e nem a probabilidade do evento. Qualquer impiedosamente a qualquer restruturação gerente de risco tem de estar sempre ou projetos terceirizados em outros países. navegando de um para o outro e, quando É nesse momento que o gerente de recursos as coisas estancam, o recurso que lhe resta humanos deixa de ser o elo entre a direção é a resiliência... É relevante que a legislação e os funcionários para se tornar um mero belga de previdência social tenha expandido executor de grandes obras, e ele precisará seus horizontes, passando a cobrir, além fazer o possível e o impossível para que dos acidentes no trabalho, questões isso custe o mínimo, fazendo uso de planos organizacionais, de relacionamento e assédio, sociais que mais se parecem com enterros. e entrou até na área psicossocial. Ainda mais Para que se preocupar com os funcionários revelador é o fato de que o assessor responsável e protegê-los conforme as normas e as só pode se relacionar diretamente com os leis, se terceirizando-os dentro ou fora do dirigentes da empresa, sem intermediários, e país podemos nos poupar de todas essas que em sua função ele não tem de se submeter limitações tão onerosas? a mais ninguém. Lidar deste modo com o A GERÊNCIA DE RISCOS DO Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 39 estudo capital humano da empresa é um exemplo legal e obrigatório de como a Gerência de Riscos deveria funcionar, com acesso direto à chefia da empresa. A terceira linha de reflexão é um verdadeiro ninho de vespas, porque diz respeito a tudo o que o envolve o conceito de “reputação”, o rosto visível da imagem da marca. Todos os manuais concordam: este valor é insubstituível e merece ser defendido e protegido ao máximo. Mas é tão frágil que um simples boato pode destruílo, e reconstruí-lo é sempre uma tarefa difícil e às vezes impossível. Depois fica sempre aquela dúvida pairando na mente das pessoas: “onde há fumaça, há fogo...”. Se há um problema onde os líderes geralmente continuam sendo os protagonistas, é aqui. Mas eles também são os mais vulneráveis. Trata-se de um aspecto indispensável da boa governança, e isso por sua vez ressalta seu papel crucial na Gerência de Riscos. Se revisitarmos o recente caso Perrier, teremos um bom exemplo de como as coisas podem deteriorar-se. A contaminação de sua água com benzeno foi bem gerenciada, com um dispendioso recall de um alto número de garrafas, mas foi a atitude errática dos dirigentes que causou o dano maior. A imagem da marca, e consequentemente, seu valor, despencaram, e a empresa foi adquirida por outro grupo a preço de banana. O que faz a gestão deste risco praticamente impossível hoje é o fato de que são os dirigentes que distorcem a mensagem. Em 1976, Emmanuel Todd fez a seguinte análise sobre o bloco leste: “... uma sociedade conduzida pela tecnologia onde a tecnologia não é usada para o bem e a segurança dos seus cidadãos não pode durar...”. Isso é exatamente o que está acontecendo hoje sob a falsa bandeira da globalização, que serve de carta branca e pretexto para se fazer qualquer coisa: permitem-se condições de 40 LIDAR DESTE MODO COM O CAPITAL HUMANO DA EMPRESA É UM EXEMPLO LEGAL E OBRIGATÓRIO DE COMO A GERÊNCIA DE RISCOS DEVERIA FUNCIONAR, COM ACESSO DIRETO À CHEFIA DA EMPRESA escravidão deslavada com a terceirização em países estrangeiros; a invasão de todos os produtos, principalmente os da indústria agroalimentar, com aditivos e outras substâncias cujo perigo e nocividade são subestimados ou mesmo negados; o retrocesso da biodiversidade; o efeito estufa descontrolado... Exemplos específicos não faltam, mas eles estão só começando a aparecer graças a alguns poucos corajosos que se recusaram a silenciar. Os mais conhecidos são a piscicultura, a adulteração da cadeia alimentar pela introdução de produtos falsificados, tais como queijo artificial, até a substituição da carne por carne de cavalo em refeições prontas, os aditivos alimentares usados sem antes terem sido testados e cujos efeitos nocivos se devem em grande parte ao hábito generalizado de comer mal, etc. Os grandes grupos industriais por trás desses absurdos realmente nada temem. Eles são tão poderosos que eles mesmos organizam sua própria impunidade. Os meios utilizados Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 são chamados de lobbies. São inescrupulosos, contanto que possam ver a cor do dinheiro, cientistas sem ética, mentiras por toda parte para alimentar, simultânea e artificialmente pareceres que se anulam mutuamente. As autoridades da saúde estão inundadas com teorias tão contraditórias que já não desempenham mais seu papel de cão de guarda. Como você pode querer aplicar os princípios da Gerência de Riscos em um contexto como este? Se a ética dos industriais não voltar a ser como deveria, ou seja, honesta e transparente, como podemos esperar que eles corrijam os riscos altamente lucrativos que eles mesmos geraram e cujos efeitos nocivos só aparecerão muito depois? Deixemos a última palavra para Stéphane Foucart, já que expressa muito bem a crescente inquietação daqueles que acreditam na Gerência de Riscos: “... duvida-se do conhecimento acumulado, contestado por métodos científicos forjados ou manipulados pelas indústrias que acham O QUE FAZ A GESTÃO DESTE RISCO PRATICAMENTE IMPOSSÍVEL HOJE É O FATO DE QUE SÃO OS DIRIGENTES QUE DISTORCEM A MENSAGEM que ele as incomoda... O projeto científico consiste em compreender o mundo, enquanto o projeto técnico consiste em se aproveitar dele...”(1). Mas quando a ciência se submete à tecnologia, as regras do jogo mudam e a própria ideia de precaução desaparece. Não há mais nenhuma chance de se trazer um diagnóstico científico para qualquer atividade industrial. A indústria se incumbirá de fazer com que qualquer grão de verdade desapareça em meio a uma pseudociência que produz apenas incerteza e ignorância. Será que a Gerência de Riscos conseguirá enfrentar este desafio? Só o tempo dirá. La Fabrique du Mensonge (“A Fábrica da Mentira”). Como os industriais manipulam a ciência e nos colocam em perigo. Stéphane Foucart, ed. Impactos Denoël, 2013, páginas 17 e 18. 1 Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 41 NOTÍCIAS NOTÍCIAS Atividades no último trimestre de 2014 Congressos, cursos, seminários e fóruns sobre Gerência de Riscos encerram a oferta anual de formação e divulgação da AGERS N o último trimestre de cada ano, a Asociación Española de Gerencia de Riesgos y Seguros (AGERS) costuma realizar uma série de congressos, seminários e cursos relacionados com seu campo de atuação. Eis as atividades realizadas entre setembro e dezembro de 2014: Aula de Conformidade (Compliance) No dia 10 de setembro a sede da CEIM acolheu a primeira edição desta aula para gerentes de riscos e uma segunda edição para todos os associados. Este fórum analisou as novidades mais significativas da reforma do Código Penal de 2010. No entanto, esta reforma não foi suficiente para dissuadir nem para conter a avalanche de comportamentos que constituem delitos econômicos dentro das organizações. Por isso, o legislador preparou uma nova reforma, guiada pela necessidade de implementar medidas de prevenção nas organizações de luta contra a fraude, a corrupção e os delitos econômicos, que será publicada em breve no BOE. Fórum de Biomedicina-Ebola: gerência do risco médico e da segurança das empresas Este ato, celebrado na sede do CEIM com a presença de reconhecidos especialistas do mundo acadêmico e do setor privado, teve dois objetivos: expor os riscos que as seguradoras e as empresas enfrentam e aprofundar os aspectos jurídicos relacionados a este surto. Trata-se do segundo fórum organizado pelo grupo de trabalho de biomedicina da associação. Seminário AGERS: 30 anos de Gerência de Riscos na Espanha Seminário organizado dia 15 de outubro pela Commercial Risk Europe Risk Frontiers com a colaboração da AGERS. 42 Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 NOTÍCIAS Curso de gerência de sinistros Dias 29 e 30 de outubro, sob a direção de Aránzazu Arana, Diretor de Sinistros para a Europa Ocidental & América Latina da XL Insurance, a AGERS ministrou este curso para analisar o desenvolvimento dos pedidos de sinistros sob perspectiva dos diferentes atores envolvidos em sua tramitação. Evolução do seguro de transportes. Novidades legislativas: desafios e oportunidades Este curso combina a formação convencional com o debate entre os especialistas e a intervenção dos participantes. Realizado nos dias 4 e 5 de novembro sob a direção de Lourdes Aguanell, responsável pelas contas do grupo Eurapco Marine, o curso foi dado por profissionais dá indústria de seguros, corretores, gerentes de riscos, advogados, consultores, especialistas e detetives. XX Congresso AGERS. Riscos e Seguros 2015 Neste tradicional congresso, desta vez realizado em 20 de novembro, foram reveladas as perspectivas dos riscos e seguros para o próximo ano. A conferência de abertura ficou a cargo de María Ximena Lombana, Ministra Plenipotenciária da Embaixada da Colômbia na Espanha. O Congresso também serviu para apresentar os resultados da Pesquisa de Análise Comparativa 2014 de Gerência de Riscos, realizada pela FERMA. Para finalizar, organizou-se uma sessão exclusiva para os gerentes de riscos. Curso de crédito e outros riscos financeiros Curso dirigido por Manuel Arroyo, diretor de Crédito da Willis Iberia, com o qual a AGERS finalizou a formação de 2014. Fórum Biomedicina–Big Data nos seguros pessoais Fórum programado pelo grupo de trabalho de biomedicina da AGERS com a colaboração da Red CUMES (FUNDACIÓN MAPFRE), que aconteceu no dia 4 de dezembro. Os apresentadores trouxeram as visões da seguradora de saúde, do consultor, da empresa de tecnologia, da resseguradora e do Consórcio de Compensação de Seguros. Ato honroso pelos 25 anos de participação na Gerência de Riscos No dia 15 de dezembro a AGERS realizou seu ato honroso pelo envolvimento na Gerência de Riscos. Desta vez o reconhecimento foi para os associados que colaboram há mais de 25 anos com a associação na difusão da Gerência de Riscos: El Corte Inglés, Enagas, Arcelormittal (Ensidesa), Laboratórios Esteve, Renfe, Michelin, Basf e Glaxo Smithkline. Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 43 NOTÍCIAS NOTÍCIAS Congresso “Mercado de Seguros na América Latina” Os gerentes de riscos das grandes empresas debateram, em uma reunião interna convocada pela IGREA, sobre a atualidade do setor na região C ontinuando com a série de mesas redondas na IGREA, no dia 24 de setembro foi realizada na sede em Madri da OHL uma reunião interna para os associados com o título Mercado de Seguros na América Latina. Após as apresentações, feitas por Manuel Garrote, responsável pela área de riscos da OHL, e pelo presidente da IGREA, Daniel San Millán, os gerentes de riscos das grandes empresas espanholas debateram sobre os problemas que enfrentam para implantar os programas concebidos na Espanha com suas seguradoras e corretores globais. De modo geral, e salvo alguma exceção, as conclusões coincidiram quanto às dificuldades que ainda existem em todos os níveis, tanto operacionais e de mercado quanto das companhias de seguros, corretores e especialistas. No debate também foram abordados aspectos técnicos específi- 44 cos, como a saída de prêmios para as sociedades cativas e as dificuldades atuais de ordem regulatória no Brasil e na Argentina, entre outros. Além disso, discutiu-se sobre experiências pontuais envolvendo a questão da Responsabilidade Civil Patronal no México e na Argentina. Foi extremamente interessante o diálogo sobre as diferentes atuações dos grupos seguradores globais, dos corretores internacionais que prestam serviços na região e das organizações de peritos em situações de grandes sinistros. Após a apresentação das conclusões muito reveladoras, o congresso terminou com a recomendação de analisar os casos gerados com profissionais locais que conheçam bem a situação e tenham experiência suficiente nesses assuntos. Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 NOTÍCIAS Congresso de Tendências de Mercado No dia 4 de novembro a IGREA realizou seu congresso tradicional para mais de 150 profissionais abordando diversas questões de atualidades sobre o setor O congresso foi apresentado pelo presidente da IGREA, Daniel San Millán, que estabeleceu que fosse desenvolvido no formato de debate, estruturado em quatro painéis: Posição do mercado americano frente a projetos PPP (Projeto público e privado). Presente e futuro das empresas cativas. Problemática de sinistros com várias seguradoras ou em faixas. Capacidades alternativas para o mercado tradicional de resseguro. Painel 1. Moderado por Manuel Garrote, contou com a participação de Wilson Ortiz, Ernest Tauré e Aurelio González. Estes especialistas falaram sobre as diferenças existentes em PPPs entre os mercados americano e europeu, salientando as seguintes: Nos Estados Unidos a legislação é diferente em cada Estado, o que faz com que não haja uma redação padrão, razão pela qual é essencial estudar a legislação do Estado em que se pensa em trabalhar. Nos seguros de PPP, as apólices mais importantes são as de RC e principalmente a cober- Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 tura de acidentes do trabalho, ao contrário da Europa, onde o seguro mais importante é o TRC. Nos RC, os gastos com defesa excedem em cinco vezes os dos pedidos de indenização. O avaliador pericial atua mais como um gestor de sinistro do que como um juiz ao estar rodeado por peritos que redigem um relatório para ele e depois ele transfere o relatório a ser apresentado. Requisitos para licença específicos por Estado. A figura do avaliador pericial para uma parte não é bem vista, e costuma-se preferir os mecanismos contemplados na apólice, como mediação. Governos de Estado aceitam a premissa de riscos não seguráveis e até participam do custo do sinistro. Portanto, é necessário avaliar todos os riscos e analisar quais são seguráveis e quais não são, e negociar as condições para os riscos assumidos por cada parte. No longo prazo, a intenção é ter padrões que sejam transferíveis para todos os Estados. O problema com os riscos nos EUA é que as instalações são altamente obsoletas em termos de sistema de infraestrutura, fornecimento e esgotos. Cerca de 40% dos PPP são para estradas. Não há dados disponíveis sobre os custos do seguro da operação, que virá depois do seguro da construção. A sensação do público em geral nos EUA é que parte da propriedade do Estado se perde, mas os Estados não têm fundos. Painel 2. Moderado por Daniel San Millán, contou com a participação de George Michelena e Alfredo Arán. Entre outros se abordaram os seguintes temas: Aspectos mais atrativos das cativas. Embora inicialmente o mais importante fosse o fiscal, hoje elas são consideradas uma ferramenta fundamental na gerência de riscos. A situação atual das cativas e como são afetadas pelos mercados muito competitivos. Diz-se que este é o momento exato de aproveitar para capitalizar as cativas, assim elas podem enfrentar os períodos de mercados pouco competitivo. 45 NOTÍCIAS NOTÍCIAS A cativa é uma ferramenta que permite reter a sinistralidade de frequência e aqueles riscos para os quais o mercado tem capacidade limitada, como os riscos cibernéticos. Permite o acesso ao mercado de resseguro. Oferece mais transparência na intermediação. Painel 3. Moderado por Augusto Pérez Arbizu e com a colaboração dos penalistas Erlantz Urbieta, Juan Manuel Negro e Paulino Fajardo. O moderador abordou a opinião destes profissionais do direito frente a sinistros que afetam várias seguradoras e em apólices por faixas com painéis de diferentes seguradoras. Erlantz destacou a importância de que haja uma redação única ou que, se houver várias, que as definições sejam iguais em todos; cláusulas follow form (“seguir o padrão”) que regulem e detalhem os limites de responsabilidade; incluir especificações relativas a atuações em casos de insolvência de alguma seguradora. A estrutura em faixas otimiza capacidades e melhora custos, mas complica a negociação com todas as seguradoras de cada faixa, visto que às vezes os interesses não coincidem. Devem ficar claras a posição do líder e a do seguidor. Para Juan Manuel Negro, são fundamentais a transparência nas 46 informações e a coordenação das faixas e entre as seguradoras, e ele acredita que devam ser proativas para chegarem a acordos. Além disso, crê que seja necessária a opção de assinar protocolos de atuação com o início da cobertura. Paulino Fajardo, por sua vez, afirmou que principalmente nos setores de energia e construção existe um problema de excessiva atomização dos riscos que as diferentes culturas trazem; além disso, gera-se um problema nas renovações quando algumas resseguradoras saem e entram outras, que podem não estar de acordo com o espírito da apólice e têm uma visão própria que pode não coincidir com as das demais. Em caso de sinistro, é importante criar um comitê que agrupe várias resseguradoras e que elas compartilhem as mesmas informações. Painel 4. Contou com a presença de Carlos Wong-Fupuy, que falou sobre a atribuição da taxação às resseguradoras de sua empresa, a A.M.Best. Ele comentou que, embora há alguns meses ela vinha estável, naquele momento já havia passado a negativo por várias razões: Maior retenção nos programas originais. Baixo retorno sobre o investimento. Excesso de reservas voluntárias. Disciplina de taxação se deteriorando. Leves perdas em riscos de catástrofe. Convergência do capital: concorrência de resseguro e capital alternativo. Sobre capitais alternativos, ele se referiu a: Bônus catástrofe: de indenização, paramétricas puras, de perda da indústria e de perdas modelizadas. Resseguro colateralizado: é uma estrutura semelhante à do ressseguro tradicional, mas exige carta de crédito. Sidecars: dão cobertura proporcional (quota-parte) em riscos de catástrofe. Hedge Funds Reinsurance: entidade em que o fundo atua como instrumento para atrair investidores para a companhia de resseguros e cobra uma comissão. Há duas opções: entidade nova ou companhia existente. O impacto do capital alternativo representou 15 por cento do volume de prêmios até 2013. Os que dão suporte aos hedge funds são os fundos de pensão e o capital privado. Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 NOTÍCIAS A FERMA pede para renovar a isenção por categorias no REC para grupos de (res)seguros Para a federação, a cobertura de riscos de grande monta e excepcionais precisa estar isenta das normas de concorrência da UE A FERMA pediu a renovação do Regulamento de Isenção por categorias no setor de seguros (REC) para grupos de (res)seguros, e fez isso em resposta apresentada para a Comissão Europeia no dia 4 de novembro. Em agosto de 2014 a Comissão iniciou uma consulta para analisar se os supostos benefícios para o mercado segurador e para os clientes de agrupamentos de seguros continuam justificando o tratamento especial que recebem das autoridades de concorrência da UE. A Comissão deve apresentar um relatório aos Estados-Membros antes de 31 de março de 2016, com o objetivo de decidir sobre sua renovação em 2017. Julia Graham, presidenta da FERMA, declarou a este respeito: “Nós representamos os consumidores e usuários desses grupos de(re)seguradoras. A não-renovação da isenção por categorias mudaria radicalmente a cobertura de Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 algumas tipos de risco, mas não ampliaria a escolha de compradores de seguros comerciais. Acreditamos que continua a haver motivos para a isenção das normas de concorrência da EU para o REC”. Em sua opinião, “se estas normas estão sendo questionadas e há a possibilidade de estes grupos ficarem ao alcance das leis de concorrência da EU, nossa prioridade é garantir que os políticos estejam conscientes das consequências indesejadas de uma decisão de não renovar sobre o alcance da cobertura e do nível de preços para os nossos riscos mais excepcionais de maior monta”. A FERMA respondeu à Comissão Europeia que o REC em vigor oferece segurança jurídica de isenção das normas de concorrência da UE para todos os grupos de (res) seguros da UE e que isto beneficia os interessados: provedores de capacidade seguradora e usuários. Sem a isenção, esses grupos estariam sujeitos às diretrizes gerais da UE sobre acordos de colaboração horizontal, que dão ampla discrição às autoridades nacionais da concorrência. Na opinião da FERMA, esta mudança resultaria na utilização de dispendiosos serviços jurídicos para avaliar o cumprimento desses acordos em diferentes jurisdições, o que desviaria o investimento das principais atividades geradoras de valor. 47 NOTÍCIAS NOTÍCIAS A FERMA comemora 40 anos Comemoração com jantar de gala em Bruxelas A Federação Europeia de Associações de Gerência de Riscos (FERMA) comemorou seu quadragésimo aniversário, aproveitando o seminário realizado nos dias 20 e 21 de outubro, em Bruxelas, em que foi apresentado o Estudo de mercado sobre gerência de riscos FERMA 2014. A comemoração incluiu um jantar de gala com gerentes de riscos no Palácio de Belas Artes de Bruxelas, jóia da art déco de Víctor Horta, e a edição de um livreto comemorativo. No decorrer do evento, Julia Graham, presidenta da Federação, destacou que “a FERMA se orgulha de ter desempenhado um papel fundamental ao longo dos últimos 40 anos no desenvolvimento e reconhecimento da gerência de riscos como uma profissão. Os objetivos estratégicos da FERMA serão essenciais no processo de tomada de decisões na Europa sobre a gerências de riscos e questões sobre seguro e financiamento de riscos, bem como para coordenar, promover e apoiar o desenvolvimento e o uso da gerência de riscos, os seguros e o financiamento de riscos na Europa. Realizando estes objetivos, proporcionamos valor aos nossos membros e para a comunidade de riscos como um todo”. 48 A primeira parte do livreto do aniversário, 40 anos de gerência de riscos na Europa, conta a história da FERMA por meio de seus presidentes. As seções subsequentes descrevem os projetos em andamento da FERMA, como a certificação profissional dos gerentes de riscos e eventos, mais especificamente via seminários e fóruns, e detalha os planos de futuro da Federação. A FERMA começou em 1974 como uma organização de representação da comunidade de compra de seguros comerciais com a Comissão Europeia e o mercado segurador. Naquela época, seis países tinham associações de compradores de seguros, corretores de cativas e gerentes de riscos: Bélgica, França, Itália, Alemanha, Países Baixos e Reino Unido. Eles criaram a Associação de Segurados Industriais Europeus (AEAI), com sede em Bruxelas para poder estar perto da Comissão. O grande passo seguinte foi a criação de uma conferência de gerência de riscos europeia, realizada em conjunto com um a Sociedade de Gerência de Seguros e Riscos dos Estados Unidos. Realizada pela primeira vez em 1981, ela aconteceu a cada dois anos em Montecarlo até 1999. Naquele momento, o número de membros tinha aumentado para nove, com a entrada da Dinamarca, Espanha e Suíça no grupo original de seis países. A AEAI estava preparada para ficar por conta própria. Ela se tornou na FERMA e realizou seu primeiro Fórum de Gerência de Riscos FERMA com grande sucesso em 1999 em Berlim. Desde então, o número de membros da FERMA chegou a 22 associações nacionais em 20 países da Europa, com associações de gerência de riscos na República Checa, Finlândia, Luxemburgo, Noruega, Malta, Polônia, Portugal, Rússia, Eslovênia, Suécia e Turquia. A Espanha e a Alemanha possuem duas associações cada. Estas associações representam mais de 4.300 gerentes de seguros e riscos individuais. Mais recentemente, a FERMA começou a admitir membros internacionais individuais e empresariais interessados em gerência de riscos na Europa, mas que não podem formar parte de uma associação nacional membro da mesma. Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 agenda AGENDA 2015 CONGRESSOS E CONFERÊNCIAS EVENTO DATAS LOCAL CONVOCANTE Conferência Anual 2015 26-29 de abril Nova Orleans, LA (EUA) RIMS Conferência Internacional sobre Análise de Riscos 26-29 de maio Barcelona (Espanha) ICRA6 Conferência Anual 2015 7-10 de junho Houston, TX (EUA) PRIMA Conferência Anual 2015 15-17 de julho Liverpool (Inglaterra) AIRMIC Congresso Mundial sobre Risco 19-23 de julho Cingapura (Cingapura) SRA 9-11 de setembro Munique (Alemanha) DVS Fórum 2015 4-7 de outubro Veneza (Itália) FERMA Fórum 2015 3-4 de novembro Estocolmo (Suécia) SIRM Simpósio 2015 Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 49 livros EL SEGURO DE RESPONSABILIDAD CIVIL DE ADMINISTRADORES, CONSEJEROS Y DIRECTIVOS: VII ESTUDIO D&O MARSH 2014 Cuatrecasas, Gonçalves Pereira Serviço de Estudos Marsh Espanha, 2014 Editorial: Marsh D e acordo com o presente estudo, aproximadamente uma de cada duas empresas espanholas não sabe da existência do seguro de Diretores e Executivos de Empresas (D & O). Embora o grau de conhecimento tenha melhorado em 5 pontos ao longo de 2013, 74% das empresas ainda não contratam esta apólice. Apesar disso, o seguro de responsabilidade civil de Diretores e Executivos continua a se espalhar no meio empresarial espanhol, com mais 34 por cento de novas empresas compradoras em 2013. Assim, as empresas espanholas investiram nesse ano mais de 154 milhões (6 por cento a mais) na proteção de seus diretores e executivos. O setor de serviços continua liderando a compra deste seguro (44 por cento), seguido muito 50 de perto pelo setor industrial (43 por cento). Por regiões autônomas, os dirigentes mais segurados são os de Madri, Catalunha, Andaluzia, Valência e País Basco. O mercado segurador da Espanha demonstrou ter capacidade mais que suficiente para assumir os novos riscos segurados, oferecendo uma capacidade total em 2013 de 515 milhões de euros (10 milhões a mais que no ano anterior). Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 MANAGING RISK AND OPPORTUNITY: THE GOVERNANCE OF STRATEGIC RISK-TAKING Torben Juul Andersen, Maxine Garvey e Oliviero Roggi Hardback, 2014 ISBN: 978-0-19-968785-5 O livro fala copiosamente sobre a necessidade de que sejam aplicadas boas práticas em assuntos de governança corporativa e Gerência de Riscos. A raiz dos grandes escândalos financeiros está na ausência dessas boas práticas. Ele também aborda temas atuais, como a necessidade de liderança no papel do gerente de riscos, tudo isso usando uma linguagem sem excesso de jargão técnico. Os desafios impostos pela realidade de um mundo em mudança cada vez mais complexo e imprevisível exigem uma nova abordagem tanto para evitar riscos como para explorar o potencial de crescimento que um ambiente dinâmico oferece. O texto se estrutura de forma simples e prática, propondo ideias facilmente aplicáveis. Interessante para alunos de pós-graduação em Economia, Finanças e Administração de Empresas, gerentes de riscos, executivos e diretores de empresas, etc. GUÍA DE BUENAS PRÁCTICAS EN LA SEGURIDAD PATRIMONIAL José Manuel García Diego Editorial: Aenor ISBN: 978-84-8143-841-3 outros padrões e fundamentado no cumprimento da Norma UNE-ISO 31000:2010 Gestão do risco. Princípios e diretrizes. Dirigido para empresas de qualquer setor, independente de seu modelo organizacional: funcional ou de gestão baseada em processos. A publicação traz para as PMEs formas de controle e conselhos de implantação que permitirão que os níveis de segurança da sua organização se elevem. A segurança patrimonial tem como objetivo a prevenção e a proteção dos ativos da empresa. O livro apresenta um modelo para implementar um sistema de gestão da segurança patrimonial alinhado com a gestão da qualidade, totalmente integrável com Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 51 FUNDACIÓN MAPFRE Área de Seguros e Previdência Social EL RIESGO DE LONGEVIDAD Y SU APLICACIÓN PRÁCTICA A SOLVENCIA II VII PREMIO INTERNACIONAL DE SEGUROS JULIO CASTELO MATRÁN Jose Miguel Rodríguez-Pardo Del Castillo (Coord.) / Irene Albarrán Lozano / Fernando Ariza Rodríguez / Víctor Manuel Cóbreces Juárez / María Luz Durbán Reguera FUNDACIÓN MAPFRE, 2014 ISBN: 978-84-9844-500-8 PREÇO: 35€ E ste trabalho de pesquisa aborda um assunto de enorme interesse social e setorial relacionado com a longevidade e o risco que ela representa para o mercado e fornece um conjunto de técnicas atuariais avançadas para a gestão desse risco. Analisa-se o “interesse comum” que os pesquisadores têm pelo estudo da mensuração da longevidade e sua aplicação prática no contexto do Solvência II. Também recebe destaque a urgência que “a modelização adequada da sobrevivência” representa e 52 a necessidade de encontrar uma “resposta adequada ao desafio colocado pelo envelhecimento da população” na indústria do seguro privado, oferecendo produtos que garantam a longevidade. Como conclusão, podemos afirmar que o presente trabalho de pesquisa tem como objetivo a aplicação prática ao negócio da longevidade no mercado espanhol de um conjunto integral abrangente de técnicas atuariais e de gestão do risco considerado como o mais avançado e que permitirá a utilização de diferentes alavancas de otimização do negócio e do capital alocado ao risco de sobrevivência, bem como vantagens competitivas sustentáveis sobre um negócio que às vezes é questionado por sua rentabilidade devido às incertezas em que está envolvido. O Prêmio Internacional de Seguros Julio Castelo Matrán foi criado em 2001 por ocasião da aposentadoria do então presidente do SISTEMA MAPFRE e da MAPFRE MUTUALIDAD, e tem como objetivo premiar, com periodicidade bienal, trabalhos científicos inéditos que estejam relacionados com o seguro. Seu valor chega a 35.000 euros e inclui um diploma que certifica sua obtenção. EL COMPONENTE TRANSFRONTERIZO DE LAS RELACIONES ASEGURADORAS Lázaro Cuesta Barberá FUNDACIÓN MAPFRE, 2014 ISBN: 978-84-9844-475-9 PREÇO: 20€ O fenômeno da globalização da economia em geral e dos mercados financeiros em particular determina que Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 também no campo dos seguros venham se estabelecendo cada vez mais relações que transcendem as fronteiras dos mercados nacionais. No lado da demanda, vale notar que é cada vez maior o número de pessoas físicas e jurídicas que têm interesses econômicos suscetíveis de cobertura no exterior, fora de seu país de origem. Existem outras situações em que os vínculos decorrentes do contrato de seguro são estabelecidos cruzando as fronteiras nacionais. A existência de um componente transfronteiriço levanta inúmeras questões de natureza jurídica que constituem um desafio regulamentar tanto do ponto de vista das próprias companhias de seguros como dos tomadores ou segurados. A pesquisa desenvolvida tenta esclarecer as normas aplicáveis em cada caso e identificar, se for o caso, possíveis lacunas legais. Para esta finalidade, primeiro discutem-se os critérios estabelecidos na regulamentação vigente para determinar a localização do risco ou o lugar comprometido. Além disso, são analisados os canais que as entidades seguradoras têm para desenvolver suas atividades em outros países e os critérios para Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 faculdades e poderes de supervisão de cada um desses órgãos de fiscalização. LA PERCEPCIÓN SOCIAL DEL SEGURO EN ESPAÑA 2014 determinar a lei aplicável ao contrato de seguro, bem como os mecanismos e as garantias estabelecidos pela legislação de cada país e as principais normas e sistemas internacionais para uma coordenação eficaz entre os países que evite a desproteção do cliente de seguro transfronteiriço. Por fim, analisa-se o papel desempenhado por cada um dos supervisores nacionais dos países que esta atividade transfronteiriça afeta e os mecanismos para coordenar o devido exercício de suas Elaboración Técnica Del Estudio Realizada Por Icea FUNDACIÓN MAPFRE, 2014 ISBN: 978-84-9844-489-6 E ste estudo é a continuação do estudo publicado em 2012 e faz parte de uma série de obras que servirão para analisar periodicamente a evolução da opinião do cidadão e a cultura seguradora. Ele atende o novo objetivo a que se propôs a Área de Seguros e Previdência Social da FUNDACIÓN MAPFRE para contribuir para melhorar a cultura seguradora dos cidadãos e a percepção social do seguro. Nesta segunda edição, além de buscar o perfil e a atitude dos cidadãos com relação ao risco e ao seguro como produto e serviço, a análise se amplia com a inclusão do segmento de população mais jovem (de 18 a 24 anos) para saber que valor essas pessoas dão ao seguro e 53 livros A que imagem têm do setor. Também foram incluídos outros dois objetivos bem distintos: conhecer a atitude e o nível de previdência da população para o momento da aposentadoria e analisar a importância que os cidadãos atribuem à formação seguradora nas aulas e saber qual é o nível de formação que os mais jovens receberam. EL MERCADO ESPAÑOL DE SEGUROS EN 2013 FUNDACIÓN MAPFRE, septiembre 2014 ISBN: 978-84-9844-490-2 54 economia espanhola terminou o ano de 2013 com uma contração do PIB de 1,2 por cento, embora no segundo semestre ele tenha se recuperado timidamente. Estes primeiros sinais de recuperação econômica tiveram seu reflexo no setor segurador, ao moderar a queda no ano anterior e obter um volume de prêmios de 55,773 bilhões de euros, que representa um decréscimo de 2,8%, inferior em 5,2 por cento ao de 2012. O volume de prêmios do seguro de Vida foi de 25,505 bilhões de euros, 3,0 por cento menor que em 2012. Pelo segundo ano consecutivo, em 2013 os planos de aposentadoria aumentaram o patrimônio gerido, com um aumento de 6,8 por cento em comparação com o ano anterior. No que diz respeito aos seguros Não Vida, os prêmios caíram 2,7 por cento em 2013 em comparação com o ano anterior. O seguro de Saúde, por sua vez, teve aumento de 1,7 por cento no volume de prêmios, chegando a 6,902 bilhões de euros, devido ao crescimento de sua modalidade mais importante, Assistência à Saúde. Contudo, as demais modalidades sofreram decréscimos. Os seguros Multirrisco interromperam o bom desempenho dos últimos anos. Residência e Comunidades cresceram, embora menos que em 2012. Por fim, o seguro de Auxílio Funeral, profundamente enraizado na Espanha, com mais de 20 milhões de segurados, manteve seu crescimento dos últimos anos. Quanto à penetração do seguro na economia, o setor continuou a mostrar força, contribuindo significativamente para o PIB nacional. Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 A BIBLIOTECA FUNDACIÓN MAPFRE AO ALCANCE DE SUAS MÃOS Descubra o aplicativo gratuito para aparelhos móveis: a Biblioteca FM. Acesse as novidades e todos os serviços do Centro de Documentação e baixe documentos que você poderá consultar depois, sem precisar de de conexão, com apenas um clique. Instale gratuitamente o aplicativo pela App Store ou pelo Google Play, ou escaneando os seguintes códigos QR: Para mais informações: +34 91 602 52 21 Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 55 caderno nacional na gestão de Comprar seguro requer sensibilidade, intuição e firmeza nas negociações. Uma tarefa que Cristiane Alves, a primeira mulher a presidir a Associação Brasileira de Gerenciamento de Risco, tem exercitado desde 1990, quando iniciou sua carreira na corretora cativa do grupo Pirelli. Nesses 25 anos, passou por todas as áreas, fez cursos, se especializou e acumula uma experiência peculiar numa profissão em que um simples detalhe pode salvar uma empresa de acidentes de grandes proporções. Além de presidir a ABGR, é a gerente de seguros da CSN, uma das maiores siderúrgicas da América Latina e o segundo maior exportador de minério de ferro do Brasil. Veja a seguir os principais trechos da entrevista concedida para a Revista Gerência de Riscos. Cristiane Alves PRESIDENTE DA ABGR TEXTO: DENISE BUENO FOTOS: DIVULGAÇÃO 56 Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 Como você avalia a importância dada pelas empresas ao gerenciamento de risco no Brasil? Existe ainda uma carência muito grande de um pensamento cuidadoso com relação às atividades que realizamos diariamente. Não pensamos com um sentimento de antecipação, tampouco estamos 100% treinados para pensar assim. Não faz parte da cultura brasileira, e me atrevo a dizer que a cultura dos demais países latinoamericanos não é diferente da nossa. A tecnologia tem tornado o gerenciamento de risco algo mais complexo ou tem facilitado esta missão dos guardiães do patrimônio dos acionistas? Sem dúvida a tecnologia é a grande aliada da humanidade em todos os campos e não poderia ser diferente em gerenciamento de riscos. Ela nos ajuda no processo que deve ser implementado para o desenvolvimento da atividade, assim como na educação, na fixação dos conceitos. Toda informação que podemos acessar e intercambiar com colegas do mundo todo ajuda muito na mudança de mentalidade. Isso faz com que hoje seja muito mais fácil a educação relacionada a gerenciamento de risco e, da mesma forma, a implementação deste programa se torna muito mais facilitada com a tecnologia. Ela também é uma aliada para difundir a política de risco dentro das organizações? A gerência de riscos precisa circular na organização. Precisa estar em contato com todas as áreas, administrativas e de operação, com o “chão de fábrica” e se tornar “parceira” de quem cuida da manutenção, da segurança do Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 trabalho. Neste sentido, a tecnologia tem sido uma aliada por nos fazer presentes em todos os lugares em que a empresa tem operações, bem como nos ajuda a acessar todos os níveis hierárquicos, identificar exposições, tratá-las e monitorá-las. Há programas que permitem acessar todas as áreas, como se você estivesse presente para fazer o controle. As plataformas de gerenciamento suprem a falta de presença física constante, proporcionando a possibilidade de adoção de sistemas que atuarão como ferramentas para o controle dos riscos. Como a situação macroeconômica do Brasil, com perspectivas negativas para o Produto Interno Bruto brasileiro, pode afetar os gerentes de riscos? PIB baixo significa, para a grande maioria das empresas, redução de custos, e o grande desafio do gerente de riscos é fazer a organização entender que todo valor despendido com tratamento de risco não é custo, e sim investimento. É uma tarefa complicada, porque tendemos a olhar sempre o curto prazo em tempos de crise. E o que fazer num ano como 2015, com projeções de crescimento negativo? A tendência que observamos é trabalhar com orçamento mais apertado e cortar tudo o que não for essencial. É nos momentos de crise que mais cresce o número de acidentes, e isso acontece porque, infelizmente, é notória a redução de custo com manutenção, prevenção e até mesmo substituições de pessoas importantes, que conhecem a operação. É justamente em momentos 57 caderno nacional CADA ORGANIZAÇÃO DEVE POSSUIR O SEU MAPA DE RISCOS, E ELE NÃO VAI SER 100% IGUAL PARA TODAS, AINDA QUE ELAS SEJAM DO MESMO SEGMENTO de crise que a área de gerenciamento de riscos deve se fazer mais presente. Ainda que contraditório, em termos de custo é quando mais temos de viajar para estar na operação, monitorar, controlar, fazer lembrar das regras, do checklist. Enfim, devemos fazer o movimento contrário, porque é nossa função trazer a segurança para os acionistas de que as exposições estão controladas, conforme o apetite de risco que a empresa se predispôs a assumir e que o Conselho aprovou. Os riscos se estendem também à cadeia de fornecedores? As reduções no orçamento tendem a trazer de uma só vez para uma 58 organização os cortes com manutenção, demissões e funcionários, novos ou não, com menos treinamento. Deste modo, é correto eu pensar que o mesmo vai acontecer com o fornecedor dessa organização, e não é difícil que ele possa sofrer uma interrupção de produção, fazendo com que eu tenha problema para dar continuidade à minha operação. Como realmente tudo é visto a curto prazo em tempos de crise, se uma organização não tem uma política muito rígida de homologação de fornecedores, por exemplo, o grau da exposição aumenta inclusive para um problema de produto. Ou seja, não só a organização poderá sofrer com a falta de entrega de matéria-prima, Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 como também poderá sofrer com uma matéria-prima de baixa qualidade e que, se não for detectada pela área competente, poderá comprometer o produto que ela entregará aos seus clientes, trazendo exposições de responsabilidade civil, recall e risco de imagem. Um risco para a credibilidade, não? Sim, algo difícil de se conquistar pode ser facilmente perdido se esses pontos forem desprezados. Mas, além disso tudo, há de se lembrar que a organização precisa garantir a sua manutenção no mercado, preservar sua participação no mercado, e neste momento é muito importante que a área de gerência de riscos assegure que aquele mapa de riscos que foi elaborado com toda a organização e que determinou a linha de tratamento dos riscos esteja sendo cumprido, além de constantemente monitorado e atualizado. E como convencer todos de que gerenciar riscos é vital? Temos que direcionar o investimento e garantir a manutenção da cultura, o cumprimento daquilo que chamamos de “elemento humano”, ou seja, aquilo que não depende de orçamento, mas do comprometimento do “chão de fábrica”. E nós somos o exemplo. Nosso discurso deve estar alinhado com a prática. Então, quando eu digo “nós”, não estou me referindo apenas ao gerente de riscos e seu time, mas a todos aqueles que estão no comando. A política de riscos deve ser assinada e seguida pelo primeiro homem de uma organização, e ele deve dar o exemplo para que a cultura faça parte do dia a dia de trabalho. Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 Você acha que o médio e o pequeno empresários brasileiros estão preocupados com riscos? De uma forma geral eu entendo que sim, sobretudo o médio. Mas por outro lado eu acredito que a preocupação seja superficial, até por desconhecimento. Gosto daquela frase que diz que “a ignorância nos protege”. No último evento da ALARYS, que aconteceu em outubro passado no Rio de Janeiro, tanto a RIMS (Associação Norteamericana de Gerentes de Riscos e Seguros) como a IFRIMA (Federação Mundial das Associações de Gerentes de Riscos e Seguros) afirmaram que têm a mesma dificuldade que temos com relação a disseminar a cultura de gerenciamento de riscos para todos os níveis, e que hoje o ERM (Enterprise Risk Management) ou a Gestão Integrada de Riscos é algo ainda muito longe daquilo que se entende como aceitável. Como a ABGR tem ajudado a valorizar a profissão de gerente de riscos nas médias empresas? Não existe um manual ou uma receita para seguir e fazer acontecer. Acredito que cada vez estamos ficando mais fortes e sendo procurados para mostrar nossa contribuição, ainda que depois soframos com a dificuldade de colocar em prática tudo aquilo que entendemos ser necessário para a gestão de riscos. Quem está na operação, quem está no dia a dia da produção quer muito a nossa presença de forma contínua. O avanço da tecnologia, a velocidade com que as informações são transmitidas, o mundo globalizado com a economia praticamente sem fronteiras, tudo isso contribui para que se espere 59 caderno nacional cada vez mais do gerente de riscos. E, além de tudo isso, a legislação e os órgãos de controle também reforçam a nossa importância. Cabe a nós a luta para que sejamos ouvidos dentro das organizações, mas, sem dúvida, conquistar o nosso espaço é hoje muito mais fácil do que anos atrás, como quando eu comecei minha carreira. QUANDO PENSAMOS EM GESTÃO DE RISCOS, O IRB BRASIL ERA PRATICAMENTE UMA MÃE PARA TODOS Quais os riscos que ainda precisam ser mais bem quantificados pelas empresas de grande porte? Cada organização deve possuir o seu mapa de riscos, e ele não vai ser 100% igual para todas, ainda que elas sejam do mesmo segmento. Temos hoje riscos ainda pouco avaliados ou considerados por muitas organizações, como riscos cibernéticos, mudanças climáticas, risco político, comoção social e guerra, terrorismo e interdependência. Esses riscos precisam ganhar prioridade dentro das organizações, até mesmo pela questão da falta de cultura de trabalhar com antecipação. Como avalia estes seis anos de abertura do mercado de resseguros do Brasil? Muito positivos. Seis anos de avanço e crescimento em todos os sentidos para a gerência de riscos e seguros, desde o ponto de vista de aprimorar a gestão de riscos até o fato de se ter concorrência, mais oferta no país. Quando pensamos em gestão de riscos, o IRB Brasil era praticamente uma mãe para todos. Muitas organizações, as multinacionais, de uma certa forma já praticavam gestão de riscos, sobretudo quando a iminência da privatização começou 60 a se confirmar. Então essas sofreram menos, mas muitas das grandes locais e as médias e pequenas demoraram a tratar o risco e sofreram. Tanto que ainda hoje existe uma forte queixa a respeito de “risco declinado”, que em parte, a meu ver, se justifica pela falta de uma gestão adequada de risco. O grande desafio, então, está nas pequenas e médias empresas? Tanto a RIMS como a IFRIMA afirmam que não é fácil conseguir que médias e pequenas empresas trabalhem a gestão de riscos de forma integrada. Elas, que nunca tiveram um IRB que exigisse a gestão de riscos. Temos muito para avançar, mas, olhando para trás, a gente mal tinha mão de obra especializada. As resseguradoras chegavam ao Brasil sem gente para contratar. Tenho muito orgulho de ver tudo o que conquistamos neste espaço de tempo tão curto. Os gerentes costumam expressar certa frustração em relação à inovação. Como avalia isso? Sem dúvida a palavra “inovação” vem sendo muito utilizada por gerentes de riscos no mundo todo. No nosso caso, então, muito mais, porque nossos clausulados não têm permitido soluções que são alcançadas em outros países. As seguradoras precisam ter mais liberdade para inovar em produtos, sem tanta interferência regulatória. Ao órgão regulador cabe a atribuição de fiscalizar as contas das seguradoras, fiscalizar balanços, controlar se assumem risco de acordo com sua capacidade, cabe ao órgão garantir a solvência de todas as seguradoras que estão no mercado. Isso Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 sem dúvida nos afasta ainda mais da inovação e contribui de forma negativa para as organizações seguradas, que despendem mais tempo para melhorar suas coberturas no momento de contratação e ou renovação de suas apólices. No caso daquelas que fazem parte de organizações multinacionais, a dificuldade aumenta para conseguir usufruir de soluções que os programas mundiais disponibilizam para suas subsidiárias localizadas em outros países. O que pode melhorar, na sua opinião? Com relação à inovação por parte das seguradoras, a lição de casa é maior. Percebo que os gestores querem mais qualidade de serviço, conhecimento técnico, agilidade em atender. Quais itens o gerente de riscos mais leva em conta para avaliar uma seguradora? Se vivêssemos no “mundo perfeito”, a resposta seria produtos inovadores ou ao menos mais adequados ao tipo de exposição de uma organização e presença nos países onde ela opera. No entanto, acho que ainda hoje no Brasil precisamos pedir que as seguradoras busquem contato constante com o segurado, estando sempre perto do risco e entendendo do negócio, de modo que, quando aconteça um sinistro, não sejam perdidos meses só para entender o que o segurado faz e o que a seguradora garantiu em apólice. Além disso, a solvência também entra na lista, assim como a questão custo. E as resseguradoras, o que podem melhorar? Existe todo um trabalho de gerenciamento de riscos que é SEIS ANOS DE AVANÇO E CRESCIMENTO EM TODOS OS SENTIDOS PARA A GERÊNCIA DE RISCOS E SEGUROS, DESDE O PONTO DE VISTA DE APRIMORAR A GESTÃO DE RISCOS ATÉ O FATO DE SE TER CONCORRÊNCIA, MAIS OFERTA NO PAÍS Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 61 caderno nacional O GRANDE DESAFIO DO GERENTE DE RISCOS É FAZER A ORGANIZAÇÃO ENTENDER QUE TODO VALOR DESPENDIDO COM TRATAMENTO DE RISCO NÃO É CUSTO, E SIM INVESTIMENTO realizado antes da transferência do risco. O mapeamento de riscos, o seu tratamento, monitoramento, muitas vezes a retenção de parte do risco. O trabalho de loss prevention, o BIA (Business Impact Analysis) e BCP (Business Continuity Plan) – tudo isso deveria ser considerado pelas resseguradoras, porque não conseguimos perceber uma “premiação” em termos de taxa para quem faz a “lição de casa” direitinho. No Brasil foi necessário fazer muita coisa em pouco tempo. A realidade dos segurados brasileiros deveria ser considerada no momento de taxar o risco. O preço ainda é fator decisivo para a compra de seguro? Estamos vivenciando talvez o maior período “soft” da história. Resseguradoras e seguradoras, sem dúvida, neste momento deveriam 62 aproveitar para rever seus negócios e de fato apresentarem serviços diferenciados. Se for o caso, cobrar por eles. O gerente de riscos tem de perceber este serviço diferenciado e decidir se quer ou não pagar por ele. O mesmo vale para os corretores, com a ressalva de que, no caso deles, os serviços já são prestados de forma separada. E qual a mensagem que você deixa como presidente da ABGR? Acredito que todos, resseguradoras, seguradoras e corretores, deveriam cuidar de seus talentos, educar de forma profunda seus novos funcionários, para que eles realmente entendam as nossas demandas e possam nos atender bem. Recebendo a excelência, talvez as queixas relacionadas a preço diminuam. Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 Instituto de Ciencias del Seguro T 91 581 20 08 Paseo de Recoletos, 23. Madrid www.fundacionmapfre.org RED CUMES. A REDE SOCIAL PARA PROFISSIONAIS DO SEGURO A RED CUMES se diferencia como um ponto de encontro de todos os profissionais ou futuros profissionais do setor segurador onde se podem estabelecer vínculos de comunicação para debater temas da atualidade, fazer consultas e inclusive deixar voar a imaginação no concurso de pequenas histórias, dando forma, com tudo isso, a uma extensa rede profissional especializada. A RED CUMES é um portal Web onde qualquer usuário pode acessar todos os seus conteúdos e, se quiser, pode participar ativamente por meio de seus blogs, grupos, concursos, bolsa de empregos, etc. Além disso, qualquer usuário pode acessá-lo através das redes sociais Facebook e LinkedIn. Para maiores informações: www.redcumes.com Siga-nos no twitter: @redcumes Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014 63 caderno nacional Instituto de Ciencias del Seguro Centro de Documentación C/ Bárbara de Braganza, 14, 3ª planta 28004 Madrid – España www.fundacionmapfre.org CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO EM SEGUROS, GERÊNCIA DE RISCOS, SEGURANÇA E MEIO AMBIENTE ANÚCIO • Sistema integral de gestão documental desenvolvido conforme padrões internacionais. • Catálogo web com mais de 115.000 referências bibliográficas e documentos eletrônicos com texto completo. • Múltiplos recursos de informação: bancos de dados externos, imprensa econômica, normas técnicas, etc. Catálogo web na: www.fundacionmapfre.org/documentacion Para mais informações: Tel.: + 34 91 581 23 38 64 Gerência de Riscos e Seguros • nº 120-2014