ANO XXXI
Diego Domínguez
“Tentamos fazer programas de seguro eficientes ao máximo possível,
sempre enfocando a estabilidade no futuro”
Chefe do Departamento de Gestão de Seguros Industriais da Navantia
O seguro baseado no uso
Um novo conceito de produto segurador
MANUELA ALCAÑIZ ZANÓN, MERCEDES AYUSO GUTIÉRREZ, ANA M. PÉREZ-MARÍN
O mercado de microsseguros na Espanha
Possibilidades para a sua implantação
MARÍA PÉREZ MARTÍN
Reflexões sobre a Gerência de Riscos
Rumo a uma gerência de riscos competente
FRANÇOIS SETTEMBRINO
T ERCEIRO QU ADRIM EST RE 2014
120
VE R S ÃO B R AS I LE I R A
A BIBLIOTECA
FUNDACIÓN MAPFRE
AO ALCANCE
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editorial
O fim de uma etapa
Há 31 anos a FUNDACIÓN MAPFRE decidiu criar uma publicação
que refletisse suas iniciativas e mostrasse sua visão de Gerência de Riscos
de forma simples e informativa. Em seus 120 números, a revista nos
relatou sobre Gerência de Riscos no mercado latino-americano.
O final de 2014 trouxe novos ares para a revista Gerência de Riscos
e Seguros. Este número que você tem em mãos é o último número
impresso desta revista. Daqui em diante, novos formatos de comunicação
serão usados para acompanhar a irreversível consolidação dos meios de
comunicação digitais, que não podemos brecar e que ainda por cima
respeitam o meio ambiente. A MAPFRE GLOBAL RISKS assumirá a
partir de agora.
Por 31 anos nós trabalhamos muito para criar e divulgar informações
relacionadas a Seguro e Gerência de Riscos entre profissionais e a
comunidade científica. Somos verdadeiramente gratos àqueles que
tornaram esta revista possível e desejamos toda a sorte possível para a
nova equipe.
O número 120 inclui uma entrevista interessante com Diego
Domínguez, Gerente Corporativo de Seguros da Prosegur, uma empresa
que tem controle de riscos em seu DNA. Entre outras coisas, o sr.
Domínguez explica por que, para conseguir enfrentar os novos riscos,
é importante estar pelo menos dois passos à frente.
O primeiro estudo foi escrito por um grupo de pesquisadores do
Riskcenter da Universidade de Barcelona e discorre sobre a relação entre
o uso e a sinistralidade dos automóveis, e como o seguro baseado no uso
se tornou uma referência para novos produtos seguradores.
O segundo estudo trata dos microsseguros na Espanha, sua
distribuição, cobertura de riscos e oportunidades comerciais; também
aborda sua possibilidade de quebrar o ciclo da pobreza e superar a
vulnerabilidade vivenciada por alguns grupos sociais em situação difícil.
O terceiro estudo é uma reflexão importante em linha com a ativação
do processo de certificação dos gerentes de riscos. Ele aborda os princípios
básicos sobre os quais se fundamenta uma gerência de riscos competente.
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
3
editorial
Este número termina com as habituais seções sobre livros e com as
notícias da AGERS, IGREA e FERMA. Como sempre, esperamos que a
revista seja do seu agrado.
Gostaríamos de expressar nosso agradecimento sincero e de coração
a todos os nossos leitores, com os quais tivemos o privilégio de estar em
contato por meio dos 120 números da revista, e especialmente aos cerca
de 5.000 assinantes procedentes de mais de 30 países, cuja fidelidade nos
acompanhou ao longo destes 31 anos.
Nosso compromisso com todos vocês é continuar trabalhando na
divulgação da Gerência de Riscos e manter-lhes informados sobre as
diversas atividades que realizarmos.
Agradecemos sua companhia, proximidade e, sobretudo, sua
fidelidade. Desejamos que continuem a se sentir parte essencial da revista
e esperamos poder continuar contando com a sua colaboração.
Aguardamos ansiosamente pela futura revista!
FUNDACIÓN MAPFRE
Instituto de Ciencias del Seguro
Paseo de Recoletos, 23. 28004 Madrid (España)
Tel.: +34 91 581 12 40. Fax: +34 91 581 84 09
www.gerenciaderiesgosyseguros.com
PRESIDENTA: Mercedes Sanz Septién
DIRETOR: José Luis Ibáñez Götzens
CHEFE DE REDAÇÃO: Ana Sojo Gil
COORDENAÇÃO: María Rodrigo López
CONSELHO DE REDAÇÃO: Irene Albarrán Lozano, Alfredo Arán Iglesia, Francisco
Arenas Ros, Montserrat Guillén Estany, César López López, Juan Carlos López Porcel, Jorge Luzzi,
Francisco Martínez García, Eduardo Pavelek Zamora, Mª Teresa Piserra de Castro, César Quevedo
Seises, Daniel San Millán del Río, François Settembrino.
DESIGN E REALIZAÇÃO EDITORIAL: Comark XXI Consultores de Comunicación y Marketing del
Siglo XXI S.L.
IMPRIME: CGA
Versão Brasileira:
FUNDACIÓN MAPFRE - Delegação Brasil
DIREÇÃO: Fátima Lima
COORDENAÇÃO: Cristiane Kanashiro
TRADUÇÃO E REVISÃO: Maristela Leal Casati
PROJETO GRÁFICO E DESIGN ADAPTADO: EW21 Propaganda
A revista Gerência de Riscos e Seguros não se responsabiliza pelo conteúdo de nenhum artigo ou trabalho assinado por seus autores, e o fato de publicá-los não implica concordância
ou identificação com os trabalhos expostos nesta publicação. É proibida a reprodução total ou parcial dos textos e ilustrações desta revista sem a autorização prévia do editor.
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Gerência de Riscos e Seguros
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nº 120-2014
SEGUNDO QUADRIMESTRE 2014
índice
Obs.: Versão brasileira traduzida da edição original bilíngue (espanhol e
inglês) da Revista Gerencia de Riesgos y Seguros, 3º Quadrimestre de 2014.
120
Entrevista 6
Diego Domínguez, Gerente Corporativo de Seguros da Prosegur
“Tentamos fazer programas de seguro eficientes ao máximo possível, sempre enfocando a
estabilidade no futuro”
Estudos
O seguro baseado no uso: um novo conceito de produto segurador
MANUELA ALCAÑIZ ZANÓN, MERCEDES AYUSO GUTIÉRREZ,
ANA M. PÉREZ-MARÍN................................................................... 14
O mercado de microsseguros na Espanha: possibilidades para a sua implantação
MARÍA PÉREZ MARTÍN................................................................... 24
Reflexões sobre a Gerência de Riscos
FRANÇOIS SETTEMBRINO............................................................... 34
Notícias
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Atividades da AGERS no último trimestre de 2014. Congressos da IGREA Sobre
Mercado de Seguros na América Latina e Tendências de Mercado. A FERMA
pede para renovar a isenção por categorias no REC para grupos res(seguradores).
Comemoração do 40º aniversário da FERMA.
Agenda 2014
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Livros
50
Caderno Nacional
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Cristiane Alves, Presidente da ABGR
Pulso firme na gestão de riscos
Gerência de Riscos e Seguros
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nº 120-2014
5
entrevista
“Tentamos fazer programas de seguro
eficientes ao máximo possível, sempre
enfocando a estabilidade no futuro e a
consolidação em todos os países”
A atividade da Prosegur está diretamente relacionada ao risco, tanto
que, de acordo com Diego Domínguez, “se não tivéssemos um sistema
de Gerência de Riscos dentro da empresa, dificilmente poderíamos
fornecer estes serviços”. Seu desafio é responder ao ambiente em
mudança. “A Prosegur está crescendo rápida e continuamente,
e isto requer que sejam desenvolvidos programas de seguros e que
eles evoluam conforme as necessidades do negócio e os objetivos da
empresa”, diz ele.
Diego
Domínguez
GERENTE CORPORATIVO DE SEGUROS DA PROSEGUR
Texto: ALICIA OLIVAS Fotos: ALBERTO CARRASCO
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Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
7
estudo
A Prosegur é uma das principais
multinacionais do setor de segurança
privada, com quase quarenta anos de
experiência. Em sua opinião, de que
forma a Gerência de Riscos contribuiu
para o que a empresa é hoje?
Na Prosegur nossa atividade está relacionada ao risco. Temos três linhas de
negócio: Vigilância, Logística de Valores
e Gerenciamento de Dinheiro e Tecnologia, que engloba nossos serviços de alarme.
Estas três atividades estão diretamente relacionadas ao risco, de modo que, se não
tivéssemos um sistema de Gerência de
Riscos dentro da empresa, não poderíamos
realizar estes serviços de forma correta.
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Esta relação com o risco significa que
os clientes nos transferem responsabilidades, e isso é uma garantia que precisamos
ter dentro da empresa para que nossos programas sempre apoiem ou garantam essas
responsabilidades.
“ESTA EMPRESA
ESTÁ TÃO LIGADA
AO RISCO EM
SUA ATIVIDADE
QUE TODOS NA
ORGANIZAÇÃO
PRECISAM ESTAR
CIENTES DISTO”
Quais áreas e divisões da Prosegur estão
envolvidas no “gerenciar” os riscos?
No quadro organizacional da empresa
existe a Área de Segurança e Riscos, que,
por sua vez, se divide em duas áreas: a Área
de Segurança e Intervenção, cujo objetivo básico é a identificação, o controle e o
acompanhamento dos riscos operacionais,
e a Área de Gerência de Seguros, onde,
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
com o apoio direto da área anterior, decidimos a melhor estratégia de transferência
de riscos, para o mercado ou por outros
mecanismos de transferência: retenções,
franquias, cativas e autosseguro.
A Área de Segurança e Riscos é corporativa, ou seja, ela estabelece as políticas e os
procedimentos em todo o mundo tanto para
a identificação, controle e monitoramento
quanto para a transferência do risco, a fim
de que estas normas e procedimentos sejam
implantados igualmente em todos os países.
Então esta área dispõe de pessoal em
cada um dos países onde a empresa está
estabelecida?
É isso mesmo. No total, a Área de Segurança e Riscos consiste de mais de 80
pessoas, parte delas alocadas para trabalhar
em todos os países onde estamos presentes
e a outra parte na matriz, e elas sempre dependem hierarquicamente da área corporativa, independente de sua localização física. A Prosegur está presente em 17 países
e em cada um deles há uma estrutura que
equivale àquela que existe no escritório
corporativo.
CULTURA DO RISCO
Vocês estão conseguindo criar uma
verdadeira consciência do risco no
cotidiano da organização?
Com certeza. Esta empresa está tão ligada ao risco em sua atividade que todos
na organização precisam estar cientes disto, desde o Departamento Comercial, que
é o que o cliente vê, o primeiro contato e
também o principal seletor do risco e o que
nos ajuda a identificar os riscos na gerência
sênior. Todos devem estar conscientes de
que somos uma empresa ligada ao risco.
Portanto, isso é algo que precisa ser abordado e é uma mensagem que a cultura da
empresa está assimilando.
Gerência de Riscos e Seguros
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nº 120-2014
“DEVEMOS
ESTAR SEMPRE
UM PASSO À
FRENTE DAS
NECESSIDADES
E GARANTIR QUE
AS POLÍTICAS E
OS PROGRAMAS
CORPORATIVOS
SEJAM
ADEQUADOS”
Oferecer serviços de segurança significa
que o cliente transfere seus próprios
riscos para a Prosegur. Como vocês
enfrentaram este desafio?
Esta é uma das grandes diferenças entre
nós e outras empresas. Em primeiro lugar,
temos de assegurar nosso próprio ativo
imobilizado para o nosso pessoal (150.000
funcionários), mas também as responsabilidades que os clientes transferem para nós.
A única forma de fazê-lo é tendo uma boa
Gerência de Riscos, com normas e procedimentos estabelecidos em nível corporativo e implementados localmente. Também
é importante que haja clareza no tocante à
transferência de riscos, sempre tendo em
mente o objetivo da empresa.
A Prosegur está presente em 17
países em quatro continentes. Como
a dimensão internacional da empresa
impacta a Gerência de Riscos?
Atuar em 17 países em quatro continentes significa trabalhar com visões culturais
diferentes. Há países onde a Prosegur já era
uma empresa reconhecida e outros onde
começamos do zero e tivemos que trazer a
nossa cultura conosco. Isso afeta o cotidiano, ou seja, pouco a pouco estas políticas
e procedimentos são implementados para
que todos os países se sintam cada vez mais
“Prosegur” e para que todos nós estejamos
cada vez mais seguindo a mesma cartilha.
Como área corporativa de seguros, trabalhamos para integrar os riscos e as apólices,
os riscos existentes e os novos de cada um
dos países em nosso programa corporativo.
Quais são os pilares da estratégia da
Prosegur para os próximos anos e
qual será a abordagem da Gerência de
Riscos?
O plano para os próximos anos continua sendo muito parecido com o dos anos
anteriores: continuar crescendo como
9
entrevista
empresa e continuar desenvolvendo os
serviços tradicionais de Transporte ou
Logística de Valores e Gerenciamento de
Dinheiro, Vigilância e Tecnologia, Alarmes... Mas também se contempla o desenvolvimento de novos produtos como,
por exemplo, no campo da segurança cibernética e novas soluções de gestão de
dinheiro.
Este plano também acarreta um desafio: devemos estar sempre um passo à
frente das necessidades e garantir que as
políticas e os programas corporativos sejam adequados e possam se adaptar a essas novas necessidades.
OS RISCOS
Quem são os responsáveis
pela identificação, controle e
acompanhamento dos riscos da
empresa na Espanha e nos países onde
vocês estão presentes?
A Área de Segurança e Riscos tem
como função principal identificar, controlar e monitorar os riscos operacionais
da empresa. Após a conclusão deste estudo, ela estabelece as normas e políticas
para que a Gerência de Riscos seja aplicada da mesma forma em todos os países.
A Área de Seguros complementa a
parte de análise, identificação e acompanhamento com a transferência, e assim
chegamos ao que é o conceito de Gerência de Riscos.
Poderia falar um pouco sobre seu
Mapa de Riscos?
A Prosegur tem um Mapa de Riscos
que é atualizado anualmente e inclui todas as áreas de negócio da empresa (Logística de Valores, Vigilância, Tecnologia
e Alarmes) e as áreas de apoio, e a avaliação é feita tanto no âmbito corporativo
quanto por país. Sua atualização e seus
10
“NÃO ME ATREVERIA
A DIZER QUE UMA
LINHA DE NEGÓCIO
ESTÁ MAIS EXPOSTA
QUE OUTRA, PORQUE
O TRATAMENTO DO
RISCO DEVE SER O
MESMO”
resultados fornecem ao departamento de
Auditoria Interna uma ferramenta-chave
para realizarem seu trabalho.
Isto permite a identificação e a avaliação de riscos que são cruciais para o negócio da Prosegur, o conhecimento de riscos
assumidos que devem ser monitorados e
a definição de controles que atenuam o
impacto associado à materialização dos
riscos para a elaboração do planejamento
anual de auditoria interna.
Por outro lado, no processo de atualização anual do Mapa de Riscos são identificados e priorizados os piores, e seu
gerenciamento é avaliado regularmente
pelo Comitê Corporativo de Riscos.
Que áreas de negócio da Prosegur
concentram o maior número de
ameaças?
Como Área de Seguros e com a responsabilidade pela transferência de riscos, as três áreas apresentam ameaças, e
eu não me atreveria a dizer que uma linha
de negócio está mais exposta que outra,
porque o tratamento do risco deve ser o
mesmo. São três atividades cujos riscos,
se não forem bem transferidos, podem
afetar a conta de resultados; portanto,
seus riscos devem ser tratados com a
mesma importância.
É verdade que existem duas atividades, a Vigilância e o Transporte de Fundos, que, por representarem um volume
maior de negócios que as demais, obviamente geram uma frequência de riscos
maior. Portanto, há um impacto maior
dessas duas do que da Tecnologia, embora seja verdade que a ameaça está presente
neste ramo de negócio também, e o risco
é constante.
Em suma, quais são os riscos que mais
lhe preocupam?
Nós nos preocupamos com o risco
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
operacional, e este é o tipo de risco em
que focamos como Área de Seguro. Portanto, eu diria que este é o tipo de risco
que mais nos preocupa. Primeiro, porque
está numa área em que podemos ter um
impacto e, segundo, porque, devido às
características desta empresa, se os clientes transferem seus riscos para nós, no
fim das contas é aí que nós temos de nos
concentrar.
TRANSFERÊNCIA E RETENÇÃO
DOS RISCOS
Qual é a política da Prosegur para a
transferência e a retenção dos riscos?
Que papel vocês dão ao seguro?
O seguro desempenha um papel fundamental. A transferência nos ajuda a mi-
“A TRANSFERÊNCIA
NOS AJUDA A
MINIMIZAR OS
IMPACTOS NA CONTA
DE RESULTADOS. ELA
É, PORTANTO, DE
VITAL IMPORTÂNCIA”
nimizar os impactos na conta de resultados. Ela é, portanto, de vital importância.
Nós temos uma política de cobertura de
100% e de arriscar o mínimo possível.
Aplicamos uma estratégia de retenção
equilibrada e eficiente após determinarmos os níveis de franquia que podemos
assumir sem prejudicar os objetivos da
empresa.
Também estudamos alternativas de
transferência de riscos, para não transferi-los para o mercado. Um exemplo seriam
as transferências para fundos de autosseguro, como temos na Austrália, ou para
cativas.
Quais são as principais características
de seus programas de seguros?
Os riscos de maior impacto são cobertos por programas de seguros corporativos, cuja ideia é que todos os países estejam sob a mesma cobertura. Tentamos
fazer programas de seguros eficientes ao
máximo possível, sempre enfocando a
estabilidade no futuro e a consolidação
em todos os países. Outra característica
é a sua capacidade de desenvolvimento,
ou seja, que os programas de seguros não
sejam estáticos, mas sim evolutivos, capazes de assumir as necessidades futuras da
empresa.
Vocês estão encontrando dificuldades
no mercado de seguros para alguns
riscos? Quais?
Eu não diria dificuldades, mas, sim,
estamos começando a ver que, com a tendência de mudança que há nos riscos, o
futuro das companhias de seguros deveria
se abrir para a subscrição multilinha. Estou
falando de conseguir cobrir várias linhas de
seguro com uma única apólice. Este é um
assunto que está muito parado na subscrição atual do mercado. Há poucas opções de
empresas capazes de oferecer um produto
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
11
entrevista
“guarda-chuva”, que cubra Responsabilidade Civil com Danos e outros produtos:
Marítimo, Transporte, etc.
A realidade é que na Prosegur os riscos evoluem, e um risco pode estar vinculado a várias linhas em uma companhia
de seguros. Por esta razão, muitas vezes
a opção mais desejável seria uma apólice
multilinha, mas hoje em dia isso é complicado.
O que um gerente de riscos procura em
suas seguradoras?
Em primeiro lugar, que seja uma companhia capaz de entender as necessidades
do cliente, ou seja, que se reúna com o
segurado e entenda seu projeto e suas necessidades.
Depois vem a capacidade de subscrição: a seguradora precisa ter visão ampla
para poder entender que a subscrição
como é feita hoje pode ser limitada ou
mais complexa e, portanto, oferecê-la separadamente ao invés de em “pacotes” de
produtos.
Em terceiro lugar, eu procuraria uma
seguradora com experiência, uma companhia em que os subscritores e os corretores saibam o que estão fazendo e sobre
o que estão falando. Por fim, solvência e
presença internacional também são dois
aspectos da maior importância.
“OS RISCOS DE
MAIOR IMPACTO
SÃO COBERTOS
POR PROGRAMAS
DE SEGUROS
CORPORATIVOS”
A Prosegur agora está apostando em
uma nova linha de negócio, a segurança
cibernética, que é cem por cento tecnologia. Fazemos análises de empresas, de seus
sistemas de segurança, de seus sistemas de
computação, de suas fraquezas, etc. Temos
nos concentrado nesta área e acreditamos
que a tecnologia seja o futuro.
Você acha que na Prosegur
vocês também são inovadores no
gerenciamento de riscos?
Eu diria que somos pioneiros no setor, dada a especificidade da nossa atividade. Além disso, nossa Gerência de Riscos é muito bem vista pelo mercado de
SEGURANÇA E GERÊNCIA DE
RISCOS
Qual é o papel da tecnologia na
segurança do futuro?
Um papel muito importante. O desenvolvimento do produto está ligado às
novas tecnologias. Existe o produto tradicional, que é o que já temos atualmente,
mas é claro que é preciso desenvolver novos produtos, e sem tecnologia eles não
fazem sentido.
12
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
seguros. Não se trata de sermos ou não
inovadores, e sim de darmos a máxima
importância a esta questão, que é o que
fazemos.
“OS GERENTES DE
RISCO PRECISAM
MUDAR SEU JEITO
DE FAZER AS COISAS,
PORQUE ESTAMOS
Olhando para o futuro, quais são
as tendências que o sr. identifica na
Gerência de Riscos e no papel dos
gerentes?
EM UM AMBIENTE DE
MUDANÇAS”
obrigando a ser cada vez mais criativos e,
por outro, os gerentes de risco precisam
mudar seu jeito de fazer as coisas, porque
estamos em um ambiente de mudanças.
Os riscos tradicionais já estão claros, e
nós já os identificamos, mas estão surgindo novos riscos, o que nos obriga a prestar
atenção e a encontrar soluções novas continuamente.
Gostaria de salientar dois pontos. Por
um lado, a evolução dos riscos está nos
“PRECISAMOS ENFRENTAR AS NECESSIDADES FUTURAS
E PERMANECER DOIS PASSOS À FRENTE”
Depois de se formar em Administração de
Empresas em 2002, Diego Domínguez junta-se à
MAPFRE Industrial, onde ficou por cinco anos. Após
uma fase na Área Internacional da Willis em 2007,
chega à Prosegur para trabalhar no Departamento
Corporativo de Gerência de Seguros, do qual é
diretor desde 2013.
A principal função da área que dirige é
“desenvolver a estratégia de asseguramento do
grupo, ou seja, em nosso departamento, uma vez
identificados os riscos, decidimos a melhor forma
de transferi-los para o mercado ou buscamos
alternativas de transferência, sempre de acordo com
os objetivos da empresa”, observa Domínguez.
Para realizar este trabalho com êxito, em sua
opinião o fator-chave é ter uma boa equipe. “Neste
momento, o Departamento de Seguros possui
cerca de 20 pessoas, todos elas especialistas em
seguros”. Outro elemento de suma importância é
“ter o apoio da empresa e da gerência sênior para
a nossa estratégia”.
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
Até agora, uma de suas maiores realizações na
Prosegur foi “o desenvolvimento e a consolidação de
programas de seguros”. O negócio de seguros se
encontra “em um ambiente de grandes mudanças,
que está crescendo com muita rapidez, e isto requer
que os programas de seguros sejam desenvolvidos
e evoluam conforme as necessidades do negócio
e os objetivos da empresa. Eu diria que o sucesso
existirá se esses programas forem capazes de
adotar essas novas perspectivas e se considerarmos
a consolidação em todos os países onde estamos”.
Este contexto em constante evolução no
campo da Gerência de Riscos também constitui um
grande desafio para ele. “Precisamos enfrentar as
necessidades futuras e permanecer dois passos à
frente, de forma que os programas corporativos e
as apólices de seguros sempre estejam adequados
para a cobertura necessária e para que possamos
dar a solução para o negócio e minimizar todos os
impactos na conta de resultados”, conclui.
13
estudo
O SEGURO
baseado
no uso
O seguro de automóvel Pay-As-You-Drive (PAYD, ou “Pague
conforme você dirige”), comercializado em vários países, se transformou
numa referência básica para um novo produto segurador: o seguro baseado
no uso. Este documento inclui a análise da literatura disponível sobre isso
e um estudo empírico e, a partir deles, demonstra a relação entre o uso e a
sinistralidade e reflete sobre a aplicação de produtos baseados no uso não só
no seguro de automóvel, mas nos seguros em geral.
MANUELA ALCAÑIZ ZANÓN
MERCEDES AYUSO GUTIÉRREZ
ANA M. PÉREZ-MARÍN
RISKCENTER
UNIVERSIDADE DE BARCELONA
O
seguro Pay-As-You-Drive (PAYD,
ou “Pague conforme você dirige”)
é um novo conceito em seguro de
automóvel comercializado em vários países.
Ele também é conhecido como “seguro baseado no uso”, porque o prêmio é determinado em função da quilometragem do veículo,
além das características tradicionais de risco
usadas na taxação. O cálculo dos prêmios
considera outras variáveis que caracterizam o
padrão de condução do segurado, como excesso de velocidade, o tipo de vias e o horário
em que ele circula com mais frequência.
Desta forma, é possível oferecer a cada
tipo de motorista um seguro de automóvel mais personalizado. Em última análise,
14
aqueles que usam mais o veículo pagarão um
prêmio maior, porque têm maior exposição
ao risco de acidente. Não há dúvida de que
elaborar este tipo de produto é um processo
complicado, ainda mais que há pouca literatura relevante e pouquíssima estatística.
Este trabalho, então, teve três objetivos
principais. Primeiro, fizemos uma ampla
análise da literatura sobre o assunto; segundo, refletimos sobre como estender a idéia do
seguro baseado no uso para outros produtos
de seguros que não o de automóvel; e, em
terceiro e último lugar, por meio de um estudo empírico, constatamos a importância dos
fatores associados ao uso como explicativos
da sinistralidade para segurados que contrataram apólices PAYD.
O trabalho está dividido da seguinte forma: a seção 1 contém uma descrição dos diferentes comportamentos ao volante e sua
associação com um risco maior de acidentes;
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
na seção 2 descrevemos como funcionam os sistemas
de taxação no seguro PAYD; a seção 3 traz nossas considerações sobre como transferir este novo conceito
de seguro para outros produtos além do seguro de
automóvel; a seção 4 contém os resultados da aplicação empírica, e a última seção apresenta as conclusões
deste estudo.
1. Conduta ao volante e risco de
acidente
Diversos autores, incluindo Rice et al. (2003), Jun
et al. (2007), Laurie (2011), Litman (2005, 2011) e
Williams et al. (2012), mostram a influência que os
fatores associados ao uso têm na sinistralidade. Mais
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
especificamente, fica claro que o número de quilômetros rodados tem uma relação direta com a exposição
ao risco e com a probabilidade de um acidente. Além
disso, autores como Litman (2005) e Langford et al.
(2008) concluem que esta relação não é proporcional,
dado que os motoristas que usam mais o veículo tendem a ter menos acidentes por unidade de distância
percorrida que aqueles que o utilizam menos.
No que diz respeito à velocidade, fica evidente
sua relação com a gravidade dos acidentes que podem
ocorrer (OMS, 2004; Jun et al., 2007, 2011). Mais especificamente, Elvik et al. (2004) concluem que há
uma forte associação estatística entre velocidade e sinistralidade viária: se a velocidade média do tráfego
15
estudo
diminuir em 10 por cento, o número de mortos
em acidentes cai 37,8% (com base em dados da
Suécia e Noruega).
Da mesma forma, também se constata que o
tipo de via por onde o veículo circula com mais
frequência está associado com o risco de um acidente acontecer. Mais especificamente, as vias
urbanas foram identificadas como as mais perigosas em diversos estudos. Para exemplificar, Laurie (2011) determinou que a taxa de acidentes em
vias urbanas na Grã-Bretanha é 8,26 vezes maior
que nas estradas.
Akerstedt et al (2001) estudaram a probabilidade de um acidente acontecer em função dos
diferentes horários (com base em dados da Suécia). Para os acidentes em que não houve o fator excesso de álcool no sangue, o momento de
maior perigo é por volta das 4 da manhã, horário
em que há 5,7 vezes mais chance de se ferir num
acidente e 11,4 vezes mais de morrer. Além disso,
o risco de acidente também é influenciado pelos
dias em que o motorista usa seu veículo com mais
frequência. Para exemplificar, o perigo aumenta
entre motoristas jovens nas noites do fim de semana e mais ainda se eles estiverem dirigindo um
veículo de grande potência (conforme constataram Doherty et al., 1998 e Williams et al., 2012).
A sinistralidade também está ligada à razão
pela qual se usa o veículo. Em termos mais específicos, Elias et al. (2010) estudaram o tipo de
atividade diária e os padrões de deslocamento dos
motoristas (com base em dados de Israel) e concluíram que as pessoas que usam o veículo para
ir para o trabalho, embora também façam outras
atividades aproveitando os trajetos, têm menos
chance de sofrer sinistros que as que usam o veículo para atividades que não sejam ir trabalhar ou
estudar. Desta forma, demonstrou-se que o risco
de acidente é maior em trajetos que não têm uma
finalidade específica.
Outra variável que descreve o padrão de condução é o número de freadas ou desacelerações
bruscas de um motorista. Conforme concluíram
16
Jun et al. (2007), este acaba sendo outro fator que
ajuda a explicar a sinistralidade. Este efeito é especialmente importante em deslocamentos matinais por qualquer via e em deslocamentos noturnos nas estradas locais. Nesses casos não costuma
haver congestionamento nas vias de circulação,
de modo que isso poderia gerar um descuido na
distância de segurança, além de outras distrações
causadas pelo uso de telefones celulares, etc. (de
acordo com Farmer et al., 2010).
Além disso, também verificou-se que a comercialização das apólices PAYD provoca mudanças nos hábitos de condução dos segurados,
pois eles são estimulados a reduzir sua exposição
ao risco para, assim, se beneficiar com um prêmio
menor (Bolderdijk et al., 2011). Além disso, este
sistema de taxação torna o seguro mais acessível,
o que ajuda a reduzir o número de veículos que
circulam sem seguro. Os efeitos positivos da coGerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
mercialização das apólices PAYD vão mais longe
(Peña, 2007), dado que, ao incentivar uma menor
utilização do veículo, consegue-se reduzir o número total de quilômetros rodados, a sinistralidade, problemas de congestionamento do trânsito,
os gastos públicos com a manutenção das estradas
e até mesmo os problemas causados pela poluição
(Parry, 2004, 2005).
2. Os
guro
sistemas de taxação para o se-
PAYD
Litman (2011) dividiu os sistemas de taxação aplicáveis às apólices PAYD em três tipos. O
primeiro, chamado Fator Taxa de Quilometragem
(MRF), considera a quilometragem anual do segurado como uma variável a mais na composição
do preço e oferece descontos para os segurados
que dirigem menos que um determinado número
de quilômetros por ano. O problema deste sistema
é que ele se baseia na estimativa da quilometragem
anual declarada pelo próprio segurado, que pode
reduzir este número.
No segundo tipo de sistema, chamado Prêmio
por Quilômetro (PMP), atribui-se aos segurados
um taxa por unidade de distância percorrida, com
base nas variáveis atuariais tradicionais usadas para
a taxação do seguro de automóvel. A principal
desvantagem deste sistema está em como medir
e controlar a distância percorrida por cada veículo (Guensler et al., 2003). Na maioria a medição
é feita pelo odômetro, condição que pode levar a
fraude pelo usuário, se o aparelho for adulterado.
Finalmente, o desenvolvimento tecnológico de
hoje oferece a possibilidade de controlar o uso do
veículo e os hábitos de condução de forma objetiva. Assim, surge o terceiro tipo de sistema, baseado no GPS, que permite estabelecer uma taxa
por quilômetro rodado, levando também em con-
sideração o tipo de via, o horário de condução, a
porcentagem de excesso de velocidade de acordo
com o tipo de via e até mesmo as desacelerações
bruscas. Este tipo de sistema é o mais utilizado
atualmente e é oferecido como opcional, sempre
que houver o consentimento do segurado para a
instalação de um GPS. 3. O seguro baseado no uso além do
seguro PAYD
Após analisar a literatura existente, fica claro que o seguro PAYD é a aplicação básica do
seguro baseado no uso e que não se contemplam
possíveis usos em outros produtos de seguros.
Este é o segundo objetivo deste trabalho. Nesta
seção discutiremos como conceber produtos
baseados no uso no campo de seguros em geral.
Neste contexto, o primeiro exemplo de fatores baseados no uso nos seguros em geral (além
do PAYD) é o seguro residencial. Este tipo de
seguro estabelece a distinção entre a residência
habitual e a segunda residência para determinar
o prêmio, o que é um claro exemplo de fator associado ao uso.
E é possível estender essa ideia para outros
produtos de seguros. Mais especificamente, no
seguro de acidentes do trabalho podemos encontrar fatores associados à realização da atividade
que podem ser levados em conta na taxação. Desta forma, incentivos para reduzir a sinistralidade
no local de trabalho1 podem se refletir na deter-
O Real Decreto espanhol 404/2010, de 31
de março, que regula a criação de um sistema
de redução das quotizações por contingências
trabalhistas para as empresas que exercem
um papel de importância na redução e
prevenção de acidentes de trabalho.
1
APÓS ANALISAR A LITERATURA EXISTENTE, FICA CLARO QUE O SEGURO PAYD É A APLICAÇÃO
BÁSICA DO SEGURO BASEADO NO USO E QUE NÃO SE CONTEMPLAM POSSÍVEIS USOS EM
OUTROS PRODUTOS DE SEGUROS
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
17
estudo
minação do prêmio de qualquer tipo de seguro
de acidentes do trabalho, inclusive os contratados
por trabalhadores autônomos. Este é o chamado
sistema bonus-malus no seguro de acidentes do
trabalho (FUNDACIÓN MAPFRE, 2010).
Nos seguros de acidentes do trabalho há uma
série de fatores tradicionais associados ao tipo de
atividade profissional realizada, que são classificadas em grandes grupos (agricultura, construção,
etc.), às características do trabalho realizado dentro
dessa profissão (por exemplo, no campo da construção, azulejista para altura inferior a 5 metros ou,
no caso da agricultura, agricultor com condução
de máquinas) e à idade do indivíduo. A estes poderiam se somar os fatores que estão diretamente relacionados com a forma em que o trabalho é feito,
o que pode ter um impacto direto na sinistralidade
declarada.
Conhecer os hábitos e condutas do indivíduo
no trabalho pode ser muito importante para calcular os prêmios de forma justa para os seguros
de acidentes do trabalho. Existem fatores de comportamento que estão diretamente relacionados ao
risco, mas muitas vezes são difíceis de medir. As
medidas de prevenção de riscos podem ter uma
influência significativa no risco de um acidente
acontecer, e um seguro de acidentes deveria, em
sua taxação, prever sistemas de validação destas
medidas, que geralmente são negligenciadas.
A questão é como a companhia seguradora faria
para analisar a exposição ao risco quando se trata
de um seguro de acidentes do trabalho. Embora
num seguro PAYD o segurado concorde com a
instalação de um GPS que permita que sejam feitos os controles sobre o tipo de condução, num
seguro de acidentes do trabalho o segurado pode
concordar com inspeções em suas atividades laborais sem que tenha que haver um sinistro para
isso. Em outras palavras, são inspeções preventivas. Desta forma, ao contratar o seguro de acidentes do trabalho, o segurado pode concordar que a
empresa verifique, de modo aleatório durante a
vigência da apólice, se ele está seguindo determinadas normas de segurança no trabalho. Consentir
com auditorias voluntárias (sem obrigação legal)
é uma das opções contempladas na RD 404/2010
da Espanha. A exposição ao risco de sofrer um
acidente no local de trabalho será reduzida com o
cumprimento de qualquer uma ou com várias das
exigências técnicas previstas no referido Decreto
Real, como, por exemplo, aumentar os próprios
recursos preventivos, implementar planos de segurança viária relacionados a atividades profissionais, reduzir o número de trabalhadores expostos
a atividades profissionais e acompanhar de perto as
taxas de acidentes no trabalho, considerando tanto
o número de acidentes do trabalho relatados como
sua gravidade.
Por fim, no que diz respeito à cobertura do risco de acidentes no itinerário, é óbvio que o seguro
de automóvel baseado no uso faz todo sentido.
NOS SEGUROS DE ACIDENTES DO TRABALHO HÁ UMA SÉRIE DE FATORES TRADICIONAIS
ASSOCIADOS AO TIPO DE ATIVIDADE PROFISSIONAL, ÀS CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO
REALIZADO E À IDADE DO INDIVÍDUO. A ESTES PODERIAM SE SOMAR OS FATORES QUE
ESTÃO DIRETAMENTE RELACIONADOS COM A FORMA EM QUE O TRABALHO É FEITO
18
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
Tabela 1. Valores médios para motoristas com e sem sinistros.
Sinistros
Média (Desvio padrão)
Nenhum sinistro
Média (Desvio padrão)
Idade do motorista (anos)
27,18
(3,10)
27,65
(3,09)
Tempo de carta (anos)
6,73
(2,94)
7,27
(3,07)
Idade do veículo (anos)
8,69
(4,11)
8,76
(4,19)
Potência do veículo (hp)
98,36
(27,46)
96,98
(27,83)
Variável
4. Análise empírica
Em seguida, apresentamos os resultados da
análise empírica realizada com uma amostra de
uma companhia espanhola de 25.014 segurados
jovens que contrataram uma apólice PAYD cuja
vigência foi durante o ano todo de 2011. Sabemos
que 17,6 por cento das apólices registraram algum
sinistro e 82,4 por cento, nenhum.
Mostraremos os resultados de uma análise descritiva tanto das variáveis tradicionais usadas na taxação dos prêmios quanto dos fatores associados
ao uso do veículo. Para cada caso, faremos a distinção entre motoristas com e sem sinistros.
Análise descritiva
Em relação ao gênero, observamos como a
porcentagem de homens é ligeiramente maior no
grupo de segurados com sinistros (50,32 por cento) em comparação ao grupo sem sinistros (48,61
por cento). Além disso, a porcentagem de motoristas que estacionam seu veículo na garagem é
um pouco maior para os motoristas com sinistros
(78,17 por cento) do que para aqueles que não
tiveram sinistros (77,21 por cento).
A Tabela 1 mostra as médias das variáveis numéricas analisadas. Mais especificamente, verificamos que os motoristas com sinistros são em
média um pouco mais jovens e mais inexperientes ao volante do que os que não tiveram sinistros. Além disso, a idade do veículo é em média
praticamente a mesma para os motoristas com
e sem sinistros. Por fim, com relação à potência
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
média do veículo conduzido, observa-se que ela
é superior para os segurados com sinistros em
comparação àqueles que não tiveram nenhum.
Complementando, a quilometragem média
anual foi maior para os motoristas com sinistros
(7.962,36 km) em comparação com aqueles que
não tiveram nenhum (6.987,86 km). Também foi
mais alta a quilometragem média noturna para os
segurados com sinistros (609,94 km) em comparação com os que não declararam nenhum sinistro (513,41 km).
A Figura 1 mostra o perfil de condução dos
motoristas com e sem sinistros. A porcentagem
de circulação em vias urbanas é em média mais
elevada entre os que tiveram sinistros em comparação com os que não tiveram (27,56 por cento
vs. 25,51 por cento).
Figura 1. Perfil de condução para motoristas
com e sem sinistros.
% Circulação
noturna
6,85%
% Excesso
de velocidade
6,28%
7,16%
6,60%
25,51%
% Circulação
em vias
urbanas
27,56%
Sem sinistros
Com sinistros
19
estudo
Tabela 2 mostra os resultados da estimativa do modelo. Em seguida, analisamos o efeito de cada uma
das variáveis sobre a probabilidade de sinistro.
Podemos observar que, quanto mais experientes são os motoristas, menor é a probabilidade de
sinistro. Além disso, os coeficientes associados aos
grupos etários definidos não são significativos,
provavelmente devido à alta correlação que existe
entre a idade do motorista e o tempo de carta. No
que diz respeito à potência do veículo, nossos resultados indicam que uma potência maior aumenta a probabilidade de sinistro. Por outro lado, nem
o gênero, nem o local de estacionamento, nem a
idade do veículo afetam significativamente a probabilidade de sinistro.
No que se refere às variáveis associadas ao uso
Também podemos ver como, em média, os
motoristas com sinistros ultrapassam os limites
de velocidade em maior medida que aqueles sem
qualquer sinistro (6,60 por cento vs. 6,28 por
cento). Por último, em média a porcentagem de
circulação noturna (km noturnos sobre o total de
km rodados) é superior para os motoristas que tiveram sinistros (7,16 por cento) em comparação
com aqueles que não tiveram nenhum (6,85 por
cento).
Resultados da modelização
Ajustamos um modelo de regressão logística
para a previsão da probabilidade de sinistro em
função das variáveis tradicionais usadas na taxação
e os novos fatores associados ao uso do veículo. A
Tabela 2. Resultados estimados do modelo de regressão logística
Constante
Idade 25-28
Idade ≥ 29
Masculino
Tempo de carta do motorista segurado
Idade do veículo segurado
Potência do veículo segurado
Estacionamento: garagem
Número de quilômetros rodados por ano
Número de quilômetros noturnos rodados no ano
Quilômetros noturnos: entre 11 e 20% do total
Quilômetros noturnos: entre 21 e 30% do total
Quilômetros noturnos: mais de 30% do total
Porcentagem de excesso de velocidade: entre 0 e 2%
Porcentagem de excesso de velocidade: entre 3 e 5%
Porcentagem de excesso de velocidade: entre 6 e 11%
Porcentagem de circulação em vias urbanas
Odds ratio
Coef.
Erro Padrão
valor-p
(razão de chances)
-2,487
-0,037
-0,034
-0,035
-0,060
0,005
0,003
0,031
7,8e-5
5,5e-5
-0,115
-0,189
0,088
-0,150
-0,004
0,049
0,020
0,128
0,047
0,059
0,036
0,008
0,004
0,001
0,041
5,7e-6
4,4e-5
0,057
0,123
0,227
0,056
0,054
0,054
0,001
0,000a
0,436
0,563
0,329
0,000a
0,205
0,000a
0,451
0,000a
0,212
0,042b
0,123
0,699
0,007a
0,943
0,368
0,000a
0,083
0,964
0,967
0,966
0,941
1,005
1,003
1,032
1,0001
1,0001
0,891
0,828
1,092
0,861
0,996
1,050
1,020
Categorias de referência: idade (≤ 24 anos); gênero (feminino); estacionamento (vias públicas); porcentagem de quilômetros noturnos
em comparação com o total (0 - 10%); porcentagem de excesso de velocidade acima do limite permitido (≥ 12%). Qui-quadrado:
608,932 (valor-p = 0,000); -2log-verossimilhança: 22677,913; graus de liberdade: 16.
a
significância a 1%; b significância a 5%.
20
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
em comparação com a categoria de referência (excessos de velocidade acima de 11 por cento).
CONCLUSÕES
do veículo, observamos que, à medida que aumenta a quilometragem, aumenta a probabilidade
de sinistro. Da mesma forma, uma maior porcentagem de circulação por vias urbanas está significativamente associada a uma maior probabilidade
de sinistro.
Com relação ao horário de condução, a probabilidade de sinistro para os que dirigem entre 11
e 20 por cento dos quilômetros à noite é menor
que a probabilidade de sinistro para os que dirigem menos à noite. Da mesma forma, dirigir mais
de 20 por cento dos quilômetros à noite não está
associado a uma sinistralidade significativamente maior. Isso provavelmente se deve a uma taxa
maior de sinistros entre os indivíduos que não dirigem à noite com frequência, só em ocasiões específicas.
Por fim, no que diz respeito à velocidade, podemos ver que os segurados que ultrapassam os limites de velocidade em no máximo 2% são aqueles
que têm menor probabilidade de sinistro. Quando
o excesso de velocidade passa desse limite, não se
observam diferenças significativas na sinistralidade
Concluindo, podemos dizer que o seguro
de automóvel PAYD representa a mudança para
um novo conceito de produto de seguro: o baseado no uso. A partir da análise da literatura
existente e do estudo empírico realizado, constatamos que existem evidências sobre a relação
entre o uso e a sinistralidade. Além disso, neste
trabalho estendemos a ideia de seguro baseado
no uso para tipos de apólice além da do seguro
de automóvel, como o seguro residencial (em
que já existe a distinção entre domicílio habitual
e segunda residência) ou mesmo o seguro de
acidentes do trabalho (em que o conhecimento
dos hábitos do indivíduo em seu trabalho diário
pode ser considerado no cálculo dos prêmios,
além de cobrir o risco de acidente no itinerário,
razão pela qual o seguro de automóvel baseado
no uso se aplicaria).
Acreditamos que nos próximos anos o conceito de seguro personalizado pode se consolidar como uma nova tendência em taxação,
tendo como referência básica o seguro baseado
no uso. Estudos como os realizados neste trabalho podem ser relevantes para se enfrentar os
novos desafios do setor de seguros e da ciência
atuarial.
Este artigo foi extraído do trabalho cuja pesquisa
recebeu um auxílio. Sua versão integral pode ser
baixada do site www.fundacionmapfre.org (Cuaderno
199 El seguro basado en el uso).
NOS PRÓXIMOS ANOS O CONCEITO DE SEGURO PERSONALIZADO PODE SE CONSOLIDAR
COMO UMA NOVA TENDÊNCIA EM TAXAÇÃO, TENDO COMO REFERÊNCIA BÁSICA O SEGURO
BASEADO NO USO
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
21
estudo
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Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
DICIONÁRIO
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Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
23
estudo
Microsseguros
na Espanha:
a corrida já começou!
A nova configuração da sociedade espanhola decorrente da crise possibilita a
introdução de produtos inovadores, como os microsseguros, que já existem nos
países em desenvolvimento. Este documento analisa as oportunidades que este
novo mercado oferece e as características que os microsseguros precisam ter para
poderem ser implementados na Espanha, e apresenta alguns exemplos.
MARÍA PÉREZ MARTÍN
ATUÁRIA
AVALON NETWORKING
E
instein dizia que as crises são
uma bênção tanto para as pessoas
quanto para os e países, já que
trazem progresso. E se a verdade não
for esta, precisamos fazer com que seja.
Não temos alternativa.
Esta crise deixou claro que precisamos nos reinventar, buscar produtos
sustentáveis e admitir que é vital que a
maioria da população seja de classe média; caso contrário, não há mercado. E
sem mercado, o sistema que temos fica
insustentável.
O que se observa atualmente é que
a base da pirâmide está cada vez maior,
porque está ocorrendo uma transferência de massa populacional da classe média para as classes de baixa renda.
24
É, portanto, crucial que as partes interessadas (instituições públicas e privadas) planejem ações que conduzam
à inovação de produtos. Estes produtos
devem não só fornecer um bem-estar
(atual ou futuro) à classe média, mas
também ajudar a aumentar o número de
pessoas nesta classe, oferecendo opções
de poupança e de seguro que permitam
que pessoas de baixa renda aumentem
seu poder aquisitivo, sem ficarem sujeitas a riscos que as coloquem no limiar
da pobreza ou que as distanciem ainda
mais da classe média.
Para as pessoas entre a linha da pobreza e as classes mais baixas, existe um
novo conjunto de produtos financeiros
chamados “micro”: microsseguros e
microcrédito, ou, de modo geral, microfinanças.
Mais especificamente, os microsseguros estão sendo aplicados em países
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
ILLUSTRATION STOCK
em desenvolvimento há algumas décadas. O objetivo é tentar quebrar o ciclo
da pobreza, reduzir a vulnerabilidade das
pessoas de baixa renda e ser um de instrumento condutor para que essas pessoas
possam desenvolver e controlar seus próprios bens e sua receita, para que elas não
dependam mais (ou ao menos não unicamente) de auxílios e bolsas, para que elas
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
possam se valer de instrumentos que lhes
permitam trabalhar com suas próprias
economias, ao invés de depender de doações, empréstimos ou assistência governamental ou de ONGs, ou até mesmo ser
vitimadas por usurpadores.
Tomemos, por exemplo, os quatro casos expostos por Carlos Ruano Espi em
sua tese Invitación al microseguro (“Convi25
estudo
FALA-SE MUITO
DESTE TIPO
DE PRODUTO
COMO UMA
MEDIDA
PREVENTIVA
EM CASO DE
DIFICULDADES
PESSOAIS
APÓS
DESASTRES
NATURAIS,
COMO O TUFÃO
HAYAN NAS
FILIPINAS,
OU EVENTOS
LIGADOS ÀS
MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
26
te ao microsseguro”)[1]: a La Equidad na
Colômbia e a AIG em Uganda, com microsseguros de vida, três seguros de saúde
na Índia, dois casos de microsseguro multirrisco na França e dois casos de microsseguro agrário de tipo paramétrico. Estes
exemplos incluem vários ramos de seguro
de vida e não vida.
Devido à sua proximidade da Espanha,
examinaremos um pouco mais os casos de
microsseguros no país vizinho. Conforme descrito neste artigo, houve um acordo de colaboração entre duas companhias
de seguros e uma instituição de caridade
dedicada ao microcrédito. O acordo era
oferecer um seguro multirrisco às pessoas
que estivessem começando seu negócio
em casa e um seguro multirrisco para as
pessoas que tivessem um local para seu
novo negócio a menos de um euro por dia,
com o valor adicional necessário para estes produtos e um serviço de acompanhamento durante os três primeiros anos, ao
final dos quais se propunha passar para o
seguro tradicional. Mas esta proposta da
AXA, MACIF e ADIE não é a única. O
Entrepreneurs de la Cité oferece produtos
similares. Em ambos o acompanhamento
e o aconselhamento no início da atividade
são cruciais para oferecer apoio e orientar
os novos negócios a adotarem uma boa estratégia de marketing.
Fala-se muito deste tipo de produto
como uma medida preventiva em caso de
dificuldades pessoais após desastres naturais, como o Tufão Hayan nas Filipinas, ou
eventos ligados às mudanças climáticas.
Em 16 de novembro de 2013, Francisco Javier Garaoya, em um dos muitos
conteúdos sobre microsseguros que há
em seu blogue El microseguro inclusivo, da
Red Cumes (FUNDACIÓN MAPFRE),
nos dizia em um artigo sobre mudanças
climáticas e microsseguros como estes tinham atenuado as consequências desas-
trosas de uma seca na Etiópia, na forma
de um microsseguro agrário paramétrico: “Como exemplo de um programa
bem sucedido, é preciso mencionar o
caso da seca na Etiópia no ano passado.
Quando os satélites registraram as condições de seca, mais de 12.000 agricultores receberam um total de 322.772
dólares (200.000 euros) em pagamentos
por meio da Iniciativa de Resistência R4
Rural, um programa de microsseguro
agrícola baseado em índices e adaptado
às particularidades climáticas dos países
em desenvolvimento[2]”.
Temos, portanto, a chance de inovar com novos produtos para atingir
um público maior e de desenvolvê-los
para atender as políticas corporativas de
responsabilidade social e de marketing
social.
E não se esqueçam de que isso envolve não só fornecer seguro para pessoas
de baixa renda, mas também ajudá-las a
atingir o limiar da classe média (expandindo, assim, o mercado tradicional),
mitigando os danos e efeitos que certos
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
eventos causam em suas economias e
que lhes obrigam a reduzir sua poupança atual ou futura devido a empréstimos
(tanto no mercado como na família e
com amigos). Estamos, então, falando de
reverter as tendências sociais do momento. Esta é a base dos produtos microsseguradores mencionados anteriormente e
que já podem ser encontrados na França.
Estamos diante de um mercado imenso para produtos de seguros, onde a força
dos grandes números age naturalmente
e, portanto, onde se podem esperar ganhos. Mas esses ganhos não acontecerão
no curto prazo. Dadas algumas peculiaridades deste mercado, a expectativa
deve ser de perdas nos primeiros anos.
A implementação destes produtos será
lenta, já que ainda há um longo caminho adiante. Precisamos estudar bem o
mercado para podermos determinar por
quais necessidades as pessoas realmente
estão dispostas a pagar um microprêmio.
Precisamos gerar demanda. E, enquanto
criamos um mercado, estamos assumindo riscos com pouca distribuição e alta
probabilidade de antisseleção e fraude.
No entanto, não podemos aplicar carregamentos ao prêmio como nos seguros
tradicionais, uma vez que assim não conseguiríamos atrair o mercado-alvo. Em
princípio, estes efeitos iniciais podem ser
corrigidos, aliviados ou convertidos em
investimento, se:
As perdas iniciais forem assumidas
via Responsabilidade Social Corporativa: Que investimento em políticas
de RSC de uma companhia de seguros pode ser melhor que criar um
produto de baixo custo para famílias
de baixa renda?
Começarmos criando microsseguros coletivos com subscrição
obrigatória. “Este mecanismo limita as chances de antisseleção e perGerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
mite uma subscrição de riscos mais
solvente” [3].
Criarmos alianças com instituições
públicas ou organizações não-governamentais, como a DKW vem fazendo
com a Fundación Tierra Nueva com
microsseguros de saúde para as pessoas
no sul de Quito (Equador).
E não podemos esquecer as políticas de
resseguro, cosseguro e outras formas de
divisão de riscos.
As primeiras companhias a estimular
estes mercados suportarão os maiores riscos técnicos ou de subscrição e terão gastos maiores com a introdução do produto;
no entanto, elas se tornarão as líderes deste grande mercado potencial.
Tem-se, portanto, uma visão dupla
do microsseguro: propulsor financeiro e
oportunidade financeira. E, como aponta Craig Churchill[4], “independente de o
microsseguro ser visto de uma perspectiva
de proteção social ou como uma oportunidade de mercado, o corpo da estrutura
do seguro e suas operações básicas serão
em grande parte os mesmos”.
Quando planejamos estes produtos
para a Espanha, que não é um país em
desenvolvimento, temos não só de aprofundar o produto, ver como ele se define
e funciona nos países onde já se trabalha
com ele, mas também redefinir certos aspectos para podermos encaixá-lo no sistema, situação e cultura atuais deste país.
Discutir as diferentes medidas que
existem para aproximar o conceito de pobreza ao campo numérico não é o objetivo
deste artigo. Existem inúmeras definições
e tipologias de pobreza, que dependem
de ela ser medida em termos relativos ou
absolutos, por unidades monetárias ou
em porcentagens. Com base na definição
que vemos em quase todos os estudos sobre microsseguros, ou seja, a definição do
Banco Mundial – pobre é aquele que vive
A
IMPLEMENTAÇÃO
DESTES
PRODUTOS SERÁ
LENTA, JÁ QUE
AINDA HÁ UM
LONGO CAMINHO
ADIANTE.
PRECISAMOS
ESTUDAR BEM
O MERCADO
PARA PODERMOS
DETERMINAR
POR QUAIS
NECESSIDADES
AS PESSOAS
REALMENTE
ESTÃO
DISPOSTAS
A PAGAR UM
MICROPRÊMIO
27
estudo
PODEMOS
PENSAR EM
SISTEMAS
BONUS-MALUS,
SISTEMAS DE
PARTICIPAÇÃO
NOS
RESULTADOS,
RECOMPENSAS
POR NENHUM
SINISTRO,
SERVIÇOS
ADICIONAIS QUE
AGREGUEM
VALOR AO
SEGURO, DE
MODO QUE O
CLIENTE SINTA
QUE ESTÁ
RECEBENDOOS CONFORME
PAGA, E NÃO
SE ACONTECER
OU DEIXAR DE
ACONTECER
UMA SITUAÇÃO
INESPERADA
28
com menos de 730 dólares norte-americanos por ano. Esta medida não pode ser
aplicada à pobreza na Espanha. Aqui, o
limiar de pobreza é medido conforme os
critérios recomendados pela Eurostat e
usando uma mediana estatística que não
é sensível a extremos. Ele corresponde a
60 por cento desta medida. É uma medida
relativa, que varia de acordo com a distribuição de renda no ano anterior, razão pela
qual não é fixa (varia conforme variar a
média, e esta, de acordo com a variação da
distribuição de renda da população).
De acordo com os dados provisórios de
2013 da Pesquisa Espanhola de Condições
de Vida (ECV)[5] realizada pelo Instituto
Nacional de Estatística (INE), na Espanha
o limiar da pobreza para lares de uma pessoa está em 7.040 euros por ano (cerca de
dez vezes mais que a definição do Banco
Mundial).
A pesquisa também conclui que “40,9
por cento dos lares não estão preparados
para lidar com despesas inesperadas”, o
que representa um aumento em comparação com anos anteriores.
Outra observação é que “16,9% dos lares dizem que eles têm bastante dificuldade para pagar as contas do mês”.
Só este breve comentário leva a uma
profusão de perguntas e respostas sobre
negócios e desenvolvimento social. Deveríamos pesquisar com que tipos de despesas inesperadas estas famílias se deparam: Qual é o custo desses imprevistos?
Que medidas são tomadas para evitá-los?
Como eles lidam com a situação? Usam
o que têm na poupança ou endividam-se
de novo, contraindo novas obrigações em
cima dessa perda, sem nenhum crescimento ou benefício no futuro?
Quanto à dificuldade para pagar as
contas do mês, ela poderia levar a atrasos
no pagamento dos prêmios, abandonos e
cancelamentos? Quais prêmios podem ser
oferecidos que não estrangulem as famílias? Como podemos oferecer os sistemas de pagamento para evitar inadimplências?
Poderíamos considerar, por exemplo,
prêmios mensais de valor muito baixo.
Talvez até prêmios em prestações dividindo o risco ao invés do prêmio.
E a grande questão, o grande medo
que há por trás das companhias de seguros: o risco moral, a fraude, o uso indevido do seguro. Que medidas podem ser
tomadas para evitar o uso indevido? Podemos pensar em sistemas bonus-malus,
sistemas de participação nos resultados,
recompensas por nenhum sinistro, serviços adicionais que agreguem valor ao
seguro, de modo que o cliente sinta que
está recebendo-os conforme paga, e não
se acontecer ou deixar de acontecer uma
situação inesperada.
Considerando-se todos esses aspectos, será que este mercado potencial se
asseguraria? Será que ele estaria disposto
a pagar um prêmio, por menor que seja,
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
para assegurar um evento incerto? Até
onde vai a cultura asseguradora em nosso país? Sem dúvida, a cultura financeira
e asseguradora na Espanha está bem mais
disseminada e penetrou mais fundo no
mercado que em qualquer um dos países onde o microsseguro está se desenvolvendo (à exceção de exemplos menores em países como a França, conforme
mencionado acima). Seguro é um conceito que todo mundo conhece, mesmo
que se restrinja ao pagamento do seguro
obrigatório do automóvel.
Além disso, diferente dos países em
desenvolvimento onde o microsseguro
está sendo implementado e usado, na
Espanha não temos problema com canal
de distribuição. Da contratação on-line,
ao alcance da grande maioria, até a contratação por meio de agentes e corretores locais (e muitos corretores rurais),
não há impedimentos. Isto não significa
que não se deva continuar buscando novos canais e inovações para que o seguro
chegue a todos.
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
Para isto, precisamos considerar a possibilidade de que o microsseguro tenha
uma regulamentação própria, para poder
ampliar a oferta de meios de intermediação
de seguros, além dos corretores e agentes.
Uma das características destes produtos
é, como veremos no final deste artigo, a
simplicidade do produto. Uma simplicidade associada a uma gestão não necessariamente qualificada como a dos seguros
tradicionais. De modo que não seria necessário ser corretor para comercializar
esses produtos: eles podem ser oferecidos
por empreendedores locais ou distribuído
por agentes comissionados.
Além disso, há certos aspectos do contrato de seguro, como a suspensão da cobertura na ausência de pagamento. Esta é
uma população sensível e por isso deve-se
agir com cautela e gerenciar os recebíveis
de uma forma amistosa, acessível e flexível. Os prêmios pendentes poderiam ser
descontados da indenização no caso de
sinistro, ou deve-se facilitar o pagamento
dos prêmios.
Todos os envolvidos neste conceito concordam que os contratos de microsseguros
devem ser simples, claros, sem muitas exclusões ou até sem exclusão alguma. Ou
seja, conforme define Michael J. McCord,
eles devem ser produtos S.U.A.V.E. (da sigla em inglês “Simples, Compreensíveis,
Acessíveis, Valiosos, Eficientes”)[6].
E como lidar com isso? Parece difícil
de acreditar, mas redigir contratos de seguro simples e claros, sem muitos detalhes
legais, é um grande desafio. Portanto, as
coberturas precisam estar bem definidas e
estabelecidas em suas próprias definições,
sem a necessidade de ter que se remeter
às exclusões e às “letras miúdas”. Ao invés de fazer contratos All Risks (“Todos os
Riscos”) com várias páginas de exclusões,
devemos pensar em contratos resumidos,
onde as coberturas sejam relacionadas uma
TODOS OS
ENVOLVIDOS
NESTE CONCEITO
CONCORDAM QUE
OS CONTRATOS DE
MICROSSEGUROS
DEVEM SER
SIMPLES, CLAROS,
SEM MUITAS
EXCLUSÕES OU
ATÉ SEM NENHUMA
EXCLUSÃO. DEVEM
SER PRODUTOS
S.U.A.V.E. (DA
SIGLA EM INGLÊS
“SIMPLES,
COMPREENSÍVEIS,
ACESSÍVEIS,
VALIOSOS,
EFICIENTES”)
29
estudo
ELE É UM
PRODUTO
COMPLETO,
QUE COBRE A
NECESSIDADE
EXATA DE UM
INDIVÍDUO QUE
SE CARACTERIZA
POR TER
RENDA BAIXA
E, PORTANTO,
UMA CASUÍSTICA
DE RISCO E
NECESSIDADES
DE COBERTURA
DIFERENTES DAS
DO MERCADO
TRADICIONAL
30
a uma, com definição e escopo específicos.
Este conceito de sensibilidade também se aplica à gestão dos sinistros e,
consequentemente, à vistoria e avaliação
de danos. Não é possível submeter uma
população que está se esforçando para se
proteger da vulnerabilidade em que se encontram – pelo pagamento de um prêmio
por um período indeterminado até que a
situação objeto do seguro ocorra – a demoras na gestão de seu sinistro. É justamente por essas necessidades que esse tipo
de população não consegue ter acesso a
outros recursos. Se ocorrer o sinistro, cada
dia sem assistência aumentará ainda mais
sua queda de renda. É por esta razão que
não devemos pensar em termos do processamento tradicional de sinistros, solicitação de documentos, prazos limitados...
Precisamos enxergar mais longe, agir com
rapidez com o mínimo de documentação
ou sem documentação alguma, e fornecer
ajuda e orientação para termos acesso à documentação que seja imprescindível para a
companhia.
A peritagem é uma tarefa que também
precisa ser reinventada: em potencial, os
peritos e os reparadores da companhia podem e devem orientar e auxiliar na gestão
da documentação de forma direta e proativa. Também precisamos encontrar formas
de reparar e mitigar danos e educar para a
prevenção de sinistros com vistorias proativas de risco que ajudem a impedir acontecimentos futuros.
A indenização também deve ser redesenhada. Primeiro porque ela se torna uma
forma de fornecer orientação, auxílio, prevenção e educação aos segurados. As companhias se aproximam dos clientes e lhes
oferecem assistência. Além disso, porque
também precisamos inventar outros meios
de indenização que realmente compensem os segurados e os deixem na mesma
situação em que se encontravam antes do
sinistro, sem regras de proporcionalidade (cuja aplicação decorre de um erro de
subscrição), lidando com o coneito de
depreciação de forma muito cautelosa.
Muitas vezes a indenização financeira
não permite que o segurado adquira um
bem que lhe dê a mesma utilidade que
o bem sinistrado. Às vezes isso acontece
porque lhe faltam meios de busca. Neste
novo conceito, além da indenização financeira, temos de nos preocupar com o
reparo. Um reparo que restitua a utilidade do bem danificado.
Gerenciar a aquisição de um bem de
características e idade bastante semelhantes aos do bem sinistrado no mercado de segunda mão é outra forma de
indenizar, restabelecendo a utilidade.
Temos que reinventar totalmente a gestão dos sinistros.
O leitor que não conhecia estes produtos antes da leitura deste artigo já deve
ter percebido que estamos falando de
um produto de seguro em que não se
trata de reduzir as coberturas em relação às do seguro tradicional, mas sim de
ajustá-las para um novo perfil de cliente
de baixa renda e com situações de risco
diferentes. O valor segurado será menor
e, portanto, o prêmio também. Mas isso
não significa corte de coberturas nem diminuição do valor segurado.
Ele é um produto completo, que cobre a necessidade exata de um indivíduo
que se caracteriza por ter renda baixa e,
portanto, uma casuística de risco e necessidades de cobertura diferentes das
do mercado tradicional. É um erro típico
associar este tipo de seguro a um seguro
de baixo custo, ou pensar que este tipo
de produto só pode incluir seguro de
vida ou de risco em massa.
Dadas as características deste novo
mercado, o produto tem de ser adaptado não somente em seus custos e análise
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
dos diferentes riscos, mas em seu conceito, composição, definição, contratação,
gestão e tratamento.
O mercado já implementou alguns
produtos de microsseguro que podem
funcionar, embora ainda precisemos,
obviamente, realizar os devidos estudos de mercado e da demanda particular
de pessoas de baixa renda, mas a priori
podem-se coletar algumas informações
dos dados agregados da economia e avaliar microsseguros que considerem estes
aspectos que os números gerais nos dão,
como desemprego.
Seguro-desemprego não é um produto novo. Considerando-se o trabalho
temporário, o mercado de empregos irregular e instável, não podemos oferecer
prêmios mais baixos para que este mercado possa ter acesso a este tipo de seguro. Contudo, se considerarmos os indivíduos de baixa renda com um emprego
mais ou menos fixo (termos de contrato
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
indefinidos e contratos para obras e serviços, pessoas que demonstram continuidade de trabalho em vários anos, mesmo
com várias mudanças de emprego, etc.),
podemos estabelecer períodos de carência e, além disso, criar, por exemplo, um
produto que cubra o desemprego de longa
duração, não o desemprego em si: a indenização é paga após dois anos de desemprego, ou ao se esgotar o benefício contributivo, com um mínimo de seis meses,
etc. Esta solução seria uma quantia temporária pequena, por exemplo, de um valor total previamente acordado (como 300
euros). Ela seria um complemento a um
possível auxílio do governo (os famosos
400 euros) por um período previamente
acordado. Uma vantagem deste tipo de
microsseguro seria a agilidade do primeiro
pagamento, se comparado ao longo período de espera pelos benefícios do governo. A vulnerabilidade do segurado seria,
assim, reduzida, o que é o intuito de um
microsseguro.
Este produto deve ser acompanhado de
um serviço de orientação e assistência para
a procura de emprego desde o momento
em que se fica desempregado. Isto muitas
vezes evitaria o esgotamento do benefício
contributivo (e o início do recebimento da
renda segurada) e agregaria um valor que
o cliente vê e recebe.
O desemprego que atinge vários membros da família é outro problema que pode
ser abordado com produtos de microsseguro. Seria viável criar um produto que
ofereça uma renda temporária para um
valor total previamente acordado se vários
membros de uma mesma família acabam
ficando em situação de desemprego (ambos os pais vivendo com menores, dois
membros de uma família com três trabalhadores adultos, etc.). Este produto também deveria incluir um serviço de orientação, conforme o exemplo acima, com
O MERCADO JÁ
IMPLEMENTOU
ALGUNS
PRODUTOS DE
MICROSSEGURO
QUE PODEM
FUNCIONAR,
EMBORA AINDA
PRECISEMOS,
OBVIAMENTE,
REALIZAR
OS DEVIDOS
ESTUDOS DE
MERCADO E
DA DEMANDA
PARTICULAR DE
PESSOAS DE
BAIXA RENDA
31
estudo
NA CRIAÇÃO DE
MICROSSEGUROS
É MUITO
IMPORTANTE
FORNECER
VALOR
AGREGADO
AO PRODUTO.
OS CLIENTES
ESTARÃO
CIENTES DISSO
QUANDO
PRECISAREM
FAZER UM
PAGAMENTO
OU QUANDO
OCORRER UM
SINISTRO
32
a possibilidade de se combinar ambos os
produtos.
Na criação de microsseguros é muito importante fornecer valor agregado ao
produto. Os clientes estarão cientes disso
quando precisarem fazer um pagamento
ou quando ocorrer um sinistro e também
receberão algum tipo de serviço da empresa que lhe agregue valor.
Após grandes catástrofes, vemos muitas
pessoas que não têm um seguro de propriedade que as proteja desse risco pelo
Consorcio de Compensación de Seguros. Talvez
elas não queiram fazer um alto desembolso anual para um dano típico causado por
água, roubo, danos estéticos, etc., conforme os que uma apólice PME ou multirrisco residencial cobre. Mas estas mesmas
pessoas teriam pagado um prêmio mais
baixo por um risco coberto por um consórcio e até mesmo por certos riscos maiores
não cobertos pelo consórcio. Um seguro
de grande risco é um grande microsseguro. E neles já trabalham as grandes resse-
guradoras por meio de seus estudos: a
Munich Re e a Swiss Re (através de uma
fundação ad hoc, a primeira colabora com
a Organização Internacional do Trabalho
na pesquisa sobre microsseguros).
Na busca de produtos de seguro coletivo, a fim de diminuir, como dizíamos,
o efeito da antisseleção, podemos criar
seguros coletivos para famílias monoparentais, oferecendo um serviço de assistência para os filhos e para o lar em caso
de doença grave, hospitalização, etc.,
para evitar que as crianças sofram ainda
mais nessas situações difíceis. Também
devemos considerar produtos coletivos
para autônomos, serviços domésticos
(empregados contratados ou que trabalham por hora), etc.
Seguros contra despejo que cubram
um serviço de aluguel de três a seis meses, se a família for despejada por falta de
pagamento. Esta cobertura pode ser comercializada por uma instituição bancária para seus devedores imobiliários em
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 11
29
0-2014
colaboração com uma companhia de
seguros independente e com serviços
de consultoria jurídica e mediação.
Na Life há um nicho importante
de microsseguros que cobre as diferenças do poder aquisitivo de pessoas
que estão começando a receber pensões contributivas ou não contributivas com base em seu salário anterior.
Já existem alguns exemplos destes produtos no mercado espanhol.
A ARAG oferece um microsseguro
de defesa e compensação de danos,
e a Adeslas Segur Caixa oferece microsseguro de assistência odontológica. No entanto, eles precisam ser
estudados cuidadosamente para que
se possa confirmar que são exemplos
de microsseguros, e não de seguro de
baixo custo. No primeiro caso, não
conseguimos obter mais informações sobre este produto, nem on-line
nem por qualquer outro meio, para
poder identificar características de
“microsseguro”. No segundo caso,
o site da companhia oferece um produto dental barato com uma série de
condições gerais “tradicionais”, o que
não parece ser um bom exemplo de
um produto simples. No entanto, ele
não é oferecido como microsseguro,
mesmo que esta tenha sido a designação pela qual ele ganhou o prêmio
de 2012 de inovação em seguros da
associação ICEA.
De qualquer forma, outros exemplos surgirão com o estudo da população e suas necessidades e demandas. Este tipo de seguro deve sempre
oferecer um valor agregado para assegurar um bom relacionamento entre
as companhias e seus segurados durante todo o período de vigência do
contrato. A corrida já começou.
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 11
29
0-2014
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
[1] Ruano Espí, Carlos. Invitación al microseguro.
Tesis fin de máster en Dirección de Entidades
Aseguradoras y Financieras y Cursos de
Postgrado-Universidad de Barcelona. Sin
publicar. Cedida por el autor.
[2] Garayoa Arruti, Francisco J. El cambio
climático y la protección de los microseguros [Web]
http://elmicroseguroinclusivo.redcumes.
com/2013/11/16/cambio-climatico-yproteccionmicroseguros/ [Consulta 20 de
Enero 2014].
[3] Wipf, John; Liber, Dominic; Churchill,
Craig. Diseño de productos y seguro de manejo
de riesgos. Capítulo 3. «Protecting the poor:
A microinsurance compedium».Vol. I. Ed.
Organización Internacional del Trabajo.
Editado en España por Plaza y Valdés
Editores. Madrid 2009. 165-166.
[4] Chruchill, Craig. ¿Qué es el seguro para los
pobres? Capítulo 1. «Protecting the poor: A
microinsurance compedium». Vol. I. Ed.
Organización Internacional del Trabajo.
Editado en España por Plaza y Valdés
Editores. Madrid 2009. 16-17.
[5] Notas de prensa INE, 20 de noviembre de
2013. Http://www.ine.es/prensa/prensa.htm
[20/11/2013].
[6] McCord, Michael J. SUAVE checklist for
microinsurance products: Enhancing the potential for
success. Appleton:The MicroInsurance Centre,
LLC, January 2012.
33
estudo
Gerência de Riscos
A CHAVE...
E TRÊS LINHAS DE REFLEXÃO
Agora que o processo de certificação
dos gerentes de risco está em
andamento, vale a pena recordar
alguns princípios básicos para se
assentar uma Gerência de Riscos
competente. Contribuiremos com
algumas linhas de reflexão que
podem deixar o terreno fértil para
a implementação de uma gestão
sistemática dos riscos. A Gerência
de Riscos é uma tarefa de grande
importância dentro de qualquer
organização, mas, como em
qualquer missão importante, requer
visão prévia. Este artigo tem como
objetivo desenvolver esta visão em
processo de evolução.
FRANÇOIS SETTEMBRINO
GERENTE DE RISCOS
FERMA
34
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
M
ais de meio século atrás, os
inventores da Gerência de
Riscos aventuraram-se a
lançar as bases do sistema. Como não
havia nada sobre o assunto, eles precisaram recorrer à própria coragem para
adentrar um caminho ainda não trilhado. O mais difícil foi perder o hábito de
considerar como matéria-prima apenas
os riscos segurados ou asseguráveis. O
futuro mostrou que eles tinham razão nisso, já que
os “novos riscos” percebidos ao longo do tempo não
estão todos segurados, nem mesmo são totalmente
asseguráveis.
Vamos primeiro voltar nossa atenção para alguns
princípios em torno dos quais, do ponto de vista dos
pioneiros, o sucesso da Gerência de Riscos gira incondicionalmente:
A gerência sênior tem de se envolver do início ao
fim do processo a ser implementado. Cabe a ela tomar
a iniciativa, fornecer os recursos adequados e mantê-lo na direção certa. Um processo tão vital assim não
pode ser negligenciado e ficar à sua própria mercê: ele
precisa ser constantemente alimentado para conseguir
sobreviver.
Dependendo do tamanho da empresa, seu sistema
organizacional, sua localização geográfica, seus objetivos e seus processos operacionais, a Gerência de Riscos será mais ou menos centralizada.
ILLUSTRATION STOCK
Simplificando, a literatura atual a respeito continua
a falar do Gerente de Riscos. Na verdade, seria melhor
falar da entidade Gerência de Riscos, porque ninguém
consegue dar conta desta tarefa sozinho numa empresa grande. Partindo desta base, continuaremos usando o termo “Gerente de Riscos” apenas para facilitar a
compreensão.
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
Os gerentes de riscos precisam de um lugar na estrutura corporativa. Os pioneiros entenderam rapidamente que, a partir do momento em que eles eram
integrados no organograma da empresa, no departamento financeiro, por exemplo, eles perdiam toda a
liberdade de ação. Optaram, portanto, por uma função
staff, a única que permitia que eles se relacionassem de
modo completamente autônomo com a gerência sênior. O que surpreende mesmo hoje em dia é que eles
geralmente conseguiam esta posição com facilidade...
naquela época. Mas agora poucas empresas consideram a hipótese. O que incomoda muitos dirigentes
é ter de tolerar que, em sua própria organização,
35
estudo
alguém tenha o direito e a obrigação de
fazer críticas e dar broncas. Esta abordagem conflita com o egocentrismo latente que ocorre com frequência – até
demais – nos altos escalões.
Os gerentes de risco precisavam ter
alguma autoridade para que pudessem
agir, rompendo essa inércia. Nossos
pioneiros tinham de conquistar o direito de obter informações de todos os
níveis da organização e obter as respostas para todas as suas perguntas. Desde o início, já se sabia que o estudo de
muitas questões envolvia várias áreas
ao mesmo tempo e que a melhor forma
de lidar com elas era formando grupos
multidisciplinares sob a supervisão do
gerente de riscos. Em ambos os casos,
qualquer que fossem os resultados de
suas indagações e discussões, eles estariam sujeitos à diretoria ou ao conselho, que então toma as devidas decisões
e determina as tarefas complementares. Não há dúvida de que eles é que
deveriam tomam as grandes decisões,
já que, no que concerne à Gerência de
Riscos, são os dirigentes que dirigem e
são eles que terão de se responsabilizar
por estas decisões.
Uma das funções confiadas ao gerente de riscos ou à entidade Gerência de Riscos é a de encarregar-se da
formação e conscientização interna
sobre o assunto. Quando esta tarefa era realizada com o pessoal de alto
nível, geralmente não havia nenhum
problema. Como já foi levantado anteriormente, eles haviam iniciado o
processo todo e sabiam muito bem de
sua importância. Os trabalhadores do
dia a dia estavam mais familiarizados
com os verdadeiros problemas e solicitavam ao mesmo tempo informa36
O QUE
INCOMODA
MUITOS
DIRIGENTES
É TER DE
TOLERAR
QUE, EM SUA
PRÓPRIA
ORGANIZAÇÃO,
ALGUÉM
TENHA O
DIREITO E A
OBRIGAÇÃO
DE FAZER
CRÍTICAS E
DAR BRONCAS
ções e formação, demonstrando, portanto, um grande interesse. Os mais
refratários geralmente eram aqueles
que ocupavam uma posição na média gerência, presos entre a cruz de
seus objetivos e a caldeira do melhor
rendimento possível. Portanto, estes
últimos eram os que tinham de ser
controlados mais de perto, com seminários e boletins informativos. Além
disso, as tecnologias em contínua evolução deram grande apoio nesse sentido. Uma das consequências indiretas
foi a obrigação do gerente de riscos e
de sua equipe de buscar formação de
alto nível continuamente para se manterem atualizados.
Se eliminarmos qualquer um dos elementos mencionados acima, fica praticamente impossível assentar as bases para
uma verdadeira Gerência de Riscos, e foi
exatamente isso o que aconteceu. Quando
os pioneiros deixaram a área, raramente
foram substituídos por sucessores viáveis.
A gerência e os gerentes começaram a se
interessar apenas pelo valor de mercado
de suas empresas, os investidores voltaram
seus interesses para as fusões e aquisições
e prestou-se muito menos atenção aos
riscos, já que o foco estava todo nas operações financeiras. Os riscos continuavam
presentes, mesmo que os dirigentes se fizessem de surdos e cegos cada vez mais.
Da Enron para Fukushima, passando pela
crise das subprime, a lista de desastres é incrivelmente longa e impressionante.
Agora é preciso urgentemente reverter
o processo e voltar às boas práticas, como
no início. Os esforços que estão sendo feitos para certificar esta função certamente
são um passo na direção certa. Além disso,
será preciso voltar a educar os dirigentes,
porque nada será possível sem eles a bordo.
Ainda há muito a fazer!
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
de alguma forma, de introdução ou de estímulo para se pesquisar o tema com mais
profundidade no futuro.
Para começar, vamos analisar o conceito
de risco cibernético. Têm havido constantes
ataques no mundo todo, não só a empresas
e organizações diversas, mas também a cada
um de nós. Nós, meros indivíduos insignificantes, somos vítimas de ataques na mesma medida que as grandes organizações, seja
para acompanhar nossos hábitos de compra,
saber sobre nossas relações íntimas, nossa
situação financeira ou nossos relacionamentos bancários. Enfim, tudo. E isso ocorre
em meio à maior indiferença de nossa parte. Quase todo mundo sabe dos perigos das
redes sociais, mas quase todos nos acomodamos e causamos riscos que descobrimos
Cada organização é “uma” e, portanto, NÃO EXISTE E
tarde demais. Para não mencionar empresas
“única”. Por isso, não existe e nunca existi- NUNCA EXISTIRÁ ou governos, já que todos os dias ficamos
rá um modelo único de Gerência de Riscos UM MODELO
sabendo que nenhuma empresa ou governo
que possa ser aplicado em todos os casos, para ÚNICO DE
conseguiu implantar proteções suficientes
GERÊNCIA
DE
toda e qualquer circunstância. Com base nos
nem eficazes. A engenhosidade dos crimiprincípios expostos anteriormente, que cons- RISCOS RISCOS nosos é tal que eles sempre levam vantagem
tituem a base para uma “chave” corretamente QUE POSSA
no que diz respeito à sofisticação de suas
estruturada, cada organização terá de adaptá- SER APLICADO vítimas. Sua vantagem chega a um extremo
-los a seu perfil, a seus procedimentos, a suas EM TODOS
tal que eles são capazes de instalar secretalimitações financeiras, políticas e geográficas e OS CASOS,
mente um dispositivo permanente dentro
à sua própria cultura. É um processo de lon- PARA TODA
dos computadores em que eles penetraram,
go prazo, que não tem fim e que precisa ser E QUALQUER
o que lhes permite rastrear tudo o que aconpensado e repensado constantemente. Por CIRCUNSTÂNCIA tece neles e escolher o momento ou a vítima
esta razão, a profissão de Gerente de Riscos é
de um ataque-surpresa. É para ficarmos de
emocionante.
braços cruzados? De jeito nenhum. Ao conTambém seria útil rever as possibilidades
trário, os mecanismos de defesa precisam
de formação e disponibilidades para evitar
ser mantidos sob escrutínio permanente,
um alto grau de dispersão.
pois, quanto mais rápido se descobre uma
Vejamos agora três exemplos que poinvasão, mais rápida a resposta. A formadem servir como linhas de reflexão e facilição dos usuários é essencial para evitar que
tar uma melhor compreensão dos fenômeeles se cansem e se esqueçam das regras de
nos que ocorrem. Cada uma destas linhas
segurança que atrasam seu trabalho. Já não
mereceria uma análise aprofundada com a
se trata mais de uma questão puramente
dedicação dos especialistas no assunto. Os
de TI. Com o aumento do teletrabalho e
parágrafos a seguir não têm esta ambição,
a proliferação de cartões inteligentes, está
mas podem despertar o interesse e servir,
ficando confusa a distinção entre trabalho e
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
37
estudo
redes sociais; as portas de acesso se encontram onde menos se espera, e documentos
confidenciais são às vezes tão pouco secretos que é muito fácil obtê-los. Este é um
quadro típico de Gerência de Riscos, onde
o problema precisa ser abordado com profundidade e em conjunto, com a gerência
sênior decidindo a estratégia a ser adotada
e as ações a serem tomadas. Todos sabem
da existência das backdoors, que foram
sub-repticiamente deixadas no sistema
operacional de qualquer computador. Elas
permitem que qualquer um em posse das
senhas necessárias consiga passar por todos
os sistemas de autenticação e infiltrar-se no
computador. O Google, Outlook e companhia também não são exceção. Mas há piores, como o sistema de compartilhamento
anônimo Darknet (ou deep web). Ele facilita
a comunicação às escondidas de qualquer
sistema de monitoramento de espionagem
ou interceptação de comunicações. Ele foi
recebido de braços abertos por internautas
censurados, perseguidos ou coagidos por
alguns poderes ditatoriais. É a única forma
que eles têm de divulgar sua sina e se comunicar livremente. Mas o mesmo sistema também é uma bênção para todas as redes mal-intencionadas, que podem realizar
suas atividades com total impunidade. Até
agora a Darknet continua impenetrável, e
a encriptação que utiliza tem sido intransponível. O mais trágico deste enigma é que
ele logo tornará obsoleta parte das famosas
atividades de espionagem que foram feitas
com grande complexidade técnica e que
acabaram de virar manchete nos noticiários internacionais. Foram buscar lã e saíram tosquiados... Mas para os nossos fins
aqui, os riscos, então, se tornaram incontroláveis, porque não conseguimos saber
quem está alimentando a Darknet nem o
que está acontecendo pelas costas de todos:
segredos de fabricação, estoques de todos
os tipos, clientes, fornecedores, produtos
38
estratégicos, etc... Se há uma forma de brecar isto, ainda não sabemos, e é algo que
demandará muita inteligência. Mas quem
vai se encarregar disso? Eis a questão.
A segunda linha de reflexão diz respeito
ao capital humano e às “pessoas” que o
formam.
Este capital humano geralmente é
subestimado ou maltratado. Também é
curioso que seu destino tenha sido confiado
aos especialistas de “recursos humanos”.
Esta terminologia se parece demais com a
dos outros recursos das empresas, tais como
matérias-primas, energias, terceirizações,
etc... E da mesma forma, se algum
recurso humano se tornar muito caro ou
muito difícil de gerir, ele é simplesmente
substituído. É por esta razão que o quadro
de funcionários é tratado como uma
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
A Gerência de Riscos do outro lado do
Atlântico foi timidamente reincorporando
as preocupações dos stakeholders, ou seja,
OUTRO LADO
das “partes interessadas” ao processo. Estas
DO ATLÂNTICO
FOI TIMIDAMENTE incluem principalmente os funcionários,
REINCORPORANDO mas também os sindicatos, os clientes, os
sócios, os fornecedores, as empreiteiras e
AS
PREOCUPAÇÕES os contratados, os investidores e credores,
sem esquecer o fisco e o meio ambiente.
DOS
Além das citadas, que não são poucas, há
STAKEHOLDERS
também os concorrentes. Em conjunto ou
AO PROCESSO
individualmente, estas partes pertencem
a diferentes classes de vulnerabilidade,
como expectativas pessoais, perdas de
informações, perdas de recursos, danos
materiais, etc. Todas merecem atenção e
cuidados permanentes. Existem muitas
formas de lidar com elas. Se pensarmos
bem, logo percebemos que esta segunda
linha permeia todo o tecido empresarial
e, além disso, a governança volta a ocupar
a posição de responsabilidade que nunca
deveria ter abandonado. O resultado
imediato é que a Gerência de Riscos
está se familiarizando novamente com
fonte de energia qualquer: se for muito
os princípios de precaução e prevenção. Só
caro, ele é substituído ou deslocado para
podemos fazer prevenção se considerarmos
outro lugar, sem qualquer consideração
os riscos que têm probabilidade mensurável,
sobre os problemas humanos que isso
enquanto que a precaução pode ser aplicada
pode gerar. Prova disso são as Bolsas de
quando não podemos calcular a amplitude
Valores, que sempre reagiram favorável e
nem a probabilidade do evento. Qualquer
impiedosamente a qualquer restruturação
gerente de risco tem de estar sempre
ou projetos terceirizados em outros países.
navegando de um para o outro e, quando
É nesse momento que o gerente de recursos
as coisas estancam, o recurso que lhe resta
humanos deixa de ser o elo entre a direção
é a resiliência... É relevante que a legislação
e os funcionários para se tornar um mero
belga de previdência social tenha expandido
executor de grandes obras, e ele precisará
seus horizontes, passando a cobrir, além
fazer o possível e o impossível para que
dos acidentes no trabalho, questões
isso custe o mínimo, fazendo uso de planos
organizacionais, de relacionamento e assédio,
sociais que mais se parecem com enterros.
e entrou até na área psicossocial. Ainda mais
Para que se preocupar com os funcionários
revelador é o fato de que o assessor responsável
e protegê-los conforme as normas e as
só pode se relacionar diretamente com os
leis, se terceirizando-os dentro ou fora do
dirigentes da empresa, sem intermediários, e
país podemos nos poupar de todas essas
que em sua função ele não tem de se submeter
limitações tão onerosas?
a mais ninguém. Lidar deste modo com o
A GERÊNCIA DE
RISCOS DO
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
39
estudo
capital humano da empresa é um exemplo
legal e obrigatório de como a Gerência de
Riscos deveria funcionar, com acesso direto
à chefia da empresa.
A terceira linha de reflexão é um
verdadeiro ninho de vespas, porque diz
respeito a tudo o que o envolve o conceito
de “reputação”, o rosto visível da imagem
da marca. Todos os manuais concordam:
este valor é insubstituível e merece ser
defendido e protegido ao máximo. Mas é tão
frágil que um simples boato pode destruílo, e reconstruí-lo é sempre uma tarefa
difícil e às vezes impossível. Depois fica
sempre aquela dúvida pairando na mente
das pessoas: “onde há fumaça, há fogo...”. Se
há um problema onde os líderes geralmente
continuam sendo os protagonistas, é aqui.
Mas eles também são os mais vulneráveis.
Trata-se de um aspecto indispensável da
boa governança, e isso por sua vez ressalta
seu papel crucial na Gerência de Riscos. Se
revisitarmos o recente caso Perrier, teremos
um bom exemplo de como as coisas podem
deteriorar-se. A contaminação de sua água
com benzeno foi bem gerenciada, com
um dispendioso recall de um alto número
de garrafas, mas foi a atitude errática dos
dirigentes que causou o dano maior. A
imagem da marca, e consequentemente,
seu valor, despencaram, e a empresa foi
adquirida por outro grupo a preço de banana.
O que faz a gestão deste risco praticamente
impossível hoje é o fato de que são os
dirigentes que distorcem a mensagem. Em
1976, Emmanuel Todd fez a seguinte análise
sobre o bloco leste: “... uma sociedade
conduzida pela tecnologia onde a tecnologia
não é usada para o bem e a segurança dos
seus cidadãos não pode durar...”. Isso é
exatamente o que está acontecendo hoje
sob a falsa bandeira da globalização, que
serve de carta branca e pretexto para se fazer
qualquer coisa: permitem-se condições de
40
LIDAR DESTE
MODO COM
O CAPITAL
HUMANO DA
EMPRESA É
UM EXEMPLO
LEGAL E
OBRIGATÓRIO
DE COMO A
GERÊNCIA
DE RISCOS
DEVERIA
FUNCIONAR,
COM ACESSO
DIRETO À
CHEFIA DA
EMPRESA
escravidão deslavada com a terceirização
em países estrangeiros; a invasão de
todos os produtos, principalmente os da
indústria agroalimentar, com aditivos e
outras substâncias cujo perigo e nocividade
são subestimados ou mesmo negados; o
retrocesso da biodiversidade; o efeito estufa
descontrolado... Exemplos específicos
não faltam, mas eles estão só começando a
aparecer graças a alguns poucos corajosos que
se recusaram a silenciar. Os mais conhecidos
são a piscicultura, a adulteração da cadeia
alimentar pela introdução de produtos
falsificados, tais como queijo artificial, até
a substituição da carne por carne de cavalo
em refeições prontas, os aditivos alimentares
usados sem antes terem sido testados e cujos
efeitos nocivos se devem em grande parte ao
hábito generalizado de comer mal, etc. Os
grandes grupos industriais por trás desses
absurdos realmente nada temem. Eles são
tão poderosos que eles mesmos organizam
sua própria impunidade. Os meios utilizados
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
são chamados de lobbies. São inescrupulosos,
contanto que possam ver a cor do dinheiro,
cientistas sem ética, mentiras por toda parte
para alimentar, simultânea e artificialmente
pareceres que se anulam mutuamente.
As autoridades da saúde estão inundadas
com teorias tão contraditórias que já não
desempenham mais seu papel de cão de
guarda. Como você pode querer aplicar
os princípios da Gerência de Riscos em
um contexto como este? Se a ética dos
industriais não voltar a ser como deveria, ou
seja, honesta e transparente, como podemos
esperar que eles corrijam os riscos altamente
lucrativos que eles mesmos geraram e cujos
efeitos nocivos só aparecerão muito depois?
Deixemos a última palavra para
Stéphane Foucart, já que expressa muito
bem a crescente inquietação daqueles
que acreditam na Gerência de Riscos: “...
duvida-se do conhecimento acumulado,
contestado por métodos científicos forjados
ou manipulados pelas indústrias que acham
O QUE FAZ
A GESTÃO
DESTE RISCO
PRATICAMENTE
IMPOSSÍVEL
HOJE É O FATO
DE QUE SÃO
OS DIRIGENTES
QUE
DISTORCEM A
MENSAGEM
que ele as incomoda... O projeto científico
consiste em compreender o mundo,
enquanto o projeto técnico consiste em se
aproveitar dele...”(1). Mas quando a ciência
se submete à tecnologia, as regras do jogo
mudam e a própria ideia de precaução
desaparece. Não há mais nenhuma chance
de se trazer um diagnóstico científico para
qualquer atividade industrial. A indústria
se incumbirá de fazer com que qualquer
grão de verdade desapareça em meio a uma
pseudociência que produz apenas incerteza
e ignorância. Será que a Gerência de Riscos
conseguirá enfrentar este desafio? Só o
tempo dirá.
La Fabrique du Mensonge (“A Fábrica
da Mentira”). Como os industriais
manipulam a ciência e nos colocam em
perigo. Stéphane Foucart, ed. Impactos
Denoël, 2013, páginas 17 e 18.
1
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
41
NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
Atividades no último trimestre de 2014
Congressos, cursos, seminários e fóruns sobre Gerência de Riscos encerram
a oferta anual de formação e divulgação da AGERS
N
o último trimestre de cada
ano, a Asociación Española
de Gerencia de Riesgos y Seguros
(AGERS) costuma realizar uma
série de congressos, seminários e
cursos relacionados com seu campo de atuação. Eis as atividades
realizadas entre setembro e dezembro de 2014:
Aula de Conformidade (Compliance)
No dia 10 de setembro a sede da
CEIM acolheu a primeira edição
desta aula para gerentes de riscos
e uma segunda edição para todos
os associados. Este fórum analisou
as novidades mais significativas da
reforma do Código Penal de 2010.
No entanto, esta reforma não
foi suficiente para dissuadir nem
para conter a avalanche de comportamentos que constituem delitos
econômicos dentro das organizações. Por isso, o legislador preparou
uma nova reforma, guiada pela necessidade de implementar medidas
de prevenção nas organizações de
luta contra a fraude, a corrupção e
os delitos econômicos, que será publicada em breve no BOE.
Fórum de Biomedicina-Ebola:
gerência do risco médico e
da segurança das
empresas
Este ato, celebrado na sede do
CEIM com a presença de reconhecidos especialistas do mundo acadêmico
e do setor privado, teve dois objetivos:
expor os riscos que as seguradoras e
as empresas enfrentam e aprofundar
os aspectos jurídicos relacionados a
este surto. Trata-se do segundo fórum
organizado pelo grupo de trabalho de
biomedicina da associação.
Seminário AGERS: 30 anos de
Gerência de Riscos na Espanha
Seminário organizado dia 15
de outubro pela Commercial Risk
Europe Risk Frontiers com a colaboração da AGERS.
42
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
NOTÍCIAS
Curso de gerência
de sinistros
Dias 29 e 30 de outubro, sob a
direção de Aránzazu Arana, Diretor de Sinistros para a Europa Ocidental & América Latina da XL Insurance, a AGERS ministrou este
curso para analisar o desenvolvimento dos pedidos de sinistros sob
perspectiva dos diferentes atores
envolvidos em sua tramitação.
Evolução do seguro de
transportes. Novidades
legislativas: desafios e
oportunidades
Este curso combina a formação convencional com o debate
entre os especialistas e a intervenção dos participantes. Realizado
nos dias 4 e 5 de novembro sob
a direção de Lourdes Aguanell,
responsável pelas contas do grupo
Eurapco Marine, o curso foi dado
por profissionais dá indústria de
seguros, corretores, gerentes de
riscos, advogados, consultores,
especialistas e detetives.
XX Congresso AGERS.
Riscos e Seguros 2015
Neste tradicional congresso,
desta vez realizado em 20 de novembro, foram reveladas as perspectivas dos riscos e seguros para
o próximo ano. A conferência de
abertura ficou a cargo de María
Ximena Lombana, Ministra Plenipotenciária da Embaixada da Colômbia na Espanha.
O Congresso também serviu para apresentar os resultados
da Pesquisa de Análise Comparativa
2014 de Gerência de Riscos, realizada
pela FERMA. Para finalizar, organizou-se uma sessão exclusiva para
os gerentes de riscos.
Curso de crédito e
outros riscos financeiros
Curso dirigido por Manuel Arroyo, diretor de Crédito da Willis
Iberia, com o qual a AGERS finalizou a formação de 2014.
Fórum Biomedicina–Big
Data nos seguros pessoais
Fórum programado pelo grupo de trabalho de biomedicina
da AGERS com a colaboração da
Red CUMES (FUNDACIÓN
MAPFRE), que aconteceu no dia
4 de dezembro. Os apresentadores
trouxeram as visões da seguradora
de saúde, do consultor, da empresa
de tecnologia, da resseguradora e
do Consórcio de Compensação de
Seguros.
Ato honroso pelos 25 anos
de participação na Gerência
de Riscos
No dia 15 de dezembro a
AGERS realizou seu ato honroso
pelo envolvimento na Gerência de
Riscos. Desta vez o reconhecimento foi para os associados que colaboram há mais de 25 anos com a
associação na difusão da Gerência
de Riscos: El Corte Inglés, Enagas,
Arcelormittal (Ensidesa), Laboratórios Esteve, Renfe, Michelin,
Basf e Glaxo Smithkline.
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
43
NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
Congresso “Mercado de Seguros na América Latina”
Os gerentes de riscos das grandes empresas debateram, em uma reunião
interna convocada pela IGREA, sobre a atualidade do setor na região
C
ontinuando com a série de
mesas redondas na IGREA,
no dia 24 de setembro foi realizada na sede em Madri da OHL uma
reunião interna para os associados com o título Mercado de Seguros na América Latina. Após as
apresentações, feitas por Manuel
Garrote, responsável pela área de
riscos da OHL, e pelo presidente
da IGREA, Daniel San Millán, os
gerentes de riscos das grandes empresas espanholas debateram sobre
os problemas que enfrentam para
implantar os programas concebidos na Espanha com suas seguradoras e corretores globais.
De modo geral, e salvo alguma
exceção, as conclusões coincidiram
quanto às dificuldades que ainda
existem em todos os níveis, tanto
operacionais e de mercado quanto
das companhias de seguros, corretores e especialistas.
No debate também foram abordados aspectos técnicos específi-
44
cos, como a saída de prêmios para
as sociedades cativas e as dificuldades atuais de ordem regulatória no
Brasil e na Argentina, entre outros.
Além disso, discutiu-se sobre experiências pontuais envolvendo a
questão da Responsabilidade Civil
Patronal no México e na Argentina. Foi extremamente interessante
o diálogo sobre as diferentes atuações dos grupos seguradores globais, dos corretores internacionais
que prestam serviços na região e
das organizações de peritos em situações de grandes sinistros.
Após a apresentação das conclusões muito reveladoras, o congresso terminou com a recomendação
de analisar os casos gerados com
profissionais locais que conheçam
bem a situação e tenham experiência suficiente nesses assuntos.
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
NOTÍCIAS
Congresso de Tendências de Mercado
No dia 4 de novembro a IGREA realizou seu congresso tradicional para mais
de 150 profissionais abordando diversas questões de atualidades sobre o setor
O
congresso foi apresentado
pelo presidente da IGREA,
Daniel San Millán, que estabeleceu que fosse desenvolvido no
formato de debate, estruturado em
quatro painéis:
Posição do mercado
americano frente a projetos PPP
(Projeto público e privado).
Presente e futuro das
empresas cativas.
Problemática de sinistros com
várias seguradoras ou em faixas.
Capacidades alternativas
para o mercado tradicional de
resseguro.
Painel 1. Moderado por Manuel Garrote, contou com a participação de Wilson Ortiz, Ernest
Tauré e Aurelio González. Estes
especialistas falaram sobre as diferenças existentes em PPPs entre
os mercados americano e europeu,
salientando as seguintes:
Nos Estados Unidos a legislação é diferente em cada Estado, o que faz com que não haja
uma redação padrão, razão pela
qual é essencial estudar a legislação do Estado em que se pensa em trabalhar.
Nos seguros de PPP, as apólices mais importantes são as de
RC e principalmente a cober-
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
tura de acidentes do trabalho,
ao contrário da Europa, onde o
seguro mais importante é o TRC.
Nos RC, os gastos com defesa
excedem em cinco vezes os dos
pedidos de indenização.
O avaliador pericial atua mais
como um gestor de sinistro do
que como um juiz ao estar rodeado por peritos que redigem
um relatório para ele e depois
ele transfere o relatório a ser
apresentado.
Requisitos para licença específicos por Estado.
A figura do avaliador pericial
para uma parte não é bem vista,
e costuma-se preferir os mecanismos contemplados na apólice, como mediação.
Governos de Estado aceitam
a premissa de riscos não seguráveis e até participam do custo
do sinistro. Portanto, é necessário avaliar todos os riscos e
analisar quais são seguráveis
e quais não são, e negociar as
condições para os riscos assumidos por cada parte.
No longo prazo, a intenção é
ter padrões que sejam transferíveis para todos os Estados.
O problema com os riscos nos
EUA é que as instalações são altamente obsoletas em termos de
sistema de infraestrutura, fornecimento e esgotos. Cerca de
40% dos PPP são para estradas.
Não há dados disponíveis sobre os custos do seguro da operação, que virá depois do seguro da construção.
A sensação do público em
geral nos EUA é que parte da
propriedade do Estado se perde,
mas os Estados não têm fundos.
Painel 2. Moderado por Daniel San Millán, contou com a
participação de George Michelena e Alfredo Arán. Entre outros se
abordaram os seguintes temas:
Aspectos mais atrativos das
cativas. Embora inicialmente o
mais importante fosse o fiscal,
hoje elas são consideradas uma
ferramenta fundamental na gerência de riscos.
A situação atual das cativas e
como são afetadas pelos mercados muito competitivos. Diz-se que este é o momento exato
de aproveitar para capitalizar as
cativas, assim elas podem enfrentar os períodos de mercados pouco competitivo.
45
NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
A cativa é uma ferramenta
que permite reter a sinistralidade de frequência e aqueles
riscos para os quais o mercado
tem capacidade limitada, como
os riscos cibernéticos.
Permite o acesso ao mercado
de resseguro.
Oferece mais transparência
na intermediação.
Painel 3. Moderado por Augusto Pérez Arbizu e com a colaboração dos penalistas Erlantz
Urbieta, Juan Manuel Negro e
Paulino Fajardo.
O moderador abordou a opinião
destes profissionais do direito frente
a sinistros que afetam várias seguradoras e em apólices por faixas com
painéis de diferentes seguradoras.
Erlantz destacou a importância de
que haja uma redação única ou que,
se houver várias, que as definições
sejam iguais em todos; cláusulas
follow form (“seguir o padrão”) que
regulem e detalhem os limites de
responsabilidade; incluir especificações relativas a atuações em casos de
insolvência de alguma seguradora. A
estrutura em faixas otimiza capacidades e melhora custos, mas complica a negociação com todas as seguradoras de cada faixa, visto que às
vezes os interesses não coincidem.
Devem ficar claras a posição do líder
e a do seguidor.
Para Juan Manuel Negro, são
fundamentais a transparência nas
46
informações e a coordenação das
faixas e entre as seguradoras, e ele
acredita que devam ser proativas
para chegarem a acordos. Além disso, crê que seja necessária a opção de
assinar protocolos de atuação com o
início da cobertura.
Paulino Fajardo, por sua vez,
afirmou que principalmente nos setores de energia e construção existe
um problema de excessiva atomização dos riscos que as diferentes
culturas trazem; além disso, gera-se
um problema nas renovações quando algumas resseguradoras saem e
entram outras, que podem não estar
de acordo com o espírito da apólice
e têm uma visão própria que pode
não coincidir com as das demais.
Em caso de sinistro, é importante
criar um comitê que agrupe várias
resseguradoras e que elas compartilhem as mesmas informações.
Painel 4. Contou com a presença de Carlos Wong-Fupuy, que
falou sobre a atribuição da taxação
às resseguradoras de sua empresa, a A.M.Best. Ele comentou que,
embora há alguns meses ela vinha
estável, naquele momento já havia
passado a negativo por várias razões:
Maior retenção nos programas originais.
Baixo retorno sobre o investimento.
Excesso de reservas voluntárias.
Disciplina de taxação se deteriorando.
Leves perdas em riscos de catástrofe.
Convergência do capital: concorrência de resseguro e capital
alternativo.
Sobre capitais alternativos, ele
se referiu a:
Bônus catástrofe: de indenização, paramétricas puras, de
perda da indústria e de perdas
modelizadas.
Resseguro colateralizado: é
uma estrutura semelhante à do
ressseguro tradicional, mas exige carta de crédito.
Sidecars: dão cobertura proporcional (quota-parte) em riscos de catástrofe.
Hedge Funds Reinsurance: entidade em que o fundo atua como
instrumento para atrair investidores para a companhia de resseguros e cobra uma comissão.
Há duas opções: entidade nova
ou companhia existente.
O impacto do capital alternativo representou 15 por cento do volume de prêmios até 2013. Os que dão
suporte aos hedge funds são os fundos
de pensão e o capital privado.
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
NOTÍCIAS
A FERMA pede para renovar a isenção por
categorias no REC para grupos de (res)seguros
Para a federação, a cobertura de riscos de grande monta e excepcionais precisa
estar isenta das normas de concorrência da UE
A
FERMA pediu a renovação
do Regulamento de Isenção
por categorias no setor de seguros
(REC) para grupos de (res)seguros, e fez isso em resposta apresentada para a Comissão Europeia no
dia 4 de novembro.
Em agosto de 2014 a Comissão iniciou uma consulta para
analisar se os supostos benefícios
para o mercado segurador e para
os clientes de agrupamentos de
seguros continuam justificando o
tratamento especial que recebem
das autoridades de concorrência da
UE. A Comissão deve apresentar
um relatório aos Estados-Membros antes de 31 de março de 2016,
com o objetivo de decidir sobre
sua renovação em 2017.
Julia Graham, presidenta da
FERMA, declarou a este respeito:
“Nós representamos os consumidores e usuários desses grupos
de(re)seguradoras. A não-renovação da isenção por categorias mudaria radicalmente a cobertura de
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
algumas tipos de risco, mas não
ampliaria a escolha de compradores de seguros comerciais. Acreditamos que continua a haver motivos para a isenção das normas de
concorrência da EU para o REC”.
Em sua opinião, “se estas normas
estão sendo questionadas e há a possibilidade de estes grupos ficarem ao
alcance das leis de concorrência da
EU, nossa prioridade é garantir que
os políticos estejam conscientes
das consequências indesejadas de
uma decisão de não renovar sobre
o alcance da cobertura e do nível de
preços para os nossos riscos mais
excepcionais de maior monta”.
A FERMA respondeu à Comissão Europeia que o REC em vigor
oferece segurança jurídica de isenção das normas de concorrência da
UE para todos os grupos de (res)
seguros da UE e que isto beneficia os interessados: provedores de
capacidade seguradora e usuários.
Sem a isenção, esses grupos estariam sujeitos às diretrizes gerais da
UE sobre acordos de colaboração
horizontal, que dão ampla discrição às autoridades nacionais da
concorrência.
Na opinião da FERMA, esta
mudança resultaria na utilização
de dispendiosos serviços jurídicos
para avaliar o cumprimento desses
acordos em diferentes jurisdições,
o que desviaria o investimento das
principais atividades geradoras de
valor.
47
NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
A FERMA comemora 40 anos
Comemoração com jantar de gala em Bruxelas
A
Federação Europeia de Associações de Gerência de Riscos
(FERMA) comemorou seu quadragésimo aniversário, aproveitando o seminário realizado nos dias
20 e 21 de outubro, em Bruxelas,
em que foi apresentado o Estudo de
mercado sobre gerência de riscos FERMA 2014. A comemoração incluiu
um jantar de gala com gerentes de
riscos no Palácio de Belas Artes de
Bruxelas, jóia da art déco de Víctor
Horta, e a edição de um livreto comemorativo.
No decorrer do evento, Julia
Graham, presidenta da Federação,
destacou que “a FERMA se orgulha de ter desempenhado um papel
fundamental ao longo dos últimos
40 anos no desenvolvimento e reconhecimento da gerência de riscos
como uma profissão. Os objetivos
estratégicos da FERMA serão essenciais no processo de tomada de
decisões na Europa sobre a gerências de riscos e questões sobre seguro e financiamento de riscos, bem
como para coordenar, promover e
apoiar o desenvolvimento e o uso
da gerência de riscos, os seguros e o
financiamento de riscos na Europa.
Realizando estes objetivos, proporcionamos valor aos nossos membros e para a comunidade de riscos
como um todo”.
48
A primeira parte do livreto do
aniversário, 40 anos de gerência de riscos
na Europa, conta a história da FERMA por meio de seus presidentes.
As seções subsequentes descrevem
os projetos em andamento da FERMA, como a certificação profissional dos gerentes de riscos e eventos,
mais especificamente via seminários
e fóruns, e detalha os planos de futuro da Federação.
A FERMA começou em 1974
como uma organização de representação da comunidade de compra de
seguros comerciais com a Comissão
Europeia e o mercado segurador.
Naquela época, seis países tinham
associações de compradores de seguros, corretores de cativas e gerentes de riscos: Bélgica, França, Itália,
Alemanha, Países Baixos e Reino
Unido. Eles criaram a Associação
de Segurados Industriais Europeus
(AEAI), com sede em Bruxelas para
poder estar perto da Comissão.
O grande passo seguinte foi a
criação de uma conferência de gerência de riscos europeia, realizada
em conjunto com um a Sociedade
de Gerência de Seguros e Riscos dos
Estados Unidos. Realizada pela primeira vez em 1981, ela aconteceu a
cada dois anos em Montecarlo até
1999. Naquele momento, o número
de membros tinha aumentado para
nove, com a entrada da Dinamarca,
Espanha e Suíça no grupo original
de seis países. A AEAI estava preparada para ficar por conta própria. Ela
se tornou na FERMA e realizou seu
primeiro Fórum de Gerência de Riscos FERMA com grande sucesso em
1999 em Berlim.
Desde então, o número de
membros da FERMA chegou a 22
associações nacionais em 20 países
da Europa, com associações de gerência de riscos na República Checa,
Finlândia, Luxemburgo, Noruega,
Malta, Polônia, Portugal, Rússia,
Eslovênia, Suécia e Turquia. A Espanha e a Alemanha possuem duas
associações cada. Estas associações
representam mais de 4.300 gerentes de seguros e riscos individuais.
Mais recentemente, a FERMA
começou a admitir membros internacionais individuais e empresariais interessados em gerência de
riscos na Europa, mas que não podem formar parte de uma associação nacional membro da mesma.
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
agenda
AGENDA 2015
CONGRESSOS E CONFERÊNCIAS
EVENTO
DATAS
LOCAL
CONVOCANTE
Conferência Anual 2015
26-29 de abril
Nova Orleans, LA (EUA)
RIMS
Conferência Internacional
sobre Análise de Riscos
26-29 de maio
Barcelona (Espanha)
ICRA6
Conferência Anual 2015
7-10 de junho
Houston, TX (EUA)
PRIMA
Conferência Anual 2015
15-17 de julho
Liverpool (Inglaterra)
AIRMIC
Congresso Mundial sobre
Risco
19-23 de julho
Cingapura (Cingapura)
SRA
9-11 de setembro
Munique (Alemanha)
DVS
Fórum 2015
4-7 de outubro
Veneza (Itália)
FERMA
Fórum 2015
3-4 de novembro
Estocolmo (Suécia)
SIRM
Simpósio 2015
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
49
livros
EL SEGURO DE
RESPONSABILIDAD CIVIL
DE ADMINISTRADORES,
CONSEJEROS Y
DIRECTIVOS: VII
ESTUDIO D&O MARSH 2014
Cuatrecasas, Gonçalves Pereira
Serviço de Estudos Marsh
Espanha, 2014
Editorial: Marsh
D
e acordo com o presente
estudo, aproximadamente
uma de cada duas empresas
espanholas não sabe da existência
do seguro de Diretores e
Executivos de Empresas (D & O).
Embora o grau de conhecimento
tenha melhorado em 5 pontos ao
longo de 2013, 74% das empresas
ainda não contratam esta apólice.
Apesar disso, o seguro
de responsabilidade civil
de Diretores e Executivos
continua a se espalhar no meio
empresarial espanhol, com mais
34 por cento de novas empresas
compradoras em 2013. Assim, as
empresas espanholas investiram
nesse ano mais de 154 milhões
(6 por cento a mais) na proteção
de seus diretores e executivos.
O setor de serviços continua
liderando a compra deste seguro
(44 por cento), seguido muito
50
de perto pelo setor industrial
(43 por cento). Por regiões
autônomas, os dirigentes mais
segurados são os de Madri,
Catalunha, Andaluzia, Valência e
País Basco.
O mercado segurador
da Espanha demonstrou ter
capacidade mais que suficiente
para assumir os novos riscos
segurados, oferecendo uma
capacidade total em 2013 de 515
milhões de euros (10 milhões a
mais que no ano anterior).
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
MANAGING RISK AND
OPPORTUNITY: THE
GOVERNANCE OF
STRATEGIC RISK-TAKING
Torben Juul Andersen, Maxine
Garvey e Oliviero Roggi
Hardback, 2014
ISBN: 978-0-19-968785-5
O
livro fala copiosamente
sobre a necessidade de
que sejam aplicadas boas práticas
em assuntos de governança
corporativa e Gerência de Riscos.
A raiz dos grandes escândalos
financeiros está na ausência
dessas boas práticas.
Ele também aborda temas
atuais, como a necessidade de
liderança no papel do gerente
de riscos, tudo isso usando
uma linguagem sem excesso de
jargão técnico.
Os desafios impostos
pela realidade de um mundo
em mudança cada vez mais
complexo e imprevisível exigem
uma nova abordagem tanto para
evitar riscos como para explorar
o potencial de crescimento que
um ambiente dinâmico oferece.
O texto se estrutura de forma
simples e prática, propondo
ideias facilmente aplicáveis.
Interessante para alunos de
pós-graduação em Economia,
Finanças e Administração de
Empresas, gerentes de riscos,
executivos e diretores de
empresas, etc.
GUÍA DE BUENAS PRÁCTICAS
EN LA SEGURIDAD
PATRIMONIAL
José Manuel García Diego
Editorial: Aenor
ISBN: 978-84-8143-841-3
outros padrões e fundamentado
no cumprimento da Norma
UNE-ISO 31000:2010 Gestão
do risco. Princípios e diretrizes.
Dirigido para empresas de
qualquer setor, independente
de seu modelo organizacional:
funcional ou de gestão baseada
em processos.
A publicação traz para as PMEs
formas de controle e conselhos
de implantação que permitirão
que os níveis de segurança da sua
organização se elevem.
A
segurança patrimonial tem
como objetivo a prevenção
e a proteção dos ativos da
empresa. O livro apresenta
um modelo para implementar
um sistema de gestão da
segurança patrimonial alinhado
com a gestão da qualidade,
totalmente integrável com
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
51
FUNDACIÓN MAPFRE
Área de Seguros e Previdência Social
EL RIESGO DE LONGEVIDAD
Y SU APLICACIÓN PRÁCTICA
A SOLVENCIA II
VII PREMIO
INTERNACIONAL
DE SEGUROS JULIO
CASTELO MATRÁN
Jose Miguel Rodríguez-Pardo
Del Castillo (Coord.) / Irene
Albarrán Lozano / Fernando
Ariza Rodríguez / Víctor
Manuel Cóbreces Juárez /
María Luz Durbán Reguera
FUNDACIÓN MAPFRE, 2014
ISBN: 978-84-9844-500-8
PREÇO: 35€
E
ste trabalho de pesquisa
aborda um assunto de
enorme interesse social e setorial
relacionado com a longevidade e
o risco que ela representa para o
mercado e fornece um conjunto
de técnicas atuariais avançadas
para a gestão desse risco.
Analisa-se o “interesse
comum” que os pesquisadores
têm pelo estudo da mensuração
da longevidade e sua aplicação
prática no contexto do
Solvência II. Também recebe
destaque a urgência que “a
modelização adequada da
sobrevivência” representa e
52
a necessidade de encontrar
uma “resposta adequada
ao desafio colocado pelo
envelhecimento da população”
na indústria do seguro privado,
oferecendo produtos que
garantam a longevidade.
Como conclusão, podemos
afirmar que o presente trabalho
de pesquisa tem como objetivo
a aplicação prática ao negócio
da longevidade no mercado
espanhol de um conjunto integral
abrangente de técnicas atuariais
e de gestão do risco considerado
como o mais avançado e que
permitirá a utilização de diferentes
alavancas de otimização do
negócio e do capital alocado
ao risco de sobrevivência, bem
como vantagens competitivas
sustentáveis sobre um negócio
que às vezes é questionado por
sua rentabilidade devido às
incertezas em que está envolvido.
O Prêmio Internacional de
Seguros Julio Castelo Matrán
foi criado em 2001 por ocasião
da aposentadoria do então
presidente do SISTEMA
MAPFRE e da MAPFRE
MUTUALIDAD, e tem
como objetivo premiar, com
periodicidade bienal, trabalhos
científicos inéditos que estejam
relacionados com o seguro.
Seu valor chega a 35.000
euros e inclui um diploma
que certifica sua obtenção.
EL COMPONENTE
TRANSFRONTERIZO
DE LAS RELACIONES
ASEGURADORAS
Lázaro Cuesta Barberá
FUNDACIÓN MAPFRE, 2014
ISBN: 978-84-9844-475-9
PREÇO: 20€
O
fenômeno da globalização
da economia em geral
e dos mercados financeiros
em particular determina que
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
também no campo dos seguros
venham se estabelecendo
cada vez mais relações que
transcendem as fronteiras dos
mercados nacionais. No lado
da demanda, vale notar que é
cada vez maior o número de
pessoas físicas e jurídicas que têm
interesses econômicos suscetíveis
de cobertura no exterior, fora
de seu país de origem.
Existem outras situações em
que os vínculos decorrentes
do contrato de seguro são
estabelecidos cruzando
as fronteiras nacionais. A
existência de um componente
transfronteiriço levanta
inúmeras questões de natureza
jurídica que constituem um
desafio regulamentar tanto
do ponto de vista das próprias
companhias de seguros como
dos tomadores ou segurados.
A pesquisa desenvolvida tenta
esclarecer as normas aplicáveis
em cada caso e identificar, se for
o caso, possíveis lacunas legais.
Para esta finalidade,
primeiro discutem-se os
critérios estabelecidos na
regulamentação vigente para
determinar a localização do
risco ou o lugar comprometido.
Além disso, são analisados
os canais que as entidades
seguradoras têm para
desenvolver suas atividades em
outros países e os critérios para
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
faculdades e poderes de
supervisão de cada um desses
órgãos de fiscalização.
LA PERCEPCIÓN SOCIAL DEL
SEGURO EN ESPAÑA 2014
determinar a lei aplicável ao
contrato de seguro, bem como
os mecanismos e as garantias
estabelecidos pela legislação
de cada país e as principais
normas e sistemas internacionais
para uma coordenação eficaz
entre os países que evite a
desproteção do cliente de
seguro transfronteiriço.
Por fim, analisa-se o papel
desempenhado por cada um
dos supervisores nacionais
dos países que esta atividade
transfronteiriça afeta e os
mecanismos para coordenar
o devido exercício de suas
Elaboración Técnica Del
Estudio Realizada Por Icea
FUNDACIÓN MAPFRE, 2014
ISBN: 978-84-9844-489-6
E
ste estudo é a continuação
do estudo publicado em
2012 e faz parte de uma série de
obras que servirão para analisar
periodicamente a evolução da
opinião do cidadão e a cultura
seguradora. Ele atende o novo
objetivo a que se propôs a Área
de Seguros e Previdência Social
da FUNDACIÓN MAPFRE
para contribuir para melhorar a
cultura seguradora dos cidadãos
e a percepção social do seguro.
Nesta segunda edição, além
de buscar o perfil e a atitude
dos cidadãos com relação ao
risco e ao seguro como produto
e serviço, a análise se amplia
com a inclusão do segmento de
população mais jovem (de 18
a 24 anos) para saber que valor
essas pessoas dão ao seguro e
53
livros
A
que imagem têm do setor.
Também foram incluídos
outros dois objetivos bem
distintos: conhecer a atitude
e o nível de previdência da
população para o momento
da aposentadoria e analisar a
importância que os cidadãos
atribuem à formação seguradora
nas aulas e saber qual é o
nível de formação que os
mais jovens receberam.
EL MERCADO ESPAÑOL
DE SEGUROS EN 2013
FUNDACIÓN MAPFRE,
septiembre 2014
ISBN: 978-84-9844-490-2
54
economia espanhola
terminou o ano de 2013
com uma contração do PIB
de 1,2 por cento, embora no
segundo semestre ele tenha
se recuperado timidamente.
Estes primeiros sinais de
recuperação econômica tiveram
seu reflexo no setor segurador,
ao moderar a queda no ano
anterior e obter um volume
de prêmios de 55,773 bilhões
de euros, que representa um
decréscimo de 2,8%, inferior
em 5,2 por cento ao de 2012.
O volume de prêmios do
seguro de Vida foi de 25,505
bilhões de euros, 3,0 por cento
menor que em 2012. Pelo
segundo ano consecutivo, em
2013 os planos de aposentadoria
aumentaram o patrimônio
gerido, com um aumento de
6,8 por cento em comparação
com o ano anterior.
No que diz respeito
aos seguros Não Vida, os
prêmios caíram 2,7 por cento
em 2013 em comparação
com o ano anterior.
O seguro de Saúde, por
sua vez, teve aumento de 1,7
por cento no volume de
prêmios, chegando a 6,902
bilhões de euros, devido
ao crescimento de sua
modalidade mais importante,
Assistência à Saúde. Contudo,
as demais modalidades
sofreram decréscimos.
Os seguros Multirrisco
interromperam o bom
desempenho dos últimos anos.
Residência e Comunidades
cresceram, embora
menos que em 2012.
Por fim, o seguro de Auxílio
Funeral, profundamente
enraizado na Espanha,
com mais de 20 milhões
de segurados, manteve seu
crescimento dos últimos anos.
Quanto à penetração do
seguro na economia, o setor
continuou a mostrar força,
contribuindo significativamente
para o PIB nacional.
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
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FUNDACIÓN MAPFRE
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Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
55
caderno nacional
na gestão de
Comprar seguro requer sensibilidade, intuição
e firmeza nas negociações. Uma tarefa que
Cristiane Alves, a primeira mulher a presidir a
Associação Brasileira de Gerenciamento de Risco,
tem exercitado desde 1990, quando iniciou sua
carreira na corretora cativa do grupo Pirelli.
Nesses 25 anos, passou por todas as áreas, fez
cursos, se especializou e acumula uma experiência
peculiar numa profissão em que um simples
detalhe pode salvar uma empresa de acidentes de
grandes proporções. Além de presidir a ABGR, é
a gerente de seguros da CSN, uma das maiores
siderúrgicas da América Latina e o segundo maior
exportador de minério de ferro do Brasil. Veja a
seguir os principais trechos da entrevista concedida
para a Revista Gerência de Riscos.
Cristiane Alves
PRESIDENTE DA ABGR
TEXTO: DENISE BUENO
FOTOS: DIVULGAÇÃO
56
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
Como você avalia a importância dada
pelas empresas ao gerenciamento de
risco no Brasil?
Existe ainda uma carência muito
grande de um pensamento cuidadoso
com relação às atividades que
realizamos diariamente. Não pensamos
com um sentimento de antecipação,
tampouco estamos 100% treinados
para pensar assim. Não faz parte da
cultura brasileira, e me atrevo a dizer
que a cultura dos demais países latinoamericanos não é diferente da nossa.
A tecnologia tem tornado o
gerenciamento de risco algo mais
complexo ou tem facilitado esta
missão dos guardiães do patrimônio
dos acionistas?
Sem dúvida a tecnologia é a grande
aliada da humanidade em todos os
campos e não poderia ser diferente em
gerenciamento de riscos. Ela nos ajuda
no processo que deve ser implementado
para o desenvolvimento da atividade,
assim como na educação, na fixação
dos conceitos. Toda informação que
podemos acessar e intercambiar com
colegas do mundo todo ajuda muito
na mudança de mentalidade. Isso faz
com que hoje seja muito mais fácil a
educação relacionada a gerenciamento
de risco e, da mesma forma, a
implementação deste programa se torna
muito mais facilitada com a tecnologia.
Ela também é uma aliada para
difundir a política de risco dentro das
organizações?
A gerência de riscos precisa circular
na organização. Precisa estar em contato
com todas as áreas, administrativas e
de operação, com o “chão de fábrica”
e se tornar “parceira” de quem cuida
da manutenção, da segurança do
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
trabalho. Neste sentido, a tecnologia
tem sido uma aliada por nos fazer
presentes em todos os lugares em
que a empresa tem operações, bem
como nos ajuda a acessar todos
os níveis hierárquicos, identificar
exposições, tratá-las e monitorá-las.
Há programas que permitem acessar
todas as áreas, como se você estivesse
presente para fazer o controle. As
plataformas de gerenciamento suprem
a falta de presença física constante,
proporcionando a possibilidade de
adoção de sistemas que atuarão como
ferramentas para o controle dos riscos.
Como a situação macroeconômica
do Brasil, com perspectivas negativas
para o Produto Interno Bruto
brasileiro, pode afetar os gerentes
de riscos?
PIB baixo significa, para a grande
maioria das empresas, redução de
custos, e o grande desafio do gerente
de riscos é fazer a organização entender
que todo valor despendido com
tratamento de risco não é custo, e sim
investimento. É uma tarefa complicada,
porque tendemos a olhar sempre o
curto prazo em tempos de crise.
E o que fazer num ano como
2015, com projeções de crescimento
negativo?
A tendência que observamos
é trabalhar com orçamento mais
apertado e cortar tudo o que não
for essencial. É nos momentos de
crise que mais cresce o número de
acidentes, e isso acontece porque,
infelizmente, é notória a redução de
custo com manutenção, prevenção e
até mesmo substituições de pessoas
importantes, que conhecem a
operação. É justamente em momentos
57
caderno nacional
CADA ORGANIZAÇÃO
DEVE POSSUIR O SEU
MAPA DE RISCOS, E ELE
NÃO VAI SER 100% IGUAL
PARA TODAS, AINDA QUE
ELAS SEJAM DO MESMO
SEGMENTO
de crise que a área de gerenciamento
de riscos deve se fazer mais presente.
Ainda que contraditório, em termos de
custo é quando mais temos de viajar
para estar na operação, monitorar,
controlar, fazer lembrar das regras,
do checklist. Enfim, devemos fazer
o movimento contrário, porque é
nossa função trazer a segurança para
os acionistas de que as exposições
estão controladas, conforme o apetite
de risco que a empresa se predispôs a
assumir e que o Conselho aprovou.
Os riscos se estendem também à
cadeia de fornecedores?
As reduções no orçamento tendem
a trazer de uma só vez para uma
58
organização os cortes com manutenção,
demissões e funcionários, novos ou
não, com menos treinamento. Deste
modo, é correto eu pensar que o
mesmo vai acontecer com o fornecedor
dessa organização, e não é difícil que
ele possa sofrer uma interrupção de
produção, fazendo com que eu tenha
problema para dar continuidade à
minha operação. Como realmente tudo
é visto a curto prazo em tempos de
crise, se uma organização não tem uma
política muito rígida de homologação
de fornecedores, por exemplo, o grau
da exposição aumenta inclusive para
um problema de produto. Ou seja, não
só a organização poderá sofrer com
a falta de entrega de matéria-prima,
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
como também poderá sofrer com uma
matéria-prima de baixa qualidade e
que, se não for detectada pela área
competente, poderá comprometer o
produto que ela entregará aos seus
clientes, trazendo exposições de
responsabilidade civil, recall e risco de
imagem.
Um risco para a credibilidade, não?
Sim, algo difícil de se conquistar
pode ser facilmente perdido se esses
pontos forem desprezados. Mas, além
disso tudo, há de se lembrar que a
organização precisa garantir a sua
manutenção no mercado, preservar
sua participação no mercado, e neste
momento é muito importante que
a área de gerência de riscos assegure
que aquele mapa de riscos que foi
elaborado com toda a organização e
que determinou a linha de tratamento
dos riscos esteja sendo cumprido,
além de constantemente monitorado e
atualizado.
E como convencer todos de que
gerenciar riscos é vital?
Temos que direcionar o
investimento e garantir a manutenção
da cultura, o cumprimento daquilo que
chamamos de “elemento humano”,
ou seja, aquilo que não depende de
orçamento, mas do comprometimento
do “chão de fábrica”. E nós somos o
exemplo. Nosso discurso deve estar
alinhado com a prática. Então, quando
eu digo “nós”, não estou me referindo
apenas ao gerente de riscos e seu
time, mas a todos aqueles que estão
no comando. A política de riscos deve
ser assinada e seguida pelo primeiro
homem de uma organização, e ele deve
dar o exemplo para que a cultura faça
parte do dia a dia de trabalho.
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
Você acha que o médio e o pequeno
empresários brasileiros estão
preocupados com riscos?
De uma forma geral eu entendo que
sim, sobretudo o médio. Mas por outro
lado eu acredito que a preocupação seja
superficial, até por desconhecimento.
Gosto daquela frase que diz que “a
ignorância nos protege”. No último
evento da ALARYS, que aconteceu em
outubro passado no Rio de Janeiro,
tanto a RIMS (Associação Norteamericana de Gerentes de Riscos e
Seguros) como a IFRIMA (Federação
Mundial das Associações de Gerentes
de Riscos e Seguros) afirmaram que
têm a mesma dificuldade que temos
com relação a disseminar a cultura de
gerenciamento de riscos para todos os
níveis, e que hoje o ERM (Enterprise
Risk Management) ou a Gestão
Integrada de Riscos é algo ainda muito
longe daquilo que se entende como
aceitável.
Como a ABGR tem ajudado a
valorizar a profissão de gerente de
riscos nas médias empresas?
Não existe um manual ou uma
receita para seguir e fazer acontecer.
Acredito que cada vez estamos ficando
mais fortes e sendo procurados para
mostrar nossa contribuição, ainda que
depois soframos com a dificuldade
de colocar em prática tudo aquilo
que entendemos ser necessário para
a gestão de riscos. Quem está na
operação, quem está no dia a dia da
produção quer muito a nossa presença
de forma contínua. O avanço da
tecnologia, a velocidade com que
as informações são transmitidas, o
mundo globalizado com a economia
praticamente sem fronteiras, tudo
isso contribui para que se espere
59
caderno nacional
cada vez mais do gerente de riscos.
E, além de tudo isso, a legislação e os
órgãos de controle também reforçam
a nossa importância. Cabe a nós a
luta para que sejamos ouvidos dentro
das organizações, mas, sem dúvida,
conquistar o nosso espaço é hoje muito
mais fácil do que anos atrás, como
quando eu comecei minha carreira.
QUANDO PENSAMOS
EM GESTÃO DE
RISCOS, O IRB BRASIL
ERA PRATICAMENTE
UMA MÃE PARA
TODOS
Quais os riscos que ainda precisam
ser mais bem quantificados pelas
empresas de grande porte?
Cada organização deve possuir
o seu mapa de riscos, e ele não vai
ser 100% igual para todas, ainda que
elas sejam do mesmo segmento.
Temos hoje riscos ainda pouco
avaliados ou considerados por muitas
organizações, como riscos cibernéticos,
mudanças climáticas, risco político,
comoção social e guerra, terrorismo
e interdependência. Esses riscos
precisam ganhar prioridade dentro das
organizações, até mesmo pela questão
da falta de cultura de trabalhar com
antecipação.
Como avalia estes seis anos de
abertura do mercado de resseguros
do Brasil?
Muito positivos. Seis anos de
avanço e crescimento em todos os
sentidos para a gerência de riscos e
seguros, desde o ponto de vista de
aprimorar a gestão de riscos até o fato
de se ter concorrência, mais oferta no
país. Quando pensamos em gestão de
riscos, o IRB Brasil era praticamente
uma mãe para todos. Muitas
organizações, as multinacionais,
de uma certa forma já praticavam
gestão de riscos, sobretudo quando a
iminência da privatização começou
60
a se confirmar. Então essas sofreram
menos, mas muitas das grandes locais
e as médias e pequenas demoraram a
tratar o risco e sofreram. Tanto que
ainda hoje existe uma forte queixa a
respeito de “risco declinado”, que em
parte, a meu ver, se justifica pela falta
de uma gestão adequada de risco.
O grande desafio, então, está nas
pequenas e médias empresas?
Tanto a RIMS como a IFRIMA
afirmam que não é fácil conseguir que
médias e pequenas empresas trabalhem
a gestão de riscos de forma integrada.
Elas, que nunca tiveram um IRB que
exigisse a gestão de riscos. Temos
muito para avançar, mas, olhando
para trás, a gente mal tinha mão de
obra especializada. As resseguradoras
chegavam ao Brasil sem gente para
contratar. Tenho muito orgulho de ver
tudo o que conquistamos neste espaço
de tempo tão curto.
Os gerentes costumam expressar certa
frustração em relação à inovação.
Como avalia isso?
Sem dúvida a palavra “inovação”
vem sendo muito utilizada por
gerentes de riscos no mundo todo.
No nosso caso, então, muito mais,
porque nossos clausulados não têm
permitido soluções que são alcançadas
em outros países. As seguradoras
precisam ter mais liberdade para inovar
em produtos, sem tanta interferência
regulatória. Ao órgão regulador cabe
a atribuição de fiscalizar as contas
das seguradoras, fiscalizar balanços,
controlar se assumem risco de
acordo com sua capacidade, cabe ao
órgão garantir a solvência de todas as
seguradoras que estão no mercado. Isso
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
sem dúvida nos afasta ainda mais da
inovação e contribui de forma negativa
para as organizações seguradas, que
despendem mais tempo para melhorar
suas coberturas no momento de
contratação e ou renovação de suas
apólices. No caso daquelas que fazem
parte de organizações multinacionais,
a dificuldade aumenta para conseguir
usufruir de soluções que os programas
mundiais disponibilizam para suas
subsidiárias localizadas em outros
países.
O que pode melhorar, na sua
opinião?
Com relação à inovação por parte
das seguradoras, a lição de casa é maior.
Percebo que os gestores querem mais
qualidade de serviço, conhecimento
técnico, agilidade em atender.
Quais itens o gerente de riscos mais
leva em conta para avaliar uma
seguradora?
Se vivêssemos no “mundo perfeito”,
a resposta seria produtos inovadores
ou ao menos mais adequados ao tipo
de exposição de uma organização e
presença nos países onde ela opera. No
entanto, acho que ainda hoje no Brasil
precisamos pedir que as seguradoras
busquem contato constante com
o segurado, estando sempre perto
do risco e entendendo do negócio,
de modo que, quando aconteça um
sinistro, não sejam perdidos meses só
para entender o que o segurado faz e o
que a seguradora garantiu em apólice.
Além disso, a solvência também entra
na lista, assim como a questão custo.
E as resseguradoras, o que podem
melhorar?
Existe todo um trabalho de
gerenciamento de riscos que é
SEIS ANOS DE AVANÇO E CRESCIMENTO EM TODOS OS SENTIDOS PARA A GERÊNCIA DE RISCOS E
SEGUROS, DESDE O PONTO DE VISTA DE APRIMORAR A GESTÃO DE RISCOS ATÉ O FATO DE SE
TER CONCORRÊNCIA, MAIS OFERTA NO PAÍS
Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
61
caderno nacional
O GRANDE DESAFIO DO
GERENTE DE RISCOS É
FAZER A ORGANIZAÇÃO
ENTENDER QUE TODO
VALOR DESPENDIDO COM
TRATAMENTO DE RISCO
NÃO É CUSTO, E SIM
INVESTIMENTO
realizado antes da transferência do
risco. O mapeamento de riscos, o
seu tratamento, monitoramento,
muitas vezes a retenção de parte do
risco. O trabalho de loss prevention,
o BIA (Business Impact Analysis)
e BCP (Business Continuity Plan)
– tudo isso deveria ser considerado
pelas resseguradoras, porque
não conseguimos perceber uma
“premiação” em termos de taxa para
quem faz a “lição de casa” direitinho.
No Brasil foi necessário fazer muita
coisa em pouco tempo. A realidade
dos segurados brasileiros deveria ser
considerada no momento de taxar o
risco.
O preço ainda é fator decisivo para a
compra de seguro?
Estamos vivenciando talvez o
maior período “soft” da história.
Resseguradoras e seguradoras, sem
dúvida, neste momento deveriam
62
aproveitar para rever seus negócios
e de fato apresentarem serviços
diferenciados. Se for o caso, cobrar
por eles. O gerente de riscos tem de
perceber este serviço diferenciado e
decidir se quer ou não pagar por ele.
O mesmo vale para os corretores,
com a ressalva de que, no caso deles,
os serviços já são prestados de forma
separada.
E qual a mensagem que você deixa
como presidente da ABGR?
Acredito que todos, resseguradoras,
seguradoras e corretores, deveriam
cuidar de seus talentos, educar
de forma profunda seus novos
funcionários, para que eles realmente
entendam as nossas demandas e
possam nos atender bem. Recebendo
a excelência, talvez as queixas
relacionadas a preço diminuam. Gerência de Riscos e Seguros
•
nº 120-2014
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nº 120-2014
63
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64
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