Artigo Original Tumorações cervicais: prevalência num Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Município de Montes Claros / MG Cervical mass: the prevalence Service Head and Neck Surgery in the city of Montes Claros / MG Resumo Francis Balduino Guimarães Santos 1 Maria do Carmo Tolentino Figueiredo 2 Madson Rodrigo de Souza Paula 3 Abstract Introdução: As tumorações cervicais podem ser compreendidas como qualquer aumento de volume na região do pescoço, representadas pelas linfadenomegalias, nódulos, cistos, massas e neoplasias. Podem ser a expressão de doenças locais, regionais ou sistêmicas. Objetivo: Estudar quais as principais doenças que podem cursar com a formação de tumores no pescoço e avaliar a sua distribuição segundo tecido histológico acometido e a sua localização anatômica no pescoço. Método: Estudo retrospectivo, descritivo e cunho exploratório, avaliando 4.011 pacientes portadores de doenças que evoluíram com a formação de uma tumoração cervical, em um serviço de cirurgia de cabeça e pescoço em Montes Claros/Minas Gerais. Resultados: Os principais tecidos histológicos acometidos foram a glândula tireoide (40,9%), os linfonodos cervicais (34,3%) e as glândulas salivares maiores (11,2%). Os cânceres representaram 25% dos casos, mas observadas também doenças infecciosas endêmicas da Região do Norte de Minas Gerais. Discussão e conclusões: O tema ´tumorações cervicais` mostrou-se intrigante e desafiador, evidenciando um número elevado de doenças e de situações clínicas distintas. O reconhecimento das doenças mais prevalentes que produzem as tumorações cervicais e o conhecimento da anatomia do pescoço podem auxiliar o diagnóstico. Introduction: The cervical tumors can be understood as any swelling in the neck region, represented by lymphadenomegaly, nodules, cysts, masses and tumors. May be the expression of disease local, regional or systemic. Objective: To study what are the main diseases which can occur with the formation of tumors in the neck and evaluate their distribution according to histological tissue lesion and its anatomic location in the neck. Method: A retrospective, descriptive and exploratory, assessing 4011 patients with disease that progressed with the formation of a cervical tumor a surgery department head and neck in Montes Claros / Minas Gerais. Results: The main histological tissue affected were the thyroid gland (40.9%), cervical lymph nodes (34.3%) and salivary glands (11.2%). Cancers accounted for 25% of cases, but also observed infectious diseases endemic to the Region North of Minas Gerais. Discussion and conclusions: The theme ‘neck lump `proved intriguing and challenging, showing a large number of diseases and medical conditions different. Recognition of the most prevalent diseases that produce cervical tumors and understanding the anatomy of the neck may help the diagnosis. Key words: Prevalence; Head and Neck Neoplasms; Neck. Descritores: Prevalência; Neoplasias de Cabeça e Pescoço; Pescoço. Introdução O pescoço (ou região cervical) é uma região da anatomia humana compreendida entre a cabeça e o tórax e apresenta grande relevância clinica1, uma vez que abriga diversas estruturas anatômicas com variadas funções orgânicas - Quadro 1. Praticamente todas elas podem ser sede de doenças que durante o seu curso clínico produzem algum tumor no pescoço. Uma tumoração cervical pode ser compreendida como qualquer aumento de volume no pescoço causada por linfadenomegalias, nódulos, cistos, massas ou neoplasias. A presença de tumor cervical é cotidiana na prática médica e pode ser a expressão de doença local, regional ou sistêmica e, por sua vez, pode ter etiologia neoplásica, inflamatória, autoimune, infecciosa, congênita e até traumática2, 3. Nem sempre é tarefa fácil o reconhecimento e a descrição de uma anormalidade à palpação 1) Mestrado (Professor universitário UNIMONTES). 2)Mestre e doutoranda pela UNIFESP (Professora universitária UNIMONTES ). 3) Acadêmico (Acadêmico do curso médico da UNIMONTES.). Instituição: Universidade Estadual de Montes claros – UNIMONTES. Montes Claros / MG – Brasil. Correspondência: Francis Balduino Guimarães Santos - Rua São Pedro, 112 – Bairro: Todos os Santo - Montes Claros / MG – Brasil – CEP: 39400-123 – Telefone: (+55 38) 3221-9353 – E-mail: [email protected] Artigo recebido em 12/03/2013; aceito para publicação em 26/05/02013; publicado online em 30/06/2013. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. 70 R�������������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.42, nº 2, p. 70-76, abril / maio / junho 2013 Tumorações cervicais: prevalência num Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Município de Montes Claros / MG. Quadro 1. Estruturas anatômicas do pescoço. Órgãos Laringe, Faringe, esôfago cervical. Glândulas Salivares maiores (Sublinguais, Submandibulares e Parótidas), Tireoide, Paratireóides. Músculos Supra e infra-hióideos, Esternocleidomastóideo, Escalenos e cervicais posteriores. Ossos Coluna cervical, Hioide, Clavículas e primeiras costelas. Vasos Gânglios Linfáticos (profundos, superficiais, Ducto Torácico), veias (Jugulares e tributárias) e Artérias (Carótidas e Ramos). Nervos Pele e tecido celular subcutâneo Vago, Acessório, Hipoglosso, Glossofaríngeo, Plexo cervical superficial, Plexo Braquial. Anexos da Pele (Glândulas Sebáceas, Sudoríparas, folículo piloso), Gordura do Subcutâneo. do pescoço. É observado na literatura e mesmo entre os especialistas o uso de termos tidos como sinônimos e que em verdade expressam condições clínicas diferentes4, 5. Sabe-se, por exemplo, que não há clara distinção entre nódulo e massa no pescoço, considerando o seu volume ou tamanho - Quadro 2. Para formular a hipótese diagnóstica de um tumor cervical é necessário um conjunto de informações, a começar pela apresentação de um abaulamento no pescoço onde podem coexistir outros sinais e sintomas. O quadro clínico pode ser diversificado e acarretar situações médicas desafiadoras a um diagnóstico preciso6, 7, mas é necessário estar atento às graves doenças envolvidas. O aparecimento de um ´caroço no pescoço` parece assustar boa parte das pessoas, remetendo-as a um provável diagnóstico de câncer. Informações como idade, tempo de evolução, características clínicas e a localização anatômica do tumor cervical centralizam parte do raciocínio clinico8, 9. Apesar de existirem diferenças estatisticamente marcantes entre tumores cervicais incidentes nas faixas etárias pediátricas e adultas, ambos compartilham de inúmeras doenças e estas não devem ser excluídas somente pelo critério da idade10. Crianças e adolescentes têm aproximadamente 75% das massas cervicais por adenopatias inflamatórias ou infecciosas. Menos de 5% são por neoplasias malignas e menos de 20% são causadas por alterações do desenvolvimento embrionário ou adquiridas11. O diagnóstico diferencial fundamenta-se na avaliação clínica, através de uma anamnese detalhada, um exame otorrinolaringológico com rigor propedêutico e complementada por exames subsidiários quando necessário. É tarefa complexa avaliar a prevalência das tumorações cervicais, considerando o grande contingente de doenças envolvidas12. Dentre as condições clínicas Santos et al. Quadro 2. Características das tumorações cervicais. Linfadenomegalia: aumento de volume dos linfonodos ou gânglios linfáticos. Cisto: geralmente de formato esférico, circundado por epitélio e conteúdo líquido em seu interior. Nódulo: geralmente de formato esférico, ´menor que 3 cm no geral` e frequentemente sólido. Massa: geralmente de volume maior, formato aleatório e algumas vezes com limites mal definidos. Neoplasia: são tumores verdadeiros, formados por grupos de células com crescimento acelerado, podendo ser benigno ou maligno (câncer). Abscesso: aumento de volume no pescoço com coleção de pús no interior dos tecidos, habitualmente associado à sinais flogísticos. O termo inglês ´´tumor neck`` frequentemente é usado para designar neoplasias no pescoço e ´´mass neck`` no sentido genérico para massas ou tumorações no pescoço. que cursam com a formação de tumores no pescoço, as doenças da tireoide têm prevalência elevada na população e acomete 8 a 10% da população feminina13. A presença de linfadenomegalia cervical reacional inflamatória também é frequente, especialmente na idade pediátrica14. Por outro lado, as doenças que acometem as glândulas salivares parótida e submandibular são pouco frequentes e representam apenas 3 a 5% dos tumores em cabeça e pescoço15. Os estudos em grande parte ocorrem dissociados, ora como doenças da tireoide, linfadenomegalias, glândulas salivares, cistos congênitos e assim por diante. Embora assim seja mais didático, o tema torna-se fragmentado e finda por não apresentar todo o seu universo. Contrapondo às diversas publicações encontradas na literatura sobre as tumorações cervicais, observamos que poucos são os estudos de prevalência. Não se sabe ao certo a sua ocorrência na população ou quais são as suas principais características, sendo então necessário um maior número de pesquisas médicas. O objetivo deste estudo é avaliar quais são as principais doenças que produzem tumores cervicais e observar a sua distribuição segundo o tecido histológico acometido (estruturas anatômicas) e a sua localização no pescoço. Método Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo e de cunho exploratório, uma vez que pretende averiguar e aprofundar o conhecimento acerca das tumorações cervicais. Realizado análise descritiva com avaliação das proporções absolutas e relativas. Para este estudo de prevalência foram levantados 7.381 prontuários de um serviço de cirurgia de cabeça e pescoço no município de Montes Claros/MG, entre os anos de 1996 a 2009 e selecionados como amostra Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.42, nº 2, p. 70-76, abril / maio / junho 2013 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 71 Tumorações cervicais: prevalência num Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Município de Montes Claros / MG. 4.011 (54.34%) indivíduos com tumorações cervicais. Montes Claros é a cidade pólo do Norte do Estado de Minas Gerais, tendo esta região uma população superior a 1.600.000 habitantes16. Esta pesquisa foi aprovada pela .Universidade ... através da Resolução Nº 130 do CEPEX/2008 - Parecer 004/2008-2011. Critérios de inclusão: Indivíduos portadores de doenças que produziram tumorações cervicais palpáveis ao exame clínico e/ou confirmados por propedêutica de imagem, sendo estes o ultrassom, a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética nuclear. Variáveis do estudo: a) Etiologia: doenças descritas no prontuário médico como hipótese diagnóstica principal. b) Tecido histológico acometido: glândula Tireoide (e paratireóides), glândulas salivares maiores de localização cervical, linfonodos, tecidos embriológicos, anexos da pele e os tecidos de origem mesenquimal. Embora a(s) paratireóide(s) seja(m) uma glândula distinta, a mesma foi considerada junto à tireoide pela sua proximidade a esta. c) Localização no pescoço, considerando para sua descrição as classificações anatômicas pertinentes: linfonodos - classificação por níveis cervicais da ACHNO/2002, alterações do desenvolvimento embriológico - linha média ou lateral do pescoço, glândulas cervicais - anatomia topográfica ou de superfície e os tumores mesenquimais / pele e tecido celular subcutâneo - trígonos cervicais17, 18, 19, 20. Santos et al. Nas glândulas salivares - Tabela 1, as diferenças na distribuição das doenças entre a parótida e a submandibular foram substanciais. Nas Parótidas as doenças neoplásicas ocorreram em 199 (69,84%) indivíduos enquanto nas glândulas submandibulares somente em 49 (29,7%), sendo que nesta as causas inflamatórias foram mais frequentes com 116 (70,3%). O adenoma pleomórfico foi o tumor benigno mais frequente neste grupo. Os tumores cervicais produzidos pelas alterações do desenvolvimento embrionário foram a quarta mais frequente, representadas especialmente pelos cistos cervicais, distribuídos entre o cisto do ducto tireoglosso com 202 (54,4%), cisto branquial com 89 (24,0%) e o cisto dermóide com 17 (4,6%). Em conjunto os cistos congênitos representaram 86% das alterações do desenvolvimento embrionário, restando o higroma cístico com 25 (6,7%) dos casos. Os tumores mesenquimais de localização cervical Tabela 1, ficaram assim distribuídos por ordem de frequência: os lipomas/fibrolipomas com 90 (56,3%), os neuromas/ neurofibromas com 44 (27,5%) e os hemangiomas com 11 (6,9%). Outros tumores menos frequentes também foram observados em 15 (9,4%) e dentre estes alguns cânceres menos frequentes. Quanto aos anexos da pele foram identificados somente lesões císticas, sendo eles cistos sebáceos, triquilemais e epidérmicos. Ao se distribuir as tumorações cervicais por neoplasias malignas - Tabela 2 identificou-se que estes ocorreram em 1.066 indivíduos (26,5%) e as neoplasias benignas em 404 (10,2%). Dentre as neoplasias malignas apenas dois tecidos histológicos concorreram com 95,5%, sendo o câncer dos linfonodos os mais prevalentes (75,1%). Resultados Ao se distribuir as tumorações cervicais por tecido histológico - Tabela 1 pôde-se observar que a glândula Tireoide foi a mais acometida com 1.614 (40,9%), seguida pelos Linfonodos com 1.376 (34,2%) e pelas glândulas salivares com 450 (11,2%). Em conjunto estes três tecidos histológicos responderam por 86,4% das tumorações cervicais. Na glândula tireoide - Tabela 1, o bócio foi a alteração tireoidiana mais comum com 838 (51%) indivíduos, excetuando-se os bócios mal definidos. O câncer da tireoide apresentou-se com 217 (13,2%) indivíduos e as doenças das paratireóides com 18 (1,1). Nos linfonodos - Tabela 1, se pôde observar uma maior variedade de doenças, mas as metástases cervicais de carcinomas do trato aerodigestivo superior foram as mais prevalentes com 602 (43,8%) indivíduos, seguidos pelas linfadenomegalias inflamatórias reacionais inespecíficas com 402 (29,2%) e pelos cânceres primários dos linfonodos - os linfomas com 104 (7,6%). Entre as doenças infecciosas específicas dos linfonodos, a tuberculose mostrou ser a mais prevalente com 23 ocorrências. Tabela 2. Distribuição das frequências das neoplasias malignas e benignas, segundo o tecido histológico. Tecido histológico Neoplasias malignas (câncer) Linfonodos (Carcinomas TADS, Metástases 1º não-CP, Linfomas) Glândula tireoide Glândulas salivares Tumores mesenquimais Tecidos embriológicos Anexos da pele Total Neoplasias benignas Linfonodos Glândula tireoide (e paratireóide) Glândulas salivares (sialógenos e não sialógenos) Tumores mesenquimais Tecidos embriológicos Anexos da pele Total n % 801 217 38 7 3 0 1.066 0 21 75,1 20,4 3,6 0,7 0,3 0 26,5 232 153 0 0 57,1 37,7 0 0 406 10,2 Total de neoplasias (benignas e malignas) 1.472 72 R�������������������������������������������������� 0 5,2 36,7 Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.42, nº 2, p. 70-76, abril / maio / junho 2013 Tumorações cervicais: prevalência num Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Município de Montes Claros / MG. Santos et al. Tabela 1. Distribuição e frequência das tumorações cervicais segundo os tecidos histológicos e a etiologia. Tecido histológico / Etiologia 1 - Tireoide Bócios n 1.614 838 % Específica 51 Bócios mal definidos Carcinomas 288 217 17,5 13,2 Tireoidites- outras condições 196 10,3 36 18 1.376 602 2,2 1,1 43,8 402 29,2 104 95 7,6 6,9 67 4,9 93 13 450 6,8 0,9 166 33 66 58,24 11,6 23,2 20 7,0 44 5 104 26,7 3,0 63,0 12 333 202 89 25 17 160 90 44 7,3 Adenomas Doenças das Paratireóides 2 - Linfonodos cervicais Metástases cervicais do Ca. TADS Linfadenomegalia reacional inespecífica (adenites) Linfomas Metástases cervicais diversas Infecciosas específicas Linfadenomegalia mal definida Outros 3 - Glândulas Salivares Parótida Adenomas Carcinomas Diversos Tumores não sialógenos Submandibular Adenomas Carcinomas Diversos Tumores não sialógenos 4 - Tecidos embriológicos Cistos Tireoglosso Cisto Branquial Higroma cístico Cisto Dermóide 5 - Tumores mesenquimais Lipomas/fibrolipomas Neuroma/ neurofibroma Hemangiomas Outros 6 - Anexos da pele Cistos não congênitos Total 11 15 50 50 4.011 % Global 40,9 Considerações etiológicas (n) Bócio multinodular atóxico (470). Demais bócios e cistos coloide (368). Propedêutica incompleta. Papilar (133), Insular (3), folicular/ Hürthle (58), medular (7), indiferenciado (16). Principalmente Hashimoto e Graves, De Quervain, Ridel, Plummer. Tipo folicular e embrionário. Hiperplasia principalmente IRC (15) e adenoma (3). 34,3 Nasofaringe, cavidade oral, orofaringe, laringe, hipofaringe e rinofaringe. Incluindo viroses inespecíficas e afecções bacterianas, abscessos. Hodgkin e não-Hodgkin. Sítio 1o Indeterminado (32), primário não-cabeça e pescoço (45), Pele (18). Tuberculose (23), Toxoplasmose (17), Blastomicose (5), Mononucleose (5), citomegalovírus (4), Leishmaniose (2), AIDS (3), Doença da arranhadura do gato (2), Cisticercose (1) e outros (5). Propedêutica incompleta. Doença de Castleman (2), Sarcoidose (2), diversos. 11,2 285 (63,3%) Principalmente adenoma pleomórfico (157). Também Warthin, ad. Monomórfico, fibrohistiocitoma. Carcinoma mucoepidermóide, ex-adenoma pleomórfico, adenoide cístico, epidermóide, teratoma, linfoma tipo MALTHE, lipossarcoma. Parotidites, sialoses, Sindrome Sjogren. Lipoma, hemangioma, linfangioma 165 (36,7%) Principalmente adenoma pleomórfico (40). Carcinoma mucoepidermóide, adenoide cístico, adenocarcinoma. Sialoadenites, sialolitíases e sialoses diversas. Lipoma, hemangioma. 8,3 60,6 26,7 7,5 4,6 Cistos ou fistulas, Ca. folicular (2) Cistos ou fistulas, cisto branquial malignizado (1) Maioria crianças (linfangioma). Submandibular e em fúrcula esternal 4,0 56,3 27,5 Incluindo a doença de Madelung (6). Incluindo do plexo braquial (5) e doença de Von Recklinghausen (4). Maioria adultos. Glômus carotídeo (5), osteoma da coluna cervical (3). Malígnos: lipossarcomas (3), rabdomiossarcomas (2), Ca. neuroendócrino(2). 6,9 9,4 1,2 100,0 Sebáceo, triquilemal e epidérmico. 100 Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.42, nº 2, p. 70-76, abril / maio / junho 2013 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 73 Tumorações cervicais: prevalência num Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Município de Montes Claros / MG. Santos et al. Entre as neoplasias benignas, as glândulas salivares concorreram com 232 (57,1%), seguidos pelos tumores mesenquimais com 153 (37,7%). Ao distribuir os tecidos histológicos segundo a localização anatômica - Tabela 3, ficou evidenciado o acometimento dos linfonodos nos níveis mais altos I, II e III em 967 (70,2%). Os níveis linfáticos póstero-inferiores foram os menos acometidos. Em relação à localização glandular, a topografia da tireoide foi a mais representativa com 78,4%. Os tumores mesenquimais juntamente com os anexos da pele distribuíram-se difusamente no pescoço, mais frequentemente no trígono anterior com 47 (22,5%) e em menor intensidade nos trígonos submandibular e submentoniano. Por fim as alterações do desenvolvimento embriológico distribuíram-se especialmente na linha média do pescoço com 219 (65,7%) e na linha lateral com 114 (34,2%). Tabela 3. Distribuição das frequências das tumorações cervicais, segundo a localização anatômica e tecido histológico. Conclusões e discussão Total parcial Neste estudo, apesar do número limitado das variáveis envolvidas pôde-se observar que cerca de 86% das tumorações cervicais ocorreram em apenas três tecidos histológicos: a tireoide (40,9%), os linfonodos (34,3%) e as glândulas salivares (11,2%). O reconhecimento destes tecidos mais acometidos poderá facilitar na compreensão do tema e na formulação da hipótese diagnóstica. Em relação à Tireoide, entre todos este foi o tecido mais acometido por doenças que cursaram com uma tumoração cervical e o bócio foi a doença mais prevalente (51%), tendo como conceito ´qualquer aumento da tireoide, de natureza não inflamatória e nem tumoral21. Ficou evidenciada assim a importância das doenças da tireoide no contexto das tumorações cervicais, especialmente para o sexo feminino. De igual importância, os linfonodos apresentaram-se como o segundo mais acometido e apresentou-se com uma maior heterogeneidade de doenças. A metástase cervical do câncer do trato aerodigestivo superior foi a doença que mais acometeu os linfonodos do pescoço (43,8%), fato este coerente com uma clínica oncológica22. Os cânceres primários dos linfonodos - os linfomas, também se apresentaram com índices consideráveis (7,6%). Este fato torna-se mais relevante para indivíduos acima de 40 anos de idade, em que se excluída a tireoide, cerca de 80% dos tumores no pescoço serão neoplasias e destes cerca de 80% serão malignos - regra dos 8023, 24. Sendo assim, toda linfadenomegalia em adultos deve ser conduzida juntamente com um médico a um esclarecimento. Por outro lado, ao se utilizar das informações de um serviço de cirurgia de cabeça e pescoço, uma sub-especialidade oncológica, este estudo evidenciou um número elevado de indivíduos com câncer, especialmente metástases para os linfonodos cervicais oriundos de cânceres do trato aerodigestivo superior - viés de seleção. Embora não se tenha utilizado a idade como variável neste estudo, possivelmente a situação seria diferente Classificação anatômica / tecido histológico Linfonodos cervicais - níveis cervicais Nível I (a+b) submentoniano e submandibular Nível II (a+b) cadeia jugulo-carotídea alta Nível III cadeia jugulo-carotídea médio Cervical posterior, retro-auricular e occipitais* Nível IV cadeia jugulo-carotídea baixo Nível V (a+b) trígono posterior Nível VI compartimento ´´central`` Total parcial n % 302 21,9 420 30,5 245 17,8 125 9,1 119 8,7 110 8,0 55 4,0 1.376 100 Glândulas localizadas no pescoço - Topográfica Região tireoideana 1.624 Região parotideana 285 Região submandibular 165 Glândula paratireóide (essencialmente por imagem)18 78,4 12,7 8,1 0,8 2.092 100 Tumores Mesenquimais e Anexos da Pele - Trígonos Cervicais Trígono Anterior 47 22,4 Região cervical posterior e retro-auricular 40 19,0 Trígono posterior 37 17,6 Trígono Supraclavicular 33 15,7 Trígono Carótico 22 10,5 Trígono submandibular 17 8,1 Trígono Submentoniano 15 7,1 Total parcial 210 100 Tumores de origem embriológica Linha média Cisto e fístula do ducto tireoglosso Cistos dermóides Linha lateral Higroma cístico (linfangioma) Cisto e fístula branquial 202 60,6 17 5,1 25 7,5 89 26,7 Total parcial 333 100 Total global 4.011 100 * As regiões cervical posterior, retro-auricular e occipitais não fazem parte da classificação de linfonodos por níveis cervicais. numa clínica pediátrica onde 90% das linfadenomegalias são inflamatórias reacionais inespecíficas e não se pode de imediato presumir pelo diagnóstico de malignidade neste grupo, uma vez que a grande maioria das crianças apresentam doença branda e autolimitada24, 25,26. Somente 5% dos cânceres em pediatria ocorrem no sítio da cabeça e pescoço27. Ainda nos linfonodos cervicais, observamos doenças típicas de regiões tropicais como a Leishmaniose, Blastomicose e especialmente a Tuberculose. Podemos até dizer que as linfadenomegalias cervicais se distribuem distintamente, considerando-se as diferentes regiões geográficas de um país ou do mundo, sendo importantes os estudos de prevalência28, 29. O acometimento das glândulas salivares maiores são pouco frequentes na população em geral, mas foi o terceiro tecido histológico mais acometido (11,4%) e 74 R�������������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.42, nº 2, p. 70-76, abril / maio / junho 2013 Tumorações cervicais: prevalência num Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Município de Montes Claros / MG. deve ser lembrado nas tumorações cervicais. Foi possível identificar uma miscelânea de doenças entre as glândulas salivares, desde neoplasias, sialoadenites, sialolitíases a até as sialoses. A parótida apresentou um número significativamente maior de neoplasias se comparado à submandibular e esta por sua vez mostrou-se com maior prevalência de doenças inflamatórias, estando coincidente com os achados da literatura30. As neoplasias malignas ocorreram em apenas 11,6% na parótida e 3% na glândula submandibular, havendo predomínio dos tumores benignos. As alterações do desenvolvimento embriológico são causas de tumorações cervicais especialmente em pediatria, embora não exclusivas desta faixa etária. Os resultados desta casuística foram compatíveis com dados da literatura31, evidenciando o cisto do ducto tireoglosso como a condição mais prevalente dentre os cisto congênitos (54,4%), seguido pelo cisto branquial (24%). Entre os tumores mesenquimais os mais prevalentes foram os lipomas (42,9%), seguidos pelos neuromas (23,8%). As doenças originárias da pele foram a causa menos frequente entre todas as tumorações (1,2%), sendo estas mais observadas em ambientes de dermatologia ou cirurgia ambulatorial. As neoplasias verdadeiras foram encontradas em 36,7% do total, estando a neoplasia maligna (câncer) envolvida em aproximadamente 25% das tumorações cervicais neste estudo e praticamente com ocorrência nos linfonodos e na tireoide (95,5%).32,33. Estes achados são coerentes com a cirurgia de cabeça e pescoço e denotam a importância da especialidade no contexto oncológico. Por fim, enquadrar as tumorações cervicais nas regiões anatômicas do pescoço, associando-as às estruturas histológicas e às classificações existentes não é uma tarefa fácil. Usando-se a classificação dos níveis linfáticos, a cadeia mais acometida no pescoço foi o nível II a+b (30,5%), possivelmente influenciados pelas metástases dos carcinomas do trato aerodigestivo superior. É plausível que diferenças sejam encontradas entre as diversas especialidades que atuam na saúde e que mostram outros níveis linfáticos como os mais acometidos34. A classificação por trígonos cervicais pôde ser realizada com relativa facilidade para descrever o acometimento cervical não-linfático. Nesta condição a distribuição dos tumores mesenquimais foi dispersa, mas o trígono anterior (22,4%) e posterior (17,6%) foram os mais acometidos. A localização anatômica, de uma maneira mais simples e direta pode somar-se para uma formulação diagnóstica. Por outro lado, as classificações anatômicas, quadros e esquemas de condutas para as tumorações cervicais apresentam-se ora simples e incompletas ou complexas e pouco aplicáveis à prática médica cotidiana. Tais dificuldades induzem alguns a encaminharem os seus pacientes com tumorações cervicais aos especialistas, dado a dificuldade à formular-se um diagnóstico mais preciso. Santos et al. As tumorações cervicais podem apresentar-se como uma condição intrigante e desafiadora aos profissionais da saúde, considerando-se o elevado número de doenças e situações clínicas nela contidas. Uma abordagem padronizada poderá auxiliar de forma mais decisiva no diagnóstico das tumorações cervicais. Referência 1. Moore KL, Arthur F. Anatomia orientada para a clínica. Guanabara Koogan; 2001. p55-78. 2. Barbosa MM,at cols. Diagnóstico e tratamento dos tumores de cabeça e pescoço, Ateneu. 2001. p.87-167. 3. Kowalski LP. Afecções Cirúrgicas do Pescoço/ Colégio Brasileiro de Cirurgiões, ano X; Vol. II. Atheneu, 2005. p.105-81. 4. McGuirt WF. Differencial diagnosis of neck masses. I: Cunnings CW at al. Otolaryngology Head and Neck Surgery. 3a ed. Mosby, St. Louis. 1983; 22(3):485-6. 5. Friedberg J. O diagnóstico clínico de tumorações cervicais: um guia prático. Ped Annals 1988; 17:620-8. Ped Anais. 1988;17:620-8. 6. Alvi A, Johnson JT. The neck mass. The neck mass. 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