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Estrutura de um Artigo Científico
Abstract e Corpo do Artigo
Nº 9 | Janeiro - Fevereiro | 2008
Editorial
Numa série de três números, a “Forallpoints” dedica-se à estrutura de um artigo científico original.
Neste número vamos abordar os aspectos técnicos relativos à estrutura de um abstract.
As indicações dadas não dispensam a consulta das normas editoriais de cada revista.
Habitualmente, o abstract é um texto curto, com 250 a 300 palavras, que resume o essencial do artigo.
É fundamental que tenhamos em consideração que, muitas das vezes, o leitor lê apenas o abstract. Assim, devemos tentar descrever, da forma mais clara possível, os
objectivos do estudo, metodologia e resultados, de tal forma que, se o leitor não ler o corpo do artigo, possa compreender o teor do mesmo.
O corpo do artigo, introdução, metodologia, resultados, discussão e conclusões, devem decorrer de forma sequencial, ordenada, explicita e, sobretudo, sem
surpresas para o leitor.
Ao contrário da escrita literária, a escrita científica deve ser previsível, apresentando ao leitor os dados que este espera obter ao longo do texto. Mais, assume-se que o
leitor possa saltar partes do texto sem que tal impossibilite a sua compreensão.
Se um romance for muito previsível, damos por nós a saltar páginas ou a ir ver o que o final nos reserva...no contexto criativo cada virar de página deve ser encarado
como um possível volte face inesperado. Num texto científico, nomeadamente num artigo, o leitor deve poder contar com o que o vai estar escrito...
Ana Macedo
Na maioria das vezes SÓ lemos o ABSTRACT!
O abstract é um dos factores de decisão (juntamente com o título) para passar à leitura do texto integral.
Estrutura do Abstract
Tomando como exemplo um artigo original que descreve os resultados de um ensaio clínico, o abstract
deve conter:
Contexto – Porque é que o estudo é importante?
Em resumo...
Não comece o abstract repetindo o título.
Objectivo – Descrição do objectivo principal e hipóteses.
Desenho – Resumo do desenho do estudo. Follow-up. Ano.
Não cite referências.
População – Descrição da doença. Amostra. Critérios de selecção. Doentes que
completaram o estudo. Abandonos por eventos adversos.
Apresente resultados absolutos (além dos
relativos).
Centros – Hospitais, ambulatório, comunidade...
Apresente intervalos de confiança.
Intervenções – Fármaco. Dose. Frequência. Duração.
Indique a hipótese.
Outcome principal – Principal avaliação do estudo.
Resultados – Quantificação dos outcomes principais. Valores pontuais e intervalos de
confiança a 95%.
Evite nomes comerciais.
Defina as abreviaturas por extenso.
Se se apresentam comparações devem dar-se os IC e o valor de p.
Descreva com igual peso resultados
positivos e negativos.
Apresentação de comparações não significativas e respectivos valores de p.
Se se apresentam valores relativos (RR, NNT, HR...), devem apresentar-se os valores absolutos
de referência.
Incluir uma frase a descrever a população em análise (ITT, PP...)
Conclusões – Apresentar apenas conclusões que derivam directamente dos resultados.
Apresentação de limitações relevantes.
Dar igual relevo a conclusões positivas e negativas.
Introdução
Apresentação do contexto subjacente ao artigo.
Habitualmente, a introdução não excede 2 ou 3 parágrafos, que deverão referir, por esta ordem:
1º - Enquadramento
2º - Hipótese
Porque foi formulada esta hipótese?
A introdução não deve ser usada como
meio para tentar descrever todo o
conhecimento sobre o tema e, menos
ainda, para possibilitar a inclusão de
grandes listas de referências
bibliográficas.
Porque é importante?
3º - Objectivo do estudo
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Métodos
Dependendo da publicação, esta secção pode ser designada por Metodologia ou por Materiais e
Métodos.
Nos Métodos deve incluir-se:
·Desenho do estudo ou tipo de análise (pe. Ensaio clínico comparativo, fase III, aleatorizado, em
dupla ocultação, em paralelo ou Estudo descritivo de uma coorte de doentes...)
·Data ou período do estudo, mencionando-se o período de recolha dos dados.
·Considerações éticas e menção da Comissão de Ética que aprovou o estudo, se aplicável.
·Doença, situação ou assunto estudado.
·População em estudo, incluindo os critérios de inclusão e exclusão mais relevantes.
·Descrição da amostra, incluindo pressupostos utilizados no cálculo, dimensão total e estratificações.
·Tipo de tratamento ou procedimentos (se aplicável).
· Outcomes (tipos de medida) e apresentação sumária da informação recolhida.
·Descrição da análise estatística, suficientemente pormenorizada para possibilitar ao leitor a sua
replicação.
Procure dar toda a informação possível
sobre a forma como o estudo foi
planeado e executado, de tal modo que
o leitor consiga visualizar o protocolo
efectuado.
Na descrição da amostra descreva os
pressupostos mesmo que se trate de
assunções mais ou menos empíricas.
Nos Outcomes descreva em pormenor
escalas ou medidas que possam não ser
do conhecimento dos leitores, incluindo
referências bibliográficas para artigos
sobre utilização e validação dos mesmos.
Na análise estatística evite ser generalista
na descrição das técnicas e justifique
sempre que usar técnicas menos
frequentes.
Resultados
Nesta secção devem ser apresentados os resultados relevantes relativamente à
hipótese em investigação.
Devem ser apresentadas as características basais dos participantes, começando
das características mais generalistas para as mais específicas. Estes dados podem
ser apresentados sobre a forma de tabela.
A utilização de gráficos, esquemas ou tabelas pode facilitar a leitura dos
resultados.
Em ensaios clínicos, o número de doentes incluídos, número e razões de
abandonos e população analisada em ITT e PP devem ser claramente descritos,
podendo ser utilizado um esquema.
Não duplique informação em tabelas ou figuras e texto.
Não inclua considerações sobre possíveis limitações do estudo ou
interpretação dos resultados obtidos.
Não justifique nos Resultados a escolha das técnicas estatísticas
usadas.
Não utilize tabelas, gráficos ou esquemas se estes não facilitarem a
leitura dos resultados.
Quando apresentar resultados de significância estatística escreva o
valor de p (significativo ou não) e não apenas p<0,05 ou p=ns.
Discussão
Nesta secção, a hipótese do estudo deve ser explicitada e os resultados
apresentados face a essa mesma hipótese. O autor deve argumentar de forma
crítica relativamente à confirmação ou infirmação da hipótese original,
apontando possíveis significados dos resultados obtidos.
Evite descrever outra vez os resultados na secção de discussão.
Descreva de modo sistemático:
Os resultados devem ser contextualizados face a outros estudo similares.
● Limitações do estudo.
As limitações do estudo e a possibilidade de generalizar os resultados obtidos
devem ser discutidos e fundamentados.
● Validade externa do estudo.
Resultados inesperados devem ser mencionados e deve ser avaliado o seu
significado.
● Resultados de outros estudo similares.
● Resultados inesperados.
Deve avaliar-se a necessidade de efectuar novos estudos na mesma área.
A discussão pode terminar com um parágrafo de conclusão, que não deverá
exceder os limites dos resultados do estudo. Em algumas publicações, a conclusão
é apresentada como uma secção individualizada.
Outras Secções
Em muitos casos pode haver necessidade de mencionar alguma informação adicional, como por exemplo:
Agradecimentos
Contribuição dos Autores
Financial Disclosure (conflitos de interesse)
Financiamento
Contribuições Adicionais
Apêndices
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