Disciplina de BIOQUÍMICA do Ciclo Básico de MEDICINA
Universidade dos Açores
1º Ano
ENSINO PRÁTICO
DIABETES MELLITUS
Diabetes Mellitus
É a doença endócrina mais comum encontrada na clínica;
-
Caracterizada por hiperglicémia por falta e/ou resistência à insulina;
(A insulina controla a glicémia)
-
A Diabetes pode ser
- Insulino-dependente (15% dos diabéticos):
- Ocorre em jovens com menos de 30 anos
- Tem um início rápido
- Ocorre a destruição auto-imune das células dos ilhéus
pancreáticos
- Há um decréscimo dos níveis de insulina
- Causa: factores ambientais, infecção viral ou por toxinas
-
Não insulino-dependente (85% dos diabéticos):
-
Ocorre em indivíduos com mais de 40 anos
-
De início lento
-
A insulina está presente
-
Ocorre resistência à insulina e/ou alteração da secreção
-
Os indivíduos ficam obesos.
As complicações associadas à Diabetes Mellitus envolvem:
- Microangiopatia – alterações nas paredes dos vasos sanguíneos que conduzem a uma
redução da espessura da membrana basal.
- Retinopatia – alteração das células que constituem a retina (células nervosas) por
microangiopatia; ocorre hemorragia ao nível do vítreo, associada a maculopatia
(ao nível da mácula); pode conduzir à cegueira.
- Nefropatia – disfunção renal, que se inicia por hiperfunção renal, aumento do
tamanho do glomérulo e microalbuminúria; numa fase tardia, ocorre aumento da
proteinúria e declínio da função renal, com urémia.
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- Neuropatia – é evidenciado pela ocorrência de diarreia, hipotensão, impotência,
microangiopatia dos vasos sanguíneos que “nutrem” as células nervosas;
redução do metabolismo da glucose.
- Macroangiopatia (Aterosclerose) Æ conduz a doença coronária prematura. Os
mecanismos que contribuem para uma maior incidência da aterosclerose na
Diabetes é desconhecida. Surge um aumento da glicosilação de proteínas. Nesta
perspectiva ocorre hiperlipidémia, com aumento da [triglicerídeos], aumento das
VLDL e diminuição das HDL.
DIABETES MELLITUS
A Diabetes Mellitus afecta 1-2% da população e é provavelmente a 3ª causa de
morte a seguir às doenças cardiovasculares e ao cancro, nos países industrializados.
Desde o isolamento da insulina em 1921, por Frederick Benting e Charles Best,
a diabetes pode ser controlada. Contudo, a esperança de vida dos doentes é reduzida a
cerca de 1/3, devido à ocorrência de complicações renais e cardiovasculares, resultantes
da angiopatia diabética, sendo a cegueira outra das complicações da diabetes.
Existem 2 tipos de diabetes: Insulino-dependente (Tipo 1), que engloba cerca de
20% dos casos; e Não-dependente de insulina (Tipo 2), que engloba os restantes casos
(~80%) e pode ser compensada por controlo dietético e uso de antidiabéticos orais
(Tabela I).
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Tabela I – Características da Diabetes insulino-dependente e não insulino-dependente.
Fig. 1- Formação da insulina.
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A insulina é uma hormona polipeptídica, formada por 2 cadeias unidas por duas
pontes dissulfureto: A cadeia A, com 21 aminoácidos e a cadeia B com 30 aminoácidos.
Foi a primeira proteína a ser completamente sequenciada e quimicamente
sintetizada. No nosso organismo é sintetizada pelas células β-pancreáticas na forma de
um polipeptídeo precursor, a pré-insulina, que é clivada proteolíticamente por proteases
em resíduos de serina, dando origem à hormona activa (Fig. 1).
A insulina actua a nível do seu receptor localizado à superfície das células, na
membrana celular, composto por 2 subunidades, α e β, que se associam formando um
tetrâmero α2 β2. A subunidade α, de 135 kDa, é a subunidade que liga a insulina,
enquanto a subunidade β, transmembranar, de 90 kDa, possui actividade de tirosina
cinase e medeia a transdução de sinal intracelular quando o receptor é activado (Fig. 2).
A insulina promove a tomada de glucose e alguns aminoácidos pelas células.
Fig. 2- O receptor da insulina.
Corpos cetónicos e Diabetes Mellitus:
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a) Sempre que a quantidade de corpos cetónicos formados supera as necessidades
orgânicas, surge cetonémia e, eventualmente, cetonúria;
b) Estas situações podem surgir durante o jejum prolongado ou perante uma situação de
Diabetes Mellitus grave;
c) A cetonémia resulta em acidémia pelo carácter acídico dos corpos cetónicos, com
descida do pH do sangue;
d) A excreção de glucose e corpos cetónicos conduz à desidratação, que irá agravar a
acidémia.
Na Diabetes ocorre diminuição da [K+] devido à diurese osmótica, que conduz à perda
de água e electrólitos. Então, ter-se-á que fornecer insulina (injecções), rehidratar
(ingerir bastante H2O) e ingerir potássio, para manter o equilíbrio iónico.
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Caso Clínico 1
Ana D., é uma mulher diabética, com uma diabetes Tipo 2, Não-dependente de
insulina, com 70 anos de idade, e que durante 20 anos controlou a sua diabetes através
da dieta. Na última semana, o seu médico de família notou que ela apresentava
hipertensão, e prescreveu-lhe um diurético do grupo dos tiazidos, para baixar a tensão
arterial. Após a tomada do diuretico ficou com bastante sede e bebeu uma grande
quantidade de sumo de maçã. Entretanto, perdeu peso e começou a queixar-se de
tonturas quando se punha de pé. Não apresentava hálito cetónico.
Os testes laboratoriais de rotina mostraram: glicémia: 900 mg/dl (N: 70-105
mg/dl); corpos cetónicos: 3 mmol/L (N: não detectáveis); HCO3- 25 mmol/L (N:18-23
mmol/L); hiato aniónico: 14 mEq/L (N: 7-14 mEq/L); pH 7,4 (N: 7,35-7,45).
Questões:
1. Como explica a alteração do quadro clínico de Ana D.?
2. Qual o principal objectivo da terapêutica a instituir a esta doente?
3. Esta doente não desenvolve uma cetoacidose. Explique porquê.
4. Porque é que esta doente apresenta uma hiperglicémia tão elevada?
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Caso Clínico 2
João é um rapaz de 17 anos, diabético, que ontem não administrou insulina por
se sentir enjoado, incapaz de ingerir alimentos. Foi chamado o médico porque
entretanto o João desenvolveu uma cetoacidose e confusão mental.
Os testes laboratoriais de rotina mostraram: glicémia: 450 mg/dl (N: 70-105
mg/dl); corpos cetónicos: 20 mmol/L (N: não detectável); HCO3-: 5 mmol/L (N: 18-23
mmol/L); hiato aniónico: 32 mEq/L (N: 7-14 mEq/L; pH 7,0 (N: 7,35-7,45).
Questões:
5. Porque é que surgiu a cetoacidose severa?
6. O doente apresenta uma hiperglicémia moderada. Poderiamos propor 2 estratégias
como adjuvantes da terapêutica por insulina para baixar a glicémia: inibição da
neoglicogénese e da oxidação de ácidos gordos. Quais os perigos desta actuação
terapêutica?
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Caso Clínico 3
Se em dois casos de diabetes encontrar os seguintes valores:
Alb-glic
Hb-glic
Caso 1
Ñ
alta
Caso 2
alta
alta
Alb-glic Æ tempo de semi-vida: 1-2 semanas
Hb-glic Æ tempo de semi-vida: 3-4 meses
Questão:
-
O que significam as alterações dos níveis destas duas proteínas glicosiladas
relativamente ao controlo da hiperglicémia?
Deve aproveitar esta aula para rever:
1. Principais acções metabólicas da insulina.
2. O papel da tirosina cinase na sinalização e controlo do crescimento celular.
1. Metabolismo dos hidratos de carbono.
2. Formação de corpos cetónicos.
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