RESULTADOS DE PESQUISA 02 2013 ALTA INFESTAÇÃO DE LAGARTAS NA CULTURA DO MILHO BT Eng. Agr. M. Sc. José Fernando Jurca Grigolli1; Eng. Agr. Dr. André Luis Faleiros Lourenção2 INTRODUÇÃO As tecnologias de milho Bt disponíveis no mercado, como Yieldgard®, TL® Herculex®, Viptera®, Pro®, TL Viptera®, Pro2®, YieldGard VT®, Power Core PW®, incluem como pragas-alvo três espécies, a lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda, a lagarta-da-espiga do milho Helicoverpa zea e a broca da cana-de-açúcar Diatraea saccharalis. Sua eficiência para algumas espécies-alvo é bastante alta e pode dispensar completamente as aplicações de inseticidas. Para outras espécies, como a lagarta-do-cartucho, os dados indicam variações na proteção oferecida e, dependendo da infestação, são necessárias algumas estratégias de controle complementar, como o uso de inseticidas químicos (MENDES et al., 2009). Para o manejo da resistência das pragas-alvo desta tecnologia, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) recomenda o plantio de áreas de refúgio, que são áreas com híbridos de milho convencional (não Bt) e nelas utiliza-se inseticidas químicos para o controle das pragas (WAQUIL 2003; MARTINELLI e OMOTO, 2005; LEITE et al., 2011). Estas áreas são recomendadas em função do risco de se plantar milho Bt em grandes áreas, o que pode resultar na seleção de biótipos das pragas-alvo resistentes às toxinas Bt. Estas áreas de refúgio auxiliam no manejo da resistência das pragas-alvo retardando a evolução da resistência das pragas (MACHADO e FIUZA, 2011). No Brasil, a área de refúgio é 10% da área cultivada com milho Bt, utilizando híbridos não Bt, de iguais porte e ciclo, de preferência o seu similar não Bt, e esta área não deve estar a mais de 800 m de distância das plantas transgênicas (MENDES et al., 2009). Esses ajustes de distância, porte e ciclo dos materiais são fundamentais, pois possibilitam o cruzamento dos possíveis insetos adultos sobreviventes na área de milho Bt com suscetíveis emergidos nas áreas de refúgio, num esforço para preservar na descendência dos cruzamentos a suscetibilidade à proteína transgênica, com consequente manutenção dos benefícios da tecnologia Bt (BOURGUET et al., 2005). No caso dos híbridos de milho de segunda geração (Pro®, Pro2®, YieldGard VT®, Power Core PW®), com duas proteínas Bt no mesmo híbrido, o refúgio necessário é de 5% (ZANCANARO et al., 2012). Esta estratégia de plantio do refúgio também comporta outros híbridos de segunda geração, com apenas uma proteína Cry com alta eficiência de controle ou com mais de duas proteínas Cry. Nos Estados Unidos da América, a mistura do refúgio no saco de sementes foi aprovada em 2012 pela US Environmental Protection Agency (EPA). No Brasil, esta estratégia não é liberada comercialmente. Nas embalagens de sementes de milho Bt, há uma recomendação através da qual o produtor, ao abri-las, assume a responsabilidade de seguir as normas de coexistência e as recomendações do manejo da resistência dos insetos, como as áreas de refúgio (MENDES et al., 2009). O principal risco do não uso da área de refúgio está na rápida seleção de raças das pragas-alvo resistentes às toxinas do Bt. Assim, o produtor que não utilizar a prática do manejo da resistência será, sem dúvida, a primeira vítima da quebra da resistência, não obtendo controle das pragas-alvo com os híbridos de milho Bt. 1 Pesquisador Fitossanidade, Fundação MS, [email protected] 2 Pesquisador Fitotecnia Milho e Gerente Técnico-Científico, Fundação MS, [email protected] Registra-se, ainda, uma tendência de redução na disponibilidade de materiais convencionais no mercado. Muitas vezes, o produtor não tem encontrado sementes dos híbridos convencionais de melhor desempenho. A redução na disponibilidade destes materiais pode gerar prejuízos tão sérios quanto à não utilização das práticas de manejo de resistência dos insetos. trais em cada talhão. Em cada ponto, foram avaliadas 10 plantas subsequentes na linha de plantio. Posteriormente, foi calculado a porcentagem de infestação do talhão. Foi considerada planta atacada as plantas de milho com o cartucho danificado, pois apenas a desfolha de plantas é esperada, uma vez que as lagartas devem ingerir folhas para ingerir a proteína Cry de Bacillus thuringiensis, geneticamente inserida nas plantas, o que causará a morte das lagartas. OBJETIVO Além das amostragens, foram levantadas informações sobre o manejo das culturas em cada propriedade, em particular a existência das áreas de refúgio e culturas anteriores, a fim de traçar um panorama sobre o sistema de cultivo na região. Este estudo de caso objetivou avaliar a infestação da lagarta-do-cartucho do milho, Spodoptera spp., em lavouras comerciais de milho transgênico na região de São Gabriel do Oeste, MS. MATERIAL E MÉTODOS Foram visitadas quatro propriedades na região. Em cada propriedade foram visitados talhões com vários híbridos de milho plantados, inclusive com diferentes tecnologias Bt, como Herculex® e VTPro®. Em cada talhão, foram feitas amostragens a fim de determinar a infestação de Spodoptera spp. para cada talhão e híbrido de milho. Também foi documentado, com fotos, a situação de cada talhão e de cada híbrido de milho. Todas as propriedades visitadas apresentaram problemas de ataque do milho por lagartas. Entretanto, não é possível extrapolar as inferências para todas as propriedades da região, pois foram visitadas poucas propriedades e as informações são limitadas. Além dessas áreas, também foi visitado uma área experimental da Fundação MS, em São Gabriel do Oeste, MS. Esta área é de abertura, sendo o primeiro cultivo de milho no local. O plantio foi realizado com diversos materiais. Os materiais avaliados foram P3646H, RB9210VTPro, RB9110YG e P30S53H. É importante ressaltar que esta área experimental está próxima a áreas de milho comerciais, com distância inferior a 100 m. Cada amostragem foi baseada na porcentagem de plantas atacadas pela lagarta-do-cartucho. Foram realizados seis pontos amos- RESULTADOS Propriedade 1 Foram observados talhões com os híbridos 2B710Hx (200 ha) e RB9110VTPro (300 ha). Segundo relatos do proprietário, as áreas da propriedade são cultivadas com a tecnologia Herculex desde sua liberação comercial no Brasil, tanto na safra quanto na safrinha. A área de refúgio destinada na propriedade é de aproximadamente 3% da área, o que é inferior ao recomendado (10%). Na avaliação de infestação dos talhões, aquele com o material 2B710Hx apresentou, em média, 41,7% de plantas atacadas por lagartas de Spodoptera spp. (Tabela 1 e Figura 1). No talhão plantado com o híbrido RB9110VTPro, observou-se média de 5,0% de plantas atacadas por lagartas do gênero Spodoptera (Tabela 1 e Figura 2). Esta infestação é aceitável e não ocasiona danos econômicos. Nesta mesma propriedade, foi observado um talhão com o híbrido 2B433Hx, no estádio V2/ V3. Estas áreas não apresentavam plantas com sintomas de ataque por lagartas do gênero Spodoptera. No entanto, pouco se pode inferir sobre este material, pois segundo o proprietário, foram realizadas aplicações preventivas com a mistura de inseticidas Lannate® + Difluchem®. Figura 1. Sintomas de ataque de Spodoptera spp. em plantas de milho 2B710Hx na propriedade 1. São Gabriel do Oeste, MS, 2013. Figura 2. Plantas de milho híbrido RB9110VTPro sem (A) e com (B) sintomas de ataque de Spodoptera spp. na propriedade 1. São Gabriel do Oeste, MS, 2013. A das próximas às áreas de safrinha. A área de refúgio destinada na propriedade é de 30 ha, e a área plantada com milho safrinha é aproximadamente 800 ha. Com isso, observa-se que a área de refúgio da propriedade é aproximadamente 3,8% da área. Na avaliação de infestação dos talhões, o talhão com o material AG9040YG apresentou, em média, 15% de plantas atacadas por lagartas de Spodoptera spp. (Tabela 1 e Figura 3). Entretanto, foram realizadas duas aplicações curativas, sendo a primeira com o milho entre V1 e V2 e a segunda com o milho em V5. Os inseticidas utilizados foram Lannate® + Rimon®, nas dosagens de 800 e 200 ml ha-1 respectivamente em cada aplicação. O talhão com o material RB9110VTPro apresentou, em média, 1,7% de plantas atacadas por lagartas de Spodoptera spp. (Tabela 1 e Figura 4). Neste talhão não houve aplicações de inseticidas, evidenciando a baixa população da praga neste híbrido. Figura 3. Talhão cultivado com milho híbrido AG9040YG (A) e sintomas de ataque de Spodoptera spp. (B) no talhão, propriedade 2. São Gabriel do Oeste, MS, 2013. B Propriedade 2 Foram observados talhões cultivados com os híbridos de milho AG9040YG (340 ha), RB9110VTPro (24 ha), BG7049H (80 ha) e P3646H (200 ha, sendo 100 ha em V9 e 100 ha em V11). Nesta propriedade, houve plantio milho geneticamente modificado com a tecnologia Herculex durante a safra 2012/13 e safrinha 2013, inclusive com áreas de safra ainda não colhi- A B Figura 4. Talhão cultivado com milho híbrido RB9110VTPro sem sintomas de ataque de Spodoptera spp. na propriedade 2. São Gabriel do Oeste, MS, 2013. O talhão com o material P3646H apresentou, em média, 28,3% de plantas atacadas por lagartas de Spodoptera spp. (Tabela 1 e Figura 6). Neste talhão as plantas estavam em V9 e houve três aplicações de inseticidas com os produtos Lannate® + Rimon®, nas doses de 800 e 200 ml ha-1 em cada aplicação. Figura 6. Talhão cultivado com milho híbrido P3646H com sintomas de ataque de Spodoptera spp. (A) e detalhe da lagarta (B) na propriedade 2. São Gabriel do Oeste, MS, 2013. O talhão com o material BG7049H apresentou, em média, 50% de plantas atacadas por lagartas de Spodoptera spp. (Tabela 1 e Figura 5). Neste talhão houve três aplicações de inseticidas com os produtos Lannate® + Rimon®, nas doses de 800 e 200 ml ha-1 em cada aplicação. Figura 5. Plantas de milho híbrido BG7049H com sintomas de ataque de Spodoptera spp. na propriedade 2. São Gabriel do Oeste, MS, 2013. O material P3646H também foi verificado em outro talhão, de área semelhante, que estava em V11, pouco mais desenvolvido que o talhão anterior. Neste talhão, as plantas de milho não apresentavam sintomas de ataque por lagartas de Spodoptera spp. (Tabela 1 e Figura 7). Foram realizadas três aplicações preventivas os inseticidas Lannate® + Rimon®, nas doses de 800 e 200 ml ha-1 em cada aplicação. Figura 7. Talhão cultivado com milho híbrido P3646H sem sintomas de ataque de Spodoptera spp. na propriedade 2. São Gabriel do Oeste, MS, 2013. Figura 8. Talhão cultivado com milho híbrido P30S31H com sintomas de ataque de Spodoptera spp. na propriedade 3. São Gabriel do Oeste, MS, 2013. Propriedade 3 Foram observados talhões cultivados com os híbridos P30S31H (300 ha) e RB9110VTPro (80 ha). O híbrido P30S31H estava em V8 e foram realizadas duas aplicações com os inseticidas Lannate® e Rimon® em mistura nas doses de 1000 e 200 ml ha-1 respectivamente em cada aplicação. O talhão com o híbrido RB9110VTPro não foi pulverizado e estava em pré-pendoamento. Nesta propriedade, não foi verificado o plantio de área de refúgio. A infestação de Spodoptera spp. no talhão cultivado com P30S31H foi, em média, 33,3% (Tabela 1 e Figura 8) e do talhão com RB9110VTPro foi, em média, 3,3% (Tabela 1 e Figura 9). Figura 9. Talhão cultivado com milho híbrido RB9110VTPro e detalhe da planta de milho sem sintomas de ataque de Spodoptera spp. na propriedade 3. São Gabriel do Oeste, MS, 2013. Propriedade 4 Foi observado um talhão com um híbrido da Pioneer com a tecnologia Herculex®, que estava em V10. No entanto, não tivemos acesso às informações sobre o híbrido, a área plantada e sobre as aplicações de inseticidas na área. Na ocasião da visita, as plantas apresentavam, em média, 58,3% de ataque por Spodoptera spp. (Tabela 1 e Figura 10). Sobre as áreas de refúgio, não nos foi informado se havia ou não tal área, tampouco qual a porcentagem de material convencional estava sendo cultivado. Figura 10. Talhão cultivado com milho híbrido da Pioneer com tecnologia Herculex® com sintomas de ataque de Spodoptera spp. (A) e detalhe da planta de milho atacada pela praga (B) na propriedade 4. São Gabriel do Oeste, MS, 2013. A B Área Experimental da Fundação MS mesma tecnologia Bt nas propriedades visitaForam observados campos experimentais da Fundação MS, cultivados em parcelas experimentais (<0,5 ha cada material) com os híbridos P3646H, RB9210VTPro, RB9110YG e P30S31H. Nas áreas visitadas, o índice de infestação foi zero, pois não foram observadas plantas com sintomas de ataque de Spodoptera spp (Tabela 1 e Figura 11) e não foram realizadas aplicações com inseticidas. DISCUSSÃO Todos os dados coletados e expostos no presente documento podem ser observados de forma resumida na Tabela 1. Foi possível observar alto índice de infestação de lagartas do gênero Spodoptera sobre os materiais plantados nas propriedades visitadas em São Gabriel do Oeste, MS, principalmente sobre a tecnologia Herculex®. Na área experimental da Fundação MS, onde não houve plantios de milho Bt anteriormente e a pressão de seleção da população daquela microrregião foi menor, não foi observado o ataque por pragas, evidenciando que o plantio sucessivo da das foi determinante no estabelecimento do cenário observado. Verificou-se que não há plantio de áreas de refúgio de maneira adequada, o que provoca o aumento considerável da pressão de seleção sobre a população de insetos da região, potencializado pelo uso contínuo de safras e safrinhas de milho com a mesma tecnologia Bt (Figuras 12 e 13). Os híbridos de milho de segunda geração (VTPro®) não apresentaram problemas de ataque por lagartas, apresentando uma infestação esperada e sem danos econômicos às lavouras. Figura 11. Parcela cultivada com milho híbridos P3646H, RB9210VTPro, RB9110YG e P30S31H sem sintomas de ataque de Spodoptera spp. em área experimental da Fundação MS propriedade 4. São Gabriel do Oeste, MS, 2013. Todos os dados coletados e expostos no presente documento podem ser observados de forma resumida na Tabela 1. Foi possível observar alto índice de infestação de lagartas do gênero Spodoptera sobre os materiais plantados nas propriedades visitadas em São Gabriel do Oeste, MS, principalmente sobre a tecnologia Herculex®. Na área experimental da Fundação MS, onde não houve plantios de milho Bt anteriormente e a pressão de seleção da população daquela microrregião foi menor, não foi observado o ataque por pragas, evidenciando que o plantio sucessivo da mesma tecnologia Bt nas propriedades visita- das foi determinante no estabelecimento do cenário observado. Verificou-se que não há plantio de áreas de refúgio de maneira adequada, o que provoca o aumento considerável da pressão de seleção sobre a população de insetos da região, potencializado pelo uso contínuo de safras e safrinhas de milho com a mesma tecnologia Bt (Figuras 12 e 13). Os híbridos de milho de segunda geração (VTPro®) não apresentaram problemas de ataque por lagartas, apresentando uma infestação esperada e sem danos econômicos às lavouras. Tabela 1. Híbridos de milho, tecnologia Bt, área plantada e porcentagem de infestação nas propriedades visitadas e na área experimental da Fundação MS (FMS) em São Gabriel do Oeste, MS, 2013. Propriedade 1 2 3 4 FMS 1 Híbrido Área Plantada (ha) Tecnologia/Gene Infestação (%) Aplicações 2B710Hx Herculex/cry1F 200 41,7 NI RB9110VTPro Pro/cry1A e cry2Ab 300 5,0 NI AG9040YG Yield Gard/cry1Ab 340 15,0 2 RB9110VTPro Pro/cry1A e cry2Ab 24 1,7 0 BG7049H Herculex/cry1F 80 50,0 3 P3646H Herculex/cry1F 100 28,3 3 Observações 3% de área de refúgio 3,8% de área de refúgio P3646H Herculex/cry1F 100 0,0 3 P30S31H Herculex/cry1F 300 33,3 2 RB9110VTPro Pro/cry1A e cry2Ab 80 3,3 0 Área de refúgio não observada NI1 Herculex/cry1F NI 58,3 NI NI P3646H Herculex/cry1F <0,5 0,0 0 RB9210VTPro Pro/cry1A e cry2Ab <0,5 0,0 0 RB9110YG Yield Gard/cry1Ab <0,5 0,0 0 P30S53H Herculex/cry1F <0,5 0,0 0 Área de abertura, com o primeiro plantio de milho Não informado. Figura 12. Talhões cultivados com milho durante a safra e a safrinha. São Gabriel do Oeste, MS, 2013. Figura 13. Talhões cultivados com soja e milho na safra e com milho safrinha. São Gabriel do Oeste, MS, 2013. Relatos feitos por produtores indicam que há dificuldade para adquirir sementes de híbridos convencionais com boas características agronômicas. Em função do cenário observado, há uma necessidade visceral de um esforço conjunto entre produtores e empresas, de modo que esta ação possibilite maior durabilidade das tecnologias Bt disponíveis no mercado. A partir desta conscientização, o manejo de resistência das pragas às toxinas Bt será realizado de forma adequada e sustentável. correto da área de refúgio e da rotação da tecnologia Bt a ser utilizada. Os produtores devem fazer o plantio do refúgio de forma correta, respeitando as proporções recomendadas, e cobrar das empresas fornecedoras ou das assistências técnicas o suporte no posicionamento dos híbridos e do refúgio. Estas estratégias não irão beneficiar uma parte específica e sim o todo da agricultura local. As tecnologias terão maior durabilidade, ou seja, serão eficientes por mais tempo. Com isso, as empresas poderão comercializar o material por mais tempo e os produtores se beneficiarão do controle das pragas -alvo proporcionado por estes híbridos. As ações aqui indicadas serão eficientes somente se forem utilizadas por todos os produtores da região e se houver um esforço conjunto. De nada adianta o produtor se dispor a plantar o refúgio e a empresa não disponibilizar o ma- As opções de manejo da lavoura do milho safrinha no que tange o controle de pragas com a tecnologia Bt devem se iniciar imediatamente. Empresas devem fornecer híbridos convencionais no mercado, dando opções para os produtores no momento da compra das sementes, bem como orientá-los e auxiliá-los no plantio RECOMENDAÇÕES não resolverá o problema a empresa fornecer o material convencional e o produtor não utilizá-lo em 1) Os produtores devem adotar o plantio de áreas de refúgio de forma adequada, com sua área. terial convencional. Da mesma forma, No presente estudo de caso, todas as informações referentes ao híbrido de milho cultivado, aplicações de inseticidas e manejo dos talhões foram fornecidas pelos proprietários. A Fundação MS fez apenas um relato das condições observadas nos campos visitados e das informações fornecidas pelos produtores, não se comprometendo por equívocos nos materiais plantados ou pelas aplicações realizadas. Também é importante ressaltar que as inferências que constam no presente documento são válidas apenas para as áreas visitadas, e não para a região como um todo, visto que foram visitadas apenas quatro propriedades e uma área de pesquisa da Fundação MS em São Gabriel do Oeste, MS. CONCLUSÕES Nas propriedades visitadas e com as informações coletadas, pode-se concluir que: Há um alto índice de infestação de lagartas do gênero Spodoptera sobre os materiais plantados nas propriedades visitadas de São Gabriel do Oeste, MS, principalmente sobre a tecnologia Herculex®. O uso desta tecnologia nas propriedades visitadas é aquém do recomendado, pois a área de refúgio é sub-utilizada e há plantio sucessivo na safra e na safrinha, inclusive em áreas próximas e que ainda não foram colhidas, com a mesma tecnologia. Os híbridos de milho de segunda geração (VTPro®) não apresentaram problemas de ataque por lagartas nas áreas visitadas, apresentando uma infestação esperada e sem danos econômicos às lavouras. Há necessidade de um levantamento detalhado com o monitoramento dos talhões de lavouras de milho (safra e safrinha) na região de São Gabriel do Oeste, MS. pelo menos 10% da área com material de milho convencional de porte e ciclo semelhante ao híbrido de milho Bt cultivado no talhão. Esta área de refúgio não deve estar a mais de 800 m da área Bt. 2) Os produtores devem adotar as táticas de coexistência, com o plantio de uma bordadura de pelo menos 100 m, isolando lavouras de milho transgênicos das de milho que se deseja manter sem contaminação de transgênico. Estes híbridos também devem ter porte e ciclo semelhantes. 3) As empresas fornecedoras de sementes devem fornecer híbridos convencionais com boas características agronômicas e similares aos híbridos Bt disponibilizados em cada região de atuação. Se possível, fornecer as isolinhas convencionais, pois o porte, ciclo e características agronômicas serão semelhantes, facilitando o manejo das lavouras para os produtores. Uma forma de dinamizar este processo poderia ser a comercialização de 10% da quantidade que o produtor deseja com materiais convencionais. Por exemplo, se o produtor comprar 100 sacos de milho, 10 sacos devem ser convencionais de mesmo porte e ciclo do híbrido Bt adquirido pelo produtor. Essa estratégia faz com que a tecnologia de cada material dure mais tanto para as empresas quanto para os produtores. 4) Evitar o plantio sucessivo na safra e na safrinha ou de várias safrinhas seguidas com híbridos de milho com a mesma tecnologia Bt, fazendo uma rotação de genes, em que cada ano se planta uma tecnologia. 5) Monitorar as áreas, pois algumas pragas, como a lagarta do cartucho do milho, não são eliminadas completamente por algumas tecnologias Bt. REFERÊNCIAS LEITE, N.A.; MENDES, S.M.; WAQUIL, J.M.; PEREIRA, E.J.G. Milho Bt no Brasil: a situação e a evolução da resistência de insetos. Série Documentos, n.133, Embrapa Milho e Sorgo, 47p. 2011. MENDES, S.M.; WAQUIL, J.M.; VIANA, P.A. Manejo integrado de pragas em lavouras plantadas com milho geneticamente modificado com gene Bt (Milho Bt). Embrap: Sete Lagoas. Disponível em <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Milho/CultivodoMilho_5ed/milhoBT.htm>. Acesso em 27 mar 2013. (Sistemas de Produção, 2). WAQUIL, J. M. Manejo de resistência em insetos-praga. In: PIRES, C. S. S.; FONTES, E. M. G.; SUJII, E. R. (Ed.). Impacto ecológico de plantas geneticamente modificadas: o algodão resistente a insetos como estudo de caso. Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia: CNPq, 2003. p. 135-162. ZANCANARO, P.O.; BUCHWEITZ, E.D.; BOIÇA JUNIOR, A.L.; MORO, J.R. Avaliação de tecnologias de refúgio no cultivo de milho transgênico. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.47, n.7, p.886-891, 2012 MARTINELLI, S.; OMOTO, C. Resistência de insetos a plantas geneticamente modificadas. Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento, v.34, p.67‑77, 2005. MACHADO, V.; FIUZA, L.M. Manejo da resistência: na era das plantas transgênicas. Oecologia Australis, v.15, p.291‑302, 2011. BOURGUET, D.; DESQUILBET, M.; LEMARIE, S. Regulating insect resistance management: the case of non‑Bt corn refuges in the US. Journal of Environmental Management, v.76, p.210‑220, 2005.