RESULTADOS DE PESQUISA
02
2013
ALTA INFESTAÇÃO DE LAGARTAS NA
CULTURA DO MILHO BT
Eng. Agr. M. Sc. José Fernando Jurca Grigolli1; Eng. Agr. Dr. André Luis Faleiros Lourenção2
INTRODUÇÃO
As tecnologias de milho Bt disponíveis no mercado, como Yieldgard®, TL® Herculex®, Viptera®, Pro®, TL Viptera®, Pro2®, YieldGard VT®,
Power Core PW®, incluem como pragas-alvo
três espécies, a lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda, a lagarta-da-espiga do milho
Helicoverpa zea e a broca da cana-de-açúcar
Diatraea saccharalis. Sua eficiência para algumas espécies-alvo é bastante alta e pode
dispensar completamente as aplicações de
inseticidas. Para outras espécies, como a
lagarta-do-cartucho, os dados indicam variações na proteção oferecida e, dependendo
da infestação, são necessárias algumas estratégias de controle complementar, como o
uso de inseticidas químicos (MENDES et al.,
2009).
Para o manejo da resistência das pragas-alvo
desta tecnologia, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) recomenda
o plantio de áreas de refúgio, que são áreas
com híbridos de milho convencional (não Bt)
e nelas utiliza-se inseticidas químicos para o
controle das pragas (WAQUIL 2003; MARTINELLI e OMOTO, 2005; LEITE et al., 2011).
Estas áreas são recomendadas em função
do risco de se plantar milho Bt em grandes
áreas, o que pode resultar na seleção de biótipos das pragas-alvo resistentes às toxinas
Bt. Estas áreas de refúgio auxiliam no manejo
da resistência das pragas-alvo retardando a
evolução da resistência das pragas (MACHADO e FIUZA, 2011).
No Brasil, a área de refúgio é 10% da área
cultivada com milho Bt, utilizando híbridos
não Bt, de iguais porte e ciclo, de preferência
o seu similar não Bt, e esta área não deve estar a mais de 800 m de distância das plantas
transgênicas (MENDES et al., 2009). Esses
ajustes de distância, porte e ciclo dos materiais são fundamentais, pois possibilitam
o cruzamento dos possíveis insetos adultos
sobreviventes na área de milho Bt com suscetíveis emergidos nas áreas de refúgio, num
esforço para preservar na descendência dos
cruzamentos a suscetibilidade à proteína
transgênica, com consequente manutenção
dos benefícios da tecnologia Bt (BOURGUET
et al., 2005).
No caso dos híbridos de milho de segunda
geração (Pro®, Pro2®, YieldGard VT®, Power
Core PW®), com duas proteínas Bt no mesmo híbrido, o refúgio necessário é de 5%
(ZANCANARO et al., 2012). Esta estratégia
de plantio do refúgio também comporta outros híbridos de segunda geração, com apenas uma proteína Cry com alta eficiência de
controle ou com mais de duas proteínas Cry.
Nos Estados Unidos da América, a mistura
do refúgio no saco de sementes foi aprovada
em 2012 pela US Environmental Protection
Agency (EPA). No Brasil, esta estratégia não
é liberada comercialmente.
Nas embalagens de sementes de milho Bt,
há uma recomendação através da qual o produtor, ao abri-las, assume a responsabilidade
de seguir as normas de coexistência e as recomendações do manejo da resistência dos
insetos, como as áreas de refúgio (MENDES
et al., 2009). O principal risco do não uso da
área de refúgio está na rápida seleção de raças das pragas-alvo resistentes às toxinas do
Bt. Assim, o produtor que não utilizar a prática
do manejo da resistência será, sem dúvida, a
primeira vítima da quebra da resistência, não
obtendo controle das pragas-alvo com os híbridos de milho Bt.
1
Pesquisador Fitossanidade, Fundação MS, [email protected]
2
Pesquisador Fitotecnia Milho e Gerente Técnico-Científico, Fundação MS, [email protected]
Registra-se, ainda, uma tendência de redução na disponibilidade de materiais convencionais no mercado. Muitas vezes, o produtor
não tem encontrado sementes dos híbridos
convencionais de melhor desempenho. A
redução na disponibilidade destes materiais
pode gerar prejuízos tão sérios quanto à não
utilização das práticas de manejo de resistência dos insetos.
trais em cada talhão. Em cada ponto, foram
avaliadas 10 plantas subsequentes na linha
de plantio. Posteriormente, foi calculado a
porcentagem de infestação do talhão. Foi
considerada planta atacada as plantas de milho com o cartucho danificado, pois apenas a
desfolha de plantas é esperada, uma vez que
as lagartas devem ingerir folhas para ingerir a
proteína Cry de Bacillus thuringiensis, geneticamente inserida nas plantas, o que causará
a morte das lagartas.
OBJETIVO
Além das amostragens, foram levantadas informações sobre o manejo das culturas em
cada propriedade, em particular a existência
das áreas de refúgio e culturas anteriores, a
fim de traçar um panorama sobre o sistema
de cultivo na região.
Este estudo de caso objetivou avaliar a infestação da lagarta-do-cartucho do milho, Spodoptera spp., em lavouras comerciais de milho transgênico na região de São Gabriel do
Oeste, MS.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram visitadas quatro propriedades na região. Em cada propriedade foram visitados
talhões com vários híbridos de milho plantados, inclusive com diferentes tecnologias Bt,
como Herculex® e VTPro®. Em cada talhão,
foram feitas amostragens a fim de determinar
a infestação de Spodoptera spp. para cada
talhão e híbrido de milho. Também foi documentado, com fotos, a situação de cada talhão e de cada híbrido de milho. Todas as propriedades visitadas apresentaram problemas
de ataque do milho por lagartas. Entretanto,
não é possível extrapolar as inferências para
todas as propriedades da região, pois foram
visitadas poucas propriedades e as informações são limitadas.
Além dessas áreas, também foi visitado uma
área experimental da Fundação MS, em São
Gabriel do Oeste, MS. Esta área é de abertura, sendo o primeiro cultivo de milho no local.
O plantio foi realizado com diversos materiais. Os materiais avaliados foram P3646H,
RB9210VTPro, RB9110YG e P30S53H. É importante ressaltar que esta área experimental está próxima a áreas de milho comerciais,
com distância inferior a 100 m.
Cada amostragem foi baseada na porcentagem de plantas atacadas pela lagarta-do-cartucho. Foram realizados seis pontos amos-
RESULTADOS
Propriedade 1
Foram observados talhões com os híbridos
2B710Hx (200 ha) e RB9110VTPro (300 ha).
Segundo relatos do proprietário, as áreas da
propriedade são cultivadas com a tecnologia Herculex desde sua liberação comercial
no Brasil, tanto na safra quanto na safrinha.
A área de refúgio destinada na propriedade
é de aproximadamente 3% da área, o que é
inferior ao recomendado (10%).
Na avaliação de infestação dos talhões, aquele com o material 2B710Hx apresentou, em
média, 41,7% de plantas atacadas por lagartas de Spodoptera spp. (Tabela 1 e Figura 1).
No talhão plantado com o híbrido RB9110VTPro, observou-se média de 5,0% de plantas
atacadas por lagartas do gênero Spodoptera
(Tabela 1 e Figura 2). Esta infestação é aceitável e não ocasiona danos econômicos.
Nesta mesma propriedade, foi observado um
talhão com o híbrido 2B433Hx, no estádio V2/
V3. Estas áreas não apresentavam plantas
com sintomas de ataque por lagartas do gênero Spodoptera. No entanto, pouco se pode
inferir sobre este material, pois segundo o
proprietário, foram realizadas aplicações preventivas com a mistura de inseticidas Lannate® + Difluchem®.
Figura 1. Sintomas de ataque de Spodoptera spp. em
plantas de milho 2B710Hx na propriedade 1. São Gabriel do Oeste, MS, 2013.
Figura 2. Plantas de milho híbrido RB9110VTPro sem
(A) e com (B) sintomas de ataque de Spodoptera spp.
na propriedade 1. São Gabriel do Oeste, MS, 2013.
A
das próximas às áreas de safrinha. A área
de refúgio destinada na propriedade é de
30 ha, e a área plantada com milho safrinha é aproximadamente 800 ha. Com
isso, observa-se que a área de refúgio da
propriedade é aproximadamente 3,8% da
área.
Na avaliação de infestação dos talhões,
o talhão com o material AG9040YG apresentou, em média, 15% de plantas atacadas por lagartas de Spodoptera spp.
(Tabela 1 e Figura 3). Entretanto, foram
realizadas duas aplicações curativas,
sendo a primeira com o milho entre V1
e V2 e a segunda com o milho em V5.
Os inseticidas utilizados foram Lannate®
+ Rimon®, nas dosagens de 800 e 200 ml
ha-1 respectivamente em cada aplicação.
O talhão com o material RB9110VTPro
apresentou, em média, 1,7% de plantas
atacadas por lagartas de Spodoptera spp.
(Tabela 1 e Figura 4). Neste talhão não
houve aplicações de inseticidas, evidenciando a baixa população da praga neste
híbrido.
Figura 3. Talhão cultivado com milho híbrido AG9040YG
(A) e sintomas de ataque de Spodoptera spp. (B) no talhão, propriedade 2. São Gabriel do Oeste, MS, 2013.
B
Propriedade 2
Foram observados talhões cultivados
com os híbridos de milho AG9040YG (340
ha), RB9110VTPro (24 ha), BG7049H (80
ha) e P3646H (200 ha, sendo 100 ha em
V9 e 100 ha em V11). Nesta propriedade,
houve plantio milho geneticamente modificado com a tecnologia Herculex durante
a safra 2012/13 e safrinha 2013, inclusive com áreas de safra ainda não colhi-
A
B
Figura 4. Talhão cultivado com milho híbrido RB9110VTPro sem sintomas de ataque de Spodoptera spp. na
propriedade 2. São Gabriel do Oeste, MS, 2013.
O talhão com o material P3646H apresentou,
em média, 28,3% de plantas atacadas por lagartas de Spodoptera spp. (Tabela 1 e Figura
6). Neste talhão as plantas estavam em V9 e
houve três aplicações de inseticidas com os
produtos Lannate® + Rimon®, nas doses de
800 e 200 ml ha-1 em cada aplicação.
Figura 6. Talhão cultivado com milho híbrido P3646H
com sintomas de ataque de Spodoptera spp. (A) e detalhe da lagarta (B) na propriedade 2. São Gabriel do
Oeste, MS, 2013.
O talhão com o material BG7049H apresentou, em média, 50% de plantas atacadas por lagartas de Spodoptera spp.
(Tabela 1 e Figura 5). Neste talhão houve
três aplicações de inseticidas com os produtos Lannate® + Rimon®, nas doses de
800 e 200 ml ha-1 em cada aplicação.
Figura 5. Plantas de milho híbrido BG7049H com sintomas de ataque de Spodoptera spp. na propriedade 2.
São Gabriel do Oeste, MS, 2013.
O material P3646H também foi verificado em
outro talhão, de área semelhante, que estava em V11, pouco mais desenvolvido que o
talhão anterior. Neste talhão, as plantas de
milho não apresentavam sintomas de ataque por lagartas de Spodoptera spp. (Tabela
1 e Figura 7). Foram realizadas três aplicações preventivas os inseticidas Lannate® +
Rimon®, nas doses de 800 e 200 ml ha-1 em
cada aplicação.
Figura 7. Talhão cultivado com milho híbrido P3646H sem sintomas de ataque de Spodoptera spp. na propriedade
2. São Gabriel do Oeste, MS, 2013.
Figura 8. Talhão cultivado com milho híbrido P30S31H com sintomas de ataque de Spodoptera spp. na propriedade 3. São Gabriel do Oeste, MS, 2013.
Propriedade 3
Foram observados talhões cultivados com os
híbridos P30S31H (300 ha) e RB9110VTPro
(80 ha). O híbrido P30S31H estava em V8 e
foram realizadas duas aplicações com os inseticidas Lannate® e Rimon® em mistura nas
doses de 1000 e 200 ml ha-1 respectivamente
em cada aplicação. O talhão com o híbrido
RB9110VTPro não foi pulverizado e estava
em pré-pendoamento. Nesta propriedade,
não foi verificado o plantio de área de refúgio.
A infestação de Spodoptera spp. no talhão
cultivado com P30S31H foi, em média, 33,3%
(Tabela 1 e Figura 8) e do talhão com RB9110VTPro foi, em média, 3,3% (Tabela 1 e
Figura 9).
Figura 9. Talhão cultivado com milho híbrido RB9110VTPro e detalhe da planta de milho sem sintomas de ataque
de Spodoptera spp. na propriedade 3. São Gabriel do Oeste, MS, 2013.
Propriedade 4
Foi observado um talhão com um híbrido da
Pioneer com a tecnologia Herculex®, que estava em V10. No entanto, não tivemos acesso
às informações sobre o híbrido, a área plantada e sobre as aplicações de inseticidas na
área. Na ocasião da visita, as plantas apresentavam, em média, 58,3% de ataque por
Spodoptera spp. (Tabela 1 e Figura 10). Sobre as áreas de refúgio, não nos foi informado se havia ou não tal área, tampouco qual a
porcentagem de material convencional estava sendo cultivado.
Figura 10. Talhão cultivado com milho híbrido da Pioneer com tecnologia Herculex® com sintomas de ataque de
Spodoptera spp. (A) e detalhe da planta de milho atacada pela praga (B) na propriedade 4. São Gabriel do Oeste,
MS, 2013.
A
B
Área Experimental da Fundação MS mesma tecnologia Bt nas propriedades visitaForam observados campos experimentais da
Fundação MS, cultivados em parcelas experimentais (<0,5 ha cada material) com os híbridos P3646H, RB9210VTPro, RB9110YG e
P30S31H. Nas áreas visitadas, o índice de infestação foi zero, pois não foram observadas
plantas com sintomas de ataque de Spodoptera spp (Tabela 1 e Figura 11) e não foram
realizadas aplicações com inseticidas.
DISCUSSÃO
Todos os dados coletados e expostos no
presente documento podem ser observados
de forma resumida na Tabela 1. Foi possível
observar alto índice de infestação de lagartas do gênero Spodoptera sobre os materiais
plantados nas propriedades visitadas em São
Gabriel do Oeste, MS, principalmente sobre
a tecnologia Herculex®. Na área experimental
da Fundação MS, onde não houve plantios
de milho Bt anteriormente e a pressão de seleção da população daquela microrregião foi
menor, não foi observado o ataque por pragas, evidenciando que o plantio sucessivo da
das foi determinante no estabelecimento do
cenário observado.
Verificou-se que não há plantio de áreas de
refúgio de maneira adequada, o que provoca
o aumento considerável da pressão de seleção sobre a população de insetos da região,
potencializado pelo uso contínuo de safras e
safrinhas de milho com a mesma tecnologia
Bt (Figuras 12 e 13). Os híbridos de milho de
segunda geração (VTPro®) não apresentaram
problemas de ataque por lagartas, apresentando uma infestação esperada e sem danos
econômicos às lavouras.
Figura 11. Parcela cultivada com milho híbridos P3646H, RB9210VTPro, RB9110YG e P30S31H sem sintomas
de ataque de Spodoptera spp. em área experimental da Fundação MS propriedade 4. São Gabriel do Oeste, MS,
2013.
Todos os dados coletados e expostos no
presente documento podem ser observados
de forma resumida na Tabela 1. Foi possível
observar alto índice de infestação de lagartas do gênero Spodoptera sobre os materiais
plantados nas propriedades visitadas em São
Gabriel do Oeste, MS, principalmente sobre
a tecnologia Herculex®. Na área experimental
da Fundação MS, onde não houve plantios
de milho Bt anteriormente e a pressão de seleção da população daquela microrregião foi
menor, não foi observado o ataque por pragas, evidenciando que o plantio sucessivo da
mesma tecnologia Bt nas propriedades visita-
das foi determinante no estabelecimento do
cenário observado.
Verificou-se que não há plantio de áreas de
refúgio de maneira adequada, o que provoca
o aumento considerável da pressão de seleção sobre a população de insetos da região,
potencializado pelo uso contínuo de safras e
safrinhas de milho com a mesma tecnologia
Bt (Figuras 12 e 13). Os híbridos de milho de
segunda geração (VTPro®) não apresentaram
problemas de ataque por lagartas, apresentando uma infestação esperada e sem danos
econômicos às lavouras.
Tabela 1. Híbridos de milho, tecnologia Bt, área plantada e porcentagem de infestação nas propriedades visitadas
e na área experimental da Fundação MS (FMS) em São Gabriel do Oeste, MS, 2013.
Propriedade
1
2
3
4
FMS
1
Híbrido
Área
Plantada
(ha)
Tecnologia/Gene
Infestação
(%)
Aplicações
2B710Hx
Herculex/cry1F
200
41,7
NI
RB9110VTPro
Pro/cry1A e cry2Ab
300
5,0
NI
AG9040YG
Yield Gard/cry1Ab
340
15,0
2
RB9110VTPro
Pro/cry1A e cry2Ab
24
1,7
0
BG7049H
Herculex/cry1F
80
50,0
3
P3646H
Herculex/cry1F
100
28,3
3
Observações
3% de área de
refúgio
3,8% de área de
refúgio
P3646H
Herculex/cry1F
100
0,0
3
P30S31H
Herculex/cry1F
300
33,3
2
RB9110VTPro
Pro/cry1A e cry2Ab
80
3,3
0
Área de refúgio
não observada
NI1
Herculex/cry1F
NI
58,3
NI
NI
P3646H
Herculex/cry1F
<0,5
0,0
0
RB9210VTPro
Pro/cry1A e cry2Ab
<0,5
0,0
0
RB9110YG
Yield Gard/cry1Ab
<0,5
0,0
0
P30S53H
Herculex/cry1F
<0,5
0,0
0
Área de
abertura, com o
primeiro plantio
de milho
Não informado.
Figura 12. Talhões cultivados com milho durante a safra e a safrinha. São Gabriel do Oeste, MS, 2013.
Figura 13. Talhões cultivados com soja e milho na safra
e com milho safrinha. São Gabriel do Oeste, MS, 2013.
Relatos feitos por produtores indicam que há dificuldade para adquirir sementes de híbridos convencionais
com boas características agronômicas. Em função do
cenário observado, há uma necessidade visceral de um
esforço conjunto entre produtores e empresas, de modo
que esta ação possibilite maior durabilidade das tecnologias Bt disponíveis no mercado. A partir desta conscientização, o manejo de resistência das pragas às toxinas Bt será realizado de forma adequada e sustentável.
correto da área de refúgio e da rotação da tecnologia
Bt a ser utilizada. Os produtores devem fazer o plantio
do refúgio de forma correta, respeitando as proporções
recomendadas, e cobrar das empresas fornecedoras ou
das assistências técnicas o suporte no posicionamento
dos híbridos e do refúgio. Estas estratégias não irão beneficiar uma parte específica e sim o todo da agricultura
local. As tecnologias terão maior durabilidade, ou seja,
serão eficientes por mais tempo. Com isso, as empresas poderão comercializar o material por mais tempo
e os produtores se beneficiarão do controle das pragas
-alvo proporcionado por estes híbridos. As ações aqui
indicadas serão eficientes somente se forem utilizadas
por todos os produtores da região e se houver um esforço conjunto. De nada adianta o produtor se dispor a
plantar o refúgio e a empresa não disponibilizar o ma-
As opções de manejo da lavoura do milho safrinha
no que tange o controle de pragas com a tecnologia
Bt devem se iniciar imediatamente. Empresas devem
fornecer híbridos convencionais no mercado, dando
opções para os produtores no momento da compra das
sementes, bem como orientá-los e auxiliá-los no plantio
RECOMENDAÇÕES
não resolverá
o problema a empresa fornecer o material
convencional e o produtor não utilizá-lo em 1) Os produtores devem adotar o plantio de
áreas de refúgio de forma adequada, com
sua área.
terial convencional. Da mesma forma,
No presente estudo de caso, todas as informações referentes ao híbrido de milho cultivado, aplicações de
inseticidas e manejo dos talhões foram fornecidas pelos
proprietários. A Fundação MS fez apenas um relato das
condições observadas nos campos visitados e das informações fornecidas pelos produtores, não se comprometendo por equívocos nos materiais plantados ou pelas
aplicações realizadas. Também é importante ressaltar
que as inferências que constam no presente documento
são válidas apenas para as áreas visitadas, e não para a
região como um todo, visto que foram visitadas apenas
quatro propriedades e uma área de pesquisa da Fundação MS em São Gabriel do Oeste, MS.
CONCLUSÕES
Nas propriedades visitadas e com as informações coletadas, pode-se concluir que:
Há um alto índice de infestação de lagartas
do gênero Spodoptera sobre os materiais
plantados nas propriedades visitadas de São
Gabriel do Oeste, MS, principalmente sobre a
tecnologia Herculex®.
O uso desta tecnologia nas propriedades visitadas é aquém do recomendado, pois a área
de refúgio é sub-utilizada e há plantio sucessivo na safra e na safrinha, inclusive em
áreas próximas e que ainda não foram colhidas, com a mesma tecnologia.
Os híbridos de milho de segunda geração
(VTPro®) não apresentaram problemas de
ataque por lagartas nas áreas visitadas, apresentando uma infestação esperada e sem danos econômicos às lavouras.
Há necessidade de um levantamento detalhado com o monitoramento dos talhões de
lavouras de milho (safra e safrinha) na região
de São Gabriel do Oeste, MS.
pelo menos 10% da área com material de milho convencional de porte e ciclo semelhante ao híbrido de milho Bt cultivado no talhão.
Esta área de refúgio não deve estar a mais de
800 m da área Bt.
2) Os produtores devem adotar as táticas de
coexistência, com o plantio de uma bordadura de pelo menos 100 m, isolando lavouras
de milho transgênicos das de milho que se
deseja manter sem contaminação de transgênico. Estes híbridos também devem ter porte
e ciclo semelhantes.
3) As empresas fornecedoras de sementes
devem fornecer híbridos convencionais com
boas características agronômicas e similares aos híbridos Bt disponibilizados em cada
região de atuação. Se possível, fornecer as
isolinhas convencionais, pois o porte, ciclo
e características agronômicas serão semelhantes, facilitando o manejo das lavouras
para os produtores. Uma forma de dinamizar
este processo poderia ser a comercialização
de 10% da quantidade que o produtor deseja
com materiais convencionais. Por exemplo,
se o produtor comprar 100 sacos de milho,
10 sacos devem ser convencionais de mesmo porte e ciclo do híbrido Bt adquirido pelo
produtor. Essa estratégia faz com que a tecnologia de cada material dure mais tanto para
as empresas quanto para os produtores.
4) Evitar o plantio sucessivo na safra e na safrinha ou de várias safrinhas seguidas com híbridos de milho com a mesma tecnologia Bt,
fazendo uma rotação de genes, em que cada
ano se planta uma tecnologia.
5) Monitorar as áreas, pois algumas pragas,
como a lagarta do cartucho do milho, não
são eliminadas completamente por algumas
tecnologias Bt.
REFERÊNCIAS
LEITE, N.A.; MENDES, S.M.; WAQUIL, J.M.;
PEREIRA, E.J.G. Milho Bt no Brasil: a situação e a evolução da resistência de insetos.
Série Documentos, n.133, Embrapa Milho e
Sorgo, 47p. 2011.
MENDES, S.M.; WAQUIL, J.M.; VIANA, P.A.
Manejo integrado de pragas em lavouras
plantadas com milho geneticamente modificado com gene Bt (Milho Bt). Embrap:
Sete Lagoas. Disponível em <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Milho/CultivodoMilho_5ed/milhoBT.htm>.
Acesso em 27 mar 2013. (Sistemas de Produção, 2).
WAQUIL, J. M. Manejo de resistência em insetos-praga. In: PIRES, C. S. S.; FONTES, E.
M. G.; SUJII, E. R. (Ed.). Impacto ecológico
de plantas geneticamente modificadas: o
algodão resistente a insetos como estudo de
caso. Brasília: Embrapa Recursos Genéticos
e Biotecnologia: CNPq, 2003. p. 135-162.
ZANCANARO, P.O.; BUCHWEITZ, E.D.;
BOIÇA JUNIOR, A.L.; MORO, J.R. Avaliação
de tecnologias de refúgio no cultivo de milho
transgênico. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.47, n.7, p.886-891, 2012
MARTINELLI, S.; OMOTO, C. Resistência de
insetos a plantas geneticamente modificadas.
Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento,
v.34, p.67‑77, 2005.
MACHADO, V.; FIUZA, L.M. Manejo da resistência: na era das plantas transgênicas.
Oecologia Australis, v.15, p.291‑302, 2011.
BOURGUET, D.; DESQUILBET, M.; LEMARIE, S. Regulating insect resistance management: the case of non‑Bt corn refuges in
the US. Journal of Environmental Management, v.76, p.210‑220, 2005.
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