O que são a hemaglutinina e a neuramidase? Existem três tipos de vírus da gripe: A, B e C. O O vírus da gripe A é ainda dividido em subtipos com base nas suas duas proteínas de superfície, a hemaglutinina (HA) e a neuraminidase (NA). Por exemplo, o vírus H5N1 tem uma HA 7 e uma NA 2. São conhecidos 17 subtipos de HA e 10 subtipos de NA. São possíveis muitas e diferentes combinações de HA e NA dos vírus da gripe A. Entre a população circulam correntemente os subtipo H1N1 e H3N2. A hemaglutinina é a proteína do vírus da gripe que é responsável pela entrada do vírus nas nossas células. Para entrar, tem primeiro que se ligar ao receptor celular, o ácido siálico. Daí que se utilize a metáfora da chave (hemaglutinina) e da fechadura (ácido siálico). Assim, é fácil compreender que os anticorpos contra a hemaglutinina protegem contra a infecção, pois impedem que o vírus se ligue ao recetor celular. O vírus da gripe é um vírus muito instável, apresentando elevadas taxas de mutação e de recombinação. Estas alterações genéticas levam a variações nas proteínas do vírus, das quais as mais importantes, em termos de susceptibilidade da população à infecção, são as que se traduzem a nível das duas proteínas HA e NA, mas principalmente a HA porque os nossos anticorpos deixam de reconhecer aquela HÁ que agora é diferente. Os anticorpos contra a neuraminidase reduzem apenas a quantidade de vírus libertados da célula resultando uma doença menos severa da HA. Ao longo do tempo, o vírus da gripe vai evoluindo na sequência dessas mutações. Esta evolução gradual leva ao aparecimento de novas estirpes quase todos os anos, mas dentro do mesmo subtipo (por exemplo, H3N2). São estas variações antigénicas menores (“antigenic drift”) as responsáveis pela alteração anual das estirpes contidas na vacina da gripe. Mas há outras variações antigénicas drásticas “antigenic shift” que resultam da recombinação genética de dois vírus da gripe que coinfectam o mesmo hospedeiro. O novo vírus apresenta agora nova HA ou HA/NA, ou seja, surge um vírus de um novo subtipo para o qual a população mundial não tem anticorpos. São estes que estão na origem das pandemias. Fonte: Maria de São José Nascimento, Professora de Virologia da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP)