Métodos práticos para identificar primos pequenos Gabriel Lopes da Rocha1 e Roberto Ribeiro Paterlini2 Departamento de Matemática - UFSCar - junho de 2009 Estamos ministrando uma aula e queremos dar algum exemplo com números primos. Pensamos: que tal variar, e usar primos diferentes dos de costume? Ou somos estudantes e queremos impressionar os colegas ou o professor usando algum primo diferente. É nesse momento que nos perguntamos: 71 é primo? 113 é primo? Existem observações simples que podemos aplicar para sabermos rapidamente se um número pequeno é primo ou não. Dessa forma não precisamos interromper nossa conversa para consultar uma tabela de primos ou fazer contas. Podemos até fazer um certo suspense. Perguntamos a algum colega: 113 é primo? Silêncio. Olhamos para cima, pensamos uns 5 segundos, e dizemos: é. Vamos explicar os métodos. Um inteiro ≥ 2, para não ser primo, tem que ser múltiplo próprio de um primo. Por múltiplo próprio queremos dizer que o fator de multiplicidade é > 1. Assim 2 é múltiplo de 2, mas o fator de multiplicidade é 1. Por outro lado, 4, 6, 8, ... são múltiplos próprios de 2. Os múltiplos de 2, 3 e 5 são fáceis de serem percebidos, pois conhecemos regras práticas e muito simples de divisibilidade por 2, 3 e 5. O primo seguinte é 7, e não temos para ele uma regra simples de divisibilidade. Mas o menor múltiplo próprio de 7 que não é múltiplo de 2, 3 ou 5 é 7×7 = 49. O múltiplo seguinte de 7 nessas condições é 7 × 11 = 77. Assim temos a primeira regra prática: Um número inteiro entre 2 e 50 é primo quando for 6= 49 e não for múltiplo próprio de 2, 3 ou 5. Na verdade, de acordo com o que observamos, essa regra vale para números inteiros entre 2 e 76. Mas queremos aumentar a faixa de números considerados. O primo seguinte é 11, e o menor número composto que não é múltiplo de 2, 3, 5 e 7 é 11 × 11 = 121. Portanto um número inteiro ≤ 120, para ser composto, tem que ser múltiplo próprio de 2, 3, 5 ou 7. Os múltiplos próprios de 7 entre 2 e 120 que não são múltiplos de 2, 3 ou 5 são: 7 × 7 = 49, 7 × 11 = 77, 7 × 13 = 91 e 7 × 17 = 119. Obtemos a segunda regra prática: 1 2 formando do curso de Licenciatura em Matemática da UFSCar professor de Matemática da UFSCar 1 Um número inteiro entre 2 e 120 é primo quando n ∈ / {49, 77, 91, 119} e não for múltiplo próprio de 2, 3 e 5. Como 91 = 70 + 21 e 119 = 70 + 49, é fácil memorizar os números 49, 77, 91 e 119. Podemos aumentar a faixa de números considerando o primo seguinte, 13. Deixamos para o estudante construir a regra prática correspondente. Existe outro método que pode ser mais do gosto do leitor, e eventualmente pode ser mais rápido. Consideremos os conjuntos A = {1, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 29} e B = {49, 77, 91, 119} É fácil memorizar esses conjuntos levando em conta que A é constituı́do de 1 e dos primos entre 6 e 30. E esses primos são os números entre 6 e 30 que não são múltiplos de 2, 3 ou 5. Quanto ao conjunto B, já vimos que ele é constituı́do dos números compostos ≤ 120 que são múltiplos de 7 mas não de 2, 3 ou 5. Portanto já sabemos quem são os primos ≤ 30: são 2, 3, 5 e os elementos de A, menos o 1. Para saber se um dado um inteiro n tal que 30 < n ≤ 120 é primo aplicamos a regra: Seja n um inteiro entre 30 e 120. Se n ∈ B então n é composto. Se n ∈ / B, seja r o resto da divisão inteira de n por 30. Então n é primo se e somente se r ∈ A. Em outros termos, se 30 < n ≤ 120 e n ∈ / B, fazemos “n trinta fora”. Se o resto for 1 ou um primo entre 6 e 30, então n é primo; caso contrário, é composto. Por “n trinta fora” queremos dizer: tomar o resto da divisão inteira de n por 30. Vamos testar o método com 71 e 113. Temos 71 ∈ / B e 71 trinta fora dá 11 (= 71 − 60), que é primo > 5. Logo 71 é primo. Ainda, 113 ∈ / B e 113 trinta fora dá 23 (= 113 − 90) que é primo > 5. Portanto 113 é primo. O número 30 tem papel importante nesse método por que 30 = 2 · 3 · 5. Assim se n é um inteiro tal que 30 < n ≤ 120 e n ∈ / B, calculamos n = 30q+r, com 0 ≤ r < 30. Se r = 1 ou r é primo > 5, então r não é múltiplo de 2, 3 ou 5. Isso implica que n também não é múltiplo de 2, 3 ou 5, e portanto n é primo. Reciprocamente, se r não é 1 e nem primo > 5, então r é múltiplo de 2, 3 ou 5, e n também é. Logo n é composto. 2