UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPTº DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA MESTRADO PROFISSIONAL EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO EDUARDO HENRIQUE BORGES COHIM SILVA POLIMENTO DE EFLUENTE DE UASB COM FILTROS INTERMITENTES DE AREIA SALVADOR 2006 EDUARDO HENRIQUE BORGES COHIM SILVA POLIMENTO DE EFLUENTE DE UASB COM FILTROS INTERMITENTES DE AREIA Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissional em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Profº. PhD. Asher Kiperstok Salvador 2006 S5861 Cohim, Eduardo Polimento de efluente de USAB com filtros intermitentes de areia. / Eduardo Henrique Borges Cohim Silva. --- Salvador-BA, 2006. 128p. il. Orientador: Prof. Asher Kiperstok Dissertação (Mestrado em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo) - Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, 2006. 1. Esgotos domésticos – Tratamento biológico 2. Águas residuais – Purificação – Tratamento biológico 3. Meio Ambiente. I. Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica. II. Kiperstok, Asher. III. Título. 628.354 AGRADECIMENTOS A concretização de uma pesquisa – por mais simples que ela seja – nunca é fruto de um trabalho individual, exclusivamente. Ao contrário, precisa de muita e diversificada ajuda. Gostaria aqui de reconhecer e agradecer de forma especial algumas das mais valiosas com que contei. Em primeiro lugar, ao meu orientador, o Professor PhD. Asher Kiperstok, pelo exemplo, imensamente admirado, de sua capacidade de pensar sem amarras. Ao colega graduando de Engenharia Ambiental, Alisson Meireles, cuja ajuda na realização dos experimentos, na preparação dos relatórios e na revisão do texto final foi fundamental para a concretização deste trabalho. À Empresa Baiana de Águas e Saneamento, que apoiou financeira e materialmente o trabalho, especialmente ao seu Diretor de Operações Engº. Jessé Mota Carvalho Filho e à sua Diretora Administrativa Bel. Kátia Maria Alves Santos. À FINEP, que, por meio do Edital nº. 4 do PROSAB, financiou parte dos estudos desta dissertação. Ao Laboratório de Geotecnia Ambiental – GEOAMB, especialmente ao seu coordenador, o Professor Dr. Sandro Machado, pela realização dos ensaios de granulometria e curvas de retenção de umidade das areias utilizadas. A Sidnei Pereira Alves que, além de montar o aparato experimental, prestou uma assistência contínua no decorrer dos trabalhos, ajudando a solucionar os problemas surgidos. A Bibliotecária Linda Carla Bulhosa, sempre prestimosa na busca de itens bibliográficos dados como impossíveis de serem obtidos. A todos, e foram muitos, que ajudaram e que deixam de ser aqui citados para evitar o alongamento excessivo desta lista. RESUMO Esta dissertação propõe-se ao estudo da viabilidade do uso de filtros intermitentes em leito de areia (FILA), uma tecnologia de tratamento do esgoto convencional adaptável a pequenas comunidades, que possibilita o reúso seguro da água e a preservação dos nutrientes. Essas unidades podem produzir um efluente com DBO e SST abaixo de 10,0 mg/l, turbidez menor que 2 NTU e são ainda capazes de remover de 2 a 4 log de coliformes, sem perda de nutrientes. Além disso, requerem uma área 5 a 10 vezes menor que lagoas de estabilização, podendo se adequar melhor em locais com menor disponibilidade terreno. O foco deste trabalho é a avaliação do efeito da variação do tamanho efetivo do leito filtrante e da freqüência de aplicação na qualidade do efluente final. Para isso, foram construídos nove filtros, com diâmetro de 300 mm, arranjados em 3 conjuntos de três unidades, com leitos filtrantes constituídos por areias com tamanhos efetivos de 0,5, 0,7 e 1,2 mm e coeficientes de uniformidade menor ou igual a 2 e espessura de 60,0 cm. Todos os filtros receberam o efluente de um UASB na mesma carga hidráulica de 0,60 m/dia, dividida em 24, 48 e 96 doses por dia, respectivamente para cada conjunto.Os FILAs mostraram uma elevada eficiência no tratamento, produzindo efluentes com concentração de sólidos suspensos menor que 5,0 mg/l; DBO menor que 10,0mg/l, e uma nitrificação média de 70%. Além disso, obtiveram-se remoções de coliformes fecais de mais de 4 unidades logarítmicas, com efluente final com concentrações inferiores a 1000 UFC/100ml, atendendo ao padrão de irrigação irrestrita sugerido pela Organização Mundial da Saúde. Palavras-chave: FILA; filtro intermitente; tamanho efetivo; freqüência de aplicação; higienização de esgoto; preservação de nutrientes ABSTRACT This dissertation attempts to study the viability of the use of intermittent sand filters ISF, a conventional method of sewage treatment which can be adapted for use in small communities and which can permit the safe reuse of water without removing nutrients. Such filters can produce an effluent with a BOD and TSS of below 10.0mg/l, turbidity below 2 NTU and are even able to remove 2 to 4 log of coliforms without losing any of the nutrients. They also require an area 5 to 10 times less extensive than that of stabilization ponds and are therefore more suited to areas where there is little land available. The focus of this work was to evaluate the effect of the variation of the effective size of the filter bed and the frequency of application on the quality of the final effluent. Nine filters were constructed, each 300mm in diameter arranged in sets of 3 with filter beds made of sands of 0.5, 0.7 and 1.2mm with uniformity coefficients of less than or equal to 2 and a thickness of 60cm. All the filters received effluent from an Up-Flow Anaerobic Sludge Blanket – UASB at the same rate, 0.6m/day, divided into daily doses of 24, 28 and 96 respectively. The filters showed high level of efficiency in treatment producing effluent with suspended solids concentration of less than 5mg/l, BOD lower than 10mg/l and 70% average nitrification levels. Furthermore, the removal of fecal coliforms of more than 4 log was achieved producing a final effluent with concentrations of below 1000 CFU/100ml, satisfying the WHO recommendation for unrestricted use in irrigation. Keywords: ISF; intermittent sand filter; effective size; dosing frequency; wastewater hygienization; nutrients preservation LISTA DE FIGURAS Figura 1: O modelo atual de saneamento e o ciclo dos nutrientes ..................... 17 Figura 2: O ecossaneamento e o ciclo dos nutrientes........................................... 28 Figura 3: Características das frações do esgoto doméstico................................. 30 Figura 4: Filtro Intermitente Modelo USPHS 1920 ................................................. 37 Figura 5: Mecanismo básico do transporte da água na filtração ......................... 41 Figura 6: Representação esquemática de um biofilme bacteriano. .................... 46 Figura 7: Gráfica - α em função da porosidade do meio ....................................... 52 Figura 8: Coeficiente de difusão do oxigênio no solo No eixo X é porosidade acessível, fa ................................................................................................................... 53 Figura 9: Esquema da seqüência de aplicação...................................................... 54 Figura 10: Troca gasosa convectiva durante alimentação e drenagem ............. 56 Figura 11: Variação dos estoques de água e ar..................................................... 56 Figura 12: Efeito da existência de lâmina d’água sobre a superfície do leito.... 57 Figura 13: Capacidade total de oxidação em função da carga hidráulica.......... 59 Figura 14: Efeito da carga hidráulica nos filtros...................................................... 62 Figura 15: Ilustração das quatro fases de um meio poroso não saturado colonizado ..................................................................................................................... 62 Figura 16: Papel do biofilme na condutividade hidráulica: à esquerda, meio virgem; à direita, meio colonizado............................................................................. 64 Figura 17: Fluxo de oxigênio entre o ar e o biofilme.............................................. 65 Figura 18: Biofilme em meio poroso não saturado. ............................................... 66 Figura 19: Eliminação de coliformes termotolerantes a diferentes profundidades e cargas hidráulicas..................................................................................................... 75 Figura 20: Remoção de microrganismo em função da carga hidráulica ............ 76 Figura 21: UASB .......................................................................................................... 79 Figura 22: Chegada do esgoto bruto........................................................................ 80 Figura 23: Caixa de Divisão de Vazão - CDV ......................................................... 80 Figura 24: Alimentação dos FILAs............................................................................ 81 Figura 25: Detalhes do FILA ...................................................................................... 82 Figura 26: Curva granulométrica das AMOSTRAS 01, 02, 03, 04 e 05 ............. 83 Figura 27: Conjunto do aparato experimental......................................................... 84 Figura 28: Hidrogramas de saída.............................................................................. 89 Figura 29: Box Plot Variação de SS com TE e F ................................................... 92 Figura 30: Variação temporal de SS......................................................................... 93 Figura 31: Relação entre volume retido por filtração e volume do leito, σ ......... 95 Figura 32: Tendência de DBO5 efluente x tempo de passagem.......................... 99 Figura 33: Box Plot Variação da DBO com TE e F .............................................. 100 Figura 34: Variação temporal da DBO ................................................................... 101 Figura 35: Oxidação da amônia .............................................................................. 102 Figura 36:Box Plot Variação da qualidade do efluente com TE e F.................. 105 Figura 37: Remoção de C.TE. versus TMP........................................................... 107 Figura 38: Perfil da Biomassa Heterotrófica após 3 dias de operação (H = 0,5 m/d; DQO afluente = 300 mg/L; N-NH4 afluente = 60 mg/L) ............................. 108 Figura 39: Evolução da colmatação filtros Conjunto 1 (F 24 d-1)....................... 109 Figura 40: Evolução da colmatação filtros Conjunto 2 (F 48 d-1)....................... 110 Figura 41: Evolução da colmatação filtros Conjunto 3 (F 96 d-1)....................... 111 Figura 42: Evolução da colmatação filtros TE 0,5 (F 24 d-1, 48 d-1 e F 96 d-1)112 Figura 43: Evolução da colmatação filtros TE 0,7 (F 24 d-1, 48 d-1 e F 96 d-1)113 Figura 44: Evolução da colmatação filtros TE 1,2(F 24 d-1, 48 d-1 e F 96 d-1) 114 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Arranjo Experimental .................................................................................. 14 Tabela 2: Composição do biofilme............................................................................ 46 Tabela 3: Tendência geral de desempenho em função dos fatores de projeto 70 Tabela 4: Resumo dos resultados dos ensaios de caracterização realizados.. 84 Tabela 5: Protocolo experimental ............................................................................. 85 Tabela 6: Tempos de aplicação ................................................................................ 85 Tabela 7: Características do efluente do UASB ..................................................... 86 Tabela 8: Parâmetros analisados ............................................................................. 87 Tabela 9: Tempo Médio de Passagem, minuto ...................................................... 90 Tabela 10: Comparação das médias de concentração de SS ............................. 91 Tabela 11: Limites de turbidez na Resolução nº. 357/2005 ................................. 94 Tabela 12: Concentrações de cátions no sistema (mg/l) ...................................... 96 Tabela 13: Estimativa de SDT em função de CE ................................................... 97 Tabela 14: Restrição de uso para água de irrigação ............................................. 97 Tabela 15: Razão de adsorção de sódio ................................................................. 97 Tabela 16: Valores de CE para algumas culturas, sem perda de produção ..... 98 Tabela 17:Resultados médios de DBO5 .................................................................. 99 Tabela 18:Resultados médios de C.TE. no efluente dos filtros ......................... 104 Tabela 19: Densidades médias de C.TE. (uLog/100ml) .................................... 104 Tabela 20:Remoção de nutrientes.......................................................................... 115 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABC Alumen, blood e clay ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas CDV Caixa Divisora de Vazão CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente DLVO Drejaguin, Landau, Verway e Overbeck ETE Estação de Tratamento de Esgotos FILA Filtros Intermitentes em Leito de Areia FINEP Financiadora de Estudos e Projetos GEOAMB Laboratório de Geotecnia Ambiental ISF Intermittent Sand Filters MSBH Massachusetts State Board pf Health ODM Objetivos de Desenvolvimento para o Milênio PEC Polímeros extracelulares PROSAB Programa de Saneamento Básico PVC Policloreto de vinila RAS Razão de Adsorção de Sódio RAS Razão de Adsorção de Sódio RBC Biodisco Contator Rotatório TMP Tempo Médio de Passagem UASB Up-flow Anaerobic Sludge Blanket UNEP Programa para o Meio Ambiente das Nações Unidas UNICEF Fundo das Nações Unidas para Infância USEPA United States Environment Protection Agency WHO World Health Organization Conselho Colaborativo para o Abastecimento de Água e WSSCC Saneamento LISTA DE SÍMBOLOS C C.TE CE Co Concentração de oxigênio na fase gasosa Coliformes Termotolerantes Condutividade Elétrica Teor de oxigênio no ar atmosférico Co CU D Concentração ponderada do oxigênio no ar Coeficiente de Uniformidade Coeficiente de difusão no meio poroso Diâmetro efetivo, correspondente a 10% em peso total das partículas menores que ele Diâmetro correspondente a 50% em peso total das partículas menores que ele Demanda Bioquímica de Oxigênio Demanda Bioquímica de Oxigênio do 5º dia d10 d50 DBO DBO5 Do DQO DTO F H J L NH4+ Coeficiente de difusão do oxigênio no ar Demanda Química de Oxigênio Demanda Total de Oxigênio Freqüência de Aplicação Altura do leito Altura da lâmina de água aplicada durante uma seqüência de alimentação Fluxo de oxigênio por unidade de superfície Carga hidráulica diária Amônia Ni Concentração de amônia no afluente No NTK NTU qa Concentração de amônia no efluente Nitrogênio Total de Kiron Unidade de Turbidez Vazão aplicada qe Vazão escoada qi s As SDT SS SST Sw T TD TE Vazão infiltrada Volume total do leito filtrante Estoque de ar em volume Sólidos Dissolvidos Totais Sólidos Suspensos Sólidos Suspensos Totais Estoque de água em volume Temperatura Intervalo de tempo de um ciclo Tamanho Efetivo ho tm α θ ρa Tempo médio de detenção hidráulica Fator de impedância Umidade volumétrica do leito Massa de ar a pressão considerada ρao Massa de ar a pressão atmosférica Φa Porosidade ocupada pelo ar Φa Porosidade livre ao ar Φt Porosidade total ωc Capacidade de oxidação pela via convectiva ωd Capacidade de oxidação pela via difusiva SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 2. JUSTIFICATIVA E CONTEXTUALIZAÇÃO 2.1. O MODELO CONVENCIONAL 2.2. PERSPECTIVA HISTÓRICA 2.3. A CRISE DO SANEAMENTO 2.4. TECNOLOGIAS LIMPAS APLICADAS AO SANEAMENTO 2.5. UMA FASE INTERMEDIÁRIA 3. OBJETIVOS 4. A FILTRAÇÃO INTERMITENTE EM LEITO DE AREIA 4.1. HISTÓRICO DA FILTRAÇÃO INTERMITENTE 4.2. MECANISMOS DE REMOÇÃO 4.2.1. Mecanismos Físicos 4.2.2. Processos Biológicos 4.2.3. O Biofilme 4.2.4. O Balanço de Oxigênio 4.2.5. Capacidade de Oxidação 4.2.6. Aspectos Hidráulicos 4.2.7. Trocas no Biofilme 4.2.8. Colmatação 4.3. REMOÇÃO DE CONTAMINANTES EM FILAs 4.3.1. Remoção de Sólidos Suspensos 4.3.3. Remoção de Nutrientes 4.3.4. Remoção de Microrganismos 5. METODOLOGIA 5.1. APARATO EXPERIMENTAL 5.2. O MEIO FILTRANTE 5.3. O PROTOCOLO EXPERIMENTAL 5.4. CARACTERÍSTICAS DO EFLUENTE APLICADO 5.5. OPERAÇÃO E AMOSTRAGEM DOS FILTROS 5.6. ASPECTOS HIDRÁULICOS 5.7. COLMATAÇÃO 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO 6.1. ASPECTOS HIDRÁULICOS 6.2. SÓLIDOS SUSPENSOS 6.3. CÁTIONS E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA 6.4. SUBSTÂNCIAS OXIDÁVEIS 6.5. MICRORGANISMOS 6.6. NUTRIENTES 6.7. OUTROS ASPECTOS 7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES REFERÊNCIAS 12 15 16 18 24 26 31 33 34 35 38 39 43 44 50 58 60 64 66 67 67 71 73 79 79 82 85 85 86 87 88 89 89 90 96 98 104 115 116 117 120 12 1.INTRODUÇÃO O setor de saneamento, entendido aqui no seu sentido mais estrito como a coleta e a disposição dos esgotos sanitários, encerra o fluxo de dois recursos vitais: água e nutrientes. O sistema convencional para abastecimento de água e saneamento baseia-se num único uso da água, na coleta e no tratamento de efluentes e na disposição final do efluente tratado e dos lodos produzidos durante o tratamento (FANE, 2003). Embora esse sistema tenha obtido sucesso na eliminação de epidemias de doenças de veiculação hídrica, ele adota uma lógica de fim de tubo, que se caracteriza pelo fluxo linear dos recursos água e nutrientes, e não tem condições de atender às demandas atuais do serviço. As conseqüências do uso desse sistema têm sido a exaustão e poluição dos mananciais de água e o empobrecimento dos solos. Esse modelo de saneamento teve sua origem na metade do século XIX, quando os sanitaristas de então, apoiados na teoria dos miasmas, encontraram no afastamento dos esgotos a solução para as epidemias de cólera que assolavam as grandes cidades, sob os efeitos da recente urbanização decorrente da industrialização. O surgimento desse modelo rompeu com o modo orgânico de relacionamento que havia entre as cidades e os campos agrícolas e segundo o qual os produtos do metabolismo urbano eram utilizados na produção de alimentos, num movimento cíclico que colaborava para a manutenção da fertilidade dos solos. Essa nova forma de lidar com as excretas intensificou-se com o crescimento econômico e a necessidade de alimentação da população, as duas principais ameaças ao abastecimento de água. A escassez de água e a poluição dos recursos hídricos representam um problema de saúde pública, limitam o desenvolvimento econômico e agridem o meio ambiente, conseqüências mais notadas nos países em desenvolvimento (NIEMCZYNOWICZ, 1996). Considerando essa situação, a água usada torna-se um recurso valioso se atentarmos para o fato de que a maioria dos usos não requer a qualidade da água potável. Uma vez usada, a água pode ser tratada e reusada, reduzindo a pressão sobre os mananciais 13 contribuindo assim para sua preservação e para o aumento da disponibilidade de água doce (ANDERSON e OUTROS, 2001). Na busca da sustentabilidade para o setor, várias propostas têm sido apresentadas a partir do início dos anos noventa. As estratégias consideradas incluem: o uso do esgoto para agricultura local (urbana); a reciclagem dos esgotos como fonte secundária de água; a separação das águas cinza para tratamento e o reuso; a separação de urina e fezes para reutilização de nutrientes. O uso dos esgotos tratados mais próximos às fontes geradoras constitui uma possibilidade concreta e vantajosa da reciclagem dos nutrientes (reintroduzindo-os no ciclo natural produtivo) como sendo uma etapa intermediária de um novo modelo tecnológico de saneamento que, possivelmente, caminhará para a separação das diversas correntes na própria origem, dando a cada uma o destino produtivo mais adequado. Nesse contexto, a tecnologia de filtração intermitente em leito de areia (FILA) para o tratamento de esgotos apresenta vantagens consideráveis. A redução da carga orgânica, a remoção de microrganismos em mais de 99.9% e a produção de um efluente claro com teor de sólidos suspensos inferior a 10,0 mg/l são algumas dessas vantagens. O mais importante, porém, é que esse desempenho pode ocorrer sem a perda dos valiosos nutrientes contidos nos esgotos, que podem ser reintroduzidos no ciclo produtivo através da hidroponia. Ao longo deste trabalho é feita uma retrospectiva histórica da origem do modelo atual de saneamento no intuito de entender as condicionantes para o seu desenvolvimento e para a sua fixação como modelo paradigmático. Realizou-se uma revisão bibliográfica da tecnologia em saneamento abrangendo o seu desenvolvimento e estágio atual, bem como os principais mecanismos envolvidos no processo de tratamento de esgotos em FILAs e o potencial de sua eficiência no que concerne aos principais constituintes do esgoto doméstico. Esta dissertação buscou estudar a filtração intermitente em geral e, particularmente, o papel do tamanho efetivo do meio filtrante e da freqüência 14 de aplicação, ou seja, o fracionamento da carga hidráulica diária, no desempenho de FILAs. Para atingir os objetivos do trabalho, adotou-se a metodologia descrita em detalhes no capítulo 5. Basicamente, nove filtros foram carregados intermitentemente com o efluente de um Up-flow anaerobic sludge blanket (UASB), em escala de laboratório, que trata parte dos esgotos da Escola Politécnica da UFBA. As características do efluente do UASB quanto a coliformes termotolerantes, à demanda bioquímica de oxigênio (DBO), ao nitrogênio total e aos sólidos suspensos são, respectivamente, 5,9 unid log/100ml, 69,0 mg/l, 178,0 mg/l e 69,0 mg/l. As unidades de filtração foram construídas usando-se tubos de PVC com diâmetro nominal de 300 mm, área superficial de 0,071 m2 e altura total de 1,20 m e foram instaladas em local abrigado. A camada filtrante, constituída por areias com coeficiente de uniformidade menor que 2,0 e possuindo uma profundidade de 60 cm, foi colocada sobre uma camada drenante com 7,5 cm de altura. O arranjo experimental é mostrado na Tabela 1. Tabela 1 Arranjo Experimental CONJUNTO 1 CONJUNTO 2 CONJUNTO 3 FI - 1 FI - 2 FI - 3 FI - 4 FI - 5 FI - 6 FI - 7 FI - 8 FI - 9 TE 0,5 0,7 1,2 0,5 0,7 1,2 0,5 0,7 1,2 -1 24 24 48 48 48 96 96 96 F (doses.d ) 24 O efluente final apresentou aspecto agradável com baixa cor e turbidez, com concentrações de sólidos suspensos inferiores a 10,0 mg/l, DBO abaixo de 15,0 mg/l e percentual médio de nitrificação em torno de 75%. Do ponto de vista microbiológico, o efluente final apresentou concentrações de coliformes termotolerantes de 2,6 a 5,1 unidades logarítmicas por 100ml, com as contagens mais baixas para as areias mais finas e para as maiores freqüências de aplicação. Os resultados indicam que a tecnologia de filtração intermitente em leito de areia tem um bom potencial para polimento de efluente de reatores anaeróbios, visando à sua reutilização em ambientes urbanos. 15 2.JUSTIFICATIVA E CONTEXTUALIZAÇÃO Conforme dito anteriormente, o sistema convencional de saneamento com sua lógica de fim de tubo, que se caracteriza pelo fluxo linear dos recursos água e nutrientes, não tem condições de atender às demandas atuais do serviço. As conseqüências disso têm sido, por um lado, a exaustão e poluição dos mananciais de água e, por outro, o empobrecimento dos solos. A origem desse modelo está na segunda metade do século XIX, quando a falta de conhecimento levou à tomada de uma decisão equivocada que rompia com uma lógica razoavelmente estabelecida – e que não foi revista quando novas descobertas ocorreram. A nova maneira de tratar o problema do saneamento, simplesmente descartando o efluente recebeu críticas de diversos pensadores e cientistas da época, a exemplo de Victor Hugo, Pierre Leroux, Justus von Liebig, entre outros. Hoje, esse equívoco tem sido reconhecido por diversos organismos internacionais como, por exemplo, o Banco Mundial, Organização Mundial da Saúde, Programa para o Meio Ambiente das Nações Unidas - UNEP etc., os quais apontam a necessidade do estabelecimento de um novo paradigma que leve em conta os ciclos naturais e o uso eficiente dos recursos para fazer frente à enorme carência de alimentos e à ausência de saneamento que existem no mundo atual, o que pode ser constatado no quadro de miséria e doença se observa. Esse novo paradigma parece estar na utilização do conceito de tecnologias limpas aplicado ao saneamento, traduzido em quatro princípios: não utilizar mais material, energia ou outro recurso por unidade de produto do que o absolutamente necessário; não usar material de qualidade superior ao estritamente necessário para o processo produtivo; não misturar diferentes correntes de resíduos; avaliar outras funções e usos econômicos de subprodutos antes de considerar seu tratamento e sua disposição final. Esse novo paradigma é o ecossaneamento, que adota como princípio básico o fechamento do ciclo entre o saneamento e a agricultura; objetivando não só a redução dos riscos à saúde relacionados ao saneamento, à água contaminada e ao resíduo, mas também a melhoria da qualidade das águas superficiais e 16 subterrâneas e da fertilidade do solo assim como a otimização do gerenciamento de nutrientes e de recursos hídricos. 2.1.O MODELO CONVENCIONAL Os sistemas convencionais de saneamento (coleta, transporte, tratamento e disposição final) funcionam segundo o conceito de tecnologias fim de tubo: procura-se resolver os problemas, em vez de evitá-los. O modelo atual de tratamento de esgoto, baseado nessas referidas tecnologias, tem como características o uso perdulário dos recursos água e energia. A adoção desse modelo também vai implicar a utilização dos nutrientes segundo um fluxo linear no qual se esgotam as reservas do solo, que têm de ser repostas através de fertilizantes extraídos de reservas minerais limitadas ou através de compostos de nitrogênio cuja fabricação depende de técnicas altamente intensivas em energia. Além disso, coletam-se todos os esgotos, independentemente de sua natureza, para transportá-los e tratá-los em unidades centralizadas. Resultam disso subprodutos de baixa qualidade devido à contaminação com metais pesados e compostos xenobióticos. Alguns autores (cf. OTTERPOHL e OUTROS, 2003a (ver Figura 1) e Werner e outros, 2003) resumem as desvantagens do sistema convencional de saneamento, quais sejam: • Tratamento insatisfatório ou descarga descontrolada de mais de 90% do esgoto mundial; • Poluição de corpos de água através de matéria orgânica, nutrientes, substâncias perigosas, patogênicos, resíduos farmacêuticos, hormônios etc.; • Riscos inaceitáveis para a saúde e disseminação de doença; • Consumo de água preciosa para transporte de resíduo; • Alto investimento e custo de energia para a operação e a manutenção; • Perda de valiosos nutrientes e elementos-traço contidos nas excretas por descarte em corpos de água; 17 • Empobrecimento de terras agrícolas, com aumento da resultando em dependência dos fertilizantes químicos; • Predominância de sistemas centralizados, problemas com lodo de esgoto contaminado. Fósforo Às vezes, importado Nitrogênio do ar (N2) Fábrica de Fertilizante Nitrificação requerendo grande consumo de energia Alimentos Consumo de água Esgoto Lixo Lodo Acumulação Aterro, lixão Incineração P > 5% N > 20% K > 90% Carbon Figura 1: O modelo atual de saneamento e o ciclo dos nutrientes Fonte: OTTERPOHL, 2003a Esse modelo de saneamento pode ser analisado também sob o ponto de vista das tecnologias limpas, cujas intervenções têm alcançado grande sucesso na indústria, através da aplicação combinada dos conceitos de prevenção da poluição, reúso da água e ecologia industrial. Se aplicarmos alguns conceitos básicos de produção limpa ao sistema convencional de saneamento, poderemos entender a necessidade de mudanças drásticas (GIJZEN, 1997), conforme esta simples comparação a seguir: Princípio 1: Não utilizar mais material, energia ou outro recurso por unidade de produto que o absolutamente necessário. Prática atual: A depender da região, consome-se entre 100 e 350 litros per capita de água potável por dia, enquanto apenas cerca de dois litros são utilizados realmente para beber. Princípio 2: Não usar material de qualidade superior ao estritamente necessário para o processo produtivo. 18 Prática atual: Usa-se água de alta qualidade para dar descarga em vasos sanitários, limpar o piso, lavar o carro e molhar os jardins. Princípio 3: Não misturar diferentes correntes de resíduos. Prática atual: Já no interior do domicílio vários fluxos são misturados. Misturam-se urina e fezes formando as denominadas as águas negras e águas de chuveiro, de lavatórios, de lavagem de roupas formando as denominadas águas cinza. Sob a denominação genérica de esgotos domésticos, é lançado na rede coletora e misturado com efluentes industriais e, freqüentemente, com águas de chuva. Princípio 4: Avaliar outras funções e usos econômicos de subprodutos antes de considerar seu tratamento e disposição final. Prática atual: o esgoto é descarregado em corpos d’água com ou sem tratamento prévio. Nesse contexto, vale também lembrar a reflexão feita por Feachem e outros (1983): Aqueles cuja atividade é selecionar e projetar sistemas apropriados para a coleta e o tratamento dos esgotos devem ter em mente que as práticas européias e norte-americanas não representam o zênite do desenvolvimento científico nem são produto de um processo lógico e racional. Ao contrário, eles são produto da história, uma história que começou na segunda metade do século XIX quando pouco se conhecia sobre a física e a química do assunto e quando, praticamente, nenhum conhecimento aplicável de microbiologia tinha sido descoberto. Essas práticas não são especialmente inteligentes, nem lógicas, nem completamente efetivas e não são necessariamente o que seria feito hoje se esses mesmos países tivessem a chance de começar de novo (FEACHEM e OUTROS,1983, p. 63). Examinemos, então, as origens desse modelo. 2.2.PERSPECTIVA HISTÓRICA Nas sociedades primitivas, antes de se tornar civilizado, o homem, o mais inteligente dos animais, depositava suas excretas no solo como a maioria das espécies da Terra (ROCKEFELLER, 2001). Encontram-se exemplos muito conhecidos de saneamento no alvorecer da civilização, quando algumas grandes cidades da época 19 dispunham de sistema de abastecimento de água e de coleta e transporte das excretas. Destacam-se algumas cidades do Império Mesopotâmico de 3500 a 2500 a.C. (GRAY, 1940), a cidade de Mohenjo-daro no território do atual Paquistão entre 3000 e 2500 a.C. (WEBSTER, 1961), o Palácio de Knossos na ilha de Creta entre 2500 e 1700 a.C. (ANGELAKIS, 2005) e os célebres aquedutos e o não menos célebre sistema de drenagem de águas servidas de Roma, Cloaca Máxima, de 350 a.C. a 400 d.C. (HANSEN, [200-?]). Não se sabe o destino final dado a essas águas em algumas dessas civilizações. Entretanto, Gray (1940) sugere que eram utilizadas em irrigação de campos agrícolas, e Angelakis (2005) diz haver evidências de que em 1700 a.C. os esgotos eram reunidos em bacias de onde eram conduzidos, via canais, para campos agrícolas. O valor fertilizante das excretas humanas é reconhecido há séculos nas sociedades orientais e em partes da Europa, onde seu uso agrícola foi praticado até a segunda metade do século XIX. Ainda hoje esse recurso ajuda a manter a fertilidade da terra em algumas regiões fornecendo alimento a grandes populações (HAMLIN, 1980 e ESREY e outros, 2000). O crescimento populacional urbano subseqüente à revolução industrial associado ao domínio da fabricação de tubos e bombas ensejou o desenvolvimento de sistemas públicos de distribuição de água, aumentando o seu consumo e comprometendo a capacidade das fossas. Estas transbordavam, gerando uma situação de grande desconforto e extremo risco para a saúde pública, o que se concretizou através de sucessivas epidemias de cólera que dizimaram expressivas parcelas da população (COOPER, 2001). Por outro lado, o crescimento das cidades aumentou a oferta de biofertilizantes, fazendo com que o preço desse produto despencasse. Os fazendeiros vizinhos às cidades ficavam saturados do produto enquanto que os que estavam mais distante tinham que arcar com um custo de transporte muito alto (HAMLIN, 1980). O mercado de excretas foi definitivamente abalado com a introdução do vaso com descarga hídrica. Inventado no final do século XVI por John Harrington, esse utensílio foi aperfeiçoado no final do século XVII e introduzido 20 comercialmente na Inglaterra em 1810. Essa nova tecnologia teve boa receptividade entre o público mais rico e entre os sanitaristas, para quem o mau cheiro das fossas era a origem dos miasmas e vapores causadores das doenças (HAMLIN, 1980). A disseminação de seu uso, todavia, não foi rápida. Em Milão, em meados do século XIX, havia poucos sanitários com descarga porque os agricultores se recusavam a comprar os dejetos diluídos em água. Na Suécia, o primeiro vaso com descarga foi instalado em 1883, mas sua introdução foi muito lenta devido à proibição contra o uso da água para fins de descarga (CRONSTROM, 1986 apud HOGLUND, 2001). Ocorria também um debate intenso entre autoridades e médicos que defendiam o uso do vaso com descarga e aqueles que temiam a ocorrência de entupimentos e poluição das águas. Como o uso de vasos iria encerrar a utilização de fezes e urina como fertilizantes, representantes dos fazendeiros também se posicionaram contra sua implementação (LUNDGREN, 1994 apud HOGLUND, 2001). A distribuição para os fazendeiros do grande volume de esgoto criado pelo vaso sanitário estava fora de questão, embora alguns sonhassem com uma grande rede de tubos saindo das metrópoles e se distribuindo pela zona rural com cada fazenda tendo uma ligação com um medidor para que o fazendeiro pudesse ser cobrado pelo seu consumo (PARLIAMENTARY PAPERS, 1864 apud HAMLIN, 1980). Quando foi finalmente aceito, o vaso com descarga passou a ser considerado como a solução ideal (HOGLUND, 2001). Otterpohl (2003a) cita uma pesquisa de opinião realizada no Reino Unido em 1997, na qual os vasos sanitários com descarga foram considerados o invento mais importante do ser humano, à frente do computador (2º lugar) e da roda (5º lugar). Entretanto, o lançamento dos esgotos nos cursos d’água gerou outros problemas sociais. A sua proximidade com os locais de captação para abastecimento público fazia desses lançamentos uma ameaça à saúde pública, concretizada em sucessivas epidemias de cólera. Houve conseqüências também no suprimento alimentar em virtude do extermínio de peixes devido à poluição. Os rios já não podiam ser incluídos entre as amenidades urbanas. A navegação ficou comprometida pela formação de bancos de material sedimentado (HAMLIN, 1980). 21 Essa situação motivou a crítica de Victor Hugo aos sistemas de esgoto no livro Os Miseráveis (1862) em que ele analisa as conseqüências da rede de esgoto de Paris para a quebra do ciclo natural dos nutrientes. Em um trecho deste livro pode-se ler o seguinte: Paris lança cinco milhões de francos por ano no mar. E isto não metaforicamente. Como, e de que modo? Dia e noite. Com que propósito? Nenhum. Com que pensamento? Sem pensar nisto. Para o que usa? Para nada. Por meio de que órgão? Por meio de seu intestino. O que é seu intestino? Sua rede de Esgotos... Depois de longa experimentação, a ciência sabe agora que o mais fertilizador e o mais efetivo dos adubos são aqueles do homem [...]. Empregar a cidade para enriquecer os campos seria um sucesso seguro. Se de um lado nosso ouro é adubo, de outro, nosso adubo é ouro. O que é feito com este ouro, adubo? É varrido para o abismo [...]. O sistema presente erra tentando fazer o bem. A intenção é boa, o resultado é triste. Os homens pensam que eles estão saneando a cidade; eles estão emagrecendo a população… Uma rede de esgoto é um equívoco. (VICTOR HUGO, 1862). Outro crítico do saneamento baseado no transporte hídrico foi Pierre Leroux que, em 1834, no início dos investimentos na construção dos sistemas de coleta na Europa, desenvolveu uma teoria que chamou de CIRCULUS, que defendia o reabastecimento da terra segundo um ciclo. Ele alegava que, com o descarte do esgoto doméstico, quebrava-se o ciclo dos nutrientes (REID, 1991 apud BERNDTSSON e HYVONEN, 2002). Nas palavras de Leroux, “O indivíduo é tanto consumidor quanto produtor e o resíduo gerado por ele pode ser utilizado para produzir o alimento que o mantém vivo” (LEROUX). A maioria dessas opiniões apoiava-se nos estudos do químico alemão, Justus Von Liebig, considerado o precursor da reciclagem de sua época. Ele estudou os requerimentos de fertilizantes das plantas e concluiu que o lançamento dos esgotos nos oceanos era uma perda irrecuperável de valiosos recursos naturais. Estudando a história da agricultura no norte da África, Liebig surpreendeu-se com o destino que teve aquela região. No primeiro século da era Cristã, era dali que saiam dois terços dos grãos consumidos em Roma, num fluxo linear que terminava no Mediterrâneo. Isso 22 resultou no empobrecimento dos solos locais, o que levou ao declínio ambiental e econômico da região (GARDNER, 2001). A campanha de Liebig anunciada em seu livro Chemistry in its Application to Agriculture and Physiology (1840), encontrou amplo apoio de todos os lados. Os sanitaristas e as autoridades municipais viram um meio de destinação para as crescentes quantidades de esgoto sanitário. Os moradores das margens dos rios e os pescadores preferiam ver os esgotos indo para a terra em vez de para os rios. Os fazendeiros viram nisso a oportunidade de obtenção de fertilizante a baixo custo. Os líderes nacionais, preocupados com ameaça à prosperidade e à segurança nacional em tempo de guerra que a importação de guano (fezes de pássaro desidratadas) da América do Sul, a um custo elevado, representava, também apoiaram a campanha (HAMLIN, 1980). Para os cientistas da época, havia dois caminhos para a reciclagem dos nutrientes contidos nos esgotos. Um seria removê-los do esgoto por precipitação química. Outro seria encaminhar os esgotos para as terras agrícolas, usando-os para irrigação (HAMLIN, 1980). Todos que eram favoráveis à precipitação divulgavam uma receita mágica para extrair dos esgotos suas substâncias fertilizantes, deixando a água limpa para ser lançada em rios e lagos. O precipitado após secagem poderia ser vendido como fertilizante. Tão atrativa era essa visão para os empresários (produzir fertilizante e purificar a água) que, apenas na Grã Bretanha, entre 1850 e 1890, 480 patentes foram registradas (HOSMER, 1890 apud HAMLIN, 1980). A mais famosa e, provavelmente, a de maior sucesso foi a controvertida técnica ABC (alumen, blood e clay), que produzia um fertilizante sob o nome comercial de Native Guano, e utilizava alúmen, argila e sangue de vaca, sal, magnésia, permanganato de potássio e outros constituintes. Processos desse tipo produziam fertilizantes comercializáveis, mas não resolviam o problema da poluição dos rios, visto que também lançavam grandes concentrações de matéria orgânica dissolvida nos mesmos. Isso levou as municipalidades a optarem pela outra via, a irrigação de fazendas com esgoto (HAMLIN, 1980). Operada de forma apropriada, as fazendas cumpriam bem as tarefas de aproveitar os fertilizantes do esgoto e remover as bactérias causadoras de doenças, além de produzir colheitas comercializáveis. Entretanto, assim como 23 os químicos, os defensores dessa corrente não entenderam o papel dos microrganismos na decomposição da matéria orgânica contida nos esgotos, e as fazendas tornaram-se fontes de mau cheiro. Mesmo quando funcionava, essa alternativa requeria grandes áreas de terra que poderiam ser mais bem utilizadas, do ponto de vista econômico, na expansão da cidade (HAMLIN, 1980). Durante a batalha judicial sobre a responsabilidade dos bancos de lodo formados no rio Tâmisa, técnicos ingleses tomaram conhecimento do trabalho científico desenvolvido por dois cientistas franceses da área agronômica: Teophile Schloesing e Achille Muntz. Estes dois pesquisadores ficaram maravilhados com a forma com que os solos transformam amônia em nitrato. Eles despejavam esgoto fresco contendo amônia em uma camada de alguns centímetros de areia. Inicialmente, os esgotos saíam sem qualquer transformação; mas, dia a dia, enquanto eles continuavam as aplicações de esgoto na areia, ia ficando claro que os esgotos se tornavam, aparentemente, mais purificados, e a amônia se transformava em nitrato. Após algumas semanas, nenhuma amônia era observada no efluente do filtro. Eles então aplicaram clorofórmio no filtro e notaram que suas propriedades nitrificantes cessaram e o esgoto voltou a sair sem alteração de suas características. Eles concluíram que o poder transformador do filtro de areia era devido a alguma coisa viva, alguma colônia de vida microscópica que morria com a aplicação de clorofórmio (SCHLOESING e MUNTZ, 1877 apud HAMLIN, 1980). Estes cientistas, na realidade, deram seqüência aos estudos do químico alemão Alexander Mueller, que em 1865 demonstrou que em colunas de filtração o esgoto poderia ser purificado por meios biológicos, processo patenteado alguns anos mais tarde. Apesar da natureza inquestionavelmente avançada da descoberta, nem a patente nem o conceito recebeu maior atenção (PETERS e ALLEMAN, 1982). Estava inaugurada a era moderna do tratamento de esgoto. Agora os esgotos poderiam ser tratados de forma efetiva e a custo relativamente baixo, sem a dependência de grandes áreas. Ironicamente, tão logo se aprendeu como tratar os esgotos, se esqueceu de seu valor como fertilizante (HAMLIN, 1980). 24 Nessa época, novas fronteiras agrícolas nas Américas e na Austrália eram incorporadas ao mercado mundial e novos meios de transporte asseguravam a chegada de seus produtos à Europa. Pouco depois, o processo de produção de fertilizantes nitrogenados artificiais foi descoberto. Embora consumindo imensas quantidades de energia, essa produção encontrava viabilidade no baixo custo da energia elétrica. Essa conjunção de fatores na virada do século XIX para o século XX lançava uma pá de cal nas campanhas pela reciclagem dos esgotos (HAMLIN, 1980). 2.3.A CRISE DO SANEAMENTO O acesso ao serviço de abastecimento de água e saneamento é uma necessidade fundamental, sendo vital para a dignidade e a saúde pessoais. Os benefícios, econômicos inclusive, são bem documentados. É de fundamental importância para as camadas mais pobres a economia de tempo e a maior conveniência e dignidade proporcionadas pelo acesso à água e ao saneamento, que se constitui, desse modo, um fator decisivo na melhoria do estado de saúde e na produtividade econômica, sendo, conseqüentemente um componente essencial em qualquer esforço de redução da pobreza (WHO, UNICEF e WSSCC, 2000). A situação mundial do saneamento atingiu uma condição de crise, reconhecidamente, há cerca de 20 anos, quando a Cúpula Mundial para a Criança, em 1990, definiu como meta a universalização do serviço de saneamento para o ano 2000. Com um esforço significativo, durante a década de 1990, a cobertura com serviço de saneamento passou de 51 para 61%, incluindo 1 bilhão de pessoas no atendimento com esse serviço (ECOSANRES, 2005). No início de 2000, portanto, havia 2,4 bilhões de pessoas sem acesso ao serviço de saneamento – definido na metodologia adotada no levantamento como sendo a conexão a uma rede pública de esgoto, a um tanque séptico, a uma latrina com uso reduzido de água, a uma privada de buraco ou a uma privada de buraco ventilada (WHO, UNICEF e WSSCC, 2000). Tecnicamente, porém, mesmo o acesso a um serviço assim definido não resolve o problema de saneamento ambiental, porque as privadas de 25 buraco e tanques sépticos não higienizam as excretas e podem contribuir para a poluição das águas subterrâneas. Os sistemas com transporte hídrico por sua vez nem sempre estão ligados a estações de tratamento e estas quando existem quase não removem os organismos patogênicos e nutrientes antes do lançamento nos corpos d’água. Assim, muito mais de 2,4 bilhões de pessoas precisam ter acesso a um serviço efetivo de saneamento (ECOSANRES, 2005) Essa situação contribui para perpetuar o ciclo de doenças e agredir os frágeis ecossistemas aquáticos pela sobrecarga de nutrientes e a decorrente eutrofização. Como resultado, o quadro de saúde pública mundial ostenta os números apresentados a seguir, retirados de Global Water Supply and Sanitation Assessment – 2000 Report, que dão uma idéia da dimensão do problema: • Aproximadamente 4 bilhões de casos de diarréia por ano causam 2,2 milhões de morte, principalmente entre crianças abaixo de 5 anos; • Os vermes intestinais infectam 10% da população nos países em desenvolvimento; • Estima-se que 6 milhões de pessoas ficaram cegas em decorrência de tracoma, em uma população de risco de 500 milhões; • Estima-se que 200 milhões de pessoas no mundo estão infectadas com esquistossomose; • Na China, Índia e Indonésia, morrem duas vezes mais pessoas de diarréia do que de AIDS (WEHAB, 2002); • Em qualquer momento, metade dos leitos hospitalares do mundo está ocupada por pacientes com doenças de veiculação hídrica (WEHAB, 2002). Para superar esses problemas, as Nações Unidas, durante a Cúpula do Milênio em Nova Iorque, em setembro de 2000, estabeleceu uma série de 8 Objetivos de Desenvolvimento para o Milênio (ODM). Estas metas objetivam alcançar a erradicação da pobreza e a promoção do desenvolvimento sustentável através do rápido e crescente atendimento das necessidades básicas como água potável, energia, cuidados médicos, segurança alimentar e 26 a proteção da biodiversidade. A Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, realizada em Johannesburg, África do Sul, em 2002, voltou aos objetivos fixados pelo ODM com relação ao abastecimento de água. Estes foram ampliados para incluir o serviço de saneamento, adotandose como metas aquelas indicadas pelo Water Supply and Sanitation Collaborative Council – WSSCC (Conselho Colaborativo para o Abastecimento de Água e Saneamento), durante o Segundo Fórum Mundial da Água em março de 2000, e apresentadas no documento Vision 21: A shared vision for hygiene, sanitation and water supply and a framework for action. A meta internacional atual é: • Reduzir à metade até 2015 o percentual de pessoas não atendidas com serviços adequados de abastecimento de água e de saneamento; • Atingir até 2025 a universalização do atendimento desses serviços. Um encontro informal do Banco Mundial em Paris, em maio de 2003, tentou avaliar os avanços conseguidos até aquela data tendo em vista alcançar os objetivos de 2015. Esta reunião concluiu que o progresso no sentido de alcançar o objetivo do serviço de saneamento, conforme definido em Johannesburg, foi o mais lento de todos já obtidos, havendo um hiato enorme entre a cobertura planejada e a realidade. 2.4.TECNOLOGIAS LIMPAS APLICADAS AO SANEAMENTO Para alcançar a sustentabilidade no campo do saneamento ambiental e poder atingir as metas do milênio, é necessário um novo paradigma. Segundo Esrey (2000), a resposta está em se projetar sistemas que não gerem resíduos. O resíduo não existe na natureza, este é um conceito que está apenas em nossas cabeças: todo resíduo de um organismo é alimento para outro. “Nossos sistemas devem imitar a natureza”. Foi esta a conclusão unânime de um grupo de peritos de várias organizações internacionais envolvidas em saneamento ambiental que se reuniu em fevereiro de 2000 em Bellagio, Itália. O grupo declarou ser necessário uma radical revisão de políticas convencionais e práticas de saneamento no mundo e formulou os 27 quatro Princípios de Bellagio que devem dar suporte a qualquer nova abordagem em saneamento ambiental (EAWAG e SANDEC, 2000). • Dignidade humana, qualidade de vida e segurança ambiental em nível doméstico devem estar no centro da nova abordagem, que dever ser responsável e levar em conta as necessidades e demandas no cenário local e nacional; • Alinhado com os princípios da boa governança, a tomada de decisão deve envolver a participação de todos os interessados, especialmente os consumidores e provedores de serviços; • Resíduos devem ser considerados um recurso e o seu gerenciamento deve ser holístico e fazer parte do gerenciamento integrado dos recursos hídricos e fluxo de nutrientes; • O domínio em que os problemas de saneamento ambiental são resolvidos deve ser mantido do menor tamanho prático (casa, comunidade, cidade, distrito, bacia hidrográfica) e os resíduos diluídos o mínimo possível; Estes princípios também foram endossados pelos membros do WSSCC (Conselho Colaborativo para o Abastecimento de Água e Saneamento) durante seu Foro Global em novembro de 2000, em Foz do Iguaçu, Brasil. De acordo com o Princípio de Bellagio nº. 3, o novo paradigma em saneamento ambiental deve estar baseado em abordagens de ecossistema e no fechamento de ciclos no fluxo de materiais em lugar de tecnologias fim de tubo lineares, de ciclo aberto, caras e intensivas em energia. O ecossaneamento pretende atender a essa demanda. Ele se baseia em uma visão global de fluxos de materiais como parte de um sistema de gerenciamento de esgoto econômica e ecologicamente sustentável, moldado às necessidades dos usuários e às respectivas condições locais. O princípio básico do ecossaneamento é fechar o ciclo entre saneamento e agricultura objetivando: • Reduzir os riscos de saúde relacionados ao saneamento, à água contaminada e ao resíduo; 28 • Melhorar a qualidade das águas superficiais e subterrâneas; • Melhorar a fertilidade do solo; • Otimizar o gerenciamento de nutrientes e de recursos hídricos. Em abordagens de ecossaneamento, o princípio básico é assegurar o fechamento do ciclo de nutrientes entre o saneamento e a agricultura, buscando otimizar a recuperação dos nutrientes, do material orgânico e da água que normalmente são descartados através de sistemas de esgotamento convencionais. Isto contribui então para salvaguardar a fertilidade do solo e melhorar a sua estrutura e capacidade de retenção de água, enquanto reduz o consumo de recursos finitos fornecendo uma alternativa natural em relação aos fertilizantes químicos (ver Figura 2). Melhoria da camada de humus Solo Alimentos Energia Potássio Fósforo Nitrogênio Carbono Água de Banho Reduzir demanda de água Água Cinza Águas usadas o icn Lixo â Orgânico rg o n io xi Tratamento L Água de Chuva Infiltração Biológico Reciclagem P < 1% N < 1% Pouco Carbono Figura 2: O ecossaneamento e o ciclo dos nutrientes Fonte: OTTERPOHL, 2003a A gestão da demanda, em contraposição à gestão da oferta, o uso de tecnologias que promovam a economia de água, o reúso da água cinza para descarga de vasos sanitários ou outros usos menos nobres e o aproveitamento da água de chuva do telhado são soluções adotadas no ecossaneamento. A redução do consumo doméstico de água é uma maneira bastante efetiva para a redução da captação de águas naturais, do volume de esgoto e do porte do tratamento. Os benefícios da conservação da água incluem a redução dos custos com o abastecimento de água e esgotamento sanitário, 29 além de reduzir o impacto na bacia onde a água é captada (GIJZEN, 1997; VAN DER VLEUTEN-BALKEMA, 2003). O efetivo reúso dos recursos contidos nas excretas e no lixo orgânico deve considerar também o componente da energia (GIJZEN, 1997, VAN DER VLEUTEN-BALKEMA, 2003). Por exemplo, o tratamento dos esgotos em reatores anaeróbios de alta taxa, além de não requerer energia para aeração, produz mais ou menos 375 L de gás metano por kg de DBO removida (GIJZEN, 1997). Entretanto, a geração e o aproveitamento do biogás tornam-se menos interessantes à medida que aumenta a diluição do esgoto. Desse modo, a mistura das excretas com a água cinza dificulta esse aproveitamento. Os esgotos, com o elevado conteúdo de nutrientes que possuem, têm como destino natural a produção agrícola, fechando o ciclo dos nutrientes. Entretanto, o alto risco decorrente da presença de organismos patogênicos impõe a necessidade de um tratamento prévio para a higienização do recurso antes da sua utilização. Esse tratamento pode ter como primeira etapa a digestão anaeróbia para redução da carga orgânica e sua transformação em energia, conforme mencionado acima, e as etapas posteriores adequadas ao uso pretendido. Uma estratégia freqüentemente aplicada na prática em projetos de ecossaneamento é separar os fluxos e o tratamento de fezes, urina e água cinza, o que minimiza o consumo da água potável necessária para dar descarga e transportar resíduos. Isto também tem vantagens importantes tendo em vista que as frações diferentes têm diferentes características e podem ser tratadas de acordo com as exigências do reúso específico. A coleta, o tratamento e o reúso, em separado, das diversas correntes oferecem novas possibilidades para soluções mais específicas e eficientes do ponto de vista econômico. Os fluxos de esgoto separados têm sido caracterizados como exposto a seguir: Água preta - uma mistura de fezes e urina com ou sem esgoto de chuveiros, lavadoras de roupa etc., Água amarela - urina só ou misturada com água 30 Água marrom - água preta sem urina Água cinza - água doméstica sem fezes e urina A urina, ou água amarela contém a proporção mais alta de nutrientes naturais (nitrogênio, fósforo e potássio), os quais estão diretamente disponíveis a plantas, sendo igualmente efetivos como fertilizantes minerais. A urina contém aproximadamente 90% do nitrogênio total, 55% do fósforo total e uma porção significativa do potássio contido na excreta humana. Uma separação parcial de fluxo e uso da urina é particularmente aconselhável devido ao seu baixo volume e à alta concentração de nutrientes que contém. Para obter a fração de água amarela, dispositivos tais como vasos separadores de urina ou mictórios sem água podem ser usados. A água cinza de lavagem e enxágüe de roupa, chuveiros etc., embora representando a fração maior do fluxo total de águas usadas, tem um conteúdo muito baixo de nutriente. Conseqüentemente, pode ser tratada até a obtenção de uma alta qualidade a partir do uso de técnicas simples como filtros de pedregulho, filtros lentos, filtros intermitentes, wetlands construídos, ou processos mais mecanizados como, por exemplo, lodo ativado. A água cinza tratada pode ser usada em irrigação agrícola (especialmente em regiões de águas escassas), mas também pode ser usada para descarga em vasos sanitários, lavagem de piso e de carros ou recarga de aqüífero. A Figura 3 Volume l/P*ano mostra as principais características das três frações do esgoto doméstico. Água cinza 25.000-100.000 Cargas anuais Kg/ano Urina ~ 500 Fezes ~ 50 (opção: adicionar ao lixo orgânico) N ~ 4-5 ~3% P ~ 0,75 ~ 10 % ~50 % ~ 40% K ~ 1,8 ~ 34 % ~54 % ~ 12% ~ 41 % ~12 % ~ 47% COD ~ 30 Tratamento reúso/ ciclo da água ~87 % ~ 10% Tratamento Planta de biogás Compostagem Fertilizante Condicionador do solo Figura 3: Características das frações do esgoto doméstico Fonte: OTTERPOHL, 2003b 31 As fezes humanas obtidas depois da separação apresentam importantes qualidades para a melhoria do solo (estrutura e aumento da capacidade de retenção de água). Elas podem ser tratadas, se necessário, junto com a fração orgânica de resíduo sólido e de acordo com as condições locais (clima, demanda de energia e aceitação sócio-cultural etc.) por meio dos processos de desidratação, compostagem, estabilização ou fermentação. Assim, a matéria orgânica e os nutrientes contidos nas fezes podem ser usados, de forma concentrada e higienicamente segura, como um fertilizante seco, composto ou fertilizante fluido. Dependendo do tipo de tratamento, podese produzir energia na forma de biogás durante a digestão anaeróbia. O termo "reúso agrícola" aqui utilizado refere-se a uma extensa gama de opções de reúso produtivo, ecossistemicamente orientado. Isto inclui reúso no que poderia ser considerada a agricultura tradicional, isto é, em campos de cultivo onde culturas como cereais são desenvolvidas, mas também silvicultura, aqüicultura, hidroponia, mercado de jardinagem, horticultura etc. O ecossaneamento é, portanto, uma abordagem holística para o gerenciamento do saneamento e do abastecimento de água e representa uma quebra com as tecnologias de fim de tubo de baixo desempenho do passado: o reconhecimento da excreta humana e da água doméstica usada como um recurso que deve estar disponível para o reúso. Sendo uma alternativa integradora, uma marca registrada do ecossaneamento é a sua abordagem interdisciplinar, que vai além das disciplinas nos limites estreitos de abastecimento de água doméstica e aspectos tecnológicos para focalizar assuntos como agricultura, sociologia, higiene, saúde, urbanismo, economia e promoção de pequena empresa etc. Essa abordagem intersetorial e interdisciplinar busca contribuir para o gerenciamento integrado da água e outros recursos naturais. 2.5.UMA FASE INTERMEDIÁRIA Mudanças como as que são requeridas com separação de correntes na fonte, utilização de sanitários secos, vaso sanitário com separação de urina e fezes etc. estão sujeitas a uma evolução que pode ser lenta, visto que dependem de aspectos culturais. Desse modo, necessita-se de tecnologias de tratamento do esgoto convencional adaptáveis a pequenas comunidades, 32 chegando ao nível de domicílio, que possibilitem o reúso seguro da água e dos nutrientes. Nesse contexto, os filtros intermitentes em leito de areia (FILA) apresentam-se como uma opção tecnológica a ser desenvolvida na medida em que produzem um efluente com DBO e SST (Sólidos Suspensos Totais) abaixo de 10,0 mg/l, turbidez menor que 2 NTU e são ainda capazes de remover de 2 a 4 log de coliformes, sem perda de nutrientes por desnitrificação. Além disso, requerem uma área de 5 a 10 vezes menor que as lagoas de estabilização, podendo se adequar melhor em locais com menor disponibilidade de terreno. Para uma boa operação, o FILA precisa de um pré-tratamento que remova principalmente os sólidos maiores, o que evita encurtamento da carreira de filtração. Desse modo, constitui-se num excelente “parceiro” num trem de tratamento com reatores do tipo UASB, Up-Flow Anaerobic Sludge Blanket, cuja tecnologia é amplamente conhecida, dominada e utilizada entre nós. A associação UASB-FILA tem grande potencial de ecoeficiência numa perspectiva de reúso, por exemplo, com hidroponia. O UASB produziria gás metano, a ser utilizado para geração de energia; um lodo estável, que poderia ser utilizado como condicionador do solo, e um efluente com uma carga orgânica e de sólidos reduzida em cerca de 80% a ser polido em um FILA para redução da carga patogênica, oxidação do nitrogênio para uma forma mais assimilável e para a redução de SST, turbidez e DBO. Um efluente com essas características poderia ser utilizado num sistema de hidroponia com recirculação, fechando assim todos os ciclos: energia, água e nutrientes. Dentre as vantagens e os benefícios que podem advir dessa associação, destacam-se: 1. A ocupação de uma área pequena, o que permite maior flexibilidade na escolha de sítios para implantação de ETE’s (Estação de Tratamento de Esgotos); 2. A adequabilidade dessa tecnologia a populações pequenas; 33 3. Efluente de bom aspecto, com baixa turbidez e baixa concentração de sólidos suspensos, evitando-se as reações de objeção que hoje se verificam; 4. Possibilidade de utilização para readaptação de ETE’s que precisem atender a padrões mais exigentes; 5. Possibilidade de, através da escolha adequada de granulometria, polir efluentes de lagoas para redução de algas/sólidos. 3.OBJETIVOS 3.1.GERAL O objetivo geral desta pesquisa é estudar o comportamento de filtros intermitentes com leito de areia (FILA) na remoção de organismos patogênicos de efluentes de reatores de manta de lodo tipo UASB tratando esgotos domésticos, visando à promoção de seu reúso. A produção de um efluente com características bacteriológicas dentro de um padrão aceitável e com os nutrientes preservados o tornaria próprio não só para ser reutilizado em agricultura em geral e hidroponia em particular – possibilitando assim o desenvolvimento de uma agricultura urbana ou periurbana –, mas também para o reúso em outros fins urbanos tais como: descarga de vasos sanitários, paisagismo e limpeza em geral. 3.2.ESPECÍFICOS Os objetivos específicos deste trabalho são: • Verificar a influência da freqüência de aplicação na melhora da qualidade bacteriológica e físico-química do efluente de filtros intermitentes em leito de areia; • Verificar se os tamanhos efetivos na faixa de areia média a grossa possibilitam o grau de tratamento necessário ao reúso do esgoto no que tange a coliformes fecais, à carga orgânica e a sólidos suspensos; 34 • Verificar a relação entre o aumento do número de aplicações e as granulometrias mais grosseiras (maior tamanho efetivo) na eficiência de FILAs, o que permitiria o uso de maiores cargas hidráulicas diárias; • Verificar a qualidade do efluente final no que tange a padrões estéticos (aparência e odor) que possibilitem o uso da água tratada mais perto da fonte; • Verificar a presença de nutrientes para uso em produção agrícola e aqüícola; 4.A FILTRAÇÃO INTERMITENTE EM LEITO DE AREIA Os filtros intermitentes em leito de areia – FILA são reatores aeróbicos de leito fixo onde ocorrem processos físicos e biológicos e cujo desenvolvimento tem uma história de mais de 100 anos (USEPA, 2000; CRITES E TCHOBANOGLOUS, 1998). Têm sido recomendados tanto para tratamento de esgotos domésticos, para populações desde 4.000 habitantes (AGENCE DE L’EAU, 1993) até 10.000 habitantes (ANDERSON e OUTROS, 1985), quanto para o tratamento de efluentes de agroindústrias como queijarias, vinícolas etc. (SCHMITT, 1989; MENORET, 2001). Essas unidades proporcionam tratamento secundário avançado, ou terciário, para esgotos decantados ou efluentes de tanques sépticos (ANDERSON e OUTROS, 1985; USEPA, 2000). Os FILAs são utilizados também na remoção de sólidos suspensos e algas em efluentes de lagoas de estabilização (HARRIS e OUTROS, 1977; COWAN e MIDDLEBROOKS, 1980; MIDDLEBROOKS, 1983). Em condições normais de operação, no que concerne a: carga orgânica, sólidos suspensos, cor e organismos indicadores, os FILAs podem produzir efluentes de alta qualidade; significativamente melhores do que os que são obtidos com aeração prolongada e definitivamente superiores aos de lagoas de estabilização facultativas, requerendo uma área 5 vezes menor que essas (ANDERSON e OUTROS, 1985). 35 4.1.HISTÓRICO DA FILTRAÇÃO INTERMITENTE Apesar da antiga tradição de aplicação de esgotos e águas no solo, os mecanismos de sua purificação não eram entendidos como processos biológicos até o trabalho de Alexander Mueller, em 1865, que demonstrou, em coluna de filtração, que a purificação ocorria com o concurso de organismos vivos (PETERS e ALLEMAN, 1982). Ao estudar, a nitrificação da amônia em colunas de areia, os pesquisadores Schloesing e Muntz confirmaram essa descoberta em 1877 (HAMLIN, 1980). Essa falta de conhecimento das limitações do processo levou ao colapso muitos sistemas, em decorrência de sobrecargas hidráulicas e orgânicas (JEWELL e SEABROOK, 1979). Outros fatores que impactaram negativamente o desenvolvimento do tratamento por aplicação no solo foram: a importação de fertilizantes orgânicos da América do Sul, a descoberta do processo de fabricação de superfosfato a partir de rochas fosfáticas e a criação de animais estabulados, que recebiam alimentos concentrados e produziam abundante quantidade de fertilizante (JEWELL e SEABROOK, 1979). A filtração intermitente surgiu em 1870, na Inglaterra, como a primeira tentativa exitosa de converter o tratamento de esgoto com uso do solo em um processo controlado. Foi desenvolvida por Sir Edward Frankland, visando superar a dificuldade da integração, de forma permanente, entre a necessidade de purificação dos esgotos e o seu uso agrícola. Em seu trabalho experimental, ele usou cilindros de vidro preenchidos com materiais que variaram da brita grossa ao solo turfoso. Frankland adotou uma freqüência de duas aplicações diárias e manteve a operação com sucesso por mais de quatro meses. Embora o desempenho do filtro tenha sido creditado exclusivamente a processos físico-químicos, ficou estabelecido o conceito da filtração intermitente, qual seja, de manter um período de descanso e aeração entre duas aplicações de esgoto (JEWELL e SEABROOK, 1979, PETERS e ALLEMAN, 1982). Em 1870, a recomendação para o carregamento, com esgoto bruto, de filtros intermitentes era de 2300 habitantes por acre (1,7m2/hab). Esse número caiu para 1000 habitantes por acre (4,0m2/hab) em 1880. Cargas maiores eram aceitas pelas autoridades desde que o pré-tratamento fosse 36 adequado, chegando a 4300 habitantes por acre (1,0m2/hab) (JEWELL e SEABROOK, 1979). Os conceitos de Frankland teriam caído no esquecimento se, no final do século XIX, o Massachusetts State Board of Health (MSBH) não tivesse se interessado pelo assunto. Esse interesse foi materializado na criação de uma estação experimental, em Lawrence, cujo objetivo era realizar pesquisas sobre o uso de areia e brita no tratamento de esgotos, segundo o conceito proposto poucos anos antes por Frankland. Como resultado do trabalho, em 1876, foi construído em Lenox o primeiro Filtro Intermitente de Areia para atendimento comunitário. Entre 1891 e 1937, o MSBH monitorou o desempenho de mais de 26 sistemas de tratamento baseados em filtração em areia atendendo a comunidades (CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998). Esses filtros iniciaram a operação entre 1891 e 1928. Em 1903, 12 desses filtros serviam a populações de menos de 10 mil habitantes e, em 1935, a população média servida era de 23 mil habitantes. A relação média entre a população servida e a área de filtro era de 7,6 m2/hab (variando de 0,8 a 18 m2/hab) em 1903, caindo para 4,1 m2/hab (0,8 a 9,0 m2/hab) em 1937. O nível de pré-tratamento variou entre esses sistemas de esgoto bruto a precipitação química. A profundidade dos filtros utilizados variou de 0,9 a 2,4 m, com média de 1,45 m. O tamanho efetivo das areias utilizadas variou de 0,06 a 0,34 mm e o coeficiente de uniformidade, entre 2,9 e 14,6, sendo que apenas três sistemas utilizavam areia com coeficiente de uniformidade menor que 4,0. A carga hidráulica aplicada estava entre 19,6 a 113,1 l/m2 dia. A DBO5 (demanda bioquímica de oxigênio no 5º. dia) efluente foi consistentemente abaixo de 20,0 mg/l e todos os sistemas mostraram grande aptidão para nitrificação. Durante mais de 30 anos, os 26 sistemas funcionaram sem problemas de manutenção. O uso limitado do filtro intermitente que hoje se observa não deve, portanto, ser atribuído à qualidade do efluente ou à longevidade dos mesmos (MANCL e PEEPLES, 1991). O crescimento da população e o desenvolvimento de sistemas de tratamento como filtro biológico e lodo ativado levou a substituição dos filtros, a despeito de seu ótimo desempenho. Em 1920, o Public Health Servive (USA) publicou um relatório descrevendo o tratamento de esgotos para residências e 37 pequenas comunidades, no qual o filtro intermitente de areia aparecia de forma destacada juntamente com os dados acerca de seu desempenho (CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998) (ver Figura 4). Saída de efluente 8 ft 8 ft 4 10 ft 10 ft Leito de areia Leito de areia Parede Câmara de dosagem Entrada a: Vista em planta 22 in 25 in 38 in Entrada 35 in 6 ft b: Seção transversal 41 in Saída de efluente Figura 4: Filtro Intermitente Modelo USPHS 1920 Fonte: CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998. À medida que o filtro biológico percolador era aperfeiçoado, havia um declínio do interesse pela filtração intermitente. Isso ocorreu até os anos 1950, quando estudos em escala piloto realizados na Universidade da Flórida utilizaram filtros intermitentes com menor profundidade e areia com 38 granulometria mais grossa do que a que foi usada em Massachusetts. A areia utilizada tinha tamanho efetivo de 0,26 a 0,46 mm e profundidade de leito de 46 a 76 cm (VENHUIZEN, 2005). O interesse na retomada do desenvolvimento desse sistema aconteceu em virtude da necessidade de instalações de baixo custo, robustez e eficiência para tratamento dos esgotos de pequenas comunidades (ANDERSON e OUTROS, 1985). Na Europa, a retomada do conceito da filtração intermitente ocorreu no início da década de 1980, com a instalação da primeira unidade de infiltração/percolação em Port-Leucate na França em 1981. Onze anos mais tarde, mais de sessenta unidades estavam em operação no território francês, 80% das quais tratando esgotos de comunidades de menos que 4000 habitantes. Em geral, essas unidades recebiam esgotos decantados, embora em alguns casos recebessem efluente de lodo ativado para tratamento terciário, neste caso serviam comunidades de até 50 mil habitantes (BRISSAUD e LESAVRE, 1993). 4.2.MECANISMOS DE REMOÇÃO Os FILAs são reatores aeróbios de leito fixo onde ocorre um tratamento em duas etapas. Uma etapa de retenção, envolvendo mecanismos físicos, e uma etapa de depuração, na qual predominam mecanismos biológicos. Processos físicos, químicos e biológicos ocorrem simultaneamente em um filtro, em algum grau. Filtração, sedimentação, impacto inercial, interceptação, adesão, floculação, difusão, adsorção, absorção e atividade biológica são mecanismos de remoção de contaminantes na filtração de esgotos em areia. A filtração envolve a retenção mecânica. O impacto inercial, a interceptação e a adesão ocorrem quando as partículas, ao se moverem através do filtro, se chocam contra grãos do meio, sendo então removidas. As partículas se movendo entre os poros também se chocam com outras formando flocos que são posteriormente removidos por outros mecanismos. A difusão é importante na remoção de partículas muito pequenas, como os vírus. Ela ocorre por causa dos pequenos interstícios que existem no meio poroso e porque o fluxo é laminar. A adsorção física dos constituintes ocorre na superfície do meio filtrante devido a forças eletrostáticas, eletrocinéticas e de 39 Van der Waals; já a adsorção química ocorre devido à ligação e interação química entre esses constituintes e o meio (ANDERSON e OUTROS, 1985; CRITES e TCHOBANOGLOUS 1998; MENORET, 2001). Embora processos físicos tenham papel importante entre os mecanismos de remoção de um filtro, o sucesso do tratamento de esgotos por filtração intermitente depende fundamentalmente dos processos biológicos que ocorrem no filtro, sendo as bactérias os principais organismos atuantes, ainda que exista uma larga faixa de níveis tróficos, que vai de bactérias a animais multicelulares, inclusive metazoários (CALAWAY, 1957). 4.2.1.Mecanismos Físicos Os mecanismos físicos de remoção consistem na retenção por filtração mecânica, interceptação e adsorção (ANDERSON e OUTROS, 1985; BANCOLÉ, 2001; LEFEVRE, 1988; SCHMITT, 1989; MENORET, 2001). Filtração A filtração propriamente dita é um fenômeno essencialmente físico que depende do tamanho das partículas e da granulometria do leito filtrante. A fração das partículas retidas cresce na medida em que o tamanho dos grãos que compõem o leito se reduz. A matéria em suspensão mais grosseira é retida na superfície do filtro por ação meramente mecânica. As partículas menores são retidas entre os grãos. Teoricamente, uma partícula de qualquer tamanho pode ser retida em um meio poroso, uma vez que no contato entre os grãos o tamanho do poro se reduz até se anular. Na prática, entretanto, esse fenômeno só adquire importância quando o tamanho das partículas se aproxima do tamanho médio dos poros (SCHMITT, 1989). Bower, apud Stevik e outros (2004), relata que a filtração ocorre quando o diâmetro das partículas é maior que 0,2xd10, ou seja, 20% do tamanho efetivo. A partir de considerações geométricas, Herzig e outros (1970, apud Schmitt, 1989), determinaram relação entre o volume de partículas depositadas e o volume total do leito filtrante, s, através da equação abaixo: d σ = 0,5.(1 − φ o ).π .Z . dg 2 2 d − 1 . 1 + d g 0,5 Equação 1 40 Onde, ∅o= porosidade total inicial Z= numero de coordenação, indicador da interconexão dos poros d= diâmetro médio das partículas em suspensão dg= diâmetro médio dos grãos do meio leito filtrante Corapcioglu e Haridas (1984) adotam para sigma o valor de 1% como discriminante da importância da retenção por filtração. Encontrar valores de sigma menores que 1% permitiria afirmar que esse fenômeno é desprezível. Valores de sigma de 1% são obtidos para tamanhos de partícula de 9,0 µm para areias de 0,1 mm e de 55,0 µm para areias com diâmetros de 1,0 mm. Interceptação A interceptação ocorre sempre que uma partícula suspensa entra em contato com os grãos que formam o leito filtrante. Yao (1971) distingue três mecanismos: a interceptação propriamente dita, a sedimentação e a difusão, conforme mostrado na Figura 5. A interceptação propriamente dita é uma forma por meio da qual as partículas de matéria em suspensão podem colidir com os grãos do leito filtrante se forem conduzidas mediante uma linha de fluxo muito próxima do grão, de modo que rocem a superfície deste. Quanto maior a partícula, mais factível será a sua interceptação (cf. linha A da Figura 5). Se a densidade da partícula é maior que a da água, a sedimentação ocorre como resultado da força da gravidade atuando sobre a partícula. Essa força (a gravidade) vai produzir a componente vertical da resultante da velocidade de condução dessas partículas. O efeito combinado do peso das partículas submersas e da força de arraste do fluxo pode causar a colisão das mesmas com os grãos do leito. A influência da sedimentação é mais notável para partículas maiores que 10 µm (cf. linha B da Figura 5). A energia térmica dos gases e líquidos se manifesta como um movimento desordenado de suas moléculas, sujeitando a um bombardeio 41 randômico as pequenas partículas em suspensão, o que resulta no já conhecido movimento Browniano das partículas; o termo difusão é utilizado para descrever este processo, representado pela letra C na Figura 5. TRAJETÓRIA DE PARTIDA V0 LINHA DE CORRENTE B COLETOR A C A INTERCEPTAÇÃO B SEDIMENTAÇÃO C DIFUSÃO Figura 5: Mecanismo básico do transporte da água na filtração Fonte: YAO, 1971 Yao e outros (1971) definem a eficácia de interceptação, η, entre um grão do meio filtrante e as partículas em suspensão, conforme a Equação 2. Equação 2 η = η d + ηi + η g K .Tk µ e .d g .d .v η d = 4,04.Pe− 2 / 3 = 0,9. Equação 3 2 d ηi = 1,5. dg ( ρ p − ρ ).g.d 2 ηg = 18.µ e .v Onde, ηd= eficiência de interceptação por difusão, ηi = eficiência de interceptação propriamente dita, Equação 4 Equação 5 42 ηg = eficiência de interceptação por sedimentação, η = eficiência de interceptação global, Pe= número de Peclet, K= constante de Boltzman, Tk= temperatura, K µe= viscosidade dinâmica da água, ρ= massa específica da partícula, v= velocidade de escoamento da água. Adesão Enquanto não se produz a aderência da partícula aos grãos do leito filtrante, não há qualquer remoção (CÁNEPA de VARGAS, 1992). A fração de partículas que se aderem em relação ao número de colisões é denominada pelo coeficiente α. A aderência ocorre através do processo físico-químico de adsorção, que compreende três mecanismos: • As forças de atração e de Van der Waals que, segundo Herzig (1970), apud Schmitt (1989), desempenham um papel mais importante para as partículas de tamanho inferior a 0,1 µm; • Adsorção eletrostática devido às cargas elétricas da partícula e dos grãos do leito filtrante; • Adsorção devido às interações químicas entre a partícula e os grãos do leito filtrante. Cánepa de Vargas (1992), em uma revisão dos mecanismos de remoção em filtros lentos de areia, atribui um papel fundamental na aderência das partículas ao biofilme que se forma. Na Equação 6, ela atribui a α, um valor igual zero enquanto não se forma o biofilme. Crites e Tchobanoglous (1998) também atribuem papel fundamental ao biofilme na remoção tanto da matéria coloidal quanto da solúvel, além dos microrganismos. O papel do biofilme ficou também demonstrado na remoção de vírus (EMERICK e OUTROS, 1999; SÉLAS e OUTROS, 2002). 43 Segundo Yao e outros (1971), o desempenho de um filtro é dado pela expressão: ln C 3 1 − φo =− . .α .η .H Co 2 dg Equação 6 Onde, C é a concentração afluente da suspensão, Co é a concentração efluente da suspensão, Φo é a porosidade do leito, H é a profundidade do leito, α1 é o fator de eficiência de colisão ou coeficiente de aderência, η é a eficiência do coletor e dg é o diâmetro do grão do leito. Não é possível, a priori, aplicar esse modelo diretamente à filtração intermitente em virtude das condições consideradas para seu desenvolvimento: escoamento em meio poroso saturado, regime de escoamento permanente e elementos do meio filtrante supostos esféricos. Entretanto, este modelo pode permitir a determinação aproximada da retenção máxima (α1=1) das partículas em suspensão (SCHMITT, 1989). 4.2.2.Processos Biológicos Pouco tempo depois de um filtro ser posto em operação, uma fina camada de bactéria começa a se desenvolver em torno dos grãos da parte superior do leito. Esse biofilme é de fundamental importância na operação do filtro porque ele retém por meio de absorção a matéria solúvel e coloidal e os microrganismos presentes no esgoto sob tratamento. O material retido é decomposto e oxidado durante o período de descanso entre duas aplicações (CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998). A depuração biológica aeróbia se divide esquematicamente em duas fases (MENORET, 2001, BANCOLÉ, 2001, SCHMITT, 1989, LEFEVRE, 1988, ANDERSON e OUTROS, 1985, CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998): 44 • Uma fase rápida de adsorção e de acumulação dos compostos sob a forma de reserva; • Uma fase mais lenta de mineralização e de excreção dos compostos mineralizados. É durante esta fase que acontece a maior parte do consumo do oxigênio. Somam-se a essas duas fases, uma etapa preliminar de degradação extracelular da matéria orgânica presente sob a forma de macromoléculas não diretamente assimiláveis, graças à excreção de enzimas extracelulares. A matéria solúvel é consumida quase instantaneamente, enquanto a matéria coloidal é solubilizada enzimaticamente. O material solubilizado é então transferido através da membrana celular e convertido em produtos finais. A cada dose, algum produto final é transportado para camadas mais inferiores do leito, sendo eventualmente removido através dos drenos. Da mesma forma que ocorre com a matéria solúvel e coloidal, os sólidos maiores são processados entre a aplicação das doses (CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998). Para o correto funcionamento do FILA, é imprescindível o atendimento de dois aspectos fundamentais: • Hidráulico: o efluente deve penetrar no leito e ter um tempo de contato suficientemente longo com o biofilme depurador para garantir a degradação da contaminação orgânica; • Aeração: o oxigênio deve penetrar no interior do leito e atender às necessidades dos microrganismos aeróbios responsáveis pela degradação da matéria orgânica. 4.2.3.O Biofilme O alto grau de purificação produzido nos FILAs só é compreensível quando se considera a grande e variada biota presente e o íntimo contato entre essa biota e o esgoto, possibilitado por este método de tratamento (CALAWAY, 1957). A colonização de um meio suporte por uma população diversificada de microrganismos constitui uma comunidade de indivíduos que forma uma autêntica cadeia de solidariedade, na qual os microrganismos sintetizam e 45 excretam numerosos compostos utilizados pelas bactérias vizinhas (LEFEVRE, 1988). Esses microrganismos, como a maioria dos que vivem na terra, aglutinam-se em biofilmes (FLEMMING e WINGENDER, 2001 e MENORET, 2001). O aglomerado de microorganismos é mantido junto por meio de biopolímeros de origem microbiana, os polímeros extracelulares – PEC. Sob essa designação geral, PEC, encontram-se diferentes macromoléculas tais como polissacarídeos, proteínas, ácidos nucléicos, lipídios e outros compostos poliméricos que ocupam o espaço intercelular do aglomerado de microrganismos. Os PEC preenchem e formam o espaço entre as células e são responsáveis pela arquitetura e morfologia da matriz em que as células vivem. Por essa razão, o PEC é considerado a casa dos microrganismos (FLEMMING e WINGENDER, 2001). Os PEC podem representar de 50 a 90% do carbono orgânico presente no biofilme (FLEMMING e WINGENDER, 2001 e MENORET, 2001). O mais importante componente do PEC são os polissacarídeos, embora a matriz seja composta, também, por outros compostos, como mostra a Tabela 2 (FLEMMING e WINGENDER, 2001). 46 Tabela 2: Composição do biofilme Componente Teor no PEC Polissacarídeos 40-95% Proteína >1-60% Ácidos nucléicos >1-10% Lipídios >1-40% Fonte: FLEMMING e WINGENDER, 2001 e MENORET, 2001. O biofilme apresenta uma estrutura porosa e muito absorvente (CHRISTENSEN e CHARAKLIS, 1990 apud MENORET, 2001). Técnicas de análise e de observação desenvolvidas recentemente mostram que o biofilme não é um empilhamento regular de células, mas apresentam uma grande heterogeneidade. A Figura 6 apresenta uma idéia aproximada de um biofilme real: um aglomerado de células interligadas por fibrilas e percorridas por uma rede de canais (MENORET, 2001). Fase móvel Massa celular canal Suporte Figura 6: Representação esquemática de um biofilme bacteriano. Fonte: MENORET, 2001 Essa capacidade das bactérias, de se organizarem sobre uma superfície, lhes confere uma vantagem sobre as populações planctônicas. A fixação garante uma posição estável em relação à proximidade de uma fonte de alimento, uma otimização do transporte de substrato para o biofilme e dos dejetos para o exterior (CRIDDLE, 1991 apud MENORET, 2001), o que torna 47 as bactérias mais ativas uma vez que elas utilizam sua energia apenas para o seu metabolismo, economizando o que seria necessário para seu deslocamento. O gel formado por PEC atua como um concentrador de alimentos, prestando às bactérias um serviço de “alimento em domicílio” (LEFEVRE, 1988). A formação de um biofilme é um processo complexo que se desenrola em várias etapas e é influenciado por fatores tanto físico-químicos como biológicos (LEFEVRE, 1988 e MENORET, 2001). Três etapas principais podem ser definidas: • Transporte das células para a superfície; • Adesão; • Crescimento. O transporte de células para a superfície se efetiva segundo diversos mecanismos e suas combinações – que são principalmente as condições hidrodinâmicas que regem esse transporte (CRAGUE, 1993 apud MENORET, 2001). Em ambiente calmo, a gravidade e a sedimentação desempenham o papel principal. Em condição de escoamento laminar, a difusão molecular torna-se o fator preponderante. Os movimentos convectivos intervêm sob condições de escoamento turbulento. A mobilidade própria tem um papel de importância reduzida. Ela intervirá quando da proximidade da superfície ou apenas em ambiente calmo (ANNACHHATRE e BHAMIDIMARRI, 1992 e CRIDDLE, 1991 apud MENORET, 2001). Os movimentos ativos de uma célula são motivados por quimiotropismo positivo (aproximando-se de uma fonte de alimento) e negativo (afastando-se de uma zona com presença de substância tóxica) (MENORET, 2001). Em meio líquido, a superfície dos microrganismos, da mesma forma que a maioria dos suportes, é carregada negativamente (ANNACHHATRE e BHAMIDIMARRI, 1992). Em uma primeira aproximação, a teoria desenvolvida por Drejaguin, Landau, Verway e Overbeck (DLVO), que descreve as mudanças de energia livre de interação (Gt) em função da distância que separa dois corpos, pode ser aplicada aos microrganismos em suspensão. Essa teoria admite que a força total de interação entre dois corpos consiste na soma de 48 dois termos: as forças de Van der Walls e as forças eletrostáticas (LEFEVRE, 1988 e MENORET, 2001). A colonização ocorre pela reprodução dos organismos aderidos ao leito. O biofilme se estende em microcolônias na forma de uma rede de polímeros. As bactérias não colonizam toda a superfície disponível: enquanto que sobre uma superfície plana a distribuição parece regular, sobre um grão a disposição de bactérias é muito irregular, com uma densidade maior ao nível subangular. A colonização ocorre em várias etapas, nas quais se sucedem e se organizam diferentes grupos de microrganismos. Ela começa com uma fase de indução mais ou menos longa que é função do número e do tamanho dos microrganismos que se fixam inicialmente e das condições de agitação do meio. Quanto mais turbulento o escoamento, mais prolongada será a etapa de indução por causa dos riscos de arraste da colônia primária. Após a fase de indução, segue-se a de acumulação, na qual a densidade do biofilme cresce como conseqüência do equilíbrio das populações de microrganismos (LEFEVRE, 1988). É então, possível manter um microambiente no interior desse emaranhado de polímeros, essencialmente diferente das condições circundantes (MENORET, 2001). A presença de microfendas e de rugosidade favorecem a adesão inicial, protegendo a colônia incipiente dos fenômenos de cisalhamento hidráulico (CRAGUE, 1993; SHOW e TAY, 1999). A temperatura tem um papel primordial no desenvolvimento do biofilme, visto que, para temperaturas afastadas do ótimo, a velocidade de multiplicação das células é reduzida. Isso se traduz, ao nível do leito bacteriano, pela partida mais lenta e por uma acumulação de biossólidos em temperaturas inferiores a 5ºC. As causas são essencialmente biológicas, ligadas à redução da atividade celular e à predação pela macrofauna. Pode-se acrescentar ainda a influência da hidrodinâmica devido ao transporte (MENORET, 2001). Dinâmica populacional Os processos com meio fixo possuem algumas vantagens em relação aos processos que utilizam meio suspenso. O polímero que envolve os microrganismos os protege das substâncias tóxicas. A heterogeneidade 49 estrutural do biofilme lhe confere a possibilidade de abrigar diferentes tipos de microrganismos nos diferentes nichos ecológicos. Assim, uma grande diversidade de organismos pode ser mantida, e as bactérias não competitivas – mas detentoras de faculdades específicas – podem se desenvolver (BISHOP, 1997). Tem-se, por exemplo, o caso das bactérias nitrificantes, que se desenvolvem mais nas zonas mais profundas do biofilme onde o oxigênio está presente para a nitrificação, mas onde elas não entram em competição com as cepas heterotróficas, de crescimento mais rápido (CALAWAY, 1957 e MENORET, 2001). Calaway (1957) reiterou a importância fundamental dos microrganismos no processo de tratamento em FILAs e enumerou esses microrganismos, organizados em bactérias, protozoários e metazoários, definindo-lhes os respectivos papéis. As diversas populações presentes mantêm uma interação contínua, podendo ser de ajuda mútua ou de concorrência (competição, inibição, parasitismo ou predação) (LEFEVRE, 1988). Bactérias Da mesma forma que em outros processos biológicos de tratamento de esgoto, as bactérias são o elemento básico da ecologia, por sua grande aptidão e importância para a decomposição de carboidratos e de compostos orgânicos nitrogenados. Embora em pequeno número, observa-se também a presença de grupos de bactérias cujo papel é a digestão de substâncias húmicas, as quais produzem pouca energia, mas que podem causar a colmatação do filtro se não forem destruídas (CALAWAY, 1957). Protozoários Protozoários são organismos unicelulares cujo tamanho varia de 20 a 200 µm, heterótrofos, alguns se alimentam de matéria orgânica dissolvida, por difusão e pinocitose, e outros, mais evoluídos, possuem aparelho adaptados à captura de partículas grandes (LEFEVRE, 1988). Os protozoários, principalmente os ciliados, são predadores de bactérias, sendo capazes de ingerir grande quantidade de alimento, chegando a 500 a 600 células de bactérias por hora, durante a fase de crescimento 50 (LEFEVRE, 1988). Entretanto, sua competência para atacar o biofilme e as bactérias incorporadas a essa massa é limitada e exercem um papel pouco importante no controle da acumulação de material orgânico nos interstícios dos grãos (CALAWAY, 1957). Metazoários Ao contrário do que acontece em um filtro percolador, em filtros intermitentes, quase todo substrato orgânico retido por filtração ou adsorção é assimilado por oxidação. Um dos resíduos do metabolismo bacteriano é o húmus que é consumido por um número pequeno de outras formas de bactérias. Conforme dito anteriormente, os protozoários não são muito efetivos no controle do biofilme. É justamente em relação à assimilação dessa massa que o grupo de animais multicelulares, os metazoários, tem importância, pois o acúmulo do biofilme pode causar até a colmatação dos filtros. Considerando seu tamanho e número, os anelídeos são os organismos mais significantes desse grupo, com um apetite insaciável por lodos e limos. Eles se alimentam no biofilme do leito, digerindo e utilizando parte desse material, mantendo a superfície filtrante aberta para a admissão de oxigênio (CALAWAY, 1957). Os metazoários são indicadores de um meio rico em matéria orgânica e são capazes de degradar os subprodutos de outros organismos durante o processo de tratamento (LEFEVRE, 1988). 4.2.4.O Balanço de Oxigênio Três mecanismos são responsáveis pelo aporte de oxigênio ao leito filtrante (MENORET, 2001). Este aporte pode ocorrer por: • Diluição na água, na qual pode atingir, no limite, cerca de 9,0 mg/l no percolado e pode ser considerado desprezível; • Convecção, relacionada ao movimento de ar no leito, gerado pela variação do estoque de água no leito filtrante; • Difusão, relacionada ao gradiente de concentração ente a atmosfera e o leito, através da superfície. O papel relativo dos dois últimos mecanismos de troca gasosa não é ainda objeto de consenso. Enquanto Chachuat (1998), Schwager e Boller 51 (1997), Gnagne (1996) e Guilloteau e outros (1993) destacam o mecanismo de difusão. Lefèvre (1988) e Schmitt (1989) elegem o mecanismo de convecção como o mais importante. Entretanto, a maioria dos autores consultados concordaque a provisão de oxigênio deve atender à demanda total de oxigênio – DTO. A DTO é dada (VAN BUUREN e OUTROS, 1999) pela Equação 7. DTO=DBO5+4,5NTK Equação 7 O Mecanismo de Difusão A difusão do oxigênio no meio poroso, assim como na atmosfera, se exprime através da lei de Fick. O coeficiente de difusão do oxigênio no ar Do é então substituído por um coeficiente de difusão no meio poroso, D. J = −D ∂C ∂z Equação 8 Onde, J= fluxo de oxigênio por unidade de superfície, gO2/m2. dia D= coeficiente de difusão do oxigênio no meio poroso, m2/dia C= concentração de oxigênio na fase gasosa, g/m3 Não existe uma lei geral que permita obter o valor do coeficiente de difusão D. Vários autores fornecem, segundo as condições experimentais, funções empíricas que permitem estimar o coeficiente de difusão a partir das características do meio poroso (SCHMIT, 1989; MENORET, 2001). D = φ a .α .Do Equação 9 Onde, Φa= porosidade ocupada pelo ar, α= fator de impedância. Segundo Gougoussis (1978), apud Lefevre (1988), D varia num meio poroso de 10-6 a 10-1 cm2/s, dependendo do grau de saturação do meio poroso, 52 o que pode ser verificado na Figura 7, que mostra a variação de α com a porosidade acessível ao ar, para areias secas e úmidas. Areias úmidas Areias secas a Figura 7: Gráfica - α em função da porosidade do meio Schmitt (1989) ajustou uma expressão que relaciona o coeficiente de difusão à porosidade acessível ao ar, traduzida pela Equação 10 Figura 8. D Do = 1,5.φ a1,8 T Do (T ) = Do .273. 273 Equação 10 1, 75 Equação 11 Onde, T= temperatura em K O valor do coeficiente de difusão do oxigênio no ar, Do, é 2,3.10-1 cm2/s e na água, 2,6.10-5 cm2/s, dez mil vezes menor. No meio poroso, o coeficiente de difusão é função do coeficiente em célula livre e da geometria da porosidade ocupada pelo fluido analisado (LEFEVRE, 1988). 53 Figura 8: Coeficiente de difusão do oxigênio no solo No eixo X e porosidade acessível, fa Fonte: SCHMITT, 1989 O fluxo de oxigênio por unidade de superfície de um leito filtrante é, segundo Lefevre (1988), dado pela Equação 12 J = Co D.φ a π .t Equação 12 Onde, J=fluxo de oxigênio, Kg/m2.dia Co=concentração de oxigênio no ar, 286 g/m3 t=tempo, s Lefevre (1988) e Schmitt (1989) sugerem que a renovação das reservas de oxigênio por difusão molecular pode ser desprezada, como primeira aproximação. A Agence de l’Eau (1993) propõe a Equação 13, abaixo, para prever a capacidade de oxidação pela via difusiva em um meio poroso. ωd = C o .qO2TD ho Onde, ωd=capacidade de oxidação pela via difusiva, mgO2/l, Equação 13 54 Co=teor de oxigênio no ar atmosférico, mg/l, qO2=fluxo volumétrico médio de oxigênio em um intervalo de 3 2 tempo, m /m .h, TD=intervalo de tempo de um ciclo, h, ho= altura da lâmina de água aplicada durante uma seqüência de alimentação, m. Convecção A análise do aporte convectivo de oxigênio ao leito filtrante, apresentada a seguir, está baseada principalmente em Lefevre (1988). A renovação dos estoques de ar por convecção supõe um regime hidráulico transitório, com alternância entre períodos de alimentação e períodos de drenagem (Figura 9). Durante a alimentação, a porosidade livre ao ar do leito filtrante é ocupada de forma crescente por água, expulsando o ar; e durante a drenagem o volume de água diminui e o ar atmosférico penetra no leito (Figura 10) (LEFEVRE, 1988). Supõe-se que o escoamento é unidirecional Vazão de alimentação vertical (SCHMITT, 1989). a a* D 0 t0 Drenagem Tempo T Período Fase de Secagem Fase de alimentação Um ciclo a a* D Sequência de alimentação (0,t 0) Último aporte Sequência de drenagem (t 0,T) Figura 9: Esquema da seqüência de aplicação Fonte: LEFEVRE, 1988 Esse funcionamento enseja uma flutuação periódica do estoque de água, ∆Sw (LEFEVRE, 1988). A porosidade ocupada pelo ar, Φa, é variável no tempo e no espaço e está relacionada com a umidade do material através da Equação 14 (SCHMITT, 1989). 55 φ a + θ = φt Equação 14 O estoque de água em volume, Sw, é dado pela expressão: H S w = ∫ θ .dz 0 Equação 15 O estoque de ar em volume, Sa, é dado pela expressão: S a = ∫ (φt − θ ).dz H 0 Equação 16 Onde, Φt= porosidade total Φa= porosidade livre ao ar θ= umidade volumétrica do leito H= altura do leito, m Considerando-se que a porosidade do leito é ocupada por água ou por ar, o volume de vazio pode ser igualado à soma desses dois componentes. φt .H = S w + S a Equação 17 Resulta daí dS w = − dS a Equação 18 A massa de ar por unidade de superfície contida no perfil do leito é expressa por: M a = ρ a .S a Equação 19 Onde, ρa= massa de ar a pressão considerada, Kg/m3. A variação do estoque de água resulta da desigualdade entre as vazões infiltrada, qi, e escoada, qe, na saída do filtro (ver Figura 11). dS w = (qi − q e ).dt Equação 20 56 Influente Profundidade Biofilme Expulsão de ar t1 Areia t2 0 1 0,65 Franja Capilar Frações volumétricas acumuladas Admissão de ar t3 Areia Profundidade Biofilme t4 0 1 Franja Capilar 0,65 Frações volumétricas acumuladas Figura 10: Troca gasosa convectiva durante alimentação e drenagem Fonte: BANCOLÉ, 2001 a Sw qi = qa Vazão Sw Compressão do ar qi qe Liberação do ar Período útil qe Sa 0 t0- t 1 T 0 t0 t ti Tempo T Figura 11: Variação dos estoques de água e ar Fonte: LEFEVRE, 1988 Em filtros confinados, as trocas gasosas ocorrem exclusivamente através da superfície de infiltração, podendo ocorrer dois casos. Um em que a vazão aplicada, qa, infiltra instantaneamente, logo qi é igual a qa, e o ar circula 57 livremente entre a atmosfera e o meio poroso. A variação do conteúdo de água é dada pela Equação 12, Figura 11a: ∆S w = ∫ (qi − qe )dt = q a .t o − ∫ q e .dt = ∫ qe .dt to to T 0 0 to Equação 21 A massa de oxigênio aportada por unidade de superfície é: ∆M O2 = C o .ρ ao .∆S w Equação 22 Onde, Co= concentração ponderada do oxigênio no ar ρao= massa de ar a pressão atmosférica, Kg/m3. O segundo caso ocorre quando, durante a fase de alimentação, ocorre formação de uma lamina de água sobre a superfície do leito e essa lâmina desaparece antes de uma nova aplicação. Enquanto persiste, essa lâmina impede a entrada de ar e a vazão de infiltração, qi, é diferente da vazão aplicada, qa (ver Figura 11b e Figura 12). ∆S w = ∫ t 0 T (qi − qe ).dt = ∫ (qe − qi ).dt Equação 23 t Onde t é o tempo em que qe é igual a qi. Influente Profundidade Lamina d’água t1 Biofilme t2 Areia 0 0,65 Ar preso e comprimido 1 Franja Capilar Frações volumétricas acumuladas Figura 12: Efeito da existência de lâmina d’água sobre a superfície do leito Fonte: LEFEVRE, 1988 58 Entre t=0 e t=t, o aumento do volume de água no leito não se traduz em expulsão do ar que é aprisionado e comprimido, sem que haja uma variação de massa. Entre t e t1, tempo em que a lâmina de água desaparece, o ar comprimido perde parte de sua pressão. A partir de t1, se restabelece completamente a interação com o ar atmosférico e a variação do volume de água é acompanhada por uma admissão de ar. O período de t=t1 a t=T é chamado de período útil para a renovação da fase gasosa do leito filtrante. Nesse caso, ∫ T ∆M a = ρ ao .∆Sa = ρ ao . qe .dt Equação 24 ∆M O2 = C o .∆M a Equação 25 t1 Quanto maior a permanência da lâmina de água sobre a superfície do leito, mais reduzido é o período útil, com prejuízo para a renovação do estoque de oxigênio no leito filtrante. A Agence de l’Eau (1993) propõe a Equação 26, abaixo, para prever a capacidade de oxidação pela via convectiva em um meio poroso. ωc = C o .(∆S w + λ ) ho Equação 26 Onde, ωc=capacidade de oxidação pela via convectiva, mgO2/l, λ=termo corretivo correspondente a contribuições secundárias. Schmitt (1989) reconhece a dificuldade metodológica de dissociar o aporte difusivo do aporte convectivo de oxigênio, e, consequentemente, de atribuir maior relevância a um ou outro no processo de filtração intermitente. 4.2.5.Capacidade de Oxidação A capacidade de oxidação, ω, é o resultado da soma das capacidades difusiva e convectiva (Equação 27). ω = ωd +ωc Equação 27 59 A teoria simplificada proposta pela Agence de l’Eau (1993) postula que a capacidade total de oxidação deve ser maior ou igual à DTO aplicada para assegurar um bom tratamento e a durabilidade do processo. A Figura 13 mostra a capacidade de oxidação total em função da altura da carga hidráulica aplicada. Capacidade de Oxidação, (mg O2/l) Carga Hidráulica, H (mg/j) Figura 13: Capacidade total de oxidação em função da carga hidráulica FONTE: AGENCE de L’EAU, 1993 Guilloteau e outros (1993) trabalharam com colunas de 30 cm de diâmetro, com altura do leito de areia de 75 cm (d10= 0,2mm e CU=5) e com uma taxa de aplicação hidráulica de 30 cm/dia, em três doses, durante 3 dias seguidos por 4 dias de repouso, e constataram a importância da manutenção da superfície desobstruída para a passagem do ar. Na situação em que houve colmatação e a superfície do filtro permaneceu submersa, não houve a renovação dos estoques de oxigênio entre duas aplicações seguidas (8 horas) nem durante o período de repouso; observando-se, ainda, a formação de metano, um indicativo de uma condição de anaerobiose. No caso em que não houve colmatação, o consumo de oxigênio permaneceu alto; ao final do período de aplicação, o teor de oxigênio no espaço poroso do leito era de 3% , e, ao final do período de repouso, atingiu 17% (a concentração de oxigênio no ar é de 21%). Para Schwager e Boller (1997), a renovação de oxigênio através da difusão é mais importante do que a pela convecção. Eles mediram, nos 10 cm 60 superiores de uma coluna de 90 cm preenchida com areia com d50=0,85 cm e CU=2,1, um fluxo de 30 mgO2/m2.min por difusão molecular e de 9,0 mg/l por convecção, para uma carga aplicada de 120 l/m2.dia. Van Buuren e outros (1999), citando Schwager e Boller, sugerem uma carga orgânica máxima de 55,0 gDTO/m2.dia. Crites e Tchobanoglous (1998) recomendam que a carga orgânica diária, expressa em DBO, se mantenha na faixa de 2,5 a 10,0 g/m2.dia, com valor típico de 5,0 g/m2.dia. Bancolé (2001) estudou a capacidade de oxidação para as situações de carga hidráulica de 20 a 50 cm por dia, com freqüências de aplicação (fracionamento) de 1 a 4 d-1 e para efluente com DTO de 574,0 mg/l e 378,0 mg/l e encontrou capacidades de oxidação de 110,0 g/m2.dia a 285,0 g/m2.dia. Este pesquisador concluiu que ω não é função apenas da carga hidráulica aplicada, mas também do fracionamento dessa carga, da espessura do leito filtrante, da relação DQO/NTK e da temperatura. Mottier e outros (2000), avaliando a estação de Mazagon (Espanha), com capacidade de projeto para 1700 equivalentes populacionais, aplicou uma carga diária de 0,25 m3/m2.dia em um leito de areia de duna com d50=0,24mm e 2,0 m de espessura; encontrou uma capacidade de oxidação total de 680,0 mg/l e atribuiu esse valor elevado às altas temperaturas do verão. Encontrou ainda que um tempo de 15 a 30 horas, após uma aplicação, foi necessário para restaurar o estoque de oxigênio, levando-o a atingir os valores iniciais de 13% e 17%, respectivamente a 0,60 m e 0,30 m de profundidade. Observou-se que, imediatamente após a aplicação do esgoto, o percentual de oxigênio cai rapidamente atingindo cerca de 5% e 7%, respectivamente a 0,60 m e 0,30 m de profundidade. É importante notar que nesses experimentos, os melhores desempenhos, no que tange à capacidade de oxidação, estão associados à maior formação de biomassa e, conseqüentemente, a tempos mais curtos para a colmatação da superfície filtrante. 4.2.6.Aspectos Hidráulicos Para atender principalmente à manutenção do suprimento permanente de ar para as bactérias, os filtros intermitentes funcionam segundo 61 uma alternância entre dosagem e descanso. É durante esta última fase que o estoque de oxigênio nos espaços vazios do leito é renovado por meio dos mecanismos de difusão molecular. A alternância permite ainda a gestão do crescimento biológico. Como em qualquer processo biológico, a oxidação da matéria orgânica é acompanhada de um desenvolvimento bacteriano que, se não for equilibrado por processos reguladores, provoca a colmatação do filtro. É durante a fase de repouso, quando cessa o aporte de alimento, que ocorre o processo regulador da massa biológica através da respiração endógena. Esse controle ajuda ainda na preservação das condições de infiltração do leito. Para isso, tem grande importância a granulometria do meio, a carga hidráulica diária e a forma como esta é aplicada na manutenção de um fluxo não saturado, conforme ilustrado na Figura 14. Quando o volume de líquido aplicado é suficiente para preencher todo o espaço vazio do meio, parte da matéria orgânica e microrganismos passam através do filtro sem tratamento. À medida que o volume aplicado por dose é reduzido, ocorre um fluxo parcialmente saturado. Quando o volume é reduzido mais ainda, o fluxo torna-se não saturado e escoa em uma fina lâmina em torno das partículas do meio. Com isso, os fenômenos físicos de remoção, já descritos, são favorecidos e o oxigênio do ar pode acessar todo o leito através dos espaços intersticiais. Assim, tendo em vista que o processo de purificação ocorre em duas etapas, remoção seguida de oxidação, é imperativo que a aplicação do líquido a ser tratado se dê em finas lâminas (CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998). O fracionamento da carga diária em várias doses favorece ainda o aporte convectivo de ar atmosférico, rico em oxigênio (LEFEVRE, 1988; SCHMITT, 1989). 62 1 dose/dia 4 doses/dia 24 doses/dia Figura 14: Efeito da carga hidráulica nos filtros Fonte: CRITES e TCHOBAOUGLOUS, 1998. Outro aspecto relevante do fracionamento da carga hidráulica diária é o aumento do contato do esgoto tratado com o biofilme, pois ele favorece os mecanismos físicos de remoção e a troca de solutos entre o biofilme e o esgoto. Em condições não saturadas, o meio filtrante se caracteriza pela justaposição de três fases: fase líquida, fase gasosa e fase sólida. A colonização do leito adiciona uma quarta fase: o biofilme (ver Figura 15). FASE LÍQUIDA FASE GASOSA FASE SÓLIDA BIOFILME Figura 15: Ilustração das quatro fases de um meio poroso não saturado colonizado Fonte: MENORET, 2001 63 À exceção do meio filtrante inerte, o biofilme, a fase líquida e a fase gasosa estão em interação contínua (o espaço que cada uma ocupa muda constantemente) e a configuração de cada uma tem evolui permanentemente. Na análise do escoamento no meio poroso distinguem-se três tipos de água: • Água gravitacional, ou livre, que circula nos macroporos sob a ação da gravidade. Esse escoamento pode ser lento ou rápido, a depender do grau de umidade do leito. • Água de retenção, aquela que resta após a drenagem da água gravitacional. • Água de constituição, aquela que faz parte da composição química, não sendo nem intercambiável nem mobilizável. O biofilme (com seu conteúdo de água) comporta-se como uma fase líquida imóvel que se junta à água estagnada. Em condições não saturadas, uma parte da água ocupa uma parte dos vazios do leito, uma fração escoa enquanto outra fração se liga ao meio filtrante por capilaridade. O deslocamento da fração livre resulta da variação de seu potencial total H – carga hidráulica. Esse potencial compõe-se de uma parcela de energia gravitacional, ou de posição, e de uma parcela de energia de pressão resultante das forças de capilaridade e das forças de adsorção. A água desloca-se dos pontos onde tem maior energia para os pontos de energia mais baixa. A lei de Darcy relaciona o deslocamento da água ao gradiente de carga hidráulica. A diferença fundamental com o escoamento saturado reside no fato de que, no meio não saturado, a condutividade K depende do teor de umidade do meio. O desenvolvimento do biofilme também modifica a permeabilidade do meio, uma vez que atua sobre a porosidade e a umidade do leito, conforme mostrado na Figura 16. q = −K(θ) ∂H ∂z Equação 28 64 Figura 16: Papel do biofilme na condutividade hidráulica: à esquerda, meio virgem; à direita, meio colonizado Fonte: MENORET, 2001. A interação entre a carga aplicada, o fracionamento desta, o tamanho efetivo dos grãos e a espessura do leito leva à definição do tempo médio de passagem - TMP, conforme Schmitt (1989) e Selas (2002) que encontraram, respectivamente, as seguintes equações para o cálculo de TMP. TMP= 4,44.H0,89.F0,092.L-0,75 Equação 29 TMP=α.H.(L)-β Equação 28 Onde, H= espessura do leito, m F= freqüência de aplicação, d-1 L= carga hidráulica diária α e β parâmetros de ajuste, iguais a 0,3 e 0,7 respectivamente. 4.2.7.Trocas no Biofilme Antes de ser assimilado e degradado, o constituinte orgânico na forma dissolvida deve atingir o biofilme. Para tal, tem que atravessar uma camada limite, entre o filme de escoamento líquido e o biofilme. O biofilme troca substrato com o escoamento principal numa velocidade que depende do gradiente de concentração que se estabelece no seu interior (ver Figura 17). Para a maioria dos autores, a disponibilidade de oxigênio (assim como a de solutos) requer a travessia da fase líquida estagnada. Eckenfelder 65 (1991) decompôs a transferência de oxigênio da fase gasosa para a fase líquida em três etapas: • Uma etapa rápida de transferência para a superfície do • A travessia da interface líquido-gás. Admite-se que essa líquido; etapa seja talvez representada pela difusão através de uma fina espessura de líquido, da ordem de algumas moléculas de água (CHACHUAT, 1998); • A transferência de oxigênio na massa líquida por difusão e convecção. A travessia da interface líquido-gás é designada como a etapa limite do processo (ROQUES, 1979). Continuando a travessia da fase estagnada, o oxigênio pode então penetrar no biofilme. 1: Fluxo de ar atmosférico 2: Fluxo de transferência atmosfera/ fase líquida Suporte Biofilme + camada estagnada 3: Penetração no biofilme Efluente livre 4: Consumo para oxidação aeróbia da matéria orgânica Atmosfera do maciço Figura 17: Fluxo de oxigênio entre o ar e o biofilme Fonte: MENORET, 2001 Zhu e outros (2000) demonstraram que em caso de descontinuidade da fase líquida estagnada, a transferência direta de oxigênio da fase gasosa para o biofilme é possível. Desse modo, a ausência de uma fase aquosa não é um limite para penetração do oxigênio no biofilme. Essas observações foram obtidas a partir de um biofilme desenvolvido no seio de um leito bacteriano utilizado para o tratamento de compostos orgânicos voláteis, ou seja, em um meio insaturado, como é o caso em filtração intermitente. 66 Fase gasosa Fase Líquida Biofilme Suporte Poro do biofilme Poro do suporte Biofilme (não molhado) Figura 18: Biofilme em meio poroso não saturado. Fonte: MENORET, 2001 A medida do perfil de concentração de oxigênio dissolvido no interior do biofilme mostra, além do decrescimento rápido de sua concentração com o aumento da profundidade, zonas profundas ricas nesse elemento, o que sugere a passagem privilegiada desse gás através do mesmo, conforme representado na Figura 18. 4.2.8.Colmatação Diversos autores (RICE, 1974; LEFEVRE, 1988, SCHMITT, 1989; BANCOLÉ, 2001; MENORET, 2001) apontam que o processo de colmatação pode ter três origens: física, química e biológica. A colmatação física é o resultado do depósito dos sólidos suspensos que reduz a porosidade do leito filtrante. O fenômeno é mais rápido em leitos com granulometrias mais finas, e mais profundo nos que têm granulometrias mais grosseiras. A colmatação química resulta da deposição de sais dissolvidos no interior dos poros por precipitação ou pela ação defloculante do íon sódio e se caracteriza pela cimentação dos cinco primeiros centímetros. A colmatação biológica caracteriza-se por uma camada negra e decorre da submersão por períodos prolongados da superfície de infiltração. Essa camada é rica em bactérias que produzem PEC em grande quantidade. Seu papel na colmatação está mais 67 relacionado aos produtos de seu metabolismo que ao seu acúmulo nos espaços intergranulares. 4.3.REMOÇÃO DE CONTAMINANTES EM FILAs 4.3.1.Remoção de Sólidos Suspensos A remoção de sólidos suspensos (SS) em FILAs é sempre muito elevada e valores de remoção superiores a 95% não são raros (LEFEVRE, 1988; USEPA, 1999; DARBY e OUTROS, 1996; ANDERSON e OUTROS, 1985). Os mecanismos de remoção são essencialmente físicos. Conforme foi apresentado no item 4.2, as partículas mais grosseiras são retidas na superfície do leito e as mais finas no espaço poroso por interceptação e fixação sobre os grãos. Furman e outros (1955), apud Darby e outros (1996), relataram que o desempenho dos filtros aumentou com a redução do tamanho efetivo da areia quando o efluente era aplicado em uma ou duas doses diárias, mas que os resultados foram similares quando a freqüência de aplicação foi de quatro doses por dia. Harris e outros (1977) utilizaram o FILA para polimento de efluente de lagoas de estabilização e encontraram resultados de SS inferiores a 10,0 mg/l. Relacionaram a duração da carreira de filtração com o tamanho efetivo e a concentração de SS no efluente aplicado sobre os filtros. Constataram também que nas temperaturas mais altas do verão o efluente dos filtros apresentava melhores características e recomendaram cargas hidráulicas de 0,37 a 0,56 m/dia. Widrig e outros (1996), visando avaliar o efeito da espessura do leito, testaram três profundidades: 0,60; 0,45 e 0,30m com areia de tamanho efetivo, TE=0,44 mm e uma carga hidráulica de 0,236 m/dia, aplicada em dose única (F=1 d-1), e encontraram percentuais de remoção de, respectivamente, 82, 80 e 71%. A retenção de sólidos suspensos é a causa mais freqüentemente apontada para a colmatação do leito, sendo a sua remoção em um tratamento preliminar fundamental para a longevidade do processo (MENORET, 2001). 68 4.3.2.Remoção de Carga Orgânica Os FILAs são altamente efetivos na remoção da carga orgânica medida como DBO ou DQO, sendo comuns resultados de menos de 10,0 mg/l de DBO (CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998; LEFEVRE, 1988; ANDERSON e outros, 1985; LEFEVRE, 1988; BANCOLÉ, 2001; DARBY e outros, 1996; VENHUIZEN, 2005; SABBAH e outros, 2003; WIDRIG e outros, 1996; BOLLER e outros, 1993). Crites e Tchobanoglous (1998), por exemplo, sugerem que a remoção de carga orgânica obedece a uma cinética de 1ª ordem na forma da Equação 30: Co = Ce − k .t Equação 30 Nessa equação, o tempo refere-se ao tempo de passagem do efluente e está relacionado com a espessura do leito, o tamanho efetivo dos grãos, a carga hidráulica diária e a freqüência de aplicação (SCHMITT, 1989; SÉLAS e OUTROS, 2002). Verma e Mancl (2001) utilizaram os resultados dos FILAs de Massachusetts do período de 1893 e 1897 e dos da Flórida publicados por Furman em 1955, num total de 143 observações, e desenvolveram a seguinte equação empírica (R2= 0,826). Co=-4,43+39,7.TE-4,3.H-0,15.CU+0,038.Ci-0,033.T-0,00727.L Equação 31 Onde, Co= concentração de DBO no efluente, mg/l TE= tamanho efetivo, mm H= profundidade do leito, m CU= coeficiente de uniformidade T= temperatura do ar, ºC Ci= concentração de DBO no afluente, mg/l L= carga hidráulica diária, l/m2.dia. Na Equação 31, fica evidente o papel de cada variável no desempenho dos FILAs na remoção da carga orgânica. O tamanho efetivo da areia e a profundidade do leito parecem ser os parâmetros de maior influência 69 na remoção dessa carga orgânica. Esta é uma conclusão reportada por diversos autores. Anderson e outros (1985), por exemplo, apresentam uma tabela de tendências de desempenho para os diversos parâmetros de projeto, em que incluem o parâmetro freqüência de dosagem (ver Tabela 3). Chadwick (1937), apud Widrig e outros (1996), testou espessuras de leito de 0,31 a 1,63 m, com areias de TE=0,25mm e carga hidráulica de 0,076 m/dia de esgoto decantado. Em sua experiência, ele obteve concentrações de DBO efluente de 11,0 mg/l para o mais raso e de 2,5 mg/l para o mais profundo, concluindo que profundidades superiores a 0,90 m não apresentavam vantagem. O efeito do aumento da freqüência de dosagem na melhoria do desempenho dos FILAs é apontado também por outros autores que o comprovaram em trabalhos experimentais em escala de campo ou em colunas de laboratório tais como: (Crites e Tchobanoglous (1998), Lefevre (1988), Schmitt (1989), a Agence L’Eau (1993), Darby e outros (1996), Bancolé (2001), e Venhuizen (2005). 70 Tabela 3: Tendência geral de desempenho em função dos fatores de projeto Desempenho dos fatores Fatores de Projeto Qualidade do efluente Carreira de filtração Custo do investimento FILA Aumentando os prétratamentos Dependente da disponibilidade local Aumentando o TE da areia Aumento da profundidade do filtro Efeito muito pequeno além de 60 a 90 cm dependendo do tamanho da areia Efeito muito pequeno além de 60 a 90 cm dependendo do tamanho da areia Aumentando a carga hidráulica aplicada Aumentando a carga orgânica aplicada Aumentando a temperatura de operação Aumentando a dose/freqüência Efeito muito pequeno Efeito muito pequeno Areia média a grossa Areia fina à média Areia média a grossa Areia fina à média Fonte: ANDERSON et al. 1985 Efeito muito pequeno 71 4.3.3.Remoção de Nutrientes Nos esgotos domésticos, o nitrogênio é encontrado essencialmente nas formas amoniacal e orgânica. A fração orgânica é rapidamente amonificada (sob a forma de NH4+) e é retida por adsorção na superfície dos grãos ou do biofilme. Esse processo ocorre mais rapidamente em temperaturas mais altas, sendo o ponto ótimo acima de 30 ºC. Parte do nitrogênio amoniacal pode se perder por volatilização em meios com pH alcalino, não excedendo em 10% do total (LANCE, 1972). A nitrificação é quase total em FILAs, não sendo raros valores de nitrogênio amoniacal inferiores a 1,0 mg/l (LANCE, 1972; ANDERSON e OUTROS, 1985; LEFEVRE, 1988; SCHMITT, 1989; CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998 e EPA, 1999). As bactérias nitrificantes são organismos autótrofos, estritamente aeróbios. Assim, o processo de nitrificação é estreitamente vinculado à disponibilidade de oxigênio, compondo com a DBO a demanda total de oxigênio (DTO). Desse modo, filtros sobrecarregados, em que a DTO aplicada excede a capacidade de oxidação ou que estão submetidos a longos períodos de submersão de sua superfície (o que impede a renovação dos estoques de ar no leito), não logram a oxidação total ou mesmo parcial da amônia. A perda de nitrogênio por desnitrificação ocorre em proporções muito pequenas, em microsítios anóxicos, em leito filtrante intermitente (CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998). O processo é limitado pela presença de oxigênio e pela carência de carbono nas concentrações requeridas (LEFEVRE, 1988). Verma e Mancl (2001) utilizaram os resultados dos FILAs de Massachusetts do período de 1893 a 1897 e dos FILAs da Flórida publicados por Furman em 1955, num total de 143 observações, e desenvolveram a seguinte equação empírica (R2=0,908). No=-1,78+11,0.TE-3,9.H-0,17.CU+0,054.Ni-0,024.T+0,0019,NTK-0,029.L Onde, No= concentração de amônia no efluente, mg/l TE= tamanho efetivo, mm H= profundidade do leito, m Equação 32 72 CU= coeficiente de uniformidade NTK= nitrogênio total de Kjeddahl afluente, mg/l T= temperatura do ar, ºC Ni= concentração de amônia no afluente, mg/l L= carga hidráulica diária, l/m2.dia Na Equação 32, fica evidente o papel de cada variável no desempenho dos FILAs no que se refere à oxidação da amônia. O tamanho efetivo da areia e a profundidade do leito parecem ser os parâmetros de maior influência no processo. Mottier e outros (2000), em um estudo em escala de campo, encontraram um aumento da nitrificação com a profundidade do leito, até esta atingir 98% a 2,0 m, com uma carga hidráulica de 25,0 cm/dia. Schmitt (1989) baseado nos estudos de Mc Laren (1969), que obteve uma nitrificação total em apenas 40 cm de profundidade, minimiza o efeito da espessura do leito. Entretanto, o referido estudo utilizou uma carga muito baixa, de 3,85 cm/dia. Darby e outros (1996) obtiveram resultados semelhantes aos de Mc Laren em FILAs com espessura de 38,0 cm e cargas hidráulicas entre 4,1 e 16,3 cm/dia. Chadwick (1937) apud Widrig e outros (1996) testou espessuras de leito de 0,31 a 1,63 m com areias de TE=0,25mm e carga hidráulica de 7,6 cm/dia de esgoto decantado e obteve concentrações de amônia efluente de 2,12 mg/l para o mais raso e de 0,18 mg/l para o mais profundo. Assim, concluiu que profundidades superiores a 0,90 m não apresentavam vantagem. Widrig e outros (1996), visando avaliar o efeito da espessura do leito, testaram três profundidades: 0,60; 0,45 e 0,30m com areia de TE=0,44 mm e uma carga hidráulica de 23,6 cm/dia aplicada em dose única (F=1 d-1) e encontraram percentuais de oxidação de, respectivamente, 98, 93 e 96%. Schmitt (1989) sugere também que a carga hidráulica diária não tem vinculação com o desempenho de FILAs na oxidação da amônia, sendo seus efeitos imputáveis à deficiência na renovação do oxigênio na atmosfera do leito filtrante. Para areias mais finas e de maior coeficiente de uniformidade, Darby e outros (1996) encontraram um pequeno aumento da oxidação da amônia quando a freqüência de aplicação F aumentou de 4 para 12 d-1. Para o 73 aumento de F de 12 para 24 d-1, não se observou melhora significativa. Para areia mais grossa, esses autores encontraram um aumento significativo na medida em que F aumentou de 4 para 12 e 24 d-1. Para qualquer valor de TE, o aumento foi maior quando F passou de 4 para 12 d-1. Remoção de Fósforo Os fosfatos são removidos em FILAs por meio de dois mecanismos: a adsorção e a precipitação. A adsorção vai depender da natureza do material do leito. Quanto maior for o teor de argila, maior será a adsorção. A precipitação está relacionada com a presença dos cátions de Fe3+, Al3+ e Ca2+ no efluente (LEFEVRE, 1988). Prochaska e Zouboulis (2003) acrescentam a incorporação ao biofilme como sendo mais um mecanismo de remoção de fósforo. A partir de experimentos de diversos autores, pode-se afirmar que a remoção de fósforo total em FILAs é baixa. Segundo Anderson e outros (1985), a redução de fósforo pode atingir percentuais de até 50% em filtros novos, mas essa redução tende a cair com o amadurecimento do filtro e a queda da capacidade de troca resultante. Nielsen e outros (1993) relataram uma faixa de remoção de fósforo em FILAs na Dinamarca de 40 a 60%. Guilloteau e outros (1993) encontraram 50% como remoção média em colunas de laboratório de operação recente. Boller e outros (1993) encontraram uma eficiência de remoção de 25% em filtros maduros em escala de campo. J. L. Van Buuren e outros (1999) sugerem que a expectativa de remoção de fósforo em FILAs é de cerca de 40%. 4.3.4.Remoção de Microrganismos A remoção de microrganismos em FILAs é, em geral, muito eficiente, atingindo valores de 2 a 6 uLog (ANDERSON e OUTROS, 1985; EPA, 1999; STEVIK, AUSLAND, 2004; LEFEVRE 1988; SCHMITT, 1989; BANCOLÉ, 2001; SALGOT, 1996; BRISSAUD; 1999; EMERICK, 1999). Essa remoção ocorre em duas etapas: retenção e degradação. Na primeira etapa, de retenção, estão envolvidos os mecanismos físicos descritos no 4.2.1 filtração mecânica, interceptação e adsorção. Na segunda etapa, de eliminação ou degradação microbiológica, o microrganismo é exposto a um conjunto de fatores abióticos e 74 bióticos desfavoráveis. Entre os abióticos incluem-se: umidade, pH, temperatura e teor de matéria orgânica; e entre os bióticos, a espécie de bactéria e a presença de predadores, principalmente de protozoários (STEVIK e OUTROS, 2004). Além da predação, outros fatores bióticos citados são: o parasitismo, a competição nutritiva, a secreção de antibióticos e de substâncias inibidoras (BANCOLÉ, 2001). A eficiência global do processo de eliminação varia de acordo com o tipo de organismo (bactéria, vírus e parasitas) e está fortemente relacionada com o tempo de passagem da água através do filtro, a existência de caminhos preferenciais, a eficiência de oxidação da matéria orgânica e a forma e homogeneidade da distribuição do efluente na superfície do filtro (LEFEVRE 1988; SCHMITT, 1989; SALGOT e OUTROS, 1996; SÉLAS, 2002). Schmitt (1989) apresentou uma equação para previsão da remoção de coliformes em filtros. ∆fc = 0,48t m + 1,1 tm = Lθ H Equação 33 Equação 34 Onde tm é o tempo médio de detenção hidráulica, L a profundidade, θ o teor de umidade, e H a carga hidráulica. O autor informa que esses coeficientes foram obtidos a partir do processamento estatístico de mais de 340 dados de laboratório e em escala piloto. É uma expressão aproximada para o cálculo das potencialidades de desinfecção de sistemas de infiltração adequadamente operados, em que a aplicação do efluente sobre a superfície do leito é razoavelmente uniforme. Essa equação não leva em conta o efeito do fracionamento da carga hidráulica, fato constatado por diversos autores. Lefevre (1988) aplicou uma carga hidráulica de 0,50 m em uma única dose e obteve na profundidade de 1,50 m uma redução de coliformes fecais de 2 uLog. A mesma carga fracionada em 12 doses diárias resultou numa redução de 3,5 a 4 uLog. Um aspecto importante na remoção de coliformes fecais citado pelo autor é a manutenção das condições aeróbias no leito. Ele observou que, com a colmatação da superfície e o esgotamento do estoque de oxigênio no leito, a qualidade bacteriológica do efluente se degrada. Num experimento posterior em que o leito foi ventilado artificialmente, observou-se a 75 redução progressiva do número de coliformes no efluente do filtro logo após o início da operação até atingir menos de 103 CF/100ml. O fechamento do sistema de ventilação é acompanhado de uma drástica queda na qualidade bacteriológica do efluente. Logo após a reabertura do sistema, constata-se a recuperação da qualidade aos níveis de 103 CF/100ml. A repetição do ciclo, acompanhada pela medição dos níveis de oxigênio, mostrou uma clara correlação entre a concentração de O2 e a densidade de organismos no efluente do filtro. Salgot e outros (1996) estudaram o desempenho de um sistema de filtração intermitente com espessura de 1,5m e areia de duna (não há informação sobre o tamanho efetivo) alimentado com efluente secundário através de um pivô central com um tempo de 70 minutos para uma volta completa (F=20 d-1). Os resultados obtidos para as diversas profundidades e cargas variando de 0,165 a 0,33 m/dia são apresentados no gráfico da Figura 19. Figura 19: Eliminação de coliformes termotolerantes a diferentes profundidades e cargas hidráulicas Fonte: SALGOT et al.,1996 Emerick e outros (1997) num arranjo experimental, em que variaram a carga hidráulica, o tamanho efetivo (TE) e o coeficiente de uniformidade (CU), com freqüência de aplicação de 24 d-1, encontraram os resultados mostrados na 76 Figura 20, para remoção de coliforme total e colífago, para TE= 0,65 mm e CU=3,8. Não foi observada uma diferença significativa entre CU de 5,0 e 3,8. Também não se observaram diferenças significativas entre os TE de 0,65 e 3,3 mm submetidos à carga de 0,163 m/dia. 3.5 Coliforme Total Colifaços 3.0 (und log) Remoção 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0 0.00 0.05 0.10 0.15 0.2 Taxa de aplicação hidráulica, m/d Nota: Frequencia da dosagem 24 L/dia Figura 20: Remoção de microrganismo em função da carga hidráulica Fonte: EMERICK, 1997 J. L. van Buuren e outros (1999) afirmam que remoções maiores de coniformes fecais são obtidas com areias com TE<0,2 mm e CU entre 1,5 e 3. Entretanto consideram que tais características conduzem a uma oxigenação deficiente e à colmatação e recomendam o uso de TE de 0,5 a 1,0 mm. Informam ainda que a eliminação de coliformes aumenta sob condições aeróbias, com o aumento da temperatura e com a redução do pH. Na maioria dos casos relatados, o aumento da eficiência está relacionado com o tempo de permanência do efluente no leito, com a uniformidade da aplicação sobre o mesmo e o fracionamento da carga hidráulica diária. Considera-se que existem duas maneiras de se obter altos níveis de remoção usando filtros intermitentes (SCHMITT, 1989; BRISSAUD, 1999 e STEVIK, 1999). O primeiro deles consiste em aumentar a profundidade do leito ou reduzir a carga hidráulica aplicada, o que é uma solução que conduz a uma 77 elevação do custo de investimento do sistema. O segundo método é mais barato e baseia-se na implementação de uma melhor distribuição do efluente sobre a superfície do filtro (SALGOT e OUTROS, 1996). Os resultados (apresentados na Figura 19) obtidos por Salgot e outros (1996) em um experimento em escala real confirmam as premissas adotadas por outros pesquisadores. Brissaud (1999) num trabalho que incluiu experimentos em escala de laboratório e em escala real, apresenta a equação 36 abaixo para representar o transporte de bactérias em um meio poroso saturado, baseado no modelo de Yao e outros (1971): ∂C ∂ 2C ∂C =D 2 −u − K aC + Rd ∂t ∂z ∂z Equação 35 Onde, C é a concentração de bactéria, D é o coeficiente de dispersão para bactéria, u a velocidade da água através do poro, Ka coeficiente da taxa de adsorção e Rd a taxa de dessorção da bactéria da fase estacionária. Considerando todas as partículas de areia do meio filtrante como um coletor, Ka pode ser expresso conforme a equação a seguir: K a = 1,5(1 − θ)ηu z dp Equação 36 Onde θ é o conteúdo de água, η a eficiência de um coletor, z a profundidade no filtro e dp o diâmetro da partícula. A eficiência de um simples coletor é o resultado da soma de três fatores: difusão molecular, interceptação e forças de Van der Waals e sedimentação (YAO e OUTROS, 1971). Pressupondo a existência de condições estacionárias, com uma concentração de bactéria Co constante na entrada do filtro, e negligenciando-se o efeito da dispersão, a concentração na profundidade z pode ser escrita como: 78 C = e ( − K a .α ) Co Equação 37 Conforme a equação acima, a remoção de bactérias é proporcional à profundidade z, o que está de acordo com outros experimentos (LANCE, 1980 apud BRISSAUD, 1999). Além disso, assumindo η proporcional a u-1, ∆fc em um leito de areia resulta proporcional ao tempo de detenção da água no leito, ou tempo médio de passagem. Onde a dessorção é representada por um coeficiente de fixação α, o qual pode ser considerado como a relação entre o número de bactérias definitivamente fixadas à fase estacionária e o número de contatos entre as bactérias em suspensão e a fase estacionária. Então, a remoção de bactérias, ∆fc, em condições estacionárias é dada pela equação: ∆fc = log( Co z ) = 0,65(1 − θ)αη C dp Equação 38 A filtração intermitente a altas taxas não admite negligenciar o efeito da dispersão. Assim, continuando a descrever o trabalho de Brissaud, este autor propõe que ∆fc seja calculado a partir da distribuição do tempo de detenção hidráulica, o que pode ser obtido por métodos numéricos ou através de estudos com traçadores, assumindo-se uma relação linear entre a remoção de coliformes, em unidades logarítmicas, e o tempo de detenção: ∆fc = at + b Equação 39 A diferença entre essa equação e a anterior é a adição da constante b, a qual considera a retenção mecânica na superfície do leito. Ainda conforme o autor, o cálculo do valor de ∆fc não pode ser feito de forma segura se o valor da eficiência de fixação, α, não for constante. Aplicando-se o modelo desenvolvido aos dados de laboratório e de campo, foram encontrados os seguintes valores para os coeficientes: ∆fc = 0,2t + 1,0 Equação 40 79 5.METODOLOGIA 5.1.APARATO EXPERIMENTAL Para atender o objetivo de avaliar o desempenho do FILA tratando efluente de um UASB (Up-flow Anaerobic Sludge Blanket), foi construída uma unidade de tratamento de esgotos piloto em tubos de PVC para esgoto público com diâmetro na câmara de digestão de 30 cm e de 40 cm na câmara de sedimentação. A altura da primeira foi de 2,0 m e da segunda de 1,5 m, sendo 1,0 de altura útil, Figura 21. Visando ao acompanhamento em outras pesquisas, foram previstos três pontos para descarga de lodo em alturas de 50, 100 e 150 cm a partir do fundo, o que possibilitaria o acompanhamento da concentração de sólidos, assim como o teor de voláteis para tais alturas. O volume total resultou em 267 litros. Saída do efluente Separador trifásico Amostradores de lodo Entrada do esgoto bruto Figura 21: UASB 80 O UASB foi alimentado com o esgoto bruto proveniente da Escola Politécnica da UFBA, coletado junto à chegada no poço de decantação primária que antecede a unidade de tratamento em biodiscos (ver Figura 22). Nesse ponto, foi instalada uma bomba que fazia o recalque de uma vazão constante para alimentar o reator UASB. Para controlar a vazão bombeada, foi instalada uma derivação na linha de recalque que retornava parte da vazão bombeada para o poço, com o controle efetuado através de registro. Dreno Água 6 Cuba de Decantação Recirculação de Lodo 8 Rotores 3 7 9 4 16 10 Caixa de Estação RBC Reduto 5 Motor Sedimentação 15 Extravasor Figura 22: Chegada do esgoto bruto Esse arranjo não se mostrou efetivo, pois possibilitava picos de vazão que comprometiam o funcionamento do UASB com o arraste de grandes quantidades de sólidos, sendo então introduzida uma caixa de divisão de vazão antes do UASB (ver Figura 23). Figura 23: Caixa de Divisão de Vazão - CDV 81 Nessa caixa, dividida em dois compartimentos, foram abertas duas soleiras vertentes com comprimentos de 2,0 e 30,0 cm, descarregando, respectivamente, para o UASB e para uma linha de retorno. A vazão de alimentação foi regulada em 70 l/h. Nessas condições, o reator funcionou com uma velocidade ascensional de cerca de 1,0 m/h. O tempo de detenção hidráulica foi em torno de 3,8 horas. O efluente do UASB era encaminhado para um tanque de 300 l dotado de extravasor. De uma tubulação na parte inferior, saía a alimentação do barrilete de 40 mm de diâmetro, a partir do qual se bombeava o esgoto para os filtros (ver Figura 24). Chegada efl. UASB Extravasor Bombas de alimentação dos FILAs Alimentador dos filtros Figura 24: Alimentação dos FILAs Foram utilizadas bombas da marca Invensys BAV1 100-01U, uma para cada filtro (ver detalhe da bomba na Figura 24). O funcionamento dessas bombas era controlado por um programador lógico controlável - PLC, Telemecanique SR1 A101FU, programado para atender o protocolo experimental estabelecido. Foram construídos nove filtros em tubos de PVC para esgoto, com diâmetro de 300 mm. Uma camada filtrante de areia com espessura de 60,0 cm foi colocada sobre uma camada drenante com a espessura de 15,0 cm composta por seixos. Esta camada estava dividida em três subcamadas de 5,0 cm cujos constituintes tinham tamanhos efetivos de 1,6, 2,4 e 6,6 mm, considerando-as do topo para a base. A aplicação da água a ser tratada na superfície do filtro era feita através de um tubo de 25 mm e sua distribuição, através de um recipiente de 100 mm de diâmetro dotado de 8 orifícios de 3 mm 82 em linha a uma altura de 50 mm, visando-se uma melhor utilização de toda a superfície do filtro. A descarga do efluente era feita através de tubo de 40 mm, conforme mostra a Figura 25. Legenda D10=1,2mm D10=1,6mm D10=2,4mm D10=6,6mm Distribuição do esgoto afluente Saída do filtrado Figura 25: Detalhes do FILA 5.2.O MEIO FILTRANTE Foram utilizadas areias de filtro de água provenientes, segundo o fornecedor, do Rio Paraguaçu. A Figura 26 mostra as curvas granulométricas obtidas, a partir das quais se pode constatar que as amostras possuem granulometrias selecionadas e valores de coeficiente de uniformidade próximos à unidade. A Tabela 4 apresenta um resumo dos resultados obtidos dos ensaios de granulometria, densidades máxima e mínima, peso específico das 83 partículas sólidas e condutividade hidráulica do solo saturado. Não foi detectada, para nenhuma das amostras, a presença de argila ou pedregulho. A classificação textural do solo ensaiado foi obtida adotando-se a escala da ABNT, apresentada na norma NBR 6502/95 - Rochas e solos, a qual adota as seguintes definições: Pedregulho: diâmetro acima de 2,0 mm; Areia grossa: 2,0 - 0,60 mm; média: 0,60 - 0,20 mm; fina: 0,20 - 0,060 mm; Silte: 0,060 - 0,002 mm e argila: menor que 0,002 mm. Conforme se pode observar, apenas a amostra 04, de granulometria mais reduzida, apresentou uma condutividade hidráulica saturada na casa de 10-3 cm/s. Todas as outras amostras apresentaram granulometrias em torno de 3,2 x 10-2 cm/s. Os valores de densidade média específica dos grãos do solo variaram em torno de 2,65 g/cm3, que é o valor da densidade do quartzo, mineral constituinte da maior parte das amostras ensaiadas. Novamente, a não ser para o caso da amostra 4, as densidades secas, máxima e mínima obtidas para o solo se apresentaram bastante próximas. Devido ao caráter uniforme da curva granulométrica, o valor do índice de vazios mínimo obtido para as amostras ficou em torno de 0,70, considerado bastante elevado. Isto se refletiu tanto nos valores das condutividades hidráulicas saturadas quanto nas curvas característica de sucção e de condutividade hidráulica. 100 Percentagem que passa AM O ST R A 1 80 AM O ST R A 2 AM O ST R A 3 AM O ST R A 4 AM O ST R A 5 60 40 20 0 0,01 0,1 1 10 D iâm etro (m m ) Figura 26: Curva granulométrica das AMOSTRAS 01, 02, 03, 04 e 05 84 Tabela 4: Resumo dos resultados dos ensaios de caracterização realizados Indent. das Amostras Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4 Amostra 5 Densidade Ensaio de Esp., rs Densidades (g/cm3) Ensaio de Granulometria Pedregulho A.G 99 96 84 - A.M 1414 69 100 - A.F Silte 225 - 6- Argila g/cm³ 2,65 2,66 2,65 2,66 2,66 Max. 1,53 1,531 1,51 1,681 1,533 Min. 1,198 1,24 1,259 1,314 1,267 Ko 3,3E-02 3,0E-02 3,2E-02 4,6E-03 3,7E-02 Das amostras ensaiadas, foram selecionadas para utilização como meio filtrante as de número 2, 3 e 5, com d10, respectivamente de 0,5, 0,7 e 1,2 mm. Os nove filtros foram arranjados em 3 conjuntos de três unidades, com leitos filtrantes constituídos por areias com tamanhos efetivos de 0,5, 0,7 e 1,2 mm, coeficientes de uniformidade menor ou igual a 2 e espessura de 60,0 cm (ver Figura 25). O conjunto do aparato experimental pode ser visto de forma esquemática na Figura 27. CDV UASB Filtro Bomba Tanque Efluente UASB Bomba Figura 27: Conjunto do aparato experimental 85 5.3.O PROTOCOLO EXPERIMENTAL Os nove filtros foram agrupados em três conjuntos de três filtros. Em um mesmo conjunto, cada filtro foi preenchido com um leito filtrante com um tamanho efetivo: F1, 0,5 mm; F2, 0,7 mm; F3, 1,2 mm. Todos os filtros foram carregados intermitentemente com o efluente do UASB, de maneira que todos receberam a mesma carga de 60 cm/dia. Essa carga foi aplicada em um número de doses que variou segundo o conjunto: Conjunto 1, 24 doses por dia; Conjunto 2, 48 doses por dia; Conjunto 3, 96 doses por dia. Dessa forma, cada um dos três tamanhos efetivos foi avaliado com uma freqüência de aplicação, resultando em nove combinações. O protocolo experimental está resumido na Tabela 5. Tabela 5: Protocolo experimental CONJUNTO 1 CONJUNTO 2 CONJUNTO 3 FI - 1 FI - 2 FI - 3 FI - 4 FI - 5 FI - 6 FI - 7 FI - 8 FI - 9 TE 0,5 0,7 1,2 0,5 0,7 1,2 0,5 0,7 1,2 -1 24 24 24 48 48 48 96 96 96 F (doses.d ) As bombas de alimentação dos filtros, apesar de serem do mesmo modelo, apresentaram vazões ligeiramente diferentes, o que foi corrigido com uma regulagem na abertura do registro de entrada em cada filtro. Considerando a carga hidráulica aplicada, 60,0 cm/dia (=600,0 l/m2.dia), e a área do filtro, 0,07 m2, o volume diário a ser aplicado foi de 42 l. A dose foi controlada pela duração, resultando nos valores apresentados na Tabela 6. Tabela 6: Tempos de aplicação -1 Frequência d Tempo de aplicação Volume diário total Conjunto 1 Conjunto 2 Conjunto 3 24 48 96 28 14 7 42 l 42 l 42 l 5.4.CARACTERÍSTICAS DO EFLUENTE APLICADO O efluente aplicado nos filtros foi o esgoto bruto proveniente da Escola Politécnica da UFBA, após passar por tratamento em UASB piloto. 86 Para a realização deste trabalho experimental, as características do esgoto bruto, assim como as do efluente do UASB, foram monitoradas. A Tabela 7 mostra os valores encontrados. Tabela 7: Características do efluente do UASB Esgoto bruto Efluente do UASB n Média sD n Média sD 4 2143,8 866,6 4 2181,8 811,3 Condutividade 4 2612,5 3688,4 4 215,0 75,5 Cor 4 214,6 293,3 4 68,8 31,8 DBO 5 1027,0 878,5 5 212,4 60,1 DQO 5 21,0 8,3 5 16,3 3,0 Fósforo Total 5 141,3 50,6 5 140,8 44,2 Amonia 5 3,6 3,8 5 3,2 4,2 Nitrato 3 167,7 88,1 3 177,7 85,1 NTK 4 50,0 18,2 4 52,5 16,3 K 4 97,5 19,4 4 100,0 17,8 Na 4 1064,0 1086,1 4 69,3 31,6 Sol. Susp. 4 637,8 412,6 4 254,3 405,2 Turbidez 3 15,5 2,1 3 16,8 1,2 Mg 3 49,8 11,0 3 50,2 12,5 Ca Todas as unidades em mg/l, exceto Condutividade m mho/cm Parâmetro 5.5.OPERAÇÃO E AMOSTRAGEM DOS FILTROS Concluída a montagem dos reatores e o ajuste das vazões de alimentação dos filtros, procedeu-se ao início da operação do UASB, adotandose o procedimento descrito a seguir. O UASB foi semeado com 15 litros de lodo proveniente de um reator maduro, com vistas à aceleração do processo. Após a semeadura, o reator permaneceu em descanso por um período de 3 dias, a partir do qual começou a receber esgoto bruto coletado na caixa de reunião. Após 21 dias do início da operação do UASB, iniciou-se a partida dos filtros, que seguiu o seguinte procedimento: o tanque de alimentação foi completamente drenado e completado com água limpa, sendo então iniciada a alimentação com o efluente do UASB. Esse procedimento visou à partida da operação dos filtros com efluente diluído, favorecendo uma aclimatação gradual ao efluente. Os filtros receberam então, cada um, 20 litros do efluente de um biodisco, com o objetivo de prover a semente de bactérias aeróbias para o início de colonização do meio filtrante. A alimentação foi iniciada após 24 horas. 87 Os filtros foram operados de forma regular entre os dias 24/11/04 a 19/01/05. Três fases distintas ficaram caracterizadas nesse período. Na primeira, o filtro operou de forma normal, sem colmatação, entre os dias 24/11/04 e 22/12/04, quando um acidente no funcionamento do UASB liberou uma grande quantidade de sólidos que atingiram a superfície dos filtros. Na segunda fase, do dia 22/12/04 ao dia 11/01/05, os filtros foram operados com a superfície colmatada. Na terceira, foi feita uma remoção de uma camada de cerca de 5,0 cm dos filtros, que permaneceram em operação até o dia 19/01/05. Um novo acidente com o UASB no dia 22/01/05 interrompeu o experimento. Foram coletadas amostras durante todas as fases do experimento, conforme a Tabela 8. As amostras eram coletadas durante um ciclo completo, de modo que os resultados refletem a condição média dos efluentes à saída dos filtros. Foram analisados os seguintes parâmetros nas amostras coletadas: Tabela 8: Parâmetros analisados Parâmetro Amônia Cálcio Condutividade Cor Colif. Term. DBO DQO Fósforo Total Magnésio N. Nitrato Nitrogênio Total Potássio Sódio Sólidos Suspensão Turbidez Nº de análises 5 4 4 5 9 4 6 5 4 5 3 4 4 6 5 Método de Análise SMEWW 417-B SMEWW 3500-Ca D SMEWW 2510-B SMEWW 2121-B Técnica da Memb. Filtrante SMEWW 5210-B SMEWW 5220-B SMEWW 4500-D SMEWW 3500-Mg E Kit/Hach met 8039 Kit/Hach met 10072 SMEWW 3500-B SMEWW 3500-B SMEWW 2540-D SMEWW 2130-B 5.6.ASPECTOS HIDRÁULICOS Foi feita, antes do início da operação, a medição do hidrograma na saída de cada filtro, de modo a possibilitar o cálculo do tempo médio de passagem. 88 5.7.COLMATAÇÃO Em uma etapa posterior, com os filtros alimentados com o efluente de um filtro anaeróbio, o efeito da colmatação foi acompanhado por meio de fotografias da superfície dos leitos. 89 6.RESULTADOS E DISCUSSÃO 6.1.ASPECTOS HIDRÁULICOS Visando definir de forma aproximada os tempos de passagem, um parâmetro importante para os mecanismos físicos e biológicos envolvidos na eliminação da carga orgânica e de microrganismos, foi levantado o hidrograma de saída de cada um dos filtros, cujos resultados podem ser observados no gráfico da Figura 28. Hidrograma Conjunto 1 Vazão (L/min) 0,200 0,150 FI-1/24 0,100 FI-2/24 FI-3/24 0,050 57 53 49 45 41 37 33 29 25 21 17 13 9 5 1 0,000 Tempo (min) Hidrograma Conjunto 2 Vazão (L/min) 0,200 0,150 FI-1/48 0,100 FI-2/48 FI-3/48 0,050 57 53 49 45 41 37 33 29 25 21 17 13 9 5 1 0,000 Tempoo (min) Hidrograma Conjunto 3 0,150 FI-1/96 0,100 FI-2/96 FI-3/96 0,050 Tempo (min) Figura 28: Hidrogramas de saída 56 51 46 41 36 31 26 21 16 11 6 0,000 1 Vazão (L/min) 0,200 90 O tempo médio de passagem – TMP, que corresponde ao centro de gravidade da área sob cada curva – foi calculado para cada um dos filtros no intervalo de uma hora, período em que a lâmina de água aplicada fica igual para todos os filtros. Observa-se que os hidrogramas para os tamanhos efetivos de 0,5 e 0,7 mm são sempre muito próximos, refletindo a proximidade dos TEs. Os resultados podem ser observados na Tabela 9. Tabela 9: Tempo Médio de Passagem, minuto Frequencia (d-1) 24 48 96 0,5 23,1 32,6 30,6 TE (mm) 0,7 23,3 32,1 30,8 1,2 14,8 27,7 30,5 Pode-se notar que os TMP crescem com o aumento da freqüência de aplicação (maior fracionamento da carga diária) e com a redução do TE dos grãos do leito filtrante. 6.2.SÓLIDOS SUSPENSOS O efluente aplicado aos FILAs apresentou concentração média de sólidos suspensos de 69,3 mgSS/l, valor típico de efluentes de UASB, resultando em uma carga de 41,6 g/m2.dia. Essa carga pode ser considerada elevada quando comparada à que Cowan (1980) recomenda, de 13,0 g/m2.dia. Nessas condições, observou-se uma remoção quase total dos sólidos no efluente de todos os filtros, com valores abaixo de 5,0 mgSS/l, exceto nos dos filtros 2/24 e 3/24, com menor freqüência de aplicação (24 d-1) e tamanho efetivo de 0,7 e 1,2 mm respectivamente, como mostra o gráfico da Figura 29. A Tabela 10 mostra a comparação das médias para uma significância de 95%. As médias seguidas, representadas com letras minúsculas iguais nas colunas e com letras maiúsculas nas linhas, não diferem entre si pelo teste de t a 5% de probabilidade. 91 Tabela 10: Comparação das médias de concentração de SS SS F (d-1) 24 TE (mm) 0,5 0,7 1,2 1,6aA 6,0abA 13,6bA 48 96 2,0aA 3,8aA 4,0aA 3,2aB 4,0aA 3,2aAB O conjunto de gráficos temporais apresentados na Figura 30, mostra uma elevação das concentrações de SS na fase em que os filtros operaram com uma camada de sólidos na superfície. Apesar disso, houve uma remoção consistente de SS com todos os resultados abaixo de 20,0 mg/l, exceto em uma amostra do FI 3/24, maior TE (1,2 mm) e menor F (24 d-1). 92 TE 0,7 TE 1,2 120 100 100 100 80 80 80 60 F 24d 40 -1 F 48d -1 F 96d -1 20 60 F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1 40 20 0 1/24 1/48 60 F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1 40 20 0 Efl.UASB mgSS/l 120 mgSS/l 120 1/96 Efl.UASB F 24d-1 2/24 2/48 2/96 0 Efl.UASB F 48d-1 120 100 100 100 80 80 80 TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2 40 20 60 TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2 40 20 0 1/24 2/24 3/24 3/48 3/96 60 TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2 40 20 0 Efl.UASB mgSS/l 120 60 3/24 F 96d-1 120 mgSS/l mgSS/l mgSS/l TE 0,5 Efl.UASB 1/48 2/48 3/48 Figura 29: Box Plot Variação de SS com TE e F 0 Efl.UASB 1/96 2/96 3/96 93 120 120 100 100 100 80 80 80 60 40 20 0 30/11/04 mgSS/l 120 mgSS/l mgSS/l F 24 d-1 60 40 20 12/12/04 24/12/04 Efl.UASB 5/1/05 40 20 0 30/11/04 17/1/05 60 12/12/04 1/24 24/12/04 Efl.UASB 5/1/05 0 30/11/04 17/1/05 12/12/04 2/24 24/12/04 Efl.UASB 5/1/05 17/1/05 3/24 120 120 100 100 100 80 80 80 60 40 mgSS/l 120 mgSS/l mgSS/l F 48d-1 60 40 40 20 20 0 30/11/04 0 30/11/04 12/12/04 24/12/04 Efl.UASB 5/1/05 17/1/05 60 20 0 12/12/04 1/48 24/12/04 Efl.UASB 5/1/05 17/1/05 30/11/04 12/12/04 2/48 24/12/04 Efl.UASB 5/1/05 17/1/05 3/48 120 120 100 100 100 80 80 80 60 40 60 40 20 20 0 30/11/04 mgSS/l 120 mgSS/l mgSS/l F 96d-1 12/12/04 24/12/04 Efl.UASB 5/1/05 1/96 17/1/05 60 40 20 0 30/11/04 12/12/04 24/12/04 Efl.UASB 5/1/05 17/1/05 2/96 Figura 30: Variação temporal de SS 0 30/11/04 12/12/04 24/12/04 Efl.UASB 5/1/05 3/96 17/1/05 94 A remoção quase total dos sólidos no efluente de todos os filtros refletiu-se na baixa turbidez desses efluentes que apresentaram valores médios abaixo de 5,0 NTU – exceto, outra vez, os dos filtros 2/24 e 3/24 (ver Figura 29) –, conferindo-lhes um excelente aspecto para reúsos urbanos em que aspectos estéticos são relevantes. A presença de sólidos suspensos além de um dado limite pode provocar entupimentos nos bicos de aspersão em projetos de reúso agrícola. A Organização Mundial da Saúde recomenda um limite de 30,0 mg SS/l para reúso em irrigação e em recarga de aqüífero. Essa característica é muito importante também para o uso desses efluentes em hidroponia, em que a eliminação de sólidos é fundamental para evitar sua retenção nas raízes e, consequentemente, sua decomposição anaeróbia, que seria danosa ao desenvolvimento das plantas (ANDRADE NETO e OUTROS, 2005). Embora a Resolução nº. 357/2005 do CONAMA não estabeleça limites para concentrações de SS, o faz para turbidez, que é um parâmetro muito associado à presença de sólidos suspensos, conforme mostrado na Tabela 11. Tabela 11: Limites de turbidez na Resolução nº. 357/2005 Classe Turbidez (UNT) 1 40 2 100 3 100 4 na A turbidez é uma medida alternativa da qualidade de efluentes tratados e de águas naturais, com relação à matéria coloidal e em suspensão. Para efluentes tratados, existe uma razoável relação entre o teor de sólidos suspensos totais, SST, e a turbidez (CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998). SST = f .T Equação 41 Onde f é um fator que varia de 2,0 a 2,7. Para os dados obtidos, entretanto, o valor desse fator ficou em torno de 1,10 para o efluente dos filtros. Observa-se que os efluentes de todos os filtros apresentaram valores de turbidez inferiores a 10,0 UNT, muito aquém, portanto, do limite mais restritivo estabelecido na legislação ambiental. Utilizando-se a Equação 1, proposta por Herzig e outros (1970), apud Schmitt (1989), que estabelece a relação entre o volume retido e o 95 volume total do leito, e adotando-se os valores indicados abaixo para os principais parâmetros da equação, obtêm-se os valores de σ em função do tamanho das partículas a serem removidas, conforme mostra o gráfico da Figura 31. Porosidade de 15 a 35% Número de coordenação de 2 a 10 Diâmetro médio da areia de 0,5 a 1,2 mm 10000,00% 1000,00% 100,00% 10,00% 1,00% s% Limite inferior Limite superior 0,10% 0,01% 0,00% 0,00% 0,00% 1 10 100 1000 Tamanho da partícula (mm) Figura 31: Relação entre volume retido por filtração e volume do leito, σ Corapcioglu e Haridas (1984) adotam para σ o valor de 1% como discriminante da importância da retenção por filtração. Obter valores de σ menores que 1% permitiria afirmar que esse fenômeno é desprezível. Observase na Figura 31 que o tamanho das partículas para σ maior que 1%, nas condições experimentadas, varia de 45 a 65 µm. Considerando-se a distribuição do tamanho de partículas em efluente de UASB conforme Alves e outros (2003) e admitindo-se os resultados obtidos por eles como representativos, pode-se concluir que o mecanismo de filtração tem importância na eliminação da matéria em suspensão de efluente de UASB em 96 FILAs, uma vez que, segundo esses autores, 34% dos sólidos em suspensão no efluente do UASB têm tamanho superior a 50 µm. Entretanto, deve-se salientar que, a remoção de sólidos suspensos em FILAs, no nível em que se observou, deve-se, também, aos mecanismos de interceptação, sedimentação e adsorção. 6.3.CÁTIONS E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA Os metais solúveis são removidos em proporções desprezíveis nos filtros, podendo-se afirmar até que essa remoção é nula, que ocorre, de resto, em processos biológicos. Entretanto, realizou-se o monitoramento desses metais devido à importância que eles têm para o reúso de água, principalmente aquele destinado à produção agrícola. Os resultados são apresentados na Tabela 12. Tabela 12: Concentrações de cátions no sistema (mg/l) SÓDIO n 1-Esg.Bruto 2-Efl.UASB 1/24 2/24 3/24 1/48 2/48 3/48 1/96 2/96 3/96 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 média 97,5 100,0 98,5 98,3 98,0 98,3 97,8 98,3 97,0 98,5 98,8 CÁLCIO desvio padrão 19,4 17,8 14,9 14,7 14,3 14,2 15,5 14,9 14,3 14,5 14,1 n 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 média 49,8 50,2 46,5 41,5 36,5 45,8 47,5 53,2 39,8 48,5 47,2 MAGNÉSIO desvio padrão 11,0 12,5 15,4 11,8 14,2 7,8 11,8 29,9 16,6 18,5 22,2 n 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 média 15,5 16,8 19,3 18,8 19,4 18,3 23,2 22,7 21,3 22,3 21,2 desvio padrão 2,1 1,2 2,3 2,2 1,6 4,2 0,3 4,3 3,4 4,6 4,3 O sódio tem importância na definição da qualidade da água para irrigação, uma vez que causa um impacto negativo na permeabilidade do solo quando a Razão de Adsorção de Sódio (RAS), expressa pela Equação 42 a seguir, é alta: RAS = [Na ] [Ca ] + [Mg ] 2 Onde, RAS = razão de absorção de sódio [Na] = concentração de sódio, meq/l [Ca] = concentração de cálcio, meq/l Equação 42 97 [Mg] = concentração de magnésio, meq/l Tabela 13: Estimativa de SDT em função de CE CE (dS/m) SDT (mg/l), máx SDT (mg/l), mín 1-Esg. Bruto 2-Efl. UASB 1/24 2/24 3/24 1/48 2/48 3/48 1/96 2/96 3/96 2,1 2,2 1,6 1,6 1,6 1,6 1,5 1,6 1,5 1,6 1,6 1500,6 1527,2 1104,8 1125,1 1138,0 1122,6 1076,8 1154,1 1064,2 1121,1 1142,2 1179,1 1200,0 868,0 884,0 894,2 882,1 846,0 906,8 836,1 880,8 897,5 Um valor da RAS menor ou igual a 10 é aceitável para solos com mais de 15% de argila. Solos com teores menores de argila podem tolerar uma RAS de até 20, particularmente se a concentração de os sólidos dissolvidos totais SDT for maior ou igual a 800 mg/l. A Tabela 14 mostra as diretrizes para avaliação da qualidade da água de irrigação segundo o critério de RAS associado ao de condutividade elétrica. Tabela 14: Restrição de uso para água de irrigação RAS 0-3 3-6 6-12 12-20 20-40 Nenhuma Moderada CE >0,7 0,7-0,2 >1,2 1,2-0,3 >1,9 1,9-0,5 >2,9 2,9-1,3 >5,0 5,0-2,9 Severa <0,2 <0,3 <0,5 <1,3 <2,9 Fonte: MARQUES, 2003 Na Tabela 15, são apresentados os valores de RAS para os efluentes dos FILAs. Pode-se observar que, em todos os tratamentos, os valores se mantiveram em torno de 3,0. Tabela 15: Razão de adsorção de sódio 1-Esg. Brut o 2-Efl.UASB 1/ 24 2/24 3/24 1/48 2/48 3/48 1/96 2/96 3/96 3, 1 3, 1 3,1 3,2 3,3 3,1 2,9 2,8 3,1 2,9 3,0 A condutividade elétrica da água – CE é uma medida da capacidade da solução conduzir uma corrente elétrica. Uma vez que essa condução se dá por meio dos íons na solução, a CE aumenta com o aumento da concentração de íons. Com efeito, o valor da CE é usado para estimar a concentração de sólidos dissolvidos totais (SDT). Este é um dos parâmetros mais importantes na definição da adequabilidade da água para uso em irrigação. 98 SDT (mg / l ) = CE (dS / m) × (550 − 700) Equação 43 A título de ilustração, apresentam-se a seguir os valores de CE para algumas culturas, com os quais não haveria redução da produção. Tabela 16: Valores de CE para algumas culturas, sem perda de produção Cult ura CE (dS /m ) Gram a B ermu da 13 Cana d e açú car 10 A lgod ão 10 A veia 7 S oja 5 Milho 5 Fonte: PETTYGROVE e ASANO, 1990. Como se pode observar na Tabela 15, a RAS nos diversos tratamentos se manteve em torno de 3,0. Esse fator associado ao valor de 1,5 dS/m para a condutividade elétrica, conduziria a um enquadramento do efluente dos FILAs para o uso em irrigação sem nenhuma restrição. Todavia é preciso ressaltar que a presença de íons decorre, principalmente, da qualidade do manancial da água utilizada e que os valores exigidos para a RAS podem ser diferentes, mais restritivos, dependendo dessa qualidade. 6.4.SUBSTÂNCIAS OXIDÁVEIS A demanda total de oxigênio, DTO, aplicada nos FILAs, resultado da soma das demandas carbonácea e nitrogenada (ver Equação 7), foi de 881,0 mg/l, sendo 69,0 mgO2/l relativa à carbonácea e 812,0 mgO2/l à nitrogenada. Considerando-se a carga hidráulica aplicada, a carga superficial de DTO foi, em média, de 528,0 g/m2.dia; muito superior à recomendada pela EPA (2000), que é de 10 g/m².dia; por Van Buuren e outros (1999), que é de 55,0 g/m2.dia e por Bancolé (2001), que é de 110,0 a 285,0 g/m2.dia. Os resultados obtidos, apresentados na Tabela 17, mostram uma remoção de DBO5 de 79% a 91%, com eficiências de remoção mais elevadas e melhores nas freqüências de aplicação maiores. Os resultados de eficiência de remoção de DBO, quando incluem o UASB, variam de 93% a 97 %. Os resultados apresentados na tabela, quando seguidos por letras iguais na 99 mesma linha, não tiveram diferença significativa pelo teste de Tuckey. Assim, não se observou, nas faixas de granulometria e freqüências estudadas, efeito desses parâmetros na remoção da carga orgânica, exceto no TE de 1,2 mm com f=24 d-1, para o qual o valor médio encontrado difere estatisticamente daqueles obtidos para F= 48 d-1 e F= 96 d-1. Entretanto, como pode ser observado na Figura 32, há uma tendência de melhores remoções para maiores tempos de passagem. Todos os resultados médios de DBO5 estiveram abaixo de 10,0 mgO2/l, exceto os filtros 2/24 e 3/24, que tiveram médias de 13,5 e 14,5 mg/l, respectivamente; ainda assim resultados muito baixos, conforme pode se observar no gráfico da Figura 33. Tabela 17:Resultados médios de DBO5 DBO F (d-1) 24 48 96 TE (mm) 0,5 0,7 1,2 10,0aA 13,5aA 14,5a 8,8aA 7,5aA 8,8aA 7,3aA 7,5aA 6,3aA 16,0 y = -0,4121x + 20,572 R2 = 0,7086 14,0 DBO 5 (m g /l) 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 Figura 10,0 32: Tendência x tempo 30,0 de passagem 5 efluente 15,0 de DBO 20,0 25,0 35,0 Tempo (min) 100 TE 0,7 120 100 100 100 80 80 80 60 mgO2/l 120 40 60 40 F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1 Efl.UASB 1/24 1/48 1/96 0 Efl.UASB F 24d-1 2/24 2/48 Efl.UASB 2/96 F 48d-1 100 100 100 80 80 80 TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2 20 mgO2/l 120 mgO2/l 120 60 60 40 TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2 1/24 2/24 3/24 3/96 TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2 1/96 2/96 3/96 60 40 0 0 Efl.UASB 3/48 20 20 0 3/24 F 96d-1 120 40 F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1 20 0 0 60 40 F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1 20 20 mgO2/l TE 1,2 120 mgO2/l mgO 2/l TE 0,5 Efl.UASB 1/48 2/48 3/48 Figura 33: Box Plot Variação da DBO com TE e F Efl.UASB 101 Efl.UASB 5/1/05 17/1/05 1/24 120 100 80 60 40 20 0 30/11/04 12/12/04 24/12/04 Efl.UASB mgO2/l 120 100 80 60 40 20 0 30/11/04 12/12/04 24/12/04 mgO2/l mgO2/l F 24 d-1 5/1/05 17/1/05 120 100 80 60 40 20 0 30/11/04 12/12/04 24/12/04 Efl.UASB 2/24 5/1/05 17/1/05 3/24 Efl.UASB 5/1/05 17/1/05 120 100 80 60 40 20 0 30/11/04 12/12/04 24/12/04 Efl.UASB 1/48 mgO2/l 120 100 80 60 40 20 0 30/11/04 12/12/04 24/12/04 mgO2/l mgO2/l F 48d-1 5/1/05 17/1/05 2/48 120 100 80 60 40 20 0 30/11/04 12/12/04 24/12/04 Efl.UASB 5/1/05 17/1/05 3/48 Efl.UASB 5/1/05 1/96 17/1/05 120 100 80 60 40 20 0 30/11/04 12/12/04 24/12/04 Efl.UASB mgO2/l 120 100 80 60 40 20 0 30/11/04 12/12/04 24/12/04 mgO2/l mgO2/l F 96d-1 5/1/05 17/1/05 2/96 Figura 34: Variação temporal da DBO 120 100 80 60 40 20 0 30/11/04 12/12/04 24/12/04 Efl.UASB 5/1/05 3/96 17/1/05 102 Tais resultados qualificam esses efluentes para o atendimento às legislações mais restritivas do Brasil, como nos casos de São Paulo e Minas Gerais, Estados em que o limite imposto é de 60,0 mg/l. No plano internacional, o efluente final atende aos padrões da agência ambiental americana, EPA, e da diretiva da Comunidade Européia, que são, respectivamente, de 30,0 e 20,0 mg/l. No que tange à demanda nitrogenada, observa-se uma elevada diminuição das formas reduzidas do nitrogênio e o aumento de nitrato nos efluentes dos filtros (ver Figura 35). Enquanto que no efluente do UASB a presença de nitrogênio nas formas reduzidas e oxidadas foi de 98 e 2%, respectivamente, na saída dos filtros essa proporção foi de 21 a 44% para as formas reduzidas e de 79 a 56% para as formas oxidadas; sendo que os piores resultados foram os do filtro 1/48 (Te= 0,5mm e f=48d-1) e os mais elevados, os provenientes do filtro 2/48 (Te= 0,7 mm e f= 48d-1). Na média geral, a proporção foi de 35 e 65%. 250,0 200,0 150,0 Amônia Nitrato 100,0 50,0 0,0 2-Efl.UASB 1/24 2/24 3/24 1/48 2/48 3/48 1/96 2/96 3/96 Figura 35: Oxidação da amônia Tomando-se por base esses valores, a DTO removida variou do mínimo de 514,3 ao máximo de 703,8 mg/l para os filtros 1/48 (Te= 0,5mm e 103 f=48d-1) e 2/48 (Te= 0,7 mm e f= 48d-1), respectivamente. Deve-se ressaltar a elevada capacidade de oxidação total dos filtros, mesmo no caso do filtro 1/48, que teve o resultado mais baixo. É importante salientar aqui a característica atípica do efluente utilizado, com uma concentração de nitrogênio total de 177,7 mg/l, quando o valor normal em esgotos domésticos situa-se na faixa de 35,0 a 70,0 mg/l (BASTOS, 2003). Isso se deve, provavelmente, a ausência de outras correntes – presentes no esgoto doméstico típico – como água de chuveiro e de lavagem de roupa, que diluem o teor de nitrogênio, e também à predominância da presença de urina em relação a fezes (DULTRA, 2005). Sabe-se que a urina contribui com mais de 90% do nitrogênio presente no esgoto doméstico (HENZEN, 2001). Como referência, um esgoto doméstico típico após tratamento em UASB teria uma DTO da ordem de 300,0 mg/l, cerca de um terço da DTO do efluente utilizado, o que, provavelmente, possibilitaria uma nitrificação mais completa do que se observou neste experimento. O expressivo grau de nitrificação do efluente indica a natureza aeróbia do processo de digestão, sendo o aporte de oxigênio da ordem de 360,0 g/m2.dia para justificar a remoção da DTO. Diversos autores sugerem que o fracionamento da carga hidráulica diária em um número maior de doses favorece os mecanismos de convecção para aporte de oxigênio ao meio filtrante, tendência também observada neste experimento. Entretanto, a ausência de medições dos teores de gases na atmosfera do leito não permite concluir a relevância maior entre os dois mecanismos apontados como responsáveis pelo fornecimento de oxigênio para os processos biológicos: convecção e difusão. O efluente final, com baixa carga orgânica, pode ser utilizado para diversas aplicações urbanas não potáveis, podendo, inclusive, ser armazenado por longos períodos sem que se verifique a formação de odor (COHIM e OUTROS, 2005), característica desejável para essas aplicações. 104 6.5.MICRORGANISMOS O efluente do UASB apresentou, durante a fase experimental, densidade média de coliformes termotolerantes (C.TE.) de 5,9 uLog/100 ml, com máximo de 6,5 e mínimo de 4,5 uLog. A remoção de coliformes termotolerantes mostrou-se, em geral, ser expressiva em FILAs, conforme evidencia a Tabela 18. Essa remoção é tanto maior quanto maior é a freqüência de aplicação. O TE mostrou-se um fator importante quando foi utilizada a freqüência de 24d-1. Para as freqüências de 48 e 96 d-1, o TE mostrou-se pouco relevante. O fracionamento da dose revelase mais importante para o TE de 1,2 mm. Nos filtros 1/48, 2/48, 1/96, 2/96 e 3/96, as concentrações médias residuais de coliformes termotolerantes ficaram abaixo de 3 uLog/100ml (ver Figura 36). Tabela 18: Resultados médios de C.TE. no efluente dos filtros C.TE. F (d-1) 24 TE (mm) 0,5 0,7 1,2 3,7aA 3,4aA 5,1 48 96 2,7aA 2,8aA 3,6a 2,8aA 2,8aA 2,6a A média geral da densidade de C.TE. na saída dos filtros para uma dada freqüência, independentemente do TE, mostrou uma tendência de valores menores para as freqüências maiores, enquanto que, para um mesmo TE, independentemente da freqüência, os valores foram menores para os menores TEs, conforme pode se observar na Tabela 19. Tabela 19: Densidades médias de C.TE. (uLog/100ml) TE (mm) 0,5 0,7 1,2 Frequência (d-1) 24 48 96 3,7 2,7 2,8 3,4 2,8 2,6 5,1 3,6 2,6 105 TE 0,7 TE 0,5 7,0 7,0 F 24d-1 6,0 F 48d-1 F 96d-1 F 48d-1 F 96d-1 3,0 2,0 1,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 1/24 1/48 1/96 F 24d-1 2/24 2/48 6,0 Efl.UASB TE 0,7 TE 1,2 TE 0,7 TE 1,2 2,0 1,0 4,0 3,0 2,0 3/24 TE 0,7 TE 1,2 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 2/24 3/96 5,0 1,0 0,0 TE 0,5 6,0 u Log/100ml 3,0 3/48 7,0 TE 0,5 6,0 u Log/100ml 4,0 3/24 F 96d-1 5,0 1/24 2,0 F 48d-1 5,0 Efl.UASB 3,0 2/96 7,0 TE 0,5 4,0 0,0 Efl.UASB 7,0 F 96d-1 1,0 0,0 Efl.UASB F 48d-1 5,0 u Log/100ml 4,0 F 24d-1 6,0 5,0 u Log/100ml u Log/100ml 7,0 F 24d-1 6,0 5,0 u Log/100ml TE 1,2 0,0 Efl.UASB 1/48 2/48 3/48 Efl.UASB Figura 36:Box Plot Variação da qualidade do efluente com TE e F 1/96 2/96 3/96 106 Os resultados mostram que os filtros 1/48, 2/48, 1/96, 2/96 e 3/96 apresentaram efluente final com qualidade compatível com o padrão de irrigação irrestrita da OMS e com a classificação de muito boa para balneabilidade. O padrão de Classe 2 de corpo receptor da Resolução nº. 357/2005 do CONAMA também pode ser atendido por esses filtros. Embora não tenha força de lei, a norma brasileira NBR nº. 13369 sugere a adoção de um padrão de 500 UFC/100ml como seguro para uso de efluente tratado em descarga de vasos sanitários. Esse limite, quando confrontado com o limite de 1000 UFC/100ml para águas balneares satisfatórias, parece extremamente restritivo considerando-se o nível de exposição a que se submete em uma e outra situação. Entretanto, os filtros citados também teriam capacidade de atender a esse padrão. A eficiência de remoção de bactérias está associada aos mecanismos de interceptação e de adesão. Esses mecanismos são favorecidos pelo escoamento em lâminas muito finas em que os microrganismos passam muito mais próximos dos grãos que formam o leito filtrante, favorecendo a adesão e posterior abatimento. Um fator que parece estar ligado ao desempenho dos filtros no que diz respeito à remoção de microrganismos é o tempo médio de passagem (TMP), este também relacionado com a freqüência de aplicação e com o tamanho efetivo dos grãos. Ao plotar os resultados de remoção versus os TMP, observa-se um elevado grau de aderência, traduzido por um coeficiente de determinação R2= 0,89, que pode ser considerado elevado devido à natureza do processo, conforme se observa no gráfico da Figura 37. É importante destacar a semelhança da Equação 44 obtida neste experimento com a que outros autores obtiveram (cf. SCHMITT, 1989; BRISSAUD 1976). ∆fc=0,1299t – 0,8616 Equação 44 107 4 y = 0,1299x - 0,8616 R2 = 0,894 3,5 3 uLog removida 2,5 2 1,5 1 0,5 0 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 TMP (min) Figura 37: Remoção de C.TE. versus TMP Embora o efeito positivo do fracionamento maior tenha sido observado no que tange à remoção de microrganismos, é importante registrar que freqüências maiores reduzem a duração da carreira do filtro. Essa suspeita surgiu durante a primeira etapa do experimento e ensejou o acompanhamento mais atento desse aspecto durante a segunda etapa, quando a superfícies dos leitos foi fotografada periodicamente. Uma seqüência de fotos, feitas para comparar a evolução do processo para os tamanhos efetivos e as freqüências utilizadas, é mostrada da Figura 39 à Figura 44. Observa-se também que, como era de se esperar, esse processo é mais rápido para os menores tamanhos efetivos dos grãos. Esse fato foi também observado por Bancolé e outros (2003), quando eles utilizaram uma carga hidráulica de 0,5 m3/m2.dia fracionada em 1, 2, 4 e 8 doses por dia. Embora as freqüências maiores proporcionassem os melhores rendimentos em termos de redução da carga orgânica, ensejavam um maior desenvolvimento do biofilme, principalmente nas camadas superiores do filtro, conforme se pode observar na Figura 38. 108 Figura 38: Perfil da Biomassa Heterotrófica após 3 dias de operação (H = 0,5 m/d; DQO afluente = 300 mg/L; N-NH4 afluente = 60 mg/L) A distribuição vertical da biomassa é muito influenciada pela velocidade de percolação, sendo esta maior para as menores freqüências de aplicação (BANCOLÉ, 2001). Possivelmente, esse fenômeno está relacionado ao tempo de contato da biomassa com a matéria orgânica na parte superior, muito maior nas maiores freqüências de aplicação. Assim, os microrganismos nessa altura do filtro recebem uma maior quantidade de alimento, o que possibilita seu maior crescimento. O oposto, menores freqüências de aplicação, reduz esse tempo de contato, permitindo uma maior distribuição do alimento ao longo de toda a altura do filtro. 109 1/24 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 2/24 3/24 21/10 07/11 16/11 24/11 Figura 39: Evolução da colmatação filtros Conjunto 1 (F 24 d-1) 16/12 110 1/48 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 2/48 3/48 Figura 40: Evolução da colmatação filtros Conjunto 2 (F 48 d-1) 111 1/96 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 2/96 3/96 Figura 41: Evolução da colmatação filtros Conjunto 3 (F 96 d-1) 112 1/24 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 1/48 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 1/96 Figura 42: Evolução da colmatação filtros TE 0,5 (F 24 d-1, 48 d-1 e F 96 d-1) 113 2/24 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 2/48 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 2/96 21/10 07/11 16/11 24/11 Figura 43: Evolução da colmatação filtros TE 0,7 (F 24 d-1, 48 d-1 e F 96 d-1) 16/12 114 3/24 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 3/48 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 21/10 07/11 16/11 24/11 16/12 3/96 Figura 44: Evolução da colmatação filtros TE 1,2(F 24 d-1, 48 d-1 e F 96 d-1) 115 6.6.NUTRIENTES Neste item, avaliam-se os resultados do desempenho dos FILAs no que concerne ao balanço de nutrientes, tendo como objetivo não a sua eliminação para a preservação de corpos d’água receptores, mas a sua preservação para utilização produtiva, principalmente na produção de alimentos. Foram analisados os seguintes macronutrientes: nitrogênio, fósforo e potássio. Em geral, conforme esperado, a remoção desses nutrientes foi pequena, conforme mostrado na Tabela 20. Tabela 20:Remoção de nutrientes 2-Efl.UASB 1/24 2/24 3/24 1/48 2/48 3/48 1/96 2/96 3/96 n 5 4 5 5 5 5 5 5 5 5 FÓSFORO desvio média padrão 16,3 3,0 11,3 5,7 11,2 3,6 11,4 3,5 10,7 4,3 9,6 4,5 11,9 3,2 11,0 3,6 11,6 3,4 11,1 3,3 NT n 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 média 177,7 123,0 158,0 159,3 153,3 162,7 160,0 172,3 169,3 174,3 desvio padrão 85,1 71,5 59,4 34,6 55,1 56,6 60,8 62,7 61,7 38,6 n 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 POTÁSSIO desvio média padrão 52,5 16,3 49,5 12,9 49,8 13,8 50,0 13,1 50,0 12,9 48,8 16,5 50,8 13,7 49,5 13,7 51,0 13,3 51,0 13,4 O fósforo foi removido, em média, em 32%, com o máximo de 41% no filtro 2/48 e o mínimo de 27% no filtro 3/48. O principal mecanismo de remoção de fósforo (ANDERSON e OUTROS, 1985; LEFEVRE, 1988) é a adsorção, que tende a ser mais efetiva no início da operação quando é maior a disponibilidade de sítios. Embora fosse de se esperar que houvesse maior remoção nos menores tamanhos efetivos (maior superfície específica) e nas maiores freqüências (maior probabilidade de adsorção), essa expectativa não foi confirmada pelos resultados. O nitrogênio total foi muito pouco removido nos filtros (na média 10% de remoção), variando de 2 a 31%, nos filtros 3/96 e 1/24, respectivamente. O principal mecanismo de remoção de nitrogênio em FILAs é a desnitrificação que pode ocorrer em microsítios anóxicos, mas sempre em pequena proporção (CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998). Todavia, a remoção do nitrogênio é possível, fazendo-se a recirculação do filtrado para a entrada do esgoto bruto (VENHUIZEN, 2005). Em filtros de passagem única (sem recirculação), a 116 principal transformação que ocorre com os compostos nitrogenados é a oxidação da amônia. Essa transformação é relevante na medida em que os nitratos constituem-se a forma de nitrogênio preferencial da maioria das plantas. O potássio, como outros cátions já mencionados, tem uma retenção quase nula nos FILAs. Essa retenção foi, em média, de 5%, variando de 3 a 7%, respectivamente nos filtros 3/96 e 2/48. Como se pode observar, portanto, os FILAs preservam nutrientes, transformando-os, como no caso do nitrogênio, em formas mais assimiláveis. 6.7.OUTROS ASPECTOS Alguns fatores, provavelmente, influenciaram os resultados desta pesquisa e, por essa razão, considera-se relevante que sejam mencionados. O sistema de distribuição utilizado mostrou ser pouco eficaz em decorrência do uso de uma área relativamente pequena da superfície dos filtros. Esse fator influenciou negativamente os resultados em dois aspectos. O primeiro diz respeito ao desempenho dos filtros na sua ação depuradora, que se mostrou reduzida devido à má distribuição do efluente sobre o leito. O segundo aspecto – também de grande importância na operação de FILAs e, de certa forma, conseqüência do primeiro – está ligado à colmatação do leito. A distribuição deficiente sobrecarrega uma pequena área, que se colmata mais rapidamente gerando um processo de colmatação progressiva que poderia, provavelmente, ser evitado com uma distribuição mais uniforme. As fotos da Figura 39 à Figura 44 mostram a evolução do avanço da área utilizada. 117 7.CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A análise dos resultados deste experimento levou a algumas conclusões sobre o funcionamento dos FILAs. A partir dos resultados obtidos, pode-se afirmar que os filtros intermitentes em leito de areia são eficientes na remoção de matéria particulada na forma de sólidos suspensos, na faixa de granulometria de 0,5 a 1,2 mm e nas freqüências de aplicação de 24 a 96 d-1. Nessas condições, chega-se a concentrações consistentemente abaixo de 20,0 mg/l. o que garante a sua qualidade para este fim. Da mesma forma que outras formas de tratamento biológico, os FILAs não removem cátions. Os FILAs removem de forma consistente a matéria orgânica na forma de DBO5. Este processo de remoção é beneficiado pelo aumento da freqüência de aplicação, principalmente quando se utilizam tamanhos efetivos maiores. O efeito do aumento da freqüência de aplicação é menos notável nos tamanhos efetivos menores. Além de remover a DBO5, os FILAs promovem a nitrificação, que neste experimento atingiu valores superiores a 50% da amônia afluente. Esse valor é notável se for considerada a elevada carga de amônia aplicada, três vezes maior que a de um esgoto doméstico típico. Os FILAs também removem microrganismos, atingindo até 4 uLog de remoção de coliformes termotolerantes nas faixas de tamanho efetivo e freqüências de aplicação utilizadas neste estudo (TE de 0,5 a 1,2 mm e F de 24 a 96 d-1). O aumento da freqüência de aplicação melhorou de forma significativa o desempenho dos FILAs na remoção de coliformes termotolerantes para o maior tamanho efetivo estudado. Além da remoção consistente de sólidos suspensos, de matéria orgânica e de microrganismos, constatou-se que a perda de nutrientes no processo de tratamento é mínima, restringindo-se a 32% do fósforo, 10% do nitrogênio e 5% do potássio. Não se observou correlação entre as perdas de nutrientes e as variações dos parâmetros estudados. 118 O aumento da freqüência de aplicação nos tamanhos efetivos menores reduziu a carreira de filtração. A estratégia de associar leitos de granulometria mais grosseira com altas freqüências de aplicação parece ser promissora por permitir a utilização de cargas hidráulicas diárias mais altas sem perda de eficiência. As conclusões deste trabalho nos levam a afirmar que é possível produzir água de boa qualidade para diversos usos urbanos e agrícolas com densidades de microrganismos abaixo de 103 UFC/100 ml de coliformes termotolerantes a partir de efluente de UASB. Dentre as aplicações que poderiam ser feitas com o efluente de FILAs destacam-se o uso em descarga de vasos sanitários e, principalmente, na produção de alimentos através de hidroponia. Esta se beneficiaria da água e dos nutrientes, além da baixa concentração de sólidos suspensos (MELO e OUTROS, 2003). Caso se deseje efluentes de altíssima qualidade bacteriológica, o efluente do FILA pode reduzir de forma substancial a demanda de desinfetante. A tecnologia de filtração intermitente parece ser de grande potencial para aplicação no Brasil, onde se beneficiaria do clima, sendo necessário o seu aprimoramento para haver uma adaptação às nossas condições. Dentre os aspectos mais relevantes para o desenvolvimento tecnológico do FILA, recomendam-se: 1. A realização de um estudo das características hidrodinâmicas e aerodinâmicas dos leitos granulares visando à definição de parâmetros para projeto de unidades de tratamento em função do objetivo a ser atingido: maximizar a remoção de microrganismos ou oxidação da matéria orgânica. Esse estudo deveria propor modelos de cálculo do tempo de passagem e das taxas de renovação dos estoques de ar no leito, inclusive com a utilização de aeração natural induzida. 2. A investigação do uso de recheios alternativos, com maior eficiência em termos de escoamento da água e das trocas gasosas, inclusive leitos reativos, visando à redução da área requerida. Enchimentos com geotêxteis, com espuma de poliuretano e argila expandida já vêm sendo estudados em outros lugares. 119 3. A promoção de estudos para definição de estratégias de gestão da colmatação, tendo como base o acompanhamento da biomassa nas diversas alturas do leito durante as fases de alimentação e de repouso, bem como do uso da recirculação do efluente tratado. 4. A realização de um estudo para a utilização do efluente em culturas hidropônicas, inclusive alimentares. 5. A realização de um estudo para avaliação da eficiência de FILA na remoção de algas em efluentes de lagoas de estabilização. 6. A avaliação do desempenho do filtro com a introdução de filtro anaeróbio no pré-tratamento. 120 REFERÊNCIAS AGENCE DE L’EAU. Epuration des eaux usées urbaines par infiltration percolation: état de l’art et etude de cas. Etude Inter-agence nº.9, Office International de l’Eau, Paris, 2003. AISSE. M. M. Tratamento de Efluentes de Reatores Anaeróbicos. 284f. 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