3 FACULDADE DE EDUCAÇÃO DE PORTO VELHO ARIANE CAVALCANTE DOS SANTOS O LUTO NO AMBIENTE ESCOLAR DA EDUCAÇÃO INFANTIL Porto Velho 2013 4 ARIANE CAVALCANTE DOS SANTOS O LUTO NO AMBIENTE ESCOLAR DA EDUCAÇÃO INFANTIL Artigo Científico apresentado em cumprimento às exigências para a obtenção do titulo de graduada em Licenciatura Plena de Pedagogia Series Iniciais e Gestão Escolar, da Faculdade de Educação de Porto Velho – UNIRON. Professora – Orientadora: Soeli de Freitas Cabral Amaral Porto Velho 2013 5 O LUTO NO AMBIENTE ESCOLAR DA EDUCAÇAO INFANTIL Ariane Cavalcante dos Santos 1 Soeli de Freitas Cabral Amara2l RESUMO O presente artigo apresenta a pesquisa que tem como objetivo investigar como é trabalhado o “luto” pelos coordenadores pedagógicos nas Instituições Escolares de Educação Infantil, buscando saber também como as crianças reagem diante deste processo. A pesquisa foi realizada em quatro Escolas de Educação Infantil, no Município de Porto Velho – RO, sendo classificada como pesquisa de campo e de cunho qualitativo; descritiva e exploratória, com fonte de pesquisa bibliográfica. Para coleta de dados foram aplicados questionários para os professores, coordenadores pedagógicos e foi feita observação em loco. A análise foi realizada com base nos livros sobre Morte. Os resultados mostram que os professores trabalham o luto com as crianças, buscando uma metodologia de acordo com as necessidades das mesmas, pois as escolas não têm nenhum tipo de projeto ou metodologia para trabalhar o assunto; e que cada criança tem reações distintas. Portanto, verificou-se que, por mais que os professores trabalhem o luto, o envolvimento é muito pouco, é necessário que as escolas comecem a refletir e abra um leque de opção pedagógica, com projetos sobre a questão em si. Palavras-chave: Criança. Escola. Morte. Educadores. ABSTRACT This article presents research that aims to investigate how it worked the "mourning" by the coordinators in the School of Early Childhood Education Institutions, seeking also know how children react to this process. The survey was conducted in four daycare centers in the city of Porto Velho-RO, classified as field research and qualitative nature, descriptive and exploratory, with source literature. For data collection were questionnaires for teachers, pedagogic coordinators and observation was made in situ. The analysis was based on the books about Death. The results show that teachers work with grieving children, seeking a methodology in accordance with the needs of the same, because the schools do not have any kind of design or methodology to work it, and that each child has different reactions. Therefore, it was found that, for most teachers work of mourning, the involvement is very little, it is necessary that schools begin to reflect and open up a range of pedagogical option, with projects on the issue itself. Keywords : Child. School. Death. Educators. 1 Graduanda do Curso de Pedagogia nas Séries Iniciais e Gestão Escolar, UNIRON, 2013. E-mail: [email protected] 2 Professora Orientadora: Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente: Desenvolvimento da competência Gestora na Educação Infantil. [email protected] 6 INTRODUÇÃO Falar sobre morte ainda é um grande tabu na sociedade, principalmente dentro das escolas de educação infantil, não se ouve falar, neste assunto. As pessoas tendem a ignorar, pensando que não é assunto pra se tratar com as crianças. Para alguns autores é necessário falar da morte de maneira clara e objetiva, e assim perguntamos para nós mesmos como futuros professores, como falar para essas crianças sobre a morte? O tema deste artigo é o “luto no ambiente escolar da educação infantil” motivado pela curiosidade e dúvida de saber como o professor lida com o assunto do luto dentro da sala de aula e, qual a postura dos gestores diante desse problema? Tendo como justificativa a questão de abordar o tema do luto na escola e verificar, como a escola trabalha a temática relacionada á morte, pois o que se sabe quando morre alguém das relações familiares de algum funcionário ou mesmo de alguma criança, simplesmente não tem aula; não se trabalha a questão dessa morte. As mortes estão sempre relacionadas com a imprudência, consequências, doenças ou mesmo morte natural, e podem-se trabalhar conceitos que permeiam o conhecimento, através dessas mortes, fazendo uma intervenção. Os professores precisam estar preparados, destacando que o papel do professor não é simplesmente conteúdos, mas também trabalhar o lado emocional dos alunos. A pesquisa tem como objetivo geral investigar a importância de trabalhar o luto com as crianças na escola e verificar como elas reagem diante deste processo. O estudo consistiu em uma pesquisa de cunho qualitativa com base nos livros sobre a morte, com abordagem dedutiva e a classificação da pesquisa exploratória, descritiva e com levantamento de dados, que será relatado nesse trabalho acadêmico com fonte de pesquisa bibliográfica e de campo. Os autores principais que embasaram a pesquisa foram Paiva, 2011, Hennezel, 1999 e outros com abordagem sobre a morte, desenvolvendo conhecimentos sobre o luto. Todo o trabalho tem o intuito de verificar a ciência da morte, e se a escola contribui para o desenvolvimento dos alunos, fazendo com que os mesmos tenham um olhar diferenciado em relação à vida. 7 CONCEPÇÃO SOBRE A MORTE Sabe-se que um dia o homem tem que morrer e, a morte não anuncia quando chegará, ela simplesmente acontece. Às vezes por imprudência, violência, consequências, doenças ou mesmo morte natural. Historicamente no inicio dos tempos, a morte era um símbolo de libertação da alma, do espírito. Algumas tribos ou comunidades a morte é um processo de libertação; diante dessas crenças, os enlutados dançam, cantam em momentos de grande alegria. Na tradição judeu-cristã, a morte é considerada como uma passagem. Segundo Hennezel (2000, p.13), cita que “a sabedoria dos budistas que aceitam a morte como parte integrante da vida parece ser algo exótico. O mesmo se pode dizer da sabedoria dos índios [...]”. Em relação à morte, no cristianismo eles não rejeitam o sofrimento, isto é, nunca consideram como uma ilusão. É uma realidade acolhida com o coração, embora nos faça sofrer. Na sociedade brasileira o assunto ainda é um grande tabu até mesmo para os profissionais da saúde que convivem diariamente com esse tipo de situação. E, mais ainda, quando a morte chega aos lares brasileiros, no ambiente escolar, ou quando algum parente está no hospital desenganado pelos médicos, é muito difícil à família aceitar a morte desses parentes, pois não adianta tentar negar para si mesmo, tentado fugir desse sofrimento, devemos encará-lo e reagir, porque em algum momento de nossa vida isso acontecerá. E por que não encará-la? A morte não é o fim da vida, mas o fim de uma ilusão, uma libertação, libertação do sofrimento, do encadeamento de causas e efeito. É a razão pela qual a morte é um momento abençoado, o momento mais sagrado da existência porque é, finalmente, a ocasião de entrar em um espaço ilimitado. É o momento em que a realidade é, por fim, revelada (HENNEZEL; LELOUP, 2000, p. 34). De acordo com o texto citado, a morte faz parte do ciclo de vida, não sabese aceitar o fato de perder alguém ou não há uma conformação natural com a dor da perda, pois raramente no cotidiano o assunto foi tratado. Para muitos filósofos e autores, o tema morte é soberano. As atitudes em negar a morte faz querer ser 8 imortal, muitos vivem pensando na imortalidade e não se pergunta qual o propósito da vida. E, por que não refletir com tantas mortes que cercam a sociedade. Diante disto, ao se olhar sem preconceitos ou receios, perceber-se-á que estão explícitos fatos de morte, nos desenhos, novelas, jornal, filmes e na literatura e principalmente em nosso cotidiano. A FAMÍLIA, CRIANÇA X CONCEPÇÃO DE MORTE Para muitas famílias, falar sobre a morte é algo muito delicado, pois imaginam que as crianças não são capazes de entender o que está acontecendo ao seu redor. Observar-se que algumas crianças, têm em sua criação, o hábito de não participar de velórios, podendo este velório, ser de seus pais, avós, qualquer outro membro da família ou mesmo de amigos. Segundo Paiva (2011, p.41), fez um estudo sobre a aquisição do conceito morte pelas crianças, de acordo com os estágios estabelecidos por Piaget (1987,1996). Aponta as seguintes diferenças para cada estágio: 1º Período Sensório-motor: criança de 0 a 2 anos (ante da aquisição da linguagem) O conceito de morte não existe. A morte é percebida como ausência e falta. A morte corresponde á experiência do dormir e acordar: percepção do ser e não ser. 2º Período Pré-operacional: criança de 3 a 5 anos As crianças compreendem a morte como um fenômeno temporário e reversível. Não entendem como uma ausência sem retorno. Atribuem vida á morte, ou seja, não separam a vida da morte. Não distinguem os seres animados dos inanimados. Entende a morte ligada á imobilidade. Apresentam pensamento mágico e egocêntrico. São autorreferentes, e, para elas, tudo é possível. Compreendem a linguagem de modo literal/concreto. 3º Período Operacional: crianças de 6 a 9 anos Apresentam uma organização em relação a espaço e tempo. Distinguem melhor os seres animados dos inanimados. Entendem a posição entre a vida e a morte, compreendendo a morte como um processo definitivo e permanente. Compreendem a irreversibilidade da morte. Há uma diminuição do pensamento mágico, predominando o pensamento concreto. 9 Ainda não são capazes de explicar adequadamente as causa da morte. Conseguem apreender o conceito de morte em sua totalidade em relação á não funcionalidade, á irreversibilidade e á inevitabilidade da morte. 4º Período de Operações Formais: crianças de 10 anos até a adolescência. O conceito de morte, devido ao pensamento formal, torna-se mais abstrato. Já compreendem a morte como inevitável e universal, irreversível e pessoal. As explicações são de ordem natural, fisiológica e teológica (TORRES, 1999 apud PAIVA, 2011, p.41). De acordo com os estágios do texto citado percebe-se que a cada idade a criança começa aguçar a sua curiosidade do mundo, compreendendo a vida, adquirindo novos conhecimentos por mais que seja um assunto complicado e que eles nunca ouviram. E porque não explicar para a criança o que é a morte? Diante de tantas mortes na sociedade, este é o grande momento de explicar para elas o porquê de tanta morte, e porque ela vem sem avisar, de maneira repentina deixando marcas e angústia. É importante ressaltar que, quando alguém da família morre, a notícia deve ser dada pela pessoa em que a criança confie, e jamais tentar esconder isso dela. Paiva (2011, p.37) ressalta que: “atualmente, a criança não participa do processo de morte e seus rituais. A meu ver, subestima-se a criança alegando-se protegê-la. Para que a criança não sofra, nós impedimos de olhar a realidade da vida e suas perdas [...]”. De acordo com o texto citado, é necessário mudar o pensamento de muitos em relação à morte, pois cada vez mais está ocupando espaço na sociedade. Definir a morte como algo complexo, fazendo repensar a formação do sujeito como um todo, a morte de um individuo, implica em várias mudanças desde psicológica, quanto social e educacional. Falar da morte com as crianças não significa entrar em altas especulações ideológicas, abstratas e metafísicas nem em detalhes assustadores e macabros. Refiro-me a colocar o assunto em pauta. Que ele esteja presente, através de textos e imagens, simbolicamente, na vida da criança. Que não seja mais ignorado. Isso nada tem a ver com depressão, morbidez ou falta de esperança. Ao contrário, a morte pode ser vista, e é isso o que ela é como uma referência concreta e fundamental para a construção do significado da vida. (AZEVEDO 2013, Apud PAIVA, p. 29.). Quando o assunto é a morte, o que se ver e observa é a relutância que muitos têm em tratar o assunto como se fosse algo proibido ou até mesmo macabro, 10 porém deve ser tratado de forma natural. Nossa preocupação deve ser no cuidado com a forma do falar, de expressar o assunto. Por isso, a maneira de falar com as crianças sobre a morte, é reflexo da maneira como as pessoas adultas lidam com a morte. Que cada um reage conforme suas crenças e seus sentimentos. A CRIANÇA E O LUTO Desde cedo, a criança observa situações relacionadas à morte, pois a partir do momento em que os pais colocam seus filhos na frente da televisão assistindo desenhos, filmes e ouvindo músicas infantis ou mesmo, nos contos de fadas que tenham a morte em seu contexto, a criança passa a ter uma noção do luto. Por isso não devemos esconder delas um assunto que é tão pertinente na vida. Deve-se explicar de forma lúdica, pois ainda não existe tecnologia suficiente para quebrar este tabu. Segundo Paiva (2011, p.40) A criança é criativa, imaginativa e tem uma curiosidade natural que a faz descobrir o mundo, a vida e seus mistérios. Para tudo busca um por quê? Não havendo diferença em relação à morte. Dessa forma, conforme cresce, ela adquire novos conhecimentos e aprende através da exploração de seu mundo. Diante disso, fica clara a análise, de que as crianças são investigadoras e curiosas, elas sabem o que está acontecendo ao seu redor, sabe quando os pais estão passando pelo processo de luto, e observa quando alguém morre. O que revela que as crianças também ficam de luto, quando alguém morre elas observam o comportamento dos pais, e esse sofrimento acaba passando para as crianças e muitas vezes elas se sentem culpadas de alguma forma, por isso é importante que participem do funeral e que conversem com elas, mesmo que os pais não queiram leva-las. Mas que perguntem se a mesma gostaria de ir para o velório, para que não tenham o sentimento e serem excluída. Paiva (2011 p.48) aponta quatro pontos importantes também relacionados á situação de luto, são as reações da criança diante de situações de crise ao longo da vida. Dia que para ajudar a criança no processo de luto é necessário: 1-Promover comunicação aberta e segura dentro da família, informando a criança sobre o que aconteceu. 2-Garantir que terá o tempo necessário para elaborar o luto. 11 3-Disponibilizar um ouvinte compreensivo toda vez que sentir saudade, tristeza, culpa e raiva. 4-Assegurar que continuará tendo proteção (TORRES, 1999, apud. PAIVA, 2011, p.48). Diante desse contexto pode-se ressaltar que quando uma criança fica enlutada pode gerar consequência gravíssima, suas emoções ficam mais expostas e muitas vezes não sabem com se expressar. Segundo Bowlby (1998 apud PAIVA 2011, p.50) descreveu alguma reação das crianças, relacionada à morte de um dos pais, que podem manifestar-se como: Angústia persistente – medo de sofrer outras perdas e medo de morrer também. Desejo de morrer com a esperança de se encontrar com o morto. Hiperatividade expressa através de explosões agressivas e destrutivas. Compulsão por cuidar e autoconfiança compulsiva. Euforia e despersonalização. Sintomas identificadores. (2011, p.50) É importante ressaltar, o cuidado em relação às crianças e, o amparo da família, corresponde um dos primeiros passos fundamentais neste momento de luto, pois os adultos com o tempo, conseguem esquecer, já a criança por mais que pareça que esqueceu, mas na vida adulta isso pode refletir. O PAPEL EDUCACIONAL DIANTE DO LUTO Sabe-se que o papel da escola é a construção de conhecimento de mundo de sua imaginação, um lugar onde a criança passa a maior parte do tempo. Para muitas crianças a escola é onde ela busca refúgio para suas emoções é ai onde o professor dever intervir e procurar solucionar tais problemas. Segundo Paiva (2011, p.55), Se a escola é um espaço onde se discutem tanto as questões cotidianas da ética e cidadania, questionando a violência... Não seria esse um espaço também para se falar da morte? Porque manter o silêncio diante da morte se ela está presente em nosso dia a dia? A criança quando está passando pelo luto, geralmente se sente frustrada não sabe como mostrar essas emoções, sendo agressiva ou tímida, cada uma com algum tipo de emoção. Os professores, gestores devem buscar soluções dentro da literatura ou outro tipo para solucionar. 12 Segundo Kovács (2012, p.23). A frequência nas escolas, equivale a mais de vinte anos da existência de uma pessoa no preparo para a vida social; da mesma forma, deveríamos também nos preparar, pelo mesmo “vinte anos”, para o fim da existência, em algum tipo de “escola”. Para a autora, a educação poderia ir além de tentar explicar somente o desenvolvimento, mais uma educação voltada para religião fazendo-nos refletir sobre a morte. Hennezel; Leloup (1999, p.17) instiga a pensar que: O mundo que nos rodeia não nos ensina a morrer, tudo é feito para esconder a morte, para incitar-nos a viver sem pensar nela, em termos de um projeto, como se estivéssemos voltados para o objetivo a serem alcançados e apoiados em valores de efetividade, tão pouco nos ensina a viver. Torna-se necessária uma reflexão, um novo olhar para o desenvolvimento e crescimento dos alunos – crianças -, pois se não trabalhar sobre a morte, na infância, a própria sociedade mostrará de uma forma cruel. Segundo Hennezel, (2000, p.10), “a reflexão sobre a morte, a outra face do nascimento, deveria fazer parte de nossos programas educacionais [...]”. Refletir sobre o outro lado, deve ocorrer no dia a dia e acaba acontecendo e refletindo no cotidiano escolar das crianças, e uma pergunta se faz: Será que o professor está preparado para responder para sua criança sobre a morte? Querendo ou não o professor, para muitas crianças, é visto como deus ou uma segunda mãe. METODOLOGIA A pesquisa foi realizada em duas Escolas municipais, “Lar de Nazaré” e “Creche Tia Sonia” e duas Escolas particulares “SESI” e “Centro Batista Moriá”, na cidade de Porto Velho-RO, pesquisa do tipo qualitativo, exploratória, descritiva, dedutiva e pesquisa de campo, tendo como instrumento para coleta de dados: questionários com perguntas fechadas para professores e para a coordenação pedagógica. Em relação com as crianças foram feitas apenas observações para verificar como elas reagem diante do processo do luto. A pesquisa foi direcionada para três professores de cada turma, creche II, pré I, pré II da Educação Infantil, oportunizando vivenciar a prática dos gestores, professor e aluno, tendo assim o 13 entendimento sobre como o professor lida com o assunto do luto dentro da sala de aula e qual a postura dos gestores. RESULTADOS QUESTIONAMENTOS PARA PROFESSORES Gráfico 1 - As crianças percebem o que está acontecendo ao seu redor em relação à morte de seus familiares, amigos ou funcionários da escola? Percepção do professor 9% 8% Sim Não Talvez 83% Fonte: Coleta de dados com os professores, 2013. Em resposta à pergunta feita sobre se as crianças percebem o que está acontecendo ao seu redor em relação à morte de seus familiares, amigos ou funcionários da escola, 83% os professores entrevistados responderam que sim, 8% responderam que talvez, 9% responderam que não. Pode-se verificar que as crianças percebem quando alguém morre. Em conversa, as professoras relataram que as crianças desde muito cedo já têm um olhar diferente para mundo, observam coisas que nem mesmo o adulto imagina. Gráfico 2 - Você utiliza o tema luto para desenvolver algum “projeto didático” dentro da escola? Utiliza o tema luto para desenvolver algum "projeto didático". 8% 0% Sim Não 92% Fonte: Coleta de dados com os professores, 2013. Às vezes 14 Pesquisou-se sobre os professores, se utilizam o tema luto para desenvolver algum projeto didático dentro da escola. Dos entrevistados, 92% disseram que não, 8% responderam que às vezes. Os docentes que responderam, às vezes, disseram que os projetos didáticos que eles trabalham não são expostos na escola como os outros. Os mesmos relatam por ser um tema muito delicado, acaba ficando somente para ser trabalhado em sala com as crianças mediante autorização dos pais e coordenadores. A necessidade de se abarcar o tema no currículo da educação desde as séries iniciais, uma vez que esse assunto – vida e morte na educação – é considerado polêmico, tanto na escola como na família. É uma tarefa difícil porque nos deparamos com nossa finitude. (MÜLLER 2005, apud PAIVA 2011, p.60) discorre sobre. A citação acima demonstra a importância de se trabalhar o assunto, enquanto na escola, a pesquisa demonstrou que os professores não trabalham com um projeto didático. Gráfico 3 - Durante esse processo do luto você professor conversa com as crianças? De que forma? 92% 100% 80% Sim 60% 40% 8% Não 20% 0% Professores Fonte: Coleta de dados com os professores, 2013. Dos entrevistados 92% responderam que conversam com as crianças, 8% responderam que não. Em relatos, os professores falaram da importância de conversar com as crianças, diante de tantas mortes que ocorrem na sociedade. Essas mortes não devem ser escondidas, precisam ser explicadas de maneira que os alunos possam entender. Lembrando que cada professor tem sua maneira de explicar, para um melhor entendimento, pois conhecem seus alunos. 15 Rosemberg, 1985, apud Paiva 2011, p.59, fala da importância de se conversar sobre a morte com as crianças, já que se trata da única situação que não se tem como evitar na vida [...]. É importante que o professor converse com seus alunos de maneira clara para uma compreensão eficaz. Através dos diálogos a criança começa a mostrar suas emoções e até mesmo se expressar. Na pergunta seguinte relatam a forma desta conversa. Tabela 1 - De que forma? Resposta dos professores Rodas de conversa Porcentagem 24% Através de relatos 8% Através da literatura 16% Através de desenho 8% Através de Literatura e desenho 16% Não conversa 8% Outros 8% Fonte: Entrevista com os professores, 2013. Entre os professores pesquisados, aqueles que conversam com as crianças sobre o luto utilizam das seguintes formas: 24% através de rodas de conversas, 8% através de relatos, 16% através da literatura, 8% através de desenho, 16% através da literatura e desenho, 8% não conversam e 8% outros. Os professores relataram que as formas utilizadas por eles, são compreendidas pelas crianças. Explanaram também sobre o cuidado que deve-se ter quando falar com a criança, pois tudo que se conversa na sala de aula a criança conta para os pais, não de forma que seja de fofoca, mas de uma forma de tentar imitar o professor. Paiva 2011, p.49 cita que: “em relação ás indagações da criança a respeito da morte, é importante deixá-la fazer perguntas ou manifestar-se por meio de gestos ou brincadeiras”. De acordo com a pesquisa, observou-se que as crianças são curiosas e investigativas, essa curiosidade que elas têm é uma forma de que o assunto interessa a elas (es). 16 QUESTIONAMENTOS PARA COORDENADORES Gráfico 4 - A escola realiza algum tipo de projeto coletivo ou metodologia para trabalhar o luto? Existe Projeto ou Metodologia para trabalhar o luto 150% 100% 100% 50% 0% 0% Sim Não Fonte: Coleta de dados com Coordenação Pedagógica, 2013. Dos entrevistados, 100% responderam que não existe projeto nem metodologia para trabalhar o luto e ainda não foi pensado nada sobre o assunto. Paiva 2011, p.236 cita que: “se a escola evitar abordar o assunto abertamente acabará incutindo nos aluno a ideia de que este é um assunto proibido, sobre o qual não se deve falar [...]”. Observa-se que as escolas não estão preparadas para tais situações e nem mesmo pensou em trabalhar a questão do luto com as crianças, que a escola só se preocupa com conhecimento da criança e o lado emocional das crianças muitas vezes não é trabalhado, ou por insegurança por parte dos coordenadores. Gráfico 5 - Em caso de morte na escola na qual a criança estuda qual a postura da escola em relação ao luto? Posturas e medidas da Escola 50% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 37% 13% 0% Trabalha a questão do luto Planeja Não é Não se conversa assunto para trabalha a sobre a se tratar na questão da morte escola morte Fonte: Coleta de dados com Coordenação Pedagógica, 2013. 17 Em referência à pergunta em caso de morte, na escola na qual a criança estuda; qual a postura da escola em relação ao luto dos coordenadores entrevistados: 13% trabalha a questão do luto, 50% planeja conversa sobre a morte, 37% não se trabalha a questão da morte. Em conversa com alguns coordenadores relatam que muitas vezes é preciso planejar e conversar com seus professores para dar orientação sobre o assunto. Analisado os dados, verificam-se algumas escolas planejam conversa sobre a morte com as crianças, alguns coordenadores eles trabalham dando orientações para os professores para que os mesmo tenham uma melhor forma de se trabalhar com essas crianças e que busquem não só as orientações deles mais que procure outras fontes. Observa-se que os coordenadores pedagógicos estão preocupados com o futuro das crianças num mundo onde a morte esta tão presente entre nós, e que não fique só no planejamento. DISCUSSÃO Através dos resultados obtidos após a conclusão da pesquisa, verifica-se que as crianças percebem o que está acontecendo ao seu redor em relação à morte, desde muito cedo, já tem um olhar diferente para o mundo, que fazem indagações sobre a morte, pois cada criança reage de maneira diferente, umas ficam tímidas, outras agitadas. Os coordenadores pouco sabem lidar com o luto, não sabem como trabalhar essa temática. Mas diante de tantas mortes seria o momento para se pensar sobre um projeto voltado para o luto que envolvesse outros temas. Percebe que a literatura é um instrumento de grande valor que pode ajudar uma criança no processo do luto e até mesmo para tratar sobre a morte. Foi verificado na pesquisa que os professores e coordenadores não tem projeto para se trabalhar o luto, no entanto, trabalham o luto de acordo com seus conhecimentos, conversando com seus alunos sobre a morte e utilizando literatura para dar ênfase no seu trabalho. Duas escolas envolvidas na pesquisa vivenciaram o luto. A primeira com a morte do pai de um aluno e na outra, um aluno que sofria com a morte de seu irmão. Pelo exposto, se espera que este estudo possa contribuir com as instituições de ensinos que queiram esclarecer entre seus alunos o assunto em questão. 18 REFERÊNCIAS COOPER, David, 1931- A morte da família /David Cooper; tradução Jurandir Craveiro: revisão Margarida Maria C. Oliva. São Paulo: Martins Fontes, 1980. DIAS, Maria Luiza. Vivendo em família: Relações de afeto e conflito/ Maria Luiza Dias. São Paulo: moderna, 1992. (coleção polemica). FURASTÉ, Pedro Augusto. Norma Técnica para o Trabalho Cientifico: Elaboração e Formatação. 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