IMAGEM DA POPULAÇÃO GUARAPUAVANA A RESPEITO DAS ATIVIDADES PROFISSIONAIS DESENVOLVIDAS PELO ENGENHEIRO AGRÔNOMO Renan Caldas Umburanas (UNICENTRO) – [email protected] Jackson Kawakami (UNICENTRO) – [email protected] Ires Cristina Ribeiro Oliari (UNICENTRO) – [email protected] Bruna Wurr Rodak (UNICENTRO) – [email protected] Vlandiney Eschemback (UNICENTRO) – [email protected] Palavras chave: Agrotóxico, valorização profissional, vendedor de veneno. Resumo Com o aumento do número de profissões, muitas vezes a população não tem a exata compreensão das principais atividades exercidas pelos diversos profissionais atuantes no mercado. Apesar da profissão de Agrônomo ser relativamente antiga, existe a suspeita de que a população não conheça as atividades profissionais exercidas pelos agrônomos, suspeitando-se inclusive que a maioria da população correlacione a atividade do profissional, única e exclusivamente, com a figura de comerciante de produtos agropecuários. O estudo analisou a imagem da sociedade guarapuavana em relação às atribuições profissionais exercidas pelos Agrônomos, através da aplicação de um questionário, aplicado em 310 transeuntes da região central de Guarapuava. Os dados do questionário foram tabulados e avaliados estatisticamente. Do total dos entrevistados, apenas 27 relacionaram o Agrônomo como vendedor de agrotóxicos (9%), sendo que destes apenas 2 relacionaram unicamente o profissional como vendedor de agrotóxicos e os outros 25 citaram comerciante de agrotóxicos além de outras atribuições. Dos entrevistados, 47 não tinham conhecimento da profissão de Agrônomo, o que corresponde a 15% do total dos entrevistados. Após a análise dos dados, serão confeccionados panfletos informativos e outras formas de divulgação sobre as principais atividades profissionais dos Agrônomos, contribuindo para a divulgação e valorização da profissão. Anais do 3° Salão de Extensão e Cultura da UNICENTR O 20 a 25 de setembro de 2010 Introdução A agropecuária como atividade econômica no Brasil, remonta à época da chegada dos portugueses ao continente americano, quando a exploração de paubrasil e o plantio de cana-de-açúcar, junto com o comércio de escravos indígenas se constituíam nas principais atividades econômicas da recém descoberta colônia portuguesa (BUENO, 1999). Desde então, o Brasil destaca-se como um grande produtor e exportador de alimentos. O Brasil se prepara para colher a sua maior safra agrícola dos últimos tempos. Dados preliminares da Companhia Nacional de Abastecimento para a safra de grãos 2008/2009 são da ordem de cerca de 138 milhões de toneladas (CONAB, 2009). Tais números da agricultura nacional são, por si só, auspiciosos, porém, em tempos em que o mundo discute sobre a vital importância da produção mundial de alimentos, o Brasil, detentor de vastas áreas agricultáveis possui, também, profissionais qualificados para tal empreitada, o que lhe confere grande responsabilidade e desafio em se tornar um importante país produtor de fontes de alimento para sustentar a crescente população mundial. Neste contexto, a profissão de Engenheiro Agrônomo destaca-se, pois é responsável pela orientação técnica para a produção agrícola. É um profissional que reúne as condições técnico-científicas e humanísticas para executar todas as tarefas inerentes à produção de alimentos para o homem e os animais domésticos, intervindo desde a definição das condições de plantio até a chegada do produto industrializado ao consumidor (UFMG, 2004). Este profissional trabalha em um campo multidisciplinar, podendo prestar assistência técnica a produtores rurais, conduzir pesquisas, atuar diretamente na produção vegetal e trabalhar no mercado de vendas e comercialização de produtos agrícolas, entre diversas outras funções. Profissional eclético que contribui para o crescimento do agronegócio nacional e estadual, o Engenheiro Agrônomo, com uso de tecnologias, ajuda a aumentar a produção e produtividade, melhorando a qualidade de vida do produtor rural (CREARo, 2008). Apesar da evidente importância das atividades profissionais exercidas pelo Engenheiro Agrônomo, a imagem que a população, em geral, possui das atribuições deste profissional, parece estar concentrada na visão de que seria única e exclusivamente a comercialização de insumos agrícolas, como fungicidas, inseticidas e herbicidas. Tal visão evidentemente não condiz com a realidade e necessita, se precedente, ser corrigida, pois influencia potenciais estudantes que poderiam vir a cursar Agronomia caso tivesse uma visão correta da profissão, além de atuar contra a valorização profissional. É necessário atentar-se a esta visão distorcida da realidade, para que a valorização desta profissão continue sendo promovida e desenvolvida. A política profissional luta permanentemente para melhoria das condições do desempenho técnico, a busca de resultados mais eficazes e, finalmente, o incremento do bem estar do ser humano (CREA-Pr, 2007). Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo obter um panorama da Anais do 3° Salão de Extensão e Cultura da UNICENTR O 20 a 25 de setembro de 2010 imagem que a população guarapuavana possui acerca das atividades exercidas pelos profissionais graduados em Engenharia Agronômica. Posteriormente, visa-se divulgar os resultados obtidos assim como esclarecer à população sobre as principais atividades exercidas pelo Engenheiro Agrônomo em sua atividade profissional. Materiais e Métodos A metodologia utilizada foi a da entrevista, estruturada e não estruturada utilizando-se um questionário pré-elaborado com 12 perguntas, com o qual foram coletadas informações gerais do entrevistado como idade, sexo, profissão, renda, número de membros da família, quantidade de pessoas na família que possui renda e vínculo do entrevistado com a área rural. Além destas informações gerais, perguntou-se aos entrevistados se os mesmos conheciam a profissão de Engenharia Agronômica, como ficaram sabendo acerca da profissão, quais seriam as atividades desenvolvidas pelos profissionais e quais deveriam ser, na opinião do entrevistado, as atividades desenvolvidas pelo Engenheiro Agrônomo. Para não influenciar a resposta do entrevistado, as perguntas referentes às atividades desenvolvidas pelo Engenheiro Agrônomo foram abertas, não dando aos entrevistadores nenhuma referência. Após a elaboração preliminar do questionário, este foi enviado à entidade de classe profissional do município (Associação dos Engenheiros Agrônomos de Guarapuava – AEAGRO) para discussão e complementação. O questionário foi aplicado por 3 discentes do curso de Agronomia da UNICENTRO, no mês de outubro de 2008, entre 8:00 e 18:00 horas, tanto nos fins de semana quanto nos dias de semana. Foram selecionados dois locais da região urbana central de Guarapuava: a Rua XV de Novembro, rua central da cidade, e o terminal rodoviário urbano. Foram entrevistados 310 transeuntes de ambos os sexos com idade superior a 15 anos, escolhidos ao acaso. Após concluir a etapa de pesquisa de campo, através de coleta de dados e registro de variáveis presumivelmente relevantes, os dados foram tabulados e analisados. Para verificar se a amostragem da população fora representativa, realizou-se o teste estatístico qui quadrado (χ2) a 1% comparando-se a distribuição da faixa etária da população (IPARDES, 2008) com a faixa etária da amostragem. Resultados e discussão De um total de 310 entrevistados, 50,2% eram do sexo masculino e 49,8% eram do sexo feminino. A maior parte dos entrevistados encontram-se com idade entre 20 a 39 anos (42%), seguida por aqueles com idade entre 40 a 59 (25%), 15 e 19 anos (18%) (FIGURA 1). Os entrevistados com idade superior a 60 anos perfizeram 15% do total de entrevistados. Confrontando-se os dados apresentados com os dados do IPARDES (Ipardes, 2008) na FIGURA 1, obteve-se um valor de 2 de 4,58, inferior ao 2 tabelado (0,01) de 13,28. Verifica-se, com alta probabilidade, que a amostra etária colhida no questionário do município de Guarapuava, comparada com os dados do IPARDES, não são diferentes. Em outras palavras, Anais do 3° Salão de Extensão e Cultura da UNICENTR O 20 a 25 de setembro de 2010 podemos dizer que a amostra coletou de forma proporcional os indivíduos de diferentes idades residentes no município. Do total de entrevistados, 96 pessoas (31%) concluíram o ensino médio, 96 (31%) possuíam o fundamental incompleto, 69 (22%) fundamental completo, 30 (10%) ensino superior, 12 (4%) eram pós-graduados e 7 (2%) estavam cursando o pré vestibular. Em relação à renda, 152 pessoas (49%) possuíam renda de 1 a 5 salários, 75 (24%) até 1 salário mínimo, 56 (18%) afirmaram ser dependentes, 21 (7%) de 5 a 20 salários, 5 (2%) de 20 a 30 salários e 1 (0,3%) acima de 30 salários (FIGURA 2). Na opinião dos entrevistados a identificação das atividades exercidas pelo profissional é relacionada, em grande parte, à assistência técnica, correspondendo a 171 pessoas (55%), ainda entre os entrevistados, 61 (20%) responderam outras atribuições, 47 (15%) não souberam o que responder, 28 (9%) dos entrevistados relacionaram o Engenheiro Agrônomo como vendedor de insumos e 3 pessoas (1%) responderam que o trabalho é relacionado ao meio ambiente (FIGURA 3). Dos 28 entrevistados que relacionaram a atividade do profissional com insumos, apenas 2 definiram o profissional unicamente como “vendedor de veneno”, sendo que outros 26 entrevistados citaram como atividade exercida pelo Engenheiro Agrônomo a venda de insumos e outras atribuições. Havia a expectativa que os entrevistados relacionassem o Agrônomo à venda de insumos, porém 171 (55%) do total responderam a assistência técnica como principal atividade, e dentro deste grupo a maioria relacionou diretamente a assistência como sendo o manejo do solo. Este resultado demonstra que a população de Guarapuava não relaciona fortemente o Agrônomo como vendedor de insumos, e que a população conhece algumas atribuições profissionais do Agrônomo. Dos 47 entrevistados que não tinham conhecimento a respeito das atividades profissionais do Agrônomo, 20 (44%) estão enquadrados na escolaridade de ensino fundamental incompleto, 11 (23%) fundamental completo, 10 (21%) médio, 3 (6%) pré vestibular, 3 (6%) ensino superior, sendo que todos possuem renda de até 5 salários mínimos (FIGURA 4). Do total dos 27 entrevistados que responderam que o profissional atua principalmente com a comercialização de insumos, 74% tinham vínculo com a área rural; dos 47 que não sabiam sobre as atividades profissionais do Agrônomo, 51% também afirmaram ter vínculo com a área rural. Presumia-se que, possuindo este vínculo, as pessoas teriam condições de saber sobre as atividades profissionais do Agrônomo, porém não é o que demonstraram os resultados. Este fato pode ser explicado por um possível fraco vínculo dos entrevistados com a área rural (parentes distantes, visitas esporádicas, êxodo rural de pais e avós), e também devido à pesquisa ter sido realizada na área urbana. Se os dados fossem coletados no meio rural, os resultados poderiam ser diferentes, já que essas pessoas vivem na principal área de atuação do Agrônomo, tendo um forte vínculo com a área rural. Outra possibilidade é que os Agrônomos estejam desenvolvendo poucas atividades Anais do 3° Salão de Extensão e Cultura da UNICENTR O 20 a 25 de setembro de 2010 profissionais diretamente no meio rural. Com relação ao questionamento de qual deveria ser a principal atividade profissional do Agrônomo, 173 pessoas (52%) não têm uma opinião formada, 61 (18%) acreditam que deveria ser mais voltada ao meio ambiente, 41 (12%) citaram outras atribuições, 30 (9%) relacionaram à assistência técnica, 16 (5%) à melhoria da qualidade da produção e 14 (4%) à comercialização de insumos (FIGURA 5). Os entrevistados definiram qualidade de produção como sendo a melhoria do valor nutricional, diminuição dos resíduos de agrotóxicos e melhor aparência de frutas, grãos e hortaliças nas prateleiras dos mercados. Confrontando os dados a respeito do que exerce (FIGURA 3) e do que deveria exercer (FIGURA 5) profissionalmente o Agrônomo, infere-se que 3 pessoas (1%) citaram que o profissional atua em atividades ligadas a preservação ambiental, e 61 (18%) que o profissional deveria trabalhar nessa área. Isso demonstra uma grande preocupação da população em relação à causa ambiental. Conclusão Verificou-se que a porcentagem de entrevistados que tinham a imagem do Engenheiro Agrônomo como vendedor de insumos corresponde a uma pequena parcela da população. Um percentual considerável de pessoas desconhece a profissão por completo ou têm informações distorcidas a respeito da mesma. Para atingir os entrevistados que não têm conhecimento das atividades exercidas pelo Agrônomo, pode-se utilizar recursos de mídia que sejam direcionados a idade e faixa de renda em que se concentra a maioria destas pessoas. Esses recursos de mídia poderiam ser anúncio em ônibus urbano (busdoor), panfletos informativos, televisão, rádio, painel publicitário (outdoor) e palestras informativas para estudantes do ensino fundamental e médio. Agradecimentos Os autores agradecem a Associação dos Engenheiros Agrônomos de Guarapuava (AEAGRO) pelo apoio na execução e desenvolvimento do estudo. Anais do 3° Salão de Extensão e Cultura da UNICENTR O 20 a 25 de setembro de 2010 b) a) Acima 70 4% 60-69 6% Acima 70 5% 15-19 14% 15-19 18% 60-69 10% 40-59 27% 40-59 25% 20-39 49% 20-39 42% FIGURA 1. DISTRIBUIÇÃO DA FAIXA ETÁRIA DA POPULAÇÃO GUARAPUAVANA SEGUNDO DADOS DO IPARDES (a) E DADOS DO PRESENTE ESTUDO (b), 2008. b) a) Superior 10% Pré-vest. 2% Médio 31% Pós-grad. 4% Fund. incomp. 31% > 30 Depend. 18% 0% 20-30 2% 5-20 7% Fund. Comp. 22% FIGURA 2. DISTRIBUIÇÃO DA ESCOLARIDADE ENTREVISTADOS, GUARAPUAVA, 2008. < 1 salário 24% 1-5 49% (a) E RENDA (b) DO Anais do 3° Salão de Extensão e Cultura da UNICENTR O 20 a 25 de setembro de 2010 TOTAL DE Outros 20% Insumos 9% Não sabe 15% Ambiente 1% Assistência técnica 55% FIGURA 3. DISTRIBUIÇÃO DA OPINIÃO DO TOTAL DE ENTREVISTADOS SOBRE AS ATIVIDADES PROFISSIONAIS DESENVOLVIDAS PELOS AGRÔNOMOS, GUARAPUAVA, 2008. a) Pré-vest. 6% Superior Pós-grad. 6% 0% Médio 21% Fund. comp. 23% Fund. incomp. 44% b) Depend. 28% < 1 salário 33% > 30 0% 20-30 0% 5-20 0% 1-5 39% FIGURA 4. DISTRIBUIÇÃO DE ESCOLARIDADE (a) E RENDA (b) DOS ENTREVISTADOS QUE NÃO TÊM CONHECIMENTO A RESPEITO DA PROFISSÃO DE ENGENHEIRO AGRÔNOMO, GUARAPUAVA, 2008. Anais do 3° Salão de Extensão e Cultura da UNICENTR O 20 a 25 de setembro de 2010 Outros 12% Ambiente 18% Insumos 4% Assistência Técnica 9% Não sabe 52% Qualidade 5% FIGURA 5. DISTRIBUIÇÃO DA OPINIÃO DO TOTAL DE ENTREVISTADOS SOBRE QUAL DEVERIA SER A ATIVIDADE PROFISSIONAL DO ENGENHEIRO AGRÔNOMO, GUARAPUAVA, 2008. Referências bibliográficas BUENO, E. Capitães do Brasil. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999. CREA-RO. Engenheiros agrônomos comemoram dia na expectativa da valorização profissional. Disponível em: <http://www.senge-ro.org.br>. Acesso em: 9 nov. 2008. INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL. Caderno estatístico do município de Guarapuava. Curitiba: IPARDES, 2008. PUSCH, J. Ética e organização profissional: do engenheiro, do arquiteto e do engenheiro agrônomo. Curitiba: CREA-PR, 2007. UFMG. Engenharia Agronômica. Revista da Universidade Federal de Minas Gerais, ano 2, n. 5, 2004. (Edição Vestibular). CONAB. Safras: grãos. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/conabweb/index.php?pag=131>. Acesso em: 5 maio 2009. Anais do 3° Salão de Extensão e Cultura da UNICENTR O 20 a 25 de setembro de 2010