1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA (CLÍNICA E REPRODUÇÃO ANIMAL) PEDRO BITTENCOURT VELHO DETECÇÃO MOLECULAR DE ORGANISMOS DA FAMÍLIA Anaplasmataceae EM BOVINOS E OVINOS NO MUNICÍPIO DE CACHOEIRAS DE MACACU E CARACTERIZAÇÃO GENOTÍPICA DE GENES CODIFICANTES PARA PROTEÍNAS DE MEMBRANA DE Anaplasma marginale DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. NITERÓI 2013 PEDRO BITTENCOURT VELHO DETECÇÃO MOLECULAR DE ORGANISMOS DA FAMÍLIA Anaplasmataceae EM BOVINOS E OVINOS NO MUNICÍPIO DE CACHOEIRAS DE MACACU E CARACTERIZAÇÃO GENOTÍPICA DE GENES CODIFICANTES PARA PROTEÍNAS DE MEMBRANA DE Anaplasma marginale DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Medicina Veterinária Clínica e Reprodução animal da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Doutor. Orientadora: Prof.ª Dr.ª NÁDIA REGINA PEREIRA ALMOSNY Niterói 2013 PEDRO BITTENCOURT VELHO DETECÇÃO MOLECULAR DE ORGANISMOS DA FAMÍLIA Anaplasmataceae EM BOVINOS E OVINOS NO MUNICÍPIO DE CACHOEIRAS DE MACACU E CARACTERIZAÇÃO GENOTÍPICA DE GENES CODIFICANTES PARA PROTEÍNAS DE MEMBRANA DE Anaplasma marginale DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Medicina Veterinária Clínica e Reprodução animal da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Doutor. Março 2013 BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Nádia Regina Pereira Almosny Universidade Federal Fluminense ___________________________________________________________________ Prof. Dr. Huarrisson Azevedo Santos Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro ___________________________________________________________________ Prof. Dr. Carlos Luiz Massard Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro ___________________________________________________________________ Prof. Dr. Avelino José Bittencourt Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro ___________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Helena Keiko Toma Universidade Federal do Rio de Janeiro Niterói 2013 AGRADECIMENTOS À Ananda Müller, por estar comigo em todos os momentos, bons ou ruins. Você é a principal razão de tudo isso. À minha mãe, meu pai, meus irmãos, avós, tios e primos, e a toda minha família, por todo o apoio e pelo amor e carinho que nunca faltaram em minha vida. Incluo aqui, as pessoas que provam que uma família não pode ser definida apenas por laços genéticos. César X. de B. S. Lima, Valeska Figueiredo, Ada S. Lima, Dona Marly, Bárbara Müller, agradeço à todos vocês por serem parte da minha vida. À minha orientadora, Nádia Almosny pelo exemplo de dedicação competência. Ao Huarrisson Azevedo Santos e à toda a equipe do Laboratório de Hemoparasitos e Vetores da UFRRJ, que me receberam de braços abertos e tornaram possível a realização deste trabalho. A todos os professores que participaram da minha formação profissional e que tenho como exemplo todos os dias. À coordenação do Programa de Pós-Graduação. À Universidade Federal Fluminense, por ser, há doze anos, minha casa. À todos meus amigos, pois sem vocês nada disso tem sentido. À Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de estudos concedida. “I don't know anything, but I do know that everything is interesting if you go into it deeply enough.” Richard Feynman SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES 8 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS 12 1 INTRODUÇÃO 16 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 18 2.1 FAMÍLIA Anaplasmataceae 18 2.2 Anaplasma marginale 19 2.2.1 EPIDEMIOLOGIA 20 2.2.2 MEDIDAS DE CONTROLE 20 2.2.3 ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA INFECÇÃO POR A. MARGINALE 22 2.2.4 ASPECTOS GERAIS DO GENOMA DE A. MARGINALE 25 2.2.5 PROTEÍNAS PRINCIPAIS DE SUPERFÍCIE (MSPS) 27 2.2.5.1 MSP 1 28 2.2.5.2 MSP 2 29 2.2.6 PROTEÍNAS EXTERNAS DE MEMBRANA (OMPS) 2.3 Anaplasma phagocytophilum 33 37 2.3.1 TRANSMISSÃO 39 2.3.2 INFECÇÃO 39 2.3.3 PATOGENIA 39 2.3.4 IMUNOSSUPRESSÃO 41 2.3.5 IMUNIDADE ADQUIRIDA 42 2.3.6 DIVERSIDADE ANTIGÊNICA 43 2.3.7 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA 44 2.3.8 INFECÇÕES EM HUMANOS 45 2.4 Neorickettsia risticii 46 2.5 Anaplasma ovis 48 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 DETECÇÃO MOLECULAR DE ORGANISMOS DA FAMÍLIA Anaplasmataceae EM BOVINOS E OVINOS NO MUNICÍPIO DE CACHOEIRAS DE MACACU 3.1.1 ANIMAIS 51 51 51 3.1.2 CACHOEIRAS DE MACACU 51 3.1.3 COLETA DAS AMOSTRAS 52 3.1.4. HEMOGRAMAS E PESQUISA DE HEMOPARASITAS 53 3.1.5 BIOQUÍMICA SÉRICA 53 3.1.6 EXTRAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DO DNA GENÔMICO 54 3.1.7 PCR EM TEMPO REAL 54 3.1.7.1 PROTOCOLO I (Anaplasma phagocytophilum) 54 3.1.7.2 PROTOCOLO II (Neorickettsia risticii) 55 3.1.8 PCR 56 3.1.8.1 REAÇÕES DE PCR PARA Anaplasma marginale 56 3.1.8.2 REAÇÕES DE PCR PARA Anaplasma ovis 56 3.1.8.3 REAÇÕES DE PCR PARA FAMILIA ANAPLASMATACEAE 57 3.1.9 CLONAGEM E SEQUENCIAMENTO 3.2 CARACTERIZAÇÃO GENOTÍPICA DE GENES CODIFICANTES PARA PROTEÍNAS DE MEMBRANA DE Anaplasma marginale DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. 3.2.1 MESORREGIÕES E MUNICIPIOS ESTUDADOS 58 59 59 3.2.2 SELEÇÃO DAS AMOSTRAS 61 3.2.3 PCR PARA GENES CODIFICANTES DE PROTEÍNAS DE MEMBRANA EXTERNA DE Anaplasma marginale 3.2.4 VISUALIZAÇÃO DOS PRODUTOS DE AMPLIFICAÇÃO 61 3.2.5 SEQUENCIAMENTO DOS PRODUTOS DE PCR 63 3.2.6 ANÁLISE DAS SEQUÊNCIAS 64 3.2.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA 65 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 DETECÇÃO MOLECULAR DE ORGANISMOS DA FAMÍLIA Anaplasmataceae EM BOVINOS E OVINOS 4.1.2 BOVINOS 4.2.2 OVINOS 4.2 CARACTERIZAÇÃO GENOTÍPICA DE GENES CODIFICANTES 63 66 66 66 70 77 PARA PROTEÍNAS DE MEMBRANA DE Anaplasma marginale DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. 5 CONCLUSÕES 89 6 OBRAS CITADAS 90 LISTA DE ILUSTRAÇÕES 1 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Mapa da localização geográfica do município de Cachoeiras de 52 Macacu (em vermelho) no estado do Rio de Janeiro. FIGURA 2 Mapa ilustrativo das mesorregiões do estado do Rio de Janeiro. 60 FIGURA 3 Mapa da localização dos municípios utilizados no presente 60 estudo. FIGURA 4 Fotografia de gel de agarose à 2% dos amplicons purificados da 64 PCR para genes de proteínas de membrana externa de A. marginale, corado com Brometo de Etídio. Nas colunas: 1 e 20 está o Low DNA Mass Ladder; 2 a 6 – Omp 1; 7 a 11 – Omp 5; 12 a 16 Am 097; 17 a 19, 21 e 22 – Am 254; 23 a 27 – Am 956; 28 a 32 – SodB. FIGURA 5 Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 79 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining com valores de bootstrap para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP1 dos isolados de A. marginale. FIGURA 6 Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 80 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining com valores de bootstrap para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP4 dos isolados de A. marginale. FIGURA 7 Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 81 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining com valores de bootstrap para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína SODb dos isolados de A. marginale. FIGURA 8 Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 82 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining com valores de bootstrap para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína PepA dos isolados de A. marginale. FIGURA 9 Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 83 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining com valores de bootstrap para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP5 dos isolados de A. marginale. FIGURA 10 Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 84 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining com valores de bootstrap para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP7 dos isolados de A. marginale. FIGURA 11 Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 85 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining com valores de bootstrap para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína EF-Tu dos isolados de A. marginale. FIGURA 12 Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 86 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining com valores de bootstrap para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína VirB9-1 dos isolados de A. marginale. 2 LISTA DE TABELAS TABELA 1 Frequência de cães positivos na PCR para Anaplasma marginale, em função das alterações laboratoriais observadas. 67 TABELA 2 Valores dos exames hematológicos e bioquímicos dos ovinos positivos para Anaplasma phagocytophilum. 73 TABELA 3 Frequência de ovinos positivos na PCR em tempo real para Anaplasma phagocytophilum, em função das alterações laboratoriais observadas. 74 TABELA 4 Valores médios de “p-distance” para as sequências preditivas de aminoácidos de proteínas de membrana externa de Anaplasma marginale. 78 TABELA 5 Matriz representativa do número total de diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP1 de diferentes isolados de Anaplasma marginale. As sequências analisadas possuíam um total de 292 aminoácidos. 79 TABELA 6 Matriz representativa do número total de diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP4 de diferentes isolados de Anaplasma marginale. As sequências analisadas possuíam um total de 360 aminoácidos. 80 TABELA 7 Matriz representativa do número total de diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína SODb de diferentes isolados de Anaplasma marginale. As sequências analisadas possuíam um total de 185 aminoácidos. 81 TABELA 8 Matriz representativa do número total de diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína PepA de diferentes isolados de Anaplasma marginale. As sequências analisadas possuíam um total de 448 aminoácidos. 82 TABELA 9 Matriz representativa do número total de diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP5 de diferentes isolados de Anaplasma marginale. As sequências analisadas possuíam um total de 323 aminoácidos. 83 TABELA 10 Matriz representativa do número total de diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP7 de diferentes isolados de Anaplasma marginale. As sequências analisadas possuíam um total de 324 aminoácidos. 84 TABELA 11 Matriz representativa do número total de diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína EF-Tu de diferentes isolados de Anaplasma marginale. As sequências analisadas possuíam um total de 312 aminoácidos. 85 TABELA 12 Matriz representativa do número total de diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína VirB9-1 de diferentes isolados de Anaplasma marginale. As sequências analisadas possuíam um total de 231 aminoácidos. 87 3 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 Intervalo de referência para parâmetros hematológicos de bovinos e ovinos. 53 QUADRO 2 Intervalo de referência para parâmetros bioquímicos de bovinos e ovinos. 54 QUADRO 3 Iniciadores utilizados na amplificação de um fragmento de 122 pares de bases do gene msp2 de A. phagocytophilum. 55 QUADRO 4 Iniciadores utilizados na amplificação de fragmento de 85 pares de bases do gene 16S rRNA de Neorickettsia risticii 56 QUADRO 5 Iniciadores utilizados na amplificação de fragmento de 345 pares de base do gene msp5 de Anaplasma marginale 56 QUADRO 6 Iniciadores utilizados na amplificação de fragmento de 346 pares de base do gene msp4 de Anaplasma ovis 57 QUADRO 7 Iniciadores utilizados na amplificação de fragmento de 932 pares de base do gene 16S rRNA de Anaplasma sp. 57 QUADRO 8 Iniciadores utilizados na amplificação de fragmento de 546 pares de base do gene 16S rRNA de Anaplasma sp. 58 QUADRO 9 Iniciadores utilizados na amplificação de genes de codificantes de proteínas de membrana externa de Anaplasma marginale 61 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS µL Microlitros µM Micromolar AGE Anaplasmose Granulocítica Equina AGH Anaplasmose Granulocítica Humana ALT Alanino aminotransferase AST Aspartato aminotransferase BAC “Bacterial Artificial Chromosome” ou Cromossomo Artificial Bacteriano CDC Centers for Disease Control and Prevention CHGM Concentração de hemoglobina globular média CID Coagulação intravascular disseminada DNA Ácido desoxirribonucleico dNTP Trifosfatos desoxirribonucleosídeos Dr. Doutor Dr. a Doutora EDTA Ácido etileno diamino tetracético ELISA Do inglês “Enzyme-Linked Imunosorbent Assay” ou ensaio imuno enzimático EMH Erliquiose Monocítica Humana EUA Estados Unidos da América fL Fentolitros FTC Febre Transmitida por Carrapatos g/dL Gramas por decilitro HCl Ácido clorídrico IBGE Intituo Brasileiro de Geografia Estatística KCl Cloreto de Potássio LE Leucometria específica LG Leucometria global M Molar m Metros MHC Do inglês “Major Histocompability Complex” ou Complexo Maior de Histocompatibilidade mg/dL Miligramas por decilitro MgCl2 Cloreto de magnésio mM Milimolar MSP Major Surface Protein No Número OMP Outer Membrane Protein p. Página pb Pares de base PCR Do inglês “Polymerase Chain Reaction” ou reação em cadeia da polimerase pH Potencial hidrogeniônico pmol Picomol PTN Proteínas q.s.p. Quantidade suficiente para RJ Rio de Janeiro RNAr Ácido ribonucléico ribossomal SP São Paulo Taq Thermophilus aquaticus TAE Tris- Acetato- EDTA U Unidade internacional de medida U/L Unidades por litro UFF Universidade Federal Fluminense UV Ultravioleta VG Volume globular VGM Volume globular médio 14 RESUMO Organismos da família Anaplasmataceae são capazes de infectar ruminantes causando doenças e prejuízos econômicos. Destes, Anaplasma marginale é o mais frequente e importante no Brasil. Anaplasma phagocytophilum é o agente da Anaplasmose Granulocítica Humana, sendo ainda causador importante de doenças em ruminantes na Europa. A vacinação é a principal alternativa para o controle da infecção por A. marginale. Atualmente a busca por novos antígenos que sejam capazes aumentar o grau de proteção dos rebanhos e até mesmo prevenir o estado de portador é considerada de grande importância. Os objetivos do presente trabalho foram determinar a frequência de infecções por membros da família Anaplasmataceae em 94 bovinos e 59 ovinos de Cachoeiras de Macacu, RJ, a partir da PCR e determinar o grau de conservação das sequências dos genes omp1, omp4, omp5, omp7, SodB, am097, am254 (ef-tu) e am956 (PepA) em amostras de A. marginale de cinco municípios representando quatro mesorregões do estado do Rio de Janeiro. Dentre os bovinos de Cahoeiras de Macacu 35,1% (n=33) foram positivos para A. marginale. Dentre os ovinos 6,78% (n=4) foram positivos para A. phagocytophilum. A frequência de animais apresentando neutrofilia foi significativamente (p=0,0288) maior entre os bovinos PCR positivos para A. marginale. Dimuições nas atividades séricas de AST e Fosfatase alcalina foram significativamente (p=0,0041 e p=0,0007, respectivamente) mais presentes nos ovinos PCR positivos para A. phagocytophilum. A análise dos valores médios do número diferenças de aminoácidos por sitio (“p-distance”) entre todas as sequências preditivas de aminoácidos avaliadas indicam que há pouca variabilidade nestas proteínas. De acordo com estes dados, EF-Tu, SODb, PepA, OMP1 e OMP4 são as proteínas menos variáveis, com valores médios de “p-distance” de 0,01; 0,02; 0,02; 0,02 e 0,02 respectivamente. Apenas OMP7 e VirB9-1 apresentaram valores superiores à 5%, 0,11 e 0,08, respectivamente. As amostras do estado do Rio de Janeiro apresentaram uma maior similaridade nas sequências preditivas entre si do que quando comparadas a amostras do outros locais do Brasil e dos EUA. A observação de A. phagocytophilum infectando ovinos no estado do Rio de Janeiro indica que este agente de potencial zoonótico circula nesta região. Palavras chave: Anaplasma marginale, Anaplasma phagocytophilum, bovinos, ovinos, PCR, OMP. 15 ABSTRACT Anaplasmataceae family organisms infect ruminants causing illnesses and economic losses. Anaplasma marginale is considered the most frequent and important of those agents in Brazil. Anaplasma phagocytophilum is the agent of Human Granulocytic Anaplasmosis, and is a major cause of disease in ruminants in Europe. Vaccination is the main strategy for the control of A. marginale. Currently the search for new antigens able to increase the level of protection and/or even prevent the carrier state is considered of great importance. The goals of this study were to determine the frequency of Anaplasmataceae infections in 94 samples of cattle and 59 of sheep from Cachoeiras de Macacu-RJ, using PCR and to determine the conservation degree between the predictive amino acid sequences of omp1, omp4, omp5, omp7 , SodB, am097, AM254 (ef-tu) and am956 (PEPA) genes in A. marginale samples from five municipalities representing four regions of Rio de Janeiro State. Among the cattle, 35.1% (n = 33) were positive for A. marginale. Among sheep 6.78% (n = 4) were positive for A. phagocytophilum. The frequency of animals presenting neutrophilia was significantly (p = 0.0288) higher among the cows with a positive PCR for A. marginale. Decreased serum activities of AST and Alkaline phosphatasis were significantly more frequent (p = 0.0041 and p = 0.0007, respectively) in the sheep positive for A. phagocytophilum. The analysis of the mean values of the number of amino acid differences per site ("p-distance") between all predictive amino acid sequences evaluated indicates that there is little variability in this protein. According to these data, EF-Tu, SODb, PEPa, and OMP1 OMP4 proteins are less variable, with values of "p-distance" of 0.01, 0.02, 0.02, 0.02 and 0 02 respectively. Only OMP7 and VirB9-1 showed values higher than 5%, 0.11 and 0.08, respectively. Samples of the state of Rio de Janeiro showed greater similarity in predictive sequences among themselves than when compared to samples from other locations in Brazil and the USA. The observation of A. phagocytophilum infecting sheep in the state of Rio de Janeiro indicates that this potential zoonotic agent is present in this region. Key words: Anaplasma marginale, Anaplasma phagocytophlilum, cattle, sheep, PCR,OMP,Vaccine 1 INTRODUÇÃO A família Anaplasmataceae compreende diversos gêneros de Riquétsias capazes de infectar animais domésticos, selvagens e seres humanos, além de hospedeiros invertebrados como artrópodes e helmintos (DUMLER et al., 2001) sendo o gênero Anaplasma o mais frequentemente encontrado infectando ruminantes, através das espécies A. marginale, A. centrale, A. ovis, A. bovis e A. phagocytophilum. Espécies do gênero Ehrlichia, como E. chaffeensis e E. ruminantum, também são encontradas em ruminantes. No Brasil, Anaplasma marginale é a espécie de maior importância, sendo descrita em todo o território nacional (VIDOTTO & MARANA, 2001). No estado do Rio de Janeiro existem estudos de soroprevalência nas regiões Norte Fluminense e do Médio Paraíba (SOUZA et al. 2000; SOUZA et al. 2001). A situação da distribuição do agente nas demais regiões do estado ainda não foi investigada. Poucos estudos foram realizados pesquisando a existência de outros agentes da família Anaplasmataceae em ruminantes no Brasil. Recentemente foi relatada a ocorrência de A. bovis em bovinos no município de Campos dos Goytacazes (SANTOS & CARVALHO, 2006). A detecção de E. chaffeensis em Cervo do Pantanal também já foi realizada em território nacional (MACHADO et al., 2006). Desde 1940 se reconhece a existência de uma Riquétsia como agente causador de doença febril em ovinos na Escócia, sendo hoje este agente identificado como uma das variantes de A. phagocytophilum (WOLDEHIWET, 2006). O mesmo agente já foi descrito infectando caprinos e cervídeos em diversos países europeus. A. phagocytophilum é também o agente da Anaplasmose Granulocítica Humana, doença que vem apresentando uma crescente incidência nos EUA (DEMMA et al., 2006). Devido aos prejuízos econômicos que podem ser causados por estes agentes, à grande população de ácaros transmissores de hemoparasitos no Estado do Rio de Janeiro e por muitas destas parasitoses possuírem potencial zoonótico, torna-se necessária à caracterização dos agentes presentes nestas regiões, permitindo que sejam traçadas estratégias de controle, métodos de diagnóstico eficientes e um perfil hematológico e bioquímico desta população, proporcionando assim, um maior conhecimento das características epidemiológicas da infecção de ruminantes por estes parasitos no estado do Rio de Janeiro. O sucesso de novas vacinas para anaplasmose usando tecnologias moleculares dependera da capacidade em mimetizar ou redirecionar a resposta hospedeira durante infecções naturais ou bloqueio da infecção de células hospedeiras (KOCAN et al., 2003). O sequenciamento do genoma completo de A. marginale possibilitou a identificação de 62 genes que codificam proteínas de membrana anteriormente desconhecidas. Destas, 49 pertencem as superfamílias msp1 e msp2. Como os genes da superfamília msp2 são expressos na superfície bacteriana, o grau de conservação entre isolados de Anaplasma marginale emerge como uma importante questão (RAMOS et al., 2007). As membranas externas de patógenos intracelulares obrigatórios estão associadas a funções necessárias para a sobrevivência, replicação e transmissão destes agentes, assim, as proteínas expressas na superfície destes organismos são consideradas como potenciais candidatas para o desenvolvimento de vacinas, tornando a caracterização destas proteínas em diferentes isolados crítica para o desenvolvimento de novos imunógenos (NOH et al. 2008). Os objetivos do presente trabalho foram estudar a ocorrência de infecções por organismos da família Anaplasmataceae em bovinos e ovinos de Cachoeiras de Macacu – RJ e avaliar o grau de conservação de genes que codificam proteínas de membrana de A. marginale entre isolados provenientes de diferentes mesorregiões do Estado do Rio de Janeiro. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 FAMÍLIA Anaplasmataceae A família Anaplasmataceae pertence ao Super-reino Bacteria, Filo Proteobacteria, Classe Alphaproteobacteria, Ordem Rickettsiales. É composta de organismos gram negativos, cocóides, pleomórficos, intracelulares obrigatórios, encontrados exclusivamente em vacúolos no citoplasma da célula hospedeira. Podem ser encontrados individualmente ou em inclusões compactas formadas por varias unidades denominadas mórulas. Além disso, praticamente todos se multiplicam tanto em vertebrados quanto em invertebrados (principalmente carrapatos e trematódeos). Geralmente, parasitam células hematopoiéticas, maduras ou imaturas, particularmente células mieloides e neutrófilos, em sangue periférico ou tecidos, frequentemente em órgãos ricos em fagócitos mononucleares de hospedeiros mamíferos como o baço, fígado e medula óssea, (POPOV et al., 1998, RIKIHISA, 2006, KOCAN et al., 2010). Estudos das sequencias dos genes codificadores da unidade 16S rRNA, da gênese de proteínas de superfície e análise genética da proteína de choque térmico groESL, que forneceram evidências moleculares da necessidade de uma reestruturação das famílias Rickettsiaceae e Anaplasmataceae e dos gêneros Anaplasma, Ehrlichia, Cowdria, Neorickettsia e Wolbachia. Os membros das tribos Ehrlichiaeae e Wolbachiaeae foram transferidos para a família Anaplasmataceae com a eliminação da estrutura tribal da família Rickettsiaceae. A análise filogenética indicou a formação de quarto grupos distintos Anaplasma (similaridade mínima de 96.1%), Ehrlichia (97.7%), Wolbachia (95.6%) e Neorickettsia (94.9%). O gênero Anaplasma passou então a incluir a espécie A. phagocytophilum (englobando as espécies E. phagocytophila, E. equi e o agente da 19 erliquiose granulocítica humana), as espécies A. platys e A. bovis foram criadas para substituir as espécies E. platys e E. bovis respectivamente (DUMLER et al., 2001). 2.2 Anaplasma marginale A. marginale é uma riquétsia intraeritrocitária, agente da anaplasmose bovina (VIDOTTO & MARANA, 2001) e se encontra amplamente distribuído em regiões tropicais, subtropicais e temperadas, sendo encontrado nas Américas, Austrália, e sudeste Africano (DALGLIESH et al., 1990). A transmissão de Anaplasma marginale tem sido motivo de muita polêmica. Apesar de este hemoparasito ser conhecido há 100 anos, ainda persistem muitas dúvidas com relação aos meios e mecanismos de transmissão e à importância epidemiológica dos possíveis vetores. A principio, carrapatos ixodídeos, como Riphicephalus microplus, Dermacentor andersoni, D. variabilis e D. occidentalis (KESSLER e SCHENK, 1998). No Brasil, podemos considerar o carrapato R. microplus como vetores biológicos e os principais vetores (KESSLER, 2001). A transmissão pode se dar tanto transestadialmente, quando se infecta e transmite o patógeno durante os sucessivos ciclos de vida, quanto intraestadialmente, quando se infecta e transmite o patógeno dentro do mesmo ciclo de vida (ERIKS et al., 1993). Apesar da não ocorrência de transmissão transovariana em R. microplus (RIBEIRO et al. 1996), e de realizar suas ecdises sobre o hospedeiro, comprovou-se que, freqüentemente, os carrapatos mudam de hospedeiro, deslocando-se do local de fixação do instar anterior para fixar-se e reiniciar a alimentação do novo instar (MASON & NORVAL, 1981). Isto se explica devido à mobilidade dos novos instares e dos machos. O hábito gregário dos bovinos, com freqüentes contatos físicos, principalmente entre mãe e filho e animais em atividade sexual, facilita a passagem de um bovino para outro. O agente também pode ser transmitido por dípteros hematófagos, como, por exemplo, os dos gêneros Tabanus, Stomoxys, Haematobia, Psorophora, e através de fômites contaminados (BARBET, 1995, KESSLER e SCHENK, 1998). O período de incubação da doença varia de 21 a 35 dias, concorrendo com a manifestação de sintomas clínicos, de acordo com a taxa de inoculação e sensibilidade do hospedeiro (KESSLER e SCHENK, 1998). 20 A doença aguda é caracterizada por febre, anemia, icterícia, perda de peso, abortamento e queda da produção de leite (KOCAN et al., 2004). Nesta fase, mais de 75% dos eritrócitos circulantes podem estar parasitados, podendo levar o animal ao óbito em menos de 24 horas (VIDOTTO & MARANA, 2001). 2.2.1 EPIDEMIOLOGIA No estado do Rio de Janeiro estudos de soroprevalência mostraram que 91,16% e 98,21% dos bovinos nas regiões Norte Fluminense e do Médio Paraíba, respectivamente, foram positivos para A. marginale (SOUZA et al. 2000; SOUZA et al. 2001). A anaplasmose bovina é responsável por grandes prejuízos econômicos, especialmente em regiões de instabilidade enzoótica nas quais é particularmente importante. Nessas regiões há um grande percentual de animais susceptíveis à infecção por A. marginale (PALMER et al.,1986, ARAÚJO et al., 2003). Nesta situação, a maioria dos animais não se infecta nos primeiros meses de vida, quando são menos susceptíveis a essa infecção (MADRUGA et al., 1985). Nas regiões de estabilidade enzoótica os animais apresentam um bom título de anticorpos e usualmente não apresentam sinais clínicos, porém, populações de animais que são introduzidos, provenientes de áreas livres de carrapato ou, de rebanhos sob controle intensivo de carrapatos e, bezerros na faixa etária de 30 a 120 dias com baixa imunidade apresentam risco de anaplasmose (MADRUGA et al., 1984).Nestes locais os prejuízos causados pelos carrapatos podem ser mais significativos do que pelos agentes por eles transmitidos (VIDOTTO & MARANA, 2001). Além de perdas diretas, a anaplasmose representa um obstáculo para o melhoramento genético nacional visto que limita a introdução de raças de padrão zootécnico mais elevado, vindas de áreas livres da doença (MELÉNDEZ, 2000). 2.2.2 MEDIDAS DE CONTROLE As medidas para o controle da anaplasmose não apresentaram mudanças significativas nos últimos 60 anos. As medidas variam de acordo com as características econômicas e geográficas de cada região e podem incluir: controle de vetores artrópodes pelo uso de acaricidas, administração profilática de antibióticos e 21 vacinação. O controle de vetores não constitui uma solução prática para muitas áreas, não impedindo ainda, a transmissão mecânica através de fômites. O uso de antibióticos, além de caro, não é viável em sistemas de criação extensivos e trás o risco do aumento da ocorrência de microrganismos resistentes (KOCAN et al., 2010). A presença de isolados geográficos que não são transmitidos por carrapatos tem grande influencia no controle da anaplasmose. Nas regiões nas quais tais isolados são endêmicos, o controle deve se direcionar para prevenção da transmissão mecânica através fômites contaminados por sangue infectado e dípteros hematófagos e, em segundo plano, o combate aos vetores (DE LA FUENTE et al., 2001b). A vacinação é uma forma econômica e eficiente para o controle parcial da anaplasmose bovina. As vacinas podem ser de dois tipos: vivas ou mortas. O uso de vacinas vivas para o controle da anaplasmose envolve a infecção do animal, pela inoculação de eritrócitos infectados com isolados atenuados de A. marginale ou vacinas vivas contendo A. centrale, que é menos patogênico (KOCAN et al., 2003). Tais métodos apresentam algumas limitações em seu uso, como efeitos adversos em algumas categorias de animais (vacas prenhes, animais adultos), possibilidade de veiculação de agentes patogênicos (no caso da premunição), sensibilização de vacas contra grupos sanguíneos e, consequente, isoeritrólise neonatal em bezerros (BRIZUELA et al., 1998; KESSLER e SCHENK, 1998). O uso de vacinas mortas tem como principais vantagens o baixo risco de contaminação com agentes infecciosos indesejáveis, estocagem barata e menor número de reações adversas pós-inoculação. Suas desvantagens são a necessidade de reforços anuais, o alto custo de purificação de A. marginale à partir de eritrócitos e a falta de proteção cruzada entre isolados separados geograficamente. A imunidade protetora conferida pelas vacinas de organismos mortos é, frequentemente, menor que a conferida pelas vacinas de organismos vivos (KOCAN et al., 2003). É importante ressaltar que a Anaplasmose pode ser exacerbada pela vacinação em um número considerável de casos. O mecanismo pelo qual isto ocorre ainda não foi esclarecido, mas acredita-se que possa estar ligado à antígenos inapropriados e/ou resposta imune inadequada. Assim, para considerarmos uma vacina como protetora, ela deve ser capaz de causar uma redução na parasitemia, nos efeitos hemolíticos e na mortalidade (HOPE et al., 2004). 22 Nenhuma das vacinas hoje existentes é capaz de impedir que os animais se tornem persistentemente infectados e, consequentemente, se tornem reservatórios da infecção (KOCAN et al., 2003). Atualmente, há pesquisas voltadas para o desenvolvimento de vacinas a partir de proteínas de membrana oriundas de corpúsculos iniciais de A. marginale. Tais proteínas são expostas na superfície da Riquétsia, sendo facilmente acessíveis ao sistema imunológico do hospedeiro (ARAUJO et al., 2003). Sabe-se que determinados isolados de A. marginale podem não ser capazes de oferecer proteção cruzada para outros isolados, sejam eles utilizados em vacinas vivas ou como antígenos em vacinas mortas (KOCAN et al., 2010). Estudos filogenéticos recentes vêm demonstrando que há um maior número de isolados de A. marginale do que se pensava previamente. Acredita-se que esta diversidade se deva ao aumento da relocação de animais de uma área para outra (DE LA FUENTE et al., 2001b, 2002, 2007). 2.2.3 ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA INFECÇÃO POR Anaplasma marginale Muitas pesquisas têm sido feitas no intuito de melhor compreender a natureza da resposta imunológica à infecção por A. marginale, buscando a identificação dos antígenos que possuem papel decisivo nesta resposta (PALMER, 1989; PALMER et al., 1999). Há um mecanismo imunológico de exclusão da infecção entre Anaplasma spp, que resulta na infecção por um único isolado geneticamente definido. Tal fato contribui para a presença de isolados com genótipo e, características antigênicas distintas em uma mesma localização geográfica, ajudando explicar as características epidemiológicas da anaplasmose. Assim, infecções por A. centrale poderiam prevenir que animais sejam infectados por A. marginale, fornecendo proteção devido a cronicidade da infecção. A manutenção de diferentes genótipos de A. marginale dentro de um mesmo rebanho em áreas endêmicas pode ser causada por eventos de transmissão independentes (DE LA FUENTE et al., 2002). Porém em 2004, Palmer et al., identificaram a presença de uma superinfecção por dois isolados de A. marginale genotipicamente distintos. Sugerese que o fato possa ser comum dentro de uma região onde o organismo é endêmico e 64% dos animais inoculados com o isolado vacinal vivo A. centrale, foram 23 subsequentemente infectados por transmissão natural de A. marginale e albergam ambos os organismos. Comumente, animais carreiam apenas um isolado, apesar da presença e transmissão de isolados genotipicamente distintos dentro de uma mesma população (PALMER et al., 2004). Este fato reforça a ocorrência da prevenção da superinfecção, provavelmente decorrente do desenvolvimento de um amplo repertório de variantes de respostas imune MSP2 especificas contra o primeiro isolado de A. marginale. Como consequência deste fato, somente isolados com um grande repertório de variações do pseudogene msp2 são capazes de escapar da resposta imune do hospedeiro, sendo capazes de ocasionar a superinfecção. Porém, se o repertorio do pseudogene dos isolados apresentar similaridades, as variantes MSP2 que são apresentadas serão reconhecidas pelo hospedeiro e a infecção debelada (RODRIGUEZ et al., 2005). O sucesso de novas vacinas contra A. marginale utilizando técnicas de biologia molecular vai depender de sua capacidade de mimetizar e/ou redirecionar a resposta hospedeira durante infecções naturais ou bloquear infecção de células hospedeiras (KOCAN et al., 2003). Estudos demonstraram que a imunização com DNA simples é capaz de induzir uma ampla gama de respostas imunológicas, incluindo a produção de anticorpos, CD4, CD8, através de um processamento natural do antígeno, que é apresentado em moléculas MHC de classes I e II (DUMLER et al., 2001, apud, KANO et al., 2008). O uso do DNA para o desenvolvimento de vacinas parece promissor por induzir imunidade duradoura com uma ampla resposta imune celular e humoral e podendo ser usado simultaneamente contra diversos agentes em uma mesma vacinação (VAN DEN HURK et al. 2001). A modulação da magnitude e o direcionamento da resposta imune em vacinas de DNA podem ser obtidos pela coadministração de citocinas codificadas por plasmídios e antígenos. A vacina ideal será aquela capaz de prevenir infecção bem como induzir resposta imune. A possibilidade de bloqueio da infecção é uma meta importante, no entanto, até agora nenhum antígeno identificado foi capaz de atingir tal objetivo (KOCAN et al., 2003). Identificar candidatos à vacina apropriados não é uma tarefa simples. Enquanto MSP1 nativo possui capacidade de estimular resposta imune protetora, MSP1 recombinante não é eficaz na indução de níveis comparáveis de proteção, 24 sugerindo que a relação entre as proteínas na membrana pode ser um fator importante na indução de resposta imune protetora. Algumas das MSPs conhecidas se ligam a membrana através de ligações covalentes e não covalentes, sendo esta relação um possível fator de influência na apresentação epítopos. O uso de vacinas multivalentes pode ser uma alternativa necessária para o desenvolvimento de reposta protetora efetiva, portanto, combinações apropriadas de proteínas/epítopos devem ser exploradas em associação a métodos de apresentação apropriados (BRAYTON et al., 2006). Outra possibilidade para o desenvolvimento de vacinas é o uso do sistema de cultura de células derivadas de embriões de carrapatos Ixodes scapularis. Esta poderia servir como fonte de A. marginale, pois as MSPs se mantêm conservadas mesmo após sucessivas passagens. O uso de culturas celulares podem ainda ser empregado para testar a estabilidade e diversidade antigênica durante as passagens em bovinos e carrapatos, determinar se há expressão seletiva dos antígenos de importância biológica, desenvolver novos agentes terapêuticos e reagentes diagnósticos (BARBET et al. 1999). Anaplasma marginale apresenta diferenças na expressão e na estrutura proteica entre o crescimento em células de carrapato e em eritrócitos bovinos. Estas diferenças podem ser cruciais para o desenvolvimento de formulações vacinais capazes de prevenir a infecção e transmissão do agente (KOCAN et al., 2001). Atualmente as vacinas não previnem a infecção, e bovinos cronicamente infectados constituem os principais reservatórios de A. marginale servindo como fonte de infecção para transmissão mecânica, por fômites e dípteros hematófagos, e biológica, por carrapatos (KOCAN et al., 2003). Acredita-se que preparações de membrana de superfície externa possam ser efetivas na imunização contra A. marginale. No entanto, as tentativas de desenvolvimento de vacinas capazes de produzir imunidade protetora através das proteínas de superfície conhecidas não tem obtido sucesso. Assim, fazendo uso da crescente disponibilidade de sequencias genéticas conhecidas, novas proteínas de superfície tem sido pesquisadas através de uma abordagem genômica e proteômica, na busca por candidatos vacinais mais efetivos (BRAYTON et al., 2006). A partir de um isolado de A. marginale obtido de uma vaca naturalmente infectada em Oklahoma, Blouin et al., (2000) estabeleceram com sucesso um sistema de cultivo do agente utilizando células de Ixodes scapularis. O isolado 25 proveniente desta cultura era capaz de produzir anaplasmose clinica no gado, mantendo inalteradas as características de infectividade e de suas proteínas principais de superfície mesmo após quatro anos de passagens sucessivas. Através do sistema de cultivo de A. marginale, é possível obter organismos e componentes para vacinas sem os custos da manutenção de animais e sem a presença da membrana dos eritrócitos, evitando problemas associados como a isoeritrólise neonatal. O isolado cultivado oferece ainda a vantagem de permitir um melhor controle da presença de vírus e outros patógenos bovinos, que podem estar presentes no sangue coletado diretamente de animais. Isolados recentes de campo tem capacidade de produzir imunidade similar a resultante da infecção natural em bovinos quando usados como imunógenos. Aparentemente, na transição da bactéria do eritrócito para a célula do carrapato, ocorre um remodelamento da superfície de A. marginale, com diminuição do numero de proteínas nos complexos que são expressos na superfície das células de carrapato. Atribui-se esta mudança a: diminuição da expressão proteica, diminuição na exportação de proteínas para a superfície da bactéria, alteração na exibição ou disfarce das proteínas na superfície por outras moléculas (NOH et al., 2008). 2.2.4 ASPECTOS GERAIS DO GENOMA DE A. marginale Através da análise do genoma de bactérias uma série de importantes descobertas vem sendo feitas, como o esclarecimento de rotas metabólicas que podem ser testadas para descoberta de novos antibióticos, e o percentual significativo de genes presentes na maioria dos genomas bacterianos que não estão relacionados com nenhum outro gene identificado. A identificação de genes bacterianos desconhecidos, bem como de suas funções, pode ajudar a entender os mecanismos e adaptações que estes microrganismos utilizam para sobreviver como parasitas obrigatórios. A maior parte das bactérias parasitas obrigatórios possui um genoma muito reduzido, presumivelmente retendo apenas as funções mais importantes para sua sobrevivência e propagação (PALMER, 2002). Acredita-se que esta diminuição no tamanho do genoma seja resultado de um processo de redução evolutiva, sendo o patógeno de hoje descendente de um organismo com genoma maior. Sabe-se que as atividades de genes nucleares homólogos podem tornar genes do endossimbionte descartáveis e, como 26 consequência, vulneráveis a supressão por mutação. Com o acúmulo dessas mutações os genes tendem a ser a inativados e, eventualmente, a deleção. Ao longo deste processo os genes foram sendo perdidos desde o momento em que um primeiro ancestral viveu uma célula Eucariota. Quando os genes essenciais à vida livre foram eliminados, o endosimbionte tornou-se um residente obrigatório de seu hospedeiro (ANDERSSON et al., 1998). Apesar da diminuição de seus genomas, os organismos intracelulares obrigatórios mantém a capacidade de infectar, sobreviver, se reproduzir e causar doença em seus hospedeiros. Uma parcela significativa de seus genomas está voltada para famílias parálogas de moléculas polimórficas de superfície. Apesar da deleção da maioria dos genes duplicados, existe um grande número de cópias de genes que codificam proteínas de membrana polimórficas. Ao que tudo indica esta manutenção se deve a pressão seletiva exercida pelo sistema imune do hospedeiro, que permite a sobrevivência apenas dos organismos capazes de expressar diversos grupos de moléculas antigenicamente distintas. (PALMER, 2002). O genoma pequeno de A. marginale (1.197.687 pares de bases) permitiu que, a partir do isolado St. Maries, originalmente obtido de um animal com anaplasmose aguda, e com o uso de cromossomos artificiais bacterianos (BAC) se determinasse a sequência genômica completa sem a necessidade de purificação do organismo a partir da célula hospedeira. O genoma circular completo deste isolado possui conteúdo G+C de 49,8%, fato este pouco comum em organismos intracelulares obrigatórios. Conforme o esperado para uma bactéria intracelular que tem um conteúdo codificador mínimo para manutenção da vida, o genoma possui uma alta densidade de genes codificadores (86%). O genoma de A. marginale apresenta 949 sequencias de DNA codificantes, com uma tamanho médio de 1.077 pb e contém um único operon de genes RNA ribossomais, que parecem ser típicos da ordem Rickettsiales, e 37 genes de RNA transportadores, representando 20 aminoácidos. Foram identificadas 62 proteinas de membrana externa (OMP) (BRAYTON et al., 2005). No sequenciamento do genoma de A. centrale foram encontrados 1.206.806 pb em um cromossomo circular, com 925 sequencias codificantes preditas, 19 pseudogenes, 37 tRNAs e um grupo único de genes RNA ribossomais e 10 genes não encontrados nos isolados Saint Maries e Florida de A. marginale (HERNDOM et al.,2010). O sequenciamento deste genoma tem grande importância na pesquisa 27 para o desenvolvimento de vacinas para A. marginale devido à capacidade de A. centrale de produzir imunidade suficiente para prevenir o desenvolvimento de doença clinica em bovinos (PIPANO, 1995), indicando, portanto, que os epítopos cruciais para o desenvolvimento desta resposta imune devem ser conservados. (HERNDOM et al.,2010). 2.2.5 PROTEÍNAS PRINCIPAIS DE SUPERFÍCIE (MSPS) Seis proteínas principais de membrana (MSPs) de A. marginale derivadas de eritrócitos bovinos foram identificadas, sendo consideradas conservadas em organismos oriundos de carrapatos e de cultura de tecidos. As MSP1a, MSP4 e MSP5, são proteínas de genes únicos, não apresentando variação antigênica durante a multiplicação do agente. Por sua vez, MSP1b, MSP2 E MSP3 são provenientes de famílias de multigenes e podem variar antigenicamente, em especial, nos bovinos cronicamente infectados (BARBET et al., 2001). As MSPs estão interagem tanto com os hospedeiros vertebrados quanto com os invertebrados. Por isso, parecem evoluir mais rapidamente do que outros genes nucleares, uma vez que estão sujeitas a pressões seletivas exercidas pelo sistema imune dos dois hospedeiros (DE LA FUENTE et al., 2001). Estudos sobre imunização contra Anaplasma tem se concentrado na obtenção de frações antigênicas. Bovinos imunizados com corpúsculos iniciais ou membrana destes apresentaram redução significativa da anemia e da parasitemia (MONTENEGRO-JAMES et al., 1991; TEBELE et al, 1991; RODRIGUEZ et al., 2000). Plasmídios que codificam MSPs de A. marginale foram administrados a camundongos Balb C, produzindo uma resposta superior à obtida com o uso de plasmídios individuais, sugerindo que vacinas com múltiplos epítopos de DNA devem ser avaliadas na proteção bovina contra a anaplasmose (KANO et al., 2008). Vacinas plasmidiais que codificam MSP1a demonstraram induzir soroconversão antígeno específica em camundongos e bovinos, sugerindo que MSP1a expressa em plasmídios e nativa compartilham epítopos de linfócitos B, indicando que as vacinas de DNA fornecem um método para direcionar o fenótipo da resposta imune hospedeira (ARULKANTHAN et al., 1999). 28 Devido a natureza variável das MSPs, as tentativas para desenvolver uma vacina de subunidade contra A. marginale ainda não apresentaram resultados (RIDING et al., 2003). Apesar de possuírem características imunodominantes e serem capazes estimular uma resposta imune protetora, não se tem obtido sucesso, nas tentativas para produzir uma vacina contra um espectro de variantes imunologicamente distintas. Isso se deve ao pouco progresso obtido rumo à identificação de epítopos protetores conservados. a Considerando-se o principio de que qualquer vacina deve proteger contra uma ampla gama de variantes antigênicos, a pesquisa de antígenos conservados em A. marginale é importante para a produção de uma vacina de subunidade contra o parasito (HOPE et al., 2004). 2.2.5.1 MSP 1 O gene msp1α é o codificador de MSP1a que esta envolvida na adesão à eritrócitos bovinos e células de carrapatos, e transmissão de A. marginale por Dermacentor spp. (DE LA FUENTE et al., 2001a). MSP1b por sua vez é codificada por ao menos dois genes, msp1β1 e msp1β2 (BOWIE et al., 2002). Acredita-se que seja uma adesina para eritrócitos bovinos, entretanto comprovou-se não se tratar de uma adesina para células de carrapato (DE LA FUENTE et al., 2001b). Possivelmente, a associação entre MSP1a e MSP1b na superfície do complexo de proteínas permite que A. marginale se ligue de maneira mais efetiva ao eritrócito e/ou a célula do carrapato. MSP1a poderia ser uma subunidade essencial no reconhecimento de receptores da célula do carrapato, enquanto a ligação ao receptor do eritrócito poderia ser mediada por MSP1b ou por ambas subunidades proteicas através da ligação de componentes eritrocitários distintos. O papel diferencial de MSP1a e MSP1b na adesão as hemácias confere maior relevância ao complexo MSP1 na multiplicação de A. marginale no hospedeiro mamífero e no carrapato vetor, provavelmente como parte do processo de invasão (DE LA FUENTE, 2001b). Estudos realizados a partir de microscopia confirmaram a adesão de MSP1a em eritrócitos, células IDE8 e células intestinais de D. variabilis e a adesão de MSP1b somente a eritrócitos (KOCAN et al., 1981;DE LA FUENTE, 2001b). 29 O primeiro sítio de infecção por A. marginale em carrapatos são as células intestinais, iniciando o desenvolvimento do ciclo. Sem a adesão e infecção das células intestinais não ocorre a infecção das glândulas salivares e, consequentemente, a transmissão ao hospedeiro bovino. Desta forma, a adesão de MSP1a as células intestinais é necessária para infecção, multiplicação e transmissão de A. marginale. A capacidade de adesão de MSP1a foi avaliada em células derivadas de duas espécies de carrapato I. scapularis e D. variabilis, indicando que estes achados podem ser aplicados também a outras espécies de carrapatos (DE LA FUENTE, 2001b). A imunização de bovinos com MSP1 nativa promoveu proteção contra isolados homólogos e heterólogos de A. marginale, demonstrando que apesar da variação presente entre os diferentes isolados, há conservação de epítopos de proteção cruzada (PALMER et al., 1989). Esta resposta humoral é caracterizada pela produção de anticorpos contra MSP1, MSP1a ou MSP1b, inibindo a ligação de A. marginale aos eritrócitos, neutralizando assim a invasão das Riquétsias às células do hospedeiro (MCGAREY et al., 1994). Aparentemente, MSP1a pode refletir o histórico da movimentação do gado em determinada região, apesar de não funcionar bem como um marcador para caracterização geográfica de isolados de A. marginale. Além disso, a pressão seletiva exercida sobre MSP1a associada à sua função biológica tornam esta proteína uma potencial candidata a vacina (DE LA FUENTE et al., 2003b) As interações patógeno-vetor parecem influenciar as características das sequências de MSP1a em isolados da America Latina. A relação entre B. microplus e A. marginale aparentemente influencia o agrupamento dos isolados latino-americanos de A. marginale em uma chave separada dos isolados Norte Americanos, que são transmitidos principalmente por Dermacentor spp. (DE LA FUENTE et al., 2004). 2.2.5.2 MSP 2 A superfamília MSP2, constituída por msp2, msp3 e msp4, possui sete pseudogenes e é transcrita como parte de um operon de quatro genes, os três genes restantes foram chamados de genes operon associados (OPAGs 1-3) sendo também incluídos nesta família (BRAYTON et al., 2005). 30 A estrutura de MSP2, que apresenta similaridades entre algumas espécies do gênero Anaplasma, pode ser responsável, ao menos parcialmente, pela proteção cruzada induzida pela vacinação com A. centrale. Proteínas como MSP4 e MSP5 que são conservadas antigenicamente entre A. centrale e A. marginale, também podem ser requeridas para mimetizar a proteção induzida pela vacina viva de A. centrale ou pela imunização com membranas externas purificadas (MOLAD et al., 2004). MSP2 e MSP3 de A. marginale, apresentam alto grau de variação durante o curso da infecção, isto se dá como resultado de conversões sequenciais de genes, dando origem a variantes estruturais e antigênicas com sítios únicos de expressão (BRAYTON et al., 2002). No genoma de A. marginale, há sítios simples de expressão para msp2 e msp3, no entanto, pseudogenes funcionais múltiplos distribuídos pelo cromossomo servem como molde para conversão podendo dar origem à variantes da camada de superfície de MSP2 e MSP3 (BRAYTON et al., 2005). A existência de variantes capazes de escapar da resposta imune dos hospedeiros vertebrados parecem ser críticas para a longa persistência do parasita em indivíduos imunocompetentes (FRENCH et al., 1999). Anaplasma marginale expressa msp2 no eritrócito bovino e no intestino e glândula salivar do carrapato. A expressão diferencial de genes nos hospedeiros vertebrados e invertebrados é um reflexo das necessidades especializadas para invasão, sobrevivência e replicação em cada hospedeiro (LOHR et al., 2002). Em clones de A. marginale observou-se que MSP2 apresenta uma região hipervariável central única, flanqueada por regiões N e C terminais altamente conservadas. No entanto, a estrutura das variantes de MSP2 expressas durante rickettsemia persistente possui grande similaridade com aquelas definidas pela sequência de genes que codificam a proteína MSP2 de A. phagocytophilum (FRENCH et al. 1999). A variação de MSP2 em A. marginale, definida por 17 transcritos expressos durante o ciclo de riquetsemia, ocorre somente em uma região central única da proteína. MSP2 é codificada através de um RNA transcrito policistrônico nos estágios eritrocitários de A. marginale, havendo um polimorfismo no sítio de expressão genômico para este transcrito policistrônico msp2 e evidencias de rearranjo genético durante infecção persistente. A disponibilidade do sítio de expressão pode permitir a determinação das variantes de MSP2 que são expressas 31 durante ciclo de transmissão A. marginale entre carrapatos e bovinos. A partir destas informações pode-se começar a compreender as possíveis bases moleculares para a persistência da infecção, bem como pode permitir a identificação de mecanismos de variação similares em outros patógenos relacionados à família Anaplasmataceae. Acredita-se que diversos outros patógenos façam uso de mecanismos de expressão de proteínas de superfície similares para evasão da resposta imune do hospedeiro, tornando possível a manutenção de infecções crônicas (ALLEMAN et al., 2001). Análises de um sítio de expressão policistrônico de msp2 em isolados de A. marginale provenientes de cultura de células, glândula salivar de carrapatos e bovinos com infecção aguda ou crônica demonstram a conservação das sequências entre os diferentes estágios do isolado de Oklahoma, com exceção da região central de MSP2, que apresenta marcante polimorfismo entre populações de A. marginale. Estas principais sequências não apresentam variação em passagens em culturas, nos estágios agudos da infecção dos eritrócitos bovinos e/ou glândulas salivares de carrapatos, porém, variam em infecções crônicas nos hospedeiros bovinos. Mudanças estruturais em um sítio de expressão para uma proteína externa de membrana apresentam implicações para o desenvolvimento de vacinas contra A. marginale e outros patógenos relacionados (BARBET et al., 2001). Em 2001, Brown et al. identificaram a presença de múltiplos epítopos de linfócitos Th naturalmente processados nas regiões N e C terminal de MSP2 que são estruturalmente conservados entre o genogrupo II de Ehrlichia (hoje pertencente ao gênero Anaplasma), e são reconhecidos pelo sistema imune bovino como diferentes haplótipos de MHC de classe II. Este fato poderia ajudar a explicar a dominância sorológica desta proteína, seja em humanos ou em animais infectados por este grupo de microrganismos bem como pelos do gênero Ehrlichia (JONGEJAN et al., 1989). Durante a infecção crônica, onde há o surgimento variações antigênicas do microrganismo de forma sequencial, o desenvolvimento de uma resposta intensa de linfócitos Th direcionada à epítopos não variáveis de MSP2 seria capaz de propiciar um acelerado aporte de linfócitos B, com consequente produção de anticorpos específicos para a variante presente. A combinação desta resposta com a produção de interferon γ, parece ser o mecanismo que controla a riquetsemia, mantendo-a em níveis baixos, como observado durante a fase crônica. Algum grau de homogeneidade ocorre entre sequencias de MSP2 em populações de A. marginale em cada estágio da multiplicação parasitaria. O padrão 32 do desenvolvimento de A. marginale em carrapatos apresenta diferenças significativas em relação a agentes como Theileria e Babesia spp, nos quais as glândulas salivares infectadas são descolonizadas quando os parasitos são transmitidos ao hospedeiro vertebrado durante o repasto. No entanto, a causa específica desta manutenção ainda não foi esclarecida, não se sabendo com clareza se as infecções crônicas de glândulas salivares se devem totalmente a multiplicação do microrganismo dentro destas ou se resulta do constante migração de organismos de células intestinais e outros tecidos para as glândulas salivares. Em glândulas salivares de Dermacentor variabilis cronicamente infectadas foi possível observar o surgimento de populações com sequências de msp2 heterogêneas e de variantes de MSP2. Esta variação parece ocorrer de maneira totalmente independente da pressão seletiva exercida pela resposta imune adquirida de bovinos, sugerindo sua relação com fatores inerentes ao hospedeiro invertebrado (DE LA FUENTE & KOCAN, 2001). Um antígeno denominado ANA 29 foi caracterizado, através da observação de um cDNA codificante para um antígeno não conhecido previamente e que não apresenta homologia significativa com nenhuma outra proteína de bactérias ou outros microrganismos conhecidos no banco de dados. Não foram encontrados ainda homólogos deste gene em Ehrlichia canis ou Ehrlichia ruminantium, seja por PCR ou em hibridização por Southern Blotting. A existência de homólogos deste gene em isolados de A. marginale e A. centrale, associada a ausência do mesmo em organismos de outros gêneros dentro da família Anaplasmataceae indica se tratar de um gene único e conservado em Anaplasma spp. O antígeno ANA 29 induz uma resposta protetora contra o desafio de A. marginale quando utilizado para imunização (HOPE et al., 2004). Dentro da superfamília MSP2 são incluídos genes conhecidos como opag1 e opag3. Sua função precisa ainda é desconhecida. Tem-se observado de que genes estruturais bacterianos frequentemente se organizam em grupos que codificam proteínas que apresentam funções relacionadas, portanto, é provável que a proteína OPAG esteja envolvida nas interações da membrana de A. marginale. Ainda não são conhecidas as características de expressão de opag1, ele pode ser expresso em pequena quantidade ou mesmo não possuir expressão, por sua vez, opag3 é expresso unicamente no interior do eritrócito durante fase aguda da parasitemia. As diferenças na expressão gênica de proteínas de membrana externa dentro de um mesmo operon constitui um achado novo em bactérias transmitidas por carrapatos, e 33 a regulação deste fenômeno pode fornecer valiosas pistas para uma melhor compreensão dos mecanismos necessários para a adaptação do agente às transições entre os hospedeiros vertebrado e invertebrado (LOHR et al. 2002). As proteínas Am 778, Am 779 e Am 780 são expressas na superfície da membrana de A. marginale e possuem alto grau de conservação entre diversas espécies da família Anaplasmataceae como: A. phagocytophilum, E. canis, E. chaffeensis, E. ruminantium e Wolbachia spp (GE et al., 2007) Originalmente, Am 778 foi considerada uma proteína hipotética, codificada no mesmo lócus que codifica Am 779 e 780. Acredita-se que complexos de proteínas expressos na superfície de A. marginale isolados de eritrócitos sejam capazes de induzir imunidade protetora similar àquela produzida por membranas externas purificadas (NOH et al., 2008). No entanto, Albarrack et al. (2012) apontaram que Am779 é subdominante na resposta imune à infecção, sendo capaz de estimular linfócitos T mas não de gerar resposta protetora com produção de anticorpos. Ainda assim, o estudo de proteínas subdominantes, porém abundantes e altamente conservadas continua sendo considerado um ramo promissor para o eventual desenvolvimento de vacinas para A. marginale. A partir do isolado Saint Maries, que foi clonado em cromossomo artificial bacteriano e sequenciado, foi possível conhecer mais detalhes do genoma de A. marginale, que possui 1.197.687 pares de bases (pb). (BRAYTON et al., 2005). Um dos aspectos mais relevantes da análise do genoma de A. marginale foi a descoberta de novas proteínas de membrana do parasito. Poucas sequências puderam ser classificadas como codificantes para proteínas de membrana externa (outer membrane protein - OMP). Sendo a maior parte delas inserida nas superfamílias MSP1 e MSP2 (BRAYTON et al., 2006). 2.2.6 PROTEÍNAS EXTERNAS DE MEMBRANA (OMPS) As imunizações com preparações de membrana externa purificada tem demonstrado capacidade de conferir proteção contra infecções agudas por A. marginale e de evitar doença clínica (BROWN et al., 1998a). Uma abordagem proteômica e genômica recentemente identificou 21 proteínas de potencial imunogênico na membrana externa além das proteínas principais de superfície MSP1 a MSP5. As proteínas externas de membrana (OMPs) de A. marginale tem 34 sido objeto de muitos estudos, visando esclarecer suas funções exatas. Pouco se sabe ainda a respeito da sua influência na imunidade. Apesar de um grande número de estudos terem se direcionado à OMPs específicas em busca de vacinas, não se obteve ainda um grande sucesso em comparação aos resultados obtidos com as imunizações que utilizam bactérias inteiras ou membranas externas intactas. É possível que as OMPs não sejam capazes de apresentar epítopos suficientes para induzir resposta em linfócitos T ou não sejam apresentadas de forma suficiente por MHC classe II. A resposta a essas falhas está provavelmente na associação de proteínas com diferentes características imunogênicas. OMPs que sabidamente contenham múltiplos epítopos de linfócitos T podem atuar como carreadores de outras OMPs que apresentem menor capacidade neste sentido, como por exemplo, na combinação de MSP1b1, que é um antígeno fraco, e MSP1a, rica em epítopos T, que possui um significativo efeito imunogênico, sendo capaz de gerar altos níveis de produção de anticorpos contra MSP1b1 (MACMILLAN et al., 2008). Para uma compreensão efetiva da natureza da proteção produzida pelas membranas externas de A. marginale, torna-se fundamental determinar a complexidade das interações entre proteínas de membrana e qual a influência destes complexos na resposta imune ao agente (MACMILLAN et al., 2008). Dentre as proteínas recentemente descobertas estão as do sistema de secreção tipo IV (TFSS): fator de elongação termo instável (EF-Tu), proteína conjugal de transferência (VirB9-1), VirB9-2 e VirB10 (LOPEZ et al., 2007). O TFSS (sistema de secreção tipo IV) atua como um transportador ATP dependente de macromoléculas através da membrana, estando relacionado ao sistema de conjugação em bactérias gram negativas (NIU et al., 2006). TFSS é um dos poucos grupos de genes sintênicos presentes entre organismos riquétsiais. Isto indica que a coordenação da expressão destes genes é critica para o microrganismo (HOTOPP et al., 2006). Existe a possibilidade de que a expressão de TFSS esteja associada aos mecanismos de sobrevivência de bactérias intracelulares obrigatórias (NIU et al.,2006). Em outras bactérias gram negativas, o TFSS forma canais que facilitam a secreção de moléculas, sendo necessário para a sobrevivência celular. Em Anaplasma phagocytophilum, Ehrlichia chaffensis e Ehrlichia canis o TFSS são altamente conservadas como proteínas ortólogas entre os três agentes. Por ser uma exigência para a sobrevivência intracelular do microrganismo, possuindo assim natureza altamente conservada mesmo entre isolados geograficamente distintos de 35 A. marginale, as proteínas TFSS de bactérias gram negativas constituem alvos coerentes para investigação imunológica, considerando sua localização na superfície da membrana O reconhecimento dos antígenos de TFSS por Células T CD4 e por IgG2 de bovinos imunizados com a fração de membrana externa, fornece uma razão para incluir estas proteínas no desenvolvimento de vacinas contra A. marginale e patógenos relacionados (LOPEZ et al., 2007). EF-Tu, assim como a leucil aminopeptidase (PepA), enzima que promove a quebra de ligações peptídicas por hidrolise em vias metabólicas de aminoácidos, foram inicialmente classificadas como proteínas citoplasmáticas, porém, após analise pelo programa TMHMM, passaram a ser reconhecidas como proteínas ancoradas à membrana externa e expostas ao meio extracelular (LOPEZ et al., 2005). Outro grupo de proteínas que fazem parte do TFSS são as superóxido desmutases (SOD). Tais proteínas são metaloenzimas que tem como função a catalisação da reação de dismutação: O2 > H2O2 > O2. São conhecidos outros tipos de SODs, que podem ser distinguidas de acordo com o metal presente em seu sítio ativo (ex:MnSOD, ZnSOD). Acredita-se que o gene sodb de Anaplasma e Ehrlichia spp, provavelmente codifica uma FeSOD. Ferro SODs e Manganês SODs são conhecidos por atuarem como uma defesa das células bacterianas contra injúrias oxidativas causadas pelo acúmulo de oxigênio reativo, proveniente do próprio metabolismo bacteriano, protegendo o material genético do microrganismo (OHASHI et al., 2002). Não se conhece bem a função de VIRB3, porém, foi estabelecido que virb3 e virb5 são genes essenciais de virulência (BERGER & CHRISTIE, 1994). Estabeleceu-se ainda que VirB9-1 é ortólogo a VirB9-2 (MCLEOD et al., 2004), possuindo função de responsável pela transferência de complexos proteína-DNA e de macromoléculas entre células (LOPEZ et al., 2007). O gene am854 codifica uma proteína classificada como sendo de membrana através da análise pelo software TMHMM (LOPEZ et al., 2005). No mesmo experimento, foi observado que AM854 se trata de uma lipoproteína associada a um peptideoglicano, que faz parte dos componentes estruturais da membrana externa e que possui homologia com proteínas relacionadas à Ehrlichia canis em análises ao submetidas ao BLAST. 36 Foram identificadas dentro da superfamília MSP2, 15 OMPs (outer membrane proteins), com sequências semelhantes à msp2 e/ou msp4. Estes genes podem ser agrupados de forma isolada ou em estrutura similar a um operon (BRAYTON et al. 2006). Os genes omp2, omp3 e omp6 são, provavelmente, pseudogenes, uma vez que não houve detecção de seus transcritos em estágios eritrocitários de diferentes isolados de A. marginale (NOH et al. 2006; RAMOS et al. 2007). As OMPs 4, 7, 10 e 14 ainda são proteínas com função indefinida em A. marginale. São consideradas como membros da superfamília MSP2 devido a homologia de sequencias aos antígenos de superfície da família pfam01617 (BRAYTON et al. 2005). Entretanto, estas OMPs servem como alvos para anticorpos induzidos pela imunização de bovinos com membrana externa purificada e, especificamente, por altos títulos de IgG2, que normalmente esta associada à imunidade protetora (LOPEZ et al. 2005). O isolado vacinal AMCE tem presentes em seu genoma apenas os genes omp1, omp4, omp5, omp7, omp9, omp10, omp11, omp12, omp13 e omp14 (Genbank CP001759). A família das omps 1-15 presentes nos isolados americanos de A. marginale se encontra reduzida no isolado AMCE. Nele as OMPs 7-9 estão colapsadas em uma única região codante, e os homólogos OMPs 2, 3, 6 e 15 estão ausentes (HERNDON et al., 2010). A incorporação de múltiplos epítopos na imunização com DNA consiste de um novo método para aumentar o potencial imunogênico, conferindo um maior grau de proteção ao animal vacinado quando em comparação à vacinas de epítopo único (KANO et al., 2008). A expressão diferencial de omp1, omp4, omp7, omp8, omp9, e omp11 entre tipos celulares aparenta ser regulada transcricionalmente. Os omps podem ser transcritos nos eritrócitos bovinos, no intestino e na glândula salivar do carrapato, e em cultura de células de carrapatos da linhagem IDE8. As proteínas OMP1, 4, 7, 8, 9 e 11 são expressas em eritrócitos bovinos infectados com A. marginale. Em células de carrapatos, no entanto, a expressão das proteínas OMP 1, 4, 7, 8, 9 encontra-se bastante reduzida e, no caso de OMP11, completamente ausente (NOH ET al., 2006). Estas OMPs podem ter um papel na indução da imunidade protetora obtida após a imunização com membrana externa purificada de A. marginale (BROWN et al., 1998b). Nenhuma das MSPs anteriormente identificadas foi capaz de induzir imunidade consistente (PALMER et al., 1988). As OMPs 4, 7, 10 e 14 tem sido 37 apontadas como alvos para anticorpos induzidos pela imunização de gado com membranas externas purificadas e, especificamente, por altos títulos de IgG2 (BROWN et al., 1998a). A membrana de A. marginale é composta por proteínas com amplas uniões covalentes e não covalentes intra e intermoleculares. Acredita-se que as OMPs expressas desempenhem um papel de importância na manutenção desta conformação estrutural (VIDOTTO et al., 1994). O fato das OMPs não apresentarem grandes variações e de serem expressas no interior dos eritrócitos infectados, as torna alvos interessantes para investigações a respeito de sua importância na imunidade e relevância para o desenvolvimento de vacinas (NOH et al., 2006). Com a disponibilidade da sequência do genoma completo do isolado de St. Maries de A. marginale, novas pesquisas para a identificação de OMPs ainda não descritas no complexo de imunógenos de membranas externas se tornaram possíveis. Tal fato possibilitou ainda a comparação do grau de conservação das sequências de proteínas entre isolados distintos. Ao serem imunizados com membranas externas de A. marginale purificadas bovinos obtiveram completa proteção contra infecção, associada com a secreção de interferon γ mediada por linfócitos T CD4+ e titulo de anticorpos IgG2. Assim, por meio de uma abordagem genômica e proteômica foi possível a identificação de novas OMPs utilizando-se anticorpos IgG2 de animais vacinados com estas com membranas purificadas. Pesquisas sobre MSP2 de A.marginale realizadas no BLAST indicam que algumas tem homologia com proteínas de A. phagocytophilum e com espécies do gênero Ehrlichia (LOPEZ et al., 2005). A análise das sequências genes omp1, omp4, omp5, omp7, omp8, omp10, omp14, omp15, sodb, opag1, opag3, virb3, VirB9-1, pepA, ef-tu e am854, de diversas proteínas de membrana externa de um isolado brasileiro de A. marginale, proveniente da zona da mata de Pernambuco, apontou homologia entre 92-100%, com exceção de omp7, em comparação a isolados de outros países, indicando a alta conservação e dando suporte à ideia de que estas proteínas possam ser utilizadas na elaboração de vacinas (GUEDES JUNIOR et al., 2010) 2.3 Anaplasma phagocytophilum 38 Anaplasma phagocytophilum é o agente causador da Anaplasmose Granulocitotrópica e possui ampla distribuição geográfica, sendo encontrado nos Estados Unidos, Reino Unido, Noruega, Suécia, Suíça, Alemanha, Holanda, Eslovênia, Espanha, França, Itália, Rússia, Coréia do Sul e Tailândia (GREIG & ARMSTRONG, 2006; BELTRAME et al., 2006; AMUSATEGUI et al., 2006; MATSUMOTO et al., 2006). Os tipos celulares infectados são principalmente neutrófilos e eosinófilos, ocasionalmente o microrganismo pode ser visualizado em monócitos (WOLDEHIWET, 2006) e eosinófilos (GREIG & ARMSTRONG, 2006). O parasita já foi detectado infectando cães, equinos, gatos e seres humanos (AGUERO-ROSENFELD, et al. 1996, BARLOUGH, et al. 1996; GREIG et al. 1996; EGENVALL, et al. 1997; LAPPIN, et al. 2004). Na Europa, A. phagocytophilum é reconhecido como um agente de grande importância em ruminantes (WOLDEHIWET, 2006), tendo sido descritos em ovinos, caprinos, bovinos e lhamas (DUMLER et al., 2005). Diversas espécies de roedores e cervídeos são implicadas como reservatórios naturais do agente tanto nos EUA como na Europa (GREIG & ARMSTRONG, 2006; WOLDEHIWET, 2006). Carrapatos coletados de aves migratórias na Suécia estavam infectados por A. phagocytophilum, indicando que estas aves podem ter um papel na distribuição geográfica do agente (BJÖERSDORFF et al., 2001). Recentemente o agente foi descrito em roedores selvagens, sugerindo que estes animais podem atuar como reservatórios da infecção (LIZ et al., 2000). Anaplasma phagocytophilum é a Riquétsia causadora da febre transmitida por carrapatos (FTC), e da Anaplasmose Granulocítica em equinos (AGE) e seres humanos (AGH) (MATSUMOTO et al., 2006). A infecção de ruminantes por A. phagocytophilum vem sendo descrita na Europa há mais de 70 anos (WOLDEHIWET, 2006). No Japão, o microrganismo foi encontrado em cervídeos e bovinos (KAWAHARA et al., 2006; OOSHIRO et al., 2008). Nos EUA o agente é frequentemente encontrado no Veado da Cauda Branca (Odocoileus virginianus). A variante de A. phagocytophilum, responsável por causar a FTC em ovinos, bovinos e caprinos, foi descrita pela primeira vez em 1940, o mesmo agente foi detectado em seguida causando doença em ovinos e bovinos em outras partes do Reino Unido, Escandinávia, Irlanda e em outras partes da Europa (WOLDEHIWET, 2010). As variantes de FTC em ruminantes na Europa diferem daquelas que provocam AGH nos EUA e em partes da Europa com relação a sua 39 distribuição, hospedeiros susceptíveis, forma clínica e gravidade da doença. Nos EUA, ruminantes domésticos não parecem ser susceptíveis à infecção por A. phagocytophilum (PUSTERLA et al., 2001) enquanto que na Europa FTC é uma doença comum em ruminantes (WOLDEHIWET & SCOTT, 1993). 2.3.1 TRANSMISSÃO Em geral, os vetores são carrapatos ixodídeos, em especial do gênero Ixodes (GREIG & ARMSTRONG, 2006). Na Coréia do Sul, o DNA do agente foi detectado também em carrapatos da espécie Haemaphysalis longicornis (KIM et al., 2003). A principal via de transmissão da infecção é através do carrapato vetor, mas a transmissão transplacentária já foi observada em bovinos (PUSTERLA et al., 1997). 2.3.2 INFECÇÃO A maioria dos surtos de FTC ocorre entre os rebanhos de ovelhas e bovinos recém-introduzidos em pastagens infestadas por carrapatos, mas surtos isolados têm sido relatados em cabras (GRAY et al., 1988). Entre os ruminantes de vida livre no Reino Unido, o organismo foi detectado em cabras selvagens (Capra hircus) (FOSTER & GREIG, 1969) e em cervídeos (Cervus elaphus; Dama dama; Capreolus capreolus) (MCDIARMID, 1965; ALBERDI et al, 2000). O organismo foi detectado também em uma variedade de cervídeos incluindo alce (Alces alces) e camurça (Rupicapra rupicapra) na Noruega (STUEN et al, 2001; JENKINS et al, 2001), Eslovénia (PETROVEC et al, 2002), Suíça (LIZ et al., 2002) e na Áustria (POLIN et al., 2004). Não se sabe se as variantes de AGH podem causar doença clínica em ruminantes domésticos em condições naturais. De acordo com TATE et al. (2005) os cervos e as cabras são suscetíveis à infecção experimental com uma variante AGH, Ap-Variante 1 (MASSUNG et al., 2006). 2.3.3 PATOGENIA Os estágios iniciais da patogênese de A. phagocytophilum em seus vários hospedeiros mamíferos continuam pouco claros. Por exemplo, ainda não se estabeleceu o sítio de replicação das bactérias após sua entrada na derme pelo repasto do carrapato e antes da bacteremia, que ocorre em quatro a sete dias. Um 40 estudo com ovinos infectados por variantes de FTC não demonstrou nenhuma evidência de infecção em neutrófilos imaturos liberados da medula óssea ao sangue periférico (WOLDEHIWET & SCOTT, 1982c). Quando ovelhas infectadas com uma variante FTC foram tratadas com dexametasona, durante o período de pico de bacteremia, a proporção de granulócitos circulantes aumentou para mais de 90% dentro de duas horas, mas a porcentagem de neutrófilos infectados foi reduzida, o que sugere que os neutrófilos imaturos mobilizados a partir da reserva de medula óssea não foram infectados antes da sua chegada ao sangue periférico. Estudos in vitro também demonstraram que as células endoteliais microvasculares podem permitir o crescimento de variantes de AGH (MUNDERLOH et al., 2004). Durante o período de pico de bacteremia das variantes de A. phagocytophilum em ovinos, caprinos e bovinos, até 90% dos granulócitos podem ser infectados, sendo a intensidade de bacteremia e a reação febril influenciadas pela amostra infectante, imunidade do hospedeiro e susceptibilidade (FOGGIE, 1951; WOLDEHIWET & SCOTT, 1982a; WOLDEHIWET & SCOTT, 1993). Durante o período de bacteremia dos organismos estão presentes nos neutrófilos, eosinófilos e monócitos, sendo a infecção em monócitos mais predominante em fases tardias da FTC (WOLDEHIWET, 1987a). Em ovinos e bovinos com FTC e em cavalos com AGE, o período de bacteremia é acompanhado de febre alta, que geralmente dura cerca de sete dias, mas pode durar por períodos mais longos ( WOLDEHIWET, 1987a). A reação febril, que pode ser superior a 41,8C, atinge o seu pico máximo durante o segundo dia de bacteremia e pode durar até de duas semanas (FOGGIE, 1951; WOLDEHIWET, 1987a). Reações febris secundárias pode também ocorrer de duas a quatro semanas após a primeira reação febril. Um dos principais efeitos da infecção por variantes de FTC é leucopenia severa devido à neutropenia e linfopenia. Trombocitopenia também é descrita (FOSTER & CAMERON, 1969; WOLDEHIWET, 1987a; GOKCE & WOLDEHIWET, 1999a). Em ovinos e bovinos infectados o número de neutrófilos circulantes é marcadamente reduzido durante o período de febre e bacteremia e pode continuar a ser reduzido, por algum tempo, após o desaparecimento da reação febril e bacteremia (WOLDEHIWET, 1987a). O período neutropênico coincide com susceptibilidade aumentada a infecções bacterianas piogênicas (WOLDEHIWET & SCOTT, 1993). A neutropenia atinge o seu ponto mais crítico de cerca de seis dias 41 após o início da bacteremia e febre, mas a linfopenia aparece mais cedo, atingindo o seu ponto mais intenso cerca de cinco dias antes (WOLDEHIWET, 1987a). A eosinopenia pronunciada é também relatada como uma característica importante da FTC (VAN MIERT et al, 1984; WOLDEHIWET, 1987a;. CAMPBELL et al, 1994). A linfopenia ocorre devido à redução no número de linfócitos T e B (WOLDEHIWET, 1991). Anemia também é descrita em bovinos infectados por FTC (PURNELL et al, 1977, BRUN-HANSEN et al, 1998) e uma redução do número de eritrócitos circulantes, hematócrito, volume corpuscular médio e concentração de hemoglobina também foi relatada em ruminantes experimentalmente infectados (VAN MIERT et al, 1984; GOKCE & WOLDEHIWET, 1999). 2.3.4 IMUNOSSUPRESSÃO Os animais infectados podem apresentar sinais de imunossupressão, ficando predispostos a infecções secundárias. Isso se dá devido a capacidade da riquétsia de inibir as capacidades fagocíticas e bactericidas de neutrófilos (WHIST et al., 2002). Os primeiros relatos de FTC em ovinos e bovinos descrevem uma série de sinais clínicos que eram atribuídos a infecções secundárias. Por exemplo, até 30% de cordeiros infectados por FTC podem desenvolver “Tick pyaemia”, uma claudicação incapacitante e paralisia, comum em fazendas infestadas por carrapatos, devido à infecção por Staphylococcus aureus. Quando Hudson (1950) descreveu pela primeira vez a doença em gado leiteiro, os sinais mais predominantes clínicos observados foram tosse e diminuição na produção de leite. Outros pesquisadores observaram sinais clínicos semelhantes em bovinos (FOGGIE & ALLISON, 1960). Outros estudos no Reino Unido e Escandinávia estabeleceram claramente que as variantes FTC são imunossupressoras, resultando em síndromes de doenças, incluindo, “Tick pyaemia”, abortos (BRODIE et al., 1986; JONES & DAVIES, 1995; GARCIA-PEREZ et al., 2003), pasteurelose (GILMOUR et al., 1982; OVERAS et al., 1993) e listeriose septicemica (GRONSTOL & ULVUND, 1977). Em bovinos, os primeiros indícios da doença podem ser sinais respiratórios, devido a infecções secundárias, e uma queda na produção de leite (HUDSON, 1950). Em alguns casos, aborto em um grande número de vacas prenhes pode 42 ocorrer, especialmente quando as ovelhas e vacas são movidas para pastagens infestadas durante os últimos estágios da prenhez (GARCIA-PEREZ et al., 2003). Em cordeiros jovens, os principais sinais clínicos são provavelmente aqueles de “Tick pyaemia”, a complicação mais comum e grave de FTC (BRODIE et al, 1986; WOLDEHIWET & SCOTT, 1993). É, portanto, importante considerar FTC quando os animais que foram recentemente introduzidos em pastagens infestadas desenvolvem doença febril, ou nos casos em que os sinais são mascarados por infecções secundárias. Estudos iniciais indicaram que os neutrófilos isolados a partir de ovelhas infectadas apresentaram redução na capacidade de diapedese in vivo (FOSTER & CAMERON, 1970), redução de migração in vitro (WOLDEHIWET & SCOTT, 1982c) e diminuição de aderência a superfícies de vidro (WOLDEHIWET, 1987a). Outros estudos in vivo, demonstraram que o organismo influencia negativamente na capacidade fagocítica e bactericida de neutrófilos de ovinos (WOLDEHIWET, 1987a; BATUNGBACAL, 1995; WHIST et al, 2002) e que os neutrófilos infectados são mais susceptíveis aos citotoxinas de Mannheimia (anteriormente Pasteurella) haemolytica (WOLDEHIWET et al., 1993). Existe alguma evidência para sugerir que o efeito imunossupressor do organismo não está limitado aos seus efeitos sobre granulócitos. Estudos em ovinos infectados com FTC também têm demonstrado que alguns fatores liberados no decurso do período de bacteremia podem causar diminuição na migração de leucócitos e reduzida resposta proliferativa de linfócitos (WOLDEHIWET & SCOTT, 1982b; WOLDEHIWET, 1987b; GOKCE et al, 1999). 2.3.5 IMUNIDADE ADQUIRIDA Os animais infectados podem permanecer como portadores por meses, ou mesmo anos após se recuperarem de uma infecção (WOLDEHIWET, 2006). As primeiras observações com ovinos e bovinos infectados por variantes FTC demonstraram que após a remoção do carrapato de pastagens infestadas e reintrodução de alguns meses mais tarde, alguns animais desenvolveram reação febril e bacteremia, enquanto outros permaneceram imunes (HUDSON, 1950; FOGGIE, 1951). Estudos experimentais têm também demonstrado que a infecção primária é seguida por um grau variável de resistência (FOGGIE, 1951; WOLDEHIWET E SCOTT, 1982a). Alguns animais resistiram à reinfecção por 43 apenas alguns meses, mas outros foram protegidos contra bacteremia após o desafio com a mesma variante por mais de um ano (FOGGIE, 1951; WOLDEHIWET & SCOTT, 1993). A resistência foi influenciada pela variante, a idade e o tipo de hospedeiro, o período de tempo entre a infecção primária e desafio e a frequência da exposição à infecção (FOGGIE, 1951; WOLDEHIWET E SCOTT, 1982a). Apesar de ovinos e bovinos previamente expostos a uma variante FTC terem apresentado febre e bacteremia após a exposição a uma segunda variante de FTC, a duração da febre e a magnitude bacteremia foram significativamente mais baixas do que as observadas em animais nunca antes expostos ao agente (WOLDEHIWET & SCOTT, 1982b), sugerindo que as diferentes variantes compartilham alguns antígenos comuns. Em um estudo experimental com anticorpos, IgG e IgM específicos foram detectados em ovelhas dentro de duas semanas após a infecção com uma variante FTC, IgM sendo predominante durante as primeiras três semanas e depois IgG (WOLDEHIWET & SCOTT, 1982). No entanto, o mesmo estudo demonstrou que a classe de anticorpos IgM continuou a ser detectada no soro de animais persistentemente infectados. Ovelhas que tenham se recuperado de uma infecção por A. phagocytophilum podem continuar a abrigar o organismo por várias semanas ou mesmo anos. O sangue de um animal foi demonstrado infectante para ovelhas nunca antes expostas ao agente durante 25 meses (FOGGIE, 1951). Ovelhas persistentemente infectadas não desenvolvem sinais clínicos, mas podem desenvolver bacteremia após esplenectomia e podem servir de fonte potencial para infecção em ovelhas que não tiveram contato com o agente. (FOGGIE, 1951; WOLDEHIWET & SCOTT, 1993). Infecções persistentes com variantes de AGH também têm sido relatadas em condições naturais, em ratos (TELFORD et al, 1996, CASTRO et al, 2001). Entretanto, um estudo indicou que em cavalos infectados o estado de portador com variantes AGE é incomum (NYINDO et al ., 1978). Há muito poucos estudos para investigar infecções persistentes de AGH em humanos. 2.3.6 DIVERSIDADE ANTIGÊNICA Os primeiros estudos utilizando variantes de FTC de ovelhas e bovinos sugeriram uma alta diversidade antigênica entre diferentes isolados de A. phagocytophilum (FOGGIE de 1951). Animais sensibilizados não resistiram a 44 desafios sequenciais com várias variantes heterólogas, cada um causando uma reação . A infecção com um isolado bovino não conferia proteção contra um desafio com isolado de ovinos (FOGGIE E ALLISON, 1960). Entretanto, alterações sequenciais em algumas das principais proteínas de superfície de Anaplasma spp. durante suas recorrentes bacteremias (FRENCH et al, 1999;.. ZHI et al, 1999), geraram dúvida se a grande variabilidade observada inicialmente em ruminantes infectados por FTC eram um reflexo verdadeiro de uma diversidade de variantes. Embora significativo progresso tenha sido alcançado, os mecanismos de variação antigênica dentro das mesmas variantes e em diferentes linhagens, parecem ser complexos. Aparentemente, a alta variação antigênica observada esta relacionada à expressão variável de genes parálogos que codificam a principal proteína de membrana externa da bactéria (ZHI et al., 1999). A diferenciação das variantes de FTC, AGH ou outras variantes de A. phagocytophilum requer a sequenciamento de fragmentos amplificados do gene 16S de RNAr, em que as variantes de FTC diferem das variantes AGE / AGH em três posições (CHEN et al., 1994). Cinco variantes foram detectadas em um rebanho norueguês de ovelhas infectadas por FTC (STUEN et al., 2002). Outra diferença entre a sequências de diferentes isolados foi relatada a partir da análise do operon groESL de choque térmico (POLIN et al., 2004). As variantes que infectam os ruminantes na Europa podem ser diferenciadas de variantes que infectam cães, cavalos e seres humanos por sequenciamento msp4, um dos genes que codificam as principais proteínas de superfície (DE LA FUENTE et al., 2005b). 2.3.7 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA Quase metade da população de ovinos (> 30 milhões) no Reino Unido vive em áreas montanhosas, muitas vezes infestadas por carrapatos, estima-se que aproximadamente 300.000 cordeiros desenvolveram “Tick pyaemia” secundário a FTC (BRODIE et al., 1986 ). A maioria dos cordeiros que desenvolvem a complicação morrem, ou não são de nenhum valor econômico. De acordo com um estudo na França, vacas infectadas podem sofrer parada total na produção de leite durante a fase aguda da infecção (JONCOUR et al., 2000). A perda econômica para os produtores de leite devido à FTC não tem sido investigada, mas é provável que seja considerável e estão relacionadas a abortos, diminuição na produção de leite e 45 morte por infecções secundárias. Portanto, há justificativa econômica e de bem-estar para o diagnóstico e controle da FTC e febre do pasto em ruminantes. 2.3.8 INFECÇÕES EM HUMANOS Até o presente momento cinco espécies da família Anaplasmataceae foram descritas infectando humanos: Ehrlichia chaffeensis, Ehrlichia ewingii, Ehrlichia canis, Anaplasma phagocytophilum e Neorickettsia sennetsu (DUMLER, 2005). O número de casos de Erliquiose Monocítica Humana (EMH), causada por E. chaffeensis, e de Anaplasmose Granulocítica Humana (AGH), causada por A. phagocytophilium, nos EUA cresceu 32% entre os períodos 1999/00 e 2001/02 (DEMMA et al., 2006). Desde 1986, pelo menos 1.979 casos de EMH, 2.189 de AGH e 153 casos de Erliquiose “inespecífica” foram notificados ao CDC (Centers for Disease Control and Prevention) nos EUA. Estes dados colocam AGH e EMH, respectivamente, como a terceira e a quarta doenças transmitidas por carrapatos mais comuns nos EUA, atrás apenas da Doença de Lyme e da Febre Maculosa das Montanhas Rochosas (DUMLER, 2005). A AGH ocorre atualmente em ao menos 14 países europeus (BLANCO & OTEO, 2002; STRLE, 2004). Estudos também mostram a presença de E. chaffeensis e A. phagocytophilum na Coréia do Sul (HEO et al., 2002). Na América da Sul, há relato de infecção humana por E. canis na Venezuela, com pacientes apresentando sintomatologia clínica (PEREZ et al., 2006). No Brasil já foram relatados casos suspeitos de EMH em Minas Gerais, onde se observou títulos de anticorpos para E. chaffeensis em dois pacientes com sintomatologia clínica. Não houve identificação molecular do agente em nenhum dos casos (CALIC et al., 2005). Variantes de A. phagocytophilum que causam AGH em humanos na Europa são geneticamente diferentes das variantes de FTC que afetam ruminantes. As tentativas de reproduzir doença clínica e bacteremia em gado com variantes AGH ou AGE não foram bem sucedidas (PUSTERLA et al., 2001). Contudo, um estudo recente mostrou que a variante de AGH norte americana (variante Ap-1), que não está associada com a doença humana e não infecta ratos, pode infectar cervídeos e caprinos (MASSUNG et al., 2006). 46 É difícil se estabelecer a duração e magnitude da bacteremia em pacientes humanos infectados com variantes HGA porque exame laboratorial é raramente realizado durante as fases iniciais da infecção. No entanto, os poucos dados publicados parecem indicar que as taxas de infecção de granulócitos humanos são inferiores as observadas em cavalos infectados com variantes AGE e ruminantes infectados com variantes FTC. Em um estudo (AGUERO-ROSENFELD et al., 1996) apenas três dos 12 (25%) pacientes com sinais clínicos de AGH tiveram mórulas detectáveis em neutrófilos e eosinófilos. A proporção de granulócitos infectados foi muito baixa, variando entre 0,3% e 6%. Reações febris são também os principais sinais de infecção por AGH, mas a duração da febre durante a infecção primária não esta claramente definida porque os pacientes são geralmente tratados com doxiciclina precocemente. No entanto, um estudo esloveno, onde 26 de 30 pacientes que não foram tratados com antibióticos demonstrou que o período febril teve uma duração média de sete dias (LOTRIČ-FURLAN et al., 2001). Nos seres humanos infectados com variantes AGH os principais efeitos hematológicos também são leucopenia e trombocitopenia (BAKKEN & DUMLER, 2000). Embora o número de pacientes investigados seja pequeno, há também provas suficientes de imunossupressão em humanos infectados com variantes de AGH (LEPIDI et al., 2000). Esta conclusão é baseada no número de mortes por infecções secundárias documentadas e falhas de órgãos em casos confirmados (AGUERO-ROSENFELD et al, 1996). A maioria das mortes após AGH não poderia ser diretamente atribuída à infecção em si, mas aos achados patológicos envolvidos com inabilidade de defesa do hospedeiro e presença de infecções secundárias (DUMLER, 1997). Assim, o diagnóstico de AGH pode ser facilmente mascarado por infecções secundárias ou confundido com outras causas de síndromes gripais ou pirexia de origem desconhecida. O diagnóstico laboratorial é semelhante ao usado em ovinos e bovinos infectados com variantes de FTC, incluindo a detecção de inclusões citoplasmáticas em granulócitos, o isolamento de células HL-60, a detecção de ácidos nucleicos específicos por PCR e determinação de títulos de anticorpos (AGUEROROSENFELD, 2002). 2.4 Neorickettsia risticii 47 Neorickettsia risticii é o agente causador da Febre do Potomac em equinos, doença caracterizada por febre, leucopenia, apatia, anorexia, desidratação, diarréia aquosa, laminite e/ou abortamento (RIKIHISA & PERRY, 1985). A mortalidade da doença varia entre 5 e 30%(RIKIHISA, 1991). A doença foi observada pela primeira vez em 1979, porém somente em 1984 foi detectada a presença do agente nas células intestinais de cavalos infectados (RIKIHISA et al., 1984). A infecção é observada principalmente nos meses mais quentes, em especial de junho a setembro no hemisfério norte. Atualmente este agente é observado com frequência nos EUA e no Canadá (PALMER et al., 1986; MCLAUGHLIN et al., 1996; HELLER et al., 2004). Na América do Sul o agente já foi descrito no Brasil e no Uruguai (DUTRA et al., 2001). Assim como nos Estados Unidos, a enfermidade demonstra tendência sazonal e endêmica, com a ocorrência da maioria dos casos nos meses mais quentes do ano e em regiões alagadiças no Rio Grande do Sul e no Uruguai (GOETZ et al., 1989; DUTRA et al., 2001). Neorickettsia risticii apresenta uma grande semelhança genética com organismos como Neorickettsia sennetsu e Neorickettsia helminthoeca (LIN et al., 2009), ambos transmitidos por via oral, indicando que este mesmo padrão de transmissão se aplique a N. risticii (BARLOUGH et al. 1998; PUSTERLA et al. 2000). No ambiente natural, Neorickettsia spp. são encontradas no interior de trematódeos que usam caramujos e insetos aquáticos como hospedeiros intermediários e morcegos e pássaros insetívoros como hospedeiros definitivos, podendo ser transmitidas tanto de forma de transestadial como transovariana, sem que ocorra prejuízo aparente ao trematódeo hospedeiro (GIBSON et al., 2005). Após a ingestão cercárias de trematódeos infectadas N. risticii é transmitida de forma horizontal para os animais se reproduzindo no interior de monócitos, macrófagos, mastócitos e células do epitélio intestinal (MOTT et al., 1997). Observa-se uma depleção do número de células caliciformes e perda das microvilosidades das células do epitélio intestinal. A patogênese da diarréia aquosa está relacionada a uma redução do transporte de eletrólitos, principalmente Na+ e Cl, com consequente prejuízo da reabsorção de água (RIKIHISA, 1991). Dentre as alterações patológicas mais consistentemente encontrada podemos citar a presença de conteúdo fluído no cólon maior e ceco, e a presença de áreas hiperêmicas de extensão e distribuição variáveis ao longo da mucosa intestinal. O conteúdo presente no intestino Delgado varia de consistência mucosa a aquosa (Cordes et al. 48 1986). As alterações microscópicas revelam uma enterocolite linfohistiocitária, caracterizada por congestão, necrose epitelial superficial e infiltrado inflamatório mononuclear na lâmina própria e submucosa do ceco e cólon maior (Dutra et al. 2001). Acredita-se que diferentes espécies de caramujos estejam envolvidas na transmissão de N. risticii. No norte da Califórnia, caramujos das espécies Juga yrekaensis, Planorbella subcrenata e do gênero Stagnicola são apontados como possíveis vetores de trematódeos portadores de N. risticii. Além disso, o DNA da riquétsia já foi detectado em cercárias encontradas em caramujos Elimia livescens no Estado de Ohio e Elimia virginica na Pensilvânia, EUA (BARLOUGH et al. 1998; KANTER et al., 2000; PUSTERLA et al., 2013). No Brasil a presença de trematódeos infectados foi observada em caramujos do gênero Heleobia, das espécies H. piscium, H. parchappei e H. davisi (COIMBRA et al., 2005). Perry et al., em 1989 avaliaram o papel de outras espécies de animais, além dos equinos, na epidemiologia da doença, observando a presença de cães, gatos, suínos e caprinos com sorologia positiva para N. risticii em regiões nas quais o agente é endêmico. A susceptibilidade de bovinos à infecção por N. risticii foi testada através da infecção experimental de dois animais. Foi possível a detecção do DNA do agente no sangue, entre os dias 9 e 12 pós-inoculação, e nas fezes entre os dias 13 e 18. Nenhum dos animais apresentou sinais clínicos de doença (PUSTERLA et al.,2001). Estes dados indicam que ruminantes, dentre outros animais, podem ser susceptíveis a infecção por N. risticii, podendo ter um papel na epidemiologia desta riquétsia. 2.5 Anaplasma ovis Anaplasma ovis é classicamente considerado o agente da anaplasmose em ovinos e caprinos (KOCAN et al., 2010), porém estudos demonstram que cervídeos (DE LA FUENTE et al, 2008) e bovinos (HORNOK et al., 2010; HORNOK et al., 2012) também podem ser infectados. A ocorrência de A. ovis, tem sido relatada em vários países da Europa como Hungria (HORNOK et al., 2007) Italia (DE LA FUENTE et al., 2005), Turquia (SAYIN et al., 1997), Grécia (PAPADOPOULOS, 1999), Romênia e Bulgaria (CHRISTOVA et 49 al., 2003), África, Estados Unidos (NDUNG’U et al., 1995) e Ásia (LIU et al., 2005). No entanto, nos países da América do Sul, dentre os quais o Brasil, os estudos acerca da ocorrência de anaplasmose em pequenos ruminantes são escassos. No semiárido de Pernambuco foram observadas frequências de anticorpos para Anaplasma sp. em 11,93% e 16,17% dos caprinos e ovinos testados, respectivamente (RAMOS et al.,2008). Carrapatos do gênero Dermacentor são apontados como o vetor de A. ovis no oeste dos EUA. Na Europa, carrapatos da espécie Rhipicephalus bursa são apontados como os principais vetores (DE LA FUENTE et al., 2007). Já foi detectada a presença do DNA de A. ovis em moscas da família Hippoboscidae, das espécies Melophagus ovinus e Lipoptena cervi, que infectam respectivamente ovinos e cervídeos (HORNOK et al.,2011). A infecção por A. ovis é geralmente subclínica, com febre discreta e poucos prejuízos econômicos perceptíveis (STUEN, 2013). Anemia hemolítica é o principal achado nos casos em que há o agravamento da doença. A associação entre a infecção por A. ovis e a ocorrência de abortamentos foi relatada por Barry e Van Niekerk (1990) em caprinos na África do Sul. Os achados indicavam a transmissão transplacentária do agente, levando a morte do feto por anemia hemolítica. Em ovelhas experimentalmente infectadas a parasitemia foi detectada no terceiro dia pós infecção, atingindo níveis máximos no 12º dia. Os valores do hematócrito, hematimetria e hemoglobinometria sofreram diminuição enquanto o volume globular médio aumentou significativamente durante o curso da infecção. Aumento do número de Reticulócitos e presença de ponteado basofílico também foram observados. Não foram encontradas alterações no leucograma e nenhum dos animais apresentou febre. A anemia observada foi classificada como sendo macrocítica e normocrômica, com características regenerativas, compatível com quadro hemolítico (YASINI et al., 2012). Chochlakis et al.,(2010) relatam um caso de infecção por A. ovis em ser humano, no Chipre. Uma mulher de 27 anos apresentou um quadro de febre persistente (11 dias) e não responsiva ao tratamento após uma picada de carrapato. Ao ser internada em um hospital ela apresentava hepatoesplenomegalia e linfonodos aumentados. As alterações laboratoriais observadas foram Anemia moderada, trombocitopenia, aumento das atividades séricas de AST, ALT, GGT e LDH, aumento nos níveis de Proteína C Reativa e aumento da Velocidade de 50 Hemossedimentação. O diagnóstico foi obtido através da detecção por PCR do agente em amostras de sangue da paciente. 51 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 DETECÇÃO MOLECULAR DE ORGANISMOS DA FAMÍLIA Anaplasmataceae EM BOVINOS E OVINOS NO MUNICÍPIO DE CACHOEIRAS DE MACACU 3.1.1 ANIMAIS Foram coletadas amostras de bovinos e ovinos provenientes da Fazenda Escola da Faculdade de Veterinária – UFF localizada no município de Cachoeiras de Macacu – RJ. As amostras de 94 bovinos da Raça Girolando foram submetidas a testes para a detecção de A.phagocytophilum, N. risticii e A. marginale. As amostras de 59 bovinos da raça Santa Inês foram submetidas a testes para a detecção de A.phagocytophilum, N. risticii, A. marginale e A. ovis. 3.1.2 CACHOEIRAS DE MACACU O município de Cachoeiras de Macacu (Figura 1), localizado no estado do Rio de Janeiro, Brasil, encontra-se a uma latitude 22º27'45"sul e a uma longitude 42º39'11" oeste, estando a sede do município a uma altitude entre cinquenta e 57 metros. De acordo com o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município possui população de 54.273 habitantes, área territorial de 953,801 Km2. 52 Figura 1: Mapa da localização geográfica do município de Cachoeiras de Macacu (em vermelho) no estado do Rio de Janeiro. 3.1.3 COLETA DAS AMOSTRAS Foram coletadas amostras de sangue sangue periférico, da veia mamária nos bovinos b e da jugular nos ovinos, e confeccionados esfregaços sanguíneos de todos os animais de ambos os plantéis. As amostras de sangue foram acondicionadas em tubos contendo anticoagulante (EDTA) e tubos sem anticoagulante, que foram refrigerados (4ºC) em caixa térmica contendo gelo. As amostras foram encaminhadas ao Laboratório Clínico Veterinário do Hospital Veterinário Firmino Mársico Filho, da UFF, para realização de hemograma, hemograma pesquisa de hemoparasitas e dosagens bioquímicas. 53 3.1.4. HEMOGRAMAS E PESQUISA DE HEMOPARASITAS Os hemogramas foram realizados no Laboratório Clínico Veterinário da Faculdade de Veterinária da UFF, em um contador automático de células veterinário, POSCH-100i (Sysmex®), que determina análises quantitativas do eritrograma (hematócrito, hematimetria e hemoglobinometria), além de calcular os índices hematimétricos (VGM e CHGM) e determinar o valor quantitativo de leucócitos totais e plaquetas. Para a realização de leucometria específica, hematoscopia e diagnóstico morfológico de hemoparasitas, esfregaços sanguíneos foram corados por Giemsa (MERK®) e visualizados em microscópio óptico em objetiva de imersão. As proteínas plasmáticas totais e o fibrinogênio foram determinados por refratometria. O intervalo de referência utilizado na avaliação dos hemogramas se encontra no Quadro 1. Quadro 1: Intervalo de referência para parâmetros hematológicos de bovinos e ovinos. HEMOGRAMA - Intervalo de Referência* Hematimetria (x106/µ µL) Hemoglobina (g/dL) Volume Globular (%) VGM (fL) CHGM (%) Leucometria Global (/µ µL) Basófilos (/µ µL) Eosinófilos (/µ µL) Mielócitos (/µ µL) Metamielócitos (/µ µL) Bastonetes (/µ µL) Neutrófilos Segmentados (/µ µL) Linfócitos (/µ µL) Monócitos (/µ µL) Bovinos Ovinos 5,0 – 10,0 8,0 15,0 24 – 46 40 – 60 30 – 36 4.000 – 12.000 0 – 120 0 – 2400 0 0 0 – 200 600 – 4000 2500 – 7500 25 – 840 8,0 – 16,0 8,0 – 16,0 24 – 50 23 – 48 31 – 38 4.000 – 12.000 Raros 0 – 1000 0 0 0 – 300 700 – 6000 2000 – 9000 0 – 750 *JAIN, 1993 As amostras de sangue total foram congeladas em freezer -20ºC e transportadas sob refrigeração (4ºC) para o Laboratório de Hemoparasitos e vetores da UFRRJ, para posterior extração do DNA e realização da PCR. 3.1.5 BIOQUÍMICA SÉRICA 54 As dosagens bioquímicas foram realizadas no Laboratório Clínico Veterinário da Faculdade de Veterinária da UFF, em um analisador semiautomático BIO-2000 (Bioplus®). Os parâmetros analisados foram: ALT, AST, fosfatase alcalina, ureia e creatinina. Os intervalos de referência utilizados se encontram no Quadro 2. Quadro 2: Intervalo de referência para parâmetros bioquímicos de bovinos e ovinos PERFIL BIOQUÍMICO - Intervalos de Referência* ALT(U/L) AST(U/L) Fosfatase Alcalina (U/L) Uréia (mg/dL) Creatinina sérica(mg/dL) Bovinos 14,0 – 38,0 20,0 – 34,0 0,0 - 488,0 20,0 – 30,0 1,0 – 2,0 Ovinos 34,0 – 42,0 68,0 – 90,0 68,0 – 387,0 8,0 – 20,0 1,2 – 1,9 *KANEKO, 1998 3.1.6 EXTRAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DO DNA GENÔMICO O DNA das amostras dos grupos I, II E III foi extraído no Laboratório de Hemoparasitos e Vetores do Departamento de Parasitologia Animal da UFRRJ, a partir de 200 µL de sangue total utilizando-se o PureLink® Genomic DNA Mini Kit (Invitrogen™) de acordo com as instruções do fabricante. O DNA de extraído foi quantificado individualmente em espectrofotômetro NanoDrop 2000c (Thermo Scientific), obtendo-se a concentração de DNA em nanogramas por microlitro (ng/µL). Posteriormente, preparou-se uma solução de uso de DNA, com quantidade padronizada de 60ng/µL em todas as amostras com concentração superior a este valor, diluindo-se o DNA no tampão de eluição proveniente do kit de extração PureLink® Genomic DNA Mini Kit (Invitrogen™). As amostras de DNA com concentração padronizada foram estocadas a -20ºC até o momento de sua utilização para a PCR. 3.1.7 PCR EM TEMPO REAL 3.1.7.1 PROTOCOLO I ( ANAPLASMA PHAGOCYTOPHILUM) 55 As amostras dos grupos I e II foram testadas para a presença de um fragmento amplificado de 122 pares de bases do gene msp2 de A. phagocytophilum. A PCR em tempo real foi realizada por meio do sistema de detecção Taqman, sendo utilizada a sonda 939p-TTAAGGACAACATGCTTGTAGCTATGGAAGCGC marcada com fluorescência na extremidade 5' com o "reporter dye" 6-FAM e na extremidade 3' com o "quencher" TAMRA. Os iniciadores utilizados foram o 903f "forward" e o 1024r "reverse"(Quadro 3) (DRAZENOVICH et al., 2006). Para reação com volume final de 12µL foram utilizados 6µL taqman universal PCR master mix (1X) (Applied Biosystems, Foster City -CA, USA), 3 microlitros de DNA alvo, 200 nM de cada iniciador e 100nM da sonda. As condições de reação foram as seguintes: 50ºC durante 2 minutos, 95º C durante 10 minutos, e 40 ciclos a 95ºC durante 15 segundos, seguido por 60ºC durante 1 minuto no equipamento StepOnePlus (Applied Biosystems, Foster City-CA, USA). Foram consideradas positivas somente as amostras com Ct ("cycle threshold") menor ou igual a 40. Quadro 3: Iniciadores utilizados na amplificação de um fragmento de 122 pares de bases do gene msp2 de A. phagocytophilum. Iniciadores Sequências (5’ – 3’) 903f 1024r AGTTTGACTGGAACACACCTGATC CTCGTAACCAATCTCAAGCTCAAC 3.1.7.2 PROTOCOLO II (NEORICKETTSIA RISTICII) A PCR em tempo real foi realizada por meio do sistema de detecção Taqman e a sonda utilizada foi a ER77p:ACGCACCCGTCTGCCACGGGA marcada com fluorescência na extremidade 5' com o "reporter dye" 6-FAM e na extremidade 3' com o "quencher" TAMRA. Os iniciadores utilizados foram o ER 133f "forward" e o ER 54 "reverse" (Quadro 4). Proporcionando um fragmento amplificado de 85 pares de bases do gene 16S rRNA (PUSTERLA et al., 2000) 56 Para reação com volume final de 12µL foram utilizados 6µL taqman universal PCR master mix (1X) (Applied Biosystems, Foster City -CA, USA), 400 nM de cada iniciador, 100 nM da sonda e 3µL de DNA alvo. As condições de reação são: uma etapa inicial de 50º C por 2 minutos, 10 minutos de desnaturação inicial, 45 ciclos de 95ºC por 15 segundos e 60ºC por 60 segundos. Foram consideradas positivas somente as amostras com Ct ("cycle threshold") menor ou igual a 40. Quadro 4: Iniciadores utilizados na amplificação de fragmento de 85 pares de bases do gene 16S rRNA de Neorickettsia risticii Iniciadores Sequências (5’ – 3’) GTTATTCCCTACTACCAGGCAAGTTC AACGGAATCAGGGCTGCTT ER133f ER54r 3.1.8 PCR 3.1.8.1 REAÇÕES DE PCR PARA ANAPLASMA MARGINALE Para a detecção de A. marginale o protocolo de detecção utilizou os iniciadores internal forward e external reverse (Quadro 5), que amplificam um fragmento de 345pb do gene msp5 (TORIONI DE ECHAIDE et al., 1998). As reações foram preparadas para um volume final de 25µL com 22,5µL deMasterMix contendo 22U/mL Taq DNA polimerase, 22mM Tris-HCl (pH 8.4), 55mM KCl, 1.65mM MgCl2, 220µM dNTPs, 0,2µM de cada iniciador e 2µL de DNA alvo. Quadro 5: Iniciadores utilizados na amplificação de fragmento de 345 pares de base do gene msp5 de Anaplasma marginale Iniciadores Sequências (5’ – 3’) Internal foward External reverse TACACGTGCCCTACCGACTTA TCCTCGCCTTGCCCCTCAGA As condições de reação foram: aquecimento a 95°C por 3 minutos, seguido de 35 ciclos de 95°C por 30s, 65°C por 58s e 72°C por 30s com uma extensão final a 72°C durante 10 minutos. 3.1.8.2 REAÇÕES DE PCR PARA ANAPLASMA OVIS 57 Para a detecção de A. ovis o protocolo de detecção utilizou os iniciadores AovisMSP4Fw e AovisMSP4Rev (Quadro 6), que amplificam um fragmento de 346pb do gene msp4 de A. ovis (TORINA et al., 2012). As reações foram preparadas para um volume final de 50µL com 1,25U de Taq DNA polimerase, 22mM Tris-HCl (pH 8.4), 55mM KCl, 1.5 mM MgCl2, 0.2 mM de cada dNTP, 0,4µM de cada iniciador e 2µL de DNA alvo. Quadro 6: Iniciadores utilizados na amplificação de fragmento de 346 pares de base do gene msp4 de Anaplasma ovis Iniciadores Sequências (5’ – 3’) AovisMSP4Fw AovisMSP4Rev TGAAGGGAGCGGGGTCATGGG GAGTAATTGCAGCCAGGGACTCT As condições de reação foram: aquecimento a 95°C por 10 s, seguido de 30 ciclos de 94°C por 30s, 62°C por 15s e 72°C por 30s com uma extensão final a 72°C durante 5 minutos. 3.1.8.3 REAÇÕES DE PCR PARA FAMILIA ANAPLASMATACEAE Para a detecção de organismos da família Anaplasmataceae o protocolo de detecção utilizou os iniciadores ge3a e ge10r (Quadro 7), que amplificam um fragmento de 932pb do gene 16S rRNA (MASSUNG et al., 1998). As reações foram preparadas para um volume final de 50µL com 200 µM de cada dNTP, 1,25U de Taq DNA polimerase, 22mM Tris-HCl (pH 8.4), 55mM KCl, 1.65mM MgCl2, 220µM dNTPs, 0,5µM de cada iniciador e 2µL de DNA alvo. Quadro 7: Iniciadores utilizados na amplificação de fragmento de 932 pares de base do gene 16S rRNA de Anaplasma sp. Iniciadores Sequências (5’ – 3’) CACATGCAAGTCGAACGGATTATTC TTCCGTTAAGAAGGATCTAATCTCC ge3a ge10r As condições de reação foram: aquecimento a 95°C por 2 minutos, seguido de 40 ciclos de 94°C por 30s, 55°C por 30s e 72°C por 1 minuto com uma extensão final a 72°C durante 5 minutos. 58 A reação nested utilizou os iniciadores ge3a e ge10r (Quadro 8), que amplificam um fragmento de 546pb do gene 16S rRNA (MASSUNG et al., 1998). As reações foram preparadas para um volume final de 50µL com 200 µM de cada dNTP, 1,25U de Taq DNA polimerase, 22mM Tris-HCl (pH 8.4), 55mM KCl, 1.65mM MgCl2, 220µM dNTPs, 0,5µM de cada iniciador e 1µL do amplicom da reação anterior.. Quadro 8: Iniciadores utilizados na amplificação de fragmento de 546 pares de base do gene 16S rRNA de Anaplasma sp. Iniciadores Sequências (5’ – 3’) AACGGATTATTCTTTATAGCTTGCT GGCAGTATTAAAAGCAGCTCCAGG ge9f ge2 As condições de reação foram: aquecimento a 95°C por 2 minutos, seguido de 30 ciclos de 94°C por 30s, 55°C por 30s e 72°C por 1 minuto com uma extensão final a 72°C durante 5 minutos. 3.1.9 CLONAGEM E SEQUENCIAMENTO As amostras positivas na PCR em tempo real para A. phagocytophilum foram submetidas novamente a amplificação de 122pb do gene msp2 através de uma touchdown PCR. As reações de PCR foram realizadas em volume final de 50µL contendo: 5,0µL do tampão da PCR (10mM Tris-Cl (pH=8,3), 50mM KCl) (Invitrogen®), 3,0mM (MgCl2 -50 mM, Invitrogen®), 0,2 mM de cada nucleotídeo (dATP, dGTP, dTTP e dCTP-100mM) (Invitrogen®), 0,2µM dos primers 903f e 1024r (DRAZENOVICH et al. 2006), 0,05% de Tween 20 10%, 5,0% de Glicerol 87%, 1,5U de Platinum Taq DNA Polimerase (Invitrogen®) e 5,0 µL da amostra de DNA (aproximadamente 150ng de DNA total). O programa de amplificação constituiu de um passo de desnaturação inicial a 95 ºC por 5 min, 10 ciclos com temperatura de desnaturação de 95 ºC por 30s, temperatura de anelamento começando em 65 ºC com decréscimo de 0,5 ºC a cada ciclo e terminando em 60 ºC por 20s em cada ciclo, temperatura de extensão de 72 ºC por 20s, seguido de 35 ciclos com temperatura de desnaturação de 95 ºC, anelamento a 60 ºC por 20s, extensão a 72 ºC por 20s e extensão final a 72 ºC por 2 min. 59 Os produtos da PCR foram purificados, em seguida clonados e sequenciados (SANGER et al., 1977). A clonagem foi realizada em vetor pGEM-T® Easy Vector System (Promega, Madison, WI, USA), de acordo com as recomendações do fabricante. O DNA plasmidial dos clones positivos foram isolados pelo kit PureYieldTM Plasmid Miniprep System (Invitrogen, Carlsband, CA, USA.) seguindo as recomendações do fabricante e em seguida foram enviados para o sequenciamento no Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP) (ABI 3730 DNA Analyser – Applied Biosystems/Perkin Elmer, CA, USA). A identidade do fragmento de 122pb do gene msp2 de A. phagocytophilum sequenciado no presente estudo foi analisada através do alinhamento múltiplo utilizando a ferramenta Basic Local Alignment Search Tool (BLAST). 3.2 CARACTERIZAÇÃO GENOTÍPICA DE GENES CODIFICANTES PARA PROTEÍNAS DE MEMBRANA DE Anaplasma marginale DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. 3.2.1 MESORREGIÕES E MUNICIPIOS ESTUDADOS Foram selecionadas amostras positiva para A. marginale, provenientes de bovinos, de cinco municípios do estado do Rio de Janeiro: Cachoeiras de Macacu, Seropédica, Macuco, Campos dos Goytacazes e Bom Jesus do Itabapoana. Macuco está localizado a uma latitude 21º59’02” sul e a uma longitude 42º15'10" oeste, estando a uma altitude de 266 metros. Seropédica se encontra a uma latitude 22° 44' 38" S e longitude 43° 42' 28" O. Bom Jesus do Itabapoana, estando localizado em latitude de 21° 08' 02" S e longitude de 41° 40' 48" O. Campos dos Goytacazes situa-se 21° 45' 14" S de latitude e 41° 19' 26" O de longitude. Estes municípios representam quatro das seis mesorregiões do Estado do Rio de Janeiro, sendo elas: Mesorregião Metropolitana (Cachoeiras de Macacu e Seropédica), Mesorregião do Centro Fluminense (Macuco), Mesorregião do Noroeste Fluminense (Bom Jesus do Itabapoana) e Mesorregião do Norte Fluminense (Campos dos Goytacazes). As mesorregiões e os municípios estudados estão representados nas Figuras 2 e 3, respectivamente. 60 Figura 2: Mapa das mesorregiões do estado do Rio de Janeiro. Figura 3: Mapa dos municípios utilizados no presente estudo. 61 3.2.2 SELEÇÃO DAS AMOSTRAS A amostra representante de Cachoeiras de Macacu foi selecionada dentre as positivas do presente estudo. As amostras de Macuco e Bom Jesus do Itabapoana foram selecionadas a partir da detecção por PCR do agente em amostras de sangue bovino provenientes dos referidos municípios. A amostra de Campos dos Goytacazes foi selecionada a partir de amostras positivas em esfregaços sanguíneos. A amostra de Seropédica é a amostra controle positiva utilizada nas reações para detecção para detecção de A. marginale no Laboratório de Hemoparasitos e Vetores do Departamento de Parasitologia Animal da UFRRJ. Todas as amostras foram submetidas a PCR para confirmação do diagnóstico de infecção por A. marginale (protocolo descrito no ítem 3.1.8.1), sendo então selecionadas dentre as positivas uma representante de cada município. O sangue das amostras escolhidas foi congelado em freezer -20ºC até posterior extração do DNA, realização da PCR e sequenciamento. 3.2.3 PCR PARA GENES Anaplasma marginale CODIFICANTES DE PROTEÍNAS DE MEMBRANA EXTERNA DE As amostras foram submetidas a PCR para os seguintes genes codificantes de proteínas de A. marginale: Omp 1, Omp 4,Omp 5, Omp 7, Am 097, Am 254, Am 956, e SodB. Para amplificação dos genes de selecionadas foram realizadas PCR utilizando os iniciadores listados no Quadro 9. Estes oligonucleotídeos foram desenhados com base na sequencia do genoma do isolado Saint Maries de A. marginale, disponível no Genbank, para amplificar genes completos por Ramos et al., 2007. Quadro 9: Iniciadores utilizados na amplificação de genes de codificantes de proteínas de membrana externa de Anaplasma marginale Iniciadores Omp 1 f Sequências (5’ – 3’) Produto (pb) AAGGTCTACGGCTTGGTTTACGCTGCGTTGTCTTT 977 Omp 1 r AGTCTGATACCGCACTCAAACCCAAAATAGTCCAG 62 Omp 4 f CAGCATATCATTGAATACAGGAGGAAGTCGCTTAT 1128 Omp 4 r GTGGCTAGCCGCTTTGGAGATGTTACCAG Omp 5 f CTGGTGGTGGAGAGTTTGCCTATG 1112 Omp 5 r AACTCGAGCTTCAGCCCCAGATTG Omp 7 f TCTTTTCTGTTGGGTGCGGTTGTA 1121 Omp 7 r CGCGCCTTGACATCTTCCTC Am 097 f ATGAAAAAGGCTTTCATGGTTT 813 Am 097 r CTACCCACGTCCCCTTCTG Am 254 f ATGACAGAAGGGAGAAAGCC 1182 Am 254 r CTACTCCAAAATCTCAGTTATGATAC Am 956 f ATGTGCTATGGTACTCGCATC 1605 Am 956 r TCACTTTTCGTAATACTTCGACACA Opag 3 f TGTGGGTTGCACACACTACC 936 Opag 3 r CTAAAAACCATCACCAAATGC SodB f TCACACACCCGCGGTTTCAAGCCT 664 SodB r TCCGCTGCGCAGTTGGTATACAT A reação foi preparada para volume final de 25µL contendo 5 µL de tampão (1x), 1,5 mM MgCl2 , 0,25mM de cada dNTP, 0,5 µM de cada oligonucleotídeo iniciador, 1,5 U de Taq DNA polimerase e aproximadamente 100 ng de DNA genômico. Foi preparada uma reação para cada gene nas seguintes condições: 94oC por 4 minutos seguido de 35 ciclos de desnaturação a 94oC por 1 minuto, anelamento a 55oC por 1 minuto, e extensão a 72oC também por 1 minuto, seguida de uma etapa de extensão final a 72oC por 4 min. 63 3.2.4 VISUALIZAÇÃO DOS PRODUTOS DE AMPLIFICAÇÃO Para a vizualização dos resultados, os produtos da PCR foram adicionados a uma solução contendo azul de bromofenol e glicerol e colocados em gel de agarose à 1,0%, sendo submetidos à eletroforese por 60 minutos a 90 volts. O tampão de corrida era composto de solução de Tris-Acetato-EDTA (TAE 1x). O gel foi corado em solução de brometo de etídeo 0,01% (Invitrogen, Carlsbad, EUA) e posterior visualização em sistema de foto-documentação UV. Para determinação dos tamanhos dos produtos amplificados foi utilizado o marcador de peso molecular 1kb Plus DNA Ladder (Invitrogen™). 3.2.5 SEQUENCIAMENTO DOS PRODUTOS DE PCR Os produtos amplificados da PCR para cada um dos genes de proteínas de membrana externa de A. marginale foram purificados com o uso do kit Wizard® SV Gel and PCR Clean-Up System (Promega) de acordo com as instruções do fabricante. Em seguida foi feita a eletroforese em gel de agarose dos amplicons para quantificação de DNA (Figura 4), por comparação com bandas do Low Mass DNA Ladder (Invitrogen). O DNA purificado foi enviados para o sequenciamento no Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP) (ABI 3730 DNA Analyser – Applied Biosystems/Perkin Elmer, CA, USA). Foram realizados quatro sequenciamentos para cada gene, dois com o oligonucleotideo iniciador senso e dois com o oligonucleotideo iniciador antisenso 64 Figura 4: Fotografia de gel de agarose à 2% dos amplicons purificados da PCR para genes de proteínas de membrana externa de A. marginale, corado com Brometo de Etídio. Nas colunas: 1 e 20 está o Low DNA Mass Ladder; 2 a 6 – Omp 1; 7 a 11 – Omp 5; 12 a 16 Am 097; 17 a 19, 21 e 22 – Am 254; 23 a 27 – Am 956; 28 a 32 – SodB. 3.2.6 ANÁLISE DAS SEQUÊNCIAS A análise dos eletroferogramas, montagem dos genes e a geração da sequência consenso foram feitas com o auxilio do software DNA Baser Sequence Aligner v3.5.4. A busca por homologia foi realizada pelo algoritimo BLASTn (http://www.ncbi.nlm.nih.gov), comparando as sequências obtidas com os seguintes isolados de A. marginale: Saint Maries (AM St Maries) (Genbank CP000030), Florida (AM Florida) (CP001079) ambas com genoma completo e as sequências completas de cada gene avaliado no presente estudo da amostra Anaplasma marginale strain NE-Brazil (AM NE-Brasil), proveniente do estado de Pernambuco. 65 A predicao das sequencias de aminoacidos dos genes foram obtidas com o software MEGA versao 5.1 (TAMURA et al., 2007) e posteriormente o alinhamento multiplo entre as sequencias foi realizado com o algoritmo CLUSTAL W As sequências obtidas foram alinhadas para gerar árvores filogenéticas utilizando-se o método de “neighbor-joining” a partir do software MEGA (Versão 5.1), no modelo “Kimura 2-parameters”. Os Valores de “bootstrap” com 1000 replicações foram utilizados para estimar a confiabilidade dos ramos na árvore de “neighborjoining”. 3.2.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA Os resultados do diagnóstico pela PCR ou PCR em tempo real foram associados através do teste exato de Fisher em nível de 5% de significância com as frequências das alterações hematológicas e bioquímicas. Todas as análises estatísticas foram realizadas utilizando o programa BioEstat 5.0 (AYRES, 2000). 66 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 DETECÇÃO MOLECULAR DE ORGANISMOS DA FAMÍLIA Anaplasmataceae EM BOVINOS E OVINOS 4.1.2 BOVINOS Dentre os 94 bovinos avaliados no grupo I, 35,1% (n=33) foram positivos na PCR para A. marginale. Nenhum dos animais testados foi positivo para A. phagocytophilum ou N. risticii. Na pesquisa em lâminas 24 animais foram positivos, sendo apenas 21 desses confirmados pela PCR. A presença de A. marginale já era esperada, uma vez que há relatos da exposição de bovinos ao agente no Rio de Janeiro. As regiões afetadas podem ser caracterizadas como sendo áreas de estabilidade enzoótica, onde os vetores e o agente estão presentes constantemente e os animais são mais adaptados ao parasito, ou de instabilidade enzoótica, nas quais fatores ecológicos e climáticos não favorecem o desenvolvimento de vetores durante algum período do ano, como são os casos do sertão de Sergipe e do extremo sul do Rio Grande do Sul (SOUZA et al. 2001; ALMEIDA et al., 2006). A prevalência da infecção no Brasil é extremamente variável, com índices de 12,3 a 100% (VIDOTTO & MARANA, 2001). Nas regiões Norte Fluminense e do Médio Paraíba foram observadas soroprevalências de 91,16% e 98,21% dos bovinos, respectivamente (SOUZA et al. 2000; SOUZA et al. 2001), sendo o estado do Rio de Janeiro, assim como a maior parte do país, considerado como uma zona de estabilidade enzoótica. Foi também revelada uma frequência de 5,42% (16/295) de bubalinos positivos para A. marginale no Estado do Rio de Janeiro (CORRÊA, 2011). 67 São poucos os estudos de prevalência que fazem uso de técnicas moleculares para o diagnóstico de A. marginale sendo mais fequentes os que fazem uso do diagnóstico sorológico. Na região sudoeste da Amazônia, estudos feitos por meio da PCR revelaram que a frequência de infecção por A. marginale foi de 98,6% (1.627/1.650) nas amostras provenientes de Rondônia de 92,87% (208/225) nas amostras do Acre (BRITTO et al., 2010). Na região sul da Bahia, no município de Ibicaraí, 63,1% das amostras de sangue bovino testadas por meio de nested PCR para A. marginale foram positivas (AMORIM, 2011). Em Umuarama, localizada no noroeste do Paraná, os soros de 226 vacas de sete rebanhos da raça Nelore, foram testados por cELISA sendo 76,1% dos animais reagentes ao teste (YOSHIHARA et al., 2003). Ainda no estado do Paraná, porém na região centro-sul, determinou-se a soroprevalência de A. marginale nas regiões de Ponta Grossa, Guarapuava e Laranjeiras do Sul. 58,74% foram positivos pelo cELISA-PR1, indicando uma porcentagem significativa de animais susceptíveis à infecção por A. marginale, sugerindo que essa é uma região de instabilidade de enzoótica (MARANA et al., 2009). Devido às diferenças nos métodos diagnósticos utilizados, a comparação entre os resultados do presente estudo com outros realizados no país se torna mais difícil. Métodos indiretos, como o ELISA detectam a exposição ao agente e não necessariamente a infecção, ao contrário dos métodos diretos como a PCR. Ainda assim, a frequência observada no presente trabalho foi consideravelmente menor do que a de estudos por PCR como o de Britto et al.(2010) e o de Amorim (2011). A grande diferença geográfica e climática entre as regiões pode ser responsável por resultados tão distintos, visto que a interação entre os vetores e o hospedeiro pode ser influenciada pelas condições locais, além de eventuais diferenças de manejo e estratégias de controle de vetores nas diferentes regiões. Animais que apresentam uma resposta imune efetiva sobrevivem à infecção aguda, podendo tanto eliminar a infecção quanto reduzir a parasitemia para níveis baixos, geralmente indetectáveis na microscopia, tornando-se uma infecção crônica (FRENCH et al., 1998). Portanto, mesmo em uma área de estabilidade enzoótica, animais portadores com uma parasitemia muito baixa poderiam apresentar resultados falsos negativos na PCR. A infecção crônica por A. marginale se caracteriza pela ocorrência de ciclos de parasitemia. Em cada ciclo observam-se novos variantes antigênicos de msp2, 68 contribuindo para evasão da resposta imune do hospedeiro e garantindo a manutenção da infecção crônica (FRENCH et al., 1998 e 1999). A magnitude e a duração dos ciclos sugerem que a recorrência da infecção está ligada a variação antigênica contínua pelo agente, com subsequente desenvolvimento de resposta imune primária pelo hospedeiro (ALLEMAN et al., 1997). Outros fatores que devem ser levados em consideração são as limitações referentes ao tamanho da amostra e a concentração geográfica dos animais, que podem contribuir para a discrepância entre os resultados encontrados neste trabalho em comparação a outras regiões. Estudos de diagnóstico molecular, mais detalhados e aprofundados, nesta e em outras regiões, são necessários para uma se obter maior clareza acerca da situação da prevalência de A. marginale no estado do Rio de Janeiro. A frequência de cães positivos na PCR para Anaplasma marginale, em função das alterações laboratoriais observadas se encontra na tabela 1. Tabela 1: Frequência de cães positivos na PCR para Anaplasma marginale, em função das alterações laboratoriais observadas. PCR para Anaplasma marginale Alterações Total Positivo Negativo Leucocitose Sim 16 25 41 Não 17 36 53 Total (p = 0.5193) 33 61 94 Eosinofilia Sim 3 2 5 Não 30 59 89 Total (p=0.3401) 33 61 94 Neutrofilia Sim 14 12 26 Não 19 49 68 Total (p = 0.0288)* 33 61 94 Linfocitose Sim 19 22 41 Não 14 39 53 Total (p = 0.0525) 33 61 94 ALT aumentada Sim 5 12 17 Não 28 49 77 Total (p=0.7801) 33 61 94 Creatinina diminuída Sim 9 14 23 69 Não 24 47 71 Total (p=0.8020) 33 61 94 * Diferença entre frequência de alterações considerada significativa pelo teste Exato de Fisher (p<0,05). Com relação aos resultados dos exames hematológicos, não foi possível observar diferenças no eritrograma dos animais positivos e negativos, estando tanto os parâmetros quantitativos (VG, hematimetria e hemoglobinometria) quanto os qualitativos (VGM e CHGM) dentro dos intervalos de referência nos animais dos dois grupos. Os eritrócitos são o único tipo cellular infectado por A. marginale em bovinos. A presence da riquétsia nas hemácias desencadeia um processo de resposta imunológica que leva à destruição das células parasitadas por um aumento da atividade eritrofagocítica do animal (KOCAN et al.,2010). A destruição das células infectadas leva ao quadro de anemia hemolítica observado nos animais com anaplasmose clínica, sendo a presença de anemia macrocítica um achado frequente nos animais infectados (ASHUMA et al., 2013). A ausência de alterações se justifica pelo caráter assintomático da infecção em áreas de estabilidade enzoótica, nas quais os animais possuem títulos de anticorpos elevados o suficiente para conter a doença (MADRUGA et al, 1984). Dentre os parâmetros que apresentaram alterações apenas a presença de neutrofilia esteve significativamente mais presente entre os animais positivos. O aumento da contagem de neutrófilos tem três causas principais: processos inflamatórios, resposta a corticosteroides e estímulo adrenérgico. Em geral a resposta inflamatória em bovinos é caracterizada por uma fase inicial de neutropenia, seguida de uma gradativa recuperação no número de neutrófilos circulantes até o consequente desenvolvimento de uma neutrofilia que pode ou não ocorrer acompanhada de um desvio à esquerda (THRALL, 2004). A neutrofilia não é usualmente relatada como um achado laboratorial comum na anaplasmose, sendo, portanto, um achado inesperado no presente estudo. A possibilidade de a presença do agente no organismo, mesmo que de forma subclínica, ajudar a desencadear algum tipo de estímulo inflamatório crônico não pode ser completamente descartada. Outro fator que poderia influenciar neste resultado seria a presença de alguma variável de confundimento não identificada no presente estudo, como a possível presença de outros agentes infecciosos ou parasitários associados à presença de A. marginale ou um eventual maior grau de infestação por ectoparasitos nos animais 70 positivos. Estudos mais detalhados se fazem necessários para o esclarecimento desta questão. Não foram observadas alterações significativas dos parâmetros bioquímicos dos animais infectados. As alterações bioquímicas geralmente observadas na anaplasmose estão muito relacionadas a função hepática. Aumentos nas atividades de AST e fosfatase alcalina, e na concentração de bilirrubina são os (ASHUMA et al., 2013). O aumento de bilirrubina observado é um achado frequente nos processos hemolíticos. O excesso de bilirrubina precisa ser metabolizado no fígado para sua posterior excreção via bile. Este processo pode levar a uma sobrecarga hepática, com consequente aumento de marcadores como AST e fosfatase alcalina (THRALL, 2004). Considerando a ausência de alterações no eritrograma dos animais positivos no presente estudo, a inexistência de alterações bioquímicas torna-se um achado previsível, uma vez que as alterações descritas são geralmente decorrentes do processo hemolítico, que não ocorreu nos animais avaliados neste trabalho. 4.2.2 OVINOS Dentre os 59 ovinos testados 6,78% (n=4) foram positivos na PCR em Tempo Real para A. phagocytophilum. Nenhum dos animais testados foi positivo para A. marginale, A. ovis ou N. risticii. Nenhum animal foi positivo na pesquisa de hemoparasitas em esfregaço sanguíneo. Este microrganismo já foi descrito infectando bovinos, caprinos e uma grande variedade de cervídeos (GRAY et al., 1988, STUEN et al., 2001, LIZ et al., 2002, POLIN et al., 2004). Há poucos estudos indicando a presença de A. phagocytophilum no Brasil. Dentre 20 equinos com sintomatologia clínica compatível com Anaplasmose Granulocítica Equina no Centro-oeste do Brasil, 65% apresentaram anticorpos contra o agente em teste ELISA, sem que, no entanto apresentassem resultado positivo na nested PCR (SALVAGNI et al., 2010). Em estudo realizado na divisa dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, 16,78% dos Cervos do pantanal (Blastocerus dichotomus) apresentaram resultado positivo em reação de imunofluorescência indireta para A. phagocytophilum e 48,95% foram positivos em PCR para Anaplasma spp (SACCHI et al., 2012). Recentemente A. phagocytophilum foi detectado infectando cães no Estado do Rio de Janeiro, tendo 71 sido encontrado por meio de PCR em tempo real em 7,11% dos animais testados (SANTOS et al., 2011). A presença deste agente infectando também ovinos no Rio de Janeiro reforça a necessidade do desenvolvimento de mais estudos visando esclarecer a situação epidemiológica desta Riquétsia no Rio de Janeiro e no Brasil. Uma das questões ainda existentes sobre seu ciclo de transmissão em território nacional é sobre que carrapatos atuam como vetores nesta região. Os vetores implicados na transmissão do agente são carrapatos ixodídeos de diversas espécies (WOLDEHIWET, 2006). Os carrapatos do complexo Ixodes persulcatus, incluindo as espécies I. ricinus na Europa, I. persulcatus no Leste Europeu e Ásia, I. scapularis e I. pacificus na América do Norte são considerados os principais vetores de A. phagocytophilum (ALLEMAN & WAMSLEY, 2008) Outras espécies de carrapatos, como Ixodes trianguliceps, Ixodes hexagonus, Ixodes ventalloi e R. sanguineus também têm sido implicados na transmissão do agente (BOWN et al., 2003; NIJHOF et al., 2007; SANTOS et al., 2009; GHAFAR et al.,2012). Santos et al.,( 2011) sugerem, com base no pico sasonal de atividade de carrapatos adultos Amblyomma cajennense na região estudada, que este pode desempenhar o papel de vetor de A. phagocytophilum. Antes da descoberta de que de que roedores de vida livre podem ser reservatórios de variantes de A. phagocytophilum, pensava-se que as variantes de FTC eram mantidas em um ciclo carrapato-ruminante, com infecção persistente dos ruminantes domésticos e de vida livre, servindo como a fonte de transmissão contínua, uma vez que transmissão transovariana não foi demonstrada. A recente descrição de que os ratos Apodemus sylvaticus; Apodemus flavicollis; Microtus agrestis e Clethrinomyces glareolus são hospedeiros competentes de A. phagocytophilum (OGDEN et al, 1998a;. LIZ et al, 2000, BOWN et al, 2003, 2006), sugere que os roedores também podem ser reservatórios de infecção. No entanto, em comparação com os ruminantes, os ratos parecem desenvolver baixos níveis de bacteremia e possuem ciclos de vida mais curtos. O papel das aves como reservatórios potenciais de A. phagocytophilum não foi claramente estabelecida, mas um relatório nos EUA sugeriu que pelo menos duas espécies de aves, Turdus migratorius e Catharus fuscescens, podem ser reservatórios para variantes de AGH (BJOERSDORFF et al., 2001; DANIELS et al., 2002). As aves são hospedeiros competentes que podem desempenhar um papel 72 importante na dispersão de carrapatos infectados. Recentemente, o DNA de A. phagocytophilum foi detectado no sangue de um Carcará (Caracara plancus) e dois urubus de cabeça preta (Coragyps atratus) no Brasil (MACHADO et al.,2012). Portanto, para possibilitar uma maior compreensão da epidemiologia de A. phagocytophilum no Rio de Janeiro, é necessária uma abordagem ampla, com estudos abrangendo não somente espécies domésticas, como também roedores e aves selvagens, além de trabalhos direcionados à identificação dos carrapatos que podem estar atuando como vetores. Outro ponto de importância para é a identificação de que variantes genéticas estão presentes no Brasil, uma vez que a epidemiologia de A. phagocytophlilum apresenta diferenças regionais significativas. Nos EUA, a doença em humanos apresenta maior severidade e vem apresentando um aumento no número de casos enquanto praticamente não há relatos em ruminantes domésticos. Na Europa os casos em humanos são raros e de menos gravidade, porém a infecção em ruminantes é frequente e com quadros clínicos importantes (WOLDEHIWET, 2006). São descritos três grupos genéticos principais de A. phagocytophlilum, cada um com características distintas. Eles correspondem aos três agentes agrupados nesta espécie em 2001: Ehrlichia equi, E. phagocytophila e o Agente da Erliquiose Granulocítica Humana. As três variantes apresentam uma homologia de 99,1% na sequência do gene codificador da unidade 16S do RNAr, e uma grande ocorrência de reações cruzadas em testes sorológicos (DUMLER et al., 2001). Apesar de possuirem grande similaridade genética, os três grupos possuem diferentes características acerca de sua distribuição e espectro de hospedeiros (GREIG e ARMSTRONG, 2006) A variante E. phagocytophila é encontrada causando doença fundamentalmente em ruminantes na Europa (PUSTERLA et al. 1999; STUEN et al. 2002). Até o presente momento, os casos europeus de infecções em cães, gatos e seres humanos foram identificados como pertencentes ao grupo do Agente da Erliquiose Granulocítica Humana (EGENVALL, et al., 1997; PETROVEC et al., 1997; PUSTERLA et al., 1997; BJÖERSDORFF et al., 1999). A infecção experimental de equinos com este grupo produziu doença clínica idêntica à induzida pelo grupo de E. equi (BARLOUGH et al.,1995). Nos Estados Unidos há relatos da ocorrência da variante do Agente da Erliquiose Granulocítica Humana em cães, gatos e seres humanos e da variante de E. equi em equinos na Califórnia (GREIG e 73 ARMSTRONG, 2006). Ademais, variaçãoes genéticas já foram observadas nos genes 16S rRNA, groEL, msp2, msp4 e ankA de A. phagocytophilum (SILAGHI et al., 2011). Através da análise do gene Anka em amostras provenientes de infecções em diferentes espécies de animais, Scharf et al. (2011) observaram que as sequências se dividiam em quarto grupos distintos. As sequências de cães, humanos, equinos e gatos se concentravam no grupo I enquanto as amostras de ovinos, bovinos, bisão europeu (Bison bonasus) e veado vermelho (Cervus elaphus) faziam parte dos grupos I e IV. Além disso, sequências provenientes de corças (Capreolus capreolus) se dividiam em dois outros grupos (II e III). Em cães existem cinco variantes genéticas de A. phagocytophilum, com diferenças de um a dois nucleotídeos na sequência do gene 16S RNA (POITOUT et al., 2005). Organismos detectados em dois cães na Suíça possuíam sequências do gene 16S RNA idênticas entre si e quando comparadas à sequências do gene 16S RNA encontradas em humanos com anaplasmose granulocítica (PUSTERLA et al., 1997). O grau com o qual a variação genética contribui para alterar a patogenicidade de diferentes variantes de A. phagocytophilum ainda é pouco compreendido. Considerando estas informações, e sabendo-se que A. phagocytophilum já foi detectado infectando cães e ovinos, e da existência de evidências de infecções em equinos e cervídeos, é possível que mais de uma variante esteja em circulação no Brasil. Os valores do eritrograma, leucograma e bioquímica sérica dos animais positivos e a frequência de cães positivos na PCR em tempo real para Anaplasma phagocytophilum, em função das alterações laboratoriais observadas estão nas Tabela 2 e 3 respectivamente. Tabela 2: Valores dos exames hematológicos e bioquímicos dos ovinos positivos para Anaplasma phagocytophilum. Valores de Parâmetro 1 2 3 4 Referência Hematimetria (x 106/µL) 11,08 9,63 11,26 10.87 8,0 – 16,0 Hemoglobina (g/dL) 11,7 9,5 10,3 10,2 8,0 – 16,0 Volume Globular (%) 33,9 26,1 31,6 30,9 24 – 50 VGM (fL) 30,6 27,1 28,1 28,4 23 – 48 74 CHGM (%) 34,5 36,4 32,6 33,0 31 – 38 Leucometria Global (/µL) 7200 5900 6700 8300 4.000 – 12.000 0 59 67 83 Raros Eosinófilos (/µL) 576 236 268 332 0 – 1000 Neutrófilos (/µL) 3168 3422 2345 3237 700 – 6000 Linfócitos (/µL) 3024 1888 3953 4067 2000 – 9000 Monócitos (/µL) 432 295 67 581 0 – 750 Fibrinogênio (mg/dL) 200 400 800 400 100 – 500 ALT(U/L) 10 5 15 15 34,0 – 42,0 AST(U/L) 83 41 31 62 68,0 – 90,0 Fosfatase Alcalina (U/L) 58 66 33 41 68,0 – 387,0 Uréia (mg/dL) 27 34 11 35 8,0 – 20,0 Creatinina sérica(mg/dL) 0,6 0,3 0,6 0,3 1,2 – 1,9 Basófilos (/µL) Tabela 3: Frequência de cães positivos na PCR em tempo real para Anaplasma phagocytophilum, em função das alterações laboratoriais observadas. PCR em tempo real para Anaplasma phagocytophilum Alterações Total Positivo Negativo Linfopenia Sim 1 2 3 Não 3 53 56 Total (p = 0.1929) 4 55 59 Hiperfibrinogenemia Sim 1 17 18 Não 3 38 41 Total (p=1.0000) 4 55 59 ALT diminuída Sim 4 34 38 Não 0 21 21 Total (p = 0.2864) 4 55 59 AST diminuída Sim 3 4 7 Não 1 51 52 Total (p = 0.0041)* 4 55 59 Fosfatase Alcalina diminuída 4 55 59 Sim 4 7 11 Não 0 48 48 Total (p=0.0007)* 4 55 59 Uréia aumentada Sim 3 36 41 Não 1 19 18 Total (p=1.0000) 4 55 59 Creatinina diminuída 75 Sim 4 51 55 Não 0 4 4 Total (p=1.0000) 4 55 59 * Diferença entre frequência de alterações considerada significativa pelo teste Exato de Fisher (p<0,05). Dentre todos os parâmetros laboratoriais avaliados, somente as dosagens de AST e fosfatase alcalina apresentaram alterações significativas. A diminuição da atividade sérica da AST e da fosfatase alcalina foi significativamente mais presente nos animais positivos (p=0,0041 e p=0,0007, respectivamente). Todos os quatro animais apresentaram atividades séricas de fosfatase alcalina diminuídas sendo que dois deles exibiram também diminuição de AST. Alterações como neutropenia e linfopenia, costumam ser observadas em ovinos infectados (GOKCE & WOLDEHIWET, 1999). Outras alterações possíveis são a redução do número de eritrócitos circulantes, do hematócrito, volume globular médio e da concentração de hemoglobina (VAN MIERT et al, 1984; GOKCE & WOLDEHIWET, 1999). Em um estudo comparando as características da doença em ovinos e caprinos infectados experimentalmente foram observadas diferenças nas alterações clínicas e hematológicas nas duas espécies. Os ovinos apresentaram um período de incubação menor e febre por mais tempo do que os caprinos. Os animais apresentaram um aumento transitório do número de neutrófilos seguido de uma linfopenia aguda e uma neutropenia persistente, que tiveram maior duração nos ovinos. Ambas as espécies apresentaram diminuições nos parametros quantitativos do eritrograma (hematimetria, volume globular e hemoglobinometria) porém, apenas os ovinos apresentaram aumentos em parâmetros qualitativos (VGM e HGM) (GOKCE & WOLDEHIWET, 1999). A variante utilizada no referido estudo foi encontrada originalmente infectando ovinos, sendo possível supor que seja menos patogênica em outras espécies, como, por exemplo, caprinos. A comparação entre as alterações da bioquímica sérica entre ovinos e caprinos experimentalmente infectados mostrou que ambas as espécies apresentaram diminuições nas dosagens de fosfatase alcalina, zinco e ferro. Ocorreu ainda um aumento nas concentrações de bilirrubina total, uréia e creatinina. As reduções na atividade sérica da fosfatase alcalina, assim como a observada no 76 presente estudo, e na concentração de ferro foram significativamente mais severas nos ovinos (GOKCE & WOLDEHIWET, 1999). Em cães os achados laboratoriais mais consistentes são a trombocitopenia, linfopenia, hipoalbuminemia, elevação de fosfatase alcalina, aumento da atividade da amilase e proteinúria (NEER, 1998). . A contagem de neutrófilos está, geralmente, dentro dos limites de referência sem a ocorrência de desvio a esquerda (GREIG et al., 1996; EGENVALL, et al., 1997; PUSTERLA et al., 1997) estando anemia normocítica normocrômica de caráter arregenerativo presente em menos da metade dos animais (GREIG e ARMSTRONG, 2006). Poucas alterações na bioquímica sérica são descritas. Hipoalbuminemia e aumento da atividade sérica da fosfatase alcalina foram observados em cães infectados nos EUA (GREIG et al., 1996). Podem ocorrer, ainda, aumento da atividade da amilase e proteinúria (NEER, 1998). Em humanos as alterações laboratoriais podem ser de grande valia em pacientes com histórico de exposição ou mordidas por carrapatos e estas incluem trombocitopenia, leucopenia, anemia e aumento das atividades das transaminases, sugerindo moderada injúria hepática. A ausência de alterações nos animais do presente estudo pode ser um indício da presença de animais portadores. Ovelhas que tenham se recuperado de uma infecção por A. phagocytophilum podem continuar a abrigar o organismo por várias semanas ou mesmo anos. O sangue de um animal foi demonstrado infectante para ovelhas nunca antes expostas ao agente (FOGGIE, 1951). Ovelhas persistentemente infectadas não desenvolvem sinais clínicos, mas podem desenvolver bacteremia após esplenectomia e podem servir de fonte potencial para infecção em ovelhas que não tiveram contato com o agente. (FOGGIE, 1951; WOLDEHIWET & SCOTT, 1993). Infecções persistentes com variantes de AGH também têm sido relatadas em condições naturais, em ratos (TELFORD et ai, 1996, CASTRO et al, 2001). Entretanto, um estudo indicou que em cavalos infectados o estado de portador com variantes AGE é incomum (NYINDO et al ., 1978). Há muito poucos estudos para investigar infecções persistentes de AGH em humanos. Existe ainda a possibilidade de infecção por uma variante que tenha outra espécie animal como seu hospedeiro original, causando neste caso uma forma mais branda da infecção, como na infecção experimental em cavalos com uma variante 77 oriunda de ruminantes, que induziu soroconversão sem o desenvolvimento de sintomatologia clínica (PUSTERLA et al.,1998). A caracterização molecular das variantes de A. phagocytophilum presentes no Brasil em conjunto com estudos voltados para a determinação dos vetores são fundamentais para o entendimento dos possíveis impactos das infecções por este agente no território nacional tanto em animais quanto em seres humanos. Visando a confirmação do diagnóstico, foram sequenciados 122pb do gene msp2 de A. phagocytophilum. As sequencias obtidas no presente estudo apresentaram 99% de identidade com outros isolados de A. phagocytophilum da Ásia, Europa e América do Norte, depositados no GenBank, confirmando a presença deste agente em ovinos no Brasil. Ensaios de PCR baseandos no gene msp2 apresentam alta sensibilidade e especificidade, porém as sequencias obtidas podem não ser úteis para distinguir variantes proximamente relacionadas (COURTNEY et al. 2004). No intuito de proporcionar uma caracterização mais precisa da variante de A. phagocytophilum encontrada neste estudo, outros ensaios serão conduzidos visando sequenciar uma porção maior do gene msp2 e eventualmente de outros genes das amostras positivas e testar sua homologia frente a outros isolados, cujo as sequências estão depositadas no GenBank. Com isso será possível estabelecer com maior clareza quais são as caracteristicas genotípicas presentes nos isolados brasileiros. 4.2 CARACTERIZAÇÃO GENOTÍPICA DE GENES CODIFICANTES PARA PROTEÍNAS DE MEMBRANA DE Anaplasma marginale DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. A partir das sequências parciais dos genes omp1, omp4, omp5, omp7, sodb, am097 (VirB9-1), am956 (PepA) e am254 (ef-tu) obtidas neste estudo foram geradas as sequências preditivas de aminoácidos codificados pelos mesmos, contruídas árvores filogenéticas para cada um dos genes estudados, medidos o número total de diferenças de aminoácidos e a “p-distance”, que é dada pela razão entre o número de mudanças de aminoácidos de uma sequência e o total de sítios avaliados, comparando as amostras provenientes de Cachoeiras de Macacu, Seropédica, Macuco, Campos dos Goytacazes e Bom Jesus do Itabapoana, todos no estado do Rio de Janeiro, além dos isolados de Saint Maries (nº de acesso no 78 GenBank:CP000030), Florida (nº de acesso no GenBank:CP001079) e com as sequências do isolado brasileiro Pernambuco – Zona da Mata correspondentes aos genes estudados (nº de acesso no GenBank: GU991619, GU991620, GU991621, GU991622, GU991630, GU991631, GU991629 e GU991618). A análise dos valores médios da “p-distance” entre todas as sequências avaliadas (Tabela 4) indicam que de modo geral há pouca variabilidade nestas proteínas. Apenas OMP7 e VirB9-1 apresentaram valores médios de “p-distance” superiores à 5%. De acordo com estes dados, EF-Tu, SODb, PepA, OMP1 e OMP4 são as proteínas menos variáveis dentre as estudadas. Tabela 4: Valores médios de “p-distance” para as sequências preditivas de aminoácidos de proteínas de membrana externa de Anaplasma marginale. Proteínas OMP1 OMP4 OMP5 OMP7 PepA VirB9-1 EF-Tu SODb “p-distance” média 0,02 0,02 0,05 0,11 0.02 0,08 0,01 0,02 No entanto os valores médios não fornecem informações acerca de eventuais diferenças entre isolados específicos, sendo necessários dados mais detalhados para uma interpretação correta das características das proteínas de membrana externa dos diferentes isolados. A análise das árvores das sequências preditivas de aminoácidos (figuras 5, 6, 7 e 8) e das matrizes de quantidade de mudanças de aminoácidos e “p-distance” (tabelas 5, 6, 7 e 8), das proteínas OMP1, OMP4, SODb e PepA de A. marginale e apontam claramente para o agrupamento das amostras do Rio de Janeiro em um clado distinto das demais avaliadas no presente estudo. Curiosamente, o isolado brasileiro de Pernambuco apresentou maior semelhança com os isolados de St. Maries e Florida, ambos dos EUA do que com as amostras do estado do Rio de Janeiro. 79 Figura 5: Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining com valores de bootstrap para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP1 dos isolados de A. marginale. Tabela 5: Matriz representativa do número total de diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP1 de diferentes isolados de Anaplasma marginale. As sequências analisadas possuíam um total de 292 aminoácidos. OMP1 SM* FL* PE* BJ* CM* MA* SE* CG* SM* ----0 2 5 7 6 7 6 FL* 0,00 ----2 5 7 6 7 6 PE* 0,01 0,01 ----7 9 8 9 8 BJ* 0,02 0,02 0,02 ----2 1 2 2 CM* 0,02 0,02 0,03 0,01 ----3 4 4 MA* 0,02 0,02 0,03 0,00 0,01 -----3 3 SE* 0,02 0,02 0,03 0,01 0,01 0,01 ----4 CG* 0,02 0,02 0,03 0,01 0,01 0,01 0,01 ----- * SM (Saint maries), FL (Florida), PE (Zona da Mata – Pernambuco), BJ (Bom Jesus do Itabapoana), CM (Cachoeiras de Macacu), MA (Macuco), SE (Seropédica), CG (Campos dos Goytacazes). Os isolados da Florida e St. Maries são os de maior identidade na sequência preditiva da proteína OMP1, não apresentando nenhuma mudança de aminoácidos entre si. O isolado do nordeste brasileiro apresenta uma distância pequena dos isolados americanos (“p-distance” = 0,01). As amostras do estado do Rio de Janeiro não diferem muito umas das outras, com uma média de distância interna de 0,01. O agrupamento das amostras do Rio de Janeiro sugere que amostras de regiões geográficas próximas sejam mais parecidas do que as de outros locais. 80 Figura 6: Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining com valores de bootstrap para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP4 dos isolados de A. marginale. Tabela 6: Matriz representativa do número total de diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP4 de diferentes isolados de Anaplasma marginale. As sequências analisadas possuíam um total de 360 aminoácidos. OMP4 SM* FL* PE* BJ* CM* MA* SE* CG* SM* ----2 5 8 7 7 7 10 FL* 0,01 -----7 6 5 5 5 8 PE* 0,01 0,01 ----12 11 11 11 14 BJ* 0,00 0,01 0,01 ----1 1 1 2 CM* 0,01 0,01 0,01 0,01 ----0 0 3 MA* 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 ----0 3 SE* 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,00 ----3 CG* 0,02 0,03 0,03 0,03 0,03 0,01 0,01 ----- * SM (Saint maries), FL (Florida), PE (Zona da Mata – Pernambuco), BJ (Bom Jesus do Itabapoana), CM (Cachoeiras de Macacu), MA (Macuco), SE (Seropédica), CG (Campos dos Goytacazes). Apesar de apresentar a mesma “p-distance” que OMP1, OMP4 apresentou algumas características distintas. As amostras do Rio de Janeiro são mais semelhantes entre si, com distância média interna de 0,00, enquanto as amostras americanas neste caso apresentam distância de 0,01, estando incluídas no mesmo grupo que a amostra de Pernambuco, que novamente é a com maior número de alterações de aminoácidos. 81 Figura 7: Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining Neighbor Joining com valores de bootstrap para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína na SODb dos isolados de A. marginale. Tabela 7: Matriz representativa do número total de diferenças diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína SODb de diferentes isolados de Anaplasma marginale. marginale. As sequências analisadas possuíam um total t de 185 aminoácidos. SODb SM* FL* PE* BJ* CM* MA* SE* CG* SM* ----0 0 4 4 4 5 6 FL** 0,00 ----0 4 4 4 5 6 PE* 0,00 0,00 ----4 4 4 5 6 BJ* 0,02 0,02 0,02 ----0 0 1 2 CM* 0,02 0,02 0,02 0,00 ----0 1 2 MA* 0,02 0,02 0,02 0,00 0,00 ----1 2 SE* 0,03 0,03 0,03 0,01 0,01 0,01 ----3 CG* 0,03 0,03 0,03 0,01 0,01 0,01 0,02 ----- * SM (Saint maries), FL (Florida), PE (Zona da Mata – Pernambuco), BJ (Bom Jesus do Itabapoana), CM (Cachoeiras de Macacu), MA (Macuco), SE (Seropédica), CG (Campos dos Goytacazes). A sequência de aminoácidos de SODb se mostrou bastante conservada, tanto em uma análise geral de todos os isolados quanto dentro dos grupos. Os isolados americanos e o isolado de Pernambuco possuem uma identidade de 100%, não havendo nenhuma enhuma diferença de aminoácido entre os três. Entre as amostras do Rio de Janeiro a distância média foi de 0,01, 0,01, com pouca variação das sequências. 82 Figura 8: Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining com valores de bootstrap para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína PepA dos isolados de A. marginale. Tabela 8: Matriz representativa do número total de diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína PepA de diferentes isolados de Anaplasma marginale. As sequências analisadas possuíam um total de 448 aminoácidos. PepA SM* FL* PE* BJ* CM* MA* SE* CG* SM* ----1 5 12 10 9 18 16 FL* 0,00 ----4 13 11 10 19 17 PE* 0,01 0,01 ----17 15 14 23 21 BJ* 0,03 0,03 0,04 ----4 3 12 10 CM* 0,02 0,02 0,03 0,01 ----1 10 8 MA* 0,02 0,02 0,03 0,01 0,00 ----9 7 SE* 0,04 0,04 0,05 0,03 0,02 0,02 ----6 CG* 0,04 0,04 0,05 0,02 0,02 0,02 0,01 ----- * SM (Saint maries), FL (Florida), PE (Zona da Mata – Pernambuco), BJ (Bom Jesus do Itabapoana), CM (Cachoeiras de Macacu), MA (Macuco), SE (Seropédica), CG (Campos dos Goytacazes). As sequências de PepA seguem aproximadamente o mesmo padrão das proteínas descritas anteriormente, com as amostras do Rio de Janeiro agrupadas, apresentando poucas mudanças de aminoácidos, e distantes do isolado de Pernambuco que possui mais semelhanças com os isolados norte-americanos. Considerando o fato de PepA ser uma proteína ancorada na membrana de A. marginale e de apresentar sequência preditiva de aminoácidos altamente conservada, mais estudos devem ser dedicados, para avaliacao de sua imunogenicidade e potencial como antigeno vacinal. 83 Nas árvores filogenéticas (figuras 9 e 10) e nas matrizes de quantidade de mudanças de aminoácidos e “p-distance” (tabelas 9 e 10) de OMP5 e OMP7, o isolado da flórida se agrupa de forma mais similar às amostras do Rio de Janeiro, de maneira que os isolados de St. Maries e de Pernambuco apresentam sequências de aminoácidos similares nestas duas proteínas. Figura 9: Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining com valores de bootstrap para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP5 dos isolados de A. marginale. Tabela 9: Matriz representativa do número total de diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP5 de diferentes isolados de Anaplasma marginale. As sequências analisadas possuíam um total de 323 aminoácidos. OMP5 SM* FL* PE* BJ* CM* MA* SE* CG* SM* ----29 10 34 31 34 34 34 FL* 0,09 ----21 5 2 5 5 5 PE* 0,03 0,07 ----26 23 26 26 26 BJ* 0,11 0,02 0,08 ----3 0 6 6 CM* 0,10 0,01 0,07 0,01 ----3 3 3 MA* 0,11 0,02 0,08 0,00 0,01 ----6 6 SE* 0,11 0,02 0,08 0,02 0,01 0,02 ----0 CG* 0,11 0,02 0,08 0,02 0,01 0,02 0,00 ----- * SM (Saint maries), FL (Florida), PE (Zona da Mata – Pernambuco), BJ (Bom Jesus do Itabapoana), CM (Cachoeiras de Macacu), MA (Macuco), SE (Seropédica), CG (Campos dos Goytacazes). No caso de OMP5, o isolado St. Maries é aquele que apresenta maiores diferenças em relação aos demais, com valores de diferenças de aminoácidos 84 elevadas. O isolado de Pernambuco acaba sendo o mais próximo do St. Maries “pdistance” = 0,03). Figura 10: Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining com valores de bootstrap para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP1 dos isolados de A. marginale. Tabela 10: Matriz representativa do número total de diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP7 de diferentes isolados de Anaplasma marginale. As sequências analisadas possuíam um total de 324 aminoácidos. OMP7 SM* FL* PE* BJ* CM* MA* SE* CG* SM* ----61 87 69 66 66 66 69 FL* 0,19 ----59 12 6 6 6 12 PE* 0,27 0,18 ----70 64 64 64 70 BJ* 0,21 0,04 0,22 ----6 6 6 0 CM* 0,20 0,02 0,20 0,02 ----0 0 6 MA* 0,20 0,02 0,20 0,02 0,00 ----0 6 SE* 0,20 0,02 0,20 0,02 0,00 0,00 ----6 CG* 0,21 0,04 0,22 0,00 0,02 0,02 0,02 ----- * SM (Saint maries), FL (Florida), PE (Zona da Mata – Pernambuco), BJ (Bom Jesus do Itabapoana), CM (Cachoeiras de Macacu), MA (Macuco), SE (Seropédica), CG (Campos dos Goytacazes). OMP7 foi a proteína com maior variabilidade. Este resultado é compativel com o que foi observado por Guedes Jr et al. (2010), que relatou uma identidade de apenas 65% e 72%, respectivamente, dos isolados St. Maries e Florida, , em comparação ao isolado da Zona da Mata de Pernambuco. 85 Nos casos de EF-Tu (figura 11; tabela 11), as sequências preditiva dos aminoacidos de EF-Tu apresentaram pouca variação. A árvore filogenética produzida atraves das sequencias preditivas de aminoacidos de EFTu alinhou o isolado St. Maries próximo às amostras do Rio de Janeiro. Novamente o isolado de Pernambuco apresentou diferenças em comparação as amostras brasileiras estudadas. Figura 11: Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining com valores de bootstrap para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína OMP1 dos isolados de A. marginale. Tabela 11: Matriz representativa do número total de diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína EF-Tu de diferentes isolados de Anaplasma marginale. As sequências analisadas possuíam um total de 312 aminoácidos. EF-Tu SM* FL* PE* BJ* CM* MA* SE* CG* SM* ----4 4 0 0 0 2 2 FL* 0,01 ----0 4 4 4 6 6 PE* 0,01 0,00 ----4 4 4 6 6 BJ* 0,00 0,01 0,01 ----0 0 2 2 CM* 0,00 0,01 0,01 0,00 ----0 2 2 MA* 0,00 0,01 0,01 0,00 0,00 ----2 2 SE* 0,01 0,02 0,02 0,01 0,01 0,01 ----4 CG* 0,01 0,02 0,02 0,01 0,01 0,01 0,01 ----- * SM (Saint maries), FL (Florida), PE (Zona da Mata – Pernambuco), BJ (Bom Jesus do Itabapoana), CM (Cachoeiras de Macacu), MA (Macuco), SE (Seropédica), CG (Campos dos Goytacazes). EF-Tu é uma hidrolase, enzima envolvida na síntese proteica, tendo como função promover a elongação da cadeia durante a síntese de polipeptídios nos ribossomos. A expressão de ef-tu em Escherichia coli produziu proteína 86 recombinante capaz de induzir a resposta proliferativa de linfócitos T e títulos de IgG2 superiores aos de IgG1 em bovinos, indicando boa capacidade imunogênica da proteína (ARAUJO et al., 2008; LOPEZ et al., 2008). Em comparacao com os genes de proteinas de membrana estudados neste trabalho, EF-Tu assume relativa importancia como possivel candidato a antigeno vacinal, por apresentar o menor valor médio de “p-distance”, apenas 0,01. Há ainda poucas substituições de aminoácidos nas sequências preditivas de EF-Tu, sendo considerado como um gene altamente conservado. Tanto a infecção natural como a experimental de bovinos por VirB9-2, VirB10 e EF-Tu, membros do TFSS, gera uma resposta humoral específica capaz de ser detectada por ELISA com proteínas recombinantes, reforçando que tais proteínas apresentam potencial imunogênico. Os epítopos são conservados, mesmo entre isolados heterólogos de A. marginale (Rio Grande do Norte e Alagoas). Estas características tem grande importância para o desenvolvimento de imunógenos, em especial, em países como o Brasil, por suas dimensões continentais. Por serem reconhecidos por bovinos infectados com isolados homólogos e heterólogos, VirB9-2, VirB10 e EF-Tu se tornam proteínas de bom potencial para o desenvolvimento de vacinas contra A. marginale (ARAUJO et al., 2008). Na análise dos dados de VirB9-1 (figura 12, tabela 12) podemos perceber uma divisão em dois grupos, o isolado Florida e o isolado de Pernambuco em um deles e as amostras do Rio de Janeiro e do isolado St. Maries. Figura 12: Árvore filogenética construída através software MEGA versao 5.1 (TAMURA et al., 2011) pelo metodo de Neighbor-Joining com valores de bootstrap 87 para 1000 réplicas obtida atraves da análise das sequências preditivas de aminoácidos da proteína VirB9-1 dos isolados de A. marginale. Tabela 12: Matriz representativa do número total de diferenças de aminoácidos (abaixo da diagonal) e das diferenças de aminoácidos por sítio (acima da diagonal) entre as sequências preditivas de aminoácidos da proteína VirB9-1 de diferentes isolados de Anaplasma marginale. As sequências analisadas possuíam um total de 231 aminoácidos. VirB9-1 SM* FL* PE* BJ* CM* MA* SE* CG* SM* ----39 39 3 3 3 3 6 FL* 0,17 ----2 41 41 41 41 44 PE* 0,17 0,01 ----41 41 41 41 44 BJ* 0,01 0,18 0,18 ----0 0 0 3 CM* 0,01 0,18 0,18 0,00 ----0 0 3 MA* 0,01 0,18 0,18 0,00 0,00 ----0 3 SE* 0,01 0,18 0,18 0,00 0,00 0,00 ----3 CG* 0,03 0,19 0,19 0,01 0,01 0,01 0,01 ----- * SM (Saint maries), FL (Florida), PE (Zona da Mata – Pernambuco), BJ (Bom Jesus do Itabapoana), CM (Cachoeiras de Macacu), MA (Macuco), SE (Seropédica), CG (Campos dos Goytacazes). Um dos fatores mais interessantes observados neste estudo foi a manutenção, em todas as sequências preditivas estudadas, de um clado das amostras do estado do Rio de Janeiro. A semelhança entre estes isolados parece sugerir que amostras de uma mesma região geográfica possuam maior similaridade. No entanto, frequentemente o isolado proveniente da Zona da Mata de Pernambuco apresentou muitas diferenças em relação às amostras do Rio de Janeiro. É possível que em outras regiões do país existam ainda mais variantes destas proteínas. Para que possamos entender as características, e desenvolver métodos diagnósticos e de imunização a partir das proteínas de membrana externa, são necessários mais estudos como esse em outras regiões do Brasil. As proteínas de membrana externa são capazes de produzir imunidade quando usadas em vacinas. Achados recentes demonstram que proteínas individuais ou combinações de proteínas são capazes de induzir resposta imune. Com a identificação de antigenos com maior potencial imunogênico sera possível o desenvolvimento de novas vacinas (NOH et al. 2013). Segundo Noh et al. (2006), A variacao ocorrida na sequência de OMP7 provavelmente está associada a substituicoes de nucleotideos em sua regiao central, que mantem a moldura de leitura mas introduz variacoes de aminoacidos. Os genes que codificam OMPs 7 a 9, partilham de extensas areas de homologia nas 88 extremidades 5’ e 3’, onde podem ocorrer recombinacoes enquanto que as areas N e C terminais apresentam relativa conservacao. Como a inoculacao de AMCE e capaz de proteger contra isolados Entre as sequencias preditivas de aminoacidos das proteinas avaliadas, OMP1, OMP4, EF-Tu, SODB, e PepA, demonstrando alto grau de conservacao. Isto sugere que estas sejam proteinas importantes para o desenvolvimento de imunogenos capazes de promover protecao cruzada entre isolados. 89 5 CONCLUSÕES A partir dos resultados do presente trabalho pode-se concluir: - Anaplasma phagocytophilum está presente em Cahoeiras de Macacu, RJ, infectando ovinos. - As sequencias preditivas de aminoacidos das proteínas de membrana externa de Anaplasma marginale OMP1, OMP4, EF-Tu, SODB, e PepA, apresentaram um alto grau de conservação. -OMP7 apresentou a maior variação na sequência preditiva de aminoacidos das proteínas de membrana externa de Anaplasma marginale avaliadas. - As proteínas de membrana externa dos isolados de Anaplasma marginale do estado do Rio de Janeiro apresentam menor variação entre si do que em comparação a isolados de outras regiões do Brasil e dos EUA. - A presença de neutrofilia foi significativamente mais frequente nos bovinos positivos para Anaplasma marginale em Cachoeiras de Macacu. - A diminuição da atividade sérica de AST e Fosfatase alcalina foi significativamente mais frequente nos ovinos positivos para Anaplasma phagocytophilum em Cachoeiras de Macacu. 90 6 OBRAS CITADAS AGUERO-ROSENFELD, M. 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