sobre questões apresentadas em qualquer situação. Portanto, reforço: nossa proposta é formar pessoas capazes de pensar o direito independentemente de ter passado por cursos de reciclagem ou não. Nisso é uma proposta inovadora. Inovamos também em relação ao ingresso no mercado. Os alunos não podem estagiar antes do quarto ano – inseri-los precocemente nos grandes escritórios poderia ser uma dificuldade extra. A inovação é quanto à aproximação: promovemos uma feira de estágios para isso. Há uma seleção, o mercado oferece vagas para a escola e assim os alunos se inserem. Tem sido um sucesso. Os alunos têm sido procurados por grandes escritórios de advocacia do país, recebendo elogios quanto à habilidade. Claro, ainda não temos veteranos para contar histórias de sucesso, mas estamos inaugurando essa vivência. Nossos alunos já são bem recebidos. o sucesso dessa proposta depende da imersão do aluno no processo de formação acadêmica. Não é uma escola para o aluno “ir levando”. É um curso de imersão. Quando as competências e habilidades são trabalhadas, ou o aluno mergulha ou não se forma. O curso tem algumas propostas para a formação de futuros professores. Temos uma disciplina optativa no quarto ciclo chamada “Ensino em Direito”. O aluno participa de um workshop (debates realizados pela escola) e acompanha um professor em uma disciplina, vivenciando o programa e a dinâmica das aulas. Não queremos que o aluno repita o que o professor faz, mas que reflita a partir dessa experiência docente. O livro Direitos Fundamentais: uma Leitura da Jurisprudência do STF, de Oscar Vilhena, por exemplo, é um material didático que tem a cara da nos- nhamento real junto ao corpo discente e realizo reuniões bimestrais com todas as salas. No processo de implantação do curso, esse diálogo foi precioso. Mensalmente fazemos reuniões de conselho de classe com reflexões gerais sobre teoria e prática. É fundamental que o diálogo entre professor e alunos seja um referencial na dinâmica pedagógica de construção da autonomia dos estudantes. Ao criarmos um curso com o padrão de exigência do nosso, é essencial oferecer suporte ao aluno para que a formação seja bem desenvolvida. Faço essa mediação, pois é um momento de reflexão coletiva. E não abordamos apenas problemas, mas oportunidades (de avaliação, inovações interdisciplinares, otimização de programas etc.). Ou seja, esse acompanhamento permite qualificar ainda mais o curso. E a experiência tem sido extremamente gratificante. Venho de uma universidade com perfil tradicional de qualidade, a PUC, e hoje estou numa instituição de excelência. Por isso, vale destacar algumas experiências inovadoras: nosso currículo traz disciplinas de outras áreas, como contabilidade, para ficar em apenas um exemplo; inovou também oferecendo a dupla graduação, na qual o aluno pode cursar direito e administração (além de disciplinas em outras escolas da FGV). Também é preciso destacar a inserção da DireitoGV nos espaços internacionais, um deles a Câmara de Comércio Internacional, em Paris. Ali ganhamos o primeiro prêmio no concurso de arbitragem, o que mostra o envolvimento da escola. Sem contar a associação da DireitoGV com escolas de outros países, o que permite ao aluno cursar disciplinas fora do Brasil. Por todos esses motivos, podemos dizer que a aposta neste curso inovador deu certo. E os resultados estão surgindo. Novas ideias, voos mais altos O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entra em vigor para facilitar o intercâmbio cultural e as negociações entre países lusófonos Nossos alunos têm sido procurados por escritórios de todo o país. Ainda não temos veteranos para contar histórias de sucesso, mas estamos inaugurando essa vivência A imersão traz a excelência Os professores ingressantes passam por um processo de trabalho junto com o núcleo de metodologia. Há um debate e sensibilização para que entendam a dinâmica e a visão do curso. Evidentemente existe uma seleção em cima de professores que buscam inovações, com processos mais interativos. Assim que o curso de direito começou, o núcleo de metodologia promoveu seminários e congressos para troca de experiências metodológicas que, embora não sejam de nossa exclusividade, puderam ser trabalhadas de forma bem institucional justamente por se tratar de um curso novo. A DireitoGV oferece um curso de dimensões específicas. O projeto não quer ser de massa, pois existe a preocupação de promover reflexões. Do ponto de vista didático-pedagógico, para nós é mais importante jogar essa reflexão para o país (e debater com outros espaços de ensino) do que criar uma escola para 5 mil alunos. Temos, por ano, cinqüenta vagas, com ingresso anual. O vestibular é disputado. O aluno que ingressa se identifica realmente com o projeto. E estamos oferecendo um curso em tempo integral, com a clareza de que 44 getulio março 2009 sa dinâmica de aula: baseado nas decisões jurisprudenciais e nas reflexões que surgem a partir daí. Do ponto de vista acadêmico, há espaços de pesquisas com bolsas de iniciação científica financiadas pela escola. Temos ainda a Bolsa Merecimento: o melhor aluno não paga o ano seguinte. Além disso, há parcerias com o mercado, como o Prêmio Bovespa. Ou seja, são parcerias em cima de demandas da sociedade. Agora, em 2009, teremos os trabalhos de conclusão de curso. Destinamos um tempo na própria grade para orientação, garantindo que o aluno esteja trabalhando aqui mesmo no seu projeto de conclusão no período de um ano. De acordo com a política da FGV, cargos de gestão não se misturam com docência, por isso não dou aula. Mesmo assim tenho um contato forte com os alunos. Por ser um curso pequeno, tenho a possibilidade de realizar um acompa- P rezado leitor, não estranhe o título desta reportagem. De acordo com a nova ortografia da língua portuguesa, os ditongos abertos não levam mais acento circunflexo, bem como não se acentuam mais as palavras terminadas em eem e oos. Cerca de 0,5% de nosso vocabulário sofrerá alterações; em Portugal, o índice chega a 1,5%. Assinado em Lisboa, aos 16 de dezembro de 1990, por Portugal, Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Gunié-Bissau, Moçambique e, posteriormente, pelo Timor Leste, o novo acordo ortográfico padroniza as regras para os oito países que têm o português como idioma oficial. Essas nações constituem a CPLP, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Dos 6,6 bilhões de habitantes de todo o mundo, 240 milhões falam português. Conforme relata o professor Godofredo de Oliveira Neto, membro da Academia Brasileira de Letras e presidente da Comissão da Língua Portuguesa (órgão ligado ao Ministério da Educação que mediou a implantação do acordo no Brasil), a universalização de nossa língua trará benefícios em diversos campos. Um deles, segundo Oliveira Neto, é a chance de o português tornar-se, com a unificação, uma língua oficial da Organização das Nações Unidas. “Não será mais preciso imprimir várias vias de atas e relatórios em português nas convenções internacionais”, explica. “Isso facilita a criação de um bloco lusófono e traz mais visibilidade aos países signatários em um mundo globalizado.” Hoje, seis línguas são oficiais perante a ONU: inglês, francês, chinês, russo, espanhol (falado em 21 países com ortografia padronizada) e árabe. Adriana Ancona de Faria é mestra em direito pela PUC-SP e coordenadora da graduação da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. [Depoimento transcrito de entrevista a Carlos Costa] depoim ento Por Geoffrey Scarmelote R epo rta gem março 2009 getulio 45 O meio acadêmico também agradece as mudanças. A divulgação do conhecimento é facilitada, já que um artigo brasileiro, por exemplo, não precisa ser reescrito para ser publicado em Portugal. A professora Fabiana Câmera, docente de Negociações Complexas do curso de Contratos Empresariais da Fundação Getulio Vargas, ressalta que o acordo reduzirá os custos de produção e adaptação de livros, além de facilitar a difusão bibliográfica de novas tecnologias. “Esta unificação permite a inserção dos países de língua portuguesa em nações desenvolvidas, pois algumas publicações deixam de circular internacionalmente porque dependem de versão”, endossa. A circulação de livros didáticos entre os países da CPLP é outro ponto forte do acordo. O professor Oliveira Neto cita uma doação de livros didáticos brasileiros, de história e geografia, feita para Angola há alguns anos. O lote não foi aproveitado devido às diferenças ortográficas, que atrapalhavam o entendimento das crianças. “Os livros foram queimados, o que é uma pena. Uma ajuda a um país irmão que foi jogada fora.” A professora Fabiana Câmera ressalta que essa troca já acontece, com sucesso, nos países de língua espanhola. No entanto, lembra o alto custo da reimpressão. Porém, as editoras não devem ter prejuízo, diz Oliveira Neto. “Até 2012 [prazo máximo para adoção do acordo por parte das editoras], haverá tempo suficiente para escoar o que for necessário”, afirma. A professora Simone Pierri, que leciona língua portuguesa e redação para mais de 500 alunos de ensino médio e técnico no Liceu de Artes e Ofícios, tradicional colégio na região central de São Paulo, diz que os livros impressos com as normas antigas “podem até mesmo funcionar como um teste para saber se houve a assimilação ou não das informações dadas em aula sobre a reforma ortográfica”. Além disso, Oliveira Neto frisa que o volume de comércio dos livros será grande, principalmente os didáticos. “Não dá pra cobrar José Saramago nos ensinos fundamental e médio, mas não é só na literatura que as editoras terão espaço para exportar obras.” Na prática, a educação será beneficiada pelos crescentes convênios entre universidades brasileiras e angolanas. Fabiana Câmera cita a parceria entre a EBAPE (Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas), da FGV-RJ, que coopera com um MBA em Gestão de Empresas em Angola. Já Oliveira Neto assinala a criação da Unilab, Universidade Luso Afro-Brasileira, em Redenção, no Ceará. A própria demanda de cursos da Unilab está voltada para as áreas em evidência nos países da CPLP, como agricultura e medicina, em parceria com a Fundação Osvaldo Cruz, do Rio de Janeiro. Todos os documentos e trabalhos acadêmicos da Unilab são redigidos na nova ortografia. Para as escolas de ensino fundamen- ma.” Mas os alunos ainda questionam as mudanças. “Alguns confessam a dificuldade para escrever determinadas palavras sem o acento e nos colocam que a ausência despersonaliza, segundo eles, o vocábulo.” Dificuldade que é compartilhada por Fabiana Câmera: “No ambiente acadêmico a adoção das novas regras acontece de forma lenta. Cabe ainda ao professor os alertas sobre a correção ao novo padrão ortográfico”. No Liceu de Artes e Ofícios, por exemplo, haverá um período de adaptação dos alunos e dos professores. Por lá as novas regras serão cobradas a partir do segundo semestre. Na área comercial, a adaptação ao acordo ainda é lenta, ressalta Fabiana Câmera. Mas os ganhos também serão significativos. “Destaco as negociações entre Brasil e Angola, no qual podemos citar o exemplo do grupo Odebrecht, que mantém diversos negócios em território angolano”, lembra a docente da FGV. “Podemos enumerar também a produção de açúcar e etanol em Angola pela Odebrecht, em parceria com a estatal angolana Sonangol, além de participações na construção do primeiro shopping de Angola e de outros empreendimentos imobiliários, autoestradas e reabilitação de barragens”, assinala. Todas essas negociações ganham agilidade, já que não será mais preciso imprimir vias em grafias diferentes para os contratos, além da economia de papel, que contribui para a preservação do meio ambiente. Oliveira Neto diz que a “hermenêutica cria problemas”, e que, de fato, as negociações fluirão mais rapidamente com a universalização do idioma. Na área tecnológica, está em estudo a adoção de um vocabulário tecnocientífico unificado. “Até por causa da informática, a grafia padrão de alguns termos técnicos pode baratear o custo de softwares, que hoje têm uma versão em português brasileiro e outra em português de Portugal”, reforça. Mas as características do vocabulário de cada país serão mantidas. “No Brasil, tapete sempre será tapete e, em Portugal, alcatifa sempre será alcatifa.” Na área comercial, a adaptação ao acordo ainda é lenta, mas os ganhos serão significativos: as negociações serão mais ágeis, sem contratos em grafias diferentes, além da economia em papel 46 getulio março 2009 tal e médio, o Ministério da Educação colocou em prática uma campanha de divulgação, intermediada pelas secretarias estaduais e municipais de ensino, para difundir a nova ortografia. Mas não haverá fiscalização por parte do governo federal para verificar a aplicação do Volp (Vocabulário Oficial da Língua Portuguesa) nas escolas. O que, para Simone Pierri, não parece ser problema. Os materiais adotados no colégio em que trabalha já utilizam as novas regras. O trabalho em classe também contribuiu para a assimilação. “Dediquei a primeira semana de aulas ao novo acordo. Preparei um material em power point, comentei, discuti cada tópico com os alunos e o enviei para que estudassem”, explica. “Além disso, trouxe textos de especialistas e vídeos de reportagens sobre a temática para promovermos uma reflexão sobre os aspectos positivos e negativos da refor- rep orta gem Entenda as principais mudanças Alfabeto O alfabeto passa a ter 26 letras. Foram introduzidas as letras K, W e Y. Trema ão se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indicar N que ela deve ser pronunciada nos grupos gue, gui, que, qui; Como era Como fica Agüentar Aguentar Argüir Arguir Bilíngüe Bilíngue Atenção: porém, o sinal permanece nas palavras estrangeiras e em suas derivadas: Müller, mülleriano. Acentuação 1. Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas Como era Como fica Alcalóide Alcaloide Bóia Boia Colméia Colmeia Atenção: essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a ser acentuadas as palavras oxítonas terminadas em eis, eu, éus, ói, óis, como papéis, herói e troféu. 2. Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo. Como era Como fica Feiúra Feiura Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final (ou seguidos de s), o acento permanece: tuiuiú, Piauí. 3. Não se usa mais o acento das palavras em êem e ôo(s). Como era Abençôo Lêem Vôos Como fica Abençoo Leem Voos 4. Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/para, péla(s)/pela(s), pêlo(s)/pelo(s), polo(s)/pólo(s) e pêra/pera. Atenção: Permanece o acento diferencial em pôde/pode, e também os acentos que diferenciam o singular e o plural dos verbos ter e vir. FONTE: GUIA PRÁTICO DA NOVA ORTOGRAFIA MICHAELIS, Douglas Tufano – Editora Melhoramentos repo rta gem março 2009 getulio 47