Direito a moradia e Mediação na EPC- estudo dos programas de TV “Estação Periferia” e “Cidades e Soluções” Vinícius OLIVEIRA1 1 Mestrando em “Comunicação e Sociedade” PPGCOM da Universidade Federal de Sergipe– São Cristóvão- SE [email protected] INTRODUÇÃO As cidades que eram as moradas dos trabalhadores para a exploração no local de trabalho de suas forças converte-se em mais um objeto de exploração. A organização espacial, o meio ambiente, acesso à bens públicos (seja escola, creches, posto de saúde), proximidade do centro ou de paisagens urbanas simbólicas para o sistema (como Shoppings) ou ambientais (como praias, rios etc) viram valoração monetária e mais motivos de exclusão social e remoções. Neste cenário, os trabalhadores são obrigados a morar cada vez mais distantes do centro e ocupar terrenos, sem a posse legal das terras, majoritariamente em condições desumanas e fundar suas moradias (DAVIS,2006) O direito a moradia, o ato de habitar e todos os outros direitos pressupostos está relacionado ao valor de uso. Mas na cidade do capital a relação é hierarquizada pelo valor de troca, que transforma a moradia em seu espelho, a mercadoria (CARLOS,2011). O direito a moradia também não pode ser resumido ao simples fato de ter um teto físico, é necessário levar em conta a qualidade deste direito, seja em sublocações ou locações precárias (conhecidas como favelas ou cortiços) porque a negação efetiva deste direito constitui-se um dos maiores problemas sociais do Brasil (MARICATO,2000). A favela, a periferia, a cidade e os pobres voltam a ser personagens nos produtos midáticos brasileiros através da inclusão pelo consumo, política econômica efetivada pelo governo Lula da Silva em 2002, explodindo em filmes, e programas de televisão, como o “Esquenta!”(MARTINS,2015). Com discurso ideológico em dar voz aos favelados e periféricos, o que percebemos é a manutenção da hegemonia baseada na diversidade cultural, que abrange o conceito de Gilberto Freire de uma multiplicidade de raças e culturas possivéis de convivência pacífica em nome de uma identidade nacional brasileira, e também na visibilidade afirmativa, termo que elucida o processo do capital de transformar sujeitos historicamente oprimidos em novos nichos de consumidores através da mercantilização de suas características particulares (ROCHA,2013). O processo de entrada das discussões da cidade e da periferia na agenda midiática explica-se pela necessária mediação que o capital exerce para a manutenção da sua hegemonia.Ou seja, o capital não existe no abstrato, ele forma-se através da apropriação da cultura popular através da acumulação primitiva do conhecimento, metamorfoseando em cultura de massas, na indústria cultural cumprindo o efetivo papel de mediação entre os interesses do capital e os anseios e necessidades da classe trabalhadora ( BOLAÑO, 2015) O processo de subsunção da cultura pela economia capitalista, elabora a subsunção do trabalho cultural, porque o capital precisa ter um rosto humano para mediar com os seres humanos,precisa apropriar-se do seu carisma e audiência para a naturalização da sua hegemonia. 1 Mas a contradição é que o trabalho cultural não pode ser totalmente subsumido, este fato concretiza-se pela sua condição monopolista (BOLAÑO,2015) O objetivo desse resumo expandido é analisar os programas de televisão “Estação Periferia” e “Cidades e Soluções” que abordam a temática da cidade e da periferia e desta forma, avaliar como a categoria direito a moradia, mediação e subsunção do trabalho intelectual é visualizado de forma direta ou transversal em seus programas. MATERIAL E MÉTODOS Este é um trabalho de análise dos programas de televisão “Estação Periferia” da TV Brasil e do “Cidades e Soluções” da GloboNews sobre o modo como o direito a moradia, enquanto categoria, é abordado em seus programas disponibilizados na internet. Além disso será realizado uma articulação entre uma bibliografia voltada aos estudos da urbanização do capital, com destaque para o trabalho “Planeta Favela” do autor Mike Davis (2006),“Cidades Rebeldes” organização de David Harvey, artigos de Ermínia Maricato, Ana Fani Carlos, entre outros sendo posto de forma dialética com o conceito de mediação e subsunção do trabalho cultural trabalhado por César Bolaño, com destaque para o livro “Campo Aberto- Para a Crítica da Epistemologia da Comunicação” (2015) e da dissertação de mestrado de Bruna Távora, intitulada “Hegemonia e Mediação- um estudo sobre o trabalho cultural no programa de TV Esquenta”. RESULTADOS E DISCUSSÃO A cidade sempre foi cenário,nunca sujeito. Programas que discutem a cidade e a periferia ainda são praticamente inexistentes na programação da televisão brasileira, seja aberta ou segmentada. O analfabetismo urbano (Maricato,2013) ou seja, a falta de percepção do espaço urbano também como direito, é tática preponderante do capital para o não questionamento das espoliações sofridas pela classe trabalhadora. Mas quando o tema entra na agenda de um programa de TV pública e outro de TV segmentada, quais são os interesses, os enfrentamentos, os desafios? Um programa idealizado por moradores da periferia e trabalhadores da cultura em uma TV estatal nacional sem uma obrigação de rendimentos em publicidade, visualizando dar voz e visão aos periféricos é um breve resumo do “Estação Periferia” apresentado pelo sergipano Hot Black. Abordando a cultura periférica, o racismo, a diversidade artística, e suas problemáticas, o programa parece buscar empoderar os sujeitos. O programa “Cidades e soluções” apresentado pelo experiente jornalista André Trigueiro da GloboNews, TV segmentada ligada ao monopólio da rede Globo, encara problemáticas urbanas através do recorte do jornalismo ambiental e buscando “soluções” e exemplos em outros países do mundo. CONCLUSÕES Com diferenças conceituais e de proposições, o “Estação Periferia” realizado pela parceria da Fundação Aperipê de Sergipe e pela TV Brasil, protagonizado por um rapper de Aracaju aborda a periferia através do olhar cultural do Hip Hop e da visibilidade afirmativa. Enquanto o programa de TV “Cidades e Soluções” da GloboNews, pertencente as organizações Globo, aborda as grandes problemáticas urbanas através dos grandes temas que tomam a agenda mundial, como as questões ambientais, seja no concerne ao lixo, à água ou a uso de veículos não motorizados. Ambos os programas abordam o espaço urbano e dão um tom próprio a problemas sociais com públicos-alvos distantes, seja pela linguagem, seja pelas temáticas. A Indústria Cultural é a instância de mediação característica do capitalismo monopolista, a forma especificamente capitalista de produção e difusão dos bens culturais, que se estrutura a partir da apropriação pelo capital cultural (no sentido de Marx, não de Bourdieu), da cultura popular, através do trabalho cultural que ela emprega. Sua origem é a cultura popular tradicional, como bem explicita Barbero, ou Morin, seja aquela cultura popular estudada por E. P. Thompson, que o autor cita, seja, como me praz recordar, a cultura popular operária que Hobsbawn ( 1987) estuda,tratando das origens do futebol ou da gastronomia popular inglesa do fish and chips da porta da fábrica.”(Bolaño,2015) Programas que partem de identidades e objetivos distintos devem ser analisados não somente pelo papel que cumprem a partir das suas condições, mas também pelos limites e estrategias. Coloca-los no mesmo bojo seria de erro brutal. Por isto o presente artigo pretende não fazer uma análise puramente comparativa, mas uma análise dos programas através da economia política da comunicação e da cultura. REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor W. HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991. BOLAÑO, César (org.). Comunicação e a Crítica da Economia Política: perspectivas teóricas e epistemológicas. 1ª Ed. São Cristóvão: Editora UFS, 2008. ______. Indústria Cultural, Informação e Capitalismo. 1ª Ed. São Paulo: Editora Hucitec/Pólis, 2000. ____________. Campo Aberto- Para a Crítica da Epistemologia da Comunicação. 1ªed. Aracaju: Edise, 2015. CARLOS, Ana Fani Alessandi. A cidade. 9ª Ed. – São Paulo: contexto, 2011. DAVIS, Mike. Planeta Favela. Trad. Beatriz Medina. 1ª Ed. São Paulo: Boitempo, 2006. HARVEY (org). David. Cidade Rebeldes. São Paulo. 1ªed. Boitempo, 2013. LEVEBVRE, Henri. A cidade do capital. Trad. Maria Helena R. Ramos. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. MARICATO, Ermínia. Urbanismo na periferia do mundo globalizado: metrópoles brasileiras. São Paulo: Em perspectiva, vol. 14, n.º 4, out./dez. 2000, p. 21- 33. MARTINS,T. Bruna. Hegemonia e mediação: um estudo sobre o trabalho cultural a partir do programa de tv esquenta.2015. Dissertação (Mestrado em Comunicação) -Universidade Federal de Sergipe. ROCHA, Maria Eduarda. O Núcleo Guel Arraes da Rede Globo e a consagração cultural da “periferia”. In: 36º Encontro Anual da Anpocs, São Paulo, 2013