Centro Universitário de Caratinga - UNEC Programa de Pós-Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade Mestrado Profissional ANIELY CONEGLIAN SANTOS PERCEPÇÃO DAS FAMÍLIAS DO PROCESSO DE REALOCAÇÃO DECORRENTE DA INSTALAÇÃO DA USINA HIDRELÉTRICA DE BAGUARI NO MUNICÍPIO DE PERIQUITO MG CARATINGA Minas Gerais - Brasil Dezembro, 2009 Centro Universitário de Caratinga - UNEC Programa de Pós-Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade Mestrado Profissional ANIELY CONEGLIAN SANTOS PERCEPÇÃO DAS FAMÍLIAS DO PROCESSO DE REALOCAÇÃO DECORRENTE DA INSTALAÇÃO DA USINA HIDRELÉTRICA DE BAGUARI NO MUNICÍPIO DE PERIQUITO MG Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Caratinga, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade, para obtenção do Título de Magister Scientiae. Orientadora: Prof. D.Sc. Pierina German Castelli CARATINGA Minas Gerais - Brasil Dezembro, 2009 AUTORIZO A REOPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Catalogação na publicação Serviço de Pós Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade Universidade de Caratinga – UNEC Santos, Aniely Coneglian. Percepção das famílias do processo de realocação decorrente da instalação da Usina Hidrelétrica de Baguari no município de Periquito – MG. Aniely Coneglian Santos. ____ Caratinga: UNEC, 2009, 150p. 1 Impactos Socioambientais 2 Hidrelétrica 3 Realocação 4 Lugar 5 Legislações Ambientais 6 Atingidos por Barragens CDD: ANIELY CONEGLIAN SANTOS PERCEPÇÃO DAS FAMÍLIAS DO PROCESSO DE REALOCAÇÃO DECORRENTE DA INSTALAÇÃO DA USINA HIDRELÉTRICA DE BAGUARI NO MUNICÍPIO DE PERIQUITOMG APROVADA EM: Prof. D.Sc. Pierina German Castelli (Orientadora) Prof.PhD. Franklin Daniel Rothman (Convidado) Prof. D. Sc. Marcos Alves Magalhães (Convidado) Prof. D.Sc. Leopoldo Loreto Charmelo (Convidado) ii A Ponte A necessidade de crescimento Pessoal, empresarial De dirigentes e dirigidos De nação, mundo De se emparelhar as nações Nações do mundo Modernidade Aumento populacional Diversificação industrial Demanda energética Energia gerada pelas barragens hidrelétricas Energia humana, espiritual Energia contida em nós Nossas casas, nossas coisas Nossa jarra, nosso alimento Nossa ponte que nos leva A outras situações A outras pontes... A outros sistemas A outros ecossistemas... E o homem, sua família Sua história, seus relacionamentos Psicossociais, sua escola, seu vizinho Sua parteira, curandeiro Seu hospital Suas plantas, seu pomar... E a flora e a fauna?... O desenvolvimento global É justo e necessário. Que o homem Principal ator desse desenvolvimento Seja colocado em lugar de destaque Com respeito, transparência, justiça Sem ferir seu mundo Sua esperança...sua alma! Anna Maria Moreira iii AGRADECIMENTOS A Deus, por me guiar até aqui! Aos meus pais, exemplo de dedicação luta, e grandes incentivadores desta e de tantas outras trajetórias de conquista em minha vida. Muito Obrigada! Ao meu irmão Vinícius, pela demonstração de sabedoria e apoio. Você é um exemplo. Obrigada por tudo!! Ao meu esposo Bruno, pela atenção, carinho, dedicação e compreensão que se refletiu em todos os momentos em que estive ausente. Também agradeço ainda pela sua presença diante dos trabalhos de campo. Obrigada, amor! À Professora Pierina, por ter assumido no meio desta trajetória a orientação desta pesquisa. Obrigada pela atenção! Ao Professor Luiz Cláudio, o qual foi o grande incentivador desta pesquisa. A Kelly, minha amiga, “companheira” e acima de tudo pessoa que me estimulou a nunca perder minha indignação diante das atitudes injustas durante o processo de construção deste estudo. Valeu amiga! Ainda escreveremos nosso livro! A Telma, amiga de profissão e grande espelho para meus projetos na Saúde Pública. Obrigada pelos livros, sugestões e orientações conferidas durante o processo de elaboração de minha Dissertação! iv Verônica, pessoa fundamental que me auxiliou na tradução dos dados, formatação da dissertação! Meu muito obrigada! Viviane e Jehonathan, obrigada pelo apoio nas pesquisas de campo. A professora Michelle que contribuiu com seus conhecimentos. Não poderia deixar de agradecer aos meus amigos Ângela e Adelmo, que se dispuseram com grande prazer a auxiliar na fase final da coleta dos dados. À Josiane, companheira, que algumas vezes me substituiu no trabalho enquanto estive ausente para realização da pesquisa. Obrigada pelo apoio! Aos amigos Nereu e Sabrina por me auxiliarem no momento de conclusão dessa pesquisa. À Tia Ana, pessoa inspiradora, e grande incentivadora! Obrigada pelo carinho! Libera, representante da população estudada, foi exemplo de luta e conquistas diante de todo esse processo de implantação da UHE. À todos os representantes das famílias em estudo, por terem aberto as portas de suas casas para a realização desta pesquisa. Meu muito Obrigada! Sem a colaboração de vocês nada disso seria possível! A Dona Maria, que com seu carinho, e atenção, abriu as portas da sua casa para nos acolher durante as fases de pesquisa. As minhas amigas do Mestrado que compartilharam comigo os finais de semana, no trajeto Ipatinga-Caratinga, e em sala de aula. Também não poderia deixar de agradecer à Sandra Murta, pessoa que não conheço pessoalmente, mas que contribuiu de maneira fundamental enviando prontamente sua Dissertação de Mestrado. Enfim, a todos os amigos que direta ou indiretamente contribuíram para a concretização desta pesquisa. Concluímos mais uma fase de estudos!!! v SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS .......................................................................X LISTA DE ABREVIATURAS .......................................................... XI RESUMO ...................................................................................... XIII ABSTRACT .................................................................................. XV APRESENTAÇÃO ...................................................................... XVII INTRODUÇÃO ................................................................................ 1 CAPÍTULO 1 ................................................................................... 9 REALOCAÇÃO DE FAMÍLIAS NA IMPLANTAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS HIDRELÉTRICOS ...................................... 9 1.1 HISTÓRIA DA ENERGIA HIDRELÉTRICA .............................................................. 9 1.1.1 O Marco do Referencial Hidrelétrico Brasileiro ........................................11 1.2 CLASSIFICAÇÃO DE USINAS HIDRELÉTRICAS ...................................................16 1.3 IMPACTOS SOCIAIS NO PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DE USINAS HIDRELÉTRICAS .......................................................................................................18 1.4 ESPAÇO, LUGAR E TERRITÓRIO: INFLUÊNCIAS SOBRE A SOCIEDADE ..................24 1.4.1 A busca da sociedade em defesa da Terra ..............................................27 1.4.2 A Importância da Comissão Mundial de Barragens diante de empreendimentos hidrelétricos .........................................................................31 1.5 RELAÇÃO SOCIEDADE – NATUREZA .................................................................36 1.6 REALOCAÇÃO DE POPULAÇÃO .......................................................................38 1.6.1 Desapropriações ......................................................................................38 vi 1.7 REALOCAÇÃO DE POPULAÇÃO EM EMPREENDIMENTOS HIDRELÉTRICOS ............40 CAPÍTULO 2 ................................................................................. 43 MEDIDAS AMBIENTAIS ENVOLVIDAS NO PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA USINA HIDRELÉTRICA BAGUARI ............. 43 2.1 IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS POR IMPLANTAÇÃO DE HIDRELÉTRICAS E AS LEGISLAÇÕES ENVOLVIDAS ..................................................................................43 2.2 IMPACTOS ESPERADOS PELO EMPREENDEDOR DA UHE BAGUARI ....................52 2.2.1 Saúde .......................................................................................................52 2.2.2 Saneamento Básico .................................................................................53 2.2.3 Habitação .................................................................................................55 2.2.4 Educação .................................................................................................55 2.2.5 Recursos Hídricos e Agropecuária ...........................................................56 2.2.6 Segurança e Lazer ...................................................................................57 2.3 ACORDO FIRMADO ENTRE A POPULAÇÃO ALVO DE REALOCAÇÃO DA ÁREA URBANA E O EMPREENDEDOR ..............................................................................58 CAPÍTULO 3 ................................................................................. 60 O MUNICÍPIO DE PERIQUITO E A IMPLANTAÇÃO DA USINA.. 60 HIDRELÉTRICA DE BAGUARI ..................................................... 60 3.1 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PERIQUITO ...............................................60 3.2 A USINA HIDRELÉTRICA DE BAGUARI ..............................................................66 3.3 AS INTERFERÊNCIAS DA USINA DE BAGUARI EM PERIQUITO ..............................71 3.3.1 Realocação de famílias da Rua Francisco Diniz, Distrito de Pedra Corrida do município de Periquito ..................................................................................73 3.3.2 Realocação de famílias da Rua Beira Linha, sede do município de Periquito..................... .......................................................................................75 CAPÍTULO 4 ................................................................................. 77 ESTUDO DA REALOCAÇÃO DAS FAMÍLIAS AFETADAS PELA HIDRELÉTRICA DE BAGUARI NO MUNICÍPIO DE PERIQUITO 77 4.1 ESTUDO DAS FAMÍLIAS AFETADAS NA FASE DE PRÉ-REALOCAÇÃO ....................78 4.1.1 Grau de Insatisfação dos Moradores a serem Realocados .....................80 4.1.2 Grau de Satisfação dos Moradores a serem Realocados ........................94 4.2 ESTUDO DAS FAMÍLIAS AFETADAS NA FASE DE PÓS-REALOCAÇÃO, IDENTIFICANDO A PERCEPÇÃO DAS FAMÍLIAS EM RELAÇÃO AO SEU NOVO LOCAL DE MORADIA ..........99 vii 4.2.1 Grau de Insatisfação dos Moradores Realocados .................................100 4.2.1 Grau de Satisfação dos Moradores Realocados ....................................107 CONCLUSÃO.............................................................................. 111 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................ 115 ANEXOS ..................................................................................... 127 ANEXO 1 – QUESTIONÁRIO PRÉ-REALOCAÇÃO.....................................................128 ANEXO 2 – QUESTIONÁRIO PÓS-REALOCAÇÃO ....................................................129 ANEXO 3 – TERMO DE CONSENTIMENTO ..............................................................130 ANEXO 4 – PRÉ-REALOCAÇÃO: RUA FRANCISCO DINIZ (DISTRITO DE PEDRA CORRIDA): ........................................................................................................132 ANEXO 5 – PRÉ-REALOCAÇÃO: RUA BEIRA RIO (SEDE – PERIQUITO) ..............133 ANEXO 6 – INÍCIO DAS OBRAS NA ÁREA URBANA DE ALVO DE REALOCAÇÃO ...........134 ANEXO 7 – EVOLUÇÃO DAS OBRAS .....................................................................135 ANEXO 8 – CONCLUSÃO DAS OBRAS DE REALOCAÇÃO .........................................136 ANEXO 9 – EVOLUÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DAS USINAS HIDRELÉTRICAS NO BRASIL ...........................................................................................................137 viii LISTA DE TABELAS TABELA 1 - CLASSIFICAÇÃO DE USINAS HIDRELÉTRICAS QUANTO À POTÊNCIA....... 18 TABELA 2: MUNICÍPIOS AFETADOS PELO RESERVATÓRIO - EXTENSÃO LINEAR ........ 52 TABELA 3: TIPOLOGIA DAS CASAS PARA REALOCAÇÃO ................................................ 59 ix LISTA DE FIGURAS Figura 01: “prainha” ..................................................................................................................... 58 Figura 02: Local de implantação da UHE Baguari - Imagem de Satélite ................................... 61 Figura 03: Vista da sede do município de Periquito, à esquerda a BR 381 e a direita o Rio Doce. ........................................................................................................................................... 62 Figura 04: Vista Parcial da Rua Beira Linha sendo do município de Periquito .......................... 63 Figura 05: Rua Francisco Diniz , Distrito de Pedra Corrida, município de Periquito-MG. .......... 64 Figura 06: Rua Beira Linha , sede do município de Periquito-MG. (A) área a ser inundada ..... 65 Figura 07: Casas da Rua Beira Linha, sede do município de Periquito-MG .............................. 65 Figura 08: Casas da Rua Francisco Diniz, Distrito de Pedra Corrida, município de Periquito/MG. ..................................................................................................................................................... 66 Figura 09: Construção da Hidrelétrica de Baguari ...................................................................... 67 Figura 10: Construção da Hidrelétrica de Baguari ...................................................................... 68 Figura 11: Usina Hidrelétrica de Baguari, fase do enchimento do Reservatório. ....................... 68 Figura 12: Visão panorâmica da Usina Hidrelétrica de Baguari ................................................. 70 Figura 13: UHE Baguari após enchimento do reservatório. ....................................................... 70 Figura 14: UHE Baguari após enchimento do reservatório. ....................................................... 71 Figura 15: UHE Baguari após enchimento do reservatório. ....................................................... 71 Figura 16: Rua Francisco Diniz. Demonstrando a amplitude dos quintais, com muitas árvores frutíferas. ..................................................................................................................................... 81 Figura 17: Margem do Rio Doce com bote para travessia ......................................................... 92 Figura 18 Rua Francisco Diniz. Demonstrando as trincas do lado externo................................ 96 Figura 19: Casa da Rua Beira Linha. Demonstrando a precariedade das casas no local. ........ 97 Figura 20: Casas na Rua Beira Linha. Demonstrando a proximidade do Rio. ......................... 105 x LISTA DE ABREVIATURAS ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas ADA: Área Diretamente Afetada AE: Área de Entorno AI: Área de Influência ANEEL: Agência Nacional de Energia CEMIG: Companhia Energética de Minas de Gerais CMB: Comissão Mundial de Barragens CME: Companhia Mineira de Eletricidade CNEC: Empresa – CNEC – Engenharia S.A. CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente COPAM: Conselho de Política Ambiental COPASA: Companhia de Saneamento de Minas Gerais DIENE: Divisão de Infra-Estrutura de Energia DST‟s: Doenças Sexualmente Transmissíveis EIA: Estudo de Impactos Ambientais EPI‟s: Equipamentos de Proteção Individual FEAM: Fundação Estadual do Meio Ambiente FMI: Fundo Monetário Internacional IBAMA: Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis ICOLD: Comissão Internacional sobre Grandes Barragens INCRA: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IUCN: União Internacional para a Conservação da Natureza xi MAB: Movimento dos Atingidos por Barragens MAIA: Manual de Avaliação de Impactos Ambientais MME: Ministério de Minas e Energia NBR: Normas Brasileiras NEPA: National Environment Policy Act ONU: Organização das Nações Unidas PAC: Plano de Aceleração de Crescimento PIB: Produto Interno Bruto PND: Programa Nacional de Desestatização PNMA: Programa Nacional do Meio Ambiente RIMA: Relatório de Impactos Ambientais SISNAMA: Sistema Nacional do Meio Ambiente UHE: Usina Hidrelétrica xii RESUMO SANTOS, Aniely Coneglian. Centro Universitário de Caratinga, dezembro de 2009. Percepção das famílias do processo de realocação decorrente da instalação da Usina Hidrelétrica de Baguari no município de Periquito-MG. Professora Orientadora: D.Sc.Pierina German Castelli. Durante o século XX a energia elétrica foi considerada de importância nacional, e o Brasil, que possui um grande potencial hídrico, executou o planejamento do aproveitamento de todos os seus recursos para a instalação de várias hidrelétricas. Os impactos gerados por estes empreendimentos podem transformar a paisagem e principalmente, influenciar na maneira como os homens vivem e se organizam sobre determinados lugares. Diante destes aspectos, a presente pesquisa busca estudar o processo de realocação das famílias da região urbana afetadas pela instalação da UHE Baguari no município de Periquito/MG. Para a realização deste estudo, utilizou-se como base metodológica, entrevistas semi-estruturadas com a população diretamente afetada da área urbana, com análise qualitativa, e sendo caracterizado como estudo de caso. O período de levantamento dos dados ocorreu a partir de maio de 2007 a setembro de 2009, abordando 77 famílias alvo de realocação. Os resultados evidenciados com esta pesquisa, demonstraram a real necessidade de fontes de energia elétrica para estimular o desenvolvimento, porém estas podem ser obtidas de outras formas além da geração hidrelétrica, e que apesar de toda melhoria que tem sido realizada nos xiii processos de implantação de Hidrelétricas, os transtornos ocasionados em relação a realocação de populações sempre vão existir, mas se houver a participação popular desde o princípio destes processos os impactos serão minimizados. Palavras-chave: Impactos Socioambientais; Hidrelétrica; Realocação; Lugar; Legislações Ambientais; Atingidos por Barragens xiv ABSTRACT SANTOS, Aniely Coneglian. Centro Universitário de Caratinga, December 2009. Perception of the families of the relocation process resulting from the installation of Power Plant in the city of Baguari Periquito – MG. Professor: D. Sc. Pierina German Castelli. During the twentieth century, electrical power was considered nationally important, and Brazil, which has a great hydric potential, executed the planning of using all its resources for the settlement of many power plants. The impact caused by these enterprises can transform the landscape and mainly influence the way mankind live and organize itself in specific places. Considering these aspects, the current research seeks to study the process of realocation of the urban families affected by the settlement of Baguari Power Plant in the town of Periquito / MG. For the realization of this study, semi-structured interviews with directly affected people in the urban area were used as methodological basis with qualitative analysis and being characterized as a case study. The period of data raising occurred from May 2007 to September 2009, approaching 77 families target of realocation. The results of this research showed the real necessity of power sources to stimulate the development, but these ones can be obtained fromother forms besides hydroelectrical generation, and that, despite all the improvements that have been made in the processes of the power plants settlement, the troubles regarding the realocation of populations xv are always going to exist, but if there is people participation since the beginning of these processes, the impacts are going to be minimized. Key words: Dams; Socio-environmental Impacts; Power Plant; Realocation; Place; Environmental Legislation. xvi APRESENTAÇÃO O estudo surgiu através da vivência e experiência do trabalho de Consultoria realizado durante a fase do Mestrado em Meio Ambiente, que despertou o interesse em conhecer o modo de vida de uma determinada população angustiada diante dos possíveis impactos que poderiam sofrer com a implantação de uma Usina Hidrelétrica local. Esta pesquisa traduz o esforço empreendido nos últimos anos para elaboração e desenvolvimento de um estudo diante das situações vividas por uma comunidade afetada pela implantação da Usina Hidrelétrica de Baguari, onde está voltada para os aspectos relacionados às questões da realocação de diversas famílias residentes em área urbana. A população em estudo apresenta sua característica histórica, de um povo que durante anos e anos foi “esquecido” por um grande processo evolutivo, apresentando um “lugarejo” repleto de vivências (porém como se estivesse “parado” no tempo). A simplicidade e mesmo ingenuidade presentes na comunidade não impediu que esta se organizasse para ter sua representatividade expressa diante da transformação que ocorreria neste lugar e que iriam mudar de modo radical suas vidas. O contato contínuo por dois anos e meio de estudo, trouxe um aprendizado diferenciado, onde os aspectos profissionais foram estimulados e a impressão pessoal foi marcada pela necessidade de se resgatar as coisas simples da própria vida, presentes no nosso cotidiano e que por muitos e xvii muitos momentos passaram despercebidas na correria do dia a dia, como conseqüência do processo de desenvolvimento. xviii INTRODUÇÃO Durante o século XX a energia elétrica foi considerada de importância nacional, e o Brasil, que possui um grande potencial hídrico, executou o planejamento do aproveitamento de seus recursos hídricos com a instalação de várias hidrelétricas (BERMANN e FERNANDES, 2004). Para a Comissão Mundial de Barragens (CMB), estas podem gerar benefícios para a agricultura de irrigação, para ajudar a controlar inundações e gerar energia elétrica, por outro lado podem desencadear grandes processos desastrosos e irreversíveis, como alterar e desviar os rios, produzindo impactos significativos nos meios de subsistência e no meio ambiente (CMB, 2000a). Os impactos gerados por estes empreendimentos – entre outros vários, fundamentalmente a inundação de áreas - podem transformar a paisagem e a forma de exploração dos recursos naturais e, principalmente, influenciar na maneira como os homens vivem, exploram e se organizam sobre determinados lugares. Na área social, existem vários impactos que podem modificar o perfil da sociedade de cada local atingido por este processo. Segundo Piacenti et al. (2003), os maiores impactos desencadeados são os de reassentamentos, desapropriações e migrações que podem alterar a dinâmica demográfica e de vida. O movimento populacional pode ser caracterizado pela demanda de mão-de-obra para a construção das barragens, pela transferência de famílias do seu lugar de origem e suas historias pela dinamização do comércio e da indústria local com os fluxos migratórios. 1 Neste contexto, a proposta é analisar todo o processo de realocação das famílias referentes à área urbana que estão sendo afetadas pela instalação da Usina Hidrelétrica (UHE) de Baguari, que residem ou residiam especificamente nas Ruas Francisco Diniz situada no Distrito de Pedra Corrida e Beira Linha na sede do município de Periquito, desde o momento da negociação, a mudança do lugar de origem, e a avaliação do novo lugar de moradia. A expectativa deste trabalho é que se possa demonstrar a relevância sobre os aspectos que envolvem todo o processo de mudança de lugar das famílias que são diretamente atingidas por estes empreendimentos, contribuindo assim para a melhoria da qualidade da avaliação e monitoramento dos impactos ambientais no setor. Historicamente, tem ocorrido uma grande expansão do setor energético no Brasil, uma vez que este possui um grande potencial hídrico. Esta evolução tem gerado situações de conflito direto ou latente em diversas comunidades que são diretamente atingidas pela instalação de Usinas Hidrelétricas (UHE). Entre as principais interferências diretas e indiretas advindas da implantação de Usinas Hidrelétricas nas comunidades, destacam-se: a realocação de populações para outras regiões. A análise da realocação de famílias que são afetadas pela instalação de UHE, se faz necessário para compreender quais impactos sociais são gerados por conseqüências de um empreendimento como este, onde muitas vezes pode ocorrer a ruptura expressiva nos estilos de vida destas famílias. Atualmente no Brasil, tais impactos sociais podem apresentar um significativo aumento, uma vez que o país optou por priorizar a geração de energia elétrica a partir dos recursos hídricos. Segundo Parmigiani (2006), apesar do vasto material sobre Hidrelétricas, existem poucas pesquisas analisando de forma global o processo de realocação das famílias que sofrem com a implantação destes empreendimentos, ou seja, envolvendo desde a negociação, a fase que antecede a “mudança de lugar”, até a fase de adaptação ao novo local de moradia. Normalmente, os estudos restringem-se apenas à avaliação dos impactos e, posterior definição de medidas ambientais voltadas para a negociação e a realocação, negligenciando o acompanhamento pós-início da operação do 2 empreendimento até sua finalização. Alguns estudos deveriam ser realizados a fim de examinar histórias de vida das famílias destes lugares a serem afetados. Diante do exposto, no intuito de fornecer maiores subsídios sobre todo o processo que engloba a mudança de lugar das famílias afetadas por este tipo de empreendimento, pensando na expansão energética que o país está vivenciando, houve o interesse e motivação para a elaboração desta pesquisa. Como diz Turatti (2001, p.01), “a energia também é objeto do campo social”, portanto observar este contexto social é fundamental para amenizarmos os impactos referentes às transformações geradas por novas hidrelétricas. Optou-se por analisar as famílias que residem no município de Periquito porque este faz parte da Área Diretamente Afetada (ADA) que se localiza a montante da instalação da UHE de Baguari, e que apresentará impactos relevantes na realocação de famílias diante da expectativa do empreendedor. Neste trabalho colocamos como objetivo geral estudar o processo de realocação das famílias da região urbana afetadas pela instalação da UHE Baguari, residentes nas ruas Beira Linha, localizada no distrito sede do município de Periquito e Francisco Diniz, localizada no Distrito de Pedra Corrida deste município. Para tal colocamos como objetivos específicos: 1) Caracterizar os aspectos socioeconômicos do município de Periquito e as interferências que poderão surgir a partir da implantação da Usina Hidrelétrica de Baguari 2) Analisar os aspectos e impactos sociais, bem como a efetividade das medidas ambientais envolvidas no processo de implantação da Usina Hidrelétrica de Baguari referente à realocação das famílias, no período de maio de 2007 até junho de 2009; 3) Descrever o grau de satisfação e ou insatisfação das famílias antes e após a realocação. 4) Identificar a percepção das famílias alvo de realocação em relação ao seu novo local de moradia Atualmente o país tem buscado padrões adequados de sustentabilidade energética, mediante tantas transformações, mas preservando o enfoque ambiental, a análise dos fenômenos que envolvem os agentes sociais tem ganhado relevante espaço, o que desperta o interesse na abordagem das diferentes problemáticas que abordam os impactos socioambientais de um empreendimento hidrelétrico. 3 Tendo em consideração a necessidade de aprimoramento do setor energético com a finalidade de se atingir as metas de desenvolvimento econômico que se colocou o país, o presente estudo buscou contemplar a identificação real das questões que influenciam no processo de realocação aplicando nesta pesquisa um caráter qualitativo e exploratório, sendo o delineamento da pesquisa adotado como estudo de caso, abordando a análise da realocação de famílias na área urbana do município de Periquito, focando a área diretamente afetada pela instalação da UHE de Baguari, a partir das experiências, sentimentos, visão e satisfação diante do processo de negociação e realocação da população diretamente afetada. De acordo com Gil (1999, p.41), as pesquisas exploratórias, têm como objetivo “proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a tornálo mais explícito”. Neste tipo de pesquisa está incluso levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos. Segundo Silva (2001) a pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem. As famílias alvo de realocação que foram avaliadas residem ou residiam especificamente na Rua Francisco Diniz e Rua Beira Linha, assim sendo a pesquisa foi realizada com as famílias que residem ou residiam nas respectivas ruas a partir do início das obras, que ocorreram em maio de 2007. Conforme dados levantados a partir do Termo de Acordo com as famílias a serem realocadas e o Consórcio Baguari, constavam 16 famílias pertencentes à Rua Beira Linha e 61 famílias referentes à Rua Francisco Diniz; totalizando um número de 77 famílias a serem acompanhadas. De acordo com CNEC (2002), quando da realização da pesquisa para a elaboração do EIA foi solicitada a participação de um representante de cada família do processo. 4 A amostra estabelecida para o estudo foi de 30% (trinta por cento) das famílias alvo de realocação, porém foram realizadas 30 entrevistas em cada fase (pré-realocação e pós-realocação), sendo então contemplados aproximadamente 39% (trinta e nove) da amostra. Esta pesquisa foi realizada através de entrevistas elaboradas a partir de um questionário semi-estruturado, isto é, englobando perguntas abertas e fechadas, aplicados a um representante de cada família em questão, levando em consideração sua maioridade e vínculo com o proprietário ou responsável pelo imóvel. O modelo semi-estruturado é uma forma de poder explorar mais amplamente uma questão, permite ao entrevistado um discurso mais livre e, em geral, as perguntas são abertas (MARCONI e LAKATOS, 2005). A entrevista foi desenvolvida em duas etapas fundamentais, onde a primeira ocorreu em janeiro de 2009, antes da mudança do imóvel e em plena fase de construção das novas moradias onde denominamos de fase prérealocação, utilizou-se de um questionário contendo 10 (dez) questões abertas (ANEXO 1); a segunda etapa foi realizada após o processo de realocação e destruição da moradia antiga, sendo esta no período de setembro de 2009, onde denominamos de fase pós-realocação, onde utilizou-se de um questionário composto por 08 (oito) questões abertas e fechadas (ANEXO 2). Foram realizadas diversas visitas ao local de estudo, algumas enquanto a pesquisadora trabalhava com a equipe técnica contratada para a produção dos Relatórios de Monitoramento de Impactos Socioeconômicos pela AMPLO Consultoria, e outras pela própria pesquisadora para construção desta Dissertação, que ocorreram no período de março de 2007 a setembro de 2009. Houve participação da pesquisadora em reuniões com os representantes do empreendedor (Consórcio Baguari) no município de Governador Valadares, assim como visita ao sistema de barragem e reservatório, ao reassentamento rural dos meeiros, aos distritos e municípios afetados e principalmente as famílias alvo de realocação da área urbana, conforme fotos presentes nos ANEXOS 4 e 5. A percepção da fala dos “afetados” (atores da pesquisa) foram realizadas em diversas fases do estudo, compreendendo os momentos de reuniões, contatos telefônicos, e até mesmo na solicitação de permissão para a apresentação dos dados obtidos. 5 No estudo realizado pelo Empreendedor da Usina Hidrelétrica de Baguari, a classificação de remanejamento ficou assim definida: realocação, autorealocação, indenização em dinheiro e permuta. A Realocação se refere à mudança, para outro local, de todas as edificações, assegurando às mesmas condições verificadas durante o levantamento cadastral, sendo atualizadas até a data da efetiva negociação, onde ficou este fato definido entre a Associação de Moradores e o Consórcio. No que relaciona a Auto-Realocação abrange os afetados que optam por fazer a sua realocação para o novo local por conta própria, sendo responsabilidade deste pela construção de seu bem no novo lote, após receber do Consórcio o valor referente à avaliação dos padrões em que se encontram os bens. Já a Indenização em Dinheiro é a remuneração de bens atingidos pelo empreendimento. Se torna válida a partir da negociação entre as partes e acordo administrativo específico, após apresentação do Consórcio ao atingido da avaliação dos bens que este possui referente a área diretamente afetada. A Permuta consiste na troca dos terrenos atingidos pelos terrenos do novo sítio, buscando atender à equiparidade de área por área (CONSÓRCIO UHE BAGUARI, 2007). Na primeira fase as entrevistas foram realizadas no próprio domicílio, sendo estas no antigo local, onde a escolha de cada representante foi aleatória, independente de agendamento, ou sorteio. Na segunda fase das entrevistas, tentamos obedecer à reavaliação dos mesmos domicílios utilizados na fase pré-realocação, porém não foi possível contemplar a pesquisa com os mesmos 30 (trinta) representantes, onde 07 (sete) destes não foram entrevistados no primeiro momento. Os dados foram coletados mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO 3), contemplado pela Resolução nº 196/96, conforme Diretrizes e normas reguladoras de pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 1996). Durante a avaliação dos dados coletados e sua utilização na dissertação, foram preservadas as identidades de cada morador, onde foram citados nomes fictícios para designar determinadas pessoas. Foram levados em consideração os consensos e diferenças a partir dos depoimentos de cada entrevistado respeitando o grau de escolaridade e idade. 6 Para análise detalhada deste estudo, a pesquisadora fez uso de gravador e câmera fotográfica com permissão verbal dos entrevistados no intuito de enriquecer o trabalho realizado. Foram totalizados aproximadamente 650 (seiscentos cinqüenta) minutos de gravação. Após o término de cada entrevista foi feita a transcrição, seguida da análise das informações coletadas. Referente à primeira fase das entrevistas (pré-realocação), as questões abordadas, estavam relacionadas basicamente ao tempo de moradia, ao número de pessoas residentes no domicílio, a forma de aquisição do imóvel, ao sustento da família relacionado ao lugar de morada, foram também questionados sobre o sentimento de deixar o lugar, foi solicitado para resumir o que significa “mudança”, quais os aspectos positivos e negativos da mudança de lugar, o grau de satisfação da negociação sobre realocação e indenizações, e qual a expectativa da nova moradia, conforme demonstrado no ANEXO 1. Na segunda fase das entrevistas (pós-realocação) foram abordadas questões referentes aos aspectos sociais da relação com a mudança do espaço habitacional e sua influência sob a vida destas famílias; avaliando o grau de satisfação no processo de negociação da realocação; quais as condições habitacionais da nova moradia; se o novo local de moradia facilitaria ou dificultaria o acesso ao comércio, saúde, educação e trabalho; se a percepção de mudança de lugar é positiva ou negativa para a família; quais as facilidades ou dificuldades encontradas desde o momento da negociação até a mudança habitacional, os aspectos da negociação da realocação, conforme demonstrado no ANEXO 2. Através deste contexto abordado pode-se estudar e compreender as relações envolvidas no processo de realocação de famílias afetadas pela relativa barragem. Este trabalho foi estruturado em quatro capítulos. No primeiro capítulo encontra-se a questão inicial para esta pesquisa que desenvolve os aspectos da realocação de famílias no processo de implantação de hidrelétricas, onde se aborda a história da energia elétrica no Brasil, a classificação de hidrelétricas e os impactos sociais ocasionados por estas. No segundo capítulo se destaca a apresentação dos impactos ambientais desencadeados pela implantação de Hidrelétricas, e as principais legislações 7 envolvidas em todo processo, e os impactos esperados coma implementação da UHE Baguari. No terceiro capítulo é abordado a caracterização do município de Periquito e seu Distrito de Pedra Corrida, sua localização e as principais influências que podem ocorrer com o empreendimento da UHE Baguari, assim como também todo o contexto do processo de construção da Usina. Para finalizar, o quarto capítulo aborda a questão alvo desta pesquisa, que é o estudo da realocação em área urbana das famílias afetadas pela UHE Baguari, onde foi abordado o grau de satisfação dentro dos aspectos positivos e negativos da realocação. 8 CAPÍTULO 1 REALOCAÇÃO DE FAMÍLIAS NA IMPLANTAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS HIDRELÉTRICOS 1.1 História da Energia Hidrelétrica A Energia compõe um dos ingredientes essenciais à evolução e vida humana. Nas sociedades primitivas seu custo era praticamente zero. Antigamente, a energia era obtida da lenha das florestas para aquecimento e atividades domésticas. Porém, gradativamente, o consumo de energia foi crescendo de forma expressiva, até que outras fontes se tornaram necessárias. Na Idade Média, as energias de cursos de água e dos ventos foram utilizadas, mas em quantidades insuficientes para suprir as necessidades de populações crescentes, principalmente nas cidades (GOLDEMBERG e LUCON, 2007). Com a evolução tecnológica, o homem passou a desenvolver novos recursos para melhorar sua qualidade de vida; mas as descobertas ou as criações realizadas por este podem afetar, de forma profunda, ampla e generalizada, os conhecimentos, os costumes e as práticas cotidianas do seu meio. De acordo com Silva Filho (2003), o uso da energia da água fluindo de rios (mesmo princípio utilizado atualmente nas hidrelétricas) tem sido feito há cerca de 3.000 anos. 9 Para Sevá (2008) a ação de barrar rios e conduzir a água para outros pontos de utilização ou aproveirtar sua força motriz já era praticado há milênios, onde existem registros das obras do império, os arquedutos romanos; sendo que sua forma de utilização é que vem sendo aprimorada. Houveram grandes avanços tecnológicos em toda a história humana, e o Brasil também acompanhou esta evolução, onde a industrialização cresceu de forma expressiva como reflexo da globalização capitalista, na tentativa de suprir as necessidades humanas através dos recursos naturais que possui.Estas alterações estão relacionadas a processos desencadeados na natureza devido à ação humana direta. Para que essa revolução tecnológica ocorresse de forma marcante levando à melhora social, foi fundamental o papel da energia elétrica, que simbolizou expressivamente o progresso para muitos. A energia elétrica pode ser obtida através de usinas hidrelétricas, usinas eólicas, usinas termonucleares, e termoelétricas, sendo que no Brasil a forma mais utilizada é a energia hidrelétrica, devido aos abundates recursos hídricos existentes (PIACENTI et al., ibid). Segundo Bermann (2007), a hidroeletricidade se constitui numa alternativa de obtenção de energia elétrica a partir do aproveitamento do potencial hidráulico de um determinado trecho de um rio, normalmente assegurado pela construção de uma barragem e pela conseqüente formação de um reservatório. Para Barcellos (2007), o desenvolvimento é um fenômeno social e não simplesmente natural, a tentativa de relacioná-lo aos processos naturais é um tanto quanto problemática, pois as relações sociedade/natureza são mediadas pela tecnologia e pelo mercado que são fenômenos sociais. Percebe-se que atualmente, quanto melhor é a qualidade de vida de uma população, maior será o seu consumo de energia, ou seja, quanto mais uma sociedade se desenvolve, a demanda de energia aumenta, fornecendo maior conforto para esta (SILVA FILHO, ibid). É óbvio que viver em um país rico ou pobre não determina especificamente o consumo de energia de uma pessoa, pois se deve atentar às desigualdades sociais, uma vez que ricos e pobres de um mesmo país consomem energias de forma desiguais, até mesmo por 10 conseqüência de como estas obtêm este recurso, assim como seu custo específico também pode influenciar no uso desta. É notável os caminhos adversos que o desenvolvimento tecnológico reflete diante da sociedade global, expresso pelas divergências culturais, políticas e sociais das relações do homem com o meio ambiente (MONTE, 2005). Dentro deste contexto se faz necessário a ampliação de estudos, na busca de compreender a relação sociocultural que pode ser afetada por um processo de mudança de lugar, devido à influência tecnológica vivida pela sociedade atual. 1.1.1 O Marco do Referencial Hidrelétrico Brasileiro No Brasil, a exploração elétrica de forma hidráulica iniciou-se em 1883, com a instalação da Usina Hidrelétrica Ribeirão do Inferno, destinada ao serviço de mineração em Diamantina – Minas Gerais, porém para fins públicos essa história se inicia em fevereiro de 1888 com a Companhia Mineira de Eletricidade (CME) (TONIOLO, 2006). Até a década de 1930, a energia elétrica no Brasil era de domínio estrangeiro, onde se destacou nessa época a empresa Light, com suas outras filiadas no Brasil, focando Rio de Janeiro, São Paulo e cidades ao redor. A política de industrialização, nacionalismo visando o desenvolvimento almejado por Vargas atingiu em cheio o setor de energia, estimulando a criação de Hidrelétricas (ROCHA, 2008). A regulamentação do setor elétrico no país iniciou-se com o Decreto Federal nº 24.643, de 10 de julho de 1934 - Código de Águas, onde caracterizou o projeto que colocaria uma grande intervenção na gestão do setor de águas e energia elétrica, as concessões e autorizações nos serviços públicos de energia elétrica passaram a ser de competência da União (BANCO MUNDIAL, 2008). No período entre 1930 a 1945, Getúlio Vargas incentivou o crescimento econômico autônomo, tornando-se de 11 fundamental importância, pois caracterizou mudanças institucionais que levaram à uma grande centralização na tomada de decisões referente a esfera federal, em concordância com as mudanças estruturais do estado brasileiro (SANTOS, 2003). No Brasil uma das principais mudanças foi referente à expansão de usinas hidrelétricas, decorrente do aproveitamento do grande potencial de bacias hidrográficas. No período do regime militar, por volta dos anos de 1960, os projetos hidrelétricos de grande porte começaram a ter preferência, com criação de companhias estaduais de energia elétrica e da Central Elétrica de Furnas. Esta fase caracterizou uma modernização e desenvolvimento na produção industrial com ampliação importante destas (BANCO MUNDIAL, ibid). O ano de 1961 foi o marco da participação do poder público na economia referente ao setor elétrico, através da criação do Ministério de Minas e Energia (MME), levando ao fortalecimento das concessionárias públicas (TONIOLO, ibid). O modelo econômico militar após o golpe de 1964 focou o aceleramento do crescimento econômico, com o incentivo da expansão industrial, com a territorialização de grandes indústrias e a implantação de obras grandiosas. Entre as décadas de 1960 e 1970, “barragens e outros projetos de grande escala tiveram impactos adversos sobre recursos naturais, ecossistemas, meios de subsistência e estilos de vida de pessoas nas comunidades do Brasil” (ROTHMAN, 2008, p. 20). A década de 1960 também foi marcada pela criação das Centrais Elétricas do Brasil - ELETROBRÁS, intensificando o aproveitamento da energia produzidas por hidrelétricas (SILVA, 2003). A Eletrobrás, através da aquisição de algumas empresas também empenhadas no quadro de expansão com a construção de novas hidrelétricas, expressou nesse período uma grande fonte geradora de energia, mas apesar de suas empresas adquiridas, essa demanda gerou a execução de outros grandes projetos (SAMPAIO et al., 2005). Em abril de 1973, os governos do Brasil e Paraguai, realizaram um acordo para a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, utilizando como recurso hídrico o rio Paraná, com potencial de instalação equivalente a 12.600 MW de potência, na época equivalente 75% de capacidade de geração nacional (LAMARÃO, 1997). 12 Com esta expansão da economia, houve um consumo de energia elétrica com taxas elevadas até 1980, o que massificou os investimentos em geração de energia elétrica no Brasil (LAMARÃO, ibid). Neste período, não haviam ações expressivas voltadas à preservação do meio ambiente, e as construções de Usinas Hidrelétricas eram propostas como um marco do processo de desenvolvimento, sem preocupações com as alterações e mudanças que viessem a ocorrer no ambiente natural. Muitos idealizavam estas construções como algo evidentemente positivo, porque trazia desenvolvimento da região e o conseqüente bem-estar da futura população, porém, ainda não havia um olhar voltado para os verdadeiros atingidos com estas construções (COLITO, 1999). Segundo Rothman (ibid), em 1981 foi criada a Política Nacional do Meio Ambiente, no intuito de implementar medidas de liberalização controlada, devido às pressões para a democratização de grupos de base da sociedade civil. Por volta de 1987, devido à tentativa de responder à continuidade destes protestos e estudos referentes aos impactos ambientais ocasionados pela Instalação de Hidrelétricas, o Banco Mundial criou o Departamento de Meio Ambiente, onde também adotou novas exigências e novos critérios para elaboração de estudos dos impactos ambientais ocasionados por estes empreendimentos (ROTHMAN, ibid). A partir desse período, com a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), cuja finalidade é definir e implementar a Política Nacional do Meio Ambiente, houve uma melhora na perspectiva da avaliação dos impactos ocasionados pela implantação de Usinas Hidrelétricas. A Resolução n° 1 do CONAMA, define impacto ambiental como as alteração em propriedades físicas, químicas e biológicas que influenciam o meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia que resulta das atividades humanas afetando direta ou indiretamente toda a questão de ordem social, econômica, biológica, ambiental, referente a saúde e bem-estar de uma população (BRASIL, 1986). Como conseqüência deste processo, foi instituída a necessidade do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), sendo definido como a construção de um documento técnico, detalhado sobre os impactos que poderão ser ocasionados 13 pela implantação de Usinas Hidrelétricas. Ainda, foi determinada a elaboração de outro documento, conhecido como Relatório de Impactos do Meio Ambiente (RIMA), o qual consiste em um relatório resumido do EIA; porém, o RIMA deve apresentar uma linguagem clara e objetiva para que leigos também compreendam (KARPINSKI, 2003). Contudo, as metodologias utilizadas para a realização dos Estudos de Impactos Ambientais (EIA‟s) continuam, conforme CASTRO (1993, p.26) dando ênfase exagerada aos aspectos físicos-químicos e biológicos, deixando as dimensões sociais numa posição periférica, lançando por terra as importantes contribuições trazidas pela ecologia, esquecendo de que o homem não só é parte do ecossistema natural como, atualmente é o principal agente de alteração do mesmo. Novos conceitos foram implementados e aceitos pelo setor elétrico, pois a análise dos efeitos diretos/indiretos dos empreendimentos não abordava os problemas sociais. As noções de “área de influência”, de “usos múltiplos”, de “inserção regional” e de “monitoramento” foram incorporadas aos (EIA´s) e aos Relatórios de Impactos Ambientais (RIMA´s). Compreende-se então que esse tipo de empreendimento pode gerar danos globais em todos os setores da vida de uma população, desde as condições materiais de sua sobrevivência, até as suas concepções de vida e visões de mundo, podendo também influenciar inclusive na cultura local (SANTOS, ibid). 1.1.1.1 Privatização do Setor Elétrico Devido à crise da dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com o Banco Mundial, envolvendo suas políticas desenvolvimentistas, desregulamentação e privatização, o Brasil em 1990 passa a privatizar o setor hidrelétrico, onde facilitou a formação de consórcios de empresas privadas, aumentando significativamente o número de projetos neste setor (ROTHMAN, ibid). Na década de 1990, já havia 544 barragens em funcionamento, onde 197 eram geradoras de energia com capacidade de 53.000 MW (TONIOLO, ibid). 14 Em 1996, com a Lei n. 9.427 foi criada a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, com a finalidade de regular e fiscalizar a geração de energia elétrica (ANEEL, ibid). A escassez de recursos energéticos e o medo de uma crise no abastecimento de energia em 2000 levaram o governo Fernando Henrique Cardoso à tomada de uma decisão ambiciosa: a privatização do setor de energia elétrica, incluindo as empresas de geração. Isto foi com a inclusão dos ativos federais da geração no Programa Nacional de Desestatização (PND) (SAMPAIO, ibid). Ao privatizar sem critérios as empresas de geração e distribuição de energia elétrica, ao favorecer a concessão de direitos de exploração de potenciais hidrelétricos a grupos privados, a reestruturação não rompeu apenas com o processo anterior, mas colocou em risco muito do que havia sido conquistado em termos sociais e ambientais (VAINER, 2007). Um dos exemplos que abordam o contexto das privatizações, é o referente a Hidrelétrica de Candonga, na microregião de Ponte Nova, entre os municípios de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado, que ocorreu entre o período de 2001 à 2004; segundo Pinto (2005 apud Penido, 2008), o reservatório afetou compulsoriamente as famílias em ambas as margens do Rio Doce, além das demais famílias que tiveram outras capacidades comprometidas. As famílias realocadas devido a UHE de Candonga, foram para um reassentamento planejado pelo Consórcio Candonga, onde este apresentava uma configuração espacial diferente do “lugar” de vida anterior, onde o formato era mais urbano do que propriamente rural. Mais de 270 pessoas foram transferidas, mesmo apresentando total insatisfação, estas não tiveram seus direitos respeitados Pinto (2005). Segundo Bermann (2002), até 2002 as Usinas Hidrelétricas construídas no Brasil resultaram em mais de 34.000 km2 de terras inundadas para a formação dos reservatórios, e no deslocamento de cerca de 200 mil famílias, todas elas populações ribeirinhas diretamente atingidas por empreendimentos como estes. Segundo Silva (2003, p.02) “o Brasil já se destaca no ranking de produção de energia por hidrelétricas”. Porém para o autor, essa posição é 15 acompanhada de uma luta que tem colocado em pontos diferentes os empreendedores e as populações afetadas por estes projetos, As Leis Federais nº 10.847 e nº 10.848, de 15 de março de 2004, e pelo Decreto Federal nº 5.081/2004, estabeleceram novas regras dando maior seguridade em suas execuções, o que trouxe a possibilidade de expansão do setor relacionado à geração, transmissão e distribuição de energia; estabelecendo com nitidez suas responsabilidades (BANCO MUNDIAL, ibid). Com todos os entraves a respeito das instalações de hidrelétricas, em 2007, o governo de Minas Gerais anunciou planos de aumentar as Usinas Hidrelétricas. Outro fator que influenciou este aumento foi a estratégia de desenvolvimentista adotada no governo Lula, através do Plano de Aceleração de Crescimento – PAC (ROTHMAN, ibid). Com esta situação, na procura de uma oferta maior de energia elétrica, se estimulou também o aumento do consumo energético, onde ocasionou por sua vez um crescimento na demanda de energia, desencadeando desta maneira um círculo vicioso que perdura até os dias de hoje (SCHAPPO, 2008). Atualmente o Brasil apresenta uma grande produção de geração elétrica, sendo predominantemente hidráulica, onde a maioria das unidades concentrase na região Sul e Sudeste, totalizando aproximadamente 47,2 milhões de unidades (TONIOLO, ibid). 1.2 Classificação de Usinas Hidrelétricas Atualmente o potencial instalável, já inventariado no Brasil, ultrapassa a 260 GW. A produção bruta de energia elétrica nos anos 1990 ultrapassou a 250 bilhões de kWh, onde em média destas 97% eram de origem hidráulica (SANTOS, ibid). Por meio da repotenciação de Usinas Hidrelétricas, o Brasil tem buscado alternativas para otimizar o desenvolvimento de sua matriz energética, priorizando a geração hídrica e reduzindo, ou evitando, impactos nos ecossistemas aquáticos e nas populações ribeirinhas (BERMANN et al., 2004). 16 Diante das revisões bibliográficas estudadas sobre todo contexto exposto a respeito de matriz energética, optou-se por destacar somente alguns pontos relevantes para discussão deste estudo, as quais serão brevemente relatadas. Conforme a legislação do setor elétrico pela Resolução ANEEL nº 394, de 04 de dezembro de 1998, defini-se como sendo uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) aquele empreendimento com potência superior “a 1.000 KW ou 1 MW e potência inferior a 30.000 KW ou 30 MW, com área total de reservatório igual ou inferior a 3 Km²” (ANEEL, ibid, p.01). As PCH‟s são prioridades da ANEEL, pois atendem às necessidades de carga de pequenos centros urbanos e rurais. Esses tipos de Usinas até o final de 2003, foram beneficiadas pela isenção da taxa de uso da rede de transmissão e distribuição, assim como na dispensa de remuneração dos municípios e estados pelo uso dos recursos hídricos (MALFERRARI, 2000). A estrutura de uma Usina Hidrelétrica é composta basicamente por: “barragem, sistema de captação e adução de água, casa de força e vertedouro”, que funcionam de maneira integrada. A barragem deve principalmente interromper o curso normal do rio para formação do reservatório, estocando a água para posteriormente configurar-se em energia hidráulica (ANEEL, ibid, p.49). Segundo Viana (2003, p.20) para a indústria, uma “grande barragem” está inclusa dentro de alguns critérios como: “comprimento (igual ou superior a 150 metros); volume (igual ou superior a 15 milhões de metros cúbicos); capacidade de armazenamento do reservatório (igual ou superior a 25 quilômetros cúbicos) e; capacidade de geração elétrica (igual ou superior a 1.000 Megawatts)”. Geralmente utiliza-se o tamanho da barragem para se classificar se é uma grande ou pequena barragem, porém de acordo com McCully (1996, p.24 apud Viana, 2003, p.20): O comprimento, freqüentemente, não é um guia confiável para se avaliar os impactos de uma barragem. Uma barragem de 100 metros localizada em um vale profundo pode inundar uma área menor e conseqüentemente deslocar menos pessoas e gerar menores impactos no rio do que uma barragem de 15 metros em uma região densamente habitada. 17 A classificação de usinas quanto à capacidade de produção é apresentada na tabela a seguir: TABELA 1 - CLASSIFICAÇÃO DE USINAS HIDRELÉTRICAS QUANTO À POTÊNCIA Tipo de Usina Hidrelétrica Potência Instalada P (kW) Micro Central Mini Central Pequena Central (PCH) Média Central Grande Central P < 100 100 < P < 1.000 1.000 < P < 10.000 10.000 < P < 100.000 P > 100.000 FONTE: LEÃO, Ruth (2009) – Universidade Federal do Ceará (UFC). De acordo com Sampaio (ibid), para a análise da energia produzida por uma Hidrelétrica, é necessário se conhecer a potência instalada, que é a quantidade máxima de energia que pode ser produzida por esta. Analisar a quantidade de energia produzida de acordo com a potência instalada é verificar se está usando a capacidade produtiva da mesma. A unidade usada para esta variável é o MW. Outra questão é a altura líquida de queda e a altura bruta: Dada uma mesma altura de queda, a hidrelétrica será tanto mais eficiente quanto mais energia gerar, mantidas as outras variáveis constantes. A altura bruta é medida, em metros, pela diferença entre as elevações da linha energética a montante e a jusante, ou seja, é a diferença entre os níveis de água a montante e a jusante, com as respectivas correções devidas às alturas cinéticas nas duas seções consideradas. O nível de água de montante é o da bacia e o de jusante o do canal de descarga (SAMPAIO, 2005, p.07). Entretanto a CMB (2000a) assinala que a definição da Comissão Internacional sobre Grandes Barragens (ICOLD) seria mais concreta, definindo como uma grande barragem, aquela que tem altura igual ou superior a 15 metros (contados do alicerce). Também é classificada como uma grande barragem aquela que apresentar entre 5 (cinco) e 15 (quinze) metros de altura e seu reservatório tiver capacidade superior a 3 (três) milhões de m3. 1.3 Impactos Sociais no processo de Implantação de Usinas Hidrelétricas 18 Tundisi (2007) relata que o número de reservatórios hidrelétricos construídos no Brasil nos últimos cinqüenta anos acarretou em uma extensa e profunda alteração no funcionamento de rios, lagos, áreas alagadas, influenciando na alteração do ciclo hidrossocial e hidroeconômico. Para Castro (2003), na avaliação histórica das grandes hidrelétricas, percebe-se que estas foram projetadas a princípio focando apenas a produção de energia, onde muitas vezes não foram consideradas as inundações que estas poderiam desencadear isto porque, geralmente havia uma baixa ocupação próxima às usinas e também por não haver uma legislação pertinente neste período. Com a expansão deste setor as “cheias” e inundações se tornaram mais evidentes e seus impactos cada vez maiores. O evento cheia é “caracterizado como a observação ou previsão de vazão superior à restrição de vazão máxima, e o evento inundação é caracterizado como o rompimento de uma restrição de vazão máxima considerada na operação de controle das cheias”, controlar as cheias significa oferecer segurança à população diretamente afetada e para o próprio sistema (CASTRO, ibid, p.02). Segundo Müller (1995), as construções de Hidrelétricas podem gerar diversos tipos de impactos sociais. Segundo o autor, entre outros destacam-se: um produzido pelo aumento significativo de pessoas para trabalharem no local do empreendimento, que poderia desestruturar a vida social de uma população, e outro seria a conseqüência do deslocamento das famílias diretamente afetadas pela obra, que deverá ser retirada do seu local de moradia e realocada para outra propriedade devido à influência da alteração referente às cheias que o rio poderá sofrer. É importante ressaltar que cada grupo possui uma maneira de relacionarse com outros grupos e comunidades, caracterizando um ideal social. As mudanças sociais que se processam podem ser contínuas e aceleradas (ROSA et al., 1988 apud MÜLLER, ibid). Em muitas instalações de Usinas Hidrelétricas a população limítrofe é afetada, desde que áreas extensas podem ser inundadas e, nem sempre esta população recebe orientação técnica adequada sobre o processo de realocação (BERMANN e FERNANDES, 2004). No Brasil, as barragens já 19 inundaram 3,4 milhões de hectares de terras produtivas e também já desalojaram mais de um milhão de pessoas (ZHOURI e OLIVEIRA, 2007). A instalação de Usinas Hidrelétricas repercute nas sociedades organizadas na região do projeto e além dos limites destas também. Aumentar a oferta de energia representa uma conseqüência global de qualquer empreendimento de hidrelétrico. Todos os eventos desencadeados pela hidreletricidade, como “diminuição na qualidade de água, desagregação social de comunidades locais e aumento na incidência de doenças seriam conseqüências imediatas para os habitantes” da área de influência, representando assim os impactos sociais do empreendimento (SOUSA, 2000, p.11). Segundo Scudder (1993 apud Bermann e Fernandes, ibid), no que diz respeito à questão social, devem ser considerados os impactos sociais adversos, que são uma séria conseqüência, principalmente quando referidos à moradia, pois englobam o afeto com a terra, saúde, saneamento básico, e outros. Também há grandes possibilidades de queda na renda da maioria das populações que vivem nas bases dos rios em questão. Diante de pesquisas realizadas sobre o caso da UHE de Candonga/MG, fica evidente que os reassentamentos em Novo Soberbo causaram impactos sociais relacionados a queda de renda, onde este não ofereceu possibilidades de desenvolvimento para os meios de subsistência e de trabalho para os atingidos, e menos ainda na representatividade das questões culturais para reprodução dos modos de vida de toda a comunidade realocada (PENIDO, 2008). Dentro das variáveis inclusas no contexto socioeconômico do empreendimento da UHE Baguari, serão avaliadas e acompanhadas questões incluindo: saúde e saneamento, habitação, segurança, emprego, escolaridade, que serão brevemente comentadas a seguir. Na variável saúde são inúmeras doenças que podem estar vinculadas a este processo, pois além das alterações na transmissão das doenças comuns na região (endêmicas), estão relacionadas doenças que poderão surgir a partir do deslocamento, ou com a chegada de um grande número de trabalhadores da construção do empreendimento, entre outras as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST‟s). (MCCULLY, 1996 apud MENDES, 2008). 20 O aumento do número de vetores pode trazer novas doenças (por exemplo: leishimaniose) para os habitantes que permanecerão residindo no local após a “elevação do nível da água na área diretamente afetada, pois as condições de risco sanitário serão agravadas pelo desalojamento e emigração dos animais transmissores de doenças para as imediações” (CNEC, ibid, p.15) No campo do saneamento básico, podem ser modificadas questões vinculadas ao abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem urbana e controle de inundações, coleta e disposição final de resíduos que podem interferir nos recursos hídricos (BRASIL, 2005). Relativo à moradia (habitação), diversas questões estão envolvidas, nem sempre fáceis de serem avaliadas, entre as que se destacam: processo de reassentamento; falta de oportunidades na busca por uma melhoria da qualidade de vida e sustentabilidade da população; aumento da dependência e valorização dos bens de família. Porém, a grande dificuldade no campo da moradia relaciona-se à questão sentimental desde que não possui indicadores de como mensurá-la (BERMANN e FERNANDES, ibid, p.03) Segundo o EIA de Baguari (CNEC, ibid), indo de encontro com o Relatório da Comissão Mundial de Barragens (CMB, 2000), assinala que o empreendimento Hidrelétrico, pode ocorrer a contratação de trabalho temporário para a execução de tarefas que exigem maior esforço físico, ou quantidade maior de mão de obra especializada. Esta ação, em geral, pode gerar impactos referentes à segurança da população local, pois a formação de repúblicas, alojamentos ou até mesmo a inserção de novas famílias podem representar um aumento da violência local. Pode também refletir diretamente na variável emprego, pois além da contratação de trabalhadores de fora, há necessidade de um número considerável de trabalhadores locais para auxiliar na obra, onde grande parte dos empregos são temporários, assim terminando a obra, problemas de desemprego também surgirão. Referente à educação, pode sofrer influências como: abandono, repetência, ou excesso de alunos, que são importantes indicadores para se aferir o resultado do sistema de ensino. Estes surgem devido ao processo de entrada e saída de alunos que podem ser trabalhadores relacionados ao período de construção da Usina Hidrelétrica, ou até mesmo filhos destes que 21 necessitam permanecer estudando conforme os pais acompanham o movimento destes novos empreendimentos. Outro fato importante seria se as escolas locais apresentam infra-estrutura e pessoal suficiente para absorver a demanda de novos alunos se necessário (BERMANN e FERNANDES, ibid). É importante salientar, conforme Zhouri e Oliveira (ibid), que a consolidação da implantação de uma Usina Hidrelétrica sobre um campo de poder extremamente desigual, pode gerar confrontos violentos e experiências diversas de violação de direitos humanos; o que pode ser ilustrado pelo processo de desapropriação compulsória para a construção desta. Estes empreendimentos devem focar na melhoria do padrão de vida e na renda das populações afetadas, analisando uma mudança global, que envolve tanto questões sociais como culturais (BERMANN e FERNANDES, ibid). É importante ressaltar que há grupos sociais que podem sofrer os efeitos dos empreendimentos hidrelétricos durante sua execução ou até mesmo antes deste ser anunciado. Referente aos aspectos sociais relacionados à população alvo de realocação, afetadas diretamente pela Instalação de Usinas Hidrelétricas, inúmeras vezes são desconsiderados diante da perspectiva da perda irreversível das suas condições de produção e reprodução social, determinada por este processo (BERMANN, 2007). Para muitos, a construção de uma Usina Hidrelétrica significa a destruição de seus projetos de vida, obrigando-os a sair da terra em que construíram suas histórias, sem apresentar compensações que possam assegurar a manutenção de suas condições de sobrevivência no mesmo nível que havia antes da implantação do empreendimento (BERMANN, ibid). Na leitura do livro “Vidas Alagadas” de Rothman, fica plenamente perceptível os conflitos socioambientais que estão sendo enfrentados constantemente pela população alvo de realocação: Cada barragem anunciada causa apreensão e tristeza para inúmeras famílias, cuja vida perde suas raízes e devem recomeçar em outro lugar. Projeta-se um benefício energético, mas nem sempre há um equilíbrio entre os frutos esperados do progresso, os acordos feitos e o sofrimento e o desgaste dos atingidos. A história ainda recente das indenizações revela muito sacrifício e dor para quem se vê obrigado a deixar seu berço, suas terras, seus sonhos (BALDUÍNO, 2007 apud ROTHMAN, 2008, p.07). 22 Após a análise do local que será alvo de realocação, iniciam-se as negociações, que seguem um contexto lógico de valores capitais os quais são parte fundamental deste processo; porém o grande destaque que não entra muitas vezes nesta negociação por não possuir forma de se mensurar, são as relações estabelecidas de algumas pessoas com determinados lugares. Relacionando esta percepção com o comportamento e educação entre os homens, Santos (1997), considera que como a nossa educação é feita de maneira seletiva, as pessoas podem apresentar diversas versões de um mesmo fato, ou seja, podem perceber as coisas de maneira distinta. Quem está de fora observa de maneira superficial do que aqueles que vivenciam a situação. Ainda afirma que: A percepção é sempre um processo seletivo de apreensão. Se a realidade é apenas uma, cada pessoa a vê de forma diferenciada; dessa forma, a visão pelo homem das coisas materiais é sempre deformada. A percepção não é ainda o conhecimento, que depende de sua interpretação e esta será tanto mais válida quanto mais limitarmos o risco de tomar por verdadeiro o que é só aparência (SANTOS, 1997, p. 62). De acordo com o Manual de Avaliação de Impactos Ambientais - MAIA, haviam poucos estudos sobre as relações emocionais das comunidades que são alvo destes empreendimentos que afetam seu local de moradia, conseqüentemente impedindo a identificação de algumas situações indesejáveis que poderiam ser avaliadas na abordagem dos impactos ambientais. Atualmente estas preocupações estão se tornando mais evidentes e quem conhece a realidade e suas necessidades de recursos para um bom desenvolvimento, é a própria comunidade, onde esta é peça fundamental para planejar o seu futuro referente a esta mudança territorial (SUREMANH/GTZ, 1995). 23 1.4 Espaço, Lugar e Território: influências sobre a sociedade A designação do lugar em que a família reside, também pode ser denominada de espaço ou território. Neste estudo será feito a princípio uma abordagem de todos os aspectos para melhor compreensão da discussão do “lugar” a ser pesquisado. As discussões sobre lugar, será realizada a partir do estudo da Topofilia que é um termo relativo a Geografia, onde é considerada "o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico” (TUAN, 1980, p.106). Segundo Silva (2007, p.2) a referência de lugar, a permanência neste e seus sentidos estão diretamente ligados à dimensão espacial. “Lugar é a coisa, isto é, a jarra, a casa, a poesia, a ponte”. Nesta perspectiva, o espaço assume um significado de tempo, porém ele não se move, repousa. Na realidade a origem ou compreensão de lugar existe como puro fato e não em algum entendimento teórico. Shneider (2004, p.08), afirma que a abordagem territorial deve ser o espaço da ação em que ocorrem as relações sociais, econômicas e políticas; onde este espaço pode ser construído a partir da ação entre os indivíduos e o ambiente ou contexto objetivo em que estão inseridos. “Mas não se trata apenas do entendimento teórico e abstrato, pois esta perspectiva também propõe que as soluções e respostas normativas aos problemas existentes nesses espaços encontram-se nele mesmo”. Para Abramovay (1998, p.01), o território pode ser definido como lugar que propicia a interação entre sociedades e ecossistemas, onde o acesso à terra é uma das condições básicas para esta interação, porém esta só faz sentido, se for associado ao conjunto de condições que alterem o ambiente institucional local e regional e permitam a revelação dos potenciais com que cada território pode participar do processo de desenvolvimento. Segundo Barcellos (ibid), território pode ser classicamente uma delimitação de poder, sendo usado para a dominação e apropriação de recursos. Ainda, de acordo como o autor, território também pode ser considerado uma instância de poder que é exercido não apenas pelo Estado, 24 mas por atores sociais com diferentes tipos de interesses, onde neste território ocorrem a produção, o consumo e a interação humana, por isso sua conotação de identidade e subjetividade coletiva. Território também pode ser enquadrado como uma unidade política estável; onde a vida humana sempre estará relacionada às relações sociais, de suas práticas e representações (BARROS, 2006). Segundo Sánchez (1997, p.339), “tanto a divisão do trabalho e da produção como a divisão social são acompanhadas sempre de formas coerentes de divisão do espaço-território”. Para Muls (2008), os territórios seriam a construção socioeconômica e institucional, onde as relações entre os atores deste cenário estariam voltados para o peso das regras, normas, culturas de uma comunidade de forma bem elevada; e onde as instituições encontram-se amplamente implicadas no funcionamento e na dinâmica das economias locais. É importante ressaltar que o espaço é anterior ao território, pois o território se forma a partir do espaço, ou seja, resulta de um ator que executa um determinado programa. “Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente [...] o ator territorializa o espaço” (RAFFESTIN, 1993, p. 143 apud BORDO et al., 2004). Barros (ibid) analisa a comparativa entre espaço e território, e afirma que um mesmo homem, em seu cotidiano e na sua relação com outros homens, pode produzir territórios com variadas durabilidades. Quando o homem toma posse de um determinado espaço e transforma-o em sua propriedade, já estão constituídas outras relações, evidenciando que um sujeito humano define ou redefine um território. O espaço, segundo Bordo et al. (ibid), seria muito mais amplo que o território, pois envolve também as áreas vazias que “ainda não se territorializaram”, ou seja, que ainda não sofreu influência da ação humana diretamente. Pode-se dizer que espaço é semelhante à união entre a caracterização do território, com a paisagem e a sociedade. O foco desta pesquisa esta centrada na visão de “lugar”, apesar da direta relação entre espaço e território que este ocupa. A melhor definição de lugar, segundo Duarte (2002 apud Ewald et al., 2008) seria: uma parte do espaço com caráter significativo, onde estão inclusos os valores culturais de 25 determinados grupos ou pessoas, sendo que a cultura é vista como elemento chave que se reflete nos objetos e ações do espaço. O lugar se distingue por estar impregnado de cultura. Não é, pois, um fenômeno necessariamente material, mas, sobretudo, uma experiência. Por ser uma experiência, o lugar caracteriza-se por ser uma parte do espaço que contém elementos cujos significados e ordenação são atribuídos conforme a cultura e as expectativas de quem o considera como seu lugar. É no lugar que fixos (objetos) e fluxos (ações) ao adquirirem valor, fazem a história de quem os experimenta e lhes atribuiu este valor. Portanto, se retirados dos seus lugares, produtos ou populações serão meras abstrações (SANTOS, 1997 apud EWALD et al., 2008, p.760). Segundo Mattos (2008), os fixos seriam elementos aos quais se atribui uma característica, como por exemplo: uma árvore, um computador, um personagem mítico; já os fluxos consistem nas informações que circulam com base nestes fixos, que lhes servem de referência e catalisação como por exemplo: a variação de temperatura, uma página web dinâmica. Diante disto, fixos e fluxos tornam o espaço um elemento que remete ao lugar, onde estes a cada momento, redefinem e recriam as condições ambientais e sociais de cada lugar. Outra concepção de lugar referida por Pádua (2005 apud Silva, ibid, p.03), seria de que este possui limites, mas principalmente como a definição de uma identidade: “um lugar é sempre um onde particular, delimitado, com uma identidade própria construída ao longo de um tempo. Esta identidade é partilhada, muito estreitamente, com os entes que nele se encontram”. Então, lugares recebem a compreensão de lugares da existência, que constituem o próprio fundamento de qualquer espaço possível. Ainda na percepção de Albagli (1999, p.50), lugar pode ser definido como “uma porção do espaço na qual as pessoas habitam conjuntamente”, sendo considerado por alguns como idéia de localidade, referindo-se ao cenário físico da atividade social como situado geograficamente. Toda movimentação de uma dada população pode ocasionar um fenômeno diferente, a circulação de pessoas em um lugar geográfico específico pode ocasionar dominação de uns sobre os outros, onde podem se construir inclusive suas bases políticas (MACHADO, 2002). Conforme Lezzi (1998 apud Karpinski, ibid), as sociedades se organizam produzindo seu território, gerando desmatamento e inserção da sua cultura, 26 com domesticação animal e utilização dos recursos hídricos ao seu entorno, e principalmente influenciando na construção de novos recursos. E com o progresso surge evidentemente a necessidade de se reavaliar os impactos ambientais ocasionados por essa organização, principalmente analisando o “lugar” que estes ocupam em dado território. Para Leff (2001), o “lugar” também pode ser caracterizado por Habitat que seria o lugar em que se constrói e se define a territorialidade de uma cultura, a espacialidade de uma sociedade e de uma civilização, onde se constituem os sujeitos sociais. Habitar e Habitat seria localizar no território um processo de reconstrução da natureza, através da identificação cultural diferenciada. É preciso analisar a forma em que será realizada a mudança de lugar, pois é difícil as pessoas reproduzirem suas vidas aos mesmos moldes em que antes se encontravam, devido às bases materiais e organizacionais, elemento em alguns casos fundamental para o sucesso de suas atividades produtivas e referencial simbólico máximo de espacialidade (KARPINSKI, ibid). Contudo, é importante ressaltar que em cada tipo de empreendimento específico, podem surgir diversas formas de relações sociais ocasionadas por estes impactos, dependendo da região afetada, estes podem apresentar maiores ou menores alterações, e o lugar onde cada família será realocada apresenta aspectos diferentes, pois para uns o benefício da mudança de lugar é evidente, para outros pode gerar grandes transformações em seu estilo de vida. 1.4.1 A busca da sociedade em defesa da Terra Todo o contexto abordado até o momento sobre a expansão energética resultou na exigência da elaboração de projetos de reassentamentos que se iniciaram na década de 80 (REBOUÇAS, 2000 apud PENIDO, 2008). Devido à maior participação política no Brasil, como conseqüências da redemocratização após a Ditadura Militar, surgiram movimentos sociais como 27 busca de algumas questões que permaneciam silenciosas sobre o problema do monopólio da terra (BANNWART, 2008). Não poderia ser excluída a questão da história ambiental que avalia retirar seres humanos influenciados pelo seu ambiente natural, e como modificaram esse meio-ambiente e as conseqüências dessa interação (BANNWART, ibid). Foi a reação das populações rurais atingidas por empreendimentos hidrelétricos que permitiu o reconhecimento destas instalações como uma problemática complexa, diante da sua face técnico-econômica, onde se destacam a grande reordenação territorial com remoção das populações historicamente de seus espaços requeridos. De acordo com Reis, (2007, p. 474), autores como Germani (1982), Magalhães (1996), e Sigaud (1992) assinalam que as questões ambientais e socioculturais “foram tratadas pelo Estado brasileiro com negligência e irresponsabilidade na maioria dos casos estudados”. Há diferentes significados na prática e no aspecto jurídico a respeito de assentamentos rurais – Movimento dos Sem-Terra (MST) e reassentamentos de atingidos por grandes projetos, como Usinas Hidrelétricas. Segundo Penido (2008), nos casos de assentamento há uma legislação própria que os respaldam na obtenção de terras, principalmente nos que sofrem influência pelo Setor Elétrico; já nos reassentamentos, existem diversas lacunas e deficiências da legislação, que expõem a problemática sobre a reativação econômica do reassentamento. A cada dia surgem “novos” movimentos sociais, porém independente destes movimentos “novos” ou “tradicionais”, ambos estão baseando suas idealizações em meio às transformações ocorridas na economia, com a expansão da industrialização, marcada pelas mudanças nos modelos de organização da produção ou do trabalho diante da inspiração fordista. Muitos movimentos sociais surgem a partir das condições de reprodução do capital, portanto, a globalização exerce grande influência no comportamento destes movimentos nos dias atuais (SIQUEIRA, 2002). Na luta contra o regime autoritário, os movimentos sociais conduziram as políticas públicas a favor da participação popular. Existem a legalidade e a legitimidade destas práticas na Constituição de 1988, porém, as políticas estabelecidas não acompanham estes movimentos, onde o intuito seria de 28 promover uma participação democrática, respeitando os processos legais de cada representatividade. A mobilização da população e sua participação política podem influenciar na eficácia dos Conselhos Locais de Meio Ambiente ou em outros processos que modifiquem o contexto social desta população, tornando-se importante sua representatividade através de associações de bairro e participação sindical (LOPES, 2006). Para Lemos (1999, p.20 apud Penido, 2008, p.04), os conflitos ambientais “caracterizam-se como uma forma de luta social que não opõe o homem à natureza, mas opõe os homens entre si, suas idéias, valores e representações sociais”; todo este contexto remete às questões dos direitos sociais e da apropriação desigual de territórios. Apesar de não haver uma definição universalizante para Movimentos Sociais, na visão de Gohn (1995), estes seriam evidenciados por ações coletivas com característica social e política construída através de atores sociais de diferentes classes sociais, onde estes politizam suas demandas e geram um campo político de união social. As ações são desencadeadas a partir de temas e problemas com situações diversas como: conflitos, litígios e disputas; onde estas ações criam uma identidade coletiva, mas a partir de interesses comuns. Toda esta identidade vem da força da solidariedade com referencial nos valores culturais e políticos vividos pelo grupo. O maior movimento social relacionado aos empreendimentos hidrelétricos surgiu quando: Os atingidos foram obrigados a escolher entre resistir à construção ou desistir do seu modo de vida e de sua terra de trabalho. O que ocorreu em alguns casos foi a união e organização do povo atingido, como forma de resistência, ou ainda a “aceitação” da barragem e da completa mudança de suas vidas. Esse processo de exclusão desencadeado pelo atual modelo energético provocou uma nova configuração territorial despertando novas lutas e novos sujeitos políticos na organização do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB a partir da década de 1970 (BORGES et al, 2004, p.04). Tem sido significativo o crescimento e o desenvolvimento do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) nos últimos anos, em busca do questionamento do modelo autoritário de planejamento do Estado brasileiro relacionado à política energética do país. Atualmente o MAB consegue demonstrar sua força e organização na luta social dos atingidos antes mesmo da construção de barragens, questionando e impedindo os projetos que 29 possam desalojar milhares de camponeses com destruição do seu modo e meio de vida (BORGES et. al., ibid). Segundo o MAB, até o momento existem no Brasil cerca de 2.000 barragens, onde 625 encontram-se em operação; o plano até 2015 prevê a construção de mais 494 barragens. Mas, em nenhum momento aparecem dados de quantas famílias estão sendo afetadas pela implantação de Hidrelétricas no país (MAB, 2009). Para Reis (ibid, p. 498), o MAB vem abrindo novas frentes de luta, onde contribui significativamente para mobilização de futuros atingidos por empreendimentos hidrelétricos em diversos estados brasileiros. De modo geral, foi o “I Encontro Nacional sobre Barragens realizado em Goiânia em 1989, que deu origem a uma nova articulação para outros movimentos em torno do mesmo problema”, no qual foi estabelecido o dia 14 de março como o Dia Nacional de Luta Contra as Barragens”; a partir de 1997 quando houve a realização do I Encontro Internacional dos Atingidos por Barragens, realizado em Curitiba, a data passou a ser comemorada como Dia Internacional de Luta Contra as Barragens. Porém, a partir dos desafios da privatização do setor energético brasileiro, o movimento tem sofrido significativo retrocesso em relação ao deslocamento compulsório das populações locais. O MAB retomou suas intervenções de forma expressiva nos últimos anos, mais precisamente a partir do novo século, devido a evidente expansão da implantação de Hidrelétricas; fato este relevante para a representação social (BOEIRA, 2006). Embora a base fundamental do movimento seja a luta de camponeses em busca de garantia da terra, outras questões sociais estão envolvidas; o MAB contribui para chamar a atenção contra formas devastadoras de ações humanas sobre o meio ambiente e na luta para obtenção de boas indenizações para a compra de uma boa terra ou um adequado reassentamento, isto se reflete na manutenção de valores e relações sociais que não podem ser “realocadas”. É desta forma que a luta dos atingidos se amplia e alcança um nível na questão da reforma agrária, porque a partir de então a luta passa a ser entendida não só em prol da terra, mas como a busca pela manutenção e/ou organização de um espaço integrado (BORGES et al., ibid) 30 1.4.2 A Importância da Comissão Mundial de Barragens diante de empreendimentos hidrelétricos Como anteriormente ressaltado, os enormes investimentos envolvidos e as mudanças desencadeadas pelas grandes barragens provocam conflitos acerca dos impactos dessas construções; tanto das já existentes como das que estão em fase de projeto, tornando-se uma das questões mais importantes na área do desenvolvimento sustentável. No período de 1973 a 1993, as favelas de São Paulo cresceram de 700.000 habitantes para mais de dois milhões. No princípio os assentamentos precários dispunham somente de uma ou outra conexão elétrica ilegal, porque em parte a companhia elétrica não havia previsto a eletricidade para estas habitações, e em parte porque as autoridades municipais não pensavam em melhorar as favelas, pois estas eram originadas de ocupações ilegais. Em 1983, aproximadamente 100.000 moradias já possuíam acesso a eletricidade, o que melhorou a qualidade de vida desta população, porém vale ressaltar que o consumo de eletricidade por unidade familiar também aumentou significativamente em menos de uma década dentro das favelas de São Paulo (Boa Nova e Goldenberg, 1999, apud CMB, ibid, p.103). Os defensores das barragens apontam para as necessidades de desenvolvimento social e econômico que estas visam satisfazer, e que são diversos, dentre eles a irrigação, a geração de eletricidade, o controle de inundações, e outros. Os oponentes destacam os impactos adversos das barragens, como o aumento dos orçamentos previstos, o deslocamento e a mudança socioeconômica drástica de populações, a destruição de ecossistemas e recursos pesqueiros importantes, assim como a possível divisão desigual dos custos e dos benefícios (MALFERRARI, ibid). A Constituição da República Federativa do Brasil, no artigo 225 diz que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BARROS e SYLVESTRE, 2004, p.20). Conseqüentemente, poder-se-ia argumentar que no estabelecimento de 31 empreendimentos devem tomar-se medidas para mitigar o máximo possível todos os tipos de impactos ambientais e sociais. O acesso a moradia deve ser garantido diante destes empreendimentos Hidrelétricos, pois este é considerado um direito humano básico, o Brasil assinou a Declaração sobre Assentamentos Humanos de Vancouver em 1976, que dispõe o seguinte: a moradia e os serviços adequados constituem um direito humano básico que impõem aos governos a obrigação de assegurar seu acesso a todos os habitantes, começando pela assistência direta aos grupos mais vulneráveis mediante a orientação de programas de ajuda mútua e de ação comunitária (BARROS e SYLVESTRE, 2004, p.67). Os autores supracitados ainda destacam que o Direito à Moradia Adequada também fica evidente em duas grandes Conferências Internacionais que o Brasil participou: a Agenda 21 (sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - 1992), e a Agenda Habitat de 1996 (BARROS e SYLVESTRE, 2004). Com as discussões a cerca das instalações de hidrelétricas e seus impactos cada vez mais presentes, em abril de 1997, com apoio do Banco Mundial e da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN de sua sigla em inglês), grupos representando diversos interesses reuniram-se em Gland, Suíça, por ocasião da publicação de um relatório do Banco Mundial, para discutirem questões envolvendo as grandes barragens. Neste workshop estiveram presentes 39 participantes de governos, do setor privado, de instituições financeiras internacionais, de organizações da sociedade civil e de populações afetadas. Uma das propostas resultantes do encontro foi que todas as partes trabalhassem juntas para estabelecer a Comissão Mundial de Barragens - CMB (MALFERRARI, ibid). A CMB é uma comissão internacional, independente e multilateral, que foi criada com o intuito de esclarecer controvérsias referentes à construção de barragens e buscar soluções através do “conhecimento humano e da expansão das experiências, como o desenvolvimento de novas tecnologias e a mudança para um processo de tomada de decisões mais aberto, participativo e transparente” (BARROS e SYLVESTRE, ibid, p.13). 32 Em 2000, a CMB elaborou um relatório ressaltando que, enquanto ocorrem justificativas para a construção de barragens “com fins de irrigação agrícola, uso doméstico ou industrial, geração de energia elétrica ou controle de inundações, o que elas têm gerado é cada vez menos riqueza, menos terras irrigadas e servido menos água que o projetado”, porém, o mais importante são os impactos ocasionados nas comunidades atingidas, influenciando inclusive nos meios de subsistência destas (BARROS e SYLVESTRE, ibid, p.15). Em Minas Gerais, segundo o Relatório da CMB, a situação é digna de muito estudo, pois está se formando um conglomerado de centrais hidrelétricas na região. Conforme registros do MAB existem mais de 19 mil pessoas atingidas, contudo os números podem ser ainda maiores (BARROS e SYLVESTRE, ibid). Uma das principais reivindicações envolvendo diretamente populações atingidas por barragens está relacionada a não construção de empreendimentos hidrelétricos, onde estes alegam de uma forma expressiva que as obras inviabilizam a reprodução dos seus modos de vida, pois “as terras, lugares dessas populações que são alvo de negociação para a construção de Usinas são entendidas como patrimônio da família, da comunidade, assim como um ponto econômico” (RIBEIRO, 1993; OLIVEIRA, 2005; GALIZONI, 2000 e ZUCARELLI, 2006 apud ZHOURI e GOMES, 2007, p.111). A Comissão Mundial de Barragens considera que todo projeto de barragens deveria apontar melhria da sustentabilidade do bem-estar humano, isto quer dizer, um avanço significativo no desenvolvimento humano a partir do fato de que seja economicamente viável, socialmente e ambientalmente sustentável. O debate deve girar em torno de como buscamos o desenvolvimento sem afetar nossos recursos naturais (CMB1, 2000b). Ainda diante da visão da CMB, os problemas gerados por Hidrelétricas, desencadeiam impactos não só para as populações diretamente afetadas, que deverão deixar seu local de moradia, mas também, para toda a população ao redor, que poderá apresentar alterações culturais, de seus meios de subsistência como lazer, e outros. 1 Tradução livre de Aniely Coneglian Santos 33 O relatório da CMB é um marco na evolução das barragens com vistas ao desenvolvimento. No estudo do desempenho das barragens, a Comissão apresenta uma avaliação ampla de quando, como e por que estas conseguem ou não obter necessariamente os objetivos de desenvolvimento, sugerindo uma base racional para mudanças fundamentais na avaliação das opções, nos ciclos de planejamento e projeto de aproveitamentos de recursos hídricos e energéticos (MALFERRARI, ibid). Conforme o modelo para tomada de decisões apresentado pela CMB existem cinco valores essenciais: a equidade, sustentabilidade, eficiência, processo decisório participativo e responsabilidade (MALFERRARI, ibid). Diante dos impactos sociais gerados por barragens, a CMB (2000b) constatou que muitas vezes os efeitos negativos não são adequadamente avaliados, pois a intensidade desses impactos é considerável no que diz respeito à vida, à subsistência e à saúde das comunidades afetadas que dependem do ambiente ribeirinho. Em muitos impactos evidenciados encontravam-se casos de milhões de pessoas que viviam ao entorno das barragens, principalmente aquelas que dependiam das funções naturais das planícies aluviais e da pesca. Em alguns casos as pessoas deslocadas não foram devidamente indenizadas, ou aquelas que foram reassentadas raramente tiveram seus meios de subsistência mantidos, pois os programas de reassentamento em geral concentram-se na mudança física, excluindo a recuperação econômica e social dos deslocados, porém constatou-se que quanto maior a amplitude do deslocamento, menor a probabilidade de que os meios de subsistência das populações afetadas possam ser restaurados (MALFERRARI, ibid). De um modo geral, os estudos realizados pela CMB, demonstraram que eventos inesperados e mudanças no desempenho do desenvolvimento do projeto hidrelétrico podem conduzir em uma demora significativa na conquista da geração de energia elétrica. Uma busca por produção de energia elétrica através de Usinas de grande porte como a Usina de Tucuruí pode ter seu término sem relativa previsão de conclusão e lucro (CMB, 2000b). Na visão da CMB, a barragem de Tucuruí (instalação hidrelétrica operada pela Eletronorte até o ano de 2000) representou um prejuízo no início de seu empreendimento, pois, neste período calculou-se custos de geração de energia 34 equivalente a US$40 a 58/MWh, porém em 1998 cerca da metade desta produção foi para a indústria no preço de US$24/MWh. Diante da falta de dados precisos, não se pode afirmar que Tucuruí poderia recuperar seus custos diante desta disponibilização para o setor industrial (CMB, 2000b). Há também as construções de barragens para tentar controlar as grandes inundações. O Japão é o maior exemplo de implantação de Hidrelétricas para controle de desastres como este, prevenindo catástrofes que influenciem no meio social, como perda de propriedades, falta de alimentos e principalmente os impactos que podem ser gerados na saúde (CMB, 2000b). Ainda conforme a visão da CMB, os impactos ambientais gerados por grandes barragens são classificados pelos estudiosos em: impactos de primeira ordem, que implicam as conseqüências físicas, químicas e geomorfológicas; os impactos de segunda ordem, que implicam as mudanças biológicas dos ecossistemas; e os impactos de terceira ordem, que englobam as alterações na fauna. Outro aspecto relevante destacado no Relatório da CMB (2000b), referente aos impactos socioeconômicos esta relacionado à etapa de planejamento e desenvolvimento das obras de Hidrelétricas, que podem com sua demora no processo de construção, levar comunidades a uma estagnação no desenvolvimento e bem-estar, pois estas poderão permanecer por muitos anos, ou até esperar por décadas a implantação de uma obra. Há também a geração de novos empregos, previstos ou não no processo de planejamento das Hidrelétricas, que podem favorecer ou prejudicar a população local, trazendo novos empregados para o local, ou gerando empregos temporários que futuramente poderão influenciar no parâmetro de desemprego local. Nos relatórios estudados sobre a CMB, percebe-se que esta busca estabelecer através de seus estudos, um comprometimento com os valores individuais e sem perder o propósito, onde as partes envolvidas precisam participar ativamente no processo, porém sem deixar de levar em consideração os direitos e riscos e a importância das dimensões sociais e ambientais das barragens. 35 1.5 Relação sociedade – natureza Desde os primórdios, o homem interage com a natureza em busca de sua sobrevivência, muitas idéias e teorias foram criadas para compreender esta relação que se reflete até os tempos atuais. Porém, no modo de vida contemporâneo a tecnologia tem afastado a sociedade da natureza (CARMO, 2001). Para Perondi (2004, p.02), a sociedade possui a função de ressocializar a natureza, atuando nela a partir de dentro, mas a individualização do homem o distancia de sua própria sociedade, e, por conseguinte da natureza. “Na Renascença, a cidade se tornou sinônimo de civilidade, o campo de rudeza. Tirar os homens das florestas e encerra-los na cidade era o mesmo que civiliza-los”, mas a fraca infraestrutura para uma lotação cada vez maior transformou o ambiente urbano. De acordo com Oliveira (2001, p.52), a diferença entre comunidade e sociedade poderia assim ser definida: ...a comunidade seria um agrupamento humano com um grau elevado de intimidade e coesão entre seus membros e onde predominam os contatos sociais primários, com influência fundamental da família. Já a sociedade, seria estruturada por leis escritas, e as relações sociais seriam mais formais e impessoais; com indivíduos que independem uns dos outros para seu sustento e menos obrigados moralmente entre si. É possível perceber uma relação mútua entre sociedade e natureza, onde a sociedade reage às mudanças da natureza, da qual ela é um dos pontos, assim como a natureza, envolvendo-a, responde ao que acontece nas sociedades de alto escalão nos ramos do mundo vivo (PERONDI, ibid). Por volta dos anos 60, vários movimentos sociais acompanhados por debates epistemológicos no campo da ciência, lançaram novas bases para tentativa de superação dos pensamentos divergentes entre natureza e cultura. Os ecologistas foram rotulados como românticos e ingênuos opositores do progresso (LUDWIG, 2008). O crescimento populacional muito influenciou no comportamento humano, que em busca do desenvolvimento tem transformado o meio a sua volta. Os 36 fatores relacionados a este, são diversos incluindo: a produtividade de grãos, água para oportunidade consumo, de biodiversidade, emprego, alterações plantações, no florestas, clima, habitação, oceanos, energia, urbanização, áreas naturais para lazer, educação, lixo, produção de carne e renda (CARMO, ibid). Conforme Leff (ibid), o ambiente não é apenas uma realidade visível, mas sim uma convergência de processos físicos, biológicos e simbólicos, que através de ações econômicas, científicas e técnicas do próprio homem são reorganizadas e reconduzidas. Este afirma ainda, que a cidade converteu-se pelo capital, onde os processos urbanos se alimentam da super exploração dos recursos naturais e desestruturação do entorno ecológico. É importante ressaltar que para Leff (ibid), a relação entre o homem e o ambiente, poderá resultar em drásticas influências socioeconômicas de caráter ecodestrutivo, gerando um círculo vicioso de desenvolvimento de degradação ambiental onde a pobreza pode ser o principal reflexo. Para o autor, não se deve discutir a “tecnologia”, mas sim a sua influência sob o meio, de como esta pode influenciar em todo contexto cultural, social, científico e no conhecimento tradicional local. Mariano Neto (2003), também relata a influência da cultura na percepção das coisas inexistentes, onde o conceito de cultura e meio ambiente são superpostos aos de homem e natureza. Com o passar dos anos, a busca por maior rentabilidade virou um jogo de acumulação de riquezas, onde as coisas naturais só são interessantes se puderem ser transformadas em coisas monetárias (LUDWIG, ibid). Analisando os diferentes impactos desencadeados pela produção de energia elétrica em plena expansão, percebe-se que todas as modalidades de produção desta energia provocam alterações na natureza (REIS e SILVEIRA, 2000 apud SILVA e CARVALHO, 2002). Porém, algumas destas podem provocar maiores taxas de impactos não só ambientais mais também, culturais e sociais (SILVA e CARVALHO, ibid). 37 1.6 Realocação de População Realocação seria a transferência e reconstrução de bens ou instalações comunitárias, de uso coletivo ou público (MÜLLER, ibid, p.298). Porém, apresenta-se vinculada a questão de desapropriação das terras, ou seja, a aquisição legal destas para execução de empreendimentos ou segurança da população afetada. A realocação de famílias é embasada na necessidade de transferência do lugar, espaço ou território, os quais se iniciam pelo processo de desapropriação da terra, onde serão realizadas as obras do empreendimento. No caso desta pesquisa, abrange principalmente o risco da inundação de terras ocasionados pela criação do reservatório da Usina. 1.6.1 Desapropriações As palavras desapropriar e expropriar são utilizadas como sinônimos, e no dicionário da língua portuguesa é definido como “privar alguém da propriedade de”, não se pode ver como um meio de negar o direito de propriedade, mas sim onde ocorre uma permuta de valores, substituindo um bem por outro bem (FERREIRA, 1975, p.440 apud RIBEIRO, 2008). Segundo Müller (ibid), para a formação dos reservatórios que são criados para a implantação de Usinas Hidrelétricas, muitas terras são inundadas, devido ao risco de acumulação de águas que são desencadeadas por este processo. Neste contexto, há duas formas de desapropriação, uma relacionada à utilidade pública e outra por interesse social. Conforme Souza (2006, p.02), a desapropriação é um direito do Estado traduzido no procedimento regido pelo Direito Constitucional-Administrativo, “visando à imposição de um sacrifício total, por justa causa, de determinado direito patrimonial, particular ou público”, respeitando a hierarquia e por através de indenizações prévias e justas, com ressalvas constitucionais. 38 Com relação ao direito de propriedade, a Constituição Federal de 1988 prevê a possibilidade de o Poder Público retirar bem do patrimônio de particular para atender ao interesse público, disposta no inciso XXIV do artigo 5°, da Constituição Federal dispõe que “a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição” (BANCO MUNDIAL, ibid, p.14). No intuito de maiores esclarecimentos sobre um paralelo a esta pesquisa, abaixo está caracterizado conforme a lei de desapropriação - Decreto-lei Nº 3.365, de 21 de junho de 1941 os casos de desapropriação por utilidade pública e interesse social. Art. 1º A desapropriação por utilidade pública regular-se-á por esta Lei, em todo o território nacional. Art. 2º Mediante declaração de utilidade pública, todos os bens poderão ser desapropriados, pela União, pelos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios. § 1º A desapropriação do espaço aéreo ou do subsolo só se tornará necessária, quando de sua utilização resultar prejuízo patrimonial do proprietário do solo. Art. 5º Consideram-se casos de utilidade pública: o aproveitamento industrial das minas e das jazidas minerais, das águas e da energia hidráulica; (LEI N° 3.365, 1941 apud BANCO MUNDIAL, ibid, p.15). No caso de Utilidade Pública – que é o enfoque desta pesquisa – segundo a disposição preliminar sobre legislação, caracteriza que, a Constituição Federal, sem dúvida tenta conferir maior garantia aos cidadãos, quando estabelece a necessidade de indenização justa e prévia ao ato de desapropriação. Contudo, ainda se faz necessário uma política de compensação social à população que tem sua terra desapropriada, onde frequentemente, a retirada de determinadas comunidades geram tensão nos processos de licenciamento ambiental. Segundo Müller (ibid, p.292) no caso, de ações judiciais federais de desapropriações, estas devem preceder a implantação do empreendimento. O autor assinala que o processo de desocupação deve iniciar-se na fase de estudos de inventário da bacia hidrográfica. Para Ribeiro (2008) as desapropriações em empreendimentos hidrelétricos envolvem três aspectos: perda patrimonial, das condições de vida e produção, e expropriação simbólica. Estas questões podem ocorrer a curto, 39 médio ou em longo prazo, dependendo das condições de reprodução que a população atingida irá desencadear durante as negociações. Pode-se afirmar que muitas reivindicações inerentes à questão ambiental, que surgem nas audiências públicas na fase de licenciamento de grandes empreendimentos, resultam do fato de não propiciar à comunidade deslocada o seu devido reassentamento ou indenizações justas (MALFERRARI, ibid). 1.7 Realocação de População em Empreendimentos Hidrelétricos Com o processo acelerado do capitalismo em busca de maiores recursos para o desenvolvimento tecnológico, a Energia Hídrica apresenta grande potencial de expansão no Brasil. Como conseqüência destes empreendimentos a realocação de pessoas que vivem acerca destas microrregiões estão sendo diretamente afetadas, resultando em um cenário social completamente modificado por estes empreendimentos. Diante disto, muitos confrontos, desentendimentos podem ocorrer ficando de um lado a população diretamente afetada e do outro o Empreendedor. Neste campo de conflitos, onde diferentes posições sustentam forças desiguais, prevalece muitas vezes uma política socialmente injusta e ambientalmente insustentável (SIGAUD et al., 1987 e VAINER, 2004 apud ZHOURI e OLIVEIRA, ibid). Para Müller (ibid), qualquer atividade econômica pode provocar impactos positivos ou negativos em seu entorno, onde em muitos casos estes impactos desencadeiam processos de degradação ambiental. De acordo com o CNEC (ibid), a avaliação das propriedades rurais e urbanas a serem indenizadas devido ao empreendimento, deverá obedecer os critérios estabelecidos pelas Normas Brasileiras – NBR2. Entretanto, nos reassentamentos rurais devem ser obedecidos os critérios estabelecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) sobre módulos rurais para a área de inserção do empreendimento. 2 Denominação de norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT 40 Segundo Ipardes (1977 apud Müller, 1995), nas realocações devem ser considerados alguns campos que são relevantes neste processo: 1) A História da ocupação, a qual leva em consideração particularidades étnicas, culturais e econômicas; 2) Os Fatores Demográficos, onde serão avaliadas a densidade rural e/ou urbana e suas distribuições, levantamento da saúde e educação; 3) Fatores Operacionais, no que devem ser avaliados os recursos naturais, topologia, solos, hidrologia, geografia das comunidades e infra-estrutura; 4) Estrutura Produtiva, onde se destacam o dinamismo econômico das áreas, bem como a produtividade dos solos. A avaliação deste campo depende de conhecer as variedades culturais como também de criações e desenvolvimento tecnológico e industrial; 5) Infra-estrutura econômica pertence ao grupo de transportes locais, energia elétrica, comunicações, deve ser avaliada com cautela se estes forem diretamente afetados pelo empreendimento para serem devidamente deslocados; 6) Infra-estrutura social, que englobam aqui os sistemas educacionais, saúde, saneamento e habitação, onde diversos aspectos dentro destas variáveis podem ser expressivos em termos de impactos sociais, e um dos principais pontos a ser abordado nesta pesquisa; 7) Desenvolvimento regional, seria considerado o dinamismo, como ocorre ou irá transcorrer o processo de desenvolvimento local devido à influência da UHE Cada empreendimento hidrelétrico pode impactar de modo diferenciado na população em questão, podendo desencadear um choque cultural sobre a questão social, onde a realocação sempre gera desestruturação das relações sociais e dos processos produtivos tradicionais na visão de Müller (ibid). Segundo a CMB (2000a, p.12), foi constatado que muitos impactos sociais negativos não são considerados, e um dos fatores que se destaca para Comissão é que aquelas pessoas reassentadas raramente tiveram seus meios de subsistência restaurados, pois no geral a preocupação dos empreendedores “concentram-se na mudança física, excluindo a recuperação econômica e social dos deslocados”. 41 Outra questão abordada por Penido (2008), no caso da UHE de Candonga, é que além das famílias afetadas diretamente pelo empreendimento, outras inúmeras famílias (que não sofreram o deslocamento), tiveram comprometida sua capacidade de trabalho, assim como as comunidades de cidades vizinhas. No caso de Candonga, o uso de força policial foi aplicado para a exigência de realocação a 20 (vinte) famílias que se recusaram a migrar para o reassentamento de Novo Soberbo, gerando um impacto social alimentado por ações de violência (PENIDO, 2008). Nos EIA-RIMA‟s os programas para reassentamento, surgem como medidas “mitigadoras, como forma antecipatória de relativizar/dissimular as conseqüências ambientais dos empreendimentos nas áreas onde serão instalados” (PENIDO, 2008, p.09). Ainda nesta empreendimento percepção, como os um discursos fato concreto, ideológicos abordam indispensável para o o desenvolvimento do país, mas não é avaliado que mesmo o “antigo” lugar, apesar de não possuir a modernidade das “novas” casas, era um lugar que fornecia “os elementos básicos à reprodução do modo de vida de seus moradores (PENIDO, 2008, p.11). Portanto, acompanhada, a estratégia levando em de realocação consideração as precisa ser muito peculiaridades de comunidade, tornando-se fundamental o estudo paralelo a este processo. 42 bem cada CAPÍTULO 2 MEDIDAS AMBIENTAIS ENVOLVIDAS NO PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA USINA HIDRELÉTRICA BAGUARI 2.1 Impactos Ambientais gerados por implantação de Hidrelétricas e as Legislações envolvidas Os Impactos Ambientais ocasionados pela implantação de Usinas Hidrelétricas são muito amplos e envolvem um enfoque multidisciplinar na abordagem do tema. Com a evolução tecnológica, e o processo de industrialização, houve um aumento no investimento de geração de energia elétrica, com isto também uma crescente denúncia dos impactos socioambientais dos projetos de barragens em questão. Conforme cita Rothman (2008) apesar desta representatividade expressiva, não foi suficiente para minimizar as ideias de desenvolvimento trazidas pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) desenvolvido no Governo Lula com o discurso de progresso. Com isso o PAC estimulou a construção de grandes barragens, principalmente na bacia amazônica e Estado de Minas Gerais, aumentando os debates e conflitos nesta área. Como resposta aos estudos e protestos a nível mundial, “o Banco Mundial criou um Departamento de Meio Ambiente e adotou exigências e critérios para a elaboração de estudos de Impactos Ambientais como condição de financiamento de projetos” (ROTHMAN, 2008, p.22). 43 A conceituação do que seja Impacto Ambiental a nível mundial data do período da Revolução Industrial e este tem sido alterado constantemente. Isto se deve às diferentes atividades humanas que podem afetar o meio ambiente. Entretanto, a adoção de uma forma dinâmica para a avaliação de impactos ambientais somente teve início na década de sessenta (SILVA,1999). Estados Unidos foi um dos países pioneiros na definição legal de objetivos e princípios da política ambiental, através da Lei Federal denominada "National Environment Policy Act - NEPA" aprovada em 1969. Assim, começou a ser exigido que todos os empreendimentos que pudessem gerar impactos procedessem, dentre outras obrigações: “(a) a identificação dos impactos ambientais, (b) a caracterização dos efeitos negativos e (c) a definição de ações e meios para mitigação dos impactos negativos” (SILVA, ibid,p.01). A partir de então, diversas organizações internacionais como a ONU (Organização das Nações Unidas), passaram a exigir cooperação econômica através dos estudos de avaliação de impacto ambiental (SILVA, ibid). Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, realizada em 1972 em Estocolmo, Suécia, surgiu a Declaração de Estocolmo que, de acordo com McCormick (1992, p. 109 apud Viana, 2003, p.70) “não se visava definir cláusulas de cumprimento obrigatório, mas „inspiracional‟, registrando os argumentos essenciais do ambientalismo humano, e atuar como um prefácio para os princípios, delineando metas e objetivos amplos”. A responsabilidade dos Estados signatários é de assegurar que as atividades empreendidas dentro de sua jurisdição ou controle não causem dano ao meio ambiente ou a outros Estados foi estabelecida no princípio número 21 da Declaração de Estocolmo (VIANA, ibid). A Carta Mundial para a Natureza, criada dez anos após a Declaração de Estocolmo, ampliou e reiterou a responsabilidade dos Estados e de outras autoridades públicas, organizações internacionais, indivíduos, grupos e corporações de assegurar que as atividades realizadas dentro de sua jurisdição ou controle não causem danos ao ecossistema natural de outros Estados ou de áreas externas à jurisdição nacional (VIANA, ibid). No Brasil, a elaboração de leis para este fim, iniciou-se de forma expressiva com a edição da Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981, que estabeleceu os critérios para uma Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) 44 criando o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), e os órgãos seccionais, entidades estaduais responsáveis pela execução de programas e projetos de controle e fiscalização das atividades capazes de provocar a degradação da qualidade ambiental. O SISNAMA delega em caráter supletivo aos Estados a elaboração de normas complementares abordando o desenvolvimento econômico e social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico (CNEC, ibid). Com isto também foram definidas as áreas prioritárias de ação governamental; o incentivo ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais priorizando o uso racional de recursos ambientais; pensando, contudo, na divulgação de dados e informações ambientais de acesso facilitado para a formação de uma consciência pública voltada para a preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico (WUNDER, 2003). Esta mesma lei, em seu art.10, estabeleceu como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente, o licenciamento das atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, conforme citação abaixo: Art. 10 - A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimento e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma de causar degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento por órgão estadual competente, integrante do SISNAMA, sem prejuízo de outras licenças exigíveis (CNEC, ibid, v.01, cap.03, p.09). Percebeu-se que o contexto abordado pela PNMA precisava ainda de uma regulamentação específica, através deste fato, algumas questões pertinentes a esta Lei foram regulamentadas pelo CONAMA em 23 de janeiro de 1986, através da Resolução nº 001, sendo atribuídas responsabilidades aos órgãos públicos com atuação na área ambiental (BRASIL, 1986). Através da Resolução n° 006, de setembro de 1987, foram estabelecidas regras especiais sobre o licenciamento ambiental em obras de grande porte, ficando determinada à obrigatoriedade da elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA); e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), (MÜLLER, 2006). Porém o que se percebe na elaboração destes instrumentos é uma “prevalência da capacidade técnica sobre os demais aspectos da vida social, uma vez que não são considerados os saberes populares para a elaboração 45 dos dois estudos ambientais, ou a validação de outras racionalidades que pensam e discutem o projeto de desenvolvimento em avaliação” (WUNDER, ibid, p.80). Atualmente existem várias leis voltadas para a proteção ou autorização da utilização de recursos hídricos, dentre destas, a Lei nº 9.433, de 8 de fevereiro de 1997 - que Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, criando o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal; e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989 (CNEC, ibid, v.01, cap.03, p.05). Conforme CNEC (ibid) da Lei nº 9.433 destaca-se: O art. 11 que define o regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água. O art. 12 que determina que estão sujeitos a à outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos hídricos.A outorga e a utilização de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica estará subordinada ao Plano Nacional de Recursos Hídricos, aprovado na forma do disposto no inciso VIII do art. 35 desta Lei, obedecida a disciplina da legislação setorial específica (§ 2º do art.12). O art. 24 que salienta que os municípios poderão receber compensação financeira ou outro tipo que tenham áreas inundadas por reservatórios ou sujeitas a restrições de uso do solo com finalidade de proteção de recursos hídricos. No entanto, o § 3º dispõe que o mesmo não se aplica às áreas de preservação permanente previstas nos arts. 2º e 3º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, alterada pela Lei nº 7.803, de 18 de julho de 1989 (inciso I, art. 24) e aos aproveitamentos hidrelétricos (inciso II) (BRASIL, LEI Nº 9.433/97 apud EIA-CNEC, ibid, v.01, cap.03, p.06). Muitos consideram o EIA e RIMA sinônimos, porém o Estudo de Impacto Ambiental é descrito como de maior abrangência que o Relatório e o engloba em si mesmo. O EIA compreende o levantamento da literatura científica e legal, trabalhos de campo, análises de laboratório e a própria redação do relatório. Já o RIMA, vem para esclarecer o empreendimento (MACHADO, 1992 apud MÜLLER, ibid, p.63). O RIMA também deve traduzir as informações em uma linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas e quadros, gráficos e demais formas de comunicação para o bom entendimento das vantagens e desvantagens do projeto, incluindo claramente as conseqüências ambientais em sua implantação (SILVA et. al., 2006). 46 O objetivo central do Estudo de Impacto Ambiental seria evitar que uma obra, aceitável pelo ponto de vista econômico, futuramente se transforme em um desastre ambiental. Em suma, o EIA deve avaliar a viabilidade ambiental do projeto, incluindo a avaliação de alternativas de localização do crescimento em termos de impacto ambiental, custos, benefícios. O mesmo deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar habilitada, não dependente direta ou indiretamente do proponente do projeto, onde será responsável tecnicamente pelos resultados apresentados (MÜLLER, ibid). Os EIA/RIMA, devem ser elaborados na fase preliminar do planejamento do empreendimento e devem conter requisitos básicos, orientações, recomendações e limitações que deverão ser atendidas nas etapas de planejamento, instalação e operação do empreendimento (CNEC, ibid). O EIA e o RIMA, devem ser discutidos com a população do local do empreendimento, através de audiências públicas, onde todas as perguntas devem ser adequadamente respondidas. É neste momento que durante as audiências, a comunidade deveria exercer seus direitos, mediante suas opiniões, reclamações e sugestões exigindo medidas compensatórias pelos impactos que o empreendimento irá causar ou até mesmo rejeitar o projeto (CUT, 2000 apud SILVA, et al. ibid). Porém corresponde esclarecer que nas audiências públicas dificilmente as comunidades conseguem de fato garantir seus direitos. Estes documentos deveriam demonstrar uma real percepção de quais impactos ambientais poderão ser desencadeados a nível ambiental tanto quanto referente às populações que pertencem a áreas de abrangência do empreendimento; onde desta forma pode-se direcionar a viabilidade ou não da obra (WUNDER, ibid). Como já assinalado anteriormente, Impacto Ambiental de acordo com O Art. 1º da Resolução do CONAMA nº 001, é definido como qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante, das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam”: a biota, saúde, segurança e bem-estar da população, atividades sociais e econômicas, condições estéticas e sanitárias do meio ambiente, e qualidade dos recursos ambientais (BRASIL, RESOLUÇÃO DO CONAMA Nº 001, Art.1º, 23 DE JANEIRO DE 1986). 47 Para Spadotto (2002), esta definição exclui o aspecto de significância, já que considera como impacto ambiental “qualquer alteração...”, independente de ser ou não significativa. Diante desta definição, juridicamente o conceito de impacto ambiental se refere exclusivamente aos efeitos da ação humana sobre o meio ambiente (SILVA et al., 2006). As formas de avaliação de impactos ambientais são aplicadas através de instrumentos utilizados para “coletar, analisar, avaliar, comparar e organizar informações qualitativas e quantitativas sobre os impactos ambientais originados de uma determinada atividade modificadora do meio ambiente” (SAPADOTTO, ibid, p.02). Conforme a PNMA, foi estabelecido o licenciamento das atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, de acordo com a localização e a natureza do projeto, a licença é concedida pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA), ou por alguma outra secretaria relacionada com o SISNAMA (MÜLLER, ibid). O processo de licenciamento deveria garantir o cumprimento da legislação e das normas estabelecidas, possibilitando a participação social envolvida, até mesmo através da Audiência Pública obrigatória. Nos últimos tempos as discussões a cerca do licenciamento vêm sendo alvo dos meios de comunicação, onde um grande debate de posicionamento foi traçado, um dos lados desenham o licenciamento como um “entrave” para o desenvolvimento, já o outro lado defende que ele serve de instrumento da avaliação ambiental (ZHOURI et al., 2005). Nesta visão Zhouri e Rothman (2008, p.125) assinalam que a análise dos casos em Minas Gerais, “permite ainda uma leitura do processo de licenciamento ambiental como espaço de confronto entre modos distintos de se pensar o território e seus usos”. É de competência do CONAMA fixar os critérios básicos segundo os quais será exigido o EIA, e delegam ao Poder Público Estadual controlar e expedir as seguintes licenças, conforme o Art. 8º , incisos I, II e III, da Resolução N° 237, de 19 de Dezembro de 1997 (CNEC, ibid): Licença Prévia (LP) – concedida durante a etapa de planejamento. Contém informações sobre o local, a construção e o funcionamento 48 do projeto, assim como dados referentes às disposições previstas pelo governo na região; Licença de Instalação (LI) – trata-se de autorização para a construção do projeto de acordo com a última análise dos planos de construção; Licença de Operação (LO) – é concedida após controle da execução correta das exigências da LI, como também das exigências do Estudo de Impacto Ambiental (MÜLLER, ibid, p.88). As orientações, recomendações e limitações estabelecidas no EIA/RIMA, quando aprovadas pelo órgão competente, com a liberação da Licença Prévia, após audiência pública, apresentam força normativa, diante do empreendedor tanto quanto para a sociedade, visando a conservação e preservação do meio ambiente, que pertencem a todos, por direito assegurado pela Constituição da República Federativa do Brasil (CNEC, ibid). Vale ressaltar que a Constituição Federal de 1988 também criou condições para flexibilizar a administração da política ambiental, trabalhando com a descentralização e permitindo assim que estados e municípios adotassem posição ativa diante das questões ambientais locais. Porém, podese dizer que, ainda as questões ambientais são um grande desafio diante do debate social (ROESLER et. al., 2005). Nesta perspectiva, alguns estados brasileiros, como Minas Gerais e a Bahia, buscam formas de tornar o processo de licenciamento ambiental mais eficiente. A abordagem inovadora do Estado de Minas Gerais diferencia-se do Federal, sobretudo pela classificação das atividades conforme o grau de Impacto Ambiental. Essa definição permite que as atividades de impacto não significativo sejam dispensadas do processo de licenciamento ambiental, estando apenas sujeitas à Autorização Ambiental de Funcionamento emitida pelo órgão estadual. O Decreto Estadual nº 44.309, de 05 de junho de 2006, que dispõe sobre o licenciamento ambiental estadual, atribui a competência para sua realização ao Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM), por intermédio dos órgãos que o compõem, quais sejam: a Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), as Superintendências Regionais de Meio Ambiente, as Unidades Regionais Colegiadas, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e as Câmaras Especializadas do COPAM (BANCO MUNDIAL, 2008, p.19). A análise do processo de licenciamento, diante do Conselho de Política Ambiental (COPAM) é feita em função do grau de impacto ambiental dos empreendimentos. A necessidade ou não de licenciamento ambiental ou Autorização Ambiental de Funcionamento é estabelecida no Decreto Estadual 49 nº 44.309, entretanto o COPAM é o responsável por estabelecer os critérios para a definição de poluição ou degradação do meio ambiente (BANCO MUNDIAL, ibid). Para classificar as atividades sujeitas ao licenciamento ambiental, o COPAM estabelece critérios para definir o porte e potencial poluidor/degradador: Art. 5º Para fins de licenciamento ambiental, de autorização ambiental de funcionamento e de fiscalização ambiental, os empreendimentos e atividades serão classificados, em função de seu porte e potencial poluidor ou degradador, da seguinte forma: I - Classe 1, formada a partir das seguintes conjugações: a) pequeno porte e pequeno potencial poluidor ou degradador; b) pequeno porte e médio potencial poluidor ou degradador; II - Classe 2, formada a partir da conjugação de médio porte e pequeno potencial poluidor ou degradador; III - Classe 3, formada a partir das seguintes conjugações: a) pequeno porte e grande potencial poluidor ou degradador; b) médio porte e médio potencial poluidor ou degradador; IV - Classe 4, formada a partir da conjugação grande porte e pequeno potencial poluidor ou degradador; V - Classe 5, formada a partir das seguintes conjugações: a) médio porte e grande potencial poluidor ou degradador; b) grande porte e médio potencial poluidor ou degradador; VI - Classe 6, formada a partir da conjugação grande porte e grande potencial poluidor ou degradador (MINAS GERAIS, DECRETO Nº 44.309/2006 apud CNEC, 2002, v.01, cap.03, p.10). As informações referentes às características técnicas socioeconômicas e ambientais de uma obra como as Hidrelétricas, fundamentam-se nos EIA/RIMA como já exposto anteriormente. Estes documentos devem ser elaborados a partir de um “Termo de Referência” que é emitido pelo órgão ambiental, indicando ao empreendedor o que necessariamente deve estar incluso nos EIA/RIMA, onde há um roteiro a ser seguido. A base do licenciamento é a participação garantida das comunidades locais. “Por isso, os Termos de Referência deveriam comunidades ser atingidas”, discutidos pensando em em público, suprir as sobretudo demandas com as destas comunidades (ZHOURI et. al., ibid, p.104). Para Lacorte e Barbosa (1995, apud Zhouri et. al., ibid), a transparência da construção do EIA/RIMA não está pautada somente na participação e construção destes pela comunidade, mas principalmente ao fato de que as empresas de consultoria ambiental que elaboram os estudos serem contratadas pelo próprio empreendedor; ou seja, desta forma o EIA/RIMA pode 50 ser visto como uma mercadoria que será adquirida pelo empreendedor, cujo objetivo é ser aprovado pelos órgãos licenciadores. Cortez (2005 apud Karpinski, ibid), também reafirma o relato acima, referindo que os EIA‟s muitas vezes limitam-se à justificação dos empreendimentos ao contrário de relatar seus verdadeiros impactos. O autor vai além, afirma que no Brasil há uma verdadeira indústria destes relatórios que não se preocupa em questionar o empreendimento e sim justifica-lo a qualquer custo, mesmo que ocorram omissões de informações significativas. Desta forma, de acordo com autores Cortez (2005 apud Karpinski, ibid) e Lacorte e Barbosa (1995, apud Zhouri et. al., ibid) , a comunidade passa a ter conhecimento oficial do projeto somente durante a Audiência Pública, o que cai em contradição com a Resolução do CONAMA 001, de 23/01/86, que regula a estrutura do EIA/RIMA. Referente à UHE Baguari, vários estudos ambientais citados acima foram realizados para a viabilidade do empreendimento. Estes foram concretizados em 2001, tendo se iniciado o processo de licenciamento ambiental em Janeiro de 2002, quando o EIA/RIMA foi protocolado junto à FEAM e, solicitada a concessão da Licença Prévia do empreendimento. A Licença Prévia da UHE Baguari ao “no 156, de 29/10/2004, sendo concedida dentro do Processo COPAM 046/2002/0001/2002 e conforme Parecer Técnico Divisão de InfraEstrutura de Energia (DIENE) 030/2004”. Sendo assim, se tornou viável a participação do Consórcio Baguari, envolvendo as empresas Neoenergia, CEMIG e Furnas referentes ao “Leilão ANEEL no 002/2005, através do qual passou a deter a concessão do UHE Baguari”, iniciando a etapa de Licenciamento de Instalação (AMPLO, 2007, RE-PCA-BAG-SOC-001, p. 03). Neste mesmo período, houve a elaboração pelo Consórcio de um Termo de Acordo, como resultado do processo de negociação com a comunidade atingida, o qual definiu o processo das ações para a realocação das famílias. Para desatacar a necessidade e amplitude do estudo referente ao município de Periquito, a TABELA 2 demonstra a extensão linear dos trechos que serão afetados pela UHE Baguari. 51 TABELA 2: MUNICÍPIOS AFETADOS PELO RESERVATÓRIO - EXTENSÃO LINEAR MUNICÍPIOS Governador Valadares Periquito Alpercata Fernandes Tourinho Sobrália Iapu SUBTOTAIS TOTAL TRECHOS AFETADOS (km lineares) No Rio Doce No Rio Corrente Grande extensão margem Extensão Margem 2,6 5,0 Esquerda esquerda 17,4 5,0 Direita 0,4 13,8 direita 5,8 1,8 21,8 5,0 26,8 FONTE: EIA (CNEC, 2002, vol. 01, cap.02, p. 23) Diante das discussões supracitadas, fica evidente que o licenciamento ambiental é um procedimento administrativo realizado como uma exigência legal do Estado na realização de atividades que poderão causar impactos ambientais (Zhouri, et. al., ibid). 2.2 Impactos Esperados Pelo Empreendedor da UHE Baguari Dentro do contexto de Impactos Ambientais direcionados aos aspectos Socioeconômicos do empreendimento da UHE Baguari, o EIA levantadou prognósticos referentes à previsão do cenário destes, nos quais destacam-se de forma resumida (CNEC, ibid): 2.2.1 Saúde As doenças prevalecentes na região sugerem a manutenção dos elevados índices de morbimortalidade por doenças infecciosas e parasitárias na região, evidenciando que não há iniciativas de melhorias sanitárias e de condições de vida da população (CNEC, ibid). No município de Periquito fatores que privilegiam a atenção ao indivíduo não apresentam possibilidades de mudanças significativas relacionadas à 52 saúde coletiva. No entanto, de acordo com o EIA, não atuam em um grau elevado de degradação ambiental e sociosanitário: Tal prognóstico se explica pelos vários modos de exposição dos grupos humanos aos riscos identificados na ADA (Área Diretamente Afetada) e AE (Área do Entorno), destacando-se os usos do Rio Doce nas estratégias de sobrevivência das populações ribeirinhas, ao exercerem atividades de pesca, de agricultura, de retirada de areia e atividades de lazer (CNEC, 2002, v.04, cap.08, p.02). Com relação ao quadro geral de degradação e exposição da população aos agentes endêmicos, estes poderão contribuir para que vigorem altos índices de doenças como: hepatite, dengue, gastrenterite, hanseníase, esquistossomose, tuberculose, febre amarela, malária, leptospirose e leishmaniose. Assim a atenção durante o processo de instalação da UHE de Baguari deverá estar focada nas atividades de Vigilância em Saúde, que possivelmente registrará maior número de casos de doenças notificáveis, contribuindo para elevação dos índices de morbidade. Referente às Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST‟s) a sua prevalência poderá aumentar, também associada ao fluxo migratório entre a região de estudo e o número elevado de pessoas desta população que buscam recursos nos Estados Unidos, mas retornam posteriormente para seu local de origem (CNEC, ibid). Mendes (2008, p.76) assinala que “a construção de hidrelétricas sobrecarrega os serviços, principalmente públicos, ofertados à comunidade local dificultando ainda mais, o acesso a estes serviços”. No município de Periquito, referente à UHE de Baguari, a maioria dos migrantes não residem no local, porém o contingente que assim o fez, foi suficiente para aumentar a demanda nos serviços de saúde e educação, dentre outros. Em específico, no serviço de saúde, um aumento não previsto, pode gerar diversos transtornos, como inacessibilidade a vacinas, medicamentos e até mesmo ações de prevenção à saúde. 2.2.2 Saneamento Básico Embora o Consórcio responsável pela UHE de Baguari tenha tomado providências quanto ao saneamento básico (através da construção de sistema 53 de esgoto), para as “novas” residências no qual esteve responsável para a realocação dos diretamente afetados por este empreendimento, contudo o EIA assinala que na região poderão surgir problemas futuros, razão pela qual, deverão implementar-se medidas para sua solução. De acordo com o EIA, antes do empreendimento a população era bem servida por redes coletoras de esgotos e, a água era de boa qualidade e em quantidade suficiente para atender as necessidades de higiene e conforto da população. Entretanto, a coleta de resíduos sólidos não atingia todas as residências, assim como sua disposição em lixões ou lotes vagos era inadequada. O sistema de drenagem pluvial era deficiente e os esgotos sanitários e industriais coletados eram lançados diretamente nos cursos d‟água próximos às cidades, sem qualquer tratamento (CNEC, ibid). A sede do município de Periquito não apresenta problemas relativos ao sistema de abastecimento de água, pois a estação de tratamento de água apresenta capacidade de produção de 12 l/s, assim sendo, não há previsão de ampliação nos próximos anos. Porém, a sede do município ainda não é bem servida por redes coletoras, que vem sendo implantadas gradativamente. O sistema de drenagem pluvial também ainda é deficiente e a manutenção da situação atual aponta para um prognóstico desfavorável, sendo um item que deve merecer atenção especial, por parte do município. Diante do exposto, para a melhoria das condições atuais de funcionamento são urgentes as seguintes ações: ampliar o sistema de microdrenagem; adotar uma política municipal de acompanhamento das áreas de ocupação por pessoas carentes; realizar cadastro das redes de drenagem pluvial e esgotamento sanitário existentes; coleta especial para os resíduos hospitalares; instalação de cestas coletoras de lixo em diversos pontos; conscientização da população sobre a limpeza urbana, preparando-se para a coleta seletiva (CNEC, ibid). Por sua parte, no Distrito de Pedra Corrida, o abastecimento de água não apresenta riscos com a implantação do empreendimento, porém este quase não é servido por redes coletoras de esgoto, predominando ainda a utilização de fossas rudimentares e lançamentos direto no rio Doce. Vale ressaltar que conforme o EIA (CNEC, ibid), uma percentagem significativa da população ainda não possuía nem banheiro no domicílio. O sistema de drenagem pluvial também ainda era praticamente inexistente, sendo destacado dentro do EIA 54 como um item que mereceria atenção especial, por parte da municipalidade. A coleta de resíduos sólidos era insuficiente, e foi sugerido a implantação de um aterro sanitário através dos relatórios produzidos. 2.2.3 Habitação Havia uma preocupação pelo empreendedor com o número de trabalhadores que poderiam se fixar no município de Periquito devido à obra situar-se próximo a este, podendo gerar impactos habitacionais, como aumento do aluguel ou, até mesmo, falta de imóveis para atender a esta demanda (CNEC, ibid). Mas, abordando o foco principal desta pesquisa, com relação à análise do processo de realocação, o EIA ressalta: Para os habitantes que permanecerão residindo no local após a elevação do nível da água na área diretamente afetada, as condições de risco sanitário serão agravadas pelo desalojamento e emigração dos animais transmissores de doenças para as imediações. Os moradores que serão realocados receberão impactos positivos por serem afastados das áreas de risco sanitário, mas sofrerão impactos negativos advindos da necessidade de adaptação aos novos locais de moradia (CNEC, 2002, vol. 4, cap. 8, p. 10). Porém esta visão é contraditória, pois a realocação é uma ação mitigadora necessária pelo impacto negativo do risco sanitário diante do processo de ralocação. 2.2.4 Educação O EIA destaca em termos de Educação que: a persistência, agravamento ou melhoria do quadro educacional das Áreas de Influência, Entorno e Diretamente Afetada, independe de ocorrer ou não o empreendimento. É de se esperar que os poderes públicos, estadual e municipal continuem a responder, preponderantemente, pela oferta de ensino de primeiro e segundo graus nos municípios, com soluções de cobertura apropriadas para a realidade de cada um, bem como transporte escolar e adoção de programas de bolsas. (CNEC, 2002, ibid, p.02). 55 Vale ressaltar que durante o período de coleta dos dados, foi questionado a representantes da educação (professoras) do município de Periquito e Distrito de Pedra Corrida sobre a observação de alterações nas Escolas em decorrência do processo de implantação da UHE Baguari. Muitos dos professores relataram que houve uma variabilidade no número de alunos, que seriam filhos dos funcionários vindos para trabalhar temporariamente com a barragem, assim como também os próprios funcionários estavam buscando por estudo. Diante deste aspecto, e assim como o Relatório da CMB (2000a) afirma, processos como este poderão desencadear aumento na demanda, dificuldades de acesso as escolas em alguns casos relacionados ao aumento do nível da água, redução da freqüência escolar, assim como influenciar no aumento das doenças. Há o prognóstico referente ao aumento de dificuldade de acesso dos residentes do município e distrito a Cursos Superiores na região, devido a possibilidade de maiores gastos com transporte escolar. 2.2.5 Recursos Hídricos e Agropecuária Com relação aos Recursos Hídricos Subterrâneos – de acordo com trabalhos realizados anteriormente – em curto prazo não teriam modificações, uma vez que os parâmetros físico-químico utilizados para avaliar os índices de qualidade da água relacionados ao Rio Doce enquadravam-se como regular, sendo oxigenadas e quimicamente equilibradas. Porém, apresentavam elevadas concentrações de materiais contaminantes como matéria fecal provenientes de dejetos de esgoto de cidades ribeirinhas, de toda forma, esta água não é utilizada pela população, que como alternativa aproveita os recursos hídricos subterrâneos através de poços escavados ou os recursos hídricos superficiais, através de nascentes. Portanto, mesmo com a construção da UHE de Baguari, este cenário não sofrerá modificações (CNEC, ibid). No EIA destaca-se que “as culturas predominantes poderão ser incentivadas no sentido da agregação de valor, através de implantação de 56 agroindústrias, contribuindo para elevar os níveis atuais de qualidade e produtividade, além da geração de empregos pelo aumento da escala de produção” (CNEC, ibid, v. 4, cap.8, p.08). Este tipo de impacto no setor agropecuário, mesmo que direto e indireto poderá desencadear efeitos positivos, pois parte da energia gerada pelo empreendimento pode ser disponibilizado para o meio rural em termos de aumento da mecanização e uso de irrigação, pouco difundidos antes deste. Mas na realidade, é importante deixar em destaque que geralmente a energia gerada com estes empreendimentos, visam lucro para empresas, e os atingidos nem sempre precisavam ou desejavam aumento mecânico da irrigação, assim como muitas vezes os produtores não contam com capital de giro para arcar com os custos extras que esta mecanização origina. 2.2.6 Segurança e Lazer Os impactos advindos da interação com o meio social, que poderão gerar violência local, irão demandar um sistema de supervisão e acompanhamento dos trabalhadores, sustentado por profissionais de competência na área de psicologia e assistência social, bem como de policiamento local (CNEC, ibid). Há uma proposta do empreendedor de reforçar o policiamento local com o início das obras, assim como reestruturar um local em Pedra Corrida como ponto de permanência de policiais, pois acredita-se que como o distrito tem poucos habitantes, se os trabalhadores de fora se fixarem neste local poderá desencadear impactos sociais referente à segurança da população. Conforme o diagnóstico do EIA (CNEC, ibid), em Pedra Corrida, às margens do rio Doce, existe uma área de lazer denominada de “prainha”, amplamente utilizada pelos moradores. No local não há nenhuma infraestrutura, porém é reconhecido por estes habitantes como único tipo de lazer para os mesmos, sendo inclusive referência de alguns eventos comunitários deste núcleo. Vale ressaltar que encontra-se no EIA, na forma de avaliação do impacto a descrição de que com a formação do reservatório ocorrerá a extinção desta 57 área de lazer (Figura 01), sendo este “impacto direto, irreversível, permanente, local, de alta magnitude e negativo, tendo em vista a relação que os moradores de Pedra Corrida mantêm com este local” (CNEC, ibid, v.04, cap.09, p.65). Figura 01: “prainha” FONTE: AMPLO, 16/06/2006 Ainda nos estudos realizados no EIA, outro ponto a ser destacado é que possivelmente, o lago formado poderá constituir em alternativa de lazer para a população da área, passando a representar, por um lado, certo risco de acidentes por afogamento para seus freqüentadores. Para tanto, o empreendedor apresenta propostas através de Programa de Educação Ambiental, e criação de novo local de lazer como uma praça. A população local, consolidou suas reivindicações através da Associação de Moradores, onde esta foi constituída a partir do início das negociações sobre a implantação da UHE Baguari, porém muitos acreditam que uma “uma praça” não substituirá satisfatoriamente a perda da prainha. 2.3 Acordo firmado entre a População Alvo de Realocação da Área Urbana e o Empreendedor 58 Para o remanejamento da população urbana que se inclui na Área Diretamente Afetada foi elaborado pelo empreendedor um Termo de Acordo, onde a população afetada em acordo com o Consórcio assinou com consentimento do processo de realocação (alguns recusaram assinar o Termo e foram para o processo jurídico) porém aqui se encontra a definição desde termo nos aspectos Habitacionais, com a determinação do Tipo de casa (TABELA 3) que cada morador recebeu por direito. Para este acordo foi realizado previamente pelo empreendedor um levantamento físico das residências atingidas, levando em consideração a qualidade dos materiais e mão-de-obra utilizada. TABELA 3: TIPOLOGIA DAS CASAS PARA REALOCAÇÃO TIPOLOGIA 01 02 03 04 05 CÔMODOS 2 quartos,sala, cozinha, banheiro e lavanderia 2 quartos,sala, cozinha, banheiro e lavanderia 3 quartos,sala, cozinha, banheiro e lavanderia 4 quartos,sala, cozinha, banheiro e lavanderia 4 quartos,sala, cozinha, banheiro e lavanderia ÁREA DE PISO (m2) ÁREA TOTAL (m2) 50 60 66 80 90 105 104 120 120 140 FONTE: CONSÓRCIO UHE BAGUARI, 2007, a e b Ainda respeitando o acordo, ficou definido que todas as casas teriam piso de cerâmica, os lotes seriam todos cercados com muro de alvenaria. A escolha do lote ficou a cargo da própria população, sem interferência do empreendedor. Outra questão firmada foi o pagamento de benfeitorias presentes no terreno/ lote/ quintal de cada morador a ser realocado. Diante deste contexto as negociações ainda estão ocorrendo, mesmo após o período de realocação. 59 CAPÍTULO 3 O MUNICÍPIO DE PERIQUITO E A IMPLANTAÇÃO DA USINA HIDRELÉTRICA DE BAGUARI 3.1 Caracterização do município de Periquito A área de abrangência da UHE Baguari se encontra inserida na região Leste de Minas Gerais, dentro da denominada macrorregião do Rio Doce ( FIGURA 02). A região do Vale do Rio Doce, coberta no passado por uma rica Mata Atlântica, vem sofrendo intervenções antrópicas através de atividades econômicas ao longo do tempo, desde o garimpo de ouro em 1700, passando pela cafeicultura e criação de gado no séc. XIX, e chegando à siderurgia no séc. XX. Os usos decorrentes de suas terras modificaram de maneira drástica a paisagem da região, resultando na formação de fazendas, no extrativismo madeireiro e na produção de carvão, sendo a mata progressivamente substituída por extensas pastagens, pequenas áreas cultivadas e reflorestamento homogêneo de eucalipto (CNEC, 2002, v.04, cap.07, p.01). Os municípios da Macrorregião Rio Doce que são considerados Área de Influência no aspecto da instalação da Hidrelétrica de Baguari são os municípios de Governador Valadares, Periquito, Alpercata, Sobrália, Fernandes Tourinho e Iapu, abrangendo uma área de 41.809,1 Km², correspondendo a 7,13% da área total do Estado de Minas Gerais (CNEC, ibid). 60 Figura 02: Local de implantação da UHE Baguari - Imagem de Satélite FONTE: Limiar Engenharia Ambiental (Acesso: 14 de junho de 2009) Atualmente, a Região do Rio Doce é marcada pelo contraste entre uma porção industrializada composta pelo Vale do Aço, um importante pólo microrregional de características terciárias, como Governador Valadares, e uma outra porção sustentada economicamente nas atividades agropecuárias, que agrega as demais microrregiões. Os principais pólos são os municípios de Ipatinga e Governador Valadares responsáveis, pela metade do Produto Interno Bruto (PIB) da região em discussão, segundo dados do IBGE (2000 apud CNEC, ibid). Os demais municípios da Área de Influência estão situados entre estes dois importantes pólos e apresentam valores de PIB bem menos expressivos (CNEC, ibid). Os primeiros povoamentos fixaram-se na curva do Rio Doce, nas proximidades do ponto onde se destaca na topografia o Pico do Ibituruna, onde o rio muda a direção de sudoeste-nordeste para sudeste até Aimorés, ainda em Minas Gerais, quando segue para leste até a foz, no litoral do Espírito Santo. O lugar, inicialmente chamado Porto de Dom Manuel, ganha no correr do tempo outras sete denominações, como Baguari e Figueira, ultimando por Governador Valadares (CNEC, ibid). A estação da Estrada de Ferro Vitória-Minas foi inaugurada naquele local em 15 de agosto de 1910, quando o futuro pólo se transformou em ponto de troca de mercadorias transportadas pelos tropeiros. Em 1936 ocorreu a conexão das Estradas de Ferro Vitória-Minas e Central do Brasil, que colocou o 61 espaço, então denominado Figueira, em contato direto com os grandes centros consumidores, reafirmando o sítio como centro privilegiado da região (CNEC, ibid). O processo de desmatamento sistemático e sua natureza extrativa, sem preocupações quanto à reposição, levou à exaustão de grande parte das reservas naturais, deixando em seu lugar grandes áreas que cederam lugar às pastagens, direcionando a característica regional para a pecuária extensiva. Os demais municípios da Área de Influência (AI) e enquadrados na Área Diretamente Afetada (ADA), resultaram de sucessivos processos de emancipação dos municípios de origem, de grande extensão territorial, com destaque para Caratinga, Tarumirim e Açucena (CNEC, ibid). Periquito, distrito criado em 1962, emancipou-se de Açucena em 1995, na última leva de municípios criados em Minas Gerais. Possui, além da sede (FIGURA 03), outros três distritos, Serraria, Pedra Corrida e São Sebastião do Baixio, sendo estes dois últimos separados de Açucena e incorporados a Periquito quando do processo de emancipação (CNEC, ibid) Figura 03: Vista da sede do município de Periquito, à esquerda a BR 381 e a direita o Rio Doce. FONTE: Aniely Coneglian Santos, 2008. 62 O município é cortado pela BR-381, o transporte ferroviário é atendido pela Ferrovia Vitória-Minas (FIGURA 04), monopolizada pela Vale, que transporta a carga das fontes mineradoras até o Porto de Vitória-Tubarão (CNEC, ibid). Figura 04: Vista Parcial da Rua Beira Linha sendo do município de Periquito FONTE: CNEC, 2002. Segundo o EIA da UHE Baguari, o município de Periquito foi marcado pelos movimentos campo-cidade, em conseqüência das oportunidades sazonais de trabalho referente às atividades extrativas e de reflorestamento de empresas como a antiga Acesita, Cenibra e Preservar, que dispõem de áreas na região. Também se identificou movimentos migratórios para Governador Valadares e Ipatinga, de ida para São Paulo, além de movimentos de ida-evolta para Vitória/ES, diretamente relacionada à fragilidade da economia municipal. Constatou-se também migração de jovens para os Estados Unidos da América, incluindo o distrito de Pedra Corrida (CNEC, ibid). Outro fator relevante desta região é o clima, classificado como tropical semi-úmido, onde é marcado pela sazonalidade, resultando em forte déficit hídrico. Os impactos gerados por chuvas torrenciais, provocam erosões e carreamento de detritos nas áreas mais planas, influenciando de forma negativa na fertilidade natural dos solos, podendo ainda desencadear assoreamento dos rios. Já as águas do Rio Doce, foram analisadas, e enquadradas como de qualidade regular (CNEC, ibid), onde foram detectadas 63 concentrações elevadas de material fecal, resultado de dejetos dos esgotos das cidades ribeirinhas. Com referência à dinâmica demográfica, de acordo com os dados dos Censos Demográficos de Minas Gerais de 1981 e 1990, Periquito registrou uma perda de 1.729 habitantes, embora venha apresentando leve recuperação a partir de 1991. Do conjunto de municípios, Periquito enquadra-se na pior situação da região, ao computar perdas de população tanto rural como urbana, o que culminou na expulsão de 1.834 habitantes entre os anos de 1980 e 1991 segundo dados preliminares do Censo Demográfico de 2000 (CNEC, ibid). Com o início das obras da UHE Baguari em abril de 2007, houve um aumento no número de habitantes em Periquito e região, atraídos pelo empreendimento. O município possui a área central próxima ao canteiro de obras e um corredor de rodovia (BR-381) que torna viável e rápido o acesso, facilitando assim a moradia para estes trabalhadores. As famílias alvo de realocação são parte fundamental deste empreendimento Hidrelétrico, como está expresso através dos croquis abaixo (FIGURAS 05 e 06) das ruas, e com fotos de alguns domicílios (FIGURAS 07 e 08) estas famílias pertencem a Área Diretamente Afetada (ADA) pela UHE, as quais são o foco desta pesquisa. Figura 05: Rua Francisco Diniz , Distrito de Pedra Corrida, município de Periquito-MG. FONTE: CNEC, 2002. 64 Figura 06: Rua Beira Linha , sede do município de Periquito-MG. (A) área a ser inundada FONTE: CNEC, 2002. Figura 07: Casas da Rua Beira Linha, sede do município de Periquito-MG FONTE: AMPLO, 2008. 65 Figura 08: Casas da Rua Francisco Diniz, Distrito de Pedra Corrida, município de Periquito/MG. FONTE, AMPLO, 2008. 3.2 A Usina Hidrelétrica de Baguari A Usina Hidrelétrica (UHE) de Baguari passou por vários estudos referentes ao aproveitamento de seu potencial hidrenergético, porém, somente a partir da década de 1990 foi permitida a intensificação de seus estudos devido à iniciativa privada. A viabilização deste empreendimento está relacionada às dimensões técnico-econômica e ambiental projetadas por barramentos de pequena altura, que propiciam a formação de reservatórios cuja área pouco excede a calha do rio (CNEC, ibid). Para os estudos da viabilidade de engenharia da Usina, foram realizados diversos estudos, incluindo o EIA/RIMA assim com outros monitoramentos essências. “O aproveitamento hidrelétrico UHE Baguari está localizado na cachoeira homônima, no Médio curso do rio Doce, 322,3 km a montante de sua foz, logo a jusante da foz do rio Corrente Grande, tendo uma área de drenagem 66 de 38.350 km2” (CNEC, ibid, p.01). No EIA não é citada a possibilidade de realização da UHE em outro local ao longo do Rio Doce. A UHE Baguari foi planejada e está sendo interligada ao sistema da CEMIG na subestação Governador Valadares, irá gerar energia de “140 MW instalados, em quatro unidades tipo Bulbo de 35 MW cada, com vazão turbinada nominal de 225 m³/s por unidade, perfazendo 900 m³/s” (CNEC, ibid, p.13). O Consórcio UHE Baguari é composto pelos empreendedores: Neoenergia3 (51%), CEMIG (34%) e FURNAS (15%), sendo construído no Rio Doce. Com capacidade instalada de 140 MW, é considerado suficiente para abastecer uma população de 450 mil habitantes. É um dos empreendimentos integrantes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com previsão de conclusão de suas obras em janeiro de 2010. O funcionamento da primeira unidade geradora de energia em Baguari entrou em vigor na data de 23 de julho de 2009. No pico de sua construção, que ocorreu em maio de 2008, o canteiro de obras contratou aproximadamente 1,7 mil trabalhadores (FURNAS, 2009). As figuras 09, 10 e 11 demonstram as etapas dos processos que vão desde a iniciação das obras até a fase de funcionamento da UHE Baguari. Figura 09: Construção da Hidrelétrica de Baguari FONTE: FURNAS, Fev. 2009 3 Neoenergia: um grupo de empresas reunidas para atuar no mercado de energia elétrica brasileiro, através dos investimentos de três grandes sócios: Caixa da Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (PREVI), BB Banco de Investimentos SA (BB BI) e Iberdrola SA. 67 Figura 10: Construção da Hidrelétrica de Baguari FONTE: Aniely Coneglian Santos (14 de abril de 2009) Figura 11: Usina Hidrelétrica de Baguari, fase do enchimento do Reservatório. FONTE: MAPS GOOGLE (Acesso: 05/10/2009). Durante a construção de uma Usina Hidrelétrica os impactos ocasionados por esta podem atingir direta ou indiretamente a população, no caso da UHE Baguari, será destacada a influência da construção do Reservatório e a Instalação do Canteiro de Obras. 68 Ribeiro (2003) relata que os reservatórios são lagos artificiais formados em decorrência do represamento do rio, onde o volume armazenado depende do tipo de cada Usina. Em função de seu propósito e das dimensões do reservatório, as Usinas são classificadas em usinas de acumulação ou Usinas de fio d‟água. Usinas de acumulação são aquelas dotadas de reservatórios para garantir uma maior regularidade de vazão entre os períodos de cheias e estiagem, enquanto usinas a fio d'água são aquelas que dispõem de capacidade de armazenamento muito reduzida, em geral apenas da vazão do curso d'água, podendo eventualmente possuir um reservatório reduzido para uso em horas de pico. No caso da UHE Baguari, conforme as características de seu reservatório (FIGURAS 13,14 e 15), a operação da Usina será a fio d‟água, “sendo que sua queda de projeto e a capacidade do reservatório determinam sua vocação como um aproveitamento com despacho provendo energia para a base do Sistema Elétrico Interligado”, portanto, não apresentará variações significativas de geração durante o dia, similar a operação de outras usinas com estas características (CNEC,ibid, p.30). A UHE Baguari foi planejada para ser interligada ao sistema da CEMIG na subestação Governador Valadares. Alimentará em forma direta, portanto, uma região do estado de Minas Gerais onde existem atualmente problemas de qualidade de atendimento em função da grande distância das fontes de energia, e da característica de “ponta de linha”. Sua energia poderá ser comercializada através de contratos de suprimento com concessionárias de serviço público de energia elétrica e com consumidores finais habilitados, dando origem a fluxos comerciais entre geradores, detentores de concessões de usinas, e distribuidores e consumidores com opção de compra (CNEC, 2002, vol. 1, cap. 2, p.35). O reservatório da hidrelétrica terá 16 km² (FIGURA 12), abrangendo áreas dos municípios de Sobrália, Fernandes Tourinho e Alpercata (margem direita) e Governador Valadares, Periquito e Iapu (margem esquerda), todos na região Leste do Estado de Minas Gerais. Além de aumentar a confiabilidade do Sistema Elétrico Brasileiro, Baguari tem sua importância ressaltada por uma peculiaridade: a Usina operará a fio d‟água com turbinas bulbo (FURNAS, ibid). 69 Figura 12: Visão panorâmica da Usina Hidrelétrica de Baguari FONTE: CAENGE (Acesso: 05/10/2009). Figura 13: UHE Baguari após enchimento do reservatório. FONTE: CEMIG, 2009 70 Figura 14: UHE Baguari após enchimento do reservatório. FONTE: CEMIG, 2009 Figura 15: UHE Baguari após enchimento do reservatório. FONTE: CEMIG, 2009. 3.3 As interferências da Usina de Baguari em Periquito Em todo empreendimento de instalação de Usinas Hidrelétricas, os impactos sociais ocorrem antes, durante ou após a obra. Portanto, é 71 necessário que a população afetada tenha conhecimento do objetivo proposto, como os riscos de mudanças positivas ou negativas face à incerteza do futuro, pois se não houver participação e compreensão da população atingida pode ocorrer uma tensão que desorganiza a vida social destes. Muitas pessoas, diretamente ou indiretamente atingidas pela obra, sentem medo, o estresse psicológico não pode ser mensurado no aspecto econômico, mas é um problema real (WORLD, 2000b, p.99 apud ROTHMAN, 2001). Dentro dos impactos sociais gerados por empreendimentos hidrelétricos, várias interferências são apontadas, neste contexto, existem algumas áreas que são mais ou menos afetadas por estes. Segundo definição do EIA (CNEC, ibid), no item que se refere aos “Procedimentos Metodológicos”, o diagnóstico de Área Diretamente Afetada (ADA) foi dividido de forma distinta entre: Área do Reservatório/barragem (que inclui os estabelecimentos rurais e ilhas, área urbana, reflorestamento e extração de areia) e Área Jusante que está relacionada ao comportamento hidráulico, resultante da operação da Usina. Portanto para este estudo, se faz necessário caracterizar a Área Diretamente Afetada. Como Área de Entorno (AE) foram definidos os distritos de Pedra Corrida (parte deste), Senhora da Penha, Plautino Soares e Baguari, pertencentes, respectivamente, aos municípios de Periquito, Fernandes Tourinho, Sobrália e Governador Valadares, por apresentarem relações sociais e econômicas entre estes núcleos e os moradores da ADA. A cidade de Periquito está contextualizada como ADA, devido a sua proximidade do reservatório, observando-se, porém, que a caracterização desta localidade encontra-se contemplada no diagnóstico da Área de Influência (AI) (CNEC,ibid). A ADA é caracterizada pelo conjunto de propriedades rurais pertencentes a particulares e a empresas de reflorestamento (Arcelor Mittal e Vale), assim como parcelamentos urbanos inseridos no distrito de Pedra Corrida e na sede de Periquito, onde estas serão afetadas pela formação do reservatório e também por demais estruturas do empreendimento, entre barragem, casa de força, canteiro de obras (CNEC, ibid). Para avaliação das propriedades urbanas que seriam indenizadas em função do empreendimento, o Consórcio obedeceu aos critérios estabelecidos pelas NBR`s, onde os trabalhos executados foram de acordo com as normas 72 da ABNT, em conformidade com a NBR 502/89 que trata da avaliação de imóveis urbanos (CNEC, ibid). No empreendimento a localização das áreas definidas de acordo com cada classificação supracitadas, podem ser mais ou menos vulneráveis aos impactos decorrentes da implantação da UHE Baguari. Consequentemente, cada área exigirá medidas eficazes e adequadas à realidade destas com a finalidade de garantir a manutenção da qualidade de vida das famílias residentes nelas (CNEC, ibid). Para melhor compreensão serão caracterizadas abaixo as ruas Francisco Diniz localizada na Sede do município Periquito – MG e a Rua Beira Linha localizada no Distrito Pedra Corrida deste, que foram as áreas afetadas diretamente pelo empreendimento, e que são de fato o foco desta pesquisa. 3.3.1 Realocação de famílias da Rua Francisco Diniz, Distrito de Pedra Corrida do município de Periquito A Rua Francisco Diniz, no Distrito de Pedra Corrida, encontra-se em traçado longitudinal paralelo ao Rio Doce, local que não possui pavimentação. As famílias encontram-se distribuídas a ambos os lados, porém sem ordem numérica respectiva. Assinala-se a presença de pequenos sítios de lazer, assim como um local de lazer comunitário denominado pela população como “prainha”, um trecho de aproximadamente 600 metros (identificado anteriormente como Figura 01). Um dos maiores problemas enfrentados pela população relatados na pesquisa para a elaboração do EIA, são os períodos chuvosos, onde a cheia do Rio Doce provoca inundações no local, obrigando muitas famílias deixarem suas moradias, ou acabam por perder seus móveis. As situações referidas mais marcantes foram nos anos de 1979 e 1997, no entanto, as maiores interferências têm ocorrido à margem esquerda da Rua que é a que apresenta limitação com o Rio Doce (CNEC, ibid). Na pesquisa realizada para a elaboração do EIA da UHE de Baguari, foi apurado que, referente à Rua Francisco Diniz, esta era composta por “62 lotes, 73 25 instalados em seu lado esquerdo e 37 no lado direito”. Nesta pesquisa foram abordados 53 parcelamentos, representando 85,5% do universo, não sendo possível a cobertura total, devido as seguintes situações: Quatro casas desabitadas, sendo que dois proprietários residem em Pedra Corrida, porém não se encontravam neste local no período da pesquisa, e outros dois residem em outro município; um lote vago, sem identificação de proprietário; uma casa em construção, cujo detentor é residente na cidade de Governador Valadares; duas casas fechadas, cujos ocupantes encontravam-se na cidade de Resplendor durante os trabalhos de campo; uma granja desativada e abandonada, cujo proprietário reside em Pedra Corrida, mas encontrava-se ausente durante o período da pesquisa (CNEC, 2002, vol. 06, cap.03, p. 439). Segundo o EIA/RIMA, e comprovado durante o trabalho de campo, embora muitos domicílios apresentarem revestimento interno e externo, a maioria destes encontravam-se muito desgastados, o piso era predominantemente de “nata de cimento”, os telhados a maior parte era de amianto. Apesar do abastecimento de água ser de responsabilidade da COPASA, ainda havia domicílios sem canalização interna, e o esgoto sanitário preferencialmente era lançado diretamente no Rio Doce, sendo uma situação presente em 25 (vinte e cinco) domicílios dos 48 (quarenta e oito) imóveis analisados pelo EIA (CNEC, ibid). O fornecimento de energia elétrica estava presente em quase todos os imóveis, somente 2 (dois) não possuíam esta disponibilidade devido aos fatores socioeconômicos dos moradores. É importante ressaltar que apesar da avaliação realizada sobre cada casa ou terreno, devem-se levar em consideração as benfeitorias, pois estas podem significar a manutenção ou complementação familiar. Para constatação das negociações, foi acessado o Relatório para Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) do 1º trimestre de 2007, onde ficou evidenciado por imagens e assinaturas registradas através de scanner, que a maior parte da população alvo de realocação da área urbana teve sua representatividade muito bem informada sobre a implantação da UHE de Baguari (CONSÓRSIO BAGUARI, 2007 a). A população afetada no município de Periquito e distrito de Pedra Corrida – onde encontra-se a maior parte dos afetados – organizou-se enquanto Associação de Moradores no princípio das negociações com o Consórcio 74 Baguari. O movimento surgiu a partir da história de alguns parentes de moradores que também viveram esta mesma situação com a implantação da Usina de Itueta em Aymorés. 3.3.2 Realocação de famílias da Rua Beira Linha, sede do município de Periquito Estes moradores estão localizados entre a linha férrea, de propriedade da Vale, e o Rio Doce, onde foram encontrados no princípio do empreendimento 16 lotes de uso residencial, que se fixaram posteriormente à implantação da ferrovia. O local de moradia foi resultante da invasão de terras há muitos anos atrás, portanto alguns destes moradores estão subordinados à jurisdição municipal no que compete aos serviços disponibilizados pela administração pública do município de Periquito (CNEC, ibid). Vale destacar também que há um risco eminente para esta população, pois cada vez que precisam se deslocar devem atravessar a linha férrea. Os imóveis são caracterizados como invasão de terras, distribuídos por uma única via, denominada Rua Beira Linha, estes integram o perímetro urbano da cidade de Periquito: No entanto, sua localização pouco privilegiada frente ao núcleo central, agravada, ainda, pela barreira representada pela ferrovia, constituem-se entraves à ação do Poder Público na implantação de serviços essenciais, bem como para seus moradores no que tange ao acesso aos equipamentos de uso coletivo, uma vez que encontramse instalados na margem oposta à ferrovia, resultando esta transposição em sérios riscos de acidentes, notadamente, para a população idosa e infantil (CNEC, 2002, v. 06, cap.03, p. 451). De acordo com a avaliação do EIA, dos 16 (dezesseis) lotes residenciais identificados nesta área, 14 (quatorze) são ocupados com moradias e 2 (dois) lotes vagos. Quando a elaboração do EIA da UHE de Baguari, o tempo de residência das famílias entrevistadas neste local era de mais de 20 (vinte) anos para 57,2% das famílias entrevistadas para o EIA, índice que alcança 64,3% quando se analisa o intervalo de “mais de 15 anos”. No contexto geral apenas 3 (três) 75 famílias declararam ser este tempo inferior a 3 (três) anos, o que determina uma ocupação já consolidada (CNEC, ibid). Ainda conforme este estudo e corroborado durante as visitas do trabalho de campo para esta pesquisa, na maioria das residências, as paredes internas e externas apresentavam-se sem pintura ou até mesmo sem qualquer revestimento, sendo pouco expressivo o número daquelas com melhor padrão de acabamento. As casas eram revestidas por telhas de amianto, com exceção de uma única residência; no piso predomina a “nata de cimento”, sendo ainda encontrado um domicílio de terra batida. A falta de esgoto sanitário foi o que mais chamou a atenção, onde até mesmo durante visitas realizadas pela pesquisadora, evidenciou-se que a maioria deles eram lançados diretamente no Rio Doce, sem qualquer tipo de tratamento. No entanto, corresponde salientar que observou-se que a disponibilidade de quintais nestas moradias ocupava um espaço estratégico quanto à contribuição para a subsistência familiar, alguns propiciavam a criação de diversos animais, entre outros, galinhas, o cultivo de hortas e frutas que eram utilizadas fundamentalmente com fins de segurança alimentar familiar. 76 CAPÍTULO 4 ESTUDO DA REALOCAÇÃO DAS FAMÍLIAS AFETADAS PELA HIDRELÉTRICA DE BAGUARI NO MUNICÍPIO DE PERIQUITO A barragem acaba os rios, também a vegetação, ela afoga a natureza sem nenhuma compaixão, tira o nosso direito de fazer plantação, mata a nossa alegria destrói nossa criação, coloca tristeza e dor dentro do meu coração (Poema de Antônio José – MAB-CPT de Manso, apud VIANA, 2003, p. 18). Ao longo dos anos, o conceito para designar as comunidades que sofrem impactos sociais a cerca de empreendimentos hidrelétricos tem sofrido grandes alterações e estes variam de acordo com a concepção de cada autor. Pinheiro (2007), destaca que existem diversas nomenclaturas adotadas para denominar a situação destes grupos sociais, sendo muitas vezes motivos de grandes debates, pois a classificação varia de atingido, expropriado, deslocado, reassentado, e realocado; onde a justificativa para tais denominações variam de acordo com o tempo, o espaço e o interesse dos envolvidos. Para iniciar as discussões acerca do estudo sobre os “afetados” pela Usina Hidrelétrica de Baguari, destaco aqui o termo utilizado até o momento para caracterizar esta população alvo da realocação. A opção pela designação de “Afetados” surgiu a partir da leitura dos Termos aplicados pelo empreendedor, como Área Diretamente “Afetada”, e principalmente após a releitura do livro “O Afeto da Terra” (Brandão, ibid) que a todo momento se refere a relação do Homem com a Natureza e os valores históricos que são estabelecidos a partir desta. Diante de toda a pesquisa realizada, foi observado 77 que o termo ”atingido” não caberia neste estudo, pois em sua grande maioria ele esta vinculado à percepção dos empreendedores como valores numéricos, ou seja, contabilizado somente pela proporção e tamanho correspondente ao seu deslocamento e deixando de ser enfatizado os seus sentimentos (SOUZA, et. al., 2009). Para Vainer (2008), quando se fala “atingido” está se referindo ao reconhecimento legal dos direitos dos detentores, ou seja, é dizer que certo grupo social/família/indivíduo que foi atingido por um empreendimento tem direito a algum ressarcimento. Porém, para o autor esta palavra encontra-se em constantes modificações nos últimos anos pela evolução da noção de direito humano. Na concepção da pesquisadora, todos os moradores que são alvos de realocação terão suas histórias, recursos e condições de vida relativamente afetados, pois a influência e o impacto deste empreendimento refletirá até mesmo sobre as formas de obtenção de seus alimentos e suas relações. 4.1 Estudo das famílias afetadas na fase de Pré-Realocação Conforme o referencial bibliográfico discutido nos capítulos anteriores, as construções de transformações Usinas Hidrelétricas socioeconômicas em podem representar diversas localidades importantes onde o empreendimento estiver sendo construído, refletindo diretamente na qualidade de vida da população local, principalmente na fase inicial de sua implantação. Os processos referentes à Habitação exigem atenção especial, pois podem atrair fluxos migratórios referente a mão de obra especializada, aumentando a população local, ou primordialmente gerando situações complexas a nível de satisfação dos moradores que deverão ser realocados. Reigota (ibid), ressalta que haviam poucos trabalhos no Brasil fundamentando as representações sociais até meados de 2004, apesar do interesse evidente que estava sendo despertado nos novos pesquisadores. A possibilidade da disseminação de discussões a cerca deste contexto aumenta 78 significativamente a cada dia, trazendo com isto a evidência de uma boa dose de senso comum. A questão é que em todo o aspecto que se refere ao “equilíbrio ecológico”, este começa a ser percebido pelo homem como algo que ameaça a sua sobrevivência, caso não permaneça em harmonia. Segundo Cabugueira (2000), outra questão que pode ter total influência na implantação de Hidrelétricas, é referente a força que a expansão econômica pode interferir nas desigualdades regionais, sendo visto pelo autor como um processo cumulativo que pode trazer benefícios ou prejuízos a estes. Para iniciar a avaliação do processo de realocação, destaco um comentário de Thompson (1981, p.194), que pode direcionar as diversas colocações evidenciadas nesta pesquisa: “Os valores, tanto quanto as necessidades materiais, serão sempre um terreno de contradições, de luta, entre outros valores e visão de vida alternativos...”, onde a pesquisa realizada demonstrou tendências de percepções, sentimentos recorrentes relacionadas as perdas materiais com valores simbólicos. Diante deste aspecto, a abordagem do homem e seu local de moradia sofre diversas influências com referência a valores, sentimentos e histórias que demarcam esta relação: A Geografia Humanista tem tido muito interesse em discutir e analisar, a partir de conceitos como o “lugar”, enquanto identidade espacial, o cotidiano das pessoas e seu espaço sentido, vivido e concebido, reconhecendo o espaço como o lugar dessas pessoas, porque foram elas em coletividade – família e comunidade – quem o construiu, enquanto produto histórico do trabalho comunitário. Outro conceito associado a esta perspectiva de análise se refere ao território-identidade que também passa pela apropriação das terminologias do sentido, vivido e concebido (SOUZA et al., 2007, p.04) O estudo realizado, não visa defender aspectos positivos ou negativos da implantação de uma Hidrelétrica, mas sim contribuir com todos que acessarem este material no âmbito de fornecer subsídios para a compreensão dos aspectos que envolvem a “mudança do lugar de moradia” dos que são afetados por estas obras. Em todo o momento a palavra “lugar” é citada, horas evidenciando a relação histórica dos moradores com este, em outras relatando a questão do vínculo alimentar. Durante as entrevistas, uma parte significativa dos entrevistados relatou a preocupação com a mudança pela relação da 79 “complementação” alimentar, mas diante de todo este período da pesquisa notou-se evidentemente que a maioria das famílias cultivava frutas, hortas, animais como meio de “sustento” alimentar, onde optou-se por remeter parte deste estudo também a percepção da necessidade de manutenção do sustento alimentar. 4.1.1 Grau de Insatisfação dos Moradores a serem Realocados Para Hernández e Bermann (2006), com a expansão hidrelétrica, ocorrem alterações na vida de toda sociedade envolvida no processo de instalação de empreendimentos como este, visando a modernidade, onde os milhares de trabalhadores que participam da construção da Usina, bem como toda a sociedade diretamente afetada e do entorno terão que modificar as suas rotinas e histórias conforme sobem as águas. Quando falamos de modernidade, há uma tendência forte de significar um processo de mudança, porém que não mostra em definitivo seu “rosto”, é um risco a se considerar com o avanço das novas formas de organização industrial (REIGOTA, ibid). Uma percepção da pesquisadora deste trabalho durante a fase de entrevista, e importante de ser descrita neste momento, é que a maioria das moradias alvo deste estudo, apresentavam um amplo terreno, com muitas árvores, em sua grande maioria sendo frutíferas, sem grandes delimitações (muros ou cercas), lindas hortas, e inclusive de muitos quintais se avistavam o Rio Doce. Com a finalidade de exemplificar visualmente esta percepção, ver FIGURA16. 80 Figura 16: Rua Francisco Diniz. Demonstrando a amplitude dos quintais, com muitas árvores frutíferas. FONTE: AMPLO, 2007. Segundo o Relatório de Monitoramento Socioeconômico realizado pela AMPLO, o distrito de Pedra Corrida, pertencente ao município de Periquito, o qual se apresenta mais próximo das obras do empreendimento, encontrava-se com as características pouco influenciada pela dinâmica que habitualmente marca a construção de obras de grande porte: É destacável também o fato da localidade de Pedra Corrida mostrarse quase que imune aos efeitos decorrentes da etapa de instalação da UHE Baguari. Tal área urbana não apresentou nenhuma forma de crescimento ou de alteração em sua dinâmica que pudesse contextualizar efeitos do empreendimento sobre o mesmo. Obviamente, a população que será removida em função da formação do reservatório guarda suas expectativas mediante ao desfecho de tal contexto. Contudo, não há sinais evidentes na área urbana e nem no cotidiano dos moradores que sejam evidências da instalação do empreendimento em análise (AMPLO, 2007, RE-PCA-BAG-SOC-004, p.13). Isto se justifica pelo fato de que o movimento populacional ocasionado pelo fluxo migratório de trabalhadores ocorreu na cidade de Governador Valadares, onde foram direcionados os locais de acolhimento destes, ou seja, a cidade de Periquito, mesmo sendo a mais próxima da UHE de Baguari, não foi considerada local de dormitório. Dentro desta perspectiva, o maior impacto 81 percebido no município de Periquito está diretamente relacionado com a variável Habitação, mas com relação à realocação. Neste contexto avaliou-se o grau de satisfação dos moradores alvo de realocação da área urbana diretamente afetada pela instalação da Usina Hidrelétrica de Baguari, sobre seu processo de mudança. Antes do processo inicial de obras, a percepção da realocação era de uma forma, onde 76,6% ou 23 dos entrevistados relataram algum tipo de insatisfação, evidenciado por diversos moradores4: “aqui na minha casa tem tudo, tem uma uva, tem jaca, manga, goiaba, todas fruta o ano todo. Eles vão tirá a gente daqui e colocá na “terra limpa”. Nóis tão muito triste, vão mudá porque são obrigado. Cadê meu pé de manga, cadê meus pé de jaca? Ô meu pé de jaca, esse ano é o último ano que eu como do cês! Aqui tem de tudo, a gente planta milho, feijão, verdura, olha (apontou o dedo) que tanto de pé de banana. Nóis come banana assada o ano inteiro”. (Maria) “A gente senti muito, porque isso aqui é uma vida, eu tem cinco anos que eu moro aqui mais a minha família sempre moro aqui eu sempre morei aqui em Pedra Corrida, ai eu acho que vai ser um vazio muito grande quando a gente muda daqui por outro lado e vê derruba tudo né? (Conceição) Diante dos imóveis desta área urbana analisada pelo EIA (CNEC, ibid), e também corroborado na visita de campo pela pesquisadora deste trabalho, os quintais apresentavam dimensões apropriadas com o domicílio, onde haviam preferencialmente plantio de árvores frutíferas, pequenas hortas, criações, sendo estes importantes para a segurança alimentar do grupo familiar e da comunidade. Embora as residências tenham a função primordial de abrigar e repousar as pessoas que nela vivem, elas são também o lugar onde inúmeras atividades se desenvolvem no cotidiano e condicionam a cultura de seus usuários (ALGRANTI,1997 apud NASCIMENTO, 2009). O empreendedor, ao instituir valores as benfeitorias, não se preocupou em saber se os “novos” quintais representariam o mesmo modo de sustento 4 Como já assinalado anteriormente, esclarece-se novamente que os nomes dos moradores são fictícios a fim de preservar sua identidade. 82 alimentar garantido pelas terras do “lugar afetado”. Também não foi demonstrado se havia, de fato, preocupação de como essa população poderia investir o valor em espécie recebido. Surge uma grande indagação: As famílias afetadas conseguirão reproduzir o lugar de seu sustento a tempo de não serem influenciadas economicamente ou até mesmo saudavelmente? Zhouri et. al. (ibid, p.12), relatam que problemas ambientais e sociais são vistos por pessoas de “fora” como “meros problemas técnicos e administrativos”, sendo passíveis de medidas compensatórias, ou seja, para estes a visão é que o dinheiro resolve tudo. Para Silva (2003, p.03), o lugar de residência “é repleto de significados, não se podendo considerar como reducionismo saudosista, pois é isso que dá significado a sua vida”. Como medir, quantificar os valores naturais, as plantas nativas, pertencentes a cada quintal de casa? Percebeu-se que a população local planta para o sustento, e também estabelece relações sociais, onde ocorrem trocas, diálogos e a possibilidade de uma boa convivência com a vizinhança. “A gente fica meio sentido que a gente já acostumo aqui tem muitos anos, tem o pomar da gente lá a gente não vai ter,vamos pra uma casa que não tem nada plantado ainda, até que a gente consegue planta alguma coisinha vai custa pra dá fruta né, principalmente fruta, horta é num instante, mais fruta demora mais, a gente fica meio sentido com que vai deixa de plantações, porque casa não, casa constrói outra né, o problema é o pomar as plantações, isso entristece a gente um pouco, mais como se diz tudo em nome do progresso, hoje tem que se assim né?!” (Efigênia) A este respeito, Brandão (1999) no livro “O afeto da Terra”, faz referência sobre este sentimento, relatando que toda a terra demarca uma relação, e marca uma identidade estabelecida através da qualidade de reciprocidade entre o ator e o relacionamento com a terra e seus frutos, do que geram e determinam histórias cultivadas, onde estas permanecem no lugar. Silva (2003) em seu artigo, refere que o espaço socialmente construído realmente não é indenizado e muitas vezes nem sequer considerado pelo setor elétrico. 83 Ribeiro (2008, p.111), denota em seu texto que “a desapropriação na prática, transformou-se em um processo de expropriação sob três aspectos: enquanto perda patrimonial, condições de vida, e produção”. Nesse contexto, o autor ainda acrescenta “a terra passa a ser mais do que um meio de produção por meio do qual” este indivíduo extrai a sua sobrevivência (LUDWIG, 2008, p.241). “A gente não fica bem, se fala é mentira, lugar que a gente conviveu tanto tempo, né, já habituado com as coisas, o barraco não era bão não, mais o lugar... é bão demais. A gente gosta de saí não gosta não, se a gente pudesse não saía não”. (Jeremias) Outro fato importante observado, é que a maioria das famílias que apresentavam seus quintais voltados para o Rio Doce, possuía uma extensão maior do que as mencionadas e cadastradas pelo empreendedor, pois nos períodos de pouca chuva, os quintais aumentavam seu tamanho, e ainda, terras estas que apresentavam maior fertilidade. Já o local da realocação, que foi escolhida pelo empreendedor, era um Vale – distante do Rio Doce - onde foi feito terraplanagem para a construção das novas moradias; porém não foi analisada ou verificada a possível qualidade do solo, e o que este poderia desencadear para a reconstituição da mesma diversidade de árvores frutíferas, hortas e criações para a manutenção da subsistência familiar, processo que foi observado pela pesquisadora através de visitas no local. De certo modo essas “perdas” resultam muitas vezes em danos irreparáveis, pois para muitos há um valor simbólico insubstituível relacionados ao meio ambiente natural e aos bens que ajudaram a construir diversas gerações que ali viviam, ainda a perda da qualidade do solo traz perdas materiais como conseqüência da redução da produtividade da terra. Um trecho da entrevista que chamou a atenção, foi sem dúvida esta pequena fala do morador intitulado Messias, o qual mora no local alvo de realocação há mais de 20 anos: “Eu to sendo levado, isso ta acabando com a vida da gente...”. Segundo o Relatório de Monitoramento da Área Urbana Alvo de Realocação (AMPLO, 2008, RE 005, p.08), em entrevista realizada com os 84 moradores, muitos entrevistados afirmaram diante da mudança que: “aquele lugar tem significado, tem história” (Maíza). Uma moradora ainda disse: “cada telha que vai tirar vai ser uma lágrima que vai descer. Eu quero tá bem longe daqui” (Aparecida). Oliveira (2002) relaciona o significado histórico desta integração da sociedade com a natureza desde os tempos de Karl Marx (séc. XIX), onde este afirmava da necessidade de buscar a relação entre história e natureza. Analisando os conceitos, percepções e definições da visão de natureza, percebe-se que esta nunca existe em si, como diria o Professor Jorge, “ela existe para quem a vê”, podendo ser construído de acordo com as referências individuais de cada sujeito dentro de seu contexto socioeconômico e cultural; sendo a fertilidade da terra algo relevante e demarcante para estes indivíduos e seus grupos sociais, retomando as discussões evidenciadas anteriormente. “Tem fruta, manga tem acerola, pé de mamão e a hortinha. Fica sem hortinha é ruim, né” (Tatiana). “Ah aqui tem uma hortinha ali, nóis sempre tem uma hortinha, uma couvinha, uma cebola, sabe a gente planta alguma coisinha, a gente vê a terra e não plantá e lamentável num é?” (Pedro). A fala dos moradores supracitados até agora, reflete que esta mudança não só impactará na perda da identidade destes moradores com o lugar que moravam a longa data, mas também, na segurança alimentar destas famílias. Isto se dá a partir da influência do capital, que gera contradição – progresso versus degradação ambiental – e, esta por conseqüência, gera a perda da identificação do homem com a natureza local. O sustento alimentar desses moradores não se encontra somente nos seus quintais, mais na interação destes, ou seja, a troca de alimentos entre os vizinhos e o restante da população local, foi algo muito evidenciado, até mesmo durante a fase de entrevista. A pesquisadora recebeu diversas ofertas de frutas, como forma de agradecimento pela atenção. No que se refere a história do lugar, onde muitos moradores referiram-se a este como o local onde foram criados ou criaram seus filhos, evidenciando a mudança como realmente algo que não foi opcional, independente da melhoria 85 de moradia prometida com a realocação, conforme relato de moradora entrevistada: “Ai, fico triste, fosse por mim num sairia não. Vão tê que sai, né? Uma que é muito tempo que a gente mora aqui, outra que criei meus menino tudo aqui, mais infelizmente tem que sai, queria sai não” (Joana). Além desta percepção referida, outra grande questão que muitas vezes incomoda estes moradores, é a preocupação com o meio ambiente e a dificuldade de compreender até onde a disputa de poder e desenvolvimento tecnológico pode afetar diretamente a sociedade. O consumo capitalista se apresenta cada vez mais móvel, permitindo a escolha de ambientes preferenciais para o desenvolvimento sem a percepção dos riscos que o deslocamento forçado de pessoas podem impactar para uma sociedade. Esse ponto de vista também é percebido no livro de Zhouri et. al. (ibid), que relatam a história de que no Brasil os confrontos enfrentados pelas populações ribeirinhas que percebem e resguardam a terra como patrimônio familiar e até mesmo comunitário é defendido pelo coletivo; porém há o outro lado que exerce o poder, que é o Setor Elétrico, que a partir de uma ótica de mercado entendem o território como propriedade, sendo este uma mercadoria passível de valor monetário, ou seja: No paradigma da adequação, a obra assumi lugar central, apresentando-se de forma inquestionável e inexorável. Nesta concepção, o ambiente é percebido como externalidade, paisagem que deve ser modificada e adaptada aos objetivos do projeto técnico (ZHOURI et al., 2005, p.53). Para as famílias afetadas, a mudança é cheia de significados: “Eu penso que vai se ruim mudá né? A gente tá acostumado aqui. Aqui é liberal, aqui a gente planta, colhi, onde eu vo muda num tem nada, só terra” (Joice). “Não é só mudança de casa, é mudança de hábito. É mudança geral, né? Porque quando você sai de uma casa pra outra, você vai lá escolhe a casa aquela que te agrada, você que escolheu. Agora aqui vai se diferente você vai cê tirado daqui, do que é seu, colocado num lugar, vão supor, você escolheu aquele lugar, é outra 86 situação, mais se fosse hoje, escolhe um lugar uma casa pra eu mora, ia escolhe um se tivesse um espaço pras criança brinca, mais favorável, do que lá em cima. Mais lá a realidade é que a gente não ta tendo escolha. A gente é obrigada a faze aquilo” (Iracema). A escolha do “novo bairro” ou lugar a ser construído as novas casas aconteceu sem participação direta dos afetados; isso implicou em um maior grau de insatisfação da população em relação a percepção de mudança. Uma das características entristecedoras nas obras hidrelétricas são as decisões unilaterais respaldadas por critérios técnicos ou socioeconômicos, onde a participação da comunidade afetada não ocorre de forma contínua do momento de avaliação até a implantação, senão que muitas vezes são impostas sobre estas populações (JERONYMO, 2007). Ao igual que na construção de outras Hidrelétricas, no caso da UHE Baguari a população diretamente afetada não participou das decisões, sendo-lhes permitido apenas decidir aspectos relacionados à nova moradia. Há que se pensar diante da implantação destas obras, se a configuração do lugar poderá refletir grandes mudanças: Distinta do lugar, a paisagem que se origina dos projetos industriais guarda apenas os custos ambientais e sociais dos empreendimentos. Através dos fluxos de capital e tecnologia que estes projetos demandam, o local se transforma, assim, em um espaço de produção transnacional, um verdadeiro não-lugar, ou seja, paisagem homogênea que poderia reproduzir-se em qualquer espaço e que não mantém vínculo algum com o local, perdendo qualquer sentido ou significação para os grupos. Nesses ambientes já não há processos de identificação individual ou coletiva. O espaço do não-lugar não cria nem identidade singular nem relação, mas sim solidão e similitude (AUGÉ, 2003 apud ZHOURI e OLIVEIRA, 2007, p.95). Muitos dos entrevistados se referiam à mudança de lugar como sendo algo sem opção, onde foram forçados a saírem do endereço em que plantavam, colhiam, tiravam seu sustento, caracterizando a partir desse momento, seus padrões de vida pautados na questão necessária do desenvolvimento. Roesler et al. (2004) afirmam que essa descrição do afeto pelo lugar, pode significar para quem está de fora como algo supérfluo, e que poderia ser suprido diante do pagamento de benfeitorias, porém, para estes moradores, no momento em que antecede a construção de seus novos lares, perde-se a 87 necessidade de privilegiar a estreita relação homem-natureza, apresentando um desrespeito ético pelas pessoas que não vivenciaram esta expectativa, pois estão focados apenas nos avanços tecnológicos. Não se pode pensar que seja uma fala ou visão romântica destes moradores, mas sim a expressão singela de quem almeja perpetuar a história vivida, onde independente de seu contexto socioeconômico se encontra feliz nesse lugar. Castelnou et al.(2003, p.52), ao analisar a visão de outros autores, entre eles, Morelho (1986), Alcorn (1989) e Leff (2002), afirmam que o lugar “é onde emergem as energias positivas da razão ambiental e o território é pleno de significados”. Estes autores, ainda fazem uma análise que demonstra claramente a percepção que pode estar relacionada à população afetada pela realocação, ao relatarem que na história da humanidade a maioria dos espaços e lugares eram selecionados pelo homem para seu usufruto. Estes de fato, não foram projetados por profissionais ou oficiais dês entendidos na área das relaçõeshumanas, e sim foram demarcados, escolhidos ou herdados com a expressão de tradições ou relacionamentos sociais estabelecidos pelos indivíduos sem uma específica influência. De um modo geral, o espaço ou lugar construído pelo homem acaba desencadeando um estilo de vida próprio para cada grupo social. Gostaria de enfatizar neste momento o debate que faz Marandola Jr. (2007) sobre território e espaço a partir da reflexão do artigo de Rigotto e Augusto (2007), em que a grande questão em destaque se refere às relações que são estabelecidas nestes territórios ou lugares e paisagens, que nos permitem perceber as diferentes formas de iniqüidade na espacialidade e as relações estabelecidas neles, deixando em evidencia a vulnerabilidade dos aspectos sociais, culturais e ambientais. Ainda podem ser citados os comentários de Amorim Filho (1996), quando o autor afirma que os sentimentos presentes das pessoas que referem ligação ou contato com seus “lugares”, podem interferir de maneira fundamental na formação de valores e juízos sobre estes determinados lugares. O autor também assinala que a importância da preservação desta relação esta vinculada à valorização afetiva pelo homem como manutenção da memória 88 individual ou até mesmo coletiva, e se alterada esta percepção poderá interferir na identidade cultural do local. Segundo Murta (2004), as pessoas que estão de fora, podem perceber de maneira superficial, alguns aspectos que são vistos de modo bem diferente, por aqueles que vivenciam uma situação. Há que se considerar também o conhecimento, comportamento e tradição local, o que para determinado grupo de pessoas pode não significar nada de especial, porém pode ser altamente importante para o grupo diretamente afetado. Para muitos que viam o antigo local como algo feio, uma casa degradada, precisando ser refeito, não poderiam entender que, para seus habitantes, ali era o lar, o aconchego, e parte de uma história de vida que envolve lembranças e de enorme simbologia. “A gente senti tristeza né, aqui é toda uma vida né? Vontade de sai mesmo à gente num ta não, a gente ta ino tipo assim obrigado. Não tá sendo nada satisfatório né, tá deixando muita coisa a deseja, muita coisa que eles prometeram que ia faze pra comunidade e não fez. Eles estão fazendo assim do jeito deles e de modo que eles quê” (Álvara). “Eu acho negativo mudá. Ah, porque luga que a gente convevi muito tempo, criei a família, minha esposa morreu aqui; cunhado tá tudo no local, tudo entra né, agora aqui fica difícil...” (Jeremias) “A gente infelizmente, somos obrigados, né? Não podemos fazer nada, né? Não mudaria de jeito nenhum, de forma alguma. Aqui é herança do meu pai...” (Isaac). Para Zhouri e Gomes (2007), a construção de Usinas Hidrelétricas tem sido geradora de conflitos e injustiças socioambientais, pois recaem sobre as comunidades atingidas o fato do processo decisório e seus destinos ficarem a encargo do empreendedor. O conhecimento prévio e aprofundado através de acesso a todas as informações e documentos relacionados ao empreendimento deveria ser completamente transparente, com a participação a todo instante das comunidades atingidas nos processos decisórios. Na realidade, o que foi percebido neste estudo é que a legislação brasileira apresenta possibilidades da comunidade conhecer as regras diante 89 de sua participação, mas o que ocorre é que quando a comunidade é avisada do processo, muitas decisões já foram estabelecidas entre o empreendedor e o poder público. Para a FEAM (Ribeiro, 2008, p.174), diante da trajetória de conflitos, o problema sobre o meio ambiente é muito complexo, onde refere que “a sociedade tem que decidir o que ela quer”, obviamente considerando toda a interação de tecnologia, meio ambiente, política na sociedade e na economia. Porém observa-se uma crescente intervenção do Ministério Público na busca pela mediação de conflitos durante a fase de licenciamento. Apropriar-se da natureza na tentativa de modificá-la para seu próprio benefício ou de um determinado grupo social, poderá gerar um processo de aceleração industrial, urbano e tecnológico que nem sempre acarretará benefícios, como se percebe na fala de alguns proprietários que retratam o sentimento de “perda”. No processo de negociação, muitos moradores foram alertados que a partir da data determinada para a realocação a mudança poderia ter atrasos ou acontecer a qualquer momento. Isto trouxe para alguns moradores a insegurança de permanecerem com o plantio ou cultivo de hortas, frutas e até mesmo criação, pois acreditavam correr o risco de perderem este investimento, como percebe-se na fala abaixo: “Verdura aqui ninguém comprava, nóis que plantamo horta, né? Agora esse ano nóis num plantamo porque se o negócio dá gente sai, né num vai planta pra fica aí a toa, desperdiçano num dá. Fruta, graças a Deus, ainda tem pra nois” (Josiane). Outra questão é a preocupação com a demora que poderá ocorrer para o crescimento das plantas, árvores frutíferas até conseguirem fornecer a mesma garantia de consumo que existia para estes moradores. Mesmo tendo conhecimento do pagamento das benfeitorias, alguns acreditam que o dinheiro pago não proporcionará o mesmo sustendo de hoje. “Por um lado vai se ruim porque aqui a gente tem costume. Aqui em baixo, pode planta, tem as coisa já grande né? Fruta, pé de árvore tudo grande, até que a gente planta cresce dá um pé de goiaba principalmente que tem muito lá embaixo, pé de manga nem se conta 90 que tem muito, até chega da manga lá em cima já morri. Eles já falaram que num vai pode planta árvore que dá muita raiz né? Só pé de manga tem cinco aqui, tem pé de coco” (Míriam). Evidencia-se então que diante da insatisfação relatada pela maioria dos moradores na fase de Pré-Realocação, o sentimento de “perda”, é o que prevalece, sendo justificado pelo vínculo e afeto com a terra de seu domicílio, onde propriamente retiram seu sustento, ou ainda sendo o mais relevante de todos, onde está caracterizada a história pessoal de cada família/indivíduo afetado. Com o represamento do Rio Doce, possivelmente haverá uma grande perda desta área produtiva, em conseqüência poderá ter uma redução na oferta de alimentos entre esta população, pois no “novo local” a serem realocados, já foi precedida a improdutividade da terra. Fato que reflete diretamente na renda familiar como no bem-estar de grande parte das famílias realocadas. Outro fator relatado pelos moradores e que está também vinculado ao local de moradia é o sustento através do Rio, onde este encontra-se presente em muitos quintais à margem esquerda tanto da Rua Beira Linha (sede) como à Rua Francisco Diniz (distrito Pedra Corrida). Durante o período de entrevistas, foi feita uma travessia para o outro lado da margem do Rio Doce, sendo esta realizada de bote com um dos moradores afetados que mantêm o sustento familiar cobrando das pessoas por este transporte, uma vez que o rio é dentro do seu quintal, conforme FIGURA 17. 91 Figura 17: Margem do Rio Doce com bote para travessia FONTE: Aniely Coneglian Santos, 2009 Já alguns moradores também buscam o subsídio familiar através da pesca, tanto para alimentação como para venda. A preocupação é como estes irão manter seu sustento familiar e alimentar após a realocação? Com relação ao lazer na apresentação do EIA (CNEC, ibid), - já descrito no capítulo 3 – um dos impactos sociais previstos seria referente ao local de lazer denominado “prainha” no Distrito de Pedra Corrida, pois com a formação do reservatório a mesma será extinta. Por mais que foi questionado somente na Pós Realocação sobre o ponto de lazer, em nenhum momento esta preocupação foi comentada, ou se quer citada por qualquer morador afetado. 92 Acredita-se que este problema não tenha sido evidenciado por não ter relação com a característica dos entrevistados, que na maioria eram os próprios proprietários, ou seja, os tidos como “chefes de família”, e o local de lazer era freqüentado em sua grande maioria por crianças e adolescentes. Outro fator importante, é que a grande parte das famílias insatisfeitas na fase de pré-realocação são moradoras da Rua Francisco Diniz no Distrito de Pedra Corrida, ocorrendo o relato de insatisfação nesta fase apenas por duas famílias da Rua Beira Linha na sede do município de Periquito. Diante de todo o contexto abordado neste estudo, há diversas formas de visualizar o processo de realocação, onde em uma delas pode estar relacionado a visão do empreendedor “sujeitos de fora”, que não compreendem os que “são de dentro” famílias afetadas. Para Thompson (1981), Oliveira (2002), Rothman (2008), dentre diversos outros já citados, há muitos valores atribuídos ao “lugar”, e estes são de modo característico imensuráveis na visão dos afetados, pois sentimento, sustentabilidade são extremamente subjetivos no momento de se estabelecer preços a estes. As indenizações foram pagas, mas como dizer que se pagando R$1.000,00 em um pé de jaca, este saciará a fome e permeará as relações sociais por anos? E se a terra não permitir o crescimento adequado das novas mudas de plantas nos seus novos quintais? Quanto a perda na fertilidade da terra dos moradores afetados, estes deveriam ter recebido orientações sobre os tipos de investimentos na futura terra (quintal), assim como em outros projetos. Mas, há que se pensar sobre todo o impacto social que foi gerado ou que ainda acarretará em grandes transformações significativas, muitas vezes não mensuradas a longo prazo. No Distrito de Pedra Corrida, segundo o censo do IBGE (2000 apud CNEC ibid) havia nesse período 1.200 habitantes. Então quando analisamos que 66 famílias neste local foram realocadas, percebe-se estatisticamente que aproximadamente 200 pessoas estão sendo deslocadas de seu “lugar” de moradia, representando no geral 17% da população local. Cada família que fez parte deste processo apresenta sua história de vida, e estas devem ser respeitadas. 93 4.1.2 Grau de Satisfação dos Moradores a serem Realocados Evidencia-se diante da revisão bibliográfica realizada, que a visão atual dos empreendedores ou do setor elétrico diante das realocações tem evoluído significativamente, estando cada vez mais próximos da percepção da necessidade de maior investimento no Campo Social. Müller (1995), assinala que, esta evolução não foi gratuita, senão que se deve ao reconhecimento de que a não compensação dos danos socioambientais que podem ser causados pelos empreendimentos, poderiam invalidar futuros projetos. De um modo geral, as Usinas Hidrelétricas constituem a base do sistema de geração energética no Brasil, correspondendo a 80% da oferta de eletricidade. Porém, este potencial foi atingido nos últimos 30 anos, através da construção indiscriminada de Usinas de grande porte, que desencadearam graves problemas sociais e ambientais. Mas na atualidade, qualquer Projeto para implantação de UHE deve passar por um longo processo de avaliação antes de sua implementação (BERMANN et al., 2004). Durante o estudo percebeu-se que somente 07 (sete) entrevistado, o que representa 23,4% do total do universo estudado, relataram grau de satisfação na fase de pré-realocação. No entanto, os moradores da Rua Francisco Diniz (distrito Pedra Corrida), estavam sujeitos ao efeito das enchentes mesmo antes das alterações provocadas no Rio Doce pelo início da implantação da Hidrelétrica, desde que esta região apresentava períodos de chuvas intensas, onde o rio aumenta seu volume além do esperado, e a maioria destas famílias foi alvo de realocação temporária fruto das Cheias, perdendo grande parte de suas mobílias, criações, alimentos e histórias. Como a área onde serão transferidos apresenta uma distância considerável da região inundável, para estes moradores a “mudança” se torna um aspecto positivo, como constatado nos depoimentos a seguir: “Muda é melhor né, porque quando chove a gente fica com a cabeça quente né? Tem que corre, perde muitas coisas, os móveis mesmo é tudo quebrado tem que levanta tudo” (Cristal). 94 “Pra mim eu acho bom porque esse negocio de enchente é chato de mais, tem saí,.muda de casa. Quando da enchente enche tudo, já entro quatro veiz, teve até ali na porta ali, então é ruim, fica mudando na cheia, estraga os móveis da gente” (Lúcia). A expectativa do empreendedor era que a população visualizasse de forma satisfatória o processo de mudança da proximidade do rio pois desta forma estão sendo afastados das áreas de risco sanitário, (EIA – CNEC, ibid). Mas este mesmo relatório também destaca que os impactos negativos previstos seriam advindos da necessidade de adaptação dos moradores aos novos locais de moradia. Alguns entrevistados também apresentaram mistura de sentimentos e uma dupla visão referente ao grau de satisfação ou grau parcial de insatisfação da realocação, como é percebido no comentário a seguir: “De um lado é muito bão, por outro lado vai se ruim porque aqui a gente tem fruta, manga. Só que por outro lado num corre mais de dá enchente, que já deu duas vezes esse ano” (Renata). Nos registros fotográficos - como exemplo a Figura 18 - realizados durante a fase de observação e entrevistas para coleta dos dados, notou-se que a maioria das casas alvo de realocação, apresentavam-se em condições precárias, ou eram muito antigas e para alguns moradores o fato de mudarem para uma casa “nova” gerou satisfação, pois muitas destas estavam com trincas e rachaduras significativas, sendo também evidenciado o relato destas condições de moradia pelo EIA de Baguari. 95 Figura 18 Rua Francisco Diniz. Demonstrando as trincas do lado externo FONTE: AMPLO, 2007 “Olha eu sinto maravilha, sabe? Eu num sô garrado com nada. Mas uma casinha nova é bom demais. Porque se é o progresso beleza, e se fosse por uma necessidade?” (Lucas). Para alguns a mudança está diretamente relacionada ao progresso, onde este é percebido como algo positivo e que de fato poderá trazer melhorias para a população local. No estudo também foi encontrado, casas sem delimitações de espaço, como muro. Ao mesmo tempo em que esta situação pode refletir em sensação de liberdade, para outros pode simbolizar a perda de sua individualidade, como a nova moradia será entregue toda murada, acabou gerando para alguns moradores um certo grau de satisfação neste sentido. “Casa toda murada, toda de acordo, os vizim não vão perturba a gente, a gente combina bem com vizim, e se for vizim que num combina com a gente, num precisa vê nem o rosto dele, ta murado né?” (Araci). “To sastifeita. Casa nova, casa bonita, muradinha, vai se melho né?”(Joana). As ruas em estudo apresentam características similares e distintas ao mesmo tempo. Similares com relação ao tipo das casas (conforme Figura 19), 96 tamanho e histórias de contato com a área há muitos anos e distintas pela localização e risco. A Rua Francisco Diniz no Distrito de Pedra Corrida apresenta seu lado esquerdo limítrofe com o Rio Doce, assim como o risco de inundações ocasionadas por este quando chega o período chuvoso, pois o nível do rio é próximo, atingindo inclusive os quintais. Já a Rua Beira Linha na sede do município de Periquito, está situada entre o Rio Doce e a linha férrea Vitória-Minas da companhia Vale, onde conforme relato da população local, o risco de inundações é menor, mais somado ao risco de atropelamento por trem, os ruídos intensos e tremores que desencadeiam grandes trincas nas casas, geram um desconforto para muitos. Figura 19: Casa da Rua Beira Linha. Demonstrando a precariedade das casas no local. FONTE: AMPLO, 2007 No entanto, na área alvo de realocação na sede do município, embora ficassem explícitos os riscos conseqüentes de sua localização, estes não eram considerados pela Prefeitura de Periquito, por se tratar de uma área de invasão. Então, diante das diferenças apresentadas, o grau de satisfação relacionado aos aspectos positivos foi evidenciado na maior parte das entrevistas pela população alvo de realocação da Rua Beira Linha, conforme relatos abaixo: 97 “Mais de qualquer maneira tá bom a área aqui é muito arriscada né? Não é uma necessidade, por causa do risco né? Se não fosse a necessidade da realocação, nois teria que fica aqui mesmo né? Lá fica perto da mercearia, sai do risco da linha” (Roberto). “To sastisfeita demais. Eu inté perdi uma menina minha que morreu aí na linha. Ela não escutava do lado esquerdo e não ouviu o trem passa” (Gleice). Na análise do grau de satisfação relacionado, estes variam devido às características da localização e a sua influência sobre os moradores. Na percepção dos moradores na fase de pré realocação, uma nova fase iniciou-se com o princípio das obras nos locais, onde muitas famílias passaram a relatar outros aspectos positivos sobre a realocação, e este se referia ao fato de estarem indo para uma casa “nova”. Na fase de construção das “novas” casas, foi realizado o método de observação pela pesquisadora, não sendo aplicada nenhuma entrevista até a fase de “mudança”. Nesse período, foi observado que a princípio havia uma percepção pelo empreendedor de padronização das novas casas, onde a cor, o modelo de porta, janela, dentre outros, seriam os mesmos. Em conversa com os moradores percebeu-se muita indignação diante do fato, onde estes solicitaram através da Associação de Moradores, uma reunião com o Consórcio do empreendimento, gerando uma melhora neste aspecto, decorrente do qual houve uma flexibilização no processo para escolha de 05 (cinco) tipos de cores para as novas residências, dentre estas estavam: abóbora, vermelho, azul, verde e amarelo. Também colocaram 05 (cinco) opções de cerâmica, da delimitação da casa com a rua que poderia ser toda murada ou parcialmente cercada; já as portas e janelas haviam somente 02 (duas) opções. A construção das casas iniciou-se por delimitação de Quadras, sem qualquer ordem de prioridade, pois os lotes foram escolhidos pelos próprios moradores sem interferência do empreendedor; onde estes buscaram manter a mesma vizinhança devido à relação estabelecida de anos de convivência. O início da pavimentação do “novo bairro” chamou atenção, pois enquanto era comentado por alguns o benefício de não ter mais “lama” na 98 porta de casa, para outros era percebido como mais uma forma de tornar “quente” o novo lugar. O acesso à obra era permitido a todos aqueles que seriam realocados ou interessados em conhecer esta, bastava a identificação, o uso de EPI‟s e o acompanhamento do encarregado da obra, onde a mesma era de uma empresa terceirizada. Parte das fotos deste acompanhamento podem ser evidenciadas nos ANEXOS 6 e 7. Foi permitido às famílias alvo de realocação que retirassem tudo de suas antigas moradias, onde o empreendedor realizou o transporte ou inserção destes no novo local de residência, porém sem assumir qualquer responsabilidade pelos danos causados durante a mudança. Percebeu-se que algumas famílias tentaram reproduzir nas novas casas os mesmos “moldes” das antigas, ou seja, na etapa que precedeu a entrega dos imóveis, alguns já haviam contratado pedreiro, ou até mesmo levando parentes para construir o característico fogão à lenha, a tradicional varanda e até mesmo replantar as mudas em vasos, pois muitos percebíam no novo quintal a impossibilidade de fazer hortas e plantações de árvores frutíferas. Diante da fase de pré-realocação, ficou evidente que o grau de satisfação relacionado aos aspectos negativos foi muito maior do que o positivo e nesse sentido os relatos foram iguais na Rua Francisco Diniz quanto na Rua Beira Linha, ou seja, a preocupação com o lugar referente ao “afeto” e ao “sustento familiar” é marcante. 4.2 Estudo das famílias afetadas na fase de Pós-Realocação, identificando a percepção das famílias em relação ao seu novo local de moradia A “mudança” pode gerar diversos tipos de sentimentos, mas pode-se resumir duas expressões abordadas neste estudo, uma de satisfação com a moradia e outra de insatisfação com a mudança do lugar, com a falta de suporte para garantia alimentar e todo o processo em si. Neste momento será descrito a percepção desta população realocada após a mudança para o novo local de residência. 99 A realocação de toda a população afetada iniciou-se em julho de 2009, sendo finalizada em agosto do mesmo ano, onde as fotos que evidenciam a conclusão das obras podem ser visualizadas nos ANEXOS 7 e 8. Todo o processo que envolve uma mudança foi realizado pelo empreendedor conforme acordo firmado. As entrevistas após a realocação ocorreram no mês de setembro de 2009, sendo a coleta de dados neste período considerada pela pesquisadora um momento de grande influência, pois havia pouco tempo que as famílias estavam “fora” do seu antigo lugar de moradia para poder relatar os sentimentos de “perda”, “saudade” ou “necessidade”. Diante deste estudo, o grau de satisfação após a realocação, foi discretamente maior quando questionados sobre a “nova” casa, mas quando foi interrogado sobre o “lugar” a grande maioria acabou por referir que sentia falta das frutas, plantas, árvores da antiga moradia, caracterizando assim a insegurança alimentar desencadeada com o processo de mudança. Portanto, pode-se concluir que os aspectos negativos foram mais relevantes do que os positivos. 4.2.1 Grau de Insatisfação dos Moradores Realocados Com relação aos impactos sociais provocados pela implantação de uma Hidrelétrica, a CMB (ibid), constatou que por diversas vezes os efeitos negativos destas não são avaliados a longo prazo, desconsiderando a gama de impactos na vida destas comunidades afetadas por estarem distantes do ambiente ribeirinho e serem diretamente influenciados. Fica evidente em um dos relatos a referência da história com o lugar, onde comprova que os reassentamentos, ou realocações não conseguem assegurar as mesmas condições de vida anterior, onde já discutimos na revisão bibliográfica em que autores como Bermann (ibid) caracterizam este impacto. Na avaliação dos efeitos negativos após a realocação dos moradores da Rua Francisco Diniz do Distrito de Pedra Corrida, observa-se que estes ainda permanecem vinculados ao “lugar”. 100 Para estes a mudança de “casa” aumentou o sentimento da saudade do local anterior, e o que mais foi evidenciado se relaciona ao quintal, que comportava grandes árvores, frutas, hortas e criações, podendo ser correlacionado aos mesmos valores da fase de pré realocação. Quando questionados da satisfação sobre o sentimento de sair do lugar “antigo” e vir para um “novo”, alguns entrevistados expressaram as seguintes opiniões: “Nem um pouco. Por causa do costume né, foi todo mundo criado lá então era herança do meu pai também né, então começa todo aquele processo de como se diz é obrigado, fazer o que?” (Isaac) “Cê que a verdade, eu num trocaria minha casa nunca por uma casa dessa aqui em cima, na rua debaixo minha história fico toda lá, num é casa de cerâmica, casa de janela de vidro eu num trocaria não, eu não gostava nem daqui da rua de cima” (Conceição). Novamente aparece em destaque a questão da relação com o lugar, já comentado no capítulo 2, mas vale reafirmar, que Ewald et al. (ibid) caracterizam o lugar como o local que é imediatamente associado à visão de espaço particular com delimitação, onde ocorre um conjunto de relações sociais, baseadas em fortes laços familiares e também vinculado ao tempo de residência. Por isso, cada comunidade forma sua própria cultura e transforma o local de acordo com suas interações do cotidiano a partir de um determinado “lugar”. A preocupação diante dessa influência é como estas pessoas conseguirão reproduzir o modo de vida como anteriormente, pois durante a fase de coleta de dados após a realocação, quando convidada para entrar à casa das famílias, a pesquisadora observou que em praticamente todas haviam comprado móveis novos. No momento da entrevista a pesquisadora aproveitou a oportunidade para questionar sobre o pagamento das benfeitorias, foi onde surgiu o relato de muitos moradores que com o pagamento destas compraram “móveis novos” para ficar bonito na “casa nova”. Neste estudo uma das grandes questões que incomoda enquanto pesquisadora, é que pagou-se as benfeitorias mas não houve acompanhamento da aplicação deste pelo empreendedor, ou seja, o dinheiro 101 que deveria ser direcionado para reconstruírem os mesmos modos de vida do antigo lugar, agora foram investidos em móveis novos. A compensação deveria ter sido suficiente para reconstruir e melhorar o padrão de vida, além de comprar os novos móveis. Então como pode-se assegurar o sustento alimentar destas famílias? Qual será o verdadeiro impacto socioeconômico do lugar a longo prazo? Restou também a insegurança, pois eram as frutas e hortaliças que garantiam a alimentação destas pessoas, agora com que orçamento eles poderão contar? Os quintais estão vazios, sem frutos ou hortas, alguns até tentam recomeçar o que havia de produção dentro de pequenos vasos espalhados em um canto de um quintal “pelado”. Mesmo levando as mudas de suas plantações, quanto tempo pode levar para essas novamente conseguirem garantir a alimentação destas famílias? A percepção da ausência do plantio e contato necessário com as frutas, hortas com a decorrente perda da segurança alimentar fica evidente na fala de muitos moradores: “lá naquela rua era muita fartura aquela rua lá que nois morava era a melho rua que tinha era a nossa que é o lugar de fartura que a gente tinha de tudo, pra gente vim pra um luga desse. Tinha muita fruta no quintal, manga agora tem que ta começando, muita banana, era coco, cana, goiaba e pinha a gente tinha de tudo né, era muita fartura, plantava milho, verdura era muito difícil deu comprar porque eu tinha minha horta, plantava abobora, quiabo, milho eu tinha de tudo” (Flávia).. “É diferente né, é difícil ta aqui a plantação de lá era muito maior, lá é plantação antiga” (Maria). “Nem da pra resume é uma tristeza só é um deserto esse trem aqui, essa terra num dá nada, lá tava cheio de planta chega aqui esse deserto, aqui tem muito é azulejo e muro só e mais nada, a minha casa não era aquela casa aquela mansão não a casa aqui é muito boa melhor do que a gente tinha lá, mais também num era só a casa o valor da minha mãe que morreu tinha seis anos lá perto lá, minhas plantas minhas coisas e eu num costumo até hoje ainda sinto muita falta de lá vou lá busca uma plantinha” (Vilma). 102 Outro fator muito evidenciado foi o relato da ausência de árvores com o sentido de proteção e conforto na área de realocação, gerando insatisfação devido a falta de locais com sombra, desencadeando um ambiente mais quente, e sem local adequado para as crianças brincarem. “To me sentindo muito mal, é ruim o sol quente, num tem uma árvore num tem nada olha como é que a gente ta toda queimada de sol aqui. Com relação a casa eu não to queixando não a casa é boa to falando assim tirar a gente do luga onde a gente viveu tanto tempo nasceu viveu ali entendeu, tira a gente pra coloca aqui é muito estranho muito diferente acho que é todo mundo sentiu isso ai, é o quintal que tinha banana, cê tinha cajá manga, cê tinha manga, cê tinha mamão, cê tinha tudo, pro cê vim pro trem desse aqui, começa tudo de novo, cerâmica, asfalto. Não de jeito nenhum, não gostava dessa Rua” (Conceição de Pedra Corrida). “Em termos da casa, essa com certeza é melhor que a outra, mas aqui tem muito sol, aqui num tem nenhuma sombra pra gente esconder, os pequininim tadin tão virando um tiçãozinho de tanto brincar pra lá e pra cá, lá em baixo tinha sombra com fartura né” (Joice) Diante destes depoimentos, percebe-se a atividade da memória coletiva presente continuamente ao longo da história, e que se intensifica e ganha relevo, reinventando o passado no presente conforme visão de Augé (2003 apud Zhouri e Oliveira, 2007), sendo empreendimentos como estes que remetem o tempo todo a percepção do risco de desagregração social. Um relato importante, que foi mencionado por apenas dois moradores, como percepção de incomodo na nova casa, foi que com o enchimento do reservatório, surgiram “pernilongos gigantes”, que eles nunca haviam percebido no lugar. “Menina, só cê vendo, tem aparecido uns pernilongão, mais uns pernilongo gigante, preto, que ta incomodano, foi desde o dia que represou aí em baixo, isso tá ruim, já penso se fica assim? (José)” O surgimento de vetores como evidenciado neste relato, também foi evidenciado no trabalho de Koifman (2001, p.02) que assinala que entre as principais interferências diretas e indiretas oriundas pela expansão do setor elétrico, destacam-se: “a realocação de comunidades para outras regiões, 103 muitas vezes acompanhada de rupturas em seus estilos de vida; o alagamento de grandes parcelas territoriais”, diminuindo assim a disponibilidade de áreas cultiváveis; e principalmente aumentando a proliferação de vetores. Já nesta fase de estudo houve uma inversão das percepções, que surpreendem quando analisadas individualmente; pois antes da mudança a maioria dos moradores da Rua Beira Linha (sede do município de Periquito) denotavam satisfação com relação a realocação, porém pós-realocação, a grande maioria em seus depoimentos demonstrou insatisfação quando se lhes pergunto sobre questões como acesso do “novo” local de moradia para escola, igreja, comércio, e trabalho, como evidenciados nos depoimentos a seguir: “Até ontem eu comentei lá na igreja, que com 5 minutos eu chegava na Igreja, agora morando aqui é 10 minutos” (Joice). “Mudo drasticamente. Pra questão da casa ficou bom não tenho do que me queixar. Pra ir pro meu trabalho foi péssimo, porque às vezes tem que trocar de roupa e num tem luga pra trocar de roupa, ficou mais longe ainda onde eu to pescando é seis quilômetros pra ir e seis pra volta e tem dia que eu tenho que ir de manhã e voltar de tarde então fica mais de vinte quilômetros por dia” (João). Antes da realocação as casas da Rua Beira Linha possuíam seus quintais às margens do Rio Doce (Figura 20). Após a realocação, o acesso ao Rio é de aproximadamente 5 km; sendo o local inserido no centro do município de Periquito, onde verifica-se no ANEXO 6 nas FIGURAS 3 e 4. 104 Figura 20: Casas na Rua Beira Linha. Demonstrando a proximidade do Rio. FONTE: Aniely Coneglian Santos, 2009 Em outra fase da entrevista, este mesmo morador relata a sua indignação também com a dificuldade de conseguir manter o sustento para sua família: “Pescando eu to, todo dia, num ta pegando peixe esse é o problema. Antigamente eu pescava uns seis quilo de peixe, hoje se pesca um é muito. O rio ta diferente” (João). O enchimento do reservatório transformou o Rio deixando-o com características de lago, desencadeando ainda alterações na quantidade de peixes, conseqüentemente houve impactos negativos na renda de muitos moradores, desde que sua fonte de renda provia da pesca e sua venda na comunidade, assim como esta mudança também impactou no suprimento alimentar de muitas famílias ribeirinhas. Em decorrência, esta mudança contribui para que estas famílias percebam a realocação como um processo ou experiência traumática, onde os laços podem ser afetados, agravando a dependência desses grupos com relação a sua base de recursos naturais que já foi completamente alterada pela implantação da Usina Hidrelétrica. Quando questionado aos afetados se haviam procurado o empreendedor para relatar as dificuldades encontradas, manifestaram que tinham entrado em contato com a advogada de defesa da comunidade, mas que esta ainda não 105 tinha nenhuma resposta do caso. Não foi questionado sobre o possível contato com Movimentos Representativos como MAB, Igrejas ou Associações. Finalizando, o depoimento embaixo deixa evidente que esta mudança tem desencadeado o endividamento de alguns dos moradores. “Me atolei em dívida, inclusive eu tomei, pra mim não suja meu nome, tomei um dinheiro emprestado segunda-feira passada, então quer dizer a coisa parece, pra quem tá de fora, parece mil maravilha mais no fundo no fundo não é bem assim e eu vou te falar porque hoje eu num to trabalhando, hoje porque minha bicicleta quebro” (João). Segundo a CMB, as grandes barragens afetam os recursos hídricos que são responsáveis pelo sustento da vida, como terras produtivas, a pesca e a seguridade de acesso a água doce, que esta sendo considerado um recurso cada vez mais escasso. O Empreendedor da UHE de Baguari; só fez transferir as famílias e os trabalhadores de suas casas para uma outra parte do Distrito ou Município,mas esta mudança de local não respeitou o modo de vida destas famílias, assim como também não houve acompanhamento a estas. Corresponde ressaltar que esta mudança gerou uma perda de seus referenciais e da forma de subsistência, sem qualquer busca de melhoria econômica ou de desenvolvimento profissional; e ainda há a degradação de seus recursos naturais que não foram reconstruídos. No EIA havia previsão de diminuição da quantidade de peixes, no entanto, não houve compensação para aqueles que declararam a pesca como único meio de subsistência. De fato, deveria ter havido uma forma de recompensar as famílias que retiram parte de seu sustento a partir deste, criando outra(s) alternativa(s) de empregabilidade que pudesse(m) assegurar seu sustento por tempo indeterminado, pois estes impactos são em longo prazo e geralmente imprevisíveis enquanto à garantia da manutenção destes mesmos recursos como eram antigamente. Todavia soma-se a problemática da distância das novas moradias ao Rio, local que fica de acordo com depoimentos dos moradores em torno de 6 (seis) km deste, fato que contribui ainda mais à insegurança alimentar destes moradores, não só pela ausência dos alimentos obtidos do próprio rio como 106 conseqüência das mudanças na oferta de peixes, senão também pela impossibilidade da manutenção das criações no local. Um fato que chamou atenção da pesquisadora foi que quando estava realizando a última entrevista pós-realocação na Rua Beira Linha, uma moradora - que não permitiu a gravação de seu depoimento - fez um desabafo muito importante: ela referia que na casa “antiga” a beira do rio, ela possuía criação de galinha, e gado, porém estes permaneciam em terra que não eram deles, literalmente soltos a beira do rio; com a mudança, a família foi realocada para o centro da cidade, e tiveram que se desfazer das criações. No seu relato ela deixou clara a insatisfação, pois na nova casa não há espaço para criação, nem para fazer uma horta ou plantação de árvores frutíferas. Outro depoimento de um morador da Rua Beira Linha que estava satisfeito com a realocação no processo inicial, agora relata insatisfação: “Pra dormi tá pior porque lá o ambiente era mais sozinho não tinha muito carro buzinando só as vaca né. Os cômodos aqui são menores. Lá era mais perto da natureza, dos pássaros” (Joaquim). É o reflexo da saída da beira do Rio, que era bem distante do centro da cidade, agora a “nova” casa fica em uma rua com certo movimento de pessoas, automóveis e motocicletas. Os valores e referencias são diversos, mas de um modo geral a necessidade da segurança alimentar e a história do lugar, da relação com a natureza, estão presentes em quase todos os depoimentos. 4.2.1 Grau de Satisfação dos Moradores Realocados Após a realocação as causas de satisfação por uma pequena parcela da população entrevistada deveu-se à “casa nova”, recém construída, ainda em alguns destes primava o alívio de não estarem mais suscetíveis às enchentes, que como já assinalado anteriormente, geraram grandes perdas familiares para algumas dessas famílias. Este fato depoimentos: 107 fica evidenciado nos seguintes “Lá é diferente com a daqui, olha a casa daqui tem laje, cerâmica e lá não tinha isso, e o quintal aqui é maior. Fico mais fácil de pega o ônibus, ele para logo ali. Eu acho assim né, a gente morava lá numa casa bem velha, antiga mesmo, a casa quase caino, pra mim eu achei muito bom sabe, facilito muito pra nois, melhoro muito porque morava numa rua que não era asfaltada não tinha esgoto, tinha água e luz mais num tava muito bom não, foi bom” (Joana). “Olha minha fia eu vo fala com cê, é tudo de alegria, eu tinha mesmo que saí um dia porque todo mês de novembro e dezembro a gente já ficava preocupada com a enchente, saía quando voltava as coisa da gente que já era poquinha tudo sumia, cama de solteiro sumiu, ferro. A água chegou lá dois metro minha fia, em 79 eu perdi tudo, casa, tudo que tinha, porque a gente saiu e achou que a água não ia subi muito e quando volto, a segunda casa que caiu foi a minha ficou 12 dias a água dentro de casa e essas outras a gente saía e depois voltava mais dava muito trabalho, a gente ficava até assim dois dias pra volta a muda” (Ilma). “Bem melhor, morava num buraco lá né, um buracão danado, lá chovia arrumava aquele barraco arrumava, arrumava só os trincado” (Zeca). “Aqui ta é bom não tem nada que fala mal daqui, muito bom graças a Deus. Só de num ser na beira daquele rio né. Quantas noite de sono eu já passei sentada lá naquele luga pra vigia a água se chegava lá em casa” (Cristal). Outro aspecto positivo percebido pela população, em relação a reestruturação do local, foram as mudanças como: a pavimentação das ruas, construção de uma praça para convivência e lazer, e a presença de muros em todas as casas. “Lá toda vida foi estrada de chão bagunça, aqui não é asfaltado é muito mais sabe, igual a gente nunca moro em casa assim murada tudo aqui pelo menos murada se fica a vontade, aqui cê vai pode sai fecha o portão e fica a vontade que ninguém, apesar que todo mundo aqui é conhecido aqui de todo mundo mais hoje em dia cê sabe num pode confiar em ninguém pode ser amigo, mas cê tranca seu portão e ta numa boa, fica a vontade” (Dinho). 108 Nas entrevistas pós-realocação destacou-se que boa parte da população, embora se referencie à “nova casa” positivamente, no entanto, quando consultados com sua satisfação a respeito do “novo lugar” (bairro) mostram de maneira significativa sua insatisfação, podendo-se inferir que a percepção de “casa”e “lugar”são completamente distintos, como fica evidente no depoimento a seguir. “Depende da forma que a gente vê né, lá a gente já tinha digamos assim planta no quintal tudo que precisava tava no quintal, depois que a gente veio pra cá não tem planta nenhuma nada, mais é se for olha que lá tinha enchente a casa que eu morava era bem negoçada na verdade. E pra mim que tenho filho ficou melhor, porque lá na beirada de rio era muito perigoso, agora aqui não, eu posso fechar o portão e deixar ela brincar no quintal a vontade (Tatiana)” “Bom muito melhor, só to sentindo falta da plantação mais no mais não, não tenho o que reclamar não. Aqui é melhor, tem asfalto aí, num tem lama num tem nada” (Dionísio). “A gente vê assim: teve uma vida toda lá, e o novo chama atenção por ser novo, assim as coisas que a gente possuía lá como questão da área toda plantada do quintal tudo, então de início a gente ta tendo essa preocupação de planta, de substituir o que tinha lá, então da questão da casa aqui é muito bom” (Rita). Fica claro que este estudo não esgotou a temática da realocação, evidenciando-se a necessidade de continuação de novos estudos sobre seus impactos socioambientais em longo prazo, pois, avaliar estes apenas um mês após a transferência para as “novas casas”, é de fato pouco tempo para mensurar a dimensão das possíveis alterações que serão desencadeadas neste processo, como comprova-se no depoimento abaixo: “Só com o tempo né que vai passar, aqui realmente é uma casa nova né, maior que a minha, mas lá a gente já tinha uma história, as vezes fico pensando assim, olho pra um lado,... olho pro outro, e as plantas da gente que ficou pra trás, horta, fruta que com muita dificulidade levo pra conservar”(Alice). De fato o espaço físico socialmente construído poderá perder as referências criadas através do modo em que foram estabelecidas as relações 109 no cotidiano de muitos anos, mas seus múltiplos significados não são totalmente considerados. A realização deste estudo deixou evidente que não existe por parte do empreendedor uma compreensão diferenciada entre as percepções de “lugar” e “moradia/casa”, Corresponde mas salientar sim que são evidentes estas na diferentes população percepções realocada. não são compreendidas pelo empreendedor como passíveis de impacto social que afetam tanto as relações de convívio como sua segurança alimentar, ou seja, que afetam o bem-estar da população realocada. A ênfase dada pelo empreendedor com respeito à realocação, resume-se apenas ao aspecto da “casa/moradia”, acreditando que a população afetada ficaria satisfeita, ou em outras palavras, sentir-se-iam plenamente compensadas – diante de tantas perdas – quando estivessem vivendo em uma “nova casa”. Segundo Müller (1995), será que a visão atual dos empreendedores ou do setor elétrico diante das realocações tem evoluído significativamente? De que maneira? Com qual preocupação? A duplicidade de percepção dos realocados diante de todo processo, foi visivelmente registrado e interpretado da maneira mais transparente possível, buscando-se não denotar somente a visão de pesquisadora, e sim na tentativa de conseguir estudar, e transmitir passo a passo este processo tão delicado no sentido social e, que ainda será vivenciado por milhares de pessoas em todo o mundo. 110 CONCLUSÃO As permanentes construções de grandes barragens retratam a direta relação do poder industrial e o capital financeiro, distanciando a população afetada de atuarem de forma integral em um processo democrático. As fontes utilizadas para gerarem Energia Elétrica no Brasil expressam a ação do Governo sobre as formas de produção de energia a partir da utilização de recursos hídricos, sem muito investimento nas fontes de energia alternativas, que poderiam minimizar os impactos sociais e ambientais com relação a formação de barragens. Nos últimos anos, percebe-se que a mídia tem tratado de forma mais evidente a real limitação dos recursos hídricos, onde a categoria que afetam o meio ambiente envolve diferentes sentidos sociais, culturais e com múltiplos interesses. O município de Periquito foi fortemente demarcado pelo movimento campo-cidade, e sofre constante influência pela sua situação geográfica. Com a implantação da UHE Baguari, diversas áreas do município foram compreendidas na Área Diretamente Afetada pelo empreendimento, sendo que uma parcela significativa de sua população seria alvo de realocação. Embora na legislação sobre Licenciamento Ambiental esteja prevista a participação da população diretamente afetada durante todo o processo, no empreendimento em questão (UHE Baguari) apesar de existir uma Associação de Moradores representativa, os espaços para participação da população foram limitados. 111 Embora existam diversos instrumentos para avaliar os impactos socioambientais destes projetos, ainda são insuficientes para que no planejamento proposto se contemplem os interesses de ambas as partes, população afetada e empreendedor, dado o poder diferencial destes autores. A partir do estudo realizado, percebe-se que a energia elétrica nos tempos atuais tem influenciado para o crescimento da economia e desenvolvimento de um país; contudo a crescente exploração de fontes de recursos naturais para suprir o auto consumo energético, ainda permanece desencadeando impactos socioambientais relevantes nos níveis mundial e local. Apesar da grande maioria das Referências Bibliográficas utilizadas nesta pesquisa demonstrarem que os impactos sociais gerados pela implantação de Hidrelétricas causam muito mais percepção negativa do que positiva na população alvo de realocação, neste estudo constatou-se dois grandes momentos de evidente variação do grau de satisfação, que podem refletir significativamente nos impactos sociais futuros. Diante do estudo realizado sobre a realocação destas famílias, evidenciou-se que a percepção dos moradores sobre os impactos sociais desencadeados pela implantação da UHE Baguari, foram em sua grande maioria negativos. Na fase de pós-realocação o grau de satisfação com a “nova moradia” aumentou, mas com relação ao “lugar” o grau de insatisfação permaneceu prevalecente, indo de encontro com a literatura analisada nesta pesquisa sobre a temática. Tanto na Literatura como nesta pesquisa destacouse que a Habitação é uma variável de extrema importância a ser acompanhada como impacto social diante destes empreendimentos, e vale ressaltar a necessidade da avaliação desde o momento da negociação até alguns anos após o funcionamento da Usina em questão. Também tornou-se evidente, que a elevação do nível das águas pelo enchimento do reservatório extinguiu o ponto principal de lazer da população local, no caso do Distrito de Pedra Corrida. Embora no momento das entrevistas a população não tenha demonstrado preocupação com o fato, porém cabe perguntar-se e avaliar qual será o real impacto que a desapropriação deste sítio de lazer terá sobre a população no período de intenso calor na região. 112 Sem dúvida, a participação da população é de fundamental importância para auxiliar na tomada de decisões sobre o planejamento das ações de implementação de UHE, o que deslindaria numa minimização dos impactos desencadeados pela sua implantação. Pode-se desta forma, se espelhar na atitude de países como a Alemanha, que para seu licenciamento ambiental, aborda etapas de aprovação com completa permissão popular (Verwaltungsverfahrensgesetz, parágrafos 72 a 78, apud ZHOURI, et. al., 2005). Embora haja melhoria nos processos de avaliação dos impactos socioambientais decorrentes dos empreendimentos hidrelétricos, corresponde destacar que os transtornos ocorridos fruto da realocação de populações, ainda geram conflitos neste setor, pois o homem diante de todo avanço tecnológico não consegue reproduzir a mesma relação com o lugar ou história existente entre uma família e seu local de moradia. A questão é que, associado à perda do “lugar”, também está a perda de sua identidade e, no caso concreto deste empreendimento, associa-se a perda de sua segurança alimentar, assim os valores instituídos a este, vão além de apenas sua reconstrução, podendo-se dizer então que há somatórias de perdas. Nessa perspectiva, observou-se a importância da participação ativa da população afetada no acompanhamento do processo de implantação de uma Hidrelétrica. Também ficou evidente a importância de que os empreendedores percebam a necessidade de maior monitoramento antes, durante e após (à longo prazo) a finalização do empreendimento diante dos impactos socioeconômicos desencadeados por este. Com todo o estudo realizado, conclui-se que há necessidade de permanente investigação do grau de satisfação destas famílias realocadas, pois os impactos sociais gerados poderão ser ainda maiores à longo prazo, devido as novas relações que estão sendo estabelecidas, reafirmando assim a descrição presente no relatório da CMB (2000a), que justifica a criação de um sistema à longo prazo para rever periodicamente o desempenho, os benefícios e os impactos socioambientais de todas as grandes barragens existentes. Neste momento é importante realizar um paralelo, diante de todas as falas evidenciadas na pesquisa com a percepção dos autores Lestingi e Bermann 113 (2007), que afirmam que nestes processos há que se levar em consideração a dignidade humana dos que vivem as margens dos rios, pois muitos acabam ficando indiferentes diante do progresso, e assim destroem os sonhos de vida de milhares de pessoas. Diante de todo estudo, percebe-se que os impactos socioambientais sempre estarão presentes em empreendimentos hidrelétricos, e que a participação da comunidade no processo de tomada de decisões é fundamental para minimizar os impactos. Finalmente, ressalta-se a necessidade de uma investigação permanente do grau de (in)satisfação das famílias realocadas, pois os impactos socioambientais gerados poderão ser ainda maiores à longo prazo, devido aos impactos tanto na desestruturação inter e intra familiares, na (in)segurança alimentar, assim como na(s) fonte(s) de subsistência familiar. 114 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOVAY, Ricardo. Agricultura familiar e desenvolvimento territorial. Reforma Agrária – Revista da Associação Brasileira de Reforma Agrária – v.28 nº 1,2 3 e 29, nº1 – jan/dez 1998 e jan/ago 1999. ALBAGLI, Sarita. Globalização e Espacialidade: o novo papel do local. 1999. Disponível em: http://www.fes.br/disciplinas/adm. Acesso em: 12 de setembro de 2009. ALMEIDA, Alcionir Pazatto; SARTORI, Maria da Graça Barros. A Percepção da paisagem urbana de Santa Maria-RS e os sentimentos de topofilia e topofobia de seus moradores. Ciência e Natura. UFSM, v.30, p.107-126, 2008. 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Acesso: 19 de agosto de 2009. 126 ANEXOS 127 Anexo 1 – Questionário pré-realocação CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA – UNEC PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA NOME:__________________________________ IDADE: _____ Gênero: ___ Endereço: (diretamente afetado): ____________________________________ Relação Familiar: _________________________ QUESTÕES Foco da Pesquisa: Percepção da realocação pelas famílias afetadas pela instalação da Usina Hidrelétrica de Baguari no município de Periquito – MG 1- Há quantos anos vocês moram ou moravam na casa que será alvo de realocação/ permuta ou indenização, devido ao empreendimento da Barragem? 2- Quantas pessoas moram ou moravam nesta residência? 3- A atual residência foi adquirida de que forma? (herança, compra, financiamento, morava de favor, aluguel). 4- Você ou sua família obtém algum sustento desta habitação atual (ou habitação negociada)?O que você sente quando pensa que terá de deixar o local da sua residência e irá para uma nova? 5- Como você resumiria a necessidade de “mudança” de residência? 6- Esta mudança para você apresentou mais aspectos positivos ou negativos? Porque? 7- Como você avalia o papel do Consórcio neste processo de realocação? 8- Você está satisfeito com o processo de negociação para realocação/ permuta ou indenização? 9- O que você espera encontrar lá na nova moradia? 128 Anexo 2 – Questionário pós-realocação CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA – UNEC PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA NOME:__________________________________ IDADE: _____ Gênero: ___ Relação Familiar: _________________________ QUESTÕES Foco da Pesquisa: Percepção da realocação pelas famílias afetadas pela instalação da Usina Hidrelétrica de Baguari no município de Periquito – MG 1 – Como você poderia resumir o sentimento de sair do lugar “antigo” e vir para um lugar “novo”? 2 – O lugar da nova casa é melhor ou não? Porque? 3 – Você está satisfeito com a mudança? ____sim ____não ____ em parte. Explique o porquê da resposta 4 – O que você encontrou de novo nas condições da nova moradia? 5 – O novo lugar facilita ou dificulta o acesso da sua família a: escola? Ao posto de saúde? Ao local de trabalho? Ao comércio? Ao lazer? 6 – Quais as facilidades e as dificuldades encontradas desde o momento da negociação até a mudança de moradia? 7 – O que mais se destacou para você e sua família nessa mudança de lugar? 8 – Suas relações do dia a dia com seus amigos, vizinhos e ou família mudaram? Explique como mudou esse convívio e se de alguma maneira essa mudança lhe afeta. 129 Anexo 3 – Termo de consentimento CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão COMITE DE ÉTICA EM PESQUISA – CEP/UNEC E-Mail: [email protected] Telefone: (33) 3329- 4555 Comitê de Ética e Pesquisa – UNEC Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Você está sendo convidado para participar da pesquisa “Percepção da realocação pelas famílias afetadas pela instalação da Usina Hidrelétrica de Baguari no município de Periquito – MG”, Você foi selecionado por morar em Periquito desde novembro de 2006 e sua participação não é obrigatória. A qualquer momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição. Os objetivos deste estudo são: 1) Estudar o processo de realocação das famílias da região urbana afetadas pela instalação da UHE Baguari, residentes nas ruas Beira Linha, localizada no distrito sede do município de Periquito e Francisco Diniz, localizada no Distrito de Pedra Corrida deste município. 2)Identificar as necessidades básicas de cada família em relação ao seu novo local de moradia: 3)Analisar os aspectos e impactos sociais, bem como a efetividade das medidas ambientais envolvidas Sua participação consistirá em responder algumas perguntas feitas pelo pesquisador que utilizará um questionário para anotar suas respostas. A entrevista não apresentará risco algum para sua integridade física, sendo as mesmas orientadas e supervisionadas pelos responsáveis pelo projeto. Os benefícios relacionados com a sua participação são: fornecer um maior conhecimento científico sobre o tema; contribuir para que sua opinião possa ser relacionada com os dados e informações oficiais obtidas no EIA/RIMA e se for encontrada alguma alteração o empreendedor do Consórcio Baguari será comunicado. As informações obtidas através dessa pesquisa serão confidencias e asseguramos o sigilo sobre sua participação. Os dados não serão divulgados de forma a possibilitar sua identificação sendo que, você será identificado por nomes fictícios para análises posteriores. Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço do pesquisador principal, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a qualquer momento. ______________________________________ Aniely Coneglian Santos RG: 6.538.275-0 Rua Osvaldo Cruz, 301. Cidade Nobre. Ipatinga-MG. Tel: (31)9135 1008. 130 Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa e concordo em participar. Sujeito da Pesquisa: Nome: _____________________________________Tel:_____________________ End: _______________________________________________________________ _________________________________________ Assinatura Sujeito da pesquisa 131 Anexo 4 – Pré-realocação: Rua Francisco Diniz (Distrito de Pedra Corrida): (FONTE: AMPLO, 2007) FIGURA 1: Processo 24 PC FIGURA 2: Processo 78 PC FIGURA 3: Processo 23 PC FIGURA 4: Processo 75 PC FIGURA 5: Processo 46 PC FIGURA 6: Processo 21 PC 132 Anexo 5 – Pré-realocação: Rua Beira Rio (SEDE – PERIQUITO) (FONTE: AMPLO, 2007) FIGURA 1: Processo 17PQ FIGURA 2: Processo 06PQ FIGURA 3: Processo 07PQ FIGURA 4: Processo 08PQ FIGURA 5: Processo 13 PQ FIGURA 6: Processo 10 PQ 133 Anexo 6 – Início das obras na área urbana de alvo de realocação (FONTE: Aniely Coneglian Santos, 2009) FIGURAS1 e 2:Início da Construção da Área de Realocação em Pedra Corrida no período de janeiro de 2009. FIGURAS 3 e 4: Início da Construção da Área de Realocação na Sede de Periquito no período de fevereiro de 2009. FIGURAS 5 e 6: Obras no ínicio das Construções em Pedra Corrida (março de 2009) 134 Anexo 7 – Evolução das obras (FONTE: Aniely Coneglian Santos, 2009) FIGURAS 1 e 2: Visão interna e Externa de casa em processo de construção no Distrito de Pedra Corrida, em abril de 2009. FIGURAS 3 e 4: Evolução da Obra em Pedra Corrida, maio de 2009. FIGURAS 5 e 6: Fase de Finalização das Obras em Pedra Corrida, julho de 2009. 135 Anexo 8 – Conclusão das obras de realocação (FONTE: Aniely Coneglian Santos, 2009) FIGURAS 1 e 2: Entrega das Casas de Realocação em Pedra Corrida, final de agosto de 2009. FIGURAS 3 e 4: Área de Lazer construída no início do “novo” Bairro em Pedra Corrida, agosto de 2009. 136 Anexo 9 – Evolução da concentração das usinas hidrelétricas no Brasil (FONTE: ANEEL, 2002 apud SCHAPPO, 2008) FIGURA 1: Mapa das UHE no Brasil. 137