Pensamento Estratégico Por: Professor Paulo F. Trugilho – UFLA (Texto oferecido ao CGEE em 20/5/2014 pela profa. Angélica de Cássia (UFV), por ocasião do Seminário “Modernização da Produção de Carvão Vegetal”; postado aos participantes do Seminário por Elyas Medeiros, [email protected], assessor do CGEE e coordenador da ação em contrato administrativo para a SDP/MDIC.) 1. Introdução O carvão vegetal é um produto importante e que impacta positivamente a produção de aço no Brasil. Este produto é um recurso natural renovável de alta densidade energética e que participa, juntamente com a lenha, com 8,6% do consumo interno de energia (Brasil, 2012). Trata-se de um produto que deve ser considerado como um diferencial no setor siderúrgico brasileiro, tendo em vista que somente o Brasil o utiliza de forma intensiva como fonte de energia. Dentro desse contexto, pode-se afirmar que o Brasil é o único país do mundo que utiliza uma fonte natural e renovável de energia para produzir grande quantidade de aço, o aço verde. Apesar da grande produção e consumo do carvão vegetal no Brasil, o setor produtivo necessita de ajustes para assegurar uma produção eficiente, econômica e sustentável. A procura por processos e sistemas mais eficientes na transformação e a busca por uma utilização integral dos produtos da carbonização são ações necessárias para a garantia da produção em bases sustentáveis. Além da melhoria nos processos e sistemas de conversão deve-se atentar para a madeira, garantindo a sua origem, rastreabilidade e qualidade para esta atividade. O foco das pesquisas deve contemplar duas vertentes importantes, a saber: 1.) Avaliação da qualidade da madeira. Propor estudos relacionados à obtenção dos fatores intrínsecos da madeira que afetam a produção e qualidade do carvão vegetal. Estudos relacionados aos efeitos de genótipos, ambiente, interação genótipo x ambiente, idade, nutrição, práticas silviculturais, entre outras. Propor estudos de secagem da madeira, ou seja, o que se pode fazer para que a madeira seja utilizada o mais seca possível na conversão. 2.) Avaliação do desempenho dos sistemas ou processos de conversão. Verificar o desempenho dos atuais sistemas de produção e da qualidade do carvão vegetal produzido para o uso industrial. Comparar os atuais sistemas de conversão com outros de potenciais usos, como, por exemplo, o sistema contínuo, micro ondas, etc. Fazer um levantamento dos custos de produção, considerando o horizonte de médio e longo prazo, dos sistemas ou processos. Definir a melhor opção de processo ou sistema de produção considerando o caráter social, econômico e ambiental. Na avaliação dos sistemas ou processos deve-se observar o caráter global da conversão. Deve-se procurar utilizar a energia da madeira em sua totalidade em benefício da conversão. Nesse sentido, obter os balanços de massa e energia é importante para que se possa avaliar com mais rigor o desempenho dos sistemas e processos. É importante o uso da energia contida nos gases gerados pela carbonização, que pode ser utilizada em benefício do próprio sistema ou processo, especialmente na etapa da secagem da madeira. A avaliação de todo o processo produtivo do carvão vegetal é necessário para se estabelecer metas que possam garantir a sustentabilidade da produção e, dessa forma, contribuir com a redução de gases de efeito estufa nesse importante setor industrial brasileiro. 2. Estratégias de Ação A implementação de um programa visando à produção sustentável do carvão vegetal deve compreender as seguintes etapas: 1. Madeira utilizada na produção do carvão vegetal – nativa ou plantada. Verificação da origem. Propor técnicas que possam permitir a identificação da origem do carvão vegetal. 2. Avaliação de processos e equipamentos para a secagem eficiente da madeira. 3. Avaliação do desempenho dos sistemas e processos. Propor metodologia para avaliar de forma eficiente o rendimento gravimétrico da conversão da madeira em carvão (balanço de massa e energia). 4. Avaliação do efeito da umidade da madeira no desempenho dos sistemas e processos. 5. Avaliação de sistemas voltados ao uso dos gases gerados pela carbonização. Refazer os balanços de massa e energia nessa etapa. 6. Avaliação do material construtivo tanto dos sistemas e processos como dos periféricos de controle da emissão gasosa, por exemplo, queimadores de gases ou trocadores de calor para condensação e utilização dos gases condensáveis. 7. Avaliação da emissão de gases de efeito estufa nos processos e sistemas de carbonização da madeira. Construir uma linha de base da emissão por sistema ou processo. 8. Avaliação da emissão de gases após a adoção de periféricos de controle da emissão gasosa. Verificar a eficiência dessa tecnologia e recalcular a linha de base da emissão. 9. Avaliação do desempenho dos periféricos destinados ao resfriamento dos sistemas ou processos, quando for o caso. 10. Avaliação técnica e econômica do uso dos gases gerados para cogeração. Todas estas etapas devem ser acompanhadas por uma criteriosa avaliação técnica e econômica, que demonstre a sua viabilidade. 3. Metas e incentivos As metas a serem atingidas pelas ações estratégicas devem ser as seguintes: 1. Testar diferentes tipos de materiais genéticos de alta produtividade volumétrica – avaliar a qualidade da madeira e indicar materiais genéticos mais aptos à atividade. 2. Determinar a linha de base dos atuais sistemas ou processos utilizados na carbonização da madeira – avaliar e monitorar as emissões de gases, especialmente os associados ao aquecimento (efeito estufa); 3. Determinar o desempenho dos sistemas ou processos utilizados na carbonização da madeira – obter criteriosamente os balanços de massa e energia dos sistemas ou processos de carbonização; 4. Determinar o efeito da umidade da madeira no desempenho e emissão de gases nos sistemas ou processos de carbonização – determinar a umidade ideal para a carbonização; 5. Testar periféricos de controle da emissão gasosa nos sistemas ou processos – avaliar o dimensionamento, a configuração, o material construtivo e a eficiência; 6. Determinar a nova linha de base dos sistemas ou processos contemplados com os periféricos de controle da emissão gasosa; 7. Propor mecanismos de utilização da energia dos gases gerados pela carbonização na secagem da madeira e/ou cogeração; 8. Testar equipamentos para a redução do ciclo de carbonização, especialmente o de resfriamento, para o aumento da produtividade do sistema ou processo; 9. Propor um modelo padrão de sistema ou processo de carbonização, que contemple as melhorias de rendimento (balanço de massa e energia) e de redução de emissão gasosa para a atmosfera, gerando um carvão vegetal sustentável. Para que sejam atingidas essas metas são necessários investimentos financeiros e de recursos humanos de âmbito nacional e regional, que assegurem a sua plena execução. Seria importante que fosse criada uma plataforma de pesquisa nacional e regional do carvão vegetal sustentável. Esta plataforma teria com função principal a montagem de um grande banco de dados de pesquisas e de pesquisadores, suas especialidades, local de trabalho, identificação de laboratórios e equipamentos de pesquisa de ponta nessa importante área de conhecimento. ***