Materiais de Engenharia Adriano dos Santos Nunes Cristiano Rodrigo Quarantani Rafael Juliano Fabro Salvador Renato Fernandes de Moura Samuel Gonçalves Carreira Tiago Guissi Sanchez Introdução Os materiais são a base de trabalho de nossa sociedade. Transformá-los e utilizá-los é função crucial em nosso desenvolvimento de vida, e também na segurança e bem-estar de povos e nações. A produção, desenvolvimento e processamento destes absorvem alta porcentagem dos empregos e contribuem com grande parcela do produto interno bruto dos países. Os materiais são tão importantes no ciclo ascensão e declínio do homem que chegou a nomear períodos da civilização, como Idade da Pedra, Idade do Bronze e Idade do Ferro. Podemos visualizar os materiais como que fluindo num vasto ciclo, um sistema global de transformação regenerativa: matéria bruta, matéria prima, materiais de engenharia, produto final. Após o uso, temos a formação de sucata. Chegamos então a um novo aspecto importante no estudo e desenvolvimento dos materiais: uso na energia e meio ambiente. O entrosamento dos materiais em seu estado final com a natureza (recicláveis, biodegradáveis, tóxicos, etc) tem recebido cada vez mais importância, e o consumo de energia em seus diferentes tipos (renováveis, limpas, poluentes) afeta diretamente a viabilidade e os custos de produção e distribuição. Cientes da importância evolutiva e sócio-econômica dos materiais, abordaremos neste trabalho aspectos históricos e atuais dos materiais de engenharia. 1. Visão Histórica e Desenvolvimento Como materiais, designamos substâncias cujas propriedades as tornam utilizáveis em estruturas, máquinas, dispositivos, produtos, ou até mesmo em seres vivos. Vamos começar abordando os materiais em 4 categorias principais: metálicos, cerâmicos, poliméricos e compostos (com características conjugadas). Após isso, faremos uma abordagem sucinta sobre outros tipos de materiais. 1.1 Materiais Metálicos Materiais Metálicos normalmente são combinações de elementos metálicos. Apresentam grande número de elétrons livres, que conferem a tais materiais condutividade de calor e eletricidade excelente. São resistentes, porém deformáveis, sendo assim, apropriados para aplicações estruturais. Analisando a corrente do tempo, entre 5000 e 3000 a.C., o homem desenvolveu o forno de alta temperatura e aprendeu a fundir os metais. Foram inventados então ferramentas para dominar os animais e auxiliar na agricultura, como o arado e a carroça. No início da era cristã, o homem conhecia 7 metais: ouro, cobre, prata, chumbo, estanho, ferro e mercúrio. É interessante notar na Bíblia Sagrada o texto de Números 31:22, 23, escrito por Moisés entre 1512 e 1473 a.C.: “Somente o ouro e a prata, o cobre, o ferro, o estanho e o chumbo, tudo o que se processa com fogo, deveis passar pelo fogo, e tem de ser limpo”. Ainda no campo dos materiais e das crenças humanas, a busca da vida eterna levou os taoístas∗ a experimentar a produção de pílulas de imortalidade pela alquimia. No conceito taoísta, a vida resulta da combinação das forças opostas yin e yang (feminina e masculina). Assim, fundindo chumbo (escuro, ou yin) com mercúrio (claro, ou yang), os alquimistas estavam imitando o processo da natureza e pensavam que o produto seria uma pílula de imortalidade. Foco nos principais metais: • Cobre O primeiro metal a ser utilizado parece ter sido o Cobre no estado nativo. O Cobre quando martelado a frio, ou seja, na temperatura ambiente e sem nenhum tipo de aquecimento, pode tornar-se duro e resistente. Esta característica parece ter sido utilizada para aplicações do Cobre em instrumentos de caça e defesa, além de instrumento de trabalho na conformação de outros materiais como a madeira e alguns minerais. • Bronze Liga de estanho e cobre, há evidências de uso de cobre no ano 4500 a.C. na Tailândia. Algumas centenas de anos depois, o cobre foi descoberto no Oriente médio. Artefatos desta época mostram que ele era usado apenas com propósito decorativo, por não haver muito estanho disponível. Aproximadamente no ano 2000 a.C., quando o estanho passou a ser importado de regiões vizinhas, o bronze substitui o cobre na construção de itens maiores, por ser mais resistente e menos quebradiço. Além disso, ele se mantinha afiado. Ferramentas, armaduras e armas feitas de bronze também eram mais baratas e duráveis. A idade do Bronze durou até meados de 1200 a.C. • Ferro A Idade do ferro começa em 1000 a.C., quando o ferro começa a substituir o bronze em vários lugares, para diferentes propósitos. O ferro é mais comum do que o estanho e o cobre, mas raramente é encontrado no estado livre; Normalmente, é encontrado em misturas com outros elementos e minérios. Para ser usado, precisa ser separado do minério. Minério de ferro encontrado em montanhas é explorado e processado para uso, tanto em sua forma original como na composição do aço. Uma vez que a técnica de separação foi dominada (e havia fornos quente o suficiente para derreter o ferro) o uso do ferro se tornou comum. Novamente, havia um material mais resistente e menos quebradiço do que o usando anteriormente. A capacidade de se manter afiado do ferro era muito maior do que a do bronze. O ferro se mantém importante até hoje para a indústria, e é o componente principal para a indústria do aço. ∗ Religião que começou como filosofia, no século II. Muito comum na China, Japão e Coréia. • Aço Ligas de aço produzidas até o século XIV eram feitas por aquecer uma mistura de carvão vegetal e minério de ferro numa forja. O desenvolvimento de técnicas para produzir aço eram interessantes por este ser menos frágil e mais resistente à corrosão do que o ferro. Em 1856, Henry Bessemer desenvolveu a fabricação do aço com teor de carbono mais baixo, em seu estado líquido, inaugurando a idade do aço. Até então, o homem obtinha ligas heterogêneas, por trabalhar com o ferro abaixo de seu ponto de fusão. Havia heterogeneidade na distribuição de carbono e aprisionamento inevitável da escória. Com o uso de alto-fornos, foi possível produzir aço em grande escala. • Alumínio Metal cinza prateado, o alumínio tem um enorme número de usos e aplicações. Algumas vantagens incluem o fato de que ele não se oxida, é mais leve do que o cobre (e quase tão efetivo na transmissão elétrica), e é macio o suficiente para facilmente ser moldado para quase todos os propósitos. Embora seja o metal dominante na composição da Terra, o alumínio não foi descoberto antes de 1825, milhares de anos depois do cobre e ferro. A razão primária para isso foi a dificuldade de extrair o metal do minério (no alumínio moderno, bauxita). Charles Hall, americano de 22 anos, criou o que viria a ser o meio mais efetivo de separar alumínio em 1886. Seu processo envolvia passar uma corrente elétrica através do óxido de alumínio, resultando em 2 componentes separados de puro alumínio e oxigênio. Todos os materiais são compostos por átomos que se organizam em partes para formar o todo. Essa organização (observada nas estruturas sólidas) pode ser ordenada (cristalina) ou aleatória (amorfa). A ordem na formação molecular dos materiais procura reduzir a energia livre por unidade de volume, ou seja, conserva a integridade das diversas propriedades do material (elétrica, térmica, química e mecânica, por exemplo), além de direcionar e definir as ligações atômicas e agrupar os átomos em pacotes moleculares com o menor tamanho possível. A existência da estrutura cristalina resulta dos sólidos cristalinos serem construídos a partir da repetição no espaço de uma estrutura elementar paralelepipédica denominada célula unitária. Já a desordem na formação molecular apresenta diferentes comportamentos nas propriedades dos materiais, pois suas moléculas não seguem uma linha estrutural constante. Uma das características mais marcantes nas estruturas moleculares atômicas é a redução na densidade (razão entre massa e volume) e a principal forma sólida amorfa é a vítrea. A formação dos cristais moleculares depende da valência e do tipo de ligação entre os elementos químicos constituintes dos materiais, das condições ambientais de formação (temperatura, pressão e intemperismo químico), isso faz com que um mesmo elemento se cristalize em diferentes formas alotrópicas: diferentes sólidos com propriedades e estruturas moleculares distintas, mas compostos pela mesma substância. Ex.: Um exemplo clássico é o Carbono, que dependendo das condições pode se cristalizar sob centenas de formas: do diamante à grafite, passando pelos fulerenos e pelas variantes da fibra de carbono. Também há as substâncias orgânicas: dos açúcares às proteínas e ao DNA, cristalizados em formas extremamente complexas (resultado do seu elevado peso molecular e complexidade estrutural). Outra característica variante da composição e condição de formação dos cristais são suas formas regulares espaciais possíveis de serem deduzidas a partir dos comportamentos atômicos e moleculares dos seus constituintes; o que permite a sua classificação em função do número de parâmetros: os parâmetros de rede. Abaixo segue uma tabela ilustrando os diferentes sistemas de cristalização por parâmetros: Sistema de cristalização Eixos Ângulos entre os eixos Cúbico a=b=c α = β = γ = 90º Tetragonal a=b≠c α = β = γ = 90º Ortorrômbico a≠b≠c ≠a α = β = γ = 90º Hexagonal a=b≠c α = β = 90º; γ = 120º Romboédrico ou Trigonal a=b=c α = β = γ ≠ 90º Monoclínico a≠b≠c ≠a α = γ = 90º; β ≠ 90º Triclínico a≠b≠c ≠a α ≠ β ≠ γ (todos ≠ 90º) 1.2 Materiais Cerâmicos Combinações de metais com elementos não metálicos, os cerâmicos são muito duros, porém frágeis. Os principais tipos são os óxidos, nitretos e carbetos, e pertencem a este grupo os argilo-minerais, cimento e vidros. Há materiais cerâmicos predominantemente iônicos até predominantemente covalentes. São tipicamente isolantes térmicos e elétricos (ao contrário dos metais), e são mais resistentes a ambientes corrosivos do que metais e polímeros. O primeiro material a adquirir propriedades totalmente novas foi a argila, com o processo de queima. Assim, o homem tornou possível a obtenção de potes, panelas e outros utensílios cerâmicos, com enorme impacto na vida e hábitos do homem. A argila é usualmente plástica após pulverizada e umedecida. Nesse estado ela é conformada, e depois de seca se torna rígida. Após passar pelo processo de queima, adquire alta dureza. A invenção da cerâmica foi fundamental para o desenvolvimento de sociedades agrárias. Para garantir a colheita e até mesmo a vida dos animais fora das estações mais favoráveis, as tribos precisavam armazenar e proteger o excesso de alimentos. Com a descoberta das propriedades da argila, a invenção de um forno específico e da roda de oleiro, era possível construir potes especiais para tal armazenamento. Os primeiros indícios do uso da cerâmica datam de 6500 a.C. Embora o uso fosse prático fosse o principal, cerâmica decorativa logo passou a ser utilizada em rituais e como arte em algumas culturas ao redor do planeta. Os exemplos mais impressionantes vêm de algumas culturas préColombianas na América do Sul e da dinastia Ming, na China (séc. XIV). Os vidros tradicionais são misturas de óxidos, e também são classificados como materiais cerâmicos. Por volta do ano 4000 a.C. já existiam vidros decorativos no Egito, e em 1500 a.C. a produção de vidros já estava relativamente estabelecida. Pequenas adições de íons de cobalto, cromo, cobre, manganês e ferro causam grandes mudanças de cor. Por exemplo, a mistura de 0,15% de CoO confere ao vidro de carbonato de sódio a cor azul escura. Na segunda metade do século XIX houve um avanço importante no que se refere aos vidros: o desenvolvimento de lentes modernas e instrumentos óticos. Hoje, vemos o avanço com o uso de fibra de vidro para materiais reforçados e fibra ótica para a transmissão de informações. Os vidros inorgânicos são amorfos, tem propriedades isotrópicas, são transparentes à luz visível, são isolantes térmicos e elétricos, podem ser formulados para absorver ou transmitir determinados comprimentos de onda, e amolecem antes de fundir, permitindo conformação por sopro. • Cerâmica Avançada Cerâmicas avançadas já estão presentes em várias aplicações de ponta graças às suas características incomparáveis: elas suportam temperaturas que fundiriam o aço e resistem à maioria dos corrosivos químicos. Mas elas ainda têm um problema que impede sua disseminação por praticamente todos os ramos industriais: elas são quebradiças. A maioria das cerâmicas avançadas possui como um de seus componentes uma família de compostos conhecida como óxidos de terras raras. Esses óxidos são adicionados às cerâmicas para lhes dar maior dureza. O que os cientistas descobriram foi como os átomos de terras raras se alojam no material cerâmico e como sua presença afeta a dureza da cerâmica final. Utilizando um microscópio eletrônico de última geração, os cientistas conseguiram mapear cada átomo individual de terras raras presente em uma amostra de nitreto de silício (Si3N4), uma cerâmica de altíssima resistência ao desbaste. Embora sejam um dos materiais mais antigos conhecidos pela humanidade, as cerâmicas de última geração nada têm a ver com aquelas utilizadas para se fazer jarros e outros utensílios domésticos. As cerâmicas avançadas são produzidas a partir de pós de complexos compostos químicos e sua produção exige um controle cuidadoso e preciso em cada etapa da produção. A possibilidade de um controle em nível atômico desses compostos poderá abrir uma nova fronteira para a aplicação das cerâmicas avançadas. O nitreto de silício, por exemplo, é um dos materiais mais promissores para a construção das novas gerações de turbinas a gás. Esses gigantescos motores, projetados para movimentar usinas geradoras de energia elétrica, deverão queimar combustível a temperaturas acima de 1.200° C, bem acima da tolerância dos metais, inclusive das superligas metálicas de última geração, feitas à base de níquel. Operando a essas temperaturas, as novas turbinas deverão atingir uma eficiência termal muito superior às termelétricas atuais, emitindo uma quantidade de gases poluentes muito menor. Segundo Alexander Ziegler, "Para melhorar a dureza do nitreto de silício, freqüentemente é necessário fabricar uma película em nanoescala nas bordas dos grânulos da cerâmica, que se quebra quando a cerâmica começa a fraturar. Isso permite a formação de pontes entre os grânulos que se espalham ao longo da fratura, tornando mais difícil que ela se propague”. Entender a natureza e as propriedades dessas películas intergranulares é crucial para melhorar a dureza das cerâmicas. Entretanto, até agora, não se tinha maiores conhecimentos sobre a composição química, a estrutura atômica e as características das ligações dessas películas. 1.3 Materiais Poliméricos Na verdade, os materiais poliméricos não são novos - eles têm sido usados desde a Antiguidade. Contudo, nessa época, somente eram usados materiais poliméricos naturais, que será por sua vez especificamente detalhado. A síntese artificial de materiais poliméricos é um processo que requer tecnologia sofisticada, uma vez que envolve reações químicas, ciência esta que começou somente a ser dominada a partir da segunda metade do século XIX. A partir dessa época começaram a surgir polímeros modificados a partir de materiais naturais. Somente no início do século XX os processos de polimerização começaram a ser viabilizados, permitindo a síntese plena de polímeros a partir de seus meros. Tais processos estão sendo aperfeiçoados desde então, colaborando para a obtenção de plásticos, borrachas e resinas cada vez mais sofisticados e baratos, graças a uma engenharia molecular cada vez mais complexa, a nanotecnologia. Para se ter uma idéia da idade dos polímeros e da sua utilidade até hoje basta citarmos um exemplo: o verniz. Os chineses o descobriram cerca de 1000 a.C., e o produto que fora extraído de uma árvore é consuetudinariamente usado até os dias atuais na forma de revestimento impermeável em móveis conferindo a eles durabilidade. Enfatizando sua utilidade, a Ford anunciou em agosto desse ano (2006) um projeto de investigação do Instituto de Polímeros e Compósitos (ICP) da Universidade do Minho (UM), um investimento milionário. O investimento ocorreu devido aos acidentes ocorridos com o modelo EcoSport, veículo utilitário fabricado pela empresa. Após alcançar determinada velocidade, um de seus componentes se deformava em conseqüência da pressão aerodinâmica exercida, provocando assim o capotamento do veículo. Tal componente se tratava de um polímero. • Polímeros Naturais Os polímeros naturais são: a borracha; os polissacarídeos, como celulose, amido e glicogênio; e as proteínas. A borracha natural é um polímero de adição, ao passo que os polissacarídeos e as proteínas são polímeros de condensação, obtidos, respectivamente, a partir de monossacarídeos e aminoácidos. A borracha natural é obtida da árvores Heveu brasilienses (seringueira) através de incisão feita em seu caule, obtendo-se um líquido branco de aspecto leitoso, conhecido atualmente por látex. As cadeias que constituem a borracha natural apresentam um arranjo desordenado e, quando submetidas a uma tensão, podem ser espichadas, formando estruturas com comprimento maior que o original. • Polímeros Sintéticos Os polímeros sintéticos são sintetizados quimicamente, em geral, de produtos derivados de petróleo. Em contrapartida aos polímeros naturais e naturais modificados, os sintéticos são "injetados" como moléculas relativamente pequenas. Eles podem oferecer uma infinidade de desenhos possíveis. São costurados para atender cada aplicação requerida. O tamanho e composição química podem ser manipulados a fim de criar propriedades para quase todas as funções dos fluidos. Abaixo segue uma tabela com a classificação dos seu polímeros com seus respectivos monômeros componentes e suas diversas aplicações no dia-a-dia. Nota-se a versatilidade desses materiais, que são utilizados desde a indústria alimentícia, passando pelos materiais isolantes e de proteção até a composição de materiais super resistentes e reagentes utilizados em máquinas de usinagem e explosivos. POLÍMERO MONÔMERO(S) APLICAÇÃO Polietileno etileno baldes, sacos de lixo, sacos de embalagens Polipropileno propileno cadeiras, poltronas, pára-choques de automóveis PVC cloreto de vinila tubos para encanamentos hidráulicos Isopor estireno isolante térmico Orlon acrilnitrilo lã sintética, agasalhos, cobertores, tapetes. Plexiglas "Vidro plástico" metilacrilato de Acrílicos metila plástico transparente muito resistente usado em portas e janelas, lentes de óculos. Teflon tetrafluoretileno revestimento interno de panelas Borracha fria isobuteno Borracha natural isopreno Neopreno ou duopreno cloropreno Buna 1,3-butadieno Buna-N ou perbuna 1,3-butadieno acrilnitrilo Buna-S 1,3-butadieno estireno pneus, câmaras de ar e objetos de borracha em geral Amido a glicose alimentos, fabricação de etanol Celulose b glicose papel, algodão, explosivos Náilon 1,6-diaminoexano ácido adípico rodas dentadas de engrenagens, peças de maquinaria em geral, tecidos, cordas, escovas Terilene ou dacron Etilenoglicol ácido tereftálico tecidos em geral (tergal) Baquelite (fórmica) aldeído fórmico fenol comum revestimento de móveis (fórmica), material elétrico (tomada e interruptores) Poliuretano poliéster ou poliéter isocianato de p. fenileno colchões e travesseiros (poliuretano esponjoso), isolante térmico e acústico, poliuretano rígido das rodas dos carrinhos de supermercados pneus, câmaras de ar e objetos de borracha em geral 1.4 Materiais Compósitos Materiais compósitos são projetados para conjugar as características desejáveis de dois ou mais materiais. Exemplo disso é a fibra de vidro em matriz polimérica. A fibra de vidro confere resistência mecânica, enquanto matriz polimérica é responsável pela flexibilidade. A madeira é um material composto natural (composto de polímeros), e o concreto é um compósito comum (composto de cerâmicos). Compósitos são materiais de moldagem estrutural, formados por uma fase contínua polimérica (matriz) e reforçada por uma fase descontínua (fibras) que se agregam físicoquimicamente após um processo de crosslinking polimérico (cura). Normalmente a fase descontínua é formada por fibra de vidro, aramida ou de carbono dependendo da aplicação final. A fase polimérica é geralmente composta por uma resina termofixa do tipo poliéster insaturada (ortoftálica, tereftálica, isoftálica ou bisfenólica), dissolvida em solvente reativo como estireno ou ainda uma resina éster vinílica ou epóxi. Resinas especiais como as fenólicas, de poliuretano e de silicone são utilizadas em aplicações especiais. Na moldagem destas duas fases ocorre um crosslinking polimérico através de um processo de cura, que acopla as duas fases proporcionando ao material final propriedades especiais que definem sua moderna e ampla aplicabilidade. Leveza, flexibilidade, durabilidade, resistência, adaptabilidade são algumas das propriedades que garantem aos compósitos o título de produto do futuro. Engenheiros, técnicos, procuram cada vez mais os compósitos como solução para seus projetos de engenharia. Estados Unidos, Japão, Canadá, Europa e Brasil, têm no compósito um mercado em franca expansão. Abaixo, colocamos algumas características dos compósitos, com uma breve descrição: • Leveza e facilidade de transporte Devido ao peso específico das resinas e das fibras de reforço, os produtos fabricados a partir dos compósitos apresentam um baixo peso específico. Devido a esta e a outras propriedades características dos materiais compósitos é que eles são amplamente utilizados nos setores de aeronáutica, naval, automobilístico e outros. • Resistência química Os compósitos apresentam excepcional inércia química, o que permite sua utilização em uma ampla gama de ambientes agressivos quimicamente. Além disso, aditivos especiais e resinas específicas estão à disposição dos técnicos para solucionar aplicações que requeiram propriedades além das usuais. • Resistência às Intempéries Umidade, vento, sol, oscilações térmicas tem baixa ação prejudicial sobre os compósitos. E quando características não usuais são requeridas, aditivos como protetores de UV, agentes anti-dust, resinas especiais são amplamente utilizáveis. • Flexibilidade Arquitetônica Os compósitos têm uma grande vantagem sobre outros materiais estruturais, pois moldes com formas complexas são facilmente adaptáveis aos processos em utilização. Curvas, formas diferenciadas, detalhes arquitetônicos das empresas de materiais compósitos. • Durabilidade O compósito, devido à sua composição e ao crosslinking polimérico formado durante o processo de moldagem, apresenta como característica uma alta durabilidade. • Fácil Manutenção Os compósitos além de sua longevidade tradicional, apresentam fácil e simples técnicas de reparo e manutenção. • Resistência Mecânica Devido às suas características e à variedade de combinações que podem ser realizadas entre as resinas e os materiais de reforço, os compósitos apresentam uma excelente resistência mecânica que possibilita a sua utilização em aplicações no setor de aeronáutica, naval, automobilístico e outras. • Feito sob medida Compósitos são sinônimos de produtos feitos sob medida. Decidir pela utilização de um compósito é ter à sua disposição a possibilidade de resolver seus problemas de engenharia com um produto feito sob medida, isto é, um produto fabricado na medida certa e exata de sua necessidade. 1.5 Novos Materiais A necessidade de novas aplicações e utilização de propriedades mais específicas, a escassez ou limitações na obtenção, transformação e produção de matérias-primas tradicionais, fatores relacionados à degradação ambiental e à utilização de fontes energéticas não renováveis levaram o desenvolvimento da Engenharia de Materiais a um novo horizonte: não bastava somente alterar ou melhorar os materiais existentes, mas sim criar novos que atendessem as novas utilizações exigidas pela ciência. Da medicina à tecnologia de informações, a utilização dos novos materiais está mais presente nas novas gerações dos produtos fabricados e a tendência será aplicá-los com maior freqüência no que ainda está para ser estudado e produzido. 1.5.1 – Biomateriais Biomaterial é definido como todo material utilizado para substituir - no todo ou em parte - sistemas biológicos. Assim, podemos ter biomateriais metálicos, cerâmicos, poliméricos, compósitos ou biorecobrimentos e para uma dada aplicação costuma haver mais de um material e/ou processo de fabricação disponível. Dada às especificidades que esses materiais apresentam, a tendência é que eles sejam considerados, hoje, uma classe especial de materiais. O desenvolvimento de biomateriais mostra-se fundamentalmente importante, no sentido que desse desenvolvimento prescreve-se uma melhoria no nível de vida das pessoas, representada por um aumento na expectativa de vida, na saúde em geral e no bem estar da população. Dessa forma, observa-se nos últimos anos um enorme esforço no intuito de se produzir novos dispositivos. Uma pesquisa divulgada nos Estados Unidos (1994) mostra que mais de cinco milhões de implantes são requeridos anualmente nos Estados Unidos e mais de três milhões são requeridos anualmente na Europa. Estima-se que o mercado mundial associado à biomateriais envolva aproximadamente 35 bilhões de dólares anuais. Além disso, tal mercado apresenta uma taxa de crescimento de 11% ao ano, que demonstra o grande interesse e necessidade por este tipo de produto. O caso brasileiro mostra-se muito mais dramático devido ao nível baixo de saúde da maioria dos brasileiros, representado pelos altos índices de mortalidade infantil e baixa expectativa de vida, em comparação a países do primeiro mundo. Além da necessidade de melhoria da saúde geral dos brasileiros, grande parte dos biomateriais usados no Brasil é importada e acaba por gerar gastos elevados por parte da Previdência Social. Desta forma, observa-se uma enorme necessidade de desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro na área de biomateriais como forma de atender às necessidades de melhoria da saúde geral. Dada a multiplicidade de assuntos que devem ser abordados quando da investigação científica, é comum uma equipe de trabalho nesta área constar de profissionais de áreas bastante distintas como engenharia de materiais, médicos e odontólogos, biólogos, etc. 1.5.2 – Semicondutores Semicondutores são sólidos cristalinos de condutividade elétrica intermediária entre condutores e isolantes. Seus componentes isolantes para terem sua alta resistividade reduzida e controlada ao acrescidos de diminutas quantidades de átomos “impuros” num processo chamado dopagem. Grosso modo, as diferenças entre condutores e isolantes estão na energia dos seus elétrons. Nos materiais condutores há elétrons livres em uma quantidade suficiente para formarem correntes elétricas através de um estímulo eletromagnético sem a necessidade de grandes temperaturas que liberte mais elétrons no interior da estrutura molecular. O mesmo não acontece com os materiais isolantes: seus elétrons estão muito presos na estrutura do material e mesmo com grande temperatura atuando sobre o material, a mesma não seria suficiente para libertar uma parcela de elétrons necessária ao surgimento de corrente elétrica. Um semicondutor é considerado isolante, exceto pela impureza constituinte do material que faz a energia necessária para libertar alguns elétrons ser menor. Essa necessidade de se trabalhar com variações de temperatura faz com que a resistividade dos semicondutores diminua com o aumento da agitação molecular do material. Os principais componentes de “impureza” na produção dos semicondutores são o silício (Si) e o germânio (Ge). A tabela abaixo resume e ilustra as diferenças nas características elétricas entre um material condutor (cobre) e um material isolante (silício): Propriedade Tipo de material Densiade de portadores de carga (m-3) Resistividade (Ω x m) Coeficiente de resistividade de temperatura (K-1) Cobre Metal 9 x 1028 2 x 10-8 4 x 10-3 Silício Semicondutor 1 x 1016 3 x 103 -70 x 10-3 1.5.3 – Materiais Avançados Nos anos 1970, paralelamente aos materiais tradicionais, apareceram os novos materiais: compostos complexos, seguidos pelos nanomateriais (estruturas artificiais em escala molecular). Confiabilidade, longevidade, precisão, leveza - as vantagens são inúmeras. Os nanomateriais estão presentes em praticamente todas as áreas industriais: espacial, aeronáutica (no novo Airbus A 380 – o maior e mais moderno avião de passageiros do mundo, por exemplo), automobilística, medicina (microcâmeras de alta precisão que auxiliam médicos durante consultas e cirurgias), construção elétrica e eletrônica, instrumentos musicais (processadores de ondas sonoras que procuram adequar o instrumentista ao estilo musical e ao instrumento utilizado na busca pela sonoridade perfeita). Se a corrida para a miniaturização promete uma nova revolução, a reciclagem desses novos materiais é hoje insuficiente em razão de seu custo e pelo número e complexidade dos compostos. Ela abre, assim, um enorme mercado: laboratórios e escritórios recrutam engenheiros-pesquisadores graduados de grandes instituições de ensino e pesquisa dedicadas principalmente aos materiais ou titulares de um doutorado em ciência física, física dos sólidos ou ciência dos materiais. A França, os Estados Unidos, do Japão e da Alemanha figuram no topo do grupo de exploração dos nanossistemas e investem nas pesquisas, procurando atrair estudantes de alto nível. O campo da biomimética também se mostra interessante à engenharia na mais diversas áreas, como hidro e aerodinâmica, acústica, radares e química. O Brasil ainda está muito debilitado no estudo desta área, pois faltam investimentos nas universidades que lecionam as disciplinas e cursos voltados à área de Materiais, não somente na estrutura física de laboratórios, mas também na qualidade de formação dos professores e pesquisadores responsáveis por transmitirem e incentivarem as pesquisas. Isso gera um atraso tecnológico ao nosso país e obriga as empresas que necessitam de especialistas e tecnólogos para desenvolver seus produtos a importarem e pagarem altos valores ao acesso dos avanços tecnológicos e estudos no setor da nanotecnologia. 2. Materiais Tradicionais × Materiais Avançados As transições da pedra para o bronze, e do bronze para o ferro foram revolucionárias pelo seu impacto, mas foram relativamente lentas em termos de escala de tempo. As mudanças na inovação e na aplicação dos materiais ocorridas nos últimos 500 anos ocorreram em intervalos de tempo que foram revolucionárias ao invés de evolucionárias. Outro ponto a ser destacado é que velho ou novo nem sempre tem relação direta com tradicional ou avançado. Por exemplo, um aço maraging, contendo um total de cerca de 30% em vários elementos de liga e que após sofisticados tratamentos termomecânicos, apresenta um limite de escoamento acima de 3GPa, é um material muito avançado, embora as ligas de ferro tenham mais de 5 milênios de história. Por outro lado, a simples combinação de dois ou três compostos exóticos raramente leva a um material avançado. Aliás, o material é classificado como avançado ou não através do grau de conhecimento científico utilizado, lembrando também que esse nível de conhecimento empregado influi diretamente no preço do material fabricado. Quanto às classificações a respeito do nível científico empregado no processo produtivo dos materiais podemos citar quatro: • • • • Materiais naturais; Materiais desenvolvidos empiricamente; Materiais desenvolvidos com auxílio qualitativo; Materiais projetados. Perceba que nos matérias há pouco conhecimento científico empregado, uma vez que os materiais são diretamente extraídos da natureza e em seguida comercializados. Em contrapartida os materiais projetados são quase que exclusivamente fabricados a partir de conhecimentos científicas, e cujas propriedades podem ser quantitativamente previstos. 3. Preço dos Materiais e dos Produtos Acabados Como foi dito no tópico acima, o nível de conhecimento empregado no processo produtivo influi diretamente no seu preço, ou seja, deve haver bastante análise no momento de se escolher os materiais necessários para um determinado produto, para que tanto sua qualidade e preço estejam adequados e ao alcance do consumidor. Abaixo segue uma tabela mostrando a relação preço-quilo de alguns produtos acabados: PRODUTO CUSTO Casas 1 Navios 5 Automóveis 10 Bicicletas 15-25 Eletrodomésticos 40-100 Calçados esportivos 15-60 Aeronave civil 1000 Satélites 15000 Podemos, a partir dessa tabela, inferir duas conclusões dicotômicas no que se diz respeito à preocupação com custos. Por exemplo, o setor de construção civil deve ter uma demasiada atenção aos custos, uma vez que a escolha de materiais mais caros pode aumentar o preço das casas e conseqüentemente deixa a empresa numa desvantagem competitiva. Já na construção de satélites a preocupação com custos está em segundo plano, pois o que se deseja acima de tudo é qualidade. A tabela seguinte mostra o preço por tonelada de alguns matérias usados tanto na construção civil como nos satélites: MATERIAL Diamante industrial de alta qualidade Platina Ouro Titânio Alumínio Aço inoxidável Vidro Borracha sintética Borracha natural Polietileno PVC Fibra de vidro Fibra de carbono Vigas de concreto reforçado Cimento PREÇO (US$/t) 500.000.000 16.500.000 14.500.000 8.300 2.400 2.700 750 1.400 870 1.100 1.000 1.500 45.000 330 70 4. Energia e Materiais O Brasil é hoje um dos maiores recicladores de alumínio do mundo, através da coleta e tratamento das latinhas usadas pelas empresas de bebidas. Isso ocorre porque o país percebeu que a demanda, a produção e o preço dos materiais estão estritamente relacionados com o consumo de energia, que chega a ser de 15 a 25% de toda energia primária utilizada nas economias industrializadas. Quase todos os metais ocorrem na natureza combinados com outros elementos químicos, e a sua extração e purificação, assim como todo o seu processamento, exige grandes quantidades de energia. A produção de metais consome aproximadamente 10% da produção total de energia, com destaque para ferro, alumínio, cobre, titânio e zinco que consomem em seus respectivos processos produtivos mais de 80% da energia total relatada anteriormente. Uma grande parcela dos custos de produção dos metais no seu estado primário está relacionada diretamente aos gastos com energia. A reciclagem é uma importante e barata ferramenta no processamento dos metais, principalmente. Uma vez que o material já está processado, o gasto com sua reciclagem chega a ser apenas 15% do valor energético consumido quando o mesmo ainda se encontra em suas fontes primárias. Além da economia energética, a redução na extração de novas matérias-primas na produção de metais primários diminui consideravelmente os impactos ambientais causados por rejeitos de lavras e processamento de minerais metálicos. Abaixo seguem duas tabelas, sendo a primeira relacionando o material ao seu consumo de energia e a segunda é sobre a redução do consumo energético na reciclagem de alguns metais: Material Aço bruto Ferro fundido Alumínio Bronze Cobre Chumbo Cimento Concreto reforçado Cerâmica tradicional Vidro plano Fibra de vidro Polipropileno Poliestireno Polietileno Policloreto de vinila Papel Energia consumida (GJ/t) 9,8-47 58-360 83-330 97 72-118 28-54 4,5-8,1 8,3-14,4 3,4-6,0 14-20 43-64 108-113 96-140 80-120 67-92 59 Material Alumínio Aço e ferro Cobre Borracha Chumbo Papel Zinco Economia de energia (% comparada ao consumo no processamento primário) 92 65 85 71 65 64 60 Por conclusão, é também importante salientar o desperdício de energia em todo o mundo, pois a substituição de materiais que consomem grandes quantidades de energia em sua produção por outros de maior facilidade de obtenção e de baixo consumo energético no seu processamento é uma solução prática e eficaz no curto prazo de tempo. Ex.: Substituir o ferro e o aço por alumínio e polímeros na indústria automotiva reduz os valores agregados aos veículos em função dos materiais utilizados em sua fabricação e também o consumo de combustíveis fósseis pelos motores. 5. Referências bibliográficas http://www.abmaco.org.br/compositos.cfm - acesso em 02/11/2006 http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=010160050119 – acesso em 02/11/2006 http://www.gorni.eng.br/ - acesso em 05-06/11/2006 http://www.metalmat.ufrj.br – acesso em 05-06/11/2006 http://pt.wikipedia.org/ - acesso em 05-06/11/2006 Halliday, D.; Resnick, R.; Walker, J. Fundamentos de Física - volume 3, eletromagnetismo. Rio de Janeiro: LTC, 2003. Padilha, A. F. Materiais de engenharia – microestrutura, propriedades. São Paulo: Hemus, 1997. Sid Meier´s Civilization III – Copyright © 1997, 1998 by Firaxis Games, Inc. Watchtower bible and tract society of New York, inc. Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas. Cesário Lange, SP: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1992.