16, 17 e 18 de Julho de 2015 Instituto de Ciências Sociais (ICS-UL) Inês Calor1 Inês Fontes,2 Patrícia Abrantes3 Monitorização de planos. Análise das transformações do uso do solo e zonamento dos planos através de imagens aéreas de municípios da Lezíria do Tejo Resumo A monitorização de planos assente exclusivamente na identificação dos processos de obras submetidos nos municípios é insuficiente, na medida em que desconsidera as operações urbanísticas ilegais promovidas à revelia do controlo municipal. Ainda que não substitua os tradicionais métodos “no terreno” da Fiscalização Municipal, a análise, interpretação e identificação de alterações entre imagens aéreas em ambiente de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) constitui uma das mais objetivas formas de monitorização das transformações do solo e poderá vir a auxiliar (de uma forma mais efetiva) o controlo urbanístico. 1 Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais. Universidade Nova de Lisboa 2 Centro de Estudos Geográficos, Instituto de Geografia e Ordenamento do Território. Universidade de Lisboa, 3 Centro de Estudos Geográficos, Instituto de Geografia e Ordenamento do Território. Universidade de Lisboa, No âmbito da atividade da Fiscalização Municipal, esta técnica tem especial relevância por permitir a identificação de transgressões urbanísticas no espaço rural, onde a vigilância (e denúncias) de vizinhos é mais reduzida, a visibilidade para o interior de propriedades privadas pode não ser facilitada e as transformações do coberto vegetal são mais claras. Apesar das mais-valias, não se conhecem casos de municípios portugueses onde a comparação sistemática de imagens aéreas seja utilizada com este propósito. O elevado preço das fotografias aéreas, o reduzido número de técnicos qualificados em SIG e a leniente predisposição dos municípios em atuar sobre as infrações urbanísticas (Silva, 2012) são fatores que condicionam a sua utilização na atualidade. As capacidades dos SIG são, sem dúvida, mais exploradas no campo académico e foram também utilizados pela administração central (à data, Instituto Geográfico Português) no projeto “Sistema de Apoio à Reposição da Legalidade” para, entre outros objetivos, identificar construções em classes de espaço sem vocação para a edificabilidade na zona litoral, onde se destacam situações de presumível ilegalidade (Barbeiro, 2011). Explorando as potencialidades das ferramentas de deteção remota, este artigo irá analisar a informação obtida pela comparação de cartas de uso do solo obtidas a partir de ortofotomapas a grande escala em quatro municípios da sub-região da Lezíria do Tejo: Almeirim, Benavente, Santarém e Torres Vedras, e em dois momentos temporais, 1990 e 2007. Os casos de estudo foram escolhidos pela sua dinâmica territorial: carácter periurbano em relação à cidade de Lisboa, combinado com uma grande extensão rural envolvente dos vários núcleos urbanos onde, na maioria dos municípios, a atividade agrícola conhece uma tendência de declínio devido à transformação urbanística do solo (Abrantes et al., 2013). Será apresentada uma análise quantitativa das edificações e áreas do solo recémconvertidas, com base na comparação entre Cartas de Ocupação do Solo, de 1990 e 2007. A interseção entre as áreas construídas e o zonamento (ordenamento, condicionantes e restrições de utilidade pública) de cada um dos Planos Diretores Municipais fornece suporte para a reflexão sobre a eficácia dos instrumentos de planeamento. Ainda reconhecendo as limitações desta metodologia (como o facto da data da carta inicial não ser coincidente no tempo com a aprovação dos PDMs, a relativa precisão na interpretação das imagens e a falta de consideração das exceções previstas na regulamentação) considera-se que os resultados são indicativos das dinâmicas das transformações do uso do solo e da eficácia do controlo urbanístico nas últimas duas décadas. Os resultados indicam que as áreas inseridas em Reserva Agrícola Nacional e Reserva Ecológica Nacional decresceram no período considerado, devido a transformações do uso do solo em zonas onde as diretrizes e regras específicas são desenhadas para garantir a sua preservação. A metodologia adotada ao nível dos SIG poderá ter replicação prática nas entidades de diferentes níveis da administração. Os resultados obtidos servem ainda como suporte à reflexão prospetiva das ligações entre o controlo urbanístico e a própria razão de ser do planeamento, estabelecendo relações que irão contribuir para um processo de planeamento mais assertivo. Referências: Abrantes, P., Marques da Costa, E., Queirós, M., Padeiro, M., Mousselin, G. (2013), “Lezíria do Tejo: agriculture et étalement urbain aux marges métropolitaines de Lisbonne”. Cah Agric 22, pp. 526-34. doi : 10.1684/agr.2013.0669 Barbeiro, A. (2011), Sistema de Informação de Apoio à Reposição da Legalidade. Relatório de Estágio, Lisboa, Universidade Nova de Lisboa. Silva, M. R. (2012), A (i)legalidade Urbanística (Do Controlo Municipal ao Judicial). In Oliveira, F. P. (ed.), O Direito do Urbanismo e do Ordenamento do Território, Estudos, Almedina.