Editorial
Fechar as contas é por si
uma das mais importantes
operações políticas
por Giulio Andreotti
Como em outras vezes no passado – e penso
Não podemos colocar em dúvida
que a União Europeia esteja atra- por exemplo, nos anos anteriores à entrada na
vessando um momento difícil. moeda única – o equívoco de fundo é a difusa
Mas justamente por isso creio que agora seja a convicção de que a exigência de uma forte dimihora certa para deter-se em uma reflexão: par- nuição da dívida pública dependa apenas das solitindo da constatação de que, apesar das dificul- citações e das obrigações impostas pela União
dades, o caminho tomado foi e continua sendo Europeia, como se fosse possível escapar a um
o caminho certo. Ninguém pensava que o per- saneamento fisiologicamente indispensável.
Além disso, o fato de combinar um aumento
curso rumo à União fosse um caminho disseminado de flores e de fáceis metas. Em 54 anos te- tributário às exigências de estabilidade europeia
ve-se um desenvolvimento superior às previsões mais otimistas,
apesar das não raras parênteses do
chamado europessimismo e da
ação dos aglomerados autárquicos
muito poderosos no sistema de cada um dos países.
A cúpula de Bruxelas de 9 de
dezembro de 2011 concluiu-se
com um acordo que deve ser completado em março com um tratado intergovernamental sobre a
União orçamentária ao qual somente a Grã-Bretanha não deu
adesão. Esse compromisso foi comentado por muitos como uma
coerção às finanças de cada país,
como a abertura de um período
de ainda mais sacrifícios e impostos que poderiam agravar a atual Manifestantes com suas barracas diante da sede do Banco Central Europeu
crise econômica.
em Frankfurt em outubro de 2011
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30DIAS Nº 11 - 2011
A chanceler alemã Angela Merkel, o presidente francês
Nicolas Sarkozy e o primeiro-ministro italiano Mario Monti
no final do encontro a três em Estrasburgo, 24 de novembro de 2011
O equívoco de fundo é a difusa
convicção de que a exigência
de uma forte diminuição
da dívida pública dependa
apenas das solicitações
e das obrigações impostas
pela União Europeia,
como se fosse possível escapar
a um saneamento
fisiologicamente indispensável
certamente não causa simpatias para com a
União, originando hipóteses de saídas inovadoras e extravagantes. Porque a Europa é um fato
unitário mas composto por muitos fatores. Se um
dos fatores é separado dos outros não há muito o
que fazer, senão partir para a liquidação.
Ao contrário, se refletirmos compreenderemos que o saneamento da dívida pública de um
país deve ser sempre um objetivo, mas saindo da
Europa, tanto a Itália, como também os outros
países, não teriam nenhuma compensação em
termos de desenvolvimento e bem-estar.
Por exemplo é irrealista propor uma alternativa entre progresso da União e luta ao desemprego. Não sei se a União possa realizar o seu propó-
sito de aumentar as vagas de trabalho, mas o que
é certo é que os Estados por si teriam muito menos possibilidades.
O mesmo vale para o euro; temos muitos problemas com a moeda única, mas saindo do euro
teríamos um a mais: a nossa própria existência.
É verdade que o conceito de simultaneidade do
desenvolvimento monetário e do desenvolvimento institucional diminuiu e que isso pode levar a
consequências graves, mas contrapor, como foi
feito, a Europa dos contabilistas e dos banqueiros
à Europa da política é um engano, porque fechar
as contas é por si uma das mais importantes operações políticas. Recordo que um dos artífices do
acordo de Maastricht foi o “banqueiro” Guido
Carli. E também na época houve quem colocasse
em dúvida que a Itália tivesse a possibilidade de alcançar os parâmetros solicitados.
Talvez tenha ocorrido um excesso de velocidade, seja na passagem de Comunidade a União,
seja no alargamento para 25 e depois para 27
membros. E também a estipulação do Tratado
Constitucional, ocorrida, também em Roma, em
29 de outubro de 2004, não foi completamente
natural, mas não podemos deixar passar este momento sem reforçar convencimentos supranacionais. Lamentar-se por temidos acordos especiais
entre Paris e Berlim também é uma estrada errada e danosa, porque não devemos criar manias
de perseguição anti-italiana e porque os governos
passam, mas a grande política exterior permanece. Os eixos preferenciais entre países nunca deram bons frutos e tanto a França como a Alemanha certamente não teriam vantagem com a Itália
rebaixada. Também a Comunidade do Carvão e
do Aço nasceu como solidariedade entre a Alemanha e a França, dois Estados historicamente
inimigos, e foi uma solidariedade participada junto com a Itália e com os três países do Benelux
com suas características de conexão norte-europeia. Como italianos, temos o orgulho de estar
entre os seis povos da corajosa Missão de ¬
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Editorial
Contrapor a Europa dos
contabilistas e dos banqueiros
à Europa da política é um
engano, porque fechar as
contas é por si uma das mais
importantes operações políticas.
Recordo que um dos artífices
do acordo de Maastricht
foi o “banqueiro” Guido Carli
Guido Carli, à direita, com Mario Draghi
em uma foto da década de 1980
1957. Talvez isso nos dê algum direito, mas certamente muitos deveres.
Concluindo, creio que uma pausa de reflexão
seja necessária, sem deflagar bandeiras ou exasperar aspectos críticos. Nós, mais idosos, que tivemos a possibilidade de participar ao entusiasmo
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do início, enfrentando contrariedades e ceticismos muito difusos, devemos exortar a continuar a
crer na positividade de uma Europa unida. Mesmo em um período de dificuldade como este. Depois do Calvário vem a ressurreição, mesmo que
não seja um fato automático.
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Este número foi concluído na redação
dia 30 de novembro de 2011. O editorial foi concluído
na tipografia em 10 de dezembro de 2011
Impressão concluída no mês de janeiro de 2012
CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS
Lambeth Palace Library: Capa; pp.21,23; Associated Press/LaPresse: pp.4,5,44,48,49,50,52; Ansa: p.6; Mario De Renzis: pp.8-9; Archivio ETS Milano: pp.11,12-13,18-19; Reuters/Contrasto:
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Romano Siciliani: pp.46,53; por gentil concessão da sala de imprensa Opus Dei: p.51; Foto Scala, Firenze: pp.54,64; Giovanna Massobrio: p.54; por gentil concessão do Professor Paolo Portoghesi:
pp.55,56,57,58,59; Paolo Galosi: p.63; Veneranda Fabbrica di San Pietro: p.65; Museus Vaticanos: p.65.
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