A tuberculose é, certamente, uma das mais antigas doenças que afligem a humanidade. A Organização Mundial de Saúde - OMS estima que ocorram no mundo oito a nove milhões de casos novos por ano e três milhões de óbitos pela doença. Acreditava-se que com os novos adventos tecnológicos, as doenças infecto-contagiosas seriam facilmente controladas e banidas do nosso meio, o que, na realidade, não ocorreu. O ressurgimento da tuberculose, associado à epidemia da AIDS e ao fantasma da multirresistência, tornou-se um grande desafio a ser vencido. No cenário brasileiro, a tuberculose permanece como uma das principais causas de morbimortalidade. Para o país, a estimativa da OMS é de 124.000 casos novos por ano. A análise da evolução do número de casos notificados nos últimos cinco anos, revela uma outra faceta do problema: a subnotificação (Gráfico 1). Neste período, o Brasil vem apresentando percentuais de detecção de casos novos inferiores a 70% (Gráfico 2). Visando um salto de qualidade na atenção ao problema, o Ministério da Saúde está lançando o Plano Estratégico para a Implementação do Controle da Tuberculose no Brasil no Período de 2000/2005, destinado a possibilitar aos profissionais de saúde com atuação na área da Atenção Básica, a elaboração de novos instrumentos de trabalho, capazes de atingir o controle da doença a nível local, e mais que isso, estabelecer mecanismos permanentes de vigilância e avaliação do processo de trabalho. A humanização das práticas de saúde junto à família e seu espaço social passa a ser o referencial desta nova estratégia de enfrentamento, o que certamente será fator de sucesso para os objetivos a serem alcançados. Neste processo um grande aliado é o Projeto VIGISUS de estruturação do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde. Elaborado como uma estratégia para a criação de infra-estrutura nas três esferas de governo, é o responsável pelo desenvolvimento de ações de monitoramento, avaliação e controle de variáveis relacionadas ao ambiente, às populações humanas e aos produtos e serviços de interesse para a saúde, através de suas áreas programáticas e pela efetiva discussão de programas com detalhamento de projetos, especialmente na região norte do país (Amazônia Legal), proporcionando a cobertura de um terço dos municípios prioritários, com aproximadamente 10% da população brasileira. No Plano Estratégico, optou-se por um modelo de assistência voltado a uma prática de saúde participativa, coletiva e ao mesmo tempo integral, permanentemente vinculada à realidade da comunidade, assistida por uma equipe multiprofissional, cujos objetivos de trabalho transcendem e ultrapassam as fronteiras das Unidades de Saúde e do fazer convencional. As Equipes de Saúde da Família representam, hoje, uma forma de acesso universal e democrático à saúde dos cidadãos. Sua implantação depende da decisão política do gestor municipal. A perspectiva para os próximos anos é de expansão da estratégia de Saúde da Família em todo o território nacional, inclusive nos grandes centros. Entre as atribuições das Equipes de Saúde da Família, encontram-se a identificação dos sintomáticos respiratórios, o diagnóstico e tratamento de casos suspeitos (com especial atenção àqueles com maior risco de abandono), e o desenvolvimento de ações de proteção aos sadios, como a vacinação de rotina e quimioprofilaxia, quando indicada. Para o desenvolvimento deste elenco de ações, com eficácia e eficiência comprovada no controle da doença, já se dispõe de conhecimento e tecnologia, devendo ser implementadas de forma a cobrir 70% da população brasileira até 2005. Adicionalmente, deve-se considerar que a tuberculose é uma doença velha que precisa urgentemente de um novo olhar. Um olhar capaz de enfrentar tabus e preconceitos, trazer novas alternativas de controle e, acima de tudo, ser capaz de resgatar profissionais e pacientes que estão investidos de uma cultura estigmatizante e perpetuadora de mazelas incalculáveis para a nossa saúde. Diante da atual situação, torna-se necessário definir estratégias de capacitação dos profissionais que estarão na vanguarda deste processo inovador e audacioso, com a premissa de levar a saúde para todos e, mais ainda, transformar o imaginário social da doença. Apresenta-se, a seguir, sinopse do Plano Estratégico para Implementação do Controle da Tuberculose e alguns indicadores de monitoramento deste problema no país. SITUAÇÃO ATUAL DA TB NO BRASIL N.º de casos estimados em 1999 (OMS) ⇒ 124.000 N.º de casos notificados em 1999 ⇒ 78.628 Coeficiente de incidência (1999) ⇒ 48,0/100.000 hab. N.º de óbitos (1998) ⇒ 5.879 Coeficiente de mortalidade (1998) ⇒ 3,5/100.000 hab. Percentual de detecção de casos ⇒ 67% Percentual de curas observado ⇒ 72% Percentual de abandono ⇒ 12,0% Plano Estratégico para a Implementação do Controle da Tuberculose OBJETIVOS Período 2001-2002 Estabelecer ações de controle da tuberculose em 329 municípios prioritários, que representam 49,65% da população brasileira e onde se concentram 80% dos casos de tuberculose, com os seguintes objetivos: aumentar a taxa de detecção em 20%; elevar taxa de cura em 13%; reduzir a taxa de abandono em 7%; diminuir a taxa de mortalidade em 10%. Período de 2003-2005 Aumentar cobertura das ações de controle da tuberculose para 70% da população brasileira, coberta pelas equipes de Saúde da Família (PSF) e por Agentes Comunitários de Saúde(ACS) com os seguintes objetivos: aumentar a taxa de detecção para 90%; elevar a taxa de cura para 85%; manter taxa de abandono em 5%. Tabela 1 - Proporção de portadores de tuberculose acompanhados nas áreas cobertas pelo PACS/PSF, por estado e grandes regiões. Brasil 1999. PACS Estados Rondônia Acre Amazonas Roraima Pará Amapá Tocantins Região Norte Maranhão Piauí Ceará Rio Grande do Norte Paraíba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Região Nordeste Minas Gerais Espirito Santo Rio de Janeiro São Paulo Região Sudeste Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Região Sul Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiás Distrito Federal Região Centro-Oeste BRASIL Portadores de tuberculose acompanhados (%) 100,0 94,3 96,0 66,7 91,2 100,0 100,0 92,2 94,6 88,2 90,3 86,4 89,1 87,8 92,8 92,3 85,7 89,3 96,0 85,7 74,7 86,0 83,5 85,6 76,9 82,3 84,9 95,0 75,6 89,0 88,5 PSF Portadores de tuberculose acompanhados (%) 83,3 90,0 85,7 87,6 92,3 100,0 90,9 82,5 90,1 90,7 95,7 85,7 90,5 87,8 88,2 73,2 92,3 86,5 91,5 80,0 77,6 83,2 87,5 100,0 93,3 89,0 Fonte: SIAB Informe da Atenção Básica É uma publicação da Coordenação de Investigação do Departamento de Atenção Básica da Secretaria de Politicas de Saúde do Ministério da Saúde METAS Implementar ações de controle da doença em 100% dos municípios prioritários; implantar atividades de controle da tuberculose em 80% dos serviços de saúde existentes na rede destes municípios; elevar em pelo menos 20% ao ano o número de sintomáticos respiratórios examinados; implantar o tratamento supervisionado em 100% das unidades básicas de saúde destes municípios; elevar o diagnostico dos casos esperados de 67 para 87%; elevar a cura dos casos diagnosticados de 72 para 85%; reduzir o abandono de tratamento de 12,2 para 5%. PRINCIPAIS AÇÕES Mobilização política para a importância da implantação do plano de atuação, com assinatura de carta-compromisso pelos estados; capacitar as equipes da atenção básica, - 2.841 equipes de Saúde da Família e 39.053 Agentes Comunitários de Saúde - , incluindo equipes de Saúde da Família já existentes para detecção precoce, diagnóstico, tratamento e prevenção da tuberculose; disponibilizar dados referentes aos agravos de tuberculose, utilizando o Sistema de Informação de Agravos Notificáveis - SINAN, o Sistema de Informação da Atenção Básica -SIAB e/ou outras fontes de informações existentes em todos os municípios prioritários; garantia de insumos para diagnóstico e tratamento da tuberculose na rede básica; implantar / implementar o bônus para todos os municípios que tenham unidades básicas de saúde, e que desenvolvam ações ligadas ao controle da tuberculose; Implantação imediata de 6.120 ACS em 24 municípios e 2.640 ESF em 81 municípios prioritários; ampliação de 25.527 Agentes Comunitários em 150 municípios e 5.183 equipes de Saúde da Família em 45 municípios, considerando o prazo de 2 anos para expansão da cobertura do PSF e 1 ano para o PACS; disponibilização, pelo Ministério da Saúde, de assessoria técnica aos estados e municípios para acompanhamento e avaliação do plano; identificação de áreas prioritárias em municípios com mais de um milhão de habitantes. Coordenação (061) 315-2185 e 226-2693 Fax: (061) 226-4340 E-mail [email protected]