XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 CRIAÇÃO DE MODELOS ECONOMÉTRICOS PARA MEDIÇÃO DO DESEMPENHO DE UMA EMPRESA DE PEQUENO PORTE Mário Leite - Mestre em Engenharia de Produção Centro de Ensino Superior de Foz do Iguaçu [email protected] Robert Wayne Samohyl, PhD Universidade Federal de Santa Catarina Departamento de Engenharia de Produção Abstract This article is based on work developed in a small clothing factory in the city of Maringa in the northwest part of the state of Parana with the objective of creating indicators for measuring the performance of the production line between January of 1998 and April of 2001. The primary emphasis is on estimation of linear equations that represent the behavior of the firm along the periods considered, as well as to make predictions of future behavior. To this end, indicators were created to measure this performance from primary data, collected in the firm. The indicators are based on seven measurement criteria: efficiency, effectiveness, productivity, quality, innovation, profitability, and quality of life. Results are discussed. Keywords: econometrics, indicators, model 1 - Introdução A região de Maringá - no noroeste do Paraná - é uma região muito promissora para implantação de micros, pequenas e médias empresas, como as do ramo de confecção. Entretanto, com a implantação do Mercosul a concorrência com produtos de outros países sul americanos se acirrou nos últimos anos, obrigando essas empresas a se modernizarem rapidamente. E sendo a Informática o sinônimo mais empregado para significar modernização, as empresas estão cada vez mais utilizando esse recurso para agregar valor aos seus produtos, agilizando os processos in line, off line e on line. Entretanto, a automatização via computador deve ser bem planejada de modo que o valor percebido pelo empresário possa ser quantificado, uma vez que a automatização pura e simples de processos numa empresa não garante agregação de valor ao produto se não for bem implantada e com indicadores que possam quantificar seu desempenho ao longo de um período produtivo, como feedback para seus gestores. GIAMATTEY [1998, p.1] diz que: "Dentro da informática, existem diversas possibilidades para se estruturar um sistema de tratamento de dados, que abrangem inúmeras opções de hardware/software. As necessidades de cada empresa é que determina o espectro dessa estrutura". ENEGEP 2002 ABEPRO 1 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 Na maioria das vezes as organizações, particularmente as micros e pequenas, tomam a decisão de informatizar determinado setor sem qualquer preocupação com a medição do desempenho a não ser a pura e simples decisão de “modernizar-se” através da informatização. As empresas desses portes foram as que mais sofreram com o fenômeno da globalização nos últimos anos; e um bom gerenciamento dos processos baseado num sistema de controle que permita um acompanhamento de seu desempenho ao longo do tempo, alimentado de forma precisa e confiável por um sistema de informações é fundamental. Uma TI baseada em modelos econométricos pode ser uma ferramenta muito útil para a medição de seu desempenho, além de possuir o poder de fazer previsões em cima de estatísticas de razoável confiabilidade, fornecendo informações preciosas para execução e acompanhamento do seu planejamento estratégico, além de servir como parâmetro nas tomadas de decisão 2 - Metodologia Para a criação dos indicadores de desempenho, baseada em sete critérios (Eficácia, Eficiência, Produtividade, Qualidade, Inovação, Lucratividade e Qualidade de Vida de Trabalho) propostos por SINK & TUTTLE [1993], foram coletadas amostras mensais na empresa, dos seguintes dados primários: produção, horas totais trabalhadas, horas extras, admissões, demissões, total de empregados, total de faltas, dias trabalhados, receita bruta, folha de pagamento, gastos com matéria prima e gastos com energia elétrica. A partir desses dados primários foram criados indicadores e taxas que pudessem medir (mensalmente) o desempenho da empresa, considerando (sempre) uma estreita relação com os sete critérios de medição de performance mencionados anteriormente. Entretanto, embora os indicadores pudessem trazer informações valiosas para a tomada de decisões, verificou-se a importância da aplicação de uma ferramenta estatística para se obter mais informações a respeito do comportamento dos dados temporais coletados na empresa, em função de modelos econométricos mais consistentes. Isto se fez necessário porque o uso (simples) de planilhas eletrônicas, para estudar estatisticamente o comportamento da produção, pode trazer um inconvenientes muito graves: as colinearidades que possam existir entre as variáveis e o ajuste do R2 cujas correlações podem não retratar a realidade; e para séries temporais, o problema é ainda mais grave. Por isso, em função dos indicadores (definidos adequadamente em função dos critérios citados, e que podem ser vistos na tabela 1), foi aplicada a ferramenta TSP 4.4 para análise estatística desses indicadores, para em seguida gerar os modelos econométricos que explicassem o comportamento da empresa ao longo do período considerado. Foram empregados como input da ferramenta, dados primários e indicadores, os quais formaram os arquivos de dados empregados nas estimações, vistos nas tabelas 2, 3 e 4. 3 - Estimação dos modelos econométricos Para as estimações de modelos que representassem o desempenho médio da empresa nos quarenta meses considerados na pesquisa, foram escolhidos três elementos econométricos: Taxa de Produção Diária (TXPRD), Receita Total Bruta (REC) e Lucro Por Peça (LUCPP), representando o desempenhos operacional e financeiro da empresa. Essas estimações foram feitas no software TSP 4.4, de modo que os inputs foram arquivos ENEGEP 2002 ABEPRO 2 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 no formato .xls (MS-Excel) com a primeira coluna representando a variável dependente e as outras as respectivas variáveis explicativas. As tabelas 2, 3 e 4 mostram esses arquivos que representam esse inputs que geraram os modelos da Taxa de Produção Diária, Receita Total Bruta e Lucro por Peça, respectivamente:ArqPro.xls, ArqRec.xls e ArqLuc.xls Indicador Descrição TXPRD Taxa de Produção Diária TPMOD TPMOT IHEXT TLMOD TLMOT Taxa de Produção com Mão-de-Obra Direta Taxa de Produção com Mão-de-Obra Total Índice de Horas Extras Taxa de Lucro com Mão-deObra Direta Taxa de Lucro com Mão-deObra Total Área-chave Processos Processos Processos Processos Processos Processos RECPP Receita por Peça Processos LUCPP Lucro por Peça Processos IABSP IROTP IREMP Índice de Absenteísmo do Pessoal Índice de Rotatividade do Pessoal Índice de Remuneração do Pessoal Recursos Humanos Recursos Humanos Recursos Humanos Tipo-chave Desempenho Operacional e Financeiro Desempenho Operacional e Financeiro Desempenho Operacional e Financeiro Desempenho Operacional e Financeiro Desempenho Operacional e Financeiro Desempenho Operacional e Financeiro Desempenho Operacional e Financeiro Desempenho Operacional e Financeiro Desempenho de Recursos Humanos Desempenho de Recursos Humanos Desempenho de Recursos Humanos Critério Definição Unidade Produtividade (Produção Mensal /Dias Trabalhados) Peças/Dia Produtividade (Produção Mensal /Empregados Diretos) Peças/Emp. Produtividade Produção Mensal /Total Empregados Peças/Emp. Eficiência (Horas Extras / Horas Totais) % Lucratividade Lucratividade Lucratividade Lucratividade Qualidade de Vida de Trabalho Qualidade de Vida de Trabalho Qualidade de Vida de Trabalho (Receita-Folha-MP – Energia Elétrica) /Empr. Diretos (Receita-Folha-MP – Energia Elétrica) /Total de Empreg. Receita/Produção (Receita-Folha-MP – Energia Elétrica) /Produção) (Faltas)/(Dias Trab * Total Empr.) (AdmissõesDemissões)/Total Empr. Folha Pagamento / Faturamento R$/Emp. R$/Emp. R$/Peça R$/Peça % % % Tabela 1 - Descrição funcional e operacional dos indicadores de desempenho ENEGEP 2002 ABEPRO 3 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 TXPRD 686,38 404,30 636,92 484,13 610,71 457,42 588,04 547,70 442,22 444,21 378,87 359,87 279,49 473,05 527,04 450,74 498,36 611,13 449,28 474,21 374,65 598,80 726,04 407,33 488,39 491,26 568,74 1.162,70 774,00 700,83 557,87 703,60 704,98 579,88 656,39 406,80 694,25 998,86 1.024,92 997,88 HT 11.120,20 9.295,00 10.545,60 9.717,50 10.456,88 11.762,40 11.559,60 10.921,63 10.494,90 10.325,90 9.911,85 9.717,50 9.333,03 7.605,00 9.928,75 9.328,80 9.852,70 11.559,60 10.921,63 11.154,00 10.106,20 9.696,38 10.300,55 10.748,40 10.300,55 10.300,55 10.494,90 9.992,13 11.077,95 11.559,60 11.217,38 12.252,50 10.837,13 11.559,60 10.494,90 10.266,75 10.748,40 10.038,60 12.083,50 11.762,40 HX 902,16 103,60 457,52 1.093,68 1.230,88 1.005,20 198,24 81,20 129,92 68,32 26,88 7,28 29,12 59,92 117,04 542,64 1.181,04 656,32 78,96 65,52 76,72 752,08 852,88 1.238,16 246,40 439,60 497,28 1.654,80 1.202,32 1.064,56 985,60 915,04 150,08 162,40 333,20 101,92 67,73 343,43 634,37 962,19 IROTP 902,16 103,60 457,52 1.093,68 1.230,88 1.005,20 198,24 81,20 129,92 68,32 26,88 7,28 29,12 59,92 117,04 542,64 1.181,04 656,32 78,96 65,52 76,72 752,08 852,88 1.238,16 246,40 439,60 497,28 1.654,80 1.202,32 1.064,56 985,60 915,04 150,08 162,40 333,20 101,92 67,73 343,43 634,37 962,19 Tabela 2: ArqPro.xls ArqLuc.xls RE 169.939,55 77.790,00 135.352,95 135.036,03 178.160,77 148.444,11 199.512,98 135.306,74 118.851,02 115.768,26 98.898,97 87.348,55 70.731,47 110.455,92 142.199,02 118.559,29 125.135,92 181.345,11 143.493,87 147.077,52 125.900,33 187.395,38 208.585,54 178.581,97 113.850,18 193.375,11 216.982,50 263.869,51 285.892,91 278.644,49 253.243,53 313.020,20 145.276,99 170.366,02 125.981,17 143.040,72 205.168,25 276.458,84 349.688,45 340.896,15 HT 11.120,20 9.295,00 10.545,60 9.717,50 10.456,88 11.762,40 11.559,60 10.921,63 10.494,90 10.325,90 9.911,85 9.717,50 9.333,03 7.605,00 9.928,75 9.328,80 9.852,70 11.559,60 10.921,63 11.154,00 10.106,20 9.696,38 10.300,55 10.748,40 10.300,55 10.300,55 10.494,90 9.992,13 11.077,95 11.559,60 11.217,38 12.252,50 10.837,13 11.559,60 10.494,90 10.266,75 10.748,40 10.038,60 12.083,50 11.762,40 HX 902,16 103,60 457,52 1.093,68 1.230,88 1.005,20 198,24 81,20 129,92 68,32 26,88 7,28 29,12 59,92 117,04 542,64 1.181,04 656,32 78,96 65,52 76,72 752,08 852,88 1.238,16 246,40 439,60 497,28 1.654,80 1.202,32 1.064,56 985,60 915,04 150,08 162,40 333,20 101,92 67,73 343,43 634,37 962,19 PT 16.130,00 8.086,00 15.286,00 11.135,00 13.741,00 10.978,00 14.113,00 12.871,00 10.171,00 10.439,00 8.714,00 8.277,00 6.568,00 9.461,00 13.176,00 10.367,00 10.964,00 14.667,00 10.558,00 11.381,00 8.617,00 13.473,00 16.699,00 9.776,00 11.233,00 11.299,00 13.081,00 24.998,00 17.802,00 16.820,00 12.552,00 17.590,00 15.862,00 13.917,00 15.097,00 9.153,00 16.662,00 21.975,00 26.648,00 23.949,00 Tabela 3: ArqRec.xls LUCPP 4,45 1,37 1,32 0,54 2,68 2,68 6,40 1,41 3,75 2,12 1,59 2,88 -0,89 2,75 2,19 0,68 1,87 1,12 5,78 0,34 4,76 3,95 5,11 2,79 2,61 5,45 5,72 3,77 6,16 6,81 11,02 8,19 2,18 2,44 3,03 -7,40 6,93 7,68 4,29 7,89 RECPP 10, 54 9,62 8,85 12,13 12,97 13,52 14,14 10,51 11,69 11,09 11,35 10,55 10,77 11,67 10,79 11,44 11,41 12,36 13,59 12,92 14,61 13,91 12,49 18,27 10,14 17,11 16,59 10,56 16,06 16,57 20,18 17,80 9,16 12,24 8,34 15,63 12,31 12,58 13,12 14,23 TPMOT 288,04 147,02 293,96 222,70 249,84 189,28 247,60 234,02 188,35 200,75 170,86 165,54 139,74 210,24 280,34 215,98 206,87 257,32 191,96 206,93 165,71 264,18 315,08 184,45 211,94 213,19 242,24 454,51 312,32 295,09 212,75 303,28 278,28 244,16 279,57 169,50 314,38 406,94 484,51 412,91 IREMP 9,04 18,11 11,34 11,72 9,07 10,98 8,67 10,67 12,57 12,05 14,52 15,65 18,7 11,67 9,14 11,79 14,13 9,19 10,69 10,15 12,62 8,74 8,24 10,7 14,25 8,87 8,15 8,34 7,27 7,32 7,97 6,68 14,57 13,84 19,3 15,71 10,94 9,54 7,8 8,97 Tabela 4: A criação dos arquivos de input para as estimações obedeceu a critérios econométricos, baseando nas hipóteses do MCRL, como por exemplo a Hipótese 10, de acordo com GUJARATI [2000, p.58], que diz “não existe multicolinearidade entre as variáveis explicativas”. Portanto foram escolhidas variáveis econométricas que pudessem explicar a variável dependente sem no entanto estarem ”fortemente” relacionadas linearmente umas com as outras, pois caso existisse no modelo alguma variável explicativa que fosse linearmente dependente de outra(s) é como se ele (o modelo) pudesse ser explicado sem aquela variável, e nesse caso é como se introduzisse uma variável explicativa sem haver necessidade, o que violaria a Hipótese 9 do MCRL, de acordo com GUJARATI [2000, p.56], que diz “O modelo de regressão está corretamente especificado”. Assim, foram tomados os cuidados necessários para que não fossem introduzidas variáveis explicativas nos modelos sem haver necessidade dela, de modo a não introduzir algum viés de especificação devido à multicolinearidade entre elas. Para minimizar as autocorrelações entre os resíduos, o método estatístico usado nas estimações com a ferramenta estatística foi AR1 (descrito adiante). E como será visto, esse método tende a minorar bem o problema de possíveis autocorrelações entre os resíduos que por ventura possam estar presentes no modelo econométrico explicado pelo MCRL. Com essas ENEGEP 2002 ABEPRO 4 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 medidas tomadas preventivamente, os arquivos de dados foram formatados adequadamente e iniciou-se a pesquisa através de diversas estimações com a ferramenta estatística, procurando obter modelos econométricos que pudessem traduzir o desempenho médio da empresa nos quarenta meses pesquisados, em função de equações para a produção, receita e lucro. A técnica empregada neste trabalho para a pesquisa dos modelos econométricos, foi o Controle Estatístico de Performance (SPerfC), baseado na aplicação de ferramentas estatísticas, o que sugere um gerenciamento através das flutuações estatísticas sobre os indicadores da performance de uma organização. A aplicação da estatística aos indicadores e dados primários coletados na empresa obedeceu ao Modelo Clássico de Regressão Linear (MCRL) considerando modelos com múltiplas variáveis explicativas baseando-se, antes de tudo, em conceitos básicos de Econometria. Aplicação do MCRL às Séries Temporais O Modelo Clássico de Regressão Linear (MCRL) baseia-se no princípio de que uma variável Y dita dependente, pode ser relacionada com variáveis X’s ditas explicativas ou independentes como mostra a Equação 1, onde os β’s (a serem determinados) representam os coeficientes da equação e o termo u as perturbações (resíduos) associadas aos erros cometidos nas estimativas de Y, e conhecido como erro estocástico. Esse modelo, segundo GUJARATI [2000, p.49], entre muitos outros, está apoiado em dez hipóteses que lhe dão sustentação teórica, com a condição de que os coeficientes β’s medem a variação de Y por variação unitária de um dado Xi, enquanto os outros X’s permanecem constantes. Y = β0 + β1X1 + β2X2 + β3X3 + ... + βnXn + u [Equação 1] Validação dos resultados com parâmetros estatísticos Para séries temporais, a probabilidade de haver autocorrelação entre os resíduos é quase certa, o que impede a aplicação eficiente do método OLSQ (Ordinary Least SQuare – Método dos Mínimos Quadrados). A solução empregada para resolver (ou minimizar) esse problema foi o emprego do método Auto Regressivo de 1ª Ordem, denominado AR1. Esse método baseia-se na hipótese de que um dado resíduo ut num tempo t é linearmente dependente de um outro resíduo ut-1 observado num tempo passado t-1. De acordo com a demonstração de HILL et ali [1997], chega-se à conclusão de que a correlação entre o resíduo num dado período t e um outro num período anterior t-k (k≥1) é dado pela expressão corr(ut,ut-k) = ρk O parâmetro ρ é o coeficiente de autocorrelação com domínio entre os valores –1 e 1 (-1<ρ<1). A correlação entre os resíduos será máxima para k=1; então, para períodos maiores a tendência é de que as correlações entre os resíduos diminua. O método baseia-se neste princípio para minimizar essas autocorrelações, e por isso sua aplicação é bastante razoável para séries temporais (caso da pesquisa) pois minimiza os efeitos dessas autocorrelações. E para verificar se existia autocorrelação entre os erros residuais foi observada a estatística de Durbin-Watson, traduzido pelo parâmetro d, cujo valor foi dado nas estimações pela ferramenta estatística empregada. De acordo com HILL et ali [1997] esse parâmetro é dado por d = 2(1- p) onde p é o estimador do parâmetro ρ e pode ser ENEGEP 2002 ABEPRO 5 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 usado para considerarmos duas hipóteses: H0:ρ=0 (não existe autocorrelação entre os resíduos) ou H1:ρ≠0 (existe autocorrelação). Segundo DIAZ [2000] existem quatro áreas que definem os possíveis valores para o parâmetro d em que se pode basear para verificar a existência de autocorrelação entre os resíduos. Os resultados obtidos mostraram que em todas as estimações esse parâmetro conservou-se dentro da faixa de valores permitidos, validando as estimações; o mesmo aconteceu com o parâmetro t-statistic . 4 - Resultados obtidos Os modelos propostos para a Taxa de Produção Diária, Receita Bruta e Lucro por Peça foram, respectivamente, os seguintes: TXPRD = β11HT + β12HX + β13IROTP + β22HX + β23PT REC = β21HT LUCPP = β31RECPP + β32TPMOT + β33IREMP Após terem sido feitas dezenas de estimações foram encontrados os parâmetros βs ótimos, resultando em três modelos econométricos para a medição do desempenho: Taxa de Produção Diária (TXPRD), Receita Bruta (REC) e Lucro por Peça (LUCPP). TXPRD = 0.0465*HT + 0.1843*HX - 11.5144*IROTP [Equação 2] REC + 32.7462*HX + 6.2967*PT [Equação 3] = 7.8638*HT LUCPP = 0.3881*RECPP + 0.0085*TPMOT - 0.3284*IREMP [Equação 4] 5 - Discussão dos resultados O modelo econométrico obtido para a medição da produtividade, através da taxa de produção, em função das horas totais, horas extras e índice de rotatividade do pessoal, mostrou que tanto as horas totais quanto as horas extras influenciam positivamente na produtividade da empresa, o que era esperado. Quanto mais horas de trabalho (normal ou extra) maior será a produtividade, de modo que para cada hora normal de trabalho a taxa de produção diária aumenta em cerca de 0,047 peças/dia-homem*hora; para cada hora extra esse acréscimo é algo em torno de 0,184 peças/dia-homem*hora. Por outro lado, o índice de rotatividade do pessoal (IROTP) influenciou de maneira negativa nos resultados; o que quer dizer que aumentos na diferença entre admissões e demissões num mês anterior concorrem para que a produtividade caia no mês seguinte na proporção de 0,11 peças/dia para cada ponto percentual na rotatividade. De acordo com a aplicação do método AR1, usando a variável explicativa IROTP defasada de 1 período, essa perda de produtividade é observada no mês seguinte quando ocorrem muitas flutuações no número de empregados no mês imediatamente anterior; isto é, a produtividade de um determinado mês é influenciada (negativamente) pela condições de trabalho ocorridas no mês anterior. Assim temos uma explicação bem plausível para a performance medida pelo critério Produtividade quando influenciado pelo critério Condições de Vida de Trabalho com um argumento quantitativo dado pela Equação 2. A Equação 3 mostra o modelo econométrico estimado que mede a performance da empresa em termos (indireto) de Lucratividade (medido pela Receita Bruta - RE) explicada pelas horas totais (HT), horas extras (HX) e produção total (PT). Os resultados indicam que todas as três variáveis explicativas influenciam positivamente na variação da ENEGEP 2002 ABEPRO 6 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 Receita Total Bruta. Entretanto, com relação às horas extras, o melhor resultado explicativo para o desempenho está no fato de que essas horas (adicionais) de trabalho influenciaram mais que as horas normais. Essa diferença acentuada entre os coeficientes de horas extras e horas normais de trabalho pode ser explicada (em parte) pelo fato de a empresa trabalhar muito em função de horas extras, e que devido à uma melhor remuneração salarial sobre essas horas e ainda alavancada pela remuneração extra para uma produção acima de 60% (e acordo com a política da empresa), os empregados podem estar trabalhando mais “entusiasmados”, o que influenciaria positivamente a receita. Os resultados da estimação mostram que para cada aumento de 1 hora normal de trabalho a receita aumenta em cerca de R$ 7,86, e para cada hora extra a mais esse incremento na receita é de R$ 32,74. Com relação à produção total esta influência é tal que para cada peça produzida a mais é gerada uma receita extra de R$ 6,29. A Equação 4 mostra os resultados obtidos para a estimação que mede a performance da empresa em termos do critério Lucratividade (em lucro/por peça- LUCPP), explicado pela receita por peça (RECPP), pela taxa de produção com mão-de-obra total (TPMOT) e pelo índice de remuneração do pessoal (IREMP). Os resultados confirmou o que era esperado: o lucro por peça é influenciado positivamente pela receita por peça e pela produção por empregado, e negativamente pelo índice de remuneração do pessoal. O modelo apresentou a seguinte situação: para cada R$ 1,00 de receita por peça produzida, o lucro por peça é de aproximadamente R$ 0,38; para cada peça produzida (por empregado) o lucro em cada peça é de cerca de R$ 0,01 e com relação ao índice de remuneração do pessoal, para cada ponto percentual de aumento nesse índice ocorre uma perda aproximada de R$ 0,32 em cada peça. 6 - Conclusões e Recomendações Este artigo focalizou os resultados obtidos pela pesquisa realizada numa empresa de confecções situada na região de Maringá - noroeste do Paraná –, na medição de seu desempenho ao longo de um período de quarenta meses: de Janeiro de 1998 a Abril de 2001. Esse desempenho foi medido por onze indicadores operacionalmente definidos em função de vários dados primários, reais, coletados na empresa e tratados estatisticamente com uma ferramenta de software. Os resultados foram discutidos em função do que se obteve quantitativamente pelos indicadores e por estimativas da performance representadas por modelos econométricos, obtidos com a referida ferramenta. Em função dos resultados obtidos chegou-se à conclusão de que a empresa pesquisada apresentou, de um modo geral, uma boa performance no período considerado, em termos de produção, receita e lucro. Essa performance pode ser prevista por três equações econométricas, obtidas através de estimações com uma ferramenta estatística. Entretanto, apesar dos modelos obtidos apresentarem resultados satisfatórios, quanto aos parâmetros estatísticos, é interessante, em trabalhos futuros, pesquisar modelos econométricos não lineares para comparação com os obtidos no presente trabalho, no sentido de se estabelecer modelos mais gerais e que possam oferecer previsões mais aproximadas do processo produtivo. Assim, com um conjunto de indicadores mais representativo e com modelos econométricos mais gerais, a empresa passará a contar com uma tecnologia de informação ligada ao seu processo produtivo, muito mais eficiente nas tomadas de decisão. ENEGEP 2002 ABEPRO 7 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANGELONI, Maria Terezinha; FERNANDES, Caroline Brito; SARTOR, Vicente Volnei de Santa; ROMANI, Cláudia e PEREIRA, Rita de Cássia de Faria. Gestão estratégica da informação e o processo decisório: uma preparação para a gestão do conhecimento , Florianópolis, ENEGEP, 1997. DIAZ, Maria Dolores Montoya. Problemas Econométricos no Modelo Linear Geral: Manual de Econometria, USP, São Paulo (2000). FIOD NETO, Miguel; LAPA, Jair dos Santos; QUEIROZ, Antônio Diomário; MAZO, Evandro Minuce; BULATY, Guilherme Felipe dos Santos; SILVA, Rachel Wõhlke. 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