FOTOGRAFIA – PROFESSORA CRISTINA FERREIRA 2011 Comunicar através de fotografia "A CÂMARA NÃO TEM SENÃO UM OLHO: A LENTE. SÓ PODE REGISTAR UM FRAGMENTO DO MUNDO VISUAL. O FOTÓGRAFO LEVA COM ELE O SEGUNDO OLHO. ESTE É O OLHO DA SELECÇÃO. O ARTISTA TEM AINDA UM TERCEIRO OLHO: O OLHO DA IMAGINAÇÃO CRIATIVA. ESTE TERCEIRO OLHO É O QUE PODE PENETRAR NO NOSSO MUNDO INTERNO". (David H. Curl) 1 INÊS MANUELA SILVA DIAS TURMA 4 FOTOGRAFIA – PROFESSORA CRISTINA FERREIRA 2011 Após uma pesquisa profunda de diferentes fotógrafos, com diferentes visões, estilos e definições de fotografia, decidi escolher este trabalho de Inez van Lamsweerde & Vinoodh Matadin. Esta escolha prende-se, mais do que pela fotografia em si, pelo trabalho dos artistas que me convenceram com uma demonstração de arte fotográfica repleta de elegância, sofisticação e modernidade. Fotografias onde a moda, apesar de presente e fortemente representada, passa para segundo plano, sobressaindo o resultado de uma construção de emoção, estado de espírito, “maneira de ser e estar” na vida. É sem dúvida fascinante o facto de a reprodução dos diferentes estilos de mulher e do seu comportamento, nas mais engenhosas e geniais encenações, conseguir derrubar a intenção de vender um produto ou uma marca, exaltando-se o nascimento de verdadeira arte. Ao longo da história, mesmo com toda a força exercida pelo pensamento científico e humanístico, a direção do olhar e da mente de grande parte de nós, indivíduos, fugiu sempre da contemplação do “real”, reforçando a magia que a fotografia tem para oferecer ao ser-humano. “O crédito que já não se podia mais dar à realidade compreendida na forma de imagens dava-se agora à realidade entendida como imagens, ilusões.” (Susan Sotang, O mundo-imagem, 147). Assim, a criação de uma ilusão, de um momento imaginado e recriado, constitui grande parte do encantamento que a arte fotográfica provoca nos que a apreciam e até mesmo nos restantes que teimam em resistir. No caso desta foto em particular, Inez van Lamsweerde & Vinoodh Matadin fotografaram para a W Magazine Natalie Portman, atriz com reconhecimento ao nível internacional, e criaram um momento, um cenário imaginado que desperta os nosso sentidos. O fundo escolhido emana por si só um forte calor, chama, temperatura ardente. Os tons quentes utilizados, laranjas e vermelhos, estão evidenciados e refletem-se na luz colocada no rosto da atriz provocando a sensação de que o seu rosto se encontra sob o sol, “pintado” pelos tons dourados e acastanhados que este deixa na pele. A luz na fotografia rouba ainda a nossa atenção para o vestido Louis Vuitton ao realçar com brilho, o cetim roxo. Torna-se ainda importante referir a presença de um contraste entre as cores quentes (sol, fundo laranja, rosto da mulher) e as cores frias, do vestido e do tom azul que se encontra nas costas de Natalie. 2 INÊS MANUELA SILVA DIAS TURMA 4 FOTOGRAFIA – PROFESSORA CRISTINA FERREIRA 2011 “Ah, se houvesse apenas um olhar, o olhar de um sujeito, se alguém, na foto me olhasse! Pois a fotografia tem esse poder, de me olhar direto nos olhos” (Roland Barthes, a Camara Clara, 164) O poder de uma fotografia, reside muitas vezes no olhar, tal como exprime Barthes na anterior citação. A capacidade que a fotografia tem de captar hipnoticamente a nossa atenção é de facto estonteante. Um olhar seduz, prende-nos, e pode ser alvo das mais diversas interpretações, dependendo dos olhos que o observam. Nesta foto o olhar transporta um grande peso de personalidade, estando o retrato diretamente relacionado com o filme “Cisne Negro” interpretado por Natalie. Nesta fotografia, os olhos da atriz são, na minha opinião, sinónimo de sedução, segredo e força interior, deixando porém transparecer um íntimo mais sombrio envolto em mistério. Este impacto é conseguido com a colocação de uma visível sombra que envolve os olhos da atriz, aumentando o abismo entre o “Eu” exterior, que podemos observar, e o “Eu” que realmente existe no interior daquele olhar. O vestido escolhido, com a assinatura do conhecido designer francês, traça uma aproximação ao oriente visto se assemelhar aos quimonos utilizados na cultura japonesa. A simbologia do oriente pode também ser observada no fundo da fotografia. Acredito que podemos afirmar a presença de mais uma componente associada ao Japao dado este país ser muitas vezes denominado como “Terra do sol nascente” . Movimento. Este é também um elemento constituinte da fotografia. Está presente na encenação de vento no cabelo da modelo, que parece voar e oscilar ao sabor da brisa. Devo acrescentar que considero que podemos criar uma analogia entre o aspeto do cabelo e forma como se move ao ritmo da aragem, com a Deusa Medusa. Deusa sedutora e cruel, que transformava os que a olhassem em pedra. O movimento dos seus cabelos contribui assim para a mistificação da figura feminina, aumentando o caracter emblemático que nos embala e cativa. 3 INÊS MANUELA SILVA DIAS TURMA 4 FOTOGRAFIA – PROFESSORA CRISTINA FERREIRA 2011 Finalmente, deixo apenas uma leve referência a uma outra fotografia tirada na mesma sessão, tendo o mesmo quadro de fundo, onde porém o estado de espírito transmitido e a emoção provocada são totalmente diferentes. Em semelhantes circunstâncias esta fotografia, apesar de ainda transportar um certo teor de mistério e sedução, transmite uma emoção bem mais forte, existindo a mensagem do atingir um estado de êxtase e euforia total. A serenidade e quietação da primeira fotografia é substituída pela vitalidade e exaltação, o calor assume um caracter voluptuoso, lascivo, sem nunca perder a elegância, o estilo e a sofisticação das obras fotográficas que descrevem estes dois fotógrafos. "O VISOR DA MÁQUINA FOTOGRÁFICA PERMITE-NOS VER AS PESSOAS COMPLETAMENTE NUAS... NÃO FISICAMENTE..." (Henri Cartier-Besson) O flash disparou, a fotografia foi criada. Permanecerá imóvel para todo o sempre, inalterável no papel. Contudo, aos nossos olhos, continuará viva e em constante mutação, em sintonia com o espírito e a profundidade com que em cada vez a olharmos. 4 INÊS MANUELA SILVA DIAS TURMA 4