UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO CLÍNICA MÉDICA E CIRÚRGICA DE PEQUENOS ANIMAIS HIPERSENSIBILIDADE ALIMENTAR EM CÃES Lilian Cristina Ferreira Campinas, jun. 2011 LILIAN CRISTINA FERREIRA Aluna do Curso de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais HIPERSENSIBILIDADE ALIMENTAR EM CÃES Trabalho monográfico do curso de pós-graduação Clinica Médica "Lato Sensu" em e Cirúrgica de Pequenos Animais apresentado à UCB como requisito parcial para a obtenção de título de Especialista em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, sob a orientação da Profª MSc. Fabíola Aliaga de Lima. Campinas, jun. 2011 HIPERSENSIBILIDADE ALIMENTAR EM CÃES Elaborado por Lilian Cristina Ferreira Aluna do Curso de pós-graduação "Lato Sensu" em Clinica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais. Foi analisado e aprovado com grau: .............................. Campinas,______ de _____________ de _______________. _________________________ Membro _________________________ Membro _________________________ Profª MSc. Fabíola Aliaga de Lima. (Orientadora) Campinas, jun. 2011 ii DEDICATÓRIA Dedico a minha mãe Sueli, a Érica, amiga inseparável, e a Fafá, minha orientadora, que apesar de todas as dificuldades, me deram confiança e me apoiaram em cada momento de estudo. Gostaria que esta monografia fosse, assim como para mim, uma grande conquista para elas e com isso, um belo motivo de felicidade e vitória obtida. iii AGRADECIMENTOS Agradeço ao Deus Pai que me inspirou coragem para fazer esta especialização, concedeu-me seu Espírito Santo para o entendimento e paciência nas aulas e para este trabalho. Agradeço a Jesus Cristo que me ensina que àquele que busca primeiramente o Reino do Céu nada falta. Agradeço a querida mãe Santíssima que comigo esteve intercedendo para conclusão de mais uma etapa em minha vida profissional. Agradeço a minha mãe Sueli por me sustentar e proteger com suas orações. A minha amiga-irmã Érica gratidão por todo o incentivo que me faz prosseguir quando não quero mais. Gratidão a você Fafá, minha orientadora, por abraçar este trabalho por mim. Obrigada por esta demonstração de amizade que se mantém há anos. Deus a abençoe! Este trabalho só é uma pequena prova de que não estou sozinha e já que tenho muito a aprender... conto com vocês meus amigos para prosseguir resolutamente. Gratidão a todos! iv RESUMO FERREIRA, Lilian Cristina. Hipersensibilidade Alimentar em cães A alergia ou hipersensibilidade alimentar (HA) é um tipo de reação ao alimento com base imunológica, cuja patogenia é pouco conhecida. Um pequeno número de cães desenvolve sinais clínicos devido a essa reação imunológica, desencadeada pela ingestão de antígenos específicos da dieta, geralmente proteínas ou glicoproteínas. A HA está associada ao prurido de intensidade variável, generalizado ou similar àquele encontrado na atopia e na hipersensibilidade à picada de pulga. Os sinais clínicos não sazonais apresentam pouca resposta à terapia com glicocorticóides. O diagnóstico definitivo é dado pela realização de uma dieta de eliminação e, uma vez confirmado o diagnóstico, o paciente deve receber ração comercial apropriada ou dieta caseira, obtendo-se um bom prognóstico. PALAVRAS CHAVE: Cão, alergia alimentar, prurido não-sazonal. v ABSTRACT FERREIRA, Lilian Cristina Food Hypersensitivity in dogs Allergy or food hypersensitivity is an immunological reaction to food that presents a poorly understood pathogeny. A small number of dogs and develop clinical signs due to the immune reaction triggered by the consumption of specific antigens of the diet, usually proteins or glycoproteins. Food hypersensitivity is associated with a generalized itch of variable intensity, sometimes similar to that found in atopic dermatitis or flea bite hypersensitivity. Clinical signs are not seasonal and do not cease upon glucocorticoid therapy. The definitive diagnosis is presented by the realization of an elimination diet and, when diagnosis is confirmed, the patient has to receive appropriate comercial ration or home-made diet, obtaining a good prognostic. KEYWORDS: Dog, food allergy, non-seasonal pruritic. vi "Estou longe de praticar o que entendo, mas o desejo que tenho de praticar é suficiente para me dar a paz". Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897). vii SUMÁRIO RESUMO........................................................................................................ v ABSTRACT…………………………………….................................................. vi EPÍGRAFE..................................................................................................... vii LISTA DE FIGURAS...................................................................................... ix LISTA DE TABELAS..................................................................................... xi 1. INTRODUÇÃO........................................................................................... 1 2. REVISÃO DA LITERATURA...................................................................... 3 2.1. Etiopatogenia.......................................................................................... 3 2.2. Sinais Clínicos......................................................................................... 10 2.3. Diagnóstico Diferencial........................................................................... 16 2.4. Diagnóstico.............................................................................................. 17 2.4.1. Anamnese............................................................................................ 18 2.4.2. Exame Físico........................................................................................ 20 2.4.3. Exames Complementares.................................................................... 24 2.4.4. Teste de Restrição Alimentar............................................................... 25 2.5. Tratamento.............................................................................................. 40 2.6. Prognóstico............................................................................................. 45 3. CONCLUSÃO............................................................................................. 45 4. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 47 viii LISTA DE FIGURAS Figura 1. Estrutura básica da molécula de anticorpo, mostrando detalhe da região de ligação com o antígeno..................................................................... 5 Figura 2. Modo de ação dos principais componentes do sistema imunitário.......................................................................................................... 6 Figura 3. Bull Terrier com sensibilidade alimentar afetado por uma generalizada erupção eritematosa, macular e papulosa da pele do esterno, abdome e coxa medial...................................................................................... 11 Figura 4. Otite alérgica grave com infecção bacteriana secundária em um Cocker Spaniel. A ressecção lateral prévia do conduto auditivo, sem tratamento dietético, não foi suficiente para curar a otite................................. 11 Figura 5. Dermatite perianal com alopecia e liquenificação em um cão com hipersensibilidade alimentar............................................................................. 11 Figura 6. Hipersensibilidade alimentar em um Irish Setter.Alopecia, eritema e escoriações na face, extremidades e flanco. O local de lesão é semelhante à atopia.......................................................................................... 13 Figura 7. Visualização próxima do cão da Figura 6. Há hiperpigmentação e liquenificação discretas, causadas por dermatite secundária por levedura............................................................................................................ 13 Figura 8: Representação esquemática para anotação em região anatômica das lesões cutâneas reconhecidas durante o exame físico............................. 21 Figura 9: Cão, Dálmata, fêmea de 11 meses, com eritema generalizado..................................................................................................... 22 Figura 10: Cão, SRD, fêmea de 3 anos de idade, com lesão alopécica e hiperpigmentação............................................................................................. 22 Figura 11: Cão, SRD, macho com 5 anos, com pápulas múltiplas................. 23 Figura 12: Cão, Dachshund, macho com 6 anos, com alopecia e liquenificação.................................................................................................... 23 Figura 13: Cão, fêmea de 7 anos, com descamação...................................... 23 Figura 14: Cão, macho de 1 ano de idade, com escoriação........................... 23 ix Figura 15: Cão, Yorkshire, macho de 6 anos de idade, com colarinho epidérmico........................................................................................................ 23 Figura 16: Cão, SRD, fêmea de 14 anos de idade, com crostas hemorrágicas.................................................................................................... 23 Figura 17: Estrutura química geral dos (A) aminoácidos e (B) representação de uma ligação peptídica.......................................................... 29 Figura 18: Níveis da estrutura protéica............................................................ 29 Figura 19A: Degranulação do mastócito frente a uma proteína intacta............................................................................................................... 31 Figura 19B: Não degranulação do mastócito frente a uma proteína hidrolisada........................................................................................................ 31 x LISTA DE TABELAS TABELA 1. DIETAS COMPLETAS, EQUILIBRADAS E RICAS EM PROTEÍNA HIDROLISADA DISPONÍVEIS PARA CÃES................................ 34 TABELA 2. TABELA PARA O ACOMPANHAMENTO DAS REAÇÕES ADVERSAS FRENTE À EXPOSIÇÃO A ALIMENTOS ALERGÊNICOS OU NÃO.................................................................................................................. 38 TABELA 3. ALIMENTOS COMPROVADOS ALERGÊNICOS RELATADOS EM ESTUDOS DE CASOS.............................................................................. 39 xi 1. INTRODUÇÃO A hipersensibilidade alimentar (HA) ou alergia alimentar inclui-se dentre as dermatopatias alérgicas. Na espécie canina a HA é a terceira em importância quanto a frequência, dispondo-se logo após a dermatite alérgica à picada de pulgas (DAPP) e à dermatite atópica (NASCENTE et. al., 2006). Alguns estudiosos acreditam que a HA pode ser a causa de 1% de todas as dermatoses observadas na clínica de pequenos animais (DAY, 2005; NASCENTE et. al., 2006). As dermatoses alérgicas não sazonais variam percentualmente entre 23 e 62% dos casos (NASCENTE et. al., 2006). A hipersensibilidade alimentar é um tipo de reação adversa de natureza imunológica, ou seja, uma resposta clinicamente anormal atribuída a um alimento ingerido ou aditivo alimentar, tendo as imunoglobulinas como os maiores responsáveis por tais reações (LOEFFLER, 2006; NASCENTE et. al., 2006; BICHARD; SHERDING, 2008; HALLIWELL, 2011). Sua fisiopatologia não está bem estabelecida, acredita-se que haja o envolvimento das reações de hipersensibilidade dos tipos I, III e IV e os principais agentes alergênicos são as fontes protéicas e os carboidratos presentes no alimento. (BICHARD; SHERDING, 2008). Já Halliwell (2011) e Loeffler (2006) concordam que as reações adversas aos alimentos também podem se desenvolver sem o envolvimento do sistema 1 imunológico (intolerância alimentar), apresentando diferentes tipos de reações, dentre elas está as reações de idiossincrasia, metabólicas, farmacológicas, bem como as reações de toxicidade. Em muitos casos, a intolerância e a hipersensibilidade podem coexistir em um mesmo paciente. A resposta alérgica, frente a diferentes constituintes alimentares, pode determinar alterações nos diversos sistemas orgânicos, todavia as manifestações cutâneas, como intenso prurido, são as que mais afligem os proprietários dos animais (LOEFFLER et. al., 2006; BICHARD; SHERDING, 2008). O diagnóstico diferencial da alergia alimentar constitui um constante desafio ao clínico veterinário para se diferenciar de outros tipos de hipersensibilidade (atopia, picada de pulga), das parasitoses (escabiose, cheiletiose, pediculose), de foliculite (bactérias, dermatófitos, Demodex) e dermatite por Malassezia sp. (HNILICA; MEDLEAU, 2003). Na maioria das vezes, o diagnóstico baseia-se apenas na análise da anamnese e das lesões cutâneas elementares, evidenciadas no exame físico dos animais acometidos. Para o diagnóstico final, o clínico, habitualmente, vale-se de vários recursos, incluindo exames laboratoriais, parasitológicos (raspado cutâneo), micológico, histológico (biopsia), testes intradérmicos e testes sorológicos (RAST e ELISA), porém o método de diagnóstico mais válido é o teste de restrição alimentar. A restrição alimentar é reputada como um procedimento trabalhoso, pelo próprio empenho do proprietário junto a um profissional na busca pelo diagnóstico, pois envolve a busca por novos ingredientes, bem como a 2 observação do animal quanto à ausência ou manifestação dos sinais clínicos frente à nova dieta adotada. A dieta de eliminação consiste na retirada de alimentos anteriormente ingeridos e submeter o cão a uma nova dieta com base em uma única proteína e carboidrato. O diagnóstico de hipersensibilidade alimentar é confirmado após a melhora dos sinais clínicos com a introdução da nova dieta, seguido por recidiva dos sinais, após a reintrodução de antigos alimentos. Assim que identificada à fonte alergênica, deve-se restringi-la ao animal. Nos últimos anos, além da dieta caseira, em que o proprietário tem que prepará-la, tem-se observado a introdução de dietas comerciais com restrição das fontes protéicas e de carboidratos. Estas dietas constituem ou de uma proteína nova (peixe, carne de pato) ou de uma proteína hidrolisada, ou seja, menos alergênica (GRIFFIN, 2007). As rações a base de proteínas hidrolisadas têm facilitado no diagnóstico de hipersensibilidade alimentar em cães favorecendo a comodidade ao proprietário e uma alimentação balanceada ao cão durante o teste e sua manutenção quando comprovado os agentes alérgicos. 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1. ETIOPATOGENIA A reação imunomediada a um alimento ou aditivo alimentar é comum em cães (HNILICA; MEDLEAU, 2003), embora o mecanismo fisiopatológico de 3 hipersensibilidade alimentar seja pouco esclarecido em animais (BICHARD; SHERDING, 2008). O termo imunidade define a capacidade do corpo de se proteger contra agentes estranhos específicos, tais como bactérias, vírus, toxinas ou células de tecidos estranhos. Existem dois tipos distintos de sistema imune, mediado pela função dos linfócitos B e linfócitos T (GUYTON, 1986). Guyton (1986) descreve o sistema dos linfócitos B como responsável pela imunidade humoral, ou seja, em formar anticorpos (globulinas) para atingir os antígenos. Na primeira exposição ao agente estranho específico, o antígeno (proteínas, glicoproteínas) reage com os linfócitos que formam os plasmócitos e produzem os anticorpos. Os anticorpos podem destruir os antígenos por diversas formas: por aglutinação (forma grumos ao redor do antígeno), por lise (ruptura da membrana celular do agente), por neutralização (bloqueia os efeitos tóxicos), e por opsonização (deixa o agente suscetível à fagocitose por neutrófilos ou por macrófagos). A ligação entre o antígeno-anticorpo é representada na Figura 1. O anticorpo possui uma estrutura básica em forma de Y e suas estruturas moleculares são unidas por ligações de dissulfeto. Cada molécula de anticorpo se divide em regiões variáveis (região de ligação com o antígeno) e constantes. A região variável é que determina o antígeno ao qual o anticorpo irá se ligar. A região constante determina a classe do anticorpo (IgG, IgE) (GUYTON, 1986). 4 Figura 1: Estrutura básica da molécula de anticorpo, mostrando detalhe da região de ligação com o antígeno. Fonte: Amabis e Martho (2004). Os linfócitos T são responsáveis pela imunidade denominada linfocítica ou celular. Estes reagem nos gânglios linfáticos e cada tipo de célula T apresenta sua função específica, conforme apresentado na Figura 2. A célula T citotóxica se fixa no agente invasor, destruindo-o. A célula T auxiliar ajuda o sistema dos linfócitos B a produzirem anticorpos contra antígenos que sensibilizam as células T. Células T supressoras, não apresentadas na Figura 2, controlam o processo imune, impedindo reações imunes desreguladas. As células T de memória; ficam inativas, mas com a capacidade de resposta a nova exposição ao mesmo antígeno (GUYTON, 1986). 5 Figura 2: Modo de ação dos principais componentes do sistema imunitário. Adaptação da Fonte: Amabis e Martho (2004). A reação adversa é um termo geral aplicado a uma resposta clinicamente anormal atribuída a um alimento ingerido ou aditivo alimentar. Alergia alimentar (hipersensibilidade) denota uma reação imunológica resultante da ingestão de um alimento ou aditivo alimentar (BURKS; SAMPSON, 1996). Para muitos, a alergia alimentar é sinônima de reações que envolvem um mecanismo mediado por imunoglobulinas (BURKS; SAMPSON, 1996; CHESNEY, 2002; LOEFFLER et. al., 2006; NASCENTE et. al., 2006; BICHARD; SHERDING, 2008; HALLIWELL, 2011). A intolerância alimentar é um termo geral que descreve 6 uma resposta fisiológica anormal a um aditivo do alimento ingerido ou de alimentos que não são de natureza imunológica (BURKS; SAMPSON, 1996, CHESNEY, 2002; LOEFFLER et. al., 2006; HALLIWEL, 2011). Esta medida engloba reações de idiossincrasia, reações metabólicas, reações farmacológicas, reações de toxicidade (LOEFFLER et. al., 2006; HALLIWEL, 2011). A reação de idiossincrasia é uma resposta incomum a uma substância alimentar que ocorre em uma pequena percentagem de indivíduos. Este efeito difere do farmacológico ou fisiológico e assemelha-se a hipersensibilidade, mas sem o envolvimento imunológico. Uma reação metabólica é uma reação adversa onde o resultado é pelo aumento da síntese de um alimento ou aditivo alimentar, ou da redução de sua degradação ou ambas situações. A reação metabólica pode ser exemplificada em cães com sintomas gastrointestinais e Insuficiência Pancreática Exócrina. Uma reação farmacológica é o resultado da ação de um produto químico sobre o hospedeiro, cujo efeito terapêutico é conhecido e desejado. Toxicidade alimentar implica em um efeito adverso causado pela ação direta de um aditivo alimentar ou alimento sobre o hospedeiro, sem o envolvimento de mecanismos imunológicos. As toxinas podem estar dentro do alimento ou, liberados por micro-organismos ou parasitas presentes no alimento (BURKS; SAMPSON, 1996). A alergia alimentar no cão é identificada como uma reação imediata ou tardia (BICHARD; SHERDING, 2008). Uma reação alérgica imediata é caracterizada pela presença de grande número de anticorpos IgE (hipersensibilidade do tipo I) no sangue circulante, e esses anticorpos são moléculas protéicas muito grandes, com muitos locais reativos devido às 7 inúmeras cadeias leves presentes na molécula. O tempo de reação pode durar de minutos até horas após a ingestão do alimento. Quanto à alergia de ação tardia acontece de horas a dias após a exposição e sua reação é mediada por linfócitos sensibilizados do tipo da célula T (hipersensibilidade do tipo III ou IV) (GUYTON, 1986; CHESNEY, 2002; BICHARD; SHERDING, 2008). Algumas pessoas apresentam uma tendência a desenvolver alergias. Esse fenômeno é transmitido geneticamente de pai para filho (GUYTON, 1986), no entanto, nos cães este fator não é relacionado nos estudos (DAY, 2005). Na literatura é comum encontrar hipersensibilidade alimentar em cães sem distinção entre os sexos (HNILICA; MEDLEAU, 2003, OSBORN, 2006, BICHARD; SHERDING, 2008). No entanto, os resultados encontrados no estudo de Larsson e Salzo (2009) mostraram uma predominância entre os machos, correspondendo a 60% dos casos. A manifestação dos sinais clínicos independe da estação do ano (HNILICA; MEDLEAU, 2003, LOEFFLER et. al, 2006) já em relação à idade há uma maior predisposição em filhotes com menos de um ano de idade (BOND; CATARINA, 2004, DAY, 2005, BICHARD; SHERDING, 2008). Porém há a possibilidade das demais idades apresentarem manifestações clínicas (HNILICA; MEDLEAU, 2003, OSBORN, 2006, LARSSON; SALZO, 2009). Scott, Miller e Griffin (1996) e Osborn (2006) avaliaram a predileção racial em alguns estudos em que o Cocker Spaniel, o Labrador, Dachshund, Pastor Alemão e Golden Retriever apresentavam um aumento no risco. As raças Poodle e Pinscher tiveram destaque para Larsson e Salzo (2009) em razão do maior número de atendimento dessas raças em seus estudos. 8 A ampla variedade de componentes alimentares utilizados em rações comerciais para animais de estimação, bem como a diversidade de métodos de processamento (como a manipulação da matéria prima, sua armazenagem e moagem, adição de corantes, seguidos pelo processo de secagem e de extrusão), provavelmente influencia no grande número de alérgenos relatados. Qualquer proteína incluída na dieta, mesmo em pequenas quantidades (miligramas), pode ocasionar hipersensibilidade alimentar (BICHARD; SHERDING, 2008). Alimentos trofo-alérgicos promovem as reações imunológicas sendo essencial diferenciá-los dos ingredientes responsáveis pelas reações não imunológicas. A lactose presente no leite é um exemplo de carboidrato que não desencadeia uma reação imunológica. Tal reação adversa é sintomática em indivíduos intolerantes e este carboidrato pela deficiência da lactase ou de alimentos ricos em histamina ou liberadores desta (alguns peixes, crustáceos, embutidos, chocolate.). Os trofo-alérgicos são os alérgenos de origem alimentar, sendo que os principais alimentos envolvidos na manifestação alergênica são a soja, o leite de vaca, o ovo, os peixes, os cereais (trigo e a cevada), o glúten, as frutas, os legumes, os aditivos e os corantes. Estes alimentos apresentam proteínas na sua composição de peso molecular que variam de 10.000 a 60.000 dáltons e são estáveis, pois não são desnaturadas após o tratamento térmico, ácido ou pela ação de proteases. Sendo assim, a hipersensibilidade alimentar é denominada uma dermatite trofo-alérgica (GUAGUÈRE; BENSIGNOR, 2005). Os contaminantes de alimentos (bactérias patogênicas e toxinas), aditivos alimentares (tartrazinas) e, aminas vasoativas (tiramina em queijos) são causas 9 suspeitas de mimetizar hipersensibilidade alimentar em humanos. Animais de pequeno porte apresentam baixa inserção de hipersensibilidade a esses compostos, visto que não há relatos na literatura sobre a importância dos mesmos (BICHARD; SHERDING, 2008). 2.2. SINAIS CLÍNICOS Os sinais clínicos de hipersensibilidade alimentar canina apresentam algumas variações como serão relatados a seguir. Larsson e Salzo (2009) ao realizar um estudo em 117 cães com prontuários suspeitos de hipersensibilidade alimentar, verificaram que apenas 20 cães apresentavam alergia alimentar, observando o prurido localizado em 55% dos cães e prurido generalizado em 45% dos animais. No prurido localizado, as regiões mais acometidas foram a lombar e os membros (torácicos e pélvicos), vindo a seguir as regiões abdominal, facial, axilar e de períneo. Doze cães (60%) apresentaram quadro otopático (otite externa eczematosa bilateral), este resultado confirma o já disposto em outros estudos, em que a otite externa é frequentemente observada nos casos de hipersensibilidade alimentar, acompanhando os demais aspectos clínicos, e que, em algumas ocasiões, pode estar presente como a única manifestação clínica (CHESNEY, 2002; DAY, 2005; OSBORN, 2006; LOEFFLER et. al., 2006). Neste estudo, observou-se que as lesões foram generalizadas em apenas três cães. Quanto ao tipo de lesão foi observado: eritema (55% dos casos), alopecia (50% dos indivíduos), crostas 10 (45%), escamas micáceas (laminar) ou furfuráceas (pulverulenta) (35%), pápulas (15%) e eritema e alopecia (15%). Os locais de lesão cutânea observados por Larsson e Salzo (2009) foram a região lombar, a região de membros, a região abdominal, a facial, a axilar e a de períneo. Essas regiões de lesão já foram extensivamente relatadas em outros estudos por Bond e Catarina (2004), Day (2005) e Osborn (2006). As lesões de pele estão representadas nas Figuras 3 - 7. Figura 3: Bull terrier com sensibilidade alimentar apresentando uma generalizada erupção eritematosa, macular e papulosa da pele do esterno, abdome e coxa medial. Fonte: Bond; Catarina (2004). Figura 4: Otite alérgica grave com infecção bacteriana secundária em um Cocker Spaniel. A ressecção lateral prévia do conduto auditivo, sem tratamento dietético, não foi suficiente para curar a otite. Fonte: Hnilica; Medleau (2003). Figura 5: Dermatite perianal com alopecia e liquenificação em um cão com hipersensibilidade alimentar. Fonte: Hnilica; Medleau (2003). 11 O prurido não sazonal é descrito, pela maioria dos autores, como sendo muito frequente na hipersensibilidade alimentar (HNILICA; MEDLEAU, 2003; LOEFFLER et. al., 2006; BICHARD; SHERDING, 2008; LARSSON; SALZO, 2009). Este pode evoluir rapidamente para um quadro mais grave, causando, além das lesões por automutilação (alopecia, escoriações, descamação, crostas, hiperpigmentação e liquenificação), piodermatite superficial secundária, dermatite por Malassezia (Figura 7), urticária ou angioedema e a própria otite externa (Figura 4), descrita acima. Nenhum dos cães, estudados por Larsson e Salzo (2009), foram identificados com piodermatite superficial ou urticária secundária ao quadro de base. Não foram observados sintomas gastrointestinais ou referentes a outros sistemas. Este dado está em concordância com os dispostos na literatura, referentes à baixa ocorrência de manifestações em outros sistemas além do ototegumentar (BICHARD; SHERDING, 2008). Já Loeffler et al. (2006) demonstraram em seu estudo que de 63 cães investigados, 59 apresentavam como queixa principal o prurido não sazonal, sendo somente 13 cães diagnosticados com hipersensibilidade alimentar. Desses treze cães, sete (53,8%) apresentam otite; oito (61,5%) piodermite; quatro (30,8%) infecção secundária por Malassezia dermatitis; e, nove (69,2%) cães com sinais gastrintestinais. Os proprietários dos animais dificilmente relacionam o início dos sinais clínicos de hipersensibilidade alimentar com a alteração na dieta (DAY, 2005; BICHARD; SHERDING, 2008), pois na maioria dos casos as manifestações 12 cutâneas se desenvolvem entre 4 a 24 horas após a ingestão do alérgeno (DAY, 2005). Na reação adversa alimentar, aproximadamente metade dos casos com prurido contínuo também apresentam alguns sinais gastrintestinais anormais. Estes sinais são leves, e por isso tornam-se insuficientes para que os proprietários notem como anormal em seu cão. Vômitos e diarréia são sintomas podem ser apresentados, mas provavelmente menos do que 15% dos casos são manifestados (DAY, 2005; OSBORN, 2006; GRIFFIN, 2007). Adicionalmente, sintomas nervosos, urológicos, doenças respiratórias, pseudolinfoma, mal-estar, hematológico e febre também podem ocorrer (GRIFFIN, 2007), porém o envolvimento de muitos órgãos não é comum (BICHARD; SHERDING, 2008). Figura 6: Hipersensibilidade alimentar em um Irish Setter. Alopecia, eritema e escoriações na face, extremidades e flanco. O local de lesão é semelhante à atopia. Fonte: Hnilica; Medleau (2003). Figura 7: Visualização próxima do cão da Figura 6. Há hiperpigmentação e liquenificação discretas, causadas por dermatite secundária por levedura. Fonte: Hnilica; Medleau (2003). 13 Clinicamente, é muito difícil distinguir o prurido de alergia alimentar da dermatite atópica, devido à semelhança entre estas duas dermatites no local das lesões (Figuras 6 e 7). Este fator se apresenta em 30% dos cães com dermatite atópica concomitante a alergia alimentar (DAY, 2005). Loeffler e seus colaboradores em 2006 relatam que dentre os 63 cães em estudo, somente 22 cães retornaram para a confirmação do diagnóstico. E a partir deste, uma reação adversa alimentar sozinha foi diagnosticada em 9 (19,6%) dos 22 cães e outros nove também tiveram uma reação adversa alimentar acompanhada de atopia. Chesney (2002), num período de um ano, trabalhou com 251 cães que foram apresentados para uma base clínica especializada em dermatologia no Reino Unido, sendo que oitenta e cinco desses foram diagnosticados como portadores de sintomas compatíveis com atopia, ou sofria de otite crônica ou piodermatite recorrente. Todos os 85 cães foram colocados em uma dieta cuidadosamente restrita durante oitenta e nove semanas, para verificar se os sintomas eram devido à sensibilidade alimentar. No total, 19 cães foram diagnosticados com sensibilidade alimentar, sendo que 8% destes apresentaram os sinais clínicos típicos à hipersensibilidade, e 32,7% dos cães com sinais clínicos compatíveis ao diagnóstico de atopia. Na dermatologia humana, atopia é considerada constitucional predisposição para certos estados alérgicos que se expressam clinicamente como rinite sazonal, asma ou dermatite atópica ou eczema, e muitas vezes, embora não invariavelmente, acompanhado do desenvolvimento de anticorpos IgE aos alérgenos. A sensibilidade alimentar em um subgrupo de pessoas atópicas 14 desempenhou um papel patogênico (CHESNEY, 2002). O mesmo é extrapolado para as manifestações clinicas em cães, pois neste estudo feito por Chesney (2002) alguns cães sofreram tanto sensibilidade a alimentos quanto a alergia a aeroalérgenos. A Insuficiência Pancreática Exócrina (IPE) também pode ocasionar a alergia alimentar. Como relatada por Biourge e Fontainey (2009) os sinais dermatológicos comuns à hipersensibilidade alimentar foram observados em três cães da raça Pastor Alemão e as alterações morfológicas e funcionais da mucosa intestinal e a má resposta ao tratamento rotineiro a IPE propiciou o aparecimento de lesões de pele. O pâncreas por atrofia, inflamação, hipoplasia ou neoplasia, perde 90% da capacidade secretória das células acinares. Clinicamente, tal anormalidade ocorre pela produção insuficiente da secreção pancreática e manifesta-se com diarréia crônica, perda de peso e má nutrição (BICHARD, SHERDING, 2008). Por isso a IPE também é conhecida como síndrome de má digestão e má absorção de nutrientes pelo intestino delgado (BIOURGE; FONTAINEY, 2009). Os três cães incluídos no relatório de caso de Biourge e Fontainey (2009), haviam sido diagnosticados com IPE há muitos anos antes da apresentação de doença de pele. Desses cães um apresentava diarréia líquida e os outros dois ataques periódicos de fezes moles, esses sintomas não foram controlados com uma dieta altamente digerível mesmo com a suplementação de enzimas pancreáticas e antibioticoterapia. Os cães, além de não atingir o escore de condição corporal ideal cinco (ECC: 2-2,5) mostraram diversos sinais da doença cutânea compatível com reações adversas à alimentação: prurido intenso, 15 eritema, seborréia e piodermatite recorrente. O prurido bem como os sinais de doença de pele foram completamente controlados em dois cães e no terceiro houve marcadamente melhoria do quadro após os três meses restantes. O aparecimento de sinais dermatológicos durante o longo período de acompanhamento de cães IPE é comum, especialmente em Pastor Alemão. Um defeito na barreira da mucosa intestinal possibilita a absorção de proteínas em sua forma intacta, ocasionando numa maior sensibilidade (BIOURGE; FONTAINEY, 2009). 2.3. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL A alergia alimentar é distinta de outros tipos de hipersensibilidade (atopia, picada de pulga, de contato) e ainda é diferenciada das parasitoses (escabiose, cheiletiose, pediculose), da foliculite (bactérias, dermatófitos, Demodex) e da dermatite por Malassezia (HNILICA; MEDLEAU, 2003). Porém, neste processo de eliminação deve se priorizar a dermatite atópica, pois além dos sinais clínicos semelhantes (lesões de pele, otite e sinais gastrintestinais) a predisposição em cães jovens com menos de um ano também é observada (OSBORN, 2006). Loeffler et al. (2006), de todos os 46 cães com sinais de prurido não sazonal, identificou a atopia em 37% (17 indivíduos) dos casos; dermatite alérgica por picada de pulga (DAPP) foi diagnosticada em 4% (2) dos cães; e, doenças não alérgicas foram avaliadas em 11% (5). No total, 80% (37) dos 46 cães foram 16 diagnosticados com uma doença alérgica da pele e em 19% (9) deles uma reação adversa alimentar foi à única causa aparente do prurido. O padrão da distribuição anatômica das lesões causada por prurido não sazonal, também assume grande importância no raciocínio clínico, para o encaminhamento do diagnóstico. Porém, este importante parâmetro não pode ser utilizado quando se abordam os casos de DAPP e atopia (LOEFFLER et. al, 2006; GRIFFIN, 2007). 2.4. DIAGNÓSTICO: A pele é o maior órgão de um organismo. Ele determina as formas, as características das raças caninas e mantém o recobrimento piloso. É uma barreira anatômica e fisiológica contra o meio ambiente, promovendo proteção contra injúrias físicas, químicas e microbiológicas. Ela é sensível ao calor, ao frio, à dor, ao prurido e à pressão (LUCAS, 2004). Por ser um órgão tão exposto, o tegumento sofre várias agressões que favorecem o aparecimento das doenças dermatológicas. Isto se confirma pelo elevado número de atendimentos nas clínicas de pequenos animais. Porém, dentre todos os sistemas, este se destaca por apresentar mais erros na abordagem pelo clínico (LUCAS, 2004). O diagnóstico é um desafio a ser vencido. A doença deve ser reconhecida com base nos dados obtidos na anamnese, no exame físico (LUCAS, 2004). Os exames complementares serão citados para atender a finalidade de uma revisão 17 de literatura. No entanto, estes não são relevantes para o diagnóstico de hipersensibilidade alimentar em cães. 2.4.1. ANAMNESE: A anamnese consiste em adquirir do proprietário o máximo de informação sobre o cão. Nesta obtemos a queixa principal e desta, informações complementares como: tempo de evolução, início do quadro clínico, se o animal foi submetido a outros tratamentos e se houve melhora após a administração de algumas drogas (LUCAS, 2004). Animais com hipersensibilidade alimentar são considerados portadores de prurido resistente à terapia com glicocorticóide. No entanto, isto não deve ser considerado uma característica da hipersensibilidade alimentar, pois alguns animais respondem à administração de glicocorticoides (HNILICA; MEDLEAU, 2003; BICHARD; SHERDING, 2008). É importante que se determine os antecedentes do animal como grau de parentesco, avaliando a possibilidade de caráter hereditário. Há a necessidade de se conhecer a periodicidade dos quadros que são ou não perenes (LUCAS, 2004). No caso da hipersensibilidade alimentar, o prurido se mantém com o mesmo grau de intensidade por todo o ano (HNILICA; MEDLEAU, 2003; LOEFFLER et. al., 2006; GRIFFIN, 2007; BICHARD; SHERDING, 2008; LARSSON; SALZO, 2009). 18 A identificação do animal quanto ao fator idade e raça auxiliam no diagnóstico, como relatados anteriormente, por isso é importante que sejam citados na anamnese. O tipo de ambiente em que o animal vive e a sua higienização, também, devem ser averiguados. Questionamentos sobre qual o produto utilizado para a limpeza, o tempo em que as fezes permanecem no local e o tipo de piso são fatores relevantes para o diagnóstico. Assim como averiguar se o cão é domiciliado, semi-domiciliado ou não; e se ele tem convívio com outros animais e se estes, também, apresentam ou não os mesmos sinais clínicos (LUCAS, 2004). Estas perguntas não estão diretamente ligadas à reação adversa alimentar, mas auxiliarão no diagnóstico diferencial. O maior interesse se volta para as questões que envolvem a alimentação do cão. Como a alergia alimentar pode não estar associada a recente mudança na dieta, os alimentos ingeridos anteriormente devem ser especificados, até dias antes da manifestação dos sinais clínicos (DAY, 2005). Petiscos, guloseimas, restos de refeição, ração para gatos oferecidos aos cães e medicamentos aromatizados, devem ser informados ao clínico. Lembrando-se que cães que convivem com gatos possivelmente ingerem peixe presente na ração felina ou nas fezes dos gatos (BICHARD; SHERDING, 2008). Uma vez que a nutrição influencia muito na qualidade da pele e do pelame (LUCAS, 2004), a qualidade da ração fornecida também deve ser considerada, ressaltando qual é o tipo de ração (seca, úmida ou semi-úmida), sua marca comercial e a sua principal fonte protéica. Estas informações também 19 ajudam a elucidar a causa de quadros relacionados ao trato gastrointestinal (vômito e diarréia) (CAMARGO; TOLEDO, 2004). A avaliação do prurido é outro desafio para o clínico. O veterinário deve diferenciar o prurido fisiológico do patológico. O prurido patológico é quando o animal passa a se coçar 30% do dia. Uma vez considerado patológico, o próximo passo é quantificar a coceira. Há duas maneiras de se classificar o prurido. A classificação é realizada pela intensidade dos sinais, ou seja, leve, moderado e severo. A nota zero é dada ao animal com prurido fisiológico. A Nota de um a quatro classifica o prurido de leve; de cinco a sete o prurido é moderado; e, de oito a dez o prurido é considerado severo. O animal quando com prurido severo apresenta a qualidade de vida afetada, pois não consegue dormir e comer adequadamente. O prurido pode-se manifestar por lambeduras, mordidas e pelo ato de se friccionar em paredes ou fômites (LUCAS, 2004). Tendo a hipersensibilidade uma variedade de sinais clínicos, outros sistemas podem estar envolvidos e por isso devem ser citados e investigados pelo médico veterinário. 2.4.2. EXAME FÍSICO: Após a anamnese é feita a caracterização detalhada das lesões de pele através de inspeção direta, o exame físico. O clínico pode se dispor de uma representação esquemática (Figura 8) para anotação dessas lesões durante esta inspeção (LUCAS, 2004). Estas alterações quando anotadas num quadro esquemático na ficha clínica, além de facilitar a avaliação destas lesões, auxilia 20 no acompanhamento da evolução do quadro clínico pelo veterinário e pelo próprio proprietário. Figura 8: Representação esquemática para anotação em região anatômica das lesões cutâneas reconhecidas durante o exame físico. Fonte: Lucas (2004). O exame físico inicia-se a partir do primeiro contato visual, verificando a gravidade do quadro nas regiões acometidas (lombar, membros, abdômen, face, axilas e períneo) e a observação de prurido e da alopecia (regiões com ausência de pêlo), classificando as lesões de pele quanto à distribuição e morfologia (LUCAS, 2004). Na hipersensibilidade alimentar, de acordo com a classe de distribuição das lesões, elas podem ser classificadas em localizadas, originando de uma a cinco lesões cutâneas individualizadas, e em generalizadas com acometimento difuso de mais de 60% da superfície corporal do animal. Quanto à morfologia das lesões de pele, temos as manchas vásculosanguíneas (eritema, Figura 9), que após a digitopressão a pele volta a adquirir a 21 sua coloração; e ainda as manchas por hiperpigmentação (Figura 10). Podem ocorrer formações sólidas (pápulas; lesões circunscritas, elevadas, que podem medir um centímetro de diâmetro, Figura 11); liquenificação (Figura 12, espessamento da pele, dando aspecto quadriculado); e perdas teciduais tal como escamas (Figura 13, células da camada córnea que se despendem da superfície da pele, por alteração da queratinização); escoriação (Figura 14, perda linear da epiderme, decorrente de lesão auto-traumática); colarete epidérmico (Figura 15, fragmento de epiderme circular que resta aderido à pele após a ruptura de bolhas); e, crostas (Figura 16, concreção que se forma por perda tecidual e dessecamento de serosidade, pus ou sangue) (LUCAS, 2004). Figura 9: Cão, Dálmata, fêmea de 11 meses, com eritema generalizado. Fonte: Lucas (2004). Figura 10: Cão, SRD, fêmea de 3 anos de idade, com lesão alopécica e hiperpigmentação. Fonte: Lucas (2004). 22 Figura 11: Cão, SRD, macho com 5 anos, com pápulas múltiplas. Fonte: Lucas (2004). Figura 12: Cão, Dachshund, macho com 6 anos, com alopecia e liquenificação. Fonte: Lucas (2004). Figura 13: Cão, fêmea de 7 anos, com descamação. Fonte: Lucas (2004). Figura 14: Cão, macho de 1 ano de idade, com escoriação. Fonte: Lucas (2004). Figura 15: Cão, Yorkshire, macho de 6 anos de idade, com colarinho epidérmico. Fonte: Lucas (2004). Figura 16: Cão, SRD, fêmea de 14 anos de idade, com crostas hemorrágicas. Fonte: Lucas (2004). 23 2.4.3. EXAMES COMPLEMENTARES: Na dermatologia veterinária, os exames complementarem auxiliam os achados no exame físico e podem ser obtidos imediatamente ou não. Porém, na hipersensibilidade alimentar a sua importância para o diagnóstico é discutida. O pedido de hemograma, em animais de pequeno porte, não é usual na hipersensibilidade alimentar, pode ter ou não a eosinofilia periférica (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 1996; BICHARD; SHERDING, 2008). A histopatologia da pele pode apresentar graus variáveis de dermatite perivascular superficial, com a possibilidade de predomínio de células mononucleares ou neutrófilos, porém este exame não possui um valor diagnóstico considerável (HNILICA; MEDLEAU, 2003; BICHARD; SHERDING, 2008). O teste intradérmico com extratos alimentares geralmente apresenta resultados insatisfatórios em humanos e pequenos animais, possivelmente devido às alterações na composição do alérgeno após a digestão ou à diluição inadequada do alérgeno testado (DAY, 2005; BICHARD; SHERDING, 2008). Os testes descritos como RAST (radioalergosorbent test) e ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay) são duas metodologias de detecção quantitativa de IgE, em soro de animais, para diagnóstico diferencial de dermatopatias alérgicas (OSBORN, 2006). Na alergia alimentar, os antígenos são proteínas presentes no alimento, porém um alimento pode ter as estruturas protéicas alteradas após a cocção e processamento pela indústria de rações, consequentemente alteração dos determinantes antigênicos (LUCAS, 2004; DAY, 2005). Estes testes in vitro ou sorológicos não identificam o alérgeno ofensivo 24 específico conforme determinado no desafio da dieta de restrição (DAY, 2005; OSBORN, 2006), estes indicam, a importância de se caracterizar as proteínas dos alimentos a nível molecular (ARÉVALO et al., 2004). Na patogenia da alergia alimentar não há apenas o envolvimento de IgE e IgG, as reações imunológicas tipo III e IV, como são classificadas, não apresentam o envolvimento de imunoglobulinas e não são identificadas por estes testes (DAY, 2005). Novamente, pelos fatos expostos, esses exames são de pouca valia no diagnóstico desse tipo de dermatite alérgica (HNILICA; MEDLEAU, 2003; LUCAS, 2004; BICHARD; SHERDING, 2008; LARSSON; SALZO, 2009). No entanto, avanços recentes na purificação, caracterização e expressão de uma série de alérgenos alimentares como proteínas recombinantes têm permitido significativas melhorias dos testes in vitro em laboratório (ARÉVALO et al., 2004). Por isso, atualmente, o método de diagnóstico mais válido e mais frequentemente recomendado para hipersensibilidade alimentar é o teste de restrição alimentar ou teste hipoalergênico ou de eliminação (DAY, 2005; BICHARD; SHERDING, 2008; LARSSON; SALZO, 2009) que será explicado a seguir. 2.4.4. TESTE DE RESTRIÇÃO ALIMENTAR Antes de colocar em prática o teste de restrição alimentar é necessária a certeza da cooperação do proprietário. A duração e as finalidades dessa etapa diagnóstica e a necessidade do envolvimento de toda a família, devem ser 25 compreendidas antes de ser dado o início da nova dieta (GUAGUÈRE; BENSIGNOR, 2005). Neste período nenhum outro alimento, além de água, deve ser oferecido ao cão (OSBORN, 2006; BICHARD; SHERDING, 2008). Isto significa que se deve evitar o uso de alimentos ingeridos anteriormente, inclusive petiscos, guloseimas, restos de refeições, vegetais, ração para gato, vitaminas e brinquedos de morder. Os medicamentos aromatizados (como alguns profiláticos para ectoparasitas e endoparasitas, suplementos vitamínicos e minerais) devem ser substituídos por outras preparações igualmente efetivas e sem sabor durante o teste. Pasta de dente aromatizada com proteína deve ser substituída pela variedade com sabor de malte. Como a dieta de restrição não é balanceada, o proprietário deve ser alertado sobre a possibilidade do cão de perder peso, exibir pelame opaco ou escamação, ou ainda, manifestar maior apetite do que o habitual (BICHARD; SHERDING, 2008). O princípio do regime de privação consiste em subtrair do animal suspeito, os trofo-alérgicos potencialmente responsáveis pelos transtornos cutâneos (GUAGUÈRE; BENSIGNOR, 2005; MUELLER, 2003). Este teste em cães pode se iniciar com alimentos preparados em casa, consistindo de uma fonte protéica e uma fonte de carboidratos anteriormente não oferecida (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 1996; MUELLER, 2007; BICHARD; SHERDING, 2008). As opções de fontes protéicas são a carne de galinha, peru, pato, veado, carne ovina, bovina, equina, bubalina, coelho, lebre, canguru, emu e peixes. Algumas fontes de carboidratos listadas para consumo são arroz, batata, batata- 26 doce e feijão (MUELLER, 2003). Nesta dieta restritiva o alimento deve compor no mínimo 25% de proteína (MUELLER, 2007). Um exemplo de dieta relatado por Chesney (2002) constitui de uma parte de carne de porco para duas partes de batata, estes podem estar cozidos ou assados. Uma ou duas colheres cheias (5 a 10 ml) de azeite também podem ser adicionados aos alimentos. Já Griffin (2007) sugere que a dieta caseira seja composta de feijão ou carne de avestruz, como fonte protéica, e de inhame ou abóbora, como fonte de carboidrato, assim, como óleo de canola, oliva ou de girassol também podem ser adicionados em pequena quantidade para aumentar a palatabilidade e a densidade calórica da dieta. Loeffler e seus colaboradores (2006) citam em seu estudo que a dieta caseira foi considerada, por outros pesquisadores, o teste mais seguro para o diagnóstico de hipersensibilidade, sendo que alguns cães apresentaram também reação adversa a alguns ingredientes das dietas comerciais. Porém, Loeffler et al. (2006) contesta dizendo que as dietas caseiras são nutricionalmente incompletas e inadequadas para a manutenção do cão depois de confirmado o diagnóstico de hipersensibilidade alimentar. Demonstram em seu estudo, a eficácia do hidrolisado de frango para o diagnóstico e manutenção dos cães alérgicos alimentares. Scott, Miller e Griffin (1996) dizem que para os cães jovens em crescimento, quando o proprietário escolhe a dieta caseira, há a necessidade de se fazer uso de suplementos como o cálcio, em doses baixas, bem como vitaminas e ácidos graxos essenciais. 27 Os proprietários quando impossibilitados de preparar os alimentos para os animais de estimação podem optar por alimentos comerciais com restrição a antígenos disponíveis no mercado denominadas de dietas hipoalergênicas, como: Purina LA (salmonídeo); Iams FP (peixe e batata); KO (canguru e aveia); IVD de carne de pato, de veado, de pescada branca ou coelho, com batata; Hills D/D (carne de pato ou peixe, com arroz); ou Waltham com carne de peixe arroz (BICHARD; SHERDING, 2008). Essas dietas hipoalergênicas compõem de novas proteínas, que anteriormente nunca foram oferecidas ao animal, ou por proteínas hidrolisadas na forma não alergênica (OSBORN, 2006). As proteínas são compostos orgânicos extremamente complexos e formados fundamentalmente por uma sequencia de aminoácidos que compõem Carbono (C), Hidrogênio (H), Oxigênio (O) e Nitrogênio (N) (Figura 17 e 18). Estruturalmente as moléculas protéicas apresentam peso molecular elevado, de 35000 daltons até moléculas mais simples de baixo peso molecular constituídas pelos hidrolisados (aminoácidos). Os aminoácidos são formados por um grupo ácido (carboxílico) e um básico (amínico) como observado na Figura 17A. Eles são o produto da hidrólise das moléculas protéicas, as quais são unidas pela ligação peptídica que reunem os grupos amino (NH2) e carboxílico (COOH) ou outros grupos reagentes (R) como observado na Figura 17B (ANDRIGUETTO et. al., 2002; LEHNINGER; NELSON; COX, 2007). 28 A B Figura 17: Estrutura química geral dos (A) aminoácidos e (B) representação de uma ligação peptídica. Fonte: Lehninger; Nelson e Cox (2007). Figura 18: Níveis da estrutura protéica. Fonte: Lehninger; Nelson e Cox (2007). A Figura 18 apresenta a estrutura primária da proteína que é composta de uma sequência de aminoácidos que estão ligados entre si por ligações peptídicas (pontes de dissulfeto). O polipeptídio resultante pode se apresentar em forma espiral na estrutura secundária, como uma α hélice. A α hélice é uma parte da estrutura terciária que é formada por uma cadeia polipeptídica dobrada. Esta em si é uma das subunidades que compõem a estrutura quaternária (LEHNINGER; NELSON; COX, 2007). 29 Há mais de 50 anos, as proteínas hidrolisadas são utilizadas para substituir aminoácidos presentes no leite materno, principalmente para a gestão de alergia ao leite de vaca em lactantes. Em contraste, as dietas formuladas para cães que usam hidrolisados proteicos (fonte de aminoácidos) são recentes e estão disponíveis há menos de uma década no mercado. O principal objetivo da hidrolise protéica em dietas especializadas é alteração da antigenicidade desta proteína, ou seja, elimine os alérgenos existentes e epítopos alergênicos, impedindo o reconhecimento imunológico dos pacientes já sensibilizados por uma proteína na sua forma intacta (CAVE, 2006). Um segundo objetivo poderia ser a interrupção destas proteínas de tal forma que não haja antígenos capazes de induzir uma resposta imune, levando à sensibilização em um indivíduo ingênuo (CAVE, 2006). Cave (2006) diz que um antígeno é definido como uma substância capaz de estimular a produção de anticorpos. No caso de hipersensibilidade alimentar em cães estes antígenos são normalmente as proteínas que, quando alergênicas, são identificadas pela imunoglobulina E (IgE). A ligação entre duas imunoglobulinas (IgE) em seus respectivos receptores de ligação com o mesmo alérgeno, induzem a degranulação do mastócito (Figura 19A). A hidrólise da proteína impede esta degranulação dos mastócitos, pois a proteína alergênica é suficientemente hidrolisada e por mais que alguns fragmentos mantenham a capacidade de se ligarem a IgE, as ligações cruzadas entre as duas imunoglobulinas em seus respectivos receptores em um mesmo alérgeno não está presente (Figura 19B). 30 Por isso a dieta hipoalergênica demonstra possuir uma substancial redução da antigenicidade e é bem tolerada pela maioria dos pacientes sabidamente hipersensíveis a forma protéica intacta (BOND; CATARINA, 2004; CAVE, 2006; LOEFFLER et. al., 2006; OSBORN, 2006; LARSON; SALZO, 2009). Figura 19. A) Degranulação do mastócito frente a uma proteína intacta. B) Não degranulação do mastócito frente a uma proteína hidrolisada. Adaptação da fonte: Cave (2006). Sobre a antigenicidade de uma proteína, Cave (2006) complementa ao referir se que é determinada pela estrutura primária, secundária e, terciária (Figura 18). A redução da antigenicidade consiste em interromper a estrutura tridimensional da proteína (estruturas secundária e terciária), alterando o lado da estrutura das cadeias polipeptídicas (por exemplo, a conjugação de aminoácidos com açúcares, oxidação de aminoácidos), ou clivagem de ligações peptídicas (hidrólise). 31 Os métodos que reduzem a antigenicidade são: tratamento por calor, alteração de pH, hidrólise enzimática e filtração, Cave (2006) cita todos estes métodos que serão descritos a seguir. O efeito do tratamento térmico afeta a conformação tridimensional da estrutura protéica, modificando-a. A eficácia do tratamento térmico depende do grau de desnaturação protéica alcançado por alta temperatura. Entre as proteínas do leite, a caseína é relativamente estável ao calor e pode suportar temperaturas de até 130ºC por mais de uma hora sem desnaturação significativa. Em contraste, as proteínas do soro desnaturam em torno de 80ºC. Assim, em seres humanos, foi demonstrado que, embora o tratamento térmico possa reduzir o número de antígenos de proteína de soro de leite há pouco efeito sobre os antígenos de caseína. O tratamento utilizado através do calor apenas reduz a alergenicidade de um dos produtos do leite, o soro. Loeffler e seus colaboradores (2006) explicam este fato nos relatos de muitas das alergias alimentares identificadas em animais domésticos incluírem reações aos componentes da proteína na dieta comercial (seco ou enlatado). Pois nestas há um número significativo de alérgenos estáveis ao calor, durante a fabricação. Outro efeito do tratamento térmico sobre as proteínas é a influencia na mudança da conformação tridimensional da proteína revelando determinantes alergênicos anteriormente ocultos. A alteração no pH reduz a antigenicidade de uma proteína que já sofreu mudanças em sua estrutura por alta temperatura. Porém o tratamento térmico e os ajustes de pH isoladamente não reduzem a alergenicidade das proteínas (CAVE, 2006). 32 A hidrólise enzimática consiste na clivagem de uma molécula protéica, tendo como finalidade a sua fragmentação. Este é o meio mais seguro de se reduzir a antigenicidade. O alimento apresenta certo grau de variação de aminoácidos e polipeptídeos de grande peso molecular, por isso pode-se empregar métodos de filtração cuja finalidade é a remoção dos fragmentos maiores, normalmente alérgenos. Atualmente, a ultra-filtração do hidrolisado é o método mais amplamente usado para remover os fragmentos de grande peso molecular. O tamanho do filtro e a eficiência da filtração pode determinar o sucesso deste processo. Contudo, tal processo acrescenta um custo considerável ao produto final (CAVE, 2006). Para a seleção inicial de uma dieta rica em proteínas hidrolisadas, considera-se que nenhuma das rações comerciais garanta a completa ausência de todos os alérgenos. Portanto, é prudente escolher uma dieta que não contenha uma fonte protéica em que o paciente possa ser sensibilizado. A Tabela 1 apresenta as fontes de proteínas, carboidrato e lipídios que compõem algumas rações comerciais. Cave (2006) relata que o sabor amargo da ração hidrolisada oferece o maior obstáculo para a palatabilidade. A sensação de gosto amargo de peptídeos é relacionada com sua hidrofobicidade, produto de sua composição de aminoácidos. No entanto, hidrolisados proteicos têm sido utilizados para melhorar a palatabilidade dos alimentos comerciais para cães. Em um estudo com 63 cães alimentados com uma dieta baseada em frango hidrolisado comercial, a palatabilidade foi considerada boa ou excelente por 48 (76%) cães em estudo e 33 por 10 (16%) como sendo pobre, mas só foi recusado por quatro cães (6%) (LOEFFLER et. al., 2006). TABELA 1. DIETAS COMPLETAS, EQUILIBRADAS E RICAS EM PROTEÍNA HIDROLISADA PARA CÃES*. Nome comercial Fonte Protéica Fonte de Carboidrato Hill’s z/ d Ultra Hidrolisado de frango Amido de milho, celulose Allergen Free e de fígado de frango Hidrolisado de frango, Hill’s z/d Low Allergen batata, hidrolisado de fígado de frango. Proteína hidrolisada de soja. Royal Canin Proteína Hypoallergenic de soja. Óleo de soja. celulose. de milho, celulose, goma vegetal (goma arábica e goma guar gum). hidrolisada Óleo de soja. Batata, fécula de batata, Amido Nestlé-Purina HA Fonte lipídica Arroz, polpa de beterraba, Fruto-oligossarcarídeos Óleo vegetal, óleo de canola, óleo de milho. Óleo de soja, óleo de peixe, óleo de borragem, gordura de frango. *Ingredientes tomados a partir das guias de produtos dos fabricantes (maio 2011). Adaptação da fonte: Cave (2006). Bond e Catarina (2004) fizeram um estudo com 62 cães para confirmação do diagnóstico de reação adversa alimentar a ração hipoalergênica Nestlé-Purina HA (Tabela 1). Dos 62 cães, oito foram desligados do estudo, e cinco cães se recusaram a comer a dieta, estes cães também foram excluídos do estudo. Dos 49 cães, 42 cães foram atestados por seus proprietários que a dieta forneceu uma boa palatabilidade do produto. Trinta e nove cães foram alimentados exclusivamente da dieta, mas os proprietários de 10 cães alimentaram com pequenas quantidades de outros alimentos durante o período experimental. 34 O objetivo da hidrólise protéica é alterar a sua antigenicidade, pois o tamanho do hidrolisado é crucial para se determinar a "aparência imunológica" da proteína e sua capacidade de ser reconhecido pelo sistema imunológico. Estas rações contendo a soja e o frango (carne e fígado) são os hidrolisados proteicos mais utilizados para fabricação da dieta hipoalergênica para animais de estimação. A soja e o frango quando hidrolisados apresentam peso molecular dos aminoácidos na faixa de 6000 a 12000 daltons e a hidrólise não só proporciona a alteração do seu peso molecular como também no gosto amargo à fonte protéica, como anteriormente descrito por Cave em 2006 (LUDLOW, 2005). As rações comerciais quando denominadas de “naturais”, por serem isentas de conservantes, não são adequadas para o teste, pois esses produtos não preenchem os critérios de uma dieta verdadeiramente restrita, seus ingredientes não foram certificados quanto a sua alergenicidade (BICHARD; SHERDING, 2008). A maioria dos animais apresenta melhora clínica após o início a restrição alimentar, e isto é observado no período de um dia a quatro semanas, mas para a cura definitiva do prurido, pode-se levar um tempo de até oito semanas, caso não haja outros sinais clínicos (GUAGUÈRE; BENSIGNOR, 2005; BICHARD; SHERDING, 2008). Para Mueller (2003) e Osborn (2006) a resposta positiva aos sintomas também se evidencia no período entre seis a oito semanas após o início do teste de restrição alimentar. Geralmente, o alimento comercial propicia cerca de 90% de probabilidade de definição do diagnóstico de alergia alimentar. No entanto, as rações comerciais poderão ser substituídas por outro produto comercial ou o proprietário passará a 35 realizar o preparo caseiro do alimento, durante o período de teste. No caso das dietas caseiras os ingredientes poderão ser substituídos durante o teste de restrição, por batata e arroz (BICHARD; SHERDING, 2008). A melhora parcial do quadro indica que a dieta não foi administrada por tempo suficiente para um efeito completo ou há possibilidade de outros tipos de hipersensibilidade concomitante (DAY, 2005; BICHARD; SHERDING, 2008). A fase de provocação, na qual o animal é desafiado com sua dieta original, só deve ser realizada se os sintomas tiverem claramente regredido após a fase de privação. A realização dessa fase de provocação é indispensável ao diagnóstico, pois mais de 50% dos animais que melhoram por um regime de privação não apresentam recaídas quando há a reintrodução da dieta original. Esses animais não são alérgicos alimentares, por isso é inútil alimentá-los pelo resto da vida com alimentos onerosos, eles são em sua maioria indivíduos atópicos que correm o risco de recair alguns meses mais tarde (GUAGUÈRE; BENSIGNOR, 2005). Já nos cães com reação adversa alimentar, a reintrodução do antigo alimento, gera uma recidiva na afecção dentro de 72 horas a duas semanas, por isso o ingrediente restringido deve ser adicionado à dieta em intervalos de 5 a 10 dias. Esta fase se repete até descobrir quais são os alérgenos ofensores (GUAGUÈRE; BENSIGNOR, 2005). Mueller (2007) também começa com uma exposição sequencial de proteínas individuais. Inicia-se com o fornecimento de pedaços de carne bovina seguida de cordeiro, e frango, já para os produtos lácteos insere-se queijo ou leite na dieta, e, por fim é incluída a pasta para verificar a alergenicidade a proteína do 36 trigo. O cão é alimentado com cada tipo de proteína por aproximadamente uma semana para observar se os sinais clínicos retornam. Já Osborn (2006) faz uso de uma tabela de protocolo do acompanhamento das reações adversas frente à exposição a alimentos alergênicos ou não que estão listados na Tabela 2. Osborn (2006) em seu estudo indica ao cliente adicionar itens (½ a uma xícara de cada ingrediente) na dieta hipoalergênica de seu cão uma vez durante 14 dias. Com a introdução do alimento anteriormente restrito, o proprietário é incentivado a observar seu cão e a qualquer aparecimento de prurido (reação adversa alimentar positiva), o mesmo deverá cessar o fornecimento do alimento e o cão volta a se alimentar exclusivamente da dieta hipoalergênica até que todos os sinais desaparecerão. Desde a data do aparecimento dos sinais clínicos, após o teste de provocação, até o dia em que os sintomas se encontram ausentes, todos estes dias são marcados com um “x” na tabela de protocolo. Se após 14 dias o animal não vier a apresentar nenhum sinal clínico, o alimento em teste não é alergênico e poderá ser fornecido normalmente ao cão, posteriormente. Este protocolo alimentar deve ser repetido até encontrar a proteína ofensiva. A reação adversa alimentar é descartada se não houver nenhuma melhora após oito semanas da dieta de restrição ou se os sinais clínicos não retornarem após duas semanas sobre a antiga dieta (MUELLER, 2007). 37 TABELA 2. ACOMPANHAMENTO DAS REAÇÕES ADVERSAS FRENTE À EXPOSIÇÃO A ALIMENTOS ALERGÊNICOS OU NÃO. Dia Alimento 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Queijo Cottage Tofu Frango Ovos Carne Bovina Trigo Carne Branca Farinha de milho Adaptado da fonte: Osborn (2006). Larsson e Salzo (2009) mostram que dos 117 cães submetidos à dieta de eliminação 44 cães apresentaram melhora de 80% do quadro clínico. O tempo necessário para obter uma resposta à dieta foi estabelecido em apenas seis animais, sendo que em cinco deles houve uma nítida melhora após seis semanas da adoção da dieta e foram necessárias apenas três semanas para a melhoria de um único animal. Os sintomas eram diversos, na qual o prurido era predominante, podendo alguns animais sofrer de otite e distúrbio gastrintestinal. Desses 44 animais, 36 foram submetidos à exposição provocativa e em 20 deles foram possível a identificação do(s) alimento(s) causador(es) da dermatopatia. Para Larsson e Salzo (2009), em seu estudo, os alérgenos mais 38 comuns que induziram a hipersensibilidade dietética canina eram derivados de carne bovina, arroz e carne de frango. Vários outros estudos foram realizados com a intenção de se identificar os principais alérgenos alimentares em cães. Esses são mencionados na Tabela 3 a qual indica quais os alérgenos alimentares comumente encontrados por seus respectivos estudiosos. TABELA 3. ALIMENTOS COMPROVADOS ALERGÊNICOS PARA CÃES, RELATADOS EM ESTUDOS DE CASOS. Arévalo (2004) et. al. Carne bovina Carne de cordeiro X X Frango Leite de Milho vaca Ovos de galinha Soja Trigo X X X X X Day (2005) X X X X Osborn (2006) X X X X X X X Griffin (2007) Bichard e Sherding (2008) X Larsson e Salzo (2009) X X X X X X X Segundo a Tabela 3, os alérgenos mais comuns que induzem a hipersensibilidade dietética canina, entre todos os estudos mencionados, derivam primeiramente de carne bovina, carne de frango, soja e leite de vaca, seguidos de menor ocorrência o milho, o trigo e ovos de galinha. Larsson e Salzo (2009), também, observaram que alguns cães apresentaram hipersensibilidade ao arroz, assim como, Bichard e Sherding (2008) descrevem o queijo e o chocolate como causadores da alergia alimentar em cães. 39 Scott, Miller e Griffin (1996), afirmam que raramente os animais são alérgicos a vários alimentos, mas mesmo assim necessitam de reavaliação das dietas de eliminação para uma melhor pesquisa durante o teste de restrição. Day (2005) indica que os alérgenos comumente são as proteínas e que há pouca evidência de que gorduras, carboidratos ou aditivos alimentares induzam hipersensibilidade em cães. Este fato pode ser observado na literatura listada na Tabela 3, na qual revelam nos estudos a importância para o diagnóstico de hipersensibilidade alimentar da carne bovina que e apresenta como o alimento alergênico mais comum, seguido do frango, leite de vaca, soja e milho. Uma vez identificado o alimento alergênico, o seu fornecimento ao cão deverá ser evitado futuramente, bem como avaliar a importância do alimento privado na dieta do cão e quais as alternativas para sanar o valor nutricional do alimento por outras fontes ou até mesmo a utilização de hidrolisados proteicos. 2.5. TRATAMENTO Ocasionalmente, o animal pode ser apresentado, ao veterinário, com prurido tão grave que se justifique a administração de corticosteróides enquanto se prepara a dieta de restrição. Sendo assim, é indicado administrar prednisona ou prednisolona, na dose de 0,5 a 1 mg/kg/24h, por via oral, de 10 a 14 dias. A dieta de restrição é mantida por, no mínimo, duas semanas após a interrupção do medicamento para que se possa avaliar adequadamente a resposta à dieta (BICHARD; SHERDING, 2008). Sendo neste caso o tratamento sistêmico com 40 glicocorticóide é eficaz para controlar o prurido (HNILICA; MEDLEAU, 2003; BICHARD; SHERDING, 2008). Larsson e Salzo (2009) em seu estudo confirmam a informação encontrada na literatura sobre a utilização de glicorticóide para o controle do prurido. Estes pesquisadores prescreveram prednisona para 11 cães, na dose descrita acima, durante sete dias iniciais da dieta de restrição, na qual dez desses obtiveram a melhora das lesões cutâneas e remissão do intenso prurido. E essa melhora perdurou durante todo o período de manutenção da dieta, mesmo com a interrupção do glicocorticóide. A resposta do prurido não sazonal a glicocorticóides e anti-histamínicos é frequentemente ineficaz quando a terapêutica de modo sistêmico é feita sem o acompanhamento de uma dieta hipoalergênica, pelo animal (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 1996; LOEFFLER et. al., 2006; ORBORN, 2006). A piodermite secundária, otite externa, escabiose e dermatite por Malassezia, quando presentes, devem ser tratadas com medicamentos apropriados, pois o controle da infecção secundária é um componente essencial no manejo de cães alérgicos a alimentos, assim como estabelecer um programa de controle de pulgas (HNILICA; MEDLEAU, 2003). Quando o único sintoma é piodermatite superficial recorrente, o tratamento com cefalexina, na dose de 30 mg/kg/12h durante quatro semanas, pode ser o suficiente. Não esquecendo que deve-se manter a medicação por no mínimo uma semana após a cura clínica, na dose de 20 mg/kg em intervalos de 24 horas (HNILICA; MEDLEAU, 2003). 41 Para o tratamento de otite externa, deve se avaliar antes o grau de inflamação e estenose (exame otoscópico) do conduto auditivo e realizar exames (microscopia, citologia, cultura bacteriana) para comprovação de uma infecção secundária ou não. O tratamento de otite externa consiste, primeiramente, na limpeza do conduto auditivo (água ou solução salina) para remoção do exsudato, a cada 2 dias. Instituir glicocorticóide sistêmico no caso de dor de ouvido, estenose e edema do conduto, nas mesmas doses descritas acima para o auxilio no tratamento (HNILICA; MEDLEAU, 2003). No caso de otite por levedura (Malassezia) deve se preparar uma solução otológica antifúngica (clotrimazol, nistatina, tiabendazol, miconazol) e instilar no conduto auditivo na dose de 0,2 a 0,4 ml, em intervalos de 12 horas, mantendo a medicação uma semana após a cura clínica da otite (HNILICA; MEDLEAU, 2003). Quando a Malassezíase estiver presente em outras regiões do corpo (perioral e perianal) e seu quadro for leve (lesões localizadas) o tratamento tópico com banhos com xampus a base de cetoconazol 2%, miconazol 2% ou clorexidina 3%, em intervalos de 2 a 3 dias, são eficaz para a cura clínica. Quando os casos são moderados a graves (lesão generalizada) o tratamento preferido é 5 a 10 mg/kg de itraconazol, por via oral, a cada 24 horas. Este é mantido por 2 a 4 semanas após a cura das lesões e ausência de fungos no exame citológico (HNILICA; MEDLEAU, 2003). No caso de otite bacteriana, deve-se preparar a solução otológica com antibióticos (gentamicina, neomicina, cloranfenicol, tobramicina, enrofloxacina) e a dose e o tempo de duração são os mesmo descritos na otite fúngica (HNILICA; MEDLEAU, 2003). 42 No caso de ácaros de orelha, todos os cães em contato com o doente, devem ser tratados. Os acaricidas otológicos são a selamectina (6 a 12 mg/kg, duas aplicações tópicas mensais), ivermectina (0,3 mg sub-cutâneo, a cada 10 dias, em três doses) ou fipronil (0,1 a 0,15 ml por via auricular, a cada 14 dias, em três doses) (HNILICA; MEDLEAU, 2003). Estes produtos também podem ser utilizados para o tratamento da escabiose canina havendo uma alteração na dose do fipronil na qual é aspergido sobre o corpo do animal na dose de 6 ml/kg, três aplicações com intervalos de 2 semanas. A solução de amitraz 0,025% pode substituir o fipronil (HNILICA; MEDLEAU, 2003). Para o tratamento eficaz e erradicação das pulgas o fipronil, também, pode ser utilizado de forma tópica no dorso do cão (spot on), num intervalo de 3 a 4 semanas para cada aplicação (HNILICA; MEDLEAU, 2003). Geralmente, a diarréia alimentar é autolimitante quando se utiliza a dieta restrita. Porém quando a doença inflamatória intestinal é considerada crônica a terapia consiste na administração de cobalamina (cães de pequeno porte administre 250 mcg sub-cutâneo, semanalmente; para cães de médio porte administre 500 mcg sub-cutâneo, semanalmente; e para cães de grande porte administre 1000 mcg sub-cutâneo, semanalmente.) para a regeneração da mucosa intestinal, corticosteróides, como citados, e metronidazol (10-20 mg/kg, a cada 12 horas). Outros antibióticos também podem ser usados como a doxicilina (10 mg/kg, a cada 12 horas) e a tilosina (20-40 mg/kg, a cada 12 horas) (BICHARD; SHERDING, 2008). 43 Depois do diagnóstico diferencial da HA excluir a DAPP, a escabiose e a doença seborréica de pele, o proprietário tem duas opções, onde na primeira pode continuar com a ração de eliminação comercial para sempre, e a segunda opção é manter uma dieta caseira, que deverá ser apropriadamente balanceada (MUELLER, 2003). Atualmente, uma variedade de dietas proteicas limitadas e diferentes é preparada por diversas empresas (Purina, Waltham), e são muito atraentes porque são convenientes e nutricionalmente completas (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 1996). Uma dieta balanceada além de contribuir para melhor nutrição do animal pode melhorar o bem estar dos cães que tenham hipersensibilidade alimentar e sua qualidade de vida. Há uma dificuldade na colaboração dos proprietários na identificação dos componentes alimentares potencialmente alérgenos, pois o interesse é apenas para obter um resultado rápido de uma dieta balanceada e menos onerosa ao seu cão (BICHARD; SHERDING, 2008). Contudo, o tratamento é simples, pois consiste apenas na privação definitiva do alimento incriminado. No entanto, no cão as sensibilizações parecem acentuar-se e diversificar-se com o tempo (GUAGUÈRE; BENSIGNOR, 2005). Para isso, uma dieta variada como a introdução de um novo alimento à dieta hipoalergênica a cada 2 a 4 semanas evita o reaparecimento do quadro clínico. Para fazer a prova alérgica deste novo alimento, nota-se que os sintomas reaparecerão no período de 7 a 10 dias da introdução do alimento, pois provavelmente houve o contato com agente alérgeno (HNILICA; MEDLEAU, 2003). 44 2.6. PROGNÓSTICO O prognóstico é bom, porém em cães com quadro clínico de difícil controle é relevante considerar que outras alergias alimentares podem se desenvolver tardiamente e será necessário refazer todo o processo de diagnóstico do quadro de hipersensibilidade alimentar. Assim como se deve excluir a possibilidade de hipersensibilidade a um ingrediente da própria dieta hipoalergênica, ou há infecções secundárias, escabiose, demodicose, atopia, DAPP ou dermatite de contato concomitante (HNILICA; MEDLEAU, 2003). 3. CONCLUSÃO A HA é uma realidade na rotina clínica de pequenos animais. Esta pode ser ocasionada tanto por uma resposta imunológica, bem como por linfócitos T. Esta hipersensibilidade alimentar não apresenta predileção por sexo e ocorre comumente em cães jovens. A predileção por raça, também é observada sendo Cocker Spaniel, Labrador, Dachshund, Pastor Alemão e Golden Retriever as raças mais sensíveis. Os sinais gastrintestinais aparecem concomitantes ao prurido não sazonal que é o sinal clínico de prevalência. Por isso o médico veterinário deve adicionar a HA na sua lista de diagnóstico diferencial a qualquer cão com prurido. Deve-se ainda excluir a escabiose, a DAPP e a atopia, lembrando que a dermatite por Malassezia, a doença seborréica de pele e a foliculite bacteriana são fatores de complicação neste diagnóstico e no tratamento da HA. Depois de feito o teste de restrição alimentar seguido pela fase de 45 provocação se realiza a identificação do(s) alimento(s) que é (são) alergênico(s) ao cão. Os alimentos alergênicos mais comumente observados são derivados da carne bovina, carne de frango, soja e leite de vaca. A privação definitiva desses consiste na ausência dos sinais clínicos e no tratamento final desta reação adversa alimentar. 46 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMABIS, J.M.; MARTHO, G.R. Biologia dos organismos. 2ª ed., São Paulo: Moderna, v 1, 2004. ANDRIGUETTO, J. 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