DO CHAT À ACADEMIA: ADEQUAÇÃO E USO DA LINGUAGEM NO GÊNERO RESENHA ACADÊMICA Noelma Cristina Ferreira dos Santos (UEPB) [email protected] 1 INTRODUÇÃO Refletir sobre o uso da linguagem em contextos diferenciados deve ser uma prática constante para qualquer usuário da língua. No contexto escolar/acadêmico, essa reflexão deve ser estimulada pelo professor e os alunos devem aprender a fazê-la conscientemente, tornando-se capazes de adequar a linguagem para a produção de textos em contextos diversos. Sabemos que, de forma geral, os alunos sentem muitas dificuldades na produção textual. Quando ingressam na Universidade, especialmente, surge mais uma dificuldade, o uso da linguagem acadêmica. Essa realidade mostra a necessidade de criarmos estratégias para desenvolver nos alunos a habilidade de produção de textos acadêmicos. O presente trabalho se apresenta como uma dessas estratégias e tem como objetivo geral analisar a adequação da linguagem no processo de retextualização de um chat para uma resenha acadêmica, produzida por uma aluna de graduação e, como objetivos específicos, abordar as características dos gêneros chat e resenha acadêmica; examinar a estrutura da resenha analisada; e identificar os recursos linguísticos utilizados para avaliação do objeto resenhado nos dois gêneros. A escolha desses gêneros se justifica porque estão localizados nos extremos do contínuo de gêneros textuais escritos. De um lado, o chat é um gênero escrito, mas possui todas as características de um conversa espontânea, o que, certamente, facilita aos participantes a exposição das ideias e da opinião a respeito de qualquer assunto; de outro lado, a resenha acadêmica é um texto que deve apresentar linguagem culta e acadêmica, o que, naturalmente, apresenta um grau de dificuldade maior. A experiência nos mostra que um dos maiores problemas, por parte dos alunos, na elaboração da resenha é a escolha dos recursos linguísticos para expor suas opinião. Dessa forma, para atingirmos os objetivos propostos, executamos uma sequência didática, numa turma de alunos do curso de extensão “Leitura e escrita de gêneros acadêmicos”, realizado na Universidade Estadual da Paraíba. O curso é coordenado e ministrado por dois professores, uma professora de português e um professor de filosofia, ambos do curso de Letras. A sequência teve início com a análise de algumas resenhas jornalísticas e acadêmicas, para reconhecimento da estrutura e função social do gênero. No segundo momento, indicamos aos alunos que assistissem ao filme Em Nome de Deus1, para, em seguida, participarem de um debate a respeito do filme, através do chat. Depois do debate e reflexão a respeito da linguagem utilizada e do levantamento das características da linguagem acadêmica, bem como da estrutura e função social do gênero resenha, solicitamos a produção de uma resenha. No período de realização da sequência para a coleta dos dados dessa pesquisa, a turma desse curso de extensão era formada por seis alunos, dos quais apenas dois assistiram ao filme para o debate. Desses dois, apenas uma aluna participou do debate juntamente com os dois professores coordenadores do curso. Daí porque a análise será voltada para a participação da aluna no chat e para a resenha elaborada por ela. 1 A escolha desse filme foi feita por acessibilidade e por trazer uma temática interessante para ser discutida na universidade. 2 O CHAT E A RESENHA NO CONTEXTO DOS GÊNEROS TEXTUAIS 2.1 O chat como ferramenta de discussão na academia Abreu (2002) define chat como um instrumento que permite uma comunicação síncrona entre os participantes. São várias as finalidades como esse gênero é utilizado, dentre as quais, conhecer pessoas, debater assuntos diversos etc. No ambiente educacional, o chat é usado para atendimento de alunos, resolução de dúvidas, para debates, também, mas visando à aprendizagem de algum tema ou à discussão de textos. Independentemente do contexto em que é utilizado, destacamos que o suporte é o computador e o chat é um gênero da Internet, ou seja, apresenta uma linguagem típica dos gêneros desse grupo, o chamado internetês, e se aproxima muito da fala. De acordo com o contínuo proposto por Marcuschi (2001), o chat se realiza no meio de produção gráfico, na concepção discursiva escrita, mas se enquadra na categoria de comunicações pessoais e com características semellhantes às conversações. Leal (2007) lembra que o chat está sendo utilizado como um recurso útil para a aplicação dos conteúdos curriculares, tanto na educação a distância, como nos cursos presenciais. Vários fatores são positivos na utilização desse gênero em sala de aula, um deles é a aproximação e uma maior interação entre aluno e professor e aluno e aluno, mas a autora chama a atenção para a necessidade da mediação do professor, para que haja efetiva aprendizagem. O professor também deve ter uma motivação para utilizar essa ferramenta em suas aulas e estimular a participação dos seus alunos na execução da atividade proposta. No caso específico desse trabalho a motivação principal é utilizar a técnica do bate-papo para que os alunos consigam expor sua opinião a respeito de um objeto, no caso o filme, já que a interação online facilita esse processo, para, em seguida, adaptar a linguagem para ser utilizada na resenha. 2.2 O gênero resenha como instrumento de avaliação na academia A resenha é também denominada de “Resumo Crítico” pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, NBR 6028, 2003) e consiste na apresentação de uma análise crítica a respeito de algum objeto (obra, filme, evento, aula, palestra etc.). Esse gênero pode ser de dois tipos: a resenha jornalística e a resenha acadêmica. A resenha jornalística, geralmente publicada em jornais e revistas, têm como objetivo divulgar o objeto resenhado, para um público mais amplo, através de uma linguagem de fácil acesso, tipicamente jornalística. Geralmente, o resenhista é um especialista no assunto. A resenha acadêmica segue os padrões dos textos acadêmicos, quanto à linguagem e formatação, e é um texto publicado em revistas científicas especializadas, portanto é destinado a um público mais específico que se interessa pela área do objeto resenhado. Esse gênero já faz parte do cotidiano da universidade e é muito utilizado como atividade de avaliação, nas mais diversas disciplinas. Nesse contexto, o professor solicita a resenha com o intuito de desenvolver o senso crítico dos alunos e de torná-los capazes de usar a linguagem acadêmica. E, exatamente por ser o ele o leitor dessa produção, o aluno precisa demonstrar domínio e maturidade a respeito do que está avaliando. Uma das grandes dificuldades dos alunos na elaboração da resenha é expressar a opinião a respeito do objeto resenhado. Na maioria das vezes em que são solicitados a escrever uma resenha, os alunos se limitam a resumir a obra. Nesse sentido, o professor precisa deixar claro que o resumo é parte obrigatória da resenha, mas também obrigatória é a parte referente à avaliação. Os recursos linguísticos que podem ser utilizados para o resenhista expressar a sua opinião são vários, a título de exemplos, podemos citar os adjetivos, a comparação com outras obras, os discursos relatados (através dos discursos direto e indireto), entre outros. Por se tratar de gênero acadêmico, recomenda-se o uso da linguagem impessoal. Quanto à estrutura, a resenha obedece aos padrões do resumo, iniciando-se com a referência do objeto, para, em seguida, iniciar-se o texto. No corpo, o resenhista deve descrever o objeto que está sendo resenhado, resumir o seu conteúdo e, em seguida, apresentar a sua avaliação e recomendação da obra. Obviamente, essa estrutura não é fixa e a crítica pode aparecer a qualquer momento no texto. 3 A RETEXTUALIZAÇÃO: UMA PROPOSTA DE ADEQUAÇÃO DA LINGUAGEM Retextualização é a transformação de um gênero textual em outro, é um “processo que envolve operações que evidenciam o funcionamento social da linguagem”. (DELL’ISOLA, 2007, p.10) e possibilita desenvolver uma prática de reflexão sobre os diferentes tipos de linguagem e condições de produção. Partimos do princípio de que toda comunicação é realizada através de textos, de que todo texto se materializa em gêneros (MARCUSCHI, 2002) e de que cada gênero tem suas características e finalidades específicas. Assim, produzimos gêneros diferentes, de acordo com as nossas necessidades de comunicação e esses gêneros são elaborados em função das suas condições de produção, ou seja, o nosso papel social no momento da elaboração, o nosso interlocutor, o objetivo a ser alcançado, o suporte, entre outros fatores. Trabalhar com a retextualização em sala de aula permite que os alunos percebam e pratiquem a adequação da linguagem aos diferentes gêneros e, antes mesmo dessa etapa, exige que haja compreensão sobre o que é dito no primeiro texto. Marcuschi (2001, p.48) apresenta pelo menos quatro possibilidades de retextualização, considerando as duas modalidades às quais pertencem os gêneros: da fala para escrita; da fala para fala; da escrita para fala e da escrita para escrita. O autor esclarece que já realizamos a retextualização automaticamente no nosso cotidiano, no momento em que reformulamos o que alguém disse ou o que lemos. As operações realizadas por Marcuschi (2001) apresentam a retextualização da fala para a escrita e as realizadas por Dell’Isola (2007) são da escrita para escrita, uma transformação apenas de gêneros. Em ambos os casos, o texto original era de um autor diferente, eram publicados em algum suporte (revistas, jornais, internet etc.), e os alunos elaboravam a retextualização a partir desses textos. No caso do nosso trabalho, a proposta a retextualização foi também da escrita para a escrita, mas o gênero original, o chat, apresenta muitas características da oralidade. Outro diferencial é que o chat também foi produzido pela aluna. Na verdade, foi uma discussão entre uma aluna e um professor e, para análise dos dados, comparamos a linguagem utilizada pela aluna no chat e na resenha, a fim de analisar que recursos ela utilizou para fazer a avaliação do filme, nos dois gêneros e, especialmente, se ela conseguiu adequar a linguagem para elaboração da resenha. 4 ADEQUAÇÃO DA LINGUAGEM AO GÊNERO Para efeito da nossa análise, substituimos os nomes dos participantes do debate. A luna será chamada de J, a professora, será chamada de P1 e o professor de P2 . Inicialmente, a aluna afirma ter entendido muito pouco do filme e é instigada por P1, através de questionamentos, a expressar o que conseguiu entender. O fragmento abaixo representa o início do diálogo: Ex.1 J diz: entendie muito pouco P1 diz: mas o q conseguiu entender? J diz: e um filme que envolve religioes P1 diz: huum conta a história de quem? vc lembra? J diz: um homem que faz parte do celibato P1 diz: lembra quem é ele? a profissão? J diz: uma historia de amor proibido pq ele n podia se envolver com mulheres estava se ordenando para servir adeus a partir do momento que conhece heloisa ele se ver envolvido P1 diz: e ele foi contratado pra q? J diz: para ensinar a ela os ensinamentos da religião Analisando esse primeiro exemplo, podemos perceber que, apesar de a aluna afirmar ter entendido pouco o filme, consegue recuperar o tema central e um pouco do perfil dos personagens, especialmente de Abelardo. Talvez até o presente momento, J não tenha desenvolvido uma visão crítica a respeito da obra, exatamente por tê-lo considerado complexo. Em outro momento, P2 inicia uma discussão com J, a respeito do estilo de aula da época. Ex.2 P2 diz: Janaína, como você viu o estilo de aulas da época J diz: muito rigido J não hesita em expressar sua opinião. P2 descreve o estilo de aula da época, afirmando que a Universidade não funcionava em um lugar fixo. Segundo ele, o mais importante eram as discussões, “As lições se davam a partir de itensos [sic] debates tendo os clássicos gregos e latinos e os padres da Igreja como Agostinho, como referência” (l). Depois da explicação a respeito do estilo da época, J pede para P2 falar um pouco da relação dos personagens. O trecho abaixo representa essa discussão: EX.3 J diz: mais eles tiveram relações? [...] J diz: i mesmo assim proibido P2 diz: Primeiro que Helísa era uma mulher de um espírito filosófico fantástico Digo Heloísa Proibido para a Igreja, não para eles. Eram humanos nào anjos medievais J diz: sei mais era proibido [...] J diz: e mesmo assim ele foi castrado e viu q era um sinal de deus para q ele seguisse o seu destino acho sim mais o q quero dizer é ele teve relações e mesmo assim P2 diz: Por que ele era um fraco e ela uma pessoa extraordinária, não acha? [...] J diz: ela era muito encantadora assim desculpas n com a igreja mais com a filosofia de q n podia ter nada com uma mulher se a sua vontade era lecionar em uma facudade na quela epoca mais mesmo assim ele teve relação com ela Na análise desse fragmento, percebemos que a aluna demonstra uma não conformidade com o fato de que os personagens tiveram relação mesmo sendo proibidos pela igreja. Além disso, ela sinaliza a questão da obediência de Abelardo à religião, quando afirma que “mesmo assim ele foi castrado e viu q era um sinal de deus para q ele seguisse o seu destino” e da contradição no comportamento dele, “desculpas n com a igreja mais com a filosofia de q n podia ter nada com uma mulher se a sua vontade era lecionar em uma facudade na quela época”. Essas afirmações da aluna nos levam a perceber que ela está conseguindo elaborar uma opinião a respeito da história do filme, o que se confirma no fragmento abaixo: Ex.4 J diz: apesar do amor q ele tinha por Heloísa o seu instinto pelo ensino e o temor a deus era maio maior [...] ele n tinha total certeza do q queria deixando ser levado pelos encantos dela Em relação ao final do filme, J afirma: Ex.5 J diz: o final foi o esperado pois ele n tinha atitudes e com o decorre do filme ja se percebia que n ia ser um final mais picante rsrs emocionante Interessante observar na fala da aluna certa evolução no que se refere à compreensão e análise do filme. Certamente, isso se deu a partir do debate com os professores. No que se refere às características do gênero, verificamos que a aluna usa conscientemente o chat e os recursos que ele oferece, adequando sua linguagem ao suporte. Isso fica muito claro, considerando os seguintes aspectos: uso da letra minúscula em todo o texto; abreviações e ausência de acentos. Além disso, são recorrentes, também em suas falas, problemas de digitação e de grafia, que, embora não sejam típicos dos gêneros digitais, revelam certa distração com a linguagem, talvez pela informalidade proporcionada na situação. Depois desse debate online sobre o filme, a aluna J é convidada a elaborar uma resenha crítica. Para tanto, ela deveria considerar a discussão no chat e todas as discussões em sala a respeito do gênero resenha, sua linguagem, objetivo, formato etc. Era preciso expressar a opinião a respeito do filme, mas com uma linguagem diferenciada daquela que foi usada no bate-papo. Vejamos o resultado dessa produção, na análise abaixo. O primeiro parágrafo apresenta informações técnicas, e importantes, a respeito do filme e está substituindo a referência no formato esperado para uma resenha acadêmica, que é o formato da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Ex.6 O filme Em nome de Deus tem duração de 108 min, lançado em 1988. Tem como diretor geral Clive Donner. Apesar de a aluna não ter colocado a referência no formato da ABNT, verificamos que ela fornece informações suficientes, como o título do filme, o ano de lançamento e o diretor geral. Esse parágrafo também representa a etapa de descrição do objeto a ser resenhado, um dos primeiros passos para a elaboração de uma resenha acadêmica. No segundo parágrafo, concentra-se o resumo do filme. Ex.7 O filme conta uma história de amor entre um filósofo e professor de Paris Abelard e uma jovem muito inteligente que viera morar com o tio no País em meados do século XII. Aberlard é contratado pelo o tio de Heloise para dar aulas a sobrinha. Em pouco tempo, eles se apaixonam, e começam a manterem uma relação as escondidas, pois Aberlard era comprometido com o celibato. Depois de algum tempo Heloísa descobre que está grávida, e com medo da reação do tio, escreve uma carta uma carta a Abelardo contando sobre o filho. Os dois fogem para outra cidade onde a irmã de Abelardo morava, e, deixa a criança com ela. Heloísa vai para um convento e Abelardo volta à Paris para lecionar. O tio de Heloísa planeja uma vingança contra Abelardo, por ele ter desmoralizado a família dele. Ele manda castrar Abelardo. Depois do castigo Abelardo resolve se ordenar, tornando-se padre e convence Heloísa à fazer o mesmo. A partir disso os dois passam a vida se dedicando a religião. Se compararmos esse segundo parágrafo da resenha com a discussão ocorrida no chat, percebemos que a aluna organiza todas as informações presentes no ex.1, analisado anteriormente, e detalha outras informações que não apareceram no debate. Aqui a aluna já demonstra consciência da diferença entre os gêneros, uma vez que se utiliza de uma linguagem formal e procura contextualizar os acontecimentos, tendo em vista que o leitor da sua resenha, a professora, avaliará o conhecimento que ela demonstra ter e a visão crítica a respeito do objeto resenhado. Ademais, ficou claro nas aulas sobre resenha que o autor deve visualizar um leitor que não conheça o objeto resenhado. Os parágrafos seguintes referem-se à avaliação da aluna a respeito do filme. Ex. 8 O filme começa com uma história muito linda a partir do momento que Abelardo e Heloísa se apaixonam e que passam à viver um para o outro. Mas esse filme não atinge as expectativas, por ser muito complexo e por ter um fim que não era o esperado. Desde o início acreditava-se que Aberlardo e Heloísa iriam terminar juntos, pois o amor que sentiam era maior e mais forte que tudo, mas não foi isso que aconteceu, e terminaram separados, apesar de conviverem no mesmo lugar. Além do amor dos dois, outra questão que aparece em evidência no filme é o domínio absoluto que tinha a igreja na época, e da rigidez que existia na França. É recomendado para as pessoas que desejem conhecer uma linda história de amor, que nem o tempo pode apagar, ocorrendo até a renúncia em nome da paixão que incendiava o coração dos dois. Esses dois parágrafos caracterizam o texto elaborado pela aluna como sendo uma resenha crítica, uma vez que ela explicita sua opinião e faz isso através do uso de uma linguagem relativamente formal, adequada ao gênero. Na primeira linha, vemos um adjetivo intensificado, que qualifica a história, de acordo com a opinião da aluna “uma história muito linda”. Após esse primeiro período, a aluna introduz uma ideia que se opõe a essa afirmação de que a “história é muito linda”, qual seja “Mas esse filme não atinge as expectativas, por ser muito complexo e por ter um fim que não era o esperado”, percebemos que houve um cuidado em não usar a primeira pessoa do singular, já que isso também foi uma orientação, no levantamento das características da linguagem acadêmica. Assim, entendemos que o filme não atinge as expectativas da aluna. Quando ela avalia que o final não era o esperado, parece se contrapor ao que tinha afirmado no debate do chat, mas o período seguinte esclarece essa avaliação: “Desde o início acreditava-se que Aberlardo e Heloísa iriam terminar juntos, pois o amor que sentiam era maior e mais forte que tudo”. Esse final é o que convencionalmente se espera para um romance e, por ter sido uma expectativa quebrada, a aluna o analisa negativamente. Por outro lado, no debate, quando a aluna afirma que o final era esperado, ela já está expressando uma opinião também, referente, nesse caso, ao comportamento do personagem no desenvolver da história. O último parágrafo traz uma informação que é esperada em uma resenha, a recomendação da obra. Nessa caso, especificamente, a recomendação foi feita de uma maneira muito subjetiva, considerando apenas a questão da história de amor, quando sabem que muitos outros aspectos poderiam ser considerados. De uma forma geral, é notável que a aluna organizou sua resenha, obedecendo aos princípios básicos de elaboração do gênero. Cada passo, didaticamente, separado por parágrafo. Certamente isso foi influência direta das orientações em sala de aula. No que se refere à correção gramatical, verificamos que muitos dos problemas gramaticais foram corrigidos (p.ex. mas substituiu o mais), mas outros apareceram (como o uso da crase, p.ex.). De qualquer forma, isso mostra a questão da elaboração da linguagem, quanto ao tempo e à forma, que são diferentes no chat e na resenha. Essa organização revela que a aluna apresenta domínio na elaboração de ambos os gêneros (o chat e a resenha). 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A realização de um trabalho dessa natureza nos leva a refletir sobre as práticas de ensino em sala de aula. É muito natural ouvirmos reclamações acerca da dificuldade de adaptação de linguagem por parte dos alunos, mas não podemos esquecer que o professor tem papel fundamental para melhorar esse quadro. A análise desenvolvida nesse trabalho mostra o quanto é importante a criação de estratégias para o desenvolvimento das habilidades de escrita. Debater primeiramente no chat possibilita que os alunos expressem com muito mais facilidade suas opiniões e dúvidas, já que é um gênero que eles dominam. Expor claramente os recursos que podem ser utilizados no momento de avaliar os objetos é outro caminho, já que, objetiva e conscientemente, os alunos vão utilizar esses recursos na construção dos textos acadêmicos. No que se refere, especialmente, à resenha, que exige um posicionamento crítico e a exposição desse posicionamento no texto, vemos que a saída é explorar os recursos linguísticos para, de certa forma, associar duas características que, aparentemente, são contraditórias: expressar a opinião, sem deixar de ser objetivo, ou seja, a linguagem precisa se manter objetiva, mas o texto precisa revelar a subjetividade. Para resolver esse impasse, é preciso analisar várias resenhas da área de interesse dos alunos e, em cada uma delas, verificar como foi feita a avaliação do objeto. Além disso, antes de solicitar a produção de uma resenha, é interessante debater muito sobre o objeto, seja o debate oral, costumeiramente utilizado em sala de aula, seja o debate via chat, proposta do presente trabalho. Se for utilizada a proposta aqui apresentada, as reflexões devem girar em torno das características da linguagem do chat, e, principalmente, dos recursos utilizados para avaliação e como esses recursos podem ser adaptados para a resenha acadêmica. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS..NBR6028: resumos. Rio de Janeiro, 2003. 2 p. DELL’ISOLA, Regina Lúcia Péret. Retextualização de gêneros escritos. Rio de Janeiro, 2007, Lucerna 2007. DONNER, CLIVE. Em nome de Deus. Direção de Clive Donner. Paria, 1988. 1 DVD. MACHADO, Anna Rachel; ABREU-TARDELLI, Lilia Santos; LOUSADA, Eliane. Resenha. São Paulo: Parábola, 2004. MARCUSCHI, Luiz Antonio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Orgs.). Gêneros Textuais & ensino. Rio de Janeiro, Lucerna, 2002. p.17 – 36. ______. Da Fala para a Escrita: atividades de retextualização. 2ed. São Paulo: Cortez, 2001.