UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS BRUNO DE FREITAS VALBON AVALIAÇÃO DA ESPESSURA CENTRAL CORNEANA E SUAS PROPRIEDADES BIOMECÂNICAS APÓS FACOEMULSIFICAÇÃO COM CÓRNEA CLARA NITERÓI - 2010 BRUNO DE FREITAS VALBON AVALIAÇÃO DA ESPESSURA CENTRAL CORNEANA E SUAS PROPRIEDADES BIOMECÂNICAS APÓS FACOEMULSIFICAÇÃO COM CÓRNEA CLARA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal Fluminense para obtenção de Grau de Mestre. Área de concentração : Ciências Médicas. ORIENTADOR: PROF. DR. MARCELO PALIS VENTURA. CO-ORIENTADOR: PROF. DR. RENATO AMBRÓSIO JR. NITERÓI - 2010 BRUNO DE FREITAS VALBON AVALIAÇÃO DA ESPESSURA CENTRAL CORNEANA E SUAS PROPRIEDADES BIOMECÂNICAS APÓS FACOEMULSIFICAÇÃO COM CÓRNEA CLARA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal Fluminense, para obtenção do Grau de Mestre. Área de concentração : Ciências Médicas. Aprovada em Dezembro de 2010. BANC A EXAMINADORA Prof. Dr. Raul Nunes Galvarro Vianna – Presidente da Banca Examinadora (UFF) Prof. Dr. Guilherme Herzog Neto (UFF) _________________________________________________________________________________ Prof. Dr. Sérgio Meirelles (UGF) NITERÓI - 2010 DEDICATÓRI A Aos meus queridos e amados pais, João Mário e Valéria, meu muito obrigado pelos exemplos de Integridade, Honestidade, Bondade ao próximo, Amor e Superação. Dedico com muita alegria á vocês. À minha irmã e sobrinhos Lucas e Lourenço, Por renovarem o amor e alegria. As minhas avós, Maria Gomes e Maria Nazareth, pelo espírito de família. Aos meus avôs, João Neves pelo espírito da política e Liberalino pela determinação e luta. Aos meus padrinhos, Solange pela fé e Cleverson pelo orgulho lá de cima em me ver médico. Aos meus Tios Ronaldo e Francisco, primas Ana Luiza e Julia, Pelo afeto e respeito. Ao meu primo Cleverson e Tia Idanaquê, Pela força e cumplicidade. À Fabiana, Pelo carinho. AGR ADECIMENTOS Ao Professor Dr. Marcelo Palis Ventura, Exímio conhecedor da didática e do ensino. Meu respeito e admiração pela sua sabedoria. Preocupado em ensinar corretamente a propedêutica da oftalmologia, especialmente Glaucoma. Agradeço pela oportunidade, apreço e dedicação á minha Tese. Ao Professor Dr. Renato Ambrósio Jr, Ser humano admirável pelo notório Saber com quem aprendi a compreender a importância da ciência na prática médica e os conceitos das especialidades Córnea, Cirurgia Refrativa e Catarata. Me fez enxergar um novo caminho na minha vida profissional. Ensinou-me a buscar o melhor, querer o melhor e fazer o melhor para o paciente numa medicina baseada em evidências. Me fez ver a importância de evoluir como Médico e Ser Humano. Exemplo de Liderança, Dedicação, Competência, Perseverança e Superação, que levarei para toda vida pessoal e profissional. Serei sempre grato e honrado pelo convívio de aproximadamente 4 anos com os quais aprendi, aprendo e aprenderei o quão é importante Ser e Saber. Meu Muito Obrigado, Professor Renato. Aos Estimados Professores Doutores Guilherme Herzog, Roberto Sebastiá, Raul Vianna e Ari Pena, Pelas orientações, conselhos e importantes ensinamentos nas respectivas áreas, Plástica Ocular, Retina e Transplante de Córnea. Aos meus amigos de residência médica, Dr. Marco Antônio Saraiva, Dr. Augusto Kassuga, Dr. Carlos Alberto Stein, Dra. Jossandra Villaverde e Dra. Flávia AbiRamia, Por acreditarem em mim. Á todos os amigos e colegas do Ambulatório, dos Setores e do Centro Cirúrgico do Hospital Universitário Antônio Pedro da Universidade Federal Fluminense e á todos os colegas e funcionários do Instituto de Olhos Renato Ambrósio, Por me apoiarem. Aos pacientes, Que, generosamente aceitaram participar deste estudo. À DEUS, Por saber que me sonda e me ilumina em toda á minha vida.. SUMÁRIO SUMÁRIO LISTA DE ABREVIATURAS, UNIDADES DE MEDIDAS E SÍMBOLOS 01/02 RESUMO 03 ABSTRACT 04 1.0 INTRODUÇÃO 2.0 OBJETIVO 05 09 3.0 REVISÃO DA LITERATURA 10 3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A CÓRNEA 3.1.1 Aspectos Anátomo-Histológico-Estrutrural-Fisiológico da Superfície Ocular e Córnea. 10 3.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PROPRIEDADES BIOMECÂNICAS 16 3.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A CIRURGIA DE FACOEMULSIFICAÇÃO 22 3.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE O OCULAR RESPONSE ANALYZER 24 3.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE O PENTACAM HR 4.0 MATERIAL E MÉTODO 30 4.1 Exame Clínico/Cirurgia da Catarata. 4.2 Análise Estatística. 35 36 5.0 RESULTADOS 5.1 Medidas da Espessura Central Corneana. 37 5.2 Medidas da Histerese. 37 5.3 Medidas do Fator de Resistência Corneana. 37 5.4 Resultados da Análise Estatística. 5.4.1 Comparações dos valores das medidas da Espessura Central Corneana. 38 5.4.2 Comparações dos valores das medidas de Histerese. 39 5.4.3 Comparações dos valores das medidas do Fator de Resistência Corneana. 39 6.0 DISCUSSÃO 42 7.0 CONCLUSÃO 47 8.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48 9.0 APÊNDICES E ANEXOS 10.0 TABELAS, FIGURAS E GRÁFICOS 11.0 ARTIGO FINAL 68 61 67 LISTA DE ABREVI ATURAS, UNIDADES DE MEDIDAS E SÍMBOLOS µ Micras µL Microlitro µOsm/L Microosmolaridade por litro µm Micrômetro mm Milímetro ms Milissegundos nm Nanômetro ARVO Association for Research in Vision and Ophthalmology ASCRS The American Society of Cataract and Surgery Refractive CCT Central Corneal Thickness CH Corneal Hysteresis CRF Corneal Resistance Factor DGM Disfunção das glândulas de meibomius D1 Primeiro dia pós operatório D7 Sétimo dia pós operatório D30 Trigésimo dia pós operatório EGF Epidermal growth factor ECC Espessura Central Corneana FACO Facoemulsificação FL Filme Lacrimal GAG’S Glicosaminoglicanos HGF Hepatocyte growth factor HR High Resolution IOPcc Corneal Compensated Intraocular Pressure IOPg Goldmann Correlated Intraocular Pressure KGF Keratocyte growth factor MMPs Metaloproteinases OMS Organização Mundial de Saúde ORA Ocular Response Analyzer 1 LISTA DE ABREVI ATURAS, UNIDADES DE MEDIDAS E SÍMBOLOS pH Potencial Hidrogeniônico PIO Pressão Intra-ocular PRE Pré operatório TAG Tonometria de Aplanação Goldmann WS WaveformScore 2 RESUMO Objetivo: Avaliar as possíveis alterações da espessura central corneana e suas propriedades biomecânicas, pelos parâmetros Histerese (CH) e Fator de Resistência Corneana (CRF), decorrentes das medidas do Pentacam HR e Ocular Response Analyzer (ORA), respectivamente, após facoemulsificação com córnea clara. Método: Estudo Observacional Prospectivo envolvendo 47 olhos de 36 pacientes que se submeteram a cirurgia de catarata por facoemulsificação com implante de lente intra-ocular. A Histerese (CH), o Fator de Resistência Corneana (CRF) foram medidos pelo Ocular Response Analyzer (ORA); a espessura central corneana (ECC) foi medida por paquimetria óptica com sistema de fotografias de Scheimpflug rotacional (Pentacam). As medidas foram realizadas no pré-operatório, 1º dia, 7º dia e 30º dia após a cirurgia de facoemulsificação. Resultados: A média da ECC foi de 555.8 (±43.7) no pré-operatório (Pré-op), de 690.6 (±179.9) no primeiro dia após cirurgia (D1), de 613.7 (±107.9) no sétimo dia (D7) e de 567.1 (±44.8) no trigésimo dia após facoemulsificação (D30). A média de CH no pré-operatório foi de 9.6 (±1.2), no primeiro dia após cirurgia 8.1 (± 1.5), no sétimo dia 9.1 (± 1.4) e no trigésimo dia 9.0 (± 1.7). A média de CRF no préoperatório foi de 9.5 (± 1.5), no primeiro dia após a cirurgia 7.8 (± 1.6), no sétimo 8.3 (± 1.5) e no trigésimo foi de 8.7 (± 1.7). As comparações das medidas dos valores foram estatisticamentes significativas (p<0,05) entre Pré-op e D1 de ECC, CH e CRF. As comparações entre Pré-op (CRF) x D7(CRF), Pré-op (CRF) x D30 (CRF) também obtiveram um p<0,05, juntamente com Pré-op (ECC) x D7(ECC). Conclusões: O aumento da espessura central da córnea após cirurgia de facoemulsificação por córnea clara é acompanhado por uma diminuição das propriedades biomecânicas (histerese e CRF). O CRF permanece alterado até 30 dias de pós operatório. 3 Palavras chave: Propriedades Biomecânicas; Edema de Córnea; Tomografia de Córnea; Espessura corneana; Facoemulsificação. ABSTR ACT Purpose: To evaluate the central corneal thickness (CCT) and corneal biomechanical properties in patients prior to and following clear cornea phacoemulsification. Methods: Corneal biomechanical properties, including corneal hysteresis (CH) and corneal resistance factor (CRF), were measured with the ocular response analyzer (ORA); and central corneal thickness (CCT) were also measured with the Oculus Pentacam, in 36 consecutive patients (47 eyes) that underwent clear cornea phacoemulsification surgery. All measurements were performed prior to surgery (Preop) and at follow-up time points: day 1 (D1), day 7 (D7) and day 30 (D30). Results: Mean and standard-deviation of ORA parameters and CCT were: CCT Preop 555.8 ± 43.7 µm, D1 690.6 ± 179.9 µm, D7 613.7 ± 107.9 µm and D30 567.1 ± 44.8 µm. CCT was higher in D1 and D7 than Preop (p < 0.05) but not in D30. CH Preop 9.6 ± 1.2 mm Hg, D1 8.1 ± 1.5 mm Hg, D7 9.1 ± 1.4 mm Hg and D30 9.0 ± 1.7 mm Hg. CH was lower in D1 than Preop (p < 0.05) but not in D7 and D30. CRF Preop 9.5 ± 1.5 mm Hg, D1 7.8 ± 1.6 mm Hg, D7 8.3 ± 1.5 mm Hg and D30 8.7 ± 1.7 mm Hg. CRF was lower in D1, D7 and D30 than Preop (p < 0.05). Conclusions: Clear cornea phacoemulsification led to a change of corneal biomechanical properties. The increase of CCT after phacoemulsification is followed by a reduction in the CRF and Hysteresis. Even when CCT and Hysteresis returns to preoperative values, the CRF remains reduced in the short-term postoperative period. 4 Keywords: Biomechanical properties; Corneal edema; Corneal Thickness; Phacoemulsification. 1.0 INTRODUÇÃO A espessura da córnea é um importante parâmetro clínico. Reflete a saúde tecidual, em função da bomba endotelial, sendo fundamental no acompanhamento de pacientes com alterações do endotélio corneano. Essa análise da córnea através da paquimetria juntamente com a microscopia especular são essenciais para pacientes que serão submetidos à cirurgia de catarata por facoemulsificação, pois favorece a cuidados pré e per operatórios que previnem futuras complicações pós operatórias. Além disso, a espessura corneana é também fundamental em pacientes candidatos a cirurgia refrativa, como de ablação de superfície e lamelares. Nestes casos, a avaliação do mapa paquimétrico, através da Tomografia da Córnea e Segmento Anterior com a imagem de Scheimplufg (PENTACAM HR ®) favorece a localização e cálculo do ponto mais fino, que pode não corresponder ao valor central. Adicionalmente, a medida da espessura corneana é um parâmetro importante a ser considerado em pacientes com glaucoma e hipertensos oculares, pois a técnica de aferição da pressão intra-ocular mais utilizada é a Tonometria de Aplanação de Goldmann (TAG), gold standard, que sofre influências de diversos parâmetros, tais como, espessura central corneana (ECC), curvatura corneana e suas propriedades biomecânicas. Sendo assim, a influência da resistência corneana na medida da pressão intraocular (PIO), através dos tonômetros de aplanação, vem sendo cada vez mais reconhecida. De acordo com WHITACRE 1993, WOLFS 1997, BRUBAKER 1999, o valor da medida da PIO obtido seria subestimado ou hiperestimado de acordo com a resistência da córnea ao aplanamento durante a tonometria. De modo geral, assumiase que quanto mais fina é a córnea, menor seria a resistência e conseqüentemente os valores obtidos através da tonometria de aplanação poderiam ser subestimados. E por outro lado, quanto mais grossa fosse a córnea, maior seria o valor obtido – 5 hiperestimado. Entretanto, há evidências de que a espessura da córnea não necessariamente reflete a resistência elástica e a flexibilidade do parênquima corneano – Biomecânica da Córnea. Estas características são ligadas a fatores constitucionais individuais, como a composição bioquímica estromal, pelos tipos de colágeno existentes na córnea e quantidade de glicosaminoglicanos (ROBERTS 2000). A influência da córnea nas medidas da TAG é sabida desde a introdução do método por GOLDMANN e SCHIMIDT, em 1957. Porém, somente após a publicação do estudo OHTS (Ocular Hypertension Treatment Study), em junho de 2002, que identificou em análise multivariada, a espessura central da córnea (ECC) como o mais importante fator preditivo para o desenvolvimento de lesão glaucomatosa do nervo óptico em pacientes hipertensos oculares, que houve a popularização do reconhecimento desta variável (GORDON 2002). Fórmulas de correção da TAG foram propostas com base em análises de regressão linear com a ECC. Entretanto, GUNVANT 2005, demonstrou que tais fórmulas podem hipercorrigir a medida da pressão em córneas finas. Por outro lado, córneas com aumento da espessura por edema apresentam uma resistência reduzida e, portanto um efeito na TAG similar a córneas com menor espessura (SIMON 1993). Pacientes com Distrofia endotelial de Fuchs, com espessura significativamente maior (média de 606 µ, com desvio-padrão de 20 micras, variando de 578-635 µ), apresentam menores Fator de Resistência Corneana (CRF – Corneal Resistance Factor) e Histerese (CH – Corneal Hysteresis), e maiores diferenças entre IOPg (gold standard, Goldmann correlated intraocular pressure) e IOPcc (Corneal Compensated Intraocular Pressure)(DEL BUEY 2009). Com isso, recomenda-se muito cuidado no uso de qualquer fórmula baseada em uma suposta relação sempre linear entre a espessura da córnea, sua resistência e seu efeito na TAG. Adicionalmente, considerando-se os achados de LIU e ROBERTS em 2005, variações relacionadas com a tensão da superfície relacionadas pela resistência da córnea potencialmente determinam maior impacto na TAG, que a espessura central e com a ceratometria. De acordo com esta análise, devemos dar importância aos milhares de pacientes que são submetidos à cirurgia de catarata por facoemulsificação, pois a hipertensão ocular é uma complicação reconhecida, mesmo realizada sem 6 complicações ou intercorrências per operatórias. A cirurgia de catarata por facoemulsificação pode evoluir com aumento da espessura corneana no pós operatório (BOLZ 2006; SACHIN 2007), devido ao influxo de água no estroma corneano, através da diminuição das bombas sódio e potássio pelos danos mecânicos, térmicos e químicos que este tipo de cirurgia provoca (BEESLEY; HAYASHI 1986). A catarata é a maior causa de cegueira reversível nos países em desenvolvimento. A prevalência de catarata, mesmo nos países desenvolvidos, aumenta significativamente com o aumento da idade. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), há 45 milhões de cegos no mundo, dos quais 40 % são devidos á catarata. Estima-se que 10% da população norte-americana têm catarata e que esta prevalência aumenta em 50% no grupo etário de 65 a 74 anos, enquanto em pessoas acima de 75 anos a prevalência aumenta para 75% (SNELLINGEN 2002). Pessoas idosas têm maior chance de desenvolver catarata e a maioria das pessoas com catarata está acima dos 50 anos de idade. Isto significa que com o aumento da expectativa de vida, mais pessoas irão desenvolver catarata e o número de cegueira irá aumentar. Segundo dados da OMS, em 2020 haverá 1,2 bilhões de pessoas com 60 anos ou mais. Em 1998, no Brasil, foi estimada a existência de 600 mil pessoas cegas por catarata. De acordo com dados estatísticos do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), existem, no nosso país, cerca de 350 mil pacientes acima de 50 anos, que estão cegos devido à catarata. Isso faz da cirurgia da catarata um dos procedimentos cirúrgicos mais realizados no mundo. Estes pacientes podem evoluir com hipertensão ocular, como citado anteriormente, ou por substância viscoelástica retida em câmara anterior e/ou uma iridociclite (uveíte hipertensiva ao processo inflamatório) e/ou por uso de colírio á base de corticóide, sendo rotina pela maioria dos cirurgiões aferirem a PIO no pós operatório, para manejo e controle da mesma neste período. Muitos destes pacientes evoluem com edema corneano, através do influxo de água no estroma, que por sua vez, apresentam aumento da espessura corneana, assim, se utilizarmos um método de aferição, que se baseia basicamente na espessura e curvatura pode nos confundir com a verdadeira pressão intraocular, pois de acordo com WHITACRE 1993, WOLFS 1997, BRUBAKER 1999, em córneas espessas haveria uma hiperestimação pelo TAG. 7 Entretanto, sabe-se que o aumento da ECC decorrente de edema corneano leva a medidas subestimadas, ou seja, anteriormente se pensava que nestes pacientes a pressão obtida pelo TAG, seria maior, pois, só se considerava o valor da ECC. Atualmente sabemos que o aumento da espessura corneana nestes casos não reflete necessariamente, uma maior resistência. A córnea é um tecido avascular, transparente e possui uma estrutura biomecânica complexa com propriedades viscoelásticas. O conhecimento da biomecânica da córnea vem ganhando destaque cada vez mais, com inúmeras publicações, possibilitando assim novos conhecimentos importantes para a prática clínica e cirúrgica do dia a dia do oftalmologista, especialmente nas subespecialidades Córnea, Glaucoma e Cirurgia Refrativa. 8 2.0 OBJETIVO AVALIAR AS ALTERAÇÕES DA CÓRNEA, COMO ESPESSURA CENTRAL CORNEANA (ECC) E SUAS PROPRIEDADES BIOMECÂNICAS, PELOS PARÂMETROS HISTERESE (CH) E FATOR DE RESISTÊNCIA CORNEANA (CRF), ESTAS DECORRENTES DA MEDIDA OBTIDA PELO OCULAR RESPONSE ANALYZER (ORA®) NO PÓS OPERATÓRIO DA CIRURGIA DE CATARATA POR FACOEMULSIFICAÇÃO COM CÓRNEA CLARA. 9 3.0 Revisão da Literatura 3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A CÓRNEA. 3.1.1 Aspectos Anátomo‐Histológico‐Estrutrural‐Fisiológico da Superfície Ocular e Córnea. A córnea é um tecido transparente e avascular, em contato com o ambiente externo, que corresponde ao sexto anterior da túnica fibrosa ocular. Além de desempenhar uma função estrutural e de proteção do conteúdo intraocular, a córnea apresenta-se como a janela transparente do olho, através da qual a luz entra para formar a imagem retiniana que será transmitida ao sistema nervoso central, responsável pela interpretação da imagem. A interface entre o ar atmosférico e a superfície corneana, junto com o filme lacrimal (FL), provêem cerca de dois terços do poder convergente refrativo do olho humano (HELMHOLTZ 1924). A conservação da integridade e da transparência da córnea é fundamental para manter o processo da visão (KURPAKUS-W HEATER 2001). Apresar de ser um tecido avascular, a córnea apresenta-se como um tecido extremamente ativo. Sua nutrição vem do FL; da conjuntiva tarsal posterior das pálpebras; das arcadas vasculares, presentes no limbo, que são ramos da artéria ciliar anterior e do humor aquoso. O FL proporciona à superfície ocular um ambiente úmido e promove nutrição, proteção e uma interface óptica homogênea. O FL fornece à córnea nutrientes e oxigênio, além de ter uma série de substâncias com propriedades bactericidas. Possui pH de aproximadamente 7,2, osmolaridade de 302 mOsm/l e um volume de 7,0 µl (MATHERS 1996). A espessura do FL é difícil de medir, porém, acredita10 se que gire em torno de 10 micras (W ANG 2003). Tradicionalmente, considera-se que o FL seja formado por três camadas: lipídica superficial (mais externa), aquosa intermediária e mucina basal em contato com o epitélio (ROLANDO e ZIERHUT 2001). A camada de mucina é essencial para manter a lubrificação do epitélio da córnea e conjuntiva. Por meio das microvilosidades das células epiteliais da superfície, confere hidrofilia à essência hidrofóbica da superfície ocular. Essa camada é formada pela secreção das células caliciformes da conjuntiva (DARTT 2004). A camada aquosa é produzida pelas glândulas lacrimais principal e acessórias de Krause e Wolfring. Essa camada transporta nutrientes solúveis em água, substâncias bactericidas como lactoferrina, imunoglobulinas, lisozima, β-lisina e defensinas (HAYNES 1999). Fatores de crescimento essenciais para determinar a proliferação e diferenciação do epitélio da superfície ocular, como fator de crescimento epidermal – EGF (epidermal growth factor), fator de crescimento do hepatócito – HGF (hepatocyte growth factor) e fator de crescimento do ceratocócito – KGF (keratinocyte growth factor) estão presentes na camada aquosa do FL (WILSON 1991; LOHMANN 1998; W ILSON 1999; FAGERHOLM 2000; BALDW IN e MARSHALL 2002). A camada lipídica é formada, essencialmente, pela secreção das glândulas de Meibomius, e sua função é retardar a evaporação, estabilizando o FL. Essas glândulas são ricamente enervadas e sua secreção pode ser modificada, qualitativa ou quantitativamente, por hormônios (SULLIVAN 1999; SULLIVAN 2002; SUZUKI 2002), por dietas (AMBRÓSIO 2002) e por ação de bactérias (SUZUKI 2002; SHINE 2003). A disfunção das glândulas de Meibomius (DGM) pode resultar na instabilidade do FL e em alterações da superfície ocular (SMITH e FLOW ERS 1995). Como parte do epitélio da superfície ocular, o epitélio corneano é do tipo pavimentoso estratificado, não-ceratinizado, e repousa sobre uma membrana basal composta basicamente de colágeno do tipo IV e proteínas da matriz extracelular. O epitélio da córnea tem características próprias que o distinguem do epitélio límbico e conjuntival (KURPAKUS-WHEATER 2001; LU 2001). Ele é transparente, extremamente compacto, não possui células caliciformes e está longe de vasos sangüíneos. Desse modo, o epitélio da córnea compõe, junto com o FL, a superfície ideal do sistema óptico ocular. 11 O epitélio da córnea tem aproximadamente 50 µ de espessura e é formado por cinco a sete camadas de células: uma camada de células colunares basais, duas ou três camadas de células intermediárias e duas ou três camadas de células superficiais (SMOLEK e KLYCE 2002). As células mais superficiais são poligonais e achatadas, com poucas organelas citoplasmáticas. A espessura destas células é de 4 a 6 µm, na região dos núcleos, e 2 µm na periferia celular. Estas células apresentam microvilos, isto é, projeções na porção externa que determinam maior superfície de contato com a camada mucosa do FL (NISHIDA 1998). Por serem parte da camada celular em contato com o meio externo, há um complexo sistema de adesão entre as células. A zônula ocludens funciona como uma barreira mecânica que protege a córnea e diminui a descamação prematura destas células. Durante o processo de descamação, os desmossomas entre as células diminuem ou desaparecem, facilitando desprendimento da célula (WATSKY 1999). As células intermediárias têm formato alongado com núcleo tipicamente ovalado, daí a designação de aladas . Estas células apresentam-se em duas ou três camadas que repousam sobre as células basais, aderentes entre si por meio de projeções citoplasmáticas periféricas denominadas desmossomas (WATSKY 1999; SMOLEK e KLYCE 2002). As células basais têm µm de altura e 8 a 10 µm uma um aspecto colunar, com 18 a 20 de diâmetro. A presença de núcleos redondos e maior quantidade de organelas citoplasmáticas diferenciam essas células. Na porção posterior, as células basais são planas e estão aderidas à membrana basal por um complexo sistema de hemidesmossomas (AZAR 1989; GIPSON e INATOMI 1995; ZAGON 2001; ESPANA 2003). Acredita-se que os grânulos de glicogênio presentes no citoplasma das células basais servem como reserva energética para determinadas situações, como o reparo de um defeito epitelial, quando se observa intensa atividade mitótica (LU 2001). As células epiteliais corneanas têm dois mecanismos principais para a adesão célula-célula e célula-matriz extracelular. O primeiro envolve interações moleculares entre receptores localizados na membrana celular epitelial e ligantes de células adjacentes ou da matriz extracelular. Três famílias de moléculas de adesão já foram identificadas: os N-CAM (cálcio-independentes), as caderinas (cálcio-dependentes) e as integrinas. O segundo 12 mecanismo consiste no complexo de adesão à superfície corneana e está representado por junções especializadas do citoesqueleto das células epiteliais e da matriz extracelular estromal, em um complexo membrana basal / camada de Bowman / estroma (AZAR 1989, 1992; ZAGON 2001; ESPANA 2003; AMBROSIO 2003). A densidade das terminações nervosas não-mielinizadas do epitélio corneal é 300 a 400 vezes maior do que a da epiderme, constituindo o tecido mais enervado, por milímetro quadrado, do corpo humano (TERVO e MOILANEN 2003). Os nervos sensitivos derivam dos nervos ciliares do ramo oftálmico do nervo de trigêmio. Os nervos ciliares longos provêem o anel nervoso perilímbico, cujas fibras penetram a córnea radialmente no estroma periférico profundo, extendendo-se anteriormente, para formar o plexo sub-epitelial (MULLER 1997; MULLER 2003). As fibras nervosas perdem a camada de mielina depois de passar pela camada de Bowman – fibras nervosas do sistema autônomo simpático também foram descritas na córnea (MULLER 2003; TERVO 2003). Os nervos corneanos têm, aparentemente, um efeito trófico para a manutenção do epitélio (W ILSON 2001; W ILSON e AMBROSIO 2001; AMBRÓSIO 2003). Diferentemente do corneano, o epitélio límbico tem, aproximadamente, entre 10 e 12 camadas de células em espessura, melanócitos, células de Langerhans; além disso, mantém relação com as terminações em alça da rede vascular conjuntival (DUA 1994). Como o epitélio da córnea, não tem células caliciformes. O estroma e epitélio límbicos formam elevações radiais fibrovasculares, denominadas de paliçadas Vogt, presentes em toda a circunferência da córnea, porém mais bem definidas superior e inferiormente (DUA 1994; KINOSHITA 2001). O estroma é um tecido fibroso que compõe mais de 90% da espessura da córnea. O estroma é composto por um arranjo extremamente bem organizado de fibras colágenas e uma matriz extracelular de proteoglicanos, que são glicosaminoglicanos (GAGs) covalentemente aderidos a um núcleo proteico. D e z tipos diferentes de colágenos foram identificados no estroma. Os tipos mais importantes de colágeno são o I, III, V e VI (AHMADI e JAKOBIEC 2002; KURPAKUS-W HEATER 2001). Um arranjo distinto das fibras de colágeno pode ser observado à microscopia óptica na região mais anterior do estroma. A camada de Bowman não é exatamente uma membrana e sua função não está totalmente 13 esclarecida (KIM 1999c; W ILSON e HONG 2000). Células estromais correspondem a menos que 3% de sua composição. Os ceratócitos, denominados fibroblastos corneanos quando em cultura de células, são as células mais predominantes. Outras células estão presentes no estroma, como células inflamatórias e outras células do sistema imune (KURPAKUS- W HEATER 2001). Os ceratócitos apresentam um arranjo tridimensional complexo por meio de filamentos estruturais do citoesqueleto (NISHIDA 1988). Os ceratócitos são responsáveis pela manutenção dos componentes da matriz estromal. Os ceratócitos sintetizam moléculas de colágeno e GAGs. Ao mesmo tempo, estas células sintetizam metaloproteinases (MMPs) ou gelatinases, que são enzimas capazes de degradar a matriz e o tecido extracelular (KURPAKUS- WHEATER 2001; SAIKA 2002; SIVAK e FINI 2002). O processo de homeostase depende de um balanço na síntese e degradação de matriz extracelular. O tecido estromal é osmoticamente ativo e atrai água para o seu interior cerca de dois terços da espessura corneana é água. As fibrilas do estroma têm uma orientação espacial específica, com espaços interfibrilares de aproximadamente 55 a 60 nm. Em 1957, MAURICE descreveu a necessidade dessa organização fibrilar para manter a transparência corneana. Para isso é preciso que esses espaços sejam cerca de dez vezes menores do que o comprimento de onda da luz visível (400 a 700 nm). Assim, a hidratação estromal deve ser constante, de modo a não interferir no arranjo das fibras colágenas (MAURICE 1957). O endotélio humano constitui-se de uma única camada de 400.000 a 500.000 células com quatro a seis µm de altura e 20 µm de largura. As superfícies posteriores dessas células são predominantemente hexagonais quando observadas por meio de biomicroscopia, microscopia especular ou confocal. O endotélio humano não prolifera bem como em outros mamíferos como primatas e felinos. Capacidade proliferativa foi observada no endotélio de coelhos “in vivo”. A capacidade proliferativa do endotélio humano foi observada em cultura celular (JOYCE 2003). Há fatores no humor aquoso ou no ambiente celular capazes de inibir a proliferação endotelial. A elucidação desses mecanismos terá grande impacto no tratamento de doenças que acometem o endotélio corneano. A contagem de 14 células endoteliais diminui proporcionalmente à idade (EDELHAUSER 2000). As células endoteliais têm núcleo grande e organelas citoplasmáticas em abundância, como mitocôndrias, retículos endoplasmáticas, ribossomos livres e complexos de Golgi. O endotélio precisa desse aparato celular para remover água da córnea e manter a hidratação estromal em torno de 78%. As células endoteliais dispõem de um sistema de transporte de íons que impede a entrada de água no estroma corneano por meio de uma bomba do tipo sódio/potássio ATPase, localizada na membrana basolateral dessas células (GEROSKI e EDELHAUSER 1984; EDELHAUSER 2000). Além da bomba do endotélio há uma barreira formada tanto pelo humor aquoso do próprio endotélio e pela membrana de Descemet, quanto pelo epitélio. Os defeitos epiteliais podem causar uma formação de edema estromal devido à perda de barreira que impede a entrada de fluidos do FL. 15 3.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PROPRIEDADES BIOMECÂNICAS DA CÓRNEA A córnea apresenta propriedades viscoelásticas não-lineares, que são heterogêneas em sua estrutura. camada de Bowman, Cada uma das camadas da córnea: epitélio, estroma anterior, estroma médio, estroma posterior, membrana de Descemet com endotélio possui características biomecânicas distintas individualmente, mas que em conjunto determinam as propriedades da córnea. Adicionalmente, existem diferenças entre a estrutura corneana central, tipicamente mais fina e menos resistente e a periferia. Materiais elásticos apresentam relação linear entre força aplicada e deformação. Quando a força é retirada, o formato original é recuperado. Viscosidade se refere à tendência de um material não sólido de resistir no ciclo força–deformação, armazenando energia de forma proporcional ao estímulo. A córnea não é mecanicamente inerte. Alterações estruturais são causadas por modificação das propriedades biomecânicas e podem se manifestar clinicamente como instabilidade tecidual com o passar do tempo (por exemplo: ceratocone e ectasia pós-LASIK). O estudo da biomecânica corneana trata do equilíbrio e deformação teciduais decorrentes de qualquer força aplicada (TORRES 2005; ZENG 2001). Além do componente genético, diversos fatores atuam em conjunto no estabelecimento do equilíbrio dinâmico da arquitetura e funcionamento corneanos. Podemos dividí-los em fatores extra e intra-corneanos (Tabela 1). 16 Fatores extra‐corneanos : PRESSÃO INTRA‐OCULAR PRESSÃO ATMOSFÉRICA TENSÃO EXERCIDA PELAS PÁLPEBRAS TENSÃO EXERCIDA PELOS MÚSCULOS EXTRA‐OCULARES TENSÃO EXERCIDA PELO MÚSCULO CILIAR TRAUMA Fatores intra‐corneanos : DENSIDADE, ENTRECRUZAMENTO, DISTRIBUIÇÃO E ORIENTAÇÃO DAS FIBRAS DE COLÁGENO. ESPESSURA (Central e variação regional) HIDRATAÇÃO ESTROMAL E SEU CONTROLE PELO ENDOTÉLIO Tabela 1: Fatores determinantes da biomecânica corneana Dentre os fatores extra-corneanos a pressão intra-ocular é a mais importante, exercendo uma força contínua na face interna da córnea (TORRES 2005). Relatos recentes sugerem que o aumento da pressão intra-ocular seria capaz de acelerar o desenvolvimento de ectasia após LASIK, e seu controle (através de medicação hipotensora) poderia paralisar sua progressão ou até mesmo revertê-la (TABBARA 2006; CHANG 2006). O ato crônico de coçar os olhos (micro-traumas crônicos) é considerado, atualmente, um importante progressão de ectasias corneanas em fator de risco no desenvolvimento e pacientes suscetíveis (principalmente atópicos). Os outros fatores extra-corneanos citados possuem pouca influência. 17 Os fatores intra-corneanos são inerentes á própria estrutura corneana, a qual possui capacidade de suportar as pressões citadas anteriormente, mantendo sua curvatura e propriedades ópticas. Das cinco camadas anatômicas da córnea somente o estroma e a membrana de Bowman contém fibras colágenas, sendo consideradas por muito tempo as principais responsáveis pela resistência corneana (TORRES 2005). No entanto, estudos recentes utilizando estensiometria sugerem que as propriedades biomecânicas da córnea não sofrem alterações significativas com a retirada da membrana de Bowman, o que torna o estroma a camada mais importante para a manutenção da integridade estrutural do tecido (STUDER 2009). O estroma corneano é composto aproximadamente por 78% de água, 15% de colágeno e 7% de proteínas não colágenas, sais e proteoglicanos. Trezentas a quinhentas lamelas cruzam o tecido de limbo a limbo, com posicionamento e entrecruzamento variáveis (ETHIER 2004; ANDERSON 2004; BOOTE 2006). Tecidos e/ou materiais elásticos são aqueles com uma relação linear entre força aplicada e deformação: quando a força é retirada, o formato original é recuperado. Viscosidade se refere á tendência de um líquido resistir a fluir, com um ciclo força-deformação também diretamente proporcional. A córnea apresenta ambas as propriedades, sendo um exemplo de tecido viscoelástico. Ainda, apresenta propriedades materiais heterogêneas, não-lineares e altamente anisotrópicas (TORRES 2005; DUPPS 2007). Evidências obtidas através de cirurgias incisionais, como a ceratotomia radial, nos mostram que a córnea não é mecanicamente inerte (ROBERTS 2000). O aplanamento progressivo e irregular da córnea, que cursa com graus variáveis de hipermetropia e astigmatismo, ocorre em cerca de 40% dos casos em longo prazo e tornou-se um desafio para os cirurgiões refrativos. Acredita-se que o aplanamento tardio, anos após ceratotomia radial, esteja relacionado com a não cicatrização total das incisões. Em um artigo clássico - The córnea is not a piece of plastic - , Roberts sugere que a córnea seja considerada como uma série de bandas elásticas (lamelas) com esponjas entre cada camada (espaços interlamelares preenchidos com matriz 18 extracelular). As bandas elásticas estão tencionadas constantemente, uma vez que existe uma força as empurrando (pressão intra-ocular), e suas extremidades são unidas firmemente ao limbo. A quantidade de água que cada esponja é capaz de manter é determinada pelo quanto os elásticos estão tencionados. Quanto maior a força submetida aos elásticos, maior a tensão e mais água é espremida das esponjas, com resultante menor espaço interlamelar. O estudo da biomecânica é crucial para entendermos melhor a resposta da córnea à cirurgia refrativa através do Excimer Laser (ROBERTS 2005; KRUEGER 2009). Os resultados refrativos e visuais dependem do perfil de ablação, processo cicatricial e resposta biomecânica corneana à mudança em sua estrutura. Sendo assim avaliássemos individualmente as propriedades biomecânicas de cada paciente, poderíamos escolher e ajustar o tratamento de maneira a atingir o melhor resultado para cada indivíduo. Da mesma maneira, também serviriam para uma melhor seleção e reconhecimento de pacientes com maior risco de resultado ruim ou progressão para ectasia corneana. Técnicas de aferição das propriedades biomecânicas da córnea in vivo despertam, portanto, grande interesse e investimento. Considerando o grande interesse na avaliação das propriedades biomecânicas da córnea, novos métodos propedêuticos são cada vez mais encontrados na literatura. Destaca-se com possível futuro de aplicação clínica a interferometria, imagem corneana dinâmica (através de uma técnica de topografias seriadas com identação corneana) e avaliação do comportamento da córnea frente a um jato de ar. Este último encontra-se disponível clinicamente, e proporciona novos parâmetros métricos como pressão intra-ocular e propriedades biomecânicos. No ano de 2005, Luce (LUCE 2005) descreve o funcionamento de um novo aparelho, denominado, Ocular Response Analyzer (ORA), desenvolvido para determinar propriedades biomecânicas da córnea e as correlacionar com a pressão intra-ocular. Este equipamento utiliza um jato de ar, semelhante ao utilizado em tonômetros de sopro, gerando uma força/pressão diretamente na córnea. Com isso são aferidos dois momentos de aplanação corneana em aproximadamente 20 milissegundos, um tempo suficientemente curto para assegurar que fatores como pulso ocular ou posicionamento ocular não influenciem o processo de mensuração. 19 Durante as medidas, um pulso de ar precisamente calculado é aplicado na córnea, fazendo com que a mesma curve-se progressivamente para trás, passe por uma primeira aplanação e por uma ligeira concavidade. Milissegundos após a primeira aplanação, a bomba de ar geradora do pulso é desligada, e a pressão aplicada ao olho diminui progressivamente. Com a diminuição da pressão contra a córnea, o tecido passa por um segundo estado de aplanação, durante o processo de recuperação de sua forma original (de concavidade para arquitetura convexa normal). Um sistema eletro-óptico monitora a curvatura corneana nos 3 mm centrais durante os 20 milissegundos da aferição. As duas fases de aplanação, aferidas durante os movimentos de deformação para trás e para frente da córnea, são determinadas e correlacionadas com a pressão de ar aplicada. A diferença das pressões aferidas durante as aplanações é determinada pela capacidade do tecido absorver energia, e é chamada de histerese corneana (CH). O fator de resistência corneana (CRF) é uma medida dos efeitos cumulativos das resistências elástica e viscosa corneanas encontradas pelo jato de ar durante a deformação da superfície corneana. O CRF, como esperado, apresenta relação diretamente proporcional com a pressão intraocular. Os valores de CH e CRF são independentes, cada um nos dando informações distintas das propriedades biomecânicas da córnea. A introdução destes novos parâmetros fornecidos pelo ORA na prática clínica tem despertado enorme interesse da comunidade científica em todo o mundo. Diversos artigos publicados recentemente mostram que os valores de CH e CRF mantêm-se constantes ao longo do dia, e apresentam valores mais baixos em casos de ectasia corneana, edema estromal, e após cirurgias refrativas (LUCE 2005; DEL BUEY 2009). Além disso, o sinal das medidas é bastante distinto em diferentes condições clínicas, como ceratocone, pós LASIK, pós ablação de superfície e em casos de edema corneano e ainda, tem- se postulado sobre a importância desses novos índices no manejo de pacientes com glaucoma de ângulo aberto e fechado (SUN 2009). Avaliando um grupo de 150 pessoas saudáveis, Fontes (FONTES 2008) determinou valores de normalidade destes novos parâmetros biomecânicos em pacientes brasileiros. O valor médio da CH encontrada foi de 10.17 ±1.82 mmHg 20 (de 3.23 a 14.58 mmHg), enquanto o CRF médio foi de 10.14 ±1.8 mmHg (de 5.45 a 15.1 mmHg). Ambos fatores estiveram diretamente relacionados à espessura corneana, sendo independentes em relação a ceratometria central, astigmatismo corneano, equivalente esférico e profundidade de câmara anterior. Existe uma relação significante entre espessura, CRF e CH, sendo que com a primeira variável, essa relação é mais forte. Em outras palavras, existem córneas com mesma espessura e propriedades teciduais biomecânicas distintas, bem como córneas mais finas com maiores índices biomecânicos que outras mais grossas. Com o estudo por meio do ORA, objetivamente é possível se identif icar casos que apesar de se apresentarem com maior propriedades biomecânicas. espessura, apresentam baixas Esses casos apresentam grande risco de serem considerados equivocadamente com pressão normal ou baixa se forem utilizadas tabelas de correção com base em cálculos lineares de paquimetria. Tipicamente esse fenômeno ocorre por edema sub-clínico (Distrofia de Fuchs inicial) ou mesmo, após cirurgias de catarata por facoemulsificação. Por exemplo, no nosso estudo apresentado na Association for Research in Vision and Ophthalmology (ARVO) (VALBON 2008), no primeiro dia após uma cirurgia de catarata, todos os pacientes apresentaram aumento da espessura corneana e 90% apresentam CH e CRF menores que os obtidos no pré operatório. As alterações no sinal do ORA, de acordo, com os novos 38 parâmetros também são importantes para uma avaliação qualitativa e demonstramos isso na The American Society of Cataract and Surgery Refractive (ASCRS) (VALBON 2010), que existem mudanças neste sinal no pósoperatório imediato na cirurgia de facoemulsificação, ou seja, não há alterações somente na CH e CRF, e sim nos 38 novos parâmetros estudados do ORA, que representam esta análise qualitativa do sinal gráfico do ORA. O estudo das propriedades biomecânicas da córnea é uma nova modalidade propedêutica e o aumento do conhecimento nessa área trará significativos benefícios para a comunidade científica e pacientes. Cirurgias e intervenções clínicas poderão ser realizadas de modo mais seguro e também ajustadas de acordo com a resposta individual de cada paciente. Resultados melhores e mais previsíveis, assim como a redução de efeitos adversos e complicações são esperados com o uso 21 desse novo conhecimento. 22 3.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A CIRURGIA DE FACOEMULSIFICAÇÃO A cirurgia de catarata com implante de lente intra-ocular (LIO) é um dos procedimentos oftalmológicos cirúrgicos mais realizados em todo o mundo (ALBANIS 1998). Atualmente, as técnicas mais utilizadas para a cirurgia de catarata são a extracapsular e facoemulsificação (FACO). Na maioria dos países desenvolvidos, a facoemulsificação é a técnica mais utilizada devido à sua pronta recuperação visual e baixa taxa de complicações intra-operatórias (LUNDSTROM 2002). Nos Estados Unidos, em 1998, aproximadamente 94% dos cirurgiões usavam a técnica de FACO em, pelo menos, 95% das cirurgias de catarata realizadas. No Reino Unido, em 1998, 77% das cirurgias de catarata realizadas no sistema de saúde nacional foram por FACO. Na Suécia, em 2000, 98% das cirurgias de catarata foram por FACO. No Brasil e em outros países sul-americanos, ainda não se dispõe desses indicadores atualizados. Acredita-se que os gastos para aquisição e manutenção dos aparelhos e insumos necessários, talvez seja o fator mais limitante para que a técnica de FACO seja difundida nos países em desenvolvimento. Porém, acredita-se que seja a técnica mais utilizada em nosso país. Nós sabemos dos efeitos nocivos ás células endoteliais da facoemulsificação (BEESLEY 1986; HAYASHI 1986). Também é conhecido o efeito prejudicial ás células endoteliais pelos altos níveis de energia do ultrasom da caneta de facoemulsificação. Estes efeitos nocivos são provocados por três mecanismos, ou seja, mecânicos, térmicos e químicos. O impacto mecânico é mediado pelas correntes e movimentos vibratórios, que geram forças de cisalhamento. A facoemulsificação aumenta a temperatura e provoca danos causados pelo calor para as células e o dano químico é mediado por radicais livres formados no humor aquoso (HOLST 1993; JOUSSEN 2000). Havendo dano ás células endoteliais, haverá uma diminuição das bombas sódio e potássio, e conseqüentemente um influxo de água no estroma corneano, 23 por sua vez aumentando a espessura corneana pós facoemulsificação (BOLZ 2006; SACHIN 2007). Uma vantagem considerada da técnica de facoemulsificação são as incisões auto-selantes, inicialmentes descritas por MCFARLAND em 1990, pois promove menor vazamento intra-operatório, permite uma abordagem corneana temporal, com conseqüente menor alteração topográfica, pois o eixo visual é deslocado nasalmente. Além disso, eliminam muitas vezes a necessidade de sutura. Podemos dividir as incisões em, esclerocorneanas e incisões corneanas, que por sua vez, podem ser límbicas, justalímbicas (também denominadas near clear) e em córnea clara - clear cornea. As incisões corneanas trazem como vantagens a redução do tempo cirúrgico (pois não são necessárias a peritomia e hemostasia) e a possibilidade de sua realização em pacientes anticoagulados e portadores de vesículas filtrantes. Além disso, a abordagem corneana permite a realização da facoemulsificação sob anestesia tópica. Porém, tais incisões devem ser reservadas preferencialmente para os casos em que serão utilizadas lentes dobráveis, já que aberturas corneanas extensas causam importantes alterações topográficas. Sua extensão mínima dependerá exclusivamente do tipo de ponteira a ser utilizada variando em tamanhos como 2,75 mm e 3,2 mm. Não podemos esquecer as microincisões, que possibilitam incisões de 1.8 mm ou menos, favorecendo e promovendo mais segurança e eficiência na cirurgia. A incisão auxiliar é uma paracentese realizada imediatamente anterior aos vasos límbicos, situada entre 70° e 90° da incisão principal. As lâminas 15°, 30° facilitam a sua confecção. A abertura interna deve estender-se por aproximadamente 1 mm e a externa 1,5 mm. O trajeto desde a abertura externa até a interna deve ser paralelo ao plano da íris, o que garantirá um aspecto auto-selante ao final da cirurgia. 24 3.4 Considerações sobre o Ocular Response Analyzer ® O ORA é o único instrumento até o momento capaz de medir a histerese corneana in vivo, foi desenvolvido em 2004 por LUCE (FIGURA 1) e em 2005 foi publicado um artigo no Journal of Cataract and Refractive Surgery, mostrando a relação entre Histerese corneana e pressão intra-ocular, ceratocone, distrofia de Fuchs e em pacientes submetidos à Lasik. FIGURA 1 – Ocular Response Analyzer (REICHERT, NEW YORK, USA). 25 O Ocular Response Analyzer não utiliza o princípio de Imbert-Fick; o mesmo princípio do tonômetro de Goldmann, e com a diferença de utilizar um jato de ar dinâmico que provoca deformações momentâneas na córnea, as quais estão associadas ás suas propriedades viscoelásticas. Um pulso de ar com intensidade (pressão) conhecida é direcionado ao olho, fazendo a córnea mover-se para dentro até atingir o estágio de aplanação e, em seguida, de suave concavidade. Poucos milissegundos após a primeira aplanação, a bomba de ar cessa e a intensidade da pressão de ar começa a declinar de forma simétrica, em velocidade e tempo, ao primeiro jato. Durante este declínio da pressão, a córnea irá voltar para sua conformação original, ocorrendo então a segunda aplanação (LUCE 2005). Durante os 20 milissegundos totais do exame, raios infravermelhos são direcionados para os 3 mm centrais da córnea e os raios refratados são monitorados por um sistema eletro-óptico. Estas informações são enviadas para um detector de sinal que irá definir o exato momento em que ocorrem as aplanações e assim determinar a pressão do jato de ar correspondente em cada uma delas (LUCE 2005). Seria de se esperar que os valores de pressão nos estados de aplanação fossem iguais (P1=P2). No entanto, devido á viscoelasticidade, a córnea oferece resistência e amortecimento (absorção de energia) ao jato de ar. Uma parte da energia gerada pelo primeiro jato de ar é absorvida e acumulada no tecido e mantém a córnea em um estado de conformação alterado (identação ou concavidade). Durante a excursão de volta, a córnea passa pelo segundo estado de aplanação em que a pressão do jato (P2) é menor comparado ao que provocou a primeira aplanação (P1). Quanto mais energia a córnea é capaz de acumular mais tempo permanece em estado de identação ou concavidade e maior o atraso para chegar á segunda aplanação. No momento em que a bomba de jato de ar cessa, e a pressão começa a declinar, a córnea tende a voltar a seu estado inicial e passa por um segundo pico de aplanação. A diferença entre os valores de P1 e P2 (P1-P2) 26 é denominada de Histerese Corneana (FIGURA 2). FIGURA 2 – A diferença entre P1 e P2 denomina-se HISTERESE. 27 28 Histerese vem do grego e significa atraso, sendo usada em física e engenharia para descrição de vários tipos de fenômenos. Como a segunda medida, P2, reflete a capacidade de a córnea resistir (ou absorver energia) á deformação causada pelo pulso de ar, tal parâmetro reflete a viscoelasticidade do tecido corneano, quanto maior a diferença maior seria esta capacidade (NETTO e cols. 2006). Além da Histerese o ORA fornece o CRF (CORNEAL RESISTANCE FACTOR) que apresenta uma correlação maior com as características estruturais, como curvatura e espessura da córnea sendo mais indicativo das suas propriedades viscoelásticas. O cálculo do CRF é feito através da fórmula matemática P1 - 0.7*P2 (NETTO e cols. 2006). O estudo da pressão intra-ocular através do ORA é através da IOPcc – CORNEAL COMPENSATED INTRA-OCULAR - que é calculada de modo a diminuir a influência dos parâmetros corneanos na medida da pressão (raio de curvatura, espessura e viscoelasticidade). Para o cálculo de IOPcc utiliza-se a fórmula P2 – (0,43 XP1), onde P1 e P2 são as pressões correspondentes á primeira e segunda aplanação, respectivamente, e a constante 0,43 é derivada de estudo realizado pela REICHERT, em que a pressão intra-ocular e a histerese foram medidas antes e depois de LASIK (NETTO e cols. 2006). Outra medida da pressão intra-ocular através do ORA é a STANDARD, GOLDMANN CORRELATED INTRAOCULAR IOPg - GOLD PRESSURE, cujo valor tem correspondência com a pressão de Goldmann, a média das pressões de aplanação P1 e P2 seria a IOPg (P1 +P2/ 2) (NETTO e cols. 2006). Atualmente o ORA apresenta uma nova versão, o ORA WS (WAVEFORM SCORE) onde nos fornece além de IOPcc, IOPg, CH e CRF, mais 38 novos parâmetros que se correlacionam com o sinal gráfico do ORA, uma análise qualitativa, podemos observar alguns desses abaixo (FIGURA 3). (NETTO e cols. 2006) - Obra Citada - NETTO M, AMBRÓSIO JR R, SCHOR P, CHALITA MR, CHAMON W. Wavefront, Topografia e Tomografia da Córnea e Segmento Anterior. Atualização Propedêutica em Cirurgia Refrativa. Ed Cultura Médica. 2006. SEÇÃO IV - Capítulo 39. Páginas 424, 425, 426 e 428. 29 FIGURA 3 – Alguns dos novos parâmetros do ORA. Análise qualitativa do sinal gráfico. ORA Waveform Analysis of Corneal Biomechanical Changes after Clear Cornea Phacoemulsification h1, h2, w1, w2, height - from lowest to highest point in peak width - at the “base” of peak region p1area, p2area area of peak 1, peak 1 uslope1, uslope2 rate of increase from BASE to PEAK PEAK PEAK h1 w1 25% point 25% point BASE BASE mslew 1,mslew 2 maximum single increase in the rise of peak 1,2 longest continuous line w/o a break dive1, dive2 backside of “downslope” of peak1, peak2 absolute value of peak from peak 1, peak 2 until the first break aindex, bindex “smoothness” of peak 1, peak 2 number of breaks in the peak or how many times the peak changes direction PEAK FIRST BREAK 25% point 25% point BASE Valbon B., Caiado A., Louzada R., Ambrosio Jr., R 30 Esta análise através do ORA WS pode identificar pacientes que não tem sintomas e sinais presentes, mas que podem ter fatores de risco para desenvolver doença corneana no futuro. AMBROSIO e cols. identificaram o parâmetro P2area como o melhor parâmetro para diferenciar pacientes com diagnóstico de Ceratocone e Normais (FIGURA 4). Porém, mais estudos serão necessários para uma análise de cada um destes parâmetros em diversas patologias. FIGURA 4 - Seleção do melhor parâmetro (ORA WS) dentre todos estudados para diferenciação de Ceratocone e Normal. 31 32 3.5 Considerações sobre o Sistema Pentacam HR ® O Sistema Pentacam HR ® utiliza a técnica da fotografia de Scheimpflug, criada por Theodor Scheimpflug, engenheiro e fotógrafo austríaco que a patenteou em 1904. Seu princípio se fundamenta na óptica paraxial da fotografia. Em 1970, baseando-se nesta técnica, um grupo de investigadores criou um sistema óptico capaz de analisar o segmento anterior do olho desde a superfície anterior da córnea até a superfície posterior do cristalino num plano sagital. Pelo princípio de Scheimpflug, as imagens da câmara anterior são obtidas por uma máquina que capta imagens de forma perpendicular à iluminação da fenda, criando uma secção óptica da córnea ao cristalino. Assim como na obtenção de imagens por técnicas acústicas, a correção das distâncias das imagens é realizada com a utilização do índice refracional e da curvatura das superfícies estudadas (DUBBELMAN, 2002). Desta forma, na fotografia digital de Scheimpflug, a imagem é processada progressivamente em cortes perpendiculares seguindo em direção ao centro do óptico, reduzindo a curvatura do raio e incrementando a profundidade e a espessura ao longo deste, diferindo da fotografia tradicional. Em 2003, a Oculus da Alemanha iniciou a comercialização do aparelho que emprega os princípios da fotografia de Scheimpflug, capaz de gerar rapidamente imagens em diferentes planos longitudinais do segmento anterior. Um sistema de câmeras percorre uma cúpula redonda para capturar cortes sagitais do segmento anterior do olho em 360º. As curvaturas corneanas, anterior e posterior, podem ser continuamente avaliadas pelo examinador e seu reconhecimento modificado manualmente, caso se faça necessário. O sistema utiliza intensidades padronizadas de luminosidade e pode determinar o índice de transmissão da luz na córnea. São realizados 50 scan por segundo com aproximadamente 500 pontos de elevação por análise de superfície, sendo medidos, aproximadamente, 25.000 pontos de elevação através da máquina fotográfica giratória. As imagens são então processadas digitalmente (DUBBLEMAN, 33 2002) (FIGURA 5). FIGURA 5 – Tomógrafo de Córnea e Segmento anterior Pentacam HR ® 34 O Sistema HR Pentacam ® auxilia na análise da córnea e do segmento anterior do olho, formando imagens em terceira dimensão, em tomadas de dois segundos, sem tocar o olho. São obtidos desta maneira, mapas tridimensionais de: paquimetria, densitometria cristaliniana, topografia corneana e análise em terceira dimensão da câmara anterior (AMANO, 2006). Estes dados podem ser empregados nas diferentes subespecialidades, como cirurgia refrativa, catarata, de glaucoma, de córnea e de alterações que envolvam o segmento anterior do olho (LACKNER, 2005) (FIGURA 6). FIGURA 6 - Imagem de Scheimplufg avalia a superfície da córnea posterior, espessura corneana, densitometria do cristalino, ângulo e volume da câmara anterior. 35 A análise topográfica anterior e posterior da córnea (que mede as faces tanto do ponto de vista de elevação, como de curvatura) fornece diversos mapas como o de elevação com múltiplas referências nos bordos, os que consideram a influência da face posterior da córnea, os de desvios da potência ceratométrica além de diversos programas com mapas padrões e comparativos com diferenciais (BARKANA, 2006). A espessura da córnea é avaliada na sua totalidade, de limbo a limbo sendo apresentada na forma de mapa colorido mostrando valores de espessura no centro da pupila, no ápice da córnea, ponto mais afinado, entre outros sendo comparável á paquimetria ultrassônica (ALONSO, 2005). Podemos detectar o ponto mais fino da córnea e a espessura central da córnea através do Mapa Paquimétrico (FIGURA 7). FIGURA 7 – Mapa Paquimétrico. 36 O sistema permite, também, a análise das dimensões da câmara anterior do olho, incluindo profundidade central, periférica e do ângulo, que se constituem em medidas importantes, por exemplo, na avaliação de implante de lentes intraoculares. A análise do cristalino, quantificando sua densidade, identifica as opacidades de cápsula anterior e posterior, auxiliando no pré e pós-operatório. Possui, além disto, a capacidade de quantificar a opacidade corneana, haze, de analisar as dobras de disco de LASIK e de avaliar casos de ectasia corneana (AMBRÓSIO 2006). As condições dos implantes de lentes intra-oculares, a relação do implante com a cápsula, a análise de implantes piggy-back , os casos de luxação de lente intra-ocular, entre outros, podem também ser obtidos através do Pentacam HR ®. Este exame também auxilia num cálculo mais preciso do poder da lente intraocular em casos de variações de curvatura corneana, como, por exemplo, nos casos de cirurgia refrativa. Este aparelho tem demonstrado boa reprodutibilidade em medidas como a espessura corneana comparadas ao paquímetro manual e Orbscan. Constitui-se na técnica mais freqüentemente utilizada para analisar descentrações de LIO, bem como na contração da cápsula anterior e na opacificação da cápsula posterior (LACKNER, 2005). 37 4.0 Material e Método 4.1 Exame Clínico / Cirurgia de Catarata Após o exame oftalmológico de rotina, todos os pacientes inclusos no estudo foram avaliados pelo ORA (Ocular Response Analyzer, Reichert Ophthalmic Instruments, Buffalo, NY, USA) e Pentacam HR (Pentacam Oculus, Wetzlar, Germany) no pré operatório, no primeiro, sétimo e trigésimo dia de pós-operatório. Foram avaliados 47 olhos de 36 pacientes com diagnóstico de catarata que foram submetidos à cirurgia de facoemulsificação com córnea clara e implante de lente intra-ocular. Quaisquer doenças do segmento anterior, como doenças morfológicas, cicatrizes, distrofias epiteliais, estromais e endoteliais, processos degenerativos, alterações infecciosas e/ou inflamatórias, diagnóstico prévio de glaucoma, suspeita de glaucoma e hipertensos oculares, além dos pacientes que foram submetidos à cirurgia ocular previamente, foram critérios de exclusão do estudo. Todas as cirurgias foram realizadas pelo mesmo cirurgião, utilizando a incisão córnea clara 2.75 mm e auxiliar com lâmina 15°, agente viscoelástico (metilcelulose a 2%), técnica Stop & Chop e implante de lente intraocular (LIO) dobrável. O estudo respeitou as normas estabelecidas na Declaração de Helsinki e as orientações e normas do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense sendo aprovado com o protocolo CAAE número 0185.0.258.000-08 38 4.2 Análise Estatística O Teste de Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para avaliar a distribuição normal. As medidas obtidas através dos dois aparelhos, ORA (Ocular Response Analyzer, Reichert Ophthalmic Instruments, Buffalo, NY, USA) e Pentacam HR (Pentacam Oculus, Wetzlar, Germany) foram avaliados pelo T-test (Student's paired t-test) para amostras pareadas. A análise estatística foi realizada utilizando-se o programa SPSS (SPSS version 15.1 software for Windows, SPSS Inc., Chicago, IL). Foi considerado como estatisticamente significante p < 0,05%. 39 5.0 Resultados 5.1 Medidas da Espessura Central da Córnea (ECC) As medidas da espessura central da córnea foram: Média de 555.8 µ (desvio padrão de 43.7 µ) no pré operatório, 690.6 µ (desvio padrão de 179.9 µ) no primeiro dia pós operatório, 613.7 µ (desvio padrão de 107.9 µ) no sétimo dia de pós operatório e 567.1 µ ( desvio padrão de 44.8 µ) no trigésimo dia pós operatório (TABELA 2). 5.2 Medidas da Histerese Corneana (CH) As medidas da Histerese Corneana (CH) foram: Média de 9.6 mmHg (desvio padrão de 1.2 mmHg) no pré operatório, 8.1 mmHg (desvio padrão de 1.5 mmHg) no primeiro dia pós operatório, 9.1 mmHg (desvio padrão de 1.4 mmHg) no sétimo dia de pós operatório e 9.0 mmHg ( desvio padrão de 1.7 mmHg) no trigésimo dia pós operatório (TABELA 2). 5.3 Medidas do Fator de Resistência Corneana (CRF) As medidas do Fator de Resistência Corneana (CRF) foram: Média de 9.5 mmHg (desvio padrão de 1.5 mmHg) no pré operatório, 7.8 mmHg (desvio padrão de 1.6 mmHg) no primeiro dia pós operatório, 8.3 mmHg (desvio padrão de 1.5 mmHg) no sétimo dia de pós operatório e 8.7 mmHg ( desvio padrão de 1.7 mmHg) no trigésimo dia pós operatório (TABELA 2). 40 TABELA 2 – Evolução das variáveis, Espessura Central Corneana (ECC), Histerese Corneana (CH) e Fator de Resistência Corneana (CRF). Pré D1 D7 D30 ECC 555.8 (±43.7) 690.6 (±179.9) 613.7 (±107.9) 567.1(±44.8) Histerese 9.6 (± 1.2) 8.1 (± 1.5) 9.1 (± 1.4) 9.0 (± 1.7) CRF 9.5 (± 1.5) 7.8 (± 1.6) 8.3 (±1.5) 8.7 (± 1.7) 5.4 Resultados da Análise Estatística 5.4.1 Comparação dos valores das medidas da Espessura Corneana Central (ECC) A comparação entre a média da ECC do Pré-operatório e o primeiro dia de pós operatório foi estatisticamente significativo (p<0,05). A comparação entre a média da ECC do Pré-operatório e o sétimo dia de pósoperatório foi estatisticamente significativa (p<0,05). A comparação entre a média da ECC do Pré-operatório e o trigésimo dia pós operatório não foi estatisticamente significativo (p>0,05). A evolução das medidas da ECC pode ser observada no GRÁFICO 1. O T-test foi utilizado para amostras pareadas. 41 5.4.2 Comparação dos valores das medidas de Histerese Corneana (CH) A comparação entre a média da CH do Pré-operatório e o primeiro dia de pós operatório foi estatisticamente significativo (p<0,05). A comparação entre a média da CH do Pré-operatório e o sétimo dia de pósoperatório não foi estatisticamente significativo (p>0,05). A comparação entre a média da CH do Pré-operatório e o trigésimo dia pós operatório não foi estatisticamente significativo (p>0,05). A evolução das medidas de CH pode ser observada no GRÁFICO 2. O T-test foi utilizado para amostras pareadas. 5.4.3 Comparação dos valores das medidas do Fator de Resistência Corneana (CRF) A comparação entre a média do CRF do Pré-operatório e o primeiro dia de pós operatório foi estatisticamente significativo (p<0,05). A comparação entre a média do CRF do Pré-operatório e o sétimo dia de pósoperatório foi estatisticamente significativa (p<0,05). A comparação entre a média do CRF do Pré-operatório e o trigésimo dia pós operatório foi estatisticamente significativo (p<0,05). A evolução das medidas de CRF pode ser observada no GRÁFICO 3. O T-test foi utilizado para amostras pareadas. 42 800 600 Paquimetria 1000 1200 GRÁFICO 1 – Evolução das medidas da Espessura Central Corneana (ECC). P r e -o p D ia 1 D ia 7 D ia 3 0 8 6 4 2 Histerese 10 12 14 GRÁFICO 2 – Evolução das medidas da Histerese Corneana (CH). P re -o p D ia 1 D ia 7 D ia 3 0 43 10 8 6 4 2 CRF 12 14 16 GRÁFICO 3 – Evolução das medidas do Fator de Resistência Corneano (CRF). P r e- op Dia 1 D ia 7 D ia 3 0 44 6.0 Discussão De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, a prevalência da catarata senil é de 17,6 % em pacientes com até 65 anos de idade, passando para 47,1% em pacientes entre 65 e 74 anos e para 73,3 % em pacientes com mais de 75 anos de idade. A incidência anual de catarata é estimada pela Organização Mundial de Saúde, em 0,3 %, ou seja, 3 novos casos para cada 1000 habitantes por ano. Ao colocarmos estes números na realidade brasileira, temos uma estimativa de 552.000 novos casos de catarata por ano no Brasil. Foram realizadas no período de 2000 a 2007 no estado de São Paulo, pelo Sistema Único de Saúde, 501.274 cirurgias de catarata. Em todo o país, este número cresce para 2.232.288 cirurgias no mesmo período. De modo mais amplo, como na Índia e Estados Unidos, podemos dizer que a cirurgia de catarata é um dos procedimentos mais realizados no mundo e a técnica de facoemulsificação é o método mais utilizado pela maioria dos cirurgiões. A Hipertensão Ocular é uma complicação reconhecida após cirurgia, mesmo quando realizada sem complicações ou intercorrências per-operatórias (ALVES 2001; DAYANIR 2005). Além disso, o uso de colírio no pós operatório á base de corticóides, tendem a elevar a PIO, provocando uma hipertensão cortisônica (BARTLETT 1993). Com isso, mostra a importância da aferição da PIO, o seu controle e manejo no pósoperatório de facoemulsificação. A cirurgia por facoemulsificação pode evoluir com aumento da espessura corneana no pós operatório (BOLZ 2006; SACHIN 2007), devido ao influxo de água no estroma corneano, através da diminuição das bombas sódio e potássio pelos danos mecânicos, térmicos e químicos que este tipo de cirurgia provoca (BEESLEY; HAYASHI 1986). A tonometria de aplanação de Goldmann (TAG) é o método padrão-ouro de aferição da PIO e mais utilizado no mundo. A influência da córnea nas medidas da TAG é sabida desde a introdução do método por GOLDMANN E SCHIMITD em 1957. Entretanto, somente após a publicação do estudo Ocular Hypertension Treatment Study (OHTS), em junho de 2002, que identificou em análise multivariada a espessura 45 central da córnea (ECC) como o mais importante fator preditivo para o desenvolvimento de lesão glaucomatosa do nervo óptico em pacientes hipertensos oculares, que houve a popularização desta variável (GORDON 2002). Inicialmente, as explicações para a associação entre a influência da espessura corneana no desenvolvimento da neuropatia óptica glaucomatosa estavam baseadas no fato de que córneas mais finas apresentam uma influência negativa na medida da pressão intra-ocular (PIO) por meio de tonometria de aplanação de Goldmann. Deste modo, pacientes com córneas mais finas apresentar-se-iam com medidas de PIO menos elevado e, consequentemente, seriam menos tratados, o que aumentaria o risco de progressão da neuropatia, e por sua vez córneas mais espessas apresentarse-iam com medidas de PIO mais elevado. Fórmulas de correção da TAG foram propostas com base em análises de regressão linear com a ECC. Entretanto, GUNVANT 2005, demonstrou que tais fórmulas podem hipercorrigir a medida da pressão em córneas finas. Por outro lado, córneas com aumento da espessura por edema apresentam uma resistência reduzida e, portanto um efeito na TAG similar a córneas com menor espessura (SIMON 1993). Um recente artigo demonstra que córneas com distrofia endotelial de Fuchs, com espessura significativamente maior (média de espessura 606 µm, com desvio-padrão de 20, variando entre 578-635µm), apresentando menores CH e CRF e maiores diferenças entre IOPcc que IOPg (DEL BUEY 2009). Adicionalmente, duas córneas com ECC semelhantes, podem ter propriedades biomecânicas distintas (HERDRON 2006) e as variações relacionadas com a tensão da superfície referidas pela resistência da córnea potencialmente determinam maior impacto na TAG, que a espessura central corneana e a ceratometria (LIU e ROBERTS 2005). As propriedades biomecânicas da córnea são necessariamente avaliadas em conjunto com a ECC, na qual medidas da PIO têm sido mostradas diferentemente acordadas com a elasticidade e dureza da córnea (MEDEIROS 2006). Com a introdução do ORA, iniciamos uma nova fase no entendimento das propriedades biomecânicas da córnea. Estas podem ser descritas em 2 propriedades. A primeira elasticidade, resistência estática, em que a força aplicada é diretamente proporcional a deformação, caracterizada pelo CRF. A segunda propriedade é a 46 viscosidade, resistência dinâmica, em que a deformação e a força aplicada dependem do tempo, caracterizada pela CH. Ambos componentes fazem o sistema viscoelástico da córnea (ALIÓ 2010). Muitos estudos reportaram reduções significantes na CH e CRF após cirurgia de catarata. As reduções são resultados do procedimento cirúrgico que mudam as propriedades biomecânicas da córnea. HAGER e cols. (HAGER 2007) avaliaram as mudanças de CH nas primeiras 24 horas após facoemulsificação. Eles relataram em seu estudo que a CH diminuiu enquanto a ECC aumentou. De acordo com estudo, o edema corneano pós operatório desempenhou um papel importante na redução da capacidade do amortecimento da córnea, por consequência uma diminuição na CH. Bem semelhante, o estudo de KUCUMEN e cols. (KUCUMEN 2008), avaliaram os parâmetros biomecânicos por um período de 3 meses. Num primeiro momento após cirurgia de facoemulsificação as variáveis CH, CRF e ECC, sofreram mudanças, mas retornaram ao normal no final de 3 meses. Sugeriram que um fator que influencia as mudanças biomecânicas é o microleakage no pós operatório imediato. Adicionalmente relataram da dificuldade que os pacientes tinham em abrir os olhos no primeiro dia da medida e relatam também sobre a diminuição do amortecimento da córnea e presença de viscoelástico retida em câmara anterior, para as mudanças biomecânicas. Nosso estudo que foi apresentado na ARVO 2008, corrobora com estes resultados, a ECC juntamente com CH e CRF estiveram alterados no primeiro dia pós operatório. A ECC juntamente com a CH voltou ao normal no final de 30 dias, porém o CRF permaneceu alterado. No estudo de KUCUMEN, o CRF permanece alterado na primeira semana e no trigésimo dia volta ao normal. A paracentese utilizada no artigo de KUCUMEN foi de 2.4 mm. Em nosso estudo fora utilizado uma paracentese de 2.75 mm e uma auxiliar com lâmina 15° com diâmetro de 1 a 1,5 mm. Podemos pensar que, além do edema corneano, que diminui a capacidade de amortecimento de energia da córnea, diminuindo as propriedades biomecânicas, alteramos mais a estrutura corneana, a sua arquitetura, com uma confecção maior da paracentese, havendo um possível deslocamento das fibras de colágeno, havendo assim um remanejamento, e por sua vez uma diminuição da CH e CRF. Valores de CRF e CH são baixos em olhos míopes e com comprimento axial maior que a média da população, isso se dá pela maior extensibilidade das fibras de colágeno (CHANG 2010). Mudanças biomecânicas 47 podem manifestar clinicamente como mudanças imediatas do formato da córnea (DUPPS 2006), como podem ser visto no nosso estudo. No entanto as propriedades biomecânicas podem retornar ao normal quando a estabilidade do tecido corneano se recuperar ao longo do tempo. Outra sugestão que propomos então, é a cicatrização completa da paracentese, que poderia ser um dos prováveis motivos do não retorno do CRF no final de 30 dias em nosso estudo. Alió e cols (ALIO 2010) compararam as propriedades biomecânicas entre a cirurgia coaxial, com incisão de 2.75 mm e microincisão, menores que 1.8 mm. Eles relatam que a mudança da biomecânica, em especial a CH, em seu estudo é diretamente relacionado ao tamanho da incisão, com isso concluiu que as cirurgias de microincisões promovem maior estabilidade nas propriedades biomecânicas da córnea do que a cirurgia de facoemulsificação coaxial. No congresso da American Society of Cataract and Refractive Surgery (ASCRS) em 2009, complementamos nosso estudo com uma avaliação dos 38 novos parâmetros do ORA WS, e correlacionamos com os novos índices tomográficos de progressão paquimétrica após o primeiro dia de cirurgia de facoemulsificação, existindo uma correlação invertida entre os dados paquimétricos da Tomografia e os da biomecânica do ORA WS em córneas com edema. Adicionalmente no estudo, foi verificado que houve mudanças em todos os 38 parâmetros estudados em córneas com aumento da espessura pelo edema, ou seja, no primeiro dia de pós-operatório. No mesmo ano, tivemos a oportunidade de publicar um relato de caso (VALBON 2009), em que, sintetiza a influência da córnea na medida da PIO. Um paciente submetido à cirurgia de facoemulsificação após 28 dias, apresentava uma hipertensão ocular “mascarada” pelo edema corneano leve (sub-clínico) que ainda permanecia, onde TAG era de 16 mmHg e a IOPcc (Pressão intra-ocular compensada da córnea) através do ORA, era de 25,6 mmHg. Documentamos com a Tomografia de Córnea uma espessura central corneana de 591 µm. Com a introdução de medicação antihipertensiva, houve uma melhora clínica do paciente, e o mesmo, após período de 2 semanas apresentava uma IOPcc de 13, 9 mmHg, com uma redução da ECC para 522 µm, devido a melhora do edema. O caso mostra uma medida da TAG subestimada, após facoemulsificação. 48 Apresentaremos na ASCRS em 2011 (aceito recentemente como paper), um trabalho em que comparamos as medidas da IOPg (IOPg – gold standard, Goldmann correlated Intraocular pressure) e IOPcc (IOPcc – corneal compensated Intraocular pressure) antes e após a cirurgia de facoemulsificação com córnea clara, e observamos uma diminuição da IOPg no pós-operatório imediato, com p < 0,01 entre IOPg (PRE x D1). Acreditamos que córneas espessas não necessariamente hiperestimam a TAG, nestes casos onde há edema, pelo contrário, subestimam, pois há evidências de que a espessura da córnea não necessariamente reflete a resistência elástica e a flexibilidade do parênquima corneano – Biomecânica da Córnea. 49 7.0 Conclusão O aumento da espessura central da córnea (ECC) após cirurgia de catarata por facoemulsificação com córnea clara é acompanhado pela diminuição da Histerese Corneana (CH) e Fator de Resistência Corneana (CRF) no pós operatório imediato. Tal obsevação confirma que não há uma relação linear entre a ECC e suas propriedades biomecânicas. Mesmo após o retorno da ECC e CH aos valores pré-operatórios, o CRF permaneceu diminuído no pós operatório até trinta dias. 50 8.0 Referências Bibliográficas AHMADI AJ, JAKOBIEC FA. Corneal wound healing: cytokines and extracellular matrix proteins. Int Ophthalmol Clin, 2002: 42:13-22. ALBANIS C, DW YER MA, ERNEST T. 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J Biomech, 2001: 34(4): 533-7. 63 9.0 APÊNDICES E ANEXOS PÓS GRADUANDO : BRUNO DE FREITAS VALBON Mestrado em Glaucoma) Ciências Médicas (Linha 1 – IDENTIFICAÇ PROJETO: de ÃO Pesquisa: Oftalmologia DO AVALIAÇÃO DA ESPESSURA CENTRAL DA CÓRNEA E SUAS PROPRIEDADES BIOMECÂNICAS APÓS FACOEMULSIFICAÇÃO COM CÓRNEA CLARA. 1.1 – Título: 1.2 – Área de Concentração (CNPq): Mestrado em Ciências Médicas (Linha de Pesquisa: Glaucoma) 1.3 – Palavras – Chave: Propriedades Biomecânicas, Edema de Córnea, Tomografia de Córnea, Espessura corneana; Facoemulsificação 1.4 – Local de Realização do Projeto: Hospital Universitário Antônio Pedro da Universidade Federal Fluminense. Departamento de Oftalmologia; Instituto de Olhos Renato Ambrósio – RJ – Clinica Particular. Projeto avaliado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa / SISNEP Sistema Nacional sobre Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos: Aprovação CEP/CONEP em Dezembro 2008 Projeto CAAE NÚMERO 0185.0.258.000-08 64 IDENTIFICAÇ ÃO DOS RESPONS ÁVEIS/EQUIPE ENVOLVIDA Dr. Bruno de Freitas Valbon Pós-Graduando : Nível Mestrado em Ciências Médicas (Linha de Pesquisa: Glaucoma) Médico Assistente do Setor de Catarata do Hospital Universitário Antônio Pedro da Universidade Federal Fluminense; Médico Assistente do Instituto de Olhos Renato Ambrósio. Orientador: Prof. Marcelo Palis Ventura Universidade Federal Fluminense - Hospital Universitário Antônio Pedro Departamento de Oftalmologia - Setor de Glaucoma Professor Orientador do Mestrado em Ciências Médicas (Linha de Pesquisa: Glaucoma) Universidade Federal Fluminense; Glaucoma do Hospital Universitário Responsável Antônio Pedro; pelo Setor Doutor e Mestre Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pós-Doutorado em Glaucoma de pela e Patologia Ocular pela McGill University, Montreal, Canadá. Co-Orientator: Prof. Renato Ambrósio Jr. Instituto de Olhos Renato Ambrosio e Refracta Rio. Coordenador do Grupo de Estudos da Biomecânica e Tomografia da Córnea do Rio de Janeiro. Responsável pelo Setor Córnea e Refrativa do Instituto de Olhos Renato Ambrosio e Refracta Rio. Doutor em Ciências (Concentração: Medicina Oftalmologia) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, SP; 65 Professor Assistente da Pontíficie Universidade Católica-Rio de Janeiro –RJ. INFRA‐ESTRUTUR A ESTUDO: Estrutura do DISPONÍVEL Departamento de PARA REALIZ AÇ ÃO Glaucoma – Setor DO de Oftalmologia Hospital Universitário Antônio Pedro – Universidade Federal Fluminense. Foram colocados à disposição dos pesquisadores equipamentos e um grupo de médicos capacitado para a realização de exames oftalmológicos, atendendo à demanda do município de Niterói e região adjacente através de referência terciária. Estrutura do Instituto de Olhos Renato Ambrósio – Clínica Particular. O Instituto de Olhos Renato Ambrósio possui equipamentos de última geração para avaliação de pacientes com doenças oculares, entre eles o Pentacam HR e o ORA objetos do presente estudo. O Corpo Clínico do Instituto disponibilizou toda a infra-estrutura da Clínica, localizada no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, para a avaliação dos pacientes selecionados para a pesquisa, sem qualquer ônus. CONSIDERAÇÕES GERAIS: Não existiram fontes geradoras de recursos. Os pesquisadores realizaram os exames por meio de subsídios próprios, responsabilizando-se pela conclusão do estudo. 66 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Título do Estudo: AVALIAÇÃO DA ESPESSURA CENTRAL DA CÓRNEA E SUAS PROPRIEDADES BIOMECÂNICAS APÓS FACOEMULSIFICAÇÃO COM CÓRNEA CLARA. Você está sendo convidado (a) a participar de um estudo que tem a finalidade de avaliar as características do olho humano por meio de fotografias (chamadas de fotografias de Scheimpflug) e pelo sistema de não-contato por sopro, exames feitos no Instituto de Olhos Renato Ambrosio. Os riscos são mínimos e similares ao de um exame oftalmológico padrão. Poderá haver um pequeno desconforto durante o exame pelo sistema de não contato por sopro, pois, o mesmo emitirá um sopro. Você terá seu exame oftalmológico de rotina feito da mesma forma que a habitual, acrescido da realização de dois (dois) exames complementares específicos para avaliação da pressão intra-ocular, propriedades biomecânicas e a espessura central da córnea. Será então realizado da seguinte maneira: Exames Complementares: você será posicionado, em seqüência, em dois aparelhos: 1. O APARELHO PENTACAM (PENTACAM, OCULUS, WETZLAR, GERMANY) – PARA FOTOGRAFIAS ESPECIAIS DO OLHO. 2. O aparelho ORA (Ocular Response Analyzer, Reichert Ophthalmic Instruments, Buffalo, NY, USA) - um exame de não contato por sopro. • Cada exame dura em torno de 5 minutos e há somente mínimo desconforto, ou até mesmo nenhum desconforto, a não ser relacionado à exposição luminosa emitida 67 pelos aparelhos e por um sopro que será emitido por um dos aparelhos em direção ao olho. • Você será informado sobre todos os procedimentos e exames realizados, e tem o direito de perguntar e se recusar a realizar os mesmos. • Você terá seu exame Oftalmológico completo realizado, não resultando em nenhum prejuízo em favor da coleta dos dados. • Não há nenhum risco de contaminação ou transmissão de doenças com a realização dos exames acima citados, nem necessidade de cuidados especiais ou uso de medicamentos após os mesmos, uma vez que não há indução de danos ou ferimentos. • Garantia de acesso às informações: em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais/médicos responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. O principal investigador é o Dr. Bruno de Freitas Valbon, que pode ser encontrado no endereço: Rua Andrade Pinto, 18, Niterói. Telefone 26218392 ou o 81037117. Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal Fluminense – Niterói. • É garantida a liberdade da retirada de consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo à continuidade de seu tratamento na Instituição. • Direito de confidencialidade / segurança – As informações obtidas serão analisadas em conjunto com outros pacientes, não sendo divulgado a identificação de nenhum paciente. • Direito de ser mantido atualizado sobre os resultados parciais das pesquisas, quando em estudos abertos, ou de resultados que sejam do conhecimento dos pesquisadores. • Despesas e compensações: não há despesas (custos) pessoais para o participante 68 em qualquer fase do estudo, incluindo exames e consultas. Também não há compensação o financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será absorvida pelo orçamento da pesquisa. • Em caso de dano pessoal, diretamente causado pelos procedimentos ou tratamentos propostos neste estudo (nexo causal comprovado), o participante tem direito a tratamento médico na Instituição, bem como às indenizações legalmente estabelecidas. • Compromisso do pesquisador de utilizar os dados e o material coletado somente para esta pesquisa. Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo: AVALIAÇÃO DA ESPESSURA CENTRAL D A CÓRNEA E SUAS PROPRIEDADES BIOMECÂNIC AS APÓS FACOEMULSIFICAÇÃO COM CÓRNEA CL AR A. Eu discuti com o Dr. Bruno de Freitas Valbon, sobre a minha decisão em participar nesse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso a tratamento hospitalar quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento neste Serviço. ---------------------------------------- Identidade / CPF: --------------------------------Idade: ------------ Assinatura do paciente / representante legal Local e Data / / Assinatura da testemunha Data / / 69 (Somente para o responsável do projeto) Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste paciente ou representante legal para a participação neste estudo. Assinatura do responsável pelo estudo Dr. Bruno de Freitas Valbon 70 10.0 Tabelas, Figuras e Gráficos TABELA 1. Fatores determinantes da biomecânica corneana. Página 17. TABELA 2. Evolução das variáveis, Espessura Central Corneana (ECC), Histerese Corneana (CH) e Fator de Resistência Corneana (CRF). Página 38. FIGURA 1 – Ocular Response Analyzer (REICHERT, NEW YORK, USA). Página 24. FIGURA 2 – A diferença entre P1 e P2 denomina-se HISTERESE. Página 26. FIGURA 3 – Alguns dos novos parâmetros do ORA. Análise qualitativa do sinal gráfico. Página 28. FIGURA 4 - Seleção do melhor parâmetro (ORA WS) dentre todos estudados para diferenciação entre Ceratocone e Normais. Página 29. FIGURA 5 – Tomógrafo de Córnea e Segmento anterior Pentacam HR ® . Página 31. FIGURA 6 - Imagem de Scheimplufg avalia a superfície da córnea posterior, espessura corneana, densitometria do cristalino, ângulo e volume da câmara anterior. Página 32. FIGURA 7 – Mapa Paquimétrico. Página 33. GRÁFICO 1 – Evolução das Medidas da Espessura Central Corneana (ECC). Página 40. GRÁFICO 2 – Evolução das Medidas da Histerese Corneana (CH). Página 40. GRÁFICO 3 – Evolução das Medidas do Fator de Resistência Corneana (CRF). Página 41. 66 11.0 Artigo Final 67 1