NIVELAMENTO EM QUÍMICA: UMA ESTRATÉGIA DE ENSINO PARA
INGRESSANTES DE ENGENHARIA QUÍMICA DA UFPA
Shirley Cristina Cabral NASCIMENTO – [email protected]
Marlice Cruz Martelli – [email protected]
Instituto de Tecnologia, Universidade Federal do Pará
Rua Augusto Corrêa, 01 – Guamá
66075-110 – Belém – PA
Resumo: A Universidade Federal do Pará através de seu curso de graduação de Engenharia Química,
forma Engenheiros Químicos com possibilidades de trabalhar em diversas áreas, inclusive na área de
educação. Dentro desse contexto, de forma a proporcionar um aumento qualitativo no conhecimento
do aluno em relação ao ensino básico da química, o Instituto de Tecnologia em parceria com a PróReitoria de Extensão, disponibiliza aos seus ingressantes cursos de nivelamento em química desde
2011. Antes do início das aulas da graduação, os alunos participam voluntariamente de atividades que
vão desde aulas presenciais a palestras motivacionais, com o objetivo de provocar uma modificação
na atitude do aluno em relação ao processo de ensino e aprendizagem, isto é, a auto-aprendizagem e
também minimizar deficiências em relação aos conteúdos básicos da química. Este artigo apresenta
o desempenho acadêmico dos ingressantes do curso de Engenharia Química que participaram do
nivelamento em 2014, no que diz respeito a duas disciplinas do primeiro bloco, Química Inorgânica
Básica (QIB) e Química Orgânica Básica (QOB). São apresentados resultados relacionados aos
índices de aprovação e evasão, efetuando-se comparação com ingressantes que não participaram do
nivelamento. Os percentuais de aprovação encontrados confirmam que o nivelamento contribuiu de
forma muito positiva, pois entre os ingressantes que participaram do nivelamento a aprovação em
QIB foi de 92,6% e em QOB foi de 85,2%. Em relação aos índices de evasão, percebeu-se que quem
fez o nivelamento evadiu muito menos do que os alunos que não participaram, sendo esse percentual
de pelo menos cinco vezes menor. Diante disso, fica evidente que cursos de nivelamento como este
constituem em estratégias eficazes na formação de engenheiros químicos.
Palavras-chave: Educação, ensino-aprendizagem, química.
1. Introdução
Tendo em vista que nos últimos anos o mecanismo de seleção para o ingresso no ensino
superior vem mudando, observa-se que o perfil do aluno ingressante acompanha essa mudança, pois
o que se vê atualmente é um perfil bastante heterogêneo, não só com relação à faixa etária, mas,
sobretudo quanto ao conhecimento específico de disciplinas básicas, no que se refere ao
desenvolvimento de competências e habilidades.
Alinhado com as demandas criadas pelos decretos nº 6096/2007 e nº 7234/2010, da
Presidência da República, que dispõe sobre o REUNI e o PNAES, em 2011 foi instituído, em parceria
com a Pró-Reitora de Extensão da UFPA (PROEX), o Projeto de Cursos de Nivelamento para
Ciências Básicas para as Engenharias (PCNA). O projeto foi criado com o objetivo de diminuir o
déficit de aprendizagem dos discentes que ingressam para os cursos de Engenharia do ITEC. A
qualidade do resultado obtido pelo PCNA fez com que o projeto se transformasse em programa em
dezembro de 2014.
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O programa atende, preferencialmente, os ingressantes dos cursos de graduação em
engenharia da UFPA e oferece um conjunto de ações voltadas para a melhoria do processo ensinoaprendizagem nas ciências básicas para as engenharias, a saber: química, física e matemática.
O programa oferece cursos de nivelamento em Química Elementar, Física Elementar e
Matemática Elementar em duas edições por ano, incluindo um serviço de plantão de dúvida que
funciona o ano todo. Os cursos podem ser contabilizados como atividades complementares, uma vez
que não são de caráter obrigatório.
As atividades desenvolvidas na primeira semana dos cursos de nivelamento funcionam como
ação de acolhimento acadêmico-institucional e conta com uma adesão voluntária inicial em torno de
70% do total de alunos ingressantes.
O conjunto de ações que integram o programa PCNA vai desde a preparação didáticopedagógica, através de treinamento para os monitores que atuam no programa, assim como a
execução de projetos de extensão vinculados, que oportuniza a prática extensionista a graduandos da
UFPA, possibilita a aproximação da universidade com a sociedade e também a troca de
conhecimentos entre academia e comunidade.
2. Conhecendo o programa PCNA
2.1 Aulas presenciais e não presenciais
Os cursos de nivelamento contam com um módulo não presencial a partir de um Ambiente
Virtual de Aprendizagem utilizando-se a plataforma Moodle, seguido de um módulo de aulas
presenciais de Química, Física e Matemática Elementar, somando um total de três semanas de curso,
oferecidos antes do início das aulas da graduação.
O ambiente virtual tem uma importância significativa no processo de verificação da
aprendizagem, funcionando como uma importante ferramenta na aferição do aproveitamento por
parte dos alunos.
O curso de nivelamento em Química Elementar nas duas edições de 2014 abordou os conteúdos
listados na Tabela 1.
Tabela 1 – Conteúdo de Química Elementar.
Tópicos
Estudo do Átomo
Reações Inorgânicas
Soluções
Cinética Química
Estudo dos Gases
Eletroquímica
Ligações Químicas
Estequiometria
Ácidos e Bases
Equilíbrio Químico
Termodinâmica
Orgânica
Ao final de cada tópico, os alunos são orientados a resolver uma série de problemas de
complexidade moderada, nos quais a fundamentação dos conceitos essenciais e a interpretação dos
dados são criteriosamente analisadas. Essa iniciativa é chamada de Avaliação Continuada e tem como
objetivo otimizar o tempo de duração dos cursos e realizar o máximo de verificações possíveis.
2.2 Plantão de dúvida
Após o término dos cursos de nivelamento, o programa dispõe de um espaço físico específico,
oferecendo um recurso de auxílio aos estudantes denominado Plantão de Dúvidas. Constituído de
uma sala climatizada, dotada de mobiliário e acervo bibliográfico básico para as três disciplinas de
ciências básicas (química, física e matemática). O espaço físico conta com recursos de informática,
acesso à internet, mantendo monitores de plantão, para as três disciplinas. Vale ressaltar que esse
plantão atende independentemente a todos os alunos de engenharia, esclarecendo dúvidas e
direcionando os estudantes com dificuldade nas ciências básicas. Funciona de segunda à sexta, de
08:30 às 18:30 h.
3. O curso de Engenharia Química
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Tem como objetivo formar engenheiros químicos capazes de projetar, construir e colocar em
funcionamento equipamentos de processos químicos, compreender e assimilar novas tecnologias a
partir de matérias primas naturais ou de rejeitos industriais, avaliar o impacto das atividades da
engenharia no contexto social e ambiental; avaliar a viabilidade econômica de projetos de engenharia,
para processar e elaborar novos produtos; atuar nas áreas de ensino, pesquisa e desenvolvimento
sustentável ou até mesmo na política.
A organização curricular para o curso de graduação em engenharia química é dividida por
períodos, em sucessão articulada de forma a efetivar a formação do estudante nos diferentes vetores:
humano, científico e o profissional, apresentando carga horária total de 3740 horas a serem cumpridas
em um tempo mínimo de cinco anos.
A metodologia de ensino adotada tem como característica principal a aprendizagem centrada
na participação ativa dos discentes. Os procedimentos metodológicos são aplicados de modo a
desenvolver, além da aquisição de conhecimentos, a capacidade de produção, posicionamento,
expressão, resolução de problemas e senso crítico.
4. Desempenho dos alunos ingressantes nas disciplinas de química
Os dados utilizados na avaliação de desempenho foram obtidos a partir dos diários de classe
fornecidos pelos professores que ministram as seguintes disciplinas do primeiro ano do curso de
graduação em Engenharia Química, a saber: Química Inorgânica Básica (QIB) e Química Orgânica
Básica (QOB). Optou-se por escolher o primeiro ano do curso, visto que parece ser o que exerce
maior dificuldade sobre o estudante, por se tratar de um período de adaptação.
São apresentados resultados relacionados aos índices de aprovação e evasão, tendo como
referência somente o aluno ingressante, ou seja, o aluno que faz a disciplina pela primeira vez. Com
esses resultados, efetuou-se uma comparação entre os ingressantes que participaram e os ingressantes
que não participaram do nivelamento.
Entende-se como evasão a desistência por parte do aluno, ou seja, aquele aluno que não foi
até o final do período de aulas, foi reprovado por frequência, tendo a denominação SFR. Ao excluir
os alunos SFR, denomina-se o grupo de Alunos Efetivos – pois dessa maneira retira-se a quantidade
de alunos que não frequentaram as aulas, tornando possível a comparação direta entre os alunos
aprovados e reprovados, considerando que ambos foram até o final do período de aulas.
São denominados de alunos PCNA os alunos que fizeram o nivelamento com aproveitamento,
ou seja, receberam o certificado de participação, assim como são denominados alunos NÃO PCNA
os alunos que por algum motivo não fizeram o nivelamento.
5. Resultados e Discussão
Em relação à disciplina Química Inorgânica Básica (QIB), em 2014 foram matriculados 72
(setenta e dois) ingressantes, dos quais 55 (cinquenta e cinco) alunos foram aprovados, 10(dez) foram
considerados SFR e 07 (sete) reprovados. Em relação à disciplina Química Orgânica Básica (QOB),
em 2014 foram matriculados 72 (setenta e dois) ingressantes, dos quais 53 (cinquenta e três) alunos
foram aprovados, 09 (nove) foram considerados SFR e 10 (dez) reprovados.
Na Tabela 2 abaixo, encontra-se a descrição dos dados utilizados neste trabalho, ou seja, a
quantidade de alunos que efetivamente cursaram a disciplina, a quantidade de alunos que dentre estes
fizeram o nivelamento e dos que fizeram o nivelamento quantos foram aprovados.
Tabela 2 – Descrição dos alunos matriculados nas disciplinas QIB e QOB no ano de 2014.
Disciplina
QIB
QOB
Alunos
Matriculados
72
72
Alunos SFR
PCNA N-PCNA
01
09
01
08
Alunos Efetivos
PCNA N-PCNA
27
35
27
36
Alunos Aprovados
PCNA N-PCNA
25
30
23
30
Observando-se os dados da Tabela 2, verifica-se que tendo como referência os 55 alunos
aprovados na disciplina Química Inorgânica Básica, 25 alunos fizeram o nivelamento em Química
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Elementar, o que correspondente a uma parcela de 45,45% aproximadamente metade do total de
alunos aprovados.
De forma similar, tendo como referência os 53 alunos aprovados na disciplina Química
Orgânica Básica, 23 alunos fizeram o nivelamento em Química Elementar, o que correspondente a
uma parcela de 43,39% aproximadamente metade do total de alunos aprovados.
Em Química Inorgânica Básica, considerando-se os alunos que realizaram o nivelamento em
Química, fizeram a disciplina e foram até o final, ou seja, não desistiram, o percentual de aprovação
foi de 92,6%; entre os alunos que não fizeram o nivelamento, o percentual foi de 85,7% o que pode
sugerir que a realização do nivelamento fez aumentar as chances de aprovação.
Para melhor entendimento dos percentuais de aprovação, reprovação e evasão, mostrados na
Figura 1 abaixo, deve-se enfatizar o universo de alunos PCNA e o universo de alunos NÃO PCNA
de cada disciplina, que foi de 28 (vinte e oito) alunos PCNA e 44 (quarenta e quatro) alunos NÃO
PCNA para as duas disciplinas.
Química Inorgânica Básica
89,28
82,14
68,18
7,14 3,5
11,36
PCNA
% Aprovação
Química Orgânica Básica
20,45
NÃO PCNA
% Reprovação
% Evasão
68,18
14,28 3,5
PCNA
% Aprovação
13,63 18,1
NÃO PCNA
% Reprovação
% Evasão
(a)
(b)
Figura 1. Percentuais de aprovação, reprovação e evasão de alunos ingressantes do curso de
Engenharia Química, nas disciplinas (a) QIB e (b) QOB, no ano de 2014.
De acordo com a Figura 1, o percentual de aprovação entre alunos NÃO PCNA foi de 68,18%
em Química Inorgânica Básica e Química Orgânica Básica, no entanto o percentual de aprovação
entre alunos PCNA foi de 89,28% em Química Inorgânica Básica e de 82,14% em Química Orgânica
Básica, portanto superior. Em relação ao resultado do ano de 2013 (TARIQUE, 2014), o percentual
de aprovação entre alunos NÃO PCNA na disciplina Química Inorgânica Básica foi de 63,6% e o de
aprovação entre alunos PCNA foi 100%, portanto, estes resultados corroboram que o curso de
nivelamento é vantajoso.
Vale ressaltar que a evasão é significativamente menor entre os alunos que fizeram o
nivelamento. Nas duas disciplinas analisadas, o percentual de alunos que fizeram o nivelamento e
desistiram é de 3,5% enquanto que entre os alunos que não fizeram o nivelamento, o percentual de
desistência é de 20,4% em Química Inorgânica Básica e 18,1% em Química Orgânica Básica. Esses
dados indicam que quem fez o nivelamento desistiu menos.
Observa-se também que o percentual de reprovação na disciplina Química Orgânica Básica é
discretamente maior entre alunos PCNA; provavelmente isso se deve ao fato de que o nivelamento
não aborda a química orgânica de forma aprofundada.
Um fator importante a ser analisado é o índice de adesão por parte dos ingressantes ao
programa de nivelamento. O número de alunos que fizeram o nivelamento pode ser considerado baixo
em relação aos alunos que ingressaram no curso de Engenharia Química, em 2014. Considerando que
somente 28 (vinte e oito) dos 72 (setenta e dois) alunos ingressantes fizeram o nivelamento em
Química, tem-se uma adesão inferior a 40%.
6. Considerações finais
Observa-se que nas duas disciplinas os percentuais de aprovação entre os alunos PCNA são
maiores em comparação aos alunos NÃO PCNA.
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Outro fator importante é que o percentual de evasão entre alunos PCNA é significativamente
inferior aos alunos NÃO PCNA.
Diante dos resultados, fica evidente que os cursos de nivelamento oferecidos aos ingressantes
do ITEC, constituem em estratégias eficazes na formação de engenheiros químicos.
A adesão ao programa foi considerada baixa, com percentuais inferiores a 40%, o que talvez
seja um ponto a ser melhorado nas próximas edições.
7. Referências bibliográficas
BRASIL. DECRETO Nº 7234, DE 19 DE JULHO DE 2010.Dispõe sobre o Programa Nacional de
Assistência Estudantil – PNAES. Diário Oficial da União, Brasília, p.5, 20 jul. 2010.
BRASIL. DECRETO Nº 6.096, DE 24 DE ABRIL DE 2007.Institui o programa de apoio ao plano
de reestruturação e expansão das universidades federais - reuni. Diário Oficial da União, Brasília, p.7,
24 abr. 2007.
TARIQUE, S. B. S. et al. EFICÁCIA DO PROGRAMA DE NIVELAMENTO EM QUÍMICA PARA
ENGENHARIAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ. Anais: XXLII Congresso
Brasileiro de Educação em Engenharia - COBENGE, 2014.
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