FORAMINÍFEROS BENTÔNICOS DOS SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DOS ARCOS RECIFAIS INTERNO E EXTERNO DE ABROLHOS (BAHIA) Helisângela Acris Borges de Araújo1; Altair de Jesus Machado2 1 Laboratório de Estudos Costeiros, Instituto de Geociências/UFBA, e-mail: [email protected] 2 Universidade Federal da Bahia, CPGG/IGEO, e-mail: [email protected] Abstract. Of the organisms that encircle the reefs, the foraminifera are important elements biotic of the fauna associated to this ecosystem, supplying prominent indications about the conditions of life of this environment. In this context, the present study carried out a description about the composition of the benthonic foraminifera fauna present in the surface sediments of two areas with distinct reefs of Abrolhos (Parcel of the Walls and Parcel of the Abrolhos), recognizing own species of each reef, what reflects the character diversified of the foraminifera fauna, where each sort shows characteristic standards of distribution, on the basis of peculiar environmental conditions. Nevertheless, the group of the most frequent species characterizes a typical fauna of deposits tropical limestones, of hot, shallow waters and enlivened. Like this, the comprehension about the distribution shown up by the foraminifera fauna in the areas with distinct reefs of Abrolhos revealed species characteristics for each reef studied, fact that, associated to the knowledge about the sensibility of the species the alterations in environmental parameters can permit to draw a diagnosis of these areas for ends of accompaniment of development. Palavras-chave: foraminíferos, recifes, Abrolhos. 1. Introdução Os recifes de coral abrigam a maior diversidade de espécies dentre todos os ecossistemas marinhos e costeiros do mundo. No Brasil, os recifes da região de Abrolhos, por apresentarem a maior diversidade marinha do Atlântico Sul, têm papel fundamental como riqueza natural e econômica. Dentre os organismos que circundam os recifes, os foraminíferos são considerados significantes elementos bióticos da fauna associada a este ecossistema (Langer et al., 1997), fornecendo importantes indicações acerca das condições de vida deste ambiente. A utilização dos foraminíferos em trabalhos que avaliam as condições apresentadas pelos ecossistemas recifais só é possível pelo fato destes organismos apresentarem distribuição influenciada por diversos fatores abióticos e bióticos, como: temperatura, salinidade, disponibilidade de oxigênio, alcalinidade do meio, profundidade, tipo de substrato e turbidez da água (Boltovskoy et al., 1991). Alterações em qualquer destes fatores são refletidas pelos foraminíferos, principalmente, através de mudança em suas associações (Murray, 1991). Neste contexto, as assembléias de foraminíferos encontradas nas áreas recifais são importantes indicações da qualidade ambiental destes ecossistemas, uma vez que estes organismos tendem a ser os primeiros da comunidade recifal a responder aos efeitos de estresse ambiental. O objetivo deste trabalho é realizar uma descrição acerca da composição da microfauna de foraminíferos bentônicos encerrada nos sedimentos superficiais de duas áreas recifais distintas de Abrolhos (Parcel das Paredes e Parcel dos Abrolhos), como forma de conhecer a distribuição destas espécies nestes ambientes. 2. Área de Estudo O Parcel das Paredes situa-se na porção central do arco interno de Abrolhos e abrange um complexo de bancos recifais e chapeirões isolados, orientados da direção norte/sul por uma extensão de cerca de 30 km. Fazem parte deste complexo, os Recifes de Areia, Caboclas, Aranguera, Lixa e Pedra Grande (Fig. 1). O Parcel dos Abrolhos está situado a aproximadamente 5 km do Arquipélago de Abrolhos, sendo formado por chapeirões coralinos isolados, em uma extensão de quase 15 km na direção norte/sul e 5 km na direção leste/oeste. Esses recifes, localizados em águas com profundidade superior a 25 m, constituem a área recifal conhecida como arco externo (Fig. 1). 3. Métodos e Técnicas As amostras utilizadas foram fornecidas pela Profª. Zelinda Leão, da Universidade Federal da Bahia, coletadas durante uma Expedição organizada pelo Instituto Conservation International do Brasil, como parte do programa de avaliação do Banco de Abrolhos. Do total de 68 amostras, apenas 15 foram selecionadas para a realização deste trabalho, sendo 9 amostras pertencentes ao entorno dos Recifes do Parcel das Paredes, e 6 amostras localizadas nas circunvizinhanças dos Recifes do Parcel dos Abrolhos (Fig. 1). No Laboratório de Estudos Costeiros da Universidade Federal da Bahia as amostras foram submetidas às técnicas clássicas em estudos com foraminíferos: lavagem; secagem; triagem de 300 espécimes de cada amostra e identificação taxonômica. A partir dos dados de freqüência absoluta foram realizados cálculos de freqüência relativa, que é a razão entre o número de indivíduos de uma determinada espécie, com relação ao número total de indivíduos da amostra. 4. Resultados A tabela 1 apresenta a listagem das 115 espécies de foraminíferos encontradas na área durante o período estudado, todas de hábito bentônico, sendo pertencentes, principalmente, às subordens Rotaliina e Miliolina, com menor número de representantes da subordem Textulariina. A distribuição das espécies em função da sua localização coloca em evidência que a maior diversidade ocorre no complexo recifal do Parcel dos Abrolhos, com 103 espécies, das quais 26 somente foram encontradas nestes recifes, ao passo que, no complexo recifal do Parcel das Paredes foram identificadas 89 espécies, dentre as quais 12 não foram encontradas nos recifes do arco externo (Tabela 1). Na área recifal do Parcel das Paredes as espécies mais freqüentes são: Amphistegina lessonii, Archaias angulatus, Elphidium poeyanum, Eponides repandus, Heterostegina depressa, Peneroplis carinatus, Pyrgo bulloides, P. elongata, P. subsphaerica, Quinqueloculina angulata, Q. bicornis, Q. candeiana, Q. disparilis curta, Q. lamarckiana, Q. parkeri, Q. polygona e Sorites marginalis, ao passo que, no Parcel dos Abrolhos são mais freqüentes as espécies: Amphistegina gibbosa, A. lessonii, Archaias angulatus, Borelis pulcha, Discorbis floridana, D. mira, Elphidium discoidale, Eponides repandus, Peneroplis carinatus, Pyrgo bulloides, P. elongata, P. subsphaerica, Quinqueloculina bicornis, Q. bicostata, Q. candeiana, Q. disparilis curta, Q. lamarckiana, Q. parkeri, Q. polygona, Sorites marginalis, Spiroloculina antilarum e Triloculina trigonula. Fig. 1. Mapa de localização da área de estudo (modificado de Leão et al, 2001) Apesar da diferença verificada no número espécies, os organismos com maior freqüência relativa são semelhantes nas duas áreas recifais, sendo Archaias angulatus considerada a espécie dominante pela sua freqüência elevada (acima de 12%) e pela sua presença em todas as amostras. 5. Discussões Nas duas áreas recifais percebe-se o predomínio de Miliolídeos e Rotaliídeos, com espécies semelhantes nos dois complexos recifais. A grande abundância de representantes destas subordens reflete a existência de um ambiente marinho normal a hipersalino, mesmo nos recifes do arco interno. Este predomínio pode, também, estar relacionado ao fato das assembléias de foraminíferos Miliolina e Rotaliina apresentarem carapaças mais robustas, o que permite que as mesmas resistam por mais tempo ao desgaste causado pelos processos de saltação e arrasto. Este fato pode explicar, também, a dominância de Archaias angulatus, não apenas neste trabalho, mas em diversos estudos realizados em diferentes ambientes da costa do Brasil, entre outros por: Machado et al. (1999), Machado (2000), Moraes (2001) e Nascimento (2003). Segundo Martin (1986), devido ao fato de possuir testa fortalecida, e resistente à destruição, Archaias angulatus é amplamente distribuída e freqüentemente abundante em sedimentos carbonáticos depositados em ambientes variados através do Atlântico Ocidental Tropical. De acordo com Thomas & Schafer (1982), as carapaças mais robustas tendem a resistir com maior freqüência e por mais tempo ao desgaste, conseguindo assim uma distribuição mais ampla do que as formas frágeis. A presença de espécies próprias às duas áreas recifais reflete o caráter ubíquo da fauna de foraminíferos, onde cada espécie mostra padrões característicos de distribuição, com base em diferentes condições ambientais. Ainda assim, o grupo das espécies mais freqüentes caracteriza a fauna como típica de depósitos calcários tropicais, de águas rasas, quentes e movimentadas. Condição própria das duas áreas recifais. 6. Conclusões A compreensão acerca da distribuição mostrada pela fauna de foraminíferos, nas áreas recifais de Abrolhos, revela espécies características de cada complexo recifal estudado. Este fato, associado ao conhecimento sobre a sensibilidade das espécies a alterações em parâmetros ambientais pode permitir traçar um diagnóstico destas áreas para fins de monitoramento. Para tanto, faz-se necessário a existência de um trabalho complementar, que relacione as características ambientais próprias de cada recife, reconhecendo dentre estas os fatores que estariam impedindo a distribuição de todas as espécies nas duas áreas recifais estudadas. 7. Referências BOLTOVSKOY E, SCOTT DB and MEDIOLI FS. 1991. Morphological variations of benthic foraminiferal test in response to changes in ecological parameters: a review. J. Paleont., 65(2): 175-185. LANGER MR, SILK MT and LIPPS JH. 1997. Global ocean carbonate and carbon dioxide production: the role of reef foraminifera. Journal of Foraminiferal Research, 27(4): 271-277. LEÃO ZMAN, DUTRA LXC and SPANÓ S. 2001. The Characteristic of Bottom Sediments in Marine Assessment Program Survey of the Abrolhos Bank, Brazil. Conservation International of Brazil. Unpublished Technical report, 66p. MACHADO AJ. 2000. Assembléias de foraminíferos de fácies sedimentares em áreas de construções carbonáticas da costa atlântica de Salvador e do litoral norte do Estado da Bahia. Acta Geológica Leopoldensia. São LeopoldoRS, v. XXIII, nº 50, p. 107-123. MACHADO AJ, SILVA SSF, BRAGA YS, MORAES SS, NASCIMENTO HA and MACÊDO CFCM. 1999. Gêneros de foraminíferos da área recifal de Praia do Forte – Litoral Norte do Estado da Bahia. In: CUSHMAN FOUNDATION RESEARCH SYMPOSIUM, 7, Porto Seguro, 1999. Anais... Porto Seguro, ABEQUA. VIIABEQUA–CCP016.PDF. MARTIN RE. 1986. Habitat and distribution of the foraminifer Archaias angulatus (Fichter and Moll) (Miliolina, Soritidae), Northern Florida Keys. Journal of Foraminiferal Research, 16(3): 201-206. MORAES SS. 2001. Interpretações da hidrodinâmica e dos tipos de transporte a partir de análises sedimentológicas e do estudo dos foraminíferos recentes dos recifes costeiros da Praia do Forte e de Itacimirim, litoral norte do Estado da Bahia. Salvador. (Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia , 64p). MURRAY JW. 1991. Ecology and Palaeoecology of Benthic Foraminifera. New York, Longman Scientific & Technical. 397p. NASCIMENTO HA. 2003. Análise da fauna de foraminíferos associada aos recifes do extremo sul do Estado da Bahia (Corumbau a Nova Viçosa). (Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia, 80p). THOMAS FC and SCHAFER CT. 1982. distribution and transport of some common foraminiferal species in the Minas Basin, Eastern Canada. Journal of Foraminiferal Research, 12(1): 71-90. Tabela 1. Listagem das espécies identificadas na área de estudo (* espécies encontradas apenas nos Recifes do Parcel das Paredes e + espécies encontradas apenas nos Recifes do Parcel dos Abrolhos). Ammonia beccarii Amphistegina gibbosa Amphistegina lessonii Amphistegina radiata Archaias angulatus Articulina antillarum+ Articulina mucronata+ Articulina multilocularis Articulina pacifica Bigenerina nodosaria+ Bigenerina sp Bolivina pulchella+ Borelis pulcha Cibicides akmerianus Cibicides pseudogenerianus* Cibicides refulgens+ Cibicides repandus Cibicides sp+ Clavulina tricarinata Cornuspira planorbis Dentostomina antillarum Dentostomina enoplastoma Discorbis floridana Discorbis mira Discorbis williamsoni+ Elphidium discoidale Elphidium galvestonense* Elphidium morenoi* Elphidium poeyanum Elphidium sagrum Eponides antillarum Eponides repandus Gypsina vesicularis Heterostegina depressa Homotrema rubrum Massilina asperula+ Massilina pernambucensis* Miliolinella labiosa+ Miliolinella suborbicularis Miliolinella subrotunda Nonion grateloupi Nonion sp.* Nonionella atlantica+ Peneroplis bradyi Peneroplis carinatus Peneroplis pertusus Peneroplis pertusus var. discoideus Peneroplis proteus Planorbulina acervalis+ Poroeponides lateralis Pyrgo bulloides Pyrgo comata+ Pyrgo denticulata Pyrgo elongata Pyrgo patagonica Pyrgo subsphaerica Pyrgo tainanensis Quinqueloculina agglutinans Quinqueloculina angulata Quinqueloculina bicarinata Quinqueloculina bicornis Quinqueloculina bicostata Quinqueloculina candeiana Quinqueloculina collumnosa* Quinqueloculina cuveriana Quinqueloculina disparilis curta Quinqueloculina elongata+ Quinqueloculina funafutiensis+ Quinqueloculina granulocostata+ Quinqueloculina horrida Quinqueloculina kerimbatica+ Quinqueloculina laevigata+ Quinqueloculina lamarckiana Quinqueloculina magoi Quinqueloculina parkeri Quinqueloculina philipensis Quinqueloculina poeyana Quinqueloculina polygona Quinqueloculina reticulata+ Quinqueloculina seminulum* Quinqueloculina sulcata Quinqueloculina sp.1* Quinqueloculina sp.2 Quinqueloculina sp.3 Schlumbergerina alveoliniformis Sigmoilopsis sp+ Siphonina pulchra Sorites marginalis Spiroloculina antilarum Spiroloculina caduca Spiroloculina communis+ Spiroloculina stebani Spiroloculina profunda* Textularia agglutinans Textularia candeiana Textularia gramen* Textularia kerimbaensis Triloculina affinis+ Triloculina baldai+ Triloculina bertheliniana+ Triloculina bicarinata Triloculina consobrina Triloculina elongata Triloculina gracilis+ Triloculina laevigata+ Triloculina linneiana* Triloculina oblonga Triloculina quadrata Triloculina quadrilateralis Triloculina reticulata+ Triloculina rotunda* Triloculina rupertiana Triloculina sommerii Triloculina tricarinata Triloculina trigonula