UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE FARMÁCIA THIANY CRIPPA RONSANI TÉCNICA DE CG/EM UTILIZADA PARA ANÁLISE FORENSE CRICIÚMA, JUNHO DE 2010 THIANY CRIPPA RONSANI TÉCNICA DE CG/EM UTILIZADA PARA ANÁLISE FORENSE Trabalho de Conclusão do Curso, apresentado para obtenção do grau de Farmacêutico Generalista no Curso de Farmácia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientadora: Profª. Dra. Patrícia de Aguiar Amaral CRICIÚMA, JUNHO DE 2010 THIANY CRIPPA RONSANI TÉCNICA DE CG/EM UTILIZADA PARA ANÁLISE FORENSE Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Farmacêutico Generalista, no Curso de Farmácia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Criciúma, 28 de Junho de 2010. BANCA EXAMINADORA Profª. Patrícia de Aguiar Amaral – Doutora - (UNESC) - orientadora Prof. Eduardo João Agnes - Mestre - (UNESC) Prof. Sílvio Ávila Júnior – Doutor – (UNESC) RESUMO Ciência Forense é uma área interdisciplinar que tem como objetivo dar suporte às investigações relativas à justiça civil e criminal com embasamento na criminalística e nas ciências forenses aplicadas. Com a formação generalista do farmacêutico, viu-se a necessidade de explorar a área de atuação do farmacêutico como perito criminal. Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo demonstrar a técnica de Cromatografia Gasosa acoplada com Espectrometria de Massas (CG/EM) na investigação de crimes; assim como fornecer maiores informações do papel do farmacêutico dentro da ciência forense. O método baseou-se no levantamento bibliográfico da técnica CG/EM com exemplos de artigos que as correlacionam com a prática criminal. Palavras-chave: Cromatografia gasosa, espectrometria de massas, análise forense, perito criminal. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Esquema de cromatógrafo a gás ........................................................................... 12 Figura 2: Diagrama esquemático de um espectrômetro de massa típico. .............................. 23 Figura 3: Espectro de massas do metano. ............................................................................ 32 Figura 4: Representação de um espectrômetro de massas de ionização de elétron............... 34 Figura 5: Esquema de um espectrômetro de massas acoplado a um cromatografo gasoso. ... 39 Figura 6: Conceitos abrangentes de cromatografia gasosa bidimensional. ........................... 41 Figura 7: Perfil cromatográfico da análise de uma amostra de urina de um individuo adulto, do sexo masculino, não usuário de esteróides anabólicos. ..................................................... 44 Figura 8: Perfil cromatográfico da análise de uma amostra de urina de um indivíduo adulto, do sexo masculino, usuário de testosterona........................................................................... 44 Figura 9: Perfil cromatográfico da análise de uma amostra de urina de um indivíduo adulto, do sexo masculino, usuário de estanozolol. .......................................................................... 45 Figura 10: Molécula de reticulina – precursor do alcalóide do ópio. .................................... 46 Figura 11: Fluxograma da divisão da polícia do Estado de São Paulo. ................................. 47 Figura 12: Inserção do Farmacêutico nos núcleos do Centro de Exames, Análises e Pesquisas. ............................................................................................................................ 48 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CEAP - Centro de Exames, Análises e Pesquisas CG/EM – Cromatografia gasosa acoplada com Espectrometria de Massas CGL - Cromatografia Gás-Líquido CGS - Cromatografia Gás-Sólido CI - (abreviatura do inglês) Ionização Química DC - (abreviatura do inglês) Ionização por Dessorção de Campo DNA - (abreviatura do inglês) Ácido Desoxi Ribonucléico EI - (abreviatura do inglês) - Ionização por Impacto de Elétrons FAB - (abreviatura do inglês) Bombardeio por Átomos Rápidos IC - Instituto de Criminalística IML - Instituto Médico-Legal M/Z - Massa /Carga MALDI - (abreviatura do inglês) Dessorção/Ionização com Laser M.M - Massa Molecular MS-MS - (abreviatura do inglês) Espectrometria de Massas em Seqüência Nd/YAG - Neodímio/Ítrio Alumínio PLOT - (abreviatura do inglês) Coluna Capilar com Parede Porosa SCOT - (abreviatura do inglês) Coluna Capilar com Suporte Recoberto TOF - (abreviatura do inglês) Espectrômetros de Massas por Tempo de Vôo U.M.A - Unidade de Massa Atômica WCOT- (abreviatura do inglês) Coluna de Parede Recoberta SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 8 2 OBJETIVOS ............................................................................................................... 10 3 2.1 Objetivo Geral...................................................................................................... 10 2.2 Objetivos Específicos ........................................................................................... 10 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 11 3.1 TÉCNICAS UTILIZADAS EM CROMATOGRAFIA GASOSA ..................... 12 3.1.1 Instrumentos para a Cromatografia Gasosa (CG) ........................................ 13 3.1.1.1 Sistema de Gás de Arraste ...................................................................... 13 3.1.1.2 Sistema de Injeção da Amostra .............................................................. 14 3.1.1.3 Colunas Cromatográficas ....................................................................... 15 3.1.1.4 Sistemas de Detecção............................................................................... 17 3.1.1.4.1 Detector de Condutividade Térmica .................................................. 19 3.1.1.4.2 Detector por Ionização em Chama ..................................................... 20 3.1.1.4.3 Detector de Captura de Elétrons ........................................................ 20 3.1.1.4.4 Detector Termiônico ........................................................................... 21 3.1.1.4.5 Outros Detectores ................................................................................ 22 3.1.1.5 4 5 Termostato .............................................................................................. 22 ESPECTROMETRIA DE MASSAS .......................................................................... 23 4.1 Sistema de Introdução da Amostra ..................................................................... 24 4.2 Métodos de Ionização/ Fonte de Íons .................................................................. 25 4.3 Íons Moleculares e Composição Isotópica........................................................... 28 4.4 Fragmentação....................................................................................................... 31 4.5 Espectrometria de Alta Resolução ...................................................................... 32 4.6 ANALISADORES DE MASSAS ......................................................................... 32 4.6.1 Espectrômetros de Massas com Setores Magnéticos ..................................... 33 4.6.2 Espectrômetros de Massas com Quadrupolo ................................................. 34 4.6.3 Espectrometria de Massas por Captura de Elétrons ..................................... 35 4.6.4 Espectrômetro de Massas por Tempo de Vôo ............................................... 35 4.6.5 Espectrômetros de Massas com Transformações de Fourier ........................ 36 4.6.6 Espectrometria de Massas em Seqüência ...................................................... 36 DETECTORES ........................................................................................................... 37 6 A ESPECTROMETRIA DE MASSAS ACOPLADA COM A CROMATOGRAFIA GASOSA (CG/ EM) ........................................................................................................... 38 7 EXEMPLO DO EMPREGO DE CG/EM EM ANÁLISE DE AMOSTRAS HUMANAS NA BUSCA DE INFORMAÇÕES SOBRE A CAUSA/CRIME ................. 40 7.1 CG x CG - Nova técnica analítica para a ciência forense ................................... 40 7.2 Desenvolvimento e Validação de IE–CG–EM. Método para Determinação de Benzodiazepinas e seus Metabólitos no Sangue: Aplicações na Clínica e Toxicologia Forense ............................................................................................................................ 41 7.3 Determinação de Esteróides Androgênicos Anabólicos em Urina por Cromatografia Gasosa Acoplada à Espectrometria de Massas .................................... 43 7.4 CG–EM Detecção e Caracterização de Reticulina como Marcador de Usuários de Ópio ............................................................................................................................ 45 8 O PAPEL DO PROFISSIONAL FARMACÊUTICO NA PERÍCIA CRIMINAL .. 46 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 50 10 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 51 8 1 INTRODUÇÃO Ciência Forense é uma área interdisciplinar que tem como objetivo dar suporte às investigações relativas à justiça civil e criminal com embasamento na criminalística e nas ciências forenses aplicadas como, por exemplo: a patologia e medicina forense, odontologia forense, psiquiatria forense, toxicologia forense, química forense. Neste momento acreditamos ser esclarecedor colocar o significado da palavra forense; ―a palavra forense significa toda a informação ou investigação relativa ao foro judicial‖ (FERREIRA, 2004). Farias (2007 apud QUIMICA HOJE, 2007, p. 14) define a Química Forense como "a parte da ciência que aplica os conhecimentos da química e áreas afins aos problemas de natureza forense utilizando-se de métodos analíticos‖. Já o autor Zarzuela (1995, p. 93) define Química Forense como sendo ―o ramo da Química que se ocupa da investigação forense no campo da química especializada, a fim de atender aspectos de interesse judiciário‖. Tal ramo da química atende basicamente as áreas de estudos da criminalística e da medicina forense. Uma vez conceituado química forense é interessante designar a especialidade que trata da investigação analítica de amostras oriundas de casos crime envolvendo substâncias tóxicas, conhecida como toxicologia forense (RANGEL, 2004). Várias técnicas analíticas são utilizadas na investigação e elucidação de casos crime. Umas dessas técnicas utilizadas para a investigação forense é a cromatografia, método físicoquímico de separação dos componentes de uma mistura, realizada através da distribuição destes componentes entre duas fases, onde uma permanece estacionária enquanto a outra se move através dela (SOLOMONS; FRYHLE, 2005). É o método analítico mais utilizado pelos químicos forenses. Eles também utilizam outras técnicas de detecção como: cromatografia gasosa, com detecção de ionização de chama e o amostrador rarefeito (usado para material biológico), cromatografia líquida (usada na identificação de anfetamina, efedrina e epinefrina), cromatografia em camada delgada; todas com os mais variados usos (HARRIS, 2008; SKOOG, et al., 2007). Além disso, a espectrometria, a microscopia e outros métodos também são utilizados. O uso depende do método adequado ao problema em questão e dos 9 recursos de cada laboratório. Farias (2007 apud QUIMICA HOJE, 2007, p. 16) em seu livro exemplifica: ―Um método clássico como a cromatografia em camada delgada pode ser muito útil na determinação dos carbamatos, princípio ativo de diversos inseticidas comerciais, que por sua vez, são freqüentemente utilizados em tentativas de suicídio ou homicídios por envenenamento‖. A cromatografia gasosa é freqüentemente acoplada com a espectrometria de massas em uma técnica chamada de ―Análise por CG/EM‖. A Cromatografia gasosa separa os componentes de uma mistura, enquanto o espectrômetro de massas fornece a informação estrutural sobre cada um deles. A análise CG/EM também pode gerar dados quantitativos quando os padrões de concentração conhecida são usados com a amostra desconhecida (SOLOMONS; FRYHLE, 2005). A Cromatografia Gasosa é um método que auxilia na detecção e identificação de amostras conhecidas ou desconhecidas que chegam aos laboratórios forenses. Os peritos analisam as amostras através das técnicas disponíveis nos laboratórios; obtém os resultados identificando a amostra em questão e emitem o laudo com todas as informações necessárias para outros peritos concluírem o caso de investigação criminal. Este trabalho tem como objetivo demonstrar a técnica de CG/EM na investigação de crimes; assim como fornecer maiores informações do papel do farmacêutico dentro da ciência forense. 10 2 2.1 OBJETIVOS Objetivo Geral Demonstrar a técnica de CG/EM na investigação de crimes; assim como fornecer informações do papel do farmacêutico dentro da ciência forense. 2.2 Objetivos Específicos Descrever a técnica de Cromatografia Gasosa; Descrever a técnica de Espectrometria de Massa; Descrever a utilização das técnicas na investigação criminal; Relacionar alguns casos de crimes que foram elucidados com CG/EM; Estabelecer o papel do farmacêutico dentro da equipe forense; 11 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A ciência forense lança mão de várias técnicas científicas na busca de respostas na investigação de crimes, como por exemplo: na busca de culpados através de indícios que orientem ou elucidem a arma utilizada no crime, se o indivíduo envolvido estava sob ação de alguma substância nociva, na comprovação e identificação de cadáveres em estado de decomposição (ou não) através de DNA, entre outros casos. Uma das técnicas utilizadas pela perícia para análise e identificação de crimes é a cromatografia gasosa acoplada com a espectrometria de massas, onde há um resultado mais específico para identificação e quantificação de amostras. As técnicas cromatográficas são de larga aplicação em química e bioquímica, na pesquisa e na indústria. Estas técnicas cromatográficas variam desde as de extrema simplicidade, que podem ser facilmente manipuladas por não peritos, até as de alta sofisticação, usadas por especialistas. Entre esses dois extremos existem muitas variações de maior ou de menor complexidade. Entre os métodos modernos de análise, a cromatografia ocupa um lugar destaque devido a sua facilidade em efetuar a separação, identificação e quantificação das espécies químicas, por si mesmo ou em conjunto com outras técnicas, como por exemplo, a espectrofotometria ou a espectrometria de massas. Substâncias voláteis ou gases podem ser separados utilizando-se a técnica ―Cromatografia Gasosa‖. A separação baseia-se na diferente distribuição das substâncias da amostra entre uma fase estacionária (sólida ou líquida) e uma fase móvel (gasosa) (COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). A cromatografia gasosa é uma técnica muito utilizada para a identificação de várias sustâncias em uma mesma amostra por ter uma alta sensibilidade. Essa sensibilidade faz com que a quantidade de amostra a ser utilizada seja pequena (em µg). Essa técnica apresenta algumas desvantagens, pois depende da volatilidade do analito, mas como vantagem, apresenta elevada capacidade de separação e é operacionalmente simples (Figura 1) (HARRIS, 2008; SKOOG et al., 2007). 12 Figura 1: Esquema de cromatógrafo a gás 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 3.1 Fonte de gás de arraste Controlador da vazão e regulador de pressão Sistema de injeção da amostra Coluna cromatográfica Sistema de detecção Registrador Termostato para injetor (a), coluna (b) e detector (c). COLLINS; BRAGA; BONATO; 1997. TÉCNICAS UTILIZADAS EM CROMATOGRAFIA GASOSA A técnica de desenvolvimento mais utilizada em cromatografia gasosa é a eluição. Uma corrente de gás passa continuamente pela coluna e quando a amostra vaporizada é introduzida rapidamente nesta corrente de gás, ela é arrastada através da coluna. As substâncias presentes na amostra, depois de separadas, chegam ao detector que gera um sinal para o registrador (COLLINS; BRAGA; BONATO; 1997). De acordo com o tipo de fase estacionária usada, a cromatografia gasosa pode ser classificada em: cromatografia gás-sólido (CGS) ou cromatografia gás-líquido (CGL). 13 Na cromatografia gás-sólido (CGS), a fase estacionária é um sólido com uma grande área superficial e a separação baseia-se em mecanismos de adsorção das substâncias neste sólido. A CGS é usada principalmente na análise de gases permanentes e compostos apolares de baixa massa molecular (SKOOG et al., 2007). Na cromatografia gás - líquido (CGL) a fase estacionária é um líquido pouco volátil, recobrindo um suporte sólido ou as paredes de colunas capilares. A separação baseia-se em mecanismos de partição das substâncias entre a fase líquida e a fase gasosa. A utilização CGL corresponde à cerca de 95% do total de aplicações (HARRIS, 2008; COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). 3.1.1 Instrumentos para a Cromatografia Gasosa (CG) A cromatografia gasosa é realizada a partir de um instrumento que necessita de componentes básicos que são: sistema de gás de arraste, sistema de injeção de amostra, colunas cromatográficas e sistemas de detecção (SKOOG et al., 2007). 3.1.1.1 Sistema de Gás de Arraste É a fase móvel gasosa da CG e deve ser quimicamente inerte. Os gases utilizados para a fase móvel são: o argônio, o hidrogênio, o nitrogênio e o hélio, que é o mais utilizado, sendo compatível com a maioria dos detectores (HARRIS, 2008). Estes gases estão disponíveis em cilindros pressurizados. São necessários reguladores de pressão, manômetros e medidores de vazão para se controlar a vazão do gás. As vazões são normalmente controladas por um regulador de pressão de dois estágios no cilindro do gás e algum tipo de regulador de pressão ou regulador de fluxo montado no cromatógrafo (SKOOG et al., 2007; COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). Duas considerações devem ser levadas em conta: os cilindros de gás devem estar presos por cintas ou correntes; e gases de refugo, especialmente hidrogênio, devem ser eliminados em uma capela (VOGEL; MENDHAM, 2002). 14 O hidrogênio e o hélio em vazões elevadas dão uma resolução melhor que o nitrogênio, pois os solutos se difundem mais rapidamente através do hidrogênio e do hélio do que através do nitrogênio (HARRIS, 2008). As impurezas no gás de arraste degradam a fase estacionária, sendo necessário utilizar gases de alta qualidade e ainda assim, estes gases precisam passar por purificadores para remover impurezas como: oxigênio, água e traços de compostos orgânicos antes de entrarem na coluna (COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). Tubos de aço ou de cobre devem ser utilizados ao invés de tubos de plásticos ou de borracha, para as linhas de gás. Metais são menos permeáveis ao ar e não desprendem substâncias voláteis que podem contaminar o fluxo de gás (HARRIS, 2008). 3.1.1.2 Sistema de Injeção da Amostra A amostra deve ser injetada de tal maneira que se obtenha uma banda única e estreita, sendo que falhas na técnica de injeção podem causar assimetrias nos picos. A eficiência da coluna requer que a amostra seja de tamanho adequado não devendo ultrapassar a capacidade da coluna, determinada pela quantidade de fase estacionária, e uma diminuição do volume de amostra injetada provoca um aumento na eficiência da coluna (SKOOG et al., 2007). A injeção de gases é comumente feita através de uma seringa ou de válvulas, já a de amostras líquidas, pode ser feita utilizando-se microsseringas, e mais raramente válvulas (COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). Seringas calibradas são empregadas para a injeção da amostra aquecida localizada na cabeça da coluna, a porta de admissão da amostra ordinariamente é mantida a cerca de 50º C acima do ponto de ebulição do componente menos volátil da amostra (SKOOG, et al., 2007). Uma boa técnica utilizada para a injeção de amostra líquida em uma coluna cromatográfica é a injeção em forma de ―sanduíche‖. Essa técnica consiste em uma seqüência de admissões na seringa, inicialmente com ar, depois solvente, novamente ar, a amostra e finalmente mais ar. Quando a agulha é inserida através de um septo de borracha dentro da entrada da injeção do cromatógrafo, que está aquecida, a amostra não evapora imediatamente, pois não há nenhuma amostra na agulha, caso houvesse amostra inicialmente na agulha, os 15 componentes mais voláteis principiariam a evaporar e estariam esgotados antes da amostra ser injetada. A bolha de ar atrás da amostra na agulha evita a mistura da amostra com o solvente. O solvente retira qualquer amostra que possa estar retida na agulha e a bolha final de ar expele todo o solvente da agulha (HARRIS, 2008). A injeção de amostra em colunas capilares pode ser efetuada com divisão de fluxo (é o meio rotineiro para se introduzir pequenos volumes de amostra em colunas capilares); sem divisão de fluxo (é a melhor para quantidades traço de solutos com alto ponto de ebulição em solventes com baixo ponto de ebulição) e direto na coluna (é melhor para solutos termicamente instáveis e solventes com alto ponto de ebulição; é melhor para análises quantitativas) (HARRIS, 2008). 3.1.1.3 Colunas Cromatográficas A coluna cromatográfica constitui-se de um tubo longo contendo a fase estacionária. Este tubo pode ser de cobre, aço inox, alumínio, vidro, sílica fundida, teflon, etc. O material ideal é aquele que não deve interagir com o recheio e nem com as substâncias presentes na amostra. As colunas podem ser classificadas em capilares e recheadas (analíticas e preparativas) (SKOOG, et al., 2007; COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). Colunas capilares ou tubulares abertas são estreitas e compridas feitas de sílica fundida e recobertas com poliimida (um plástico capaz de resistir até 350ºC) para suportar e proteger a coluna da umidade atmosférica. Esse tipo de coluna oferece maior resolução, menores tempos de análise e maior sensibilidade do que as colunas empacotadas (recheadas), mas elas têm menos capacidade de amostra (HARRIS, 2008). Existem vários tipos de colunas capilares: a coluna de parede recoberta (abreviatura do inglês WCOT) – possuem a parede interna do capilar recoberta com um filme de espessura entre 0,1 e 0,5 µm, da fase estacionária. A coluna capilar com suporte recoberto (abreviatura do inglês SCOT) a parede interna do capilar é recoberta com uma camada de um adsorvente (suporte) recoberto com a fase estacionária líquida. Coluna capilar com parede porosa (abreviatura do inglês PLOT) tem se quando a parede do capilar é recoberta apenas com uma camada adsorvente, que neste caso é a própria fase estacionária (HARRIS, 2008; COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). 16 As colunas de suporte recoberto podem processar maiores quantidades de amostras do que as colunas de parede recoberta devido à elevada área superficial, já o seu desempenho é intermediário entre os desempenhos das colunas de parede recoberta e das colunas empacotadas – recheadas (HARRIS, 2008). Segundo Harris (2008, p. 585) os diâmetros internos de uma coluna são normalmente de 0,10 a 0,53 mm e os comprimentos de 15 a 100 m, sendo comum com 30m. Já para Collins e colaboradores (1997, p. 156) eles descrevem que foram introduzidas por GOLAY em 1958 com diâmetros internos de 0,15, 0,32, 0,53 e 0,75 mm e comprimentos de 10 a 100 m. Uma maior resolução é observada em colunas mais estreitas do que colunas mais largas, porém exigem maior pressão de operação e possuem menos capacidade de amostra. O sistema de processamento de gases de um espectrômetro de massas tende a ficar mais sobrecarregado com colunas de diâmetros de 0,32 mm ou maiores, fazendo com que o fluxo de gás tenha que ser dividido e somente uma fração seja direcionada para o espectrômetro de massas (HARRIS, 2008). A espessura do filme afeta primariamente o caráter da retenção e a capacidade da coluna. Os filmes espessos são empregados com compostos altamente voláteis, porque retém os solutos por um tempo maior, provendo assim maior intervalo de tempo para que a separação ocorra. Filmes espessos da fase estacionária podem impedir os analitos de chegarem à superfície da sílica e reduzem a formação de caudas nos picos, mas também podem aumentar o sangramento (decomposição e evaporação) da fase estacionária em temperaturas elevadas. Já os filmes finos são úteis para separar as espécies de baixa volatilidade em um tempo razoável. A espessura de 0,25 µm é padrão para colunas de 0,25 ou 0,32 mm (SKOOG et al., 2007). A escolha da fase estacionária líquida baseia-se na regra ―semelhante dissolve semelhante‖, sendo que colunas apolares são melhores para solutos apolares, colunas intermediárias para solutos intermediários e colunas fortemente polares para solutos fortemente polares. A fase estacionária se decompõe com o envelhecimento da coluna expondo os grupos silanol (Si—O—H), o que aumenta a cauda nos picos. A exposição ao oxigênio também degrada a coluna. Para se reduzir a tendência da fase estacionária em sair da coluna, faz-se que a fase estacionária se ligue de forma covalente à superfície da sílica ou forme ligações covalentes cruzadas entre as moléculas da própria fase. Entre os sólidos utilizados como camada porosa de colunas capilares, a alumina (Al2O3) consegue separar 17 hidrocarbonetos em uma cromatografia de adsorção (gás-sólido). Moléculas pequenas podem entrar e serem parcialmente retidas na estrutura da cavidade de peneiras moleculares feitas de materiais inorgânicos ou orgânicos (HARRIS, 2008). Atualmente colunas recheadas analíticas são construídas preferencialmente com aço inox ou vidro; elas apresentam comprimento típico entre 1 e 3 m e diâmetro interno de 1 a 4 mm (COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). Para os autores Skoog et al. (2007, p. 911) e Harris (2008, p. 589) ―os comprimentos são respectivamente de 2 e 3 m e diâmetros de 2 e 4 mm; 1 a 5 m de comprimento e 3 a 6 mm de diâmetro‖. As colunas empacotadas (recheadas) contêm partículas finas de um suporte sólido recoberto com a fase estacionária líquida nãovolátil, ou o próprio sólido pode ser a fase estacionária. Os tubos são enrolados na forma de bobinas com diâmetros de 15 cm para possibilitar uma termostatização conveniente no forno. O suporte sólido é freqüentemente constituído por sílica, que é sinalizada para reduzir as ligações hidrogênio com solutos polares. Teflon é um suporte útil nos caso de solutos que continuam a ter tendências à associação, porém seu uso é limitado a temperaturas inferiores a 200 ºC (HARRIS, 2008; SKOOG et al., 2007; COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). O recheio, ou suporte sólido em uma coluna recheada, serve para fixar a fase estacionária líquida de forma que a maior área superficial possível esteja exposta à fase móvel. Pequenas partículas uniformes e esféricas com boa resistência mecânica e com uma área superficial de pelo menos 1 m2/g, constituiria o suporte ideal. O material deve ser molhado uniformemente pela fase líquida e ser inerte a temperaturas elevadas (SKOOG et al., 2007). Um menor tamanho de partícula diminui o tempo necessário para o soluto atingir o equilíbrio, aumentando assim a eficiência da coluna. Porém quanto menor for a partícula, menor é o espaço entre as partículas e, por isso, é necessária uma pressão maior para forçar a fase móvel a passar através da coluna (HARRIS, 2008). 3.1.1.4 Sistemas de Detecção Dezenas de detectores têm sido analisados e empregados em separações cromatográficas. As substâncias presentes na amostra passam através da coluna, onde são 18 separadas, e chegam ao sistema de detecção (SKOOG et al., 2007; COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). Um detector ideal deve apresentar algumas das características citadas, como: Seletividade; detectores seletivos respondem a apenas uma classe de substancias e são mais sensíveis que os universais, que podem responder a todas as substâncias; Sensibilidade; é definida como a mudança na resposta do detector em função da quantidade detectada. Em geral, as sensibilidades nos detectores atuais situam-se na faixa de 10-8 a 10-15 g do soluto/s-1; Boa estabilidade e reprodutibilidade; Ruído; são deflexões da linha de base num certo período de tempo, representando efeitos eletrônicos no sistema de detecção; Quantidade mínima detectável; o nível de ruído do detector determina a quantidade mínima detectável (em picogramas - 10-12g ou menos - ou em 108 g), definida como a quantidade de amostra que gera uma resposta duas vezes maior que o nível de ruído; Resposta linear aos solutos que se estenda a várias ordens de grandeza; Faixa de temperatura desde a ambiente até pelo menos 400ºC; Um tempo de resposta curto e independente da vazão; Uma alta confiabilidade e facilidade de uso; o detector deve, na medida do possível, tolerar a ação de operadores inexperientes; Similaridade de resposta a todos os solutos ou, alternativamente, uma resposta altamente previsível e seletiva a uma ou mais classes de solutos; Não deve destruir a amostra (SKOOG et al., 2007; COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). Não existe nenhum detector que preencha a todos esses requisitos. Collins e colaboradores (1997, p. 158-159) mencionam que os detectores podem ser classificados em 19 integrais ou universais. Descrevem os detectores integrais, também chamados de cumulativos, sendo aqueles que respondem à massa total da substância em uma zona eluída. Quando o gás de arraste passa pelo detector, gera uma linha de base; uma substância da amostra ao ser eluída gera uma subida da linha de base, cuja altura é proporcional a sua concentração; a eluição de uma nova substância gera uma nova subida da linha de base. Já os detectores diferenciais ou instantâneos – que são os mais utilizados em cromatografia gasosa – são descritos como aqueles que respondem de maneira proporcional à concentração ou ao fluxo de massa da substância eluída, gerando picos, cuja área ou intensidade do sinal elétrico é proporcional à concentração ou ao fluxo de massa. Os detectores mais utilizados em cromatografia são: detector de condutividade térmica, detector por ionização em chama, detector por captura de elétrons, detector termiônico e outros detectores (HARRIS, 2008; SKOOG et al., 2007; COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). 3.1.1.4.1 Detector de Condutividade Térmica No passado eram os mais utilizados, pois são detectores de resposta universal, sensíveis à concentração, mas não são sensíveis para detectar analitos em colunas de 0,53 mm de diâmetro (COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). Seu funcionamento baseia-se na medição da capacidade de uma substância em transportar calor de uma região quente para uma região fria. Neste detector, o corpo quente é um conjunto de filamentos de metal (platina, tungstênio, níquel) dentro de um bloco metálico. O eluato de uma coluna cromatográfica passa por esse filamento, e quando o analito emerge da coluna, a condutividade do fluxo gasoso diminui, o filamento torna-se mais quente, sua resistência elétrica aumenta e ocorre a variação de diferença de potencial elétrico presente nos terminais de filamento. O detector mede a variação de diferença de potencial (HARRIS, 2008). O gás de arraste usado com este detector deve ter uma condutividade térmica elevada, uma massa molecular pequena. O hélio é o gás de arraste mais usado no caso de um detector de condutividade térmica. Possui a segunda maior condutividade térmica, depois do 20 hidrogênio, de modo que qualquer analito que se misture com o hélio diminui a condutividade do fluxo gasoso (SKOOG et al., 2007). Este detector tem como vantagem não destruir a amostra que elui da coluna, o que possibilita a sua recuperação na mesma forma química em que foi injetada, sendo útil para fins preparativos (SKOOG et al., 2007; COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). 3.1.1.4.2 Detector por Ionização em Chama Este detector tem uma alta sensibilidade e resposta quase universal, apesar de responder a propriedades do soluto; é sensível ao fluxo de massa que passa por ele em um determinado tempo. O gás de arraste chega ao detector e uma chama produzida pela combustão de ar e hidrogênio queima e ioniza algumas das moléculas presentes nesta corrente gasosa (a maioria dos compostos orgânicos produz íons e elétrons quando pirolizados à temperatura de uma chama ar/hidrogênio), que são coletados por um eletrodo. A quantidade de íons formados quando a amostra está presente no gás é muito maior que a quantidade formada quando somente o gás de arraste está sendo queimado. A corrente resultante (≈10 -12 A) é medida com um picoamperímetro (SKOOG et al., 2007). Ele é sensível à maioria dos hidrocarbonetos e não apresenta sensibilidade a substâncias que não sejam hidrocarbonetos como H2, He, N2, O2, CO, CO2, H2O, NH3, NO, H2S e SiF4 (HARRIS, 2008). 3.1.1.4.3 Detector de Captura de Elétrons O detector de captura de elétrons é um detector seletivo, que responde muito bem a halogenetos orgânicos, aldeídos conjugados, nitrilas, nitratos e organometálicos, mas é relativamente insensível a hidrocarbonetos, álcoois e cetonas. Sua seletividade a haletos faz com que ele seja útil nas análises de pesticidas clorados (COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). O gás de arraste deve ser o nitrogênio ou a mistura de 5 % de metano em argônio (HARRIS, 2008). A amostra eluída de uma coluna passa sobre uma fonte radioativa emissora, geralmente níquel-63. Um elétron do emissor causa a ionização do gás carreador e a produção 21 de uma rajada de elétrons, produz-se uma corrente constante entre um par de eletrodos em decorrência desse processo de ionização, na ausência de espécies orgânicas (SKOOG et al., 2007). Quando ocorre a presença de espécies orgânicas, a corrente decresce significativamente. O detector de captura de elétrons é extremamente sensível e tem como vantagem não alterar a amostra significativamente (ao contrário do detector de ionização de chamas, que consome toda a amostra), mas sua resposta linear é limitada a cerca de duas ordens de grandeza (HARRIS, 2008; SKOOG et al., 2007; COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). 3.1.1.4.4 Detector Termiônico Os detectores termiônicos são detectores por ionização que utilizam sais de metais alcalinos em um plasma1 gerado pela aplicação de um potencial elétrico adequado em um fluxo de ar e hidrogênio (COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). Sua seletividade e sensibilidade são dependentes de variáveis como corrente de aquecimento da pérola, potencial do queimador, posição da pérola, vazão de ar e hidrogênio e escolha do gás de arraste. Segundo Collins e colaboradores (1997, p. 164) existe uma pérola nestes detectores, de um sal de metal alcalino (brometo de césio ou sulfato de rubídio), que é eletricamente aquecida e colocada entre o queimador e o eletrodo coletor. Para anular a resposta do detector no modo de ionização de chamas e evitar a perda dos íons do metal alcalino, a fonte é mantida em um potencial negativo. A chama ou o plasma são suportados pelo fluxo de ar e hidrogênio presentes na região da pérola. A ação catalítica do metal alcalino em compostos contendo nitrogênio ou fósforo fora íons com carga negativa, que são coletados no ânodo para produzir uma corrente (COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). 1 Plasma é um gás quente e parcialmente ionizado que contém uma concentração relativamente alta de elétrons. (Skoog et al., 2007, p. 802). 22 3.1.1.4.5 Outros Detectores Um detector fotométrico de chama mede a emissão óptica proveniente do fósforo, enxofre, chumbo, estanho, ou outros elementos selecionados. O processo ocorre de forma similar ao detector de ionização de chamas, necessitando passar por uma chama de ar-H2, onde os átomos excitados emitem radiações características de enxofre ou fósforo, que são isolados por um filtro de interferência de banda estreita e detectados por meio de uma fotomultiplicadora. Um detector de fotoionização usa uma fonte na região do ultravioleta de vácuo para ionizar os compostos aromáticos e insaturados, com pequena resposta para hidrocarbonetos saturados ou compostos orgânicos halogenados. Um detector de quimioluminescência de enxofre capta a exaustão proveniente de um detector de ionização de chamas, onde o enxofre foi oxidado e um detector de quimioluminescência de nitrogênio funciona de maneira semelhante (HARRIS, 2008, p. 599). 3.1.1.5 Termostato As temperaturas do injetor, coluna e detector de um cromatógrafo devem ser controladas durante uma análise. Uma temperatura considerada ótima para o injetor é aquela em que a temperatura proporcione a evaporação total da amostra, porém, não havendo a decomposição térmica da amostra injetada. A temperatura do sistema de aquecimento da coluna deve ser mantida constante durante a análise – no caso de cromatografia gasosa – ou no caso de programações, fornecer uma variação de temperatura, de maneira reprodutível (COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997). Segundo Collins e colaboradores (1997, p. 166) ―O controle de temperatura da coluna deve ser rigoroso e reprodutível para que não haja alterações nos tempos de retenção durante as análises‖. 23 4 ESPECTROMETRIA DE MASSAS A técnica de espectrometria de massas é muito utilizada acoplada com as técnicas de cromatografias. É uma técnica utilizada para o estudo de massas de átomos, moléculas e fragmentos (HARRIS, 2008; SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). O autor Becker (1997, p. 141) diz que: ―a espectrometria de massas é um método analítico, com o qual se pode obter informações sobre a massa molecular, a composição elementar e a estrutura de compostos orgânicos‖. Silverstein e colaboradores (2007, p. 1) descrevem a técnica como sendo simples: Um composto é ionizado (método de ionização), os íons são separados na base da razão massa/carga (método de separação dos íons) e o número de íons que correspondem a cada ―unidade‖ de massa/carga é registrado na forma de um espectro. Na espectrometria de massas ocorre a ionização das moléculas, a fragmentação e posteriormente a separação em fase gás, para a obtenção de um espectro segundo a razão massa/carga (m/z) (VOGEL; MENDHAM, 2002). Quando o composto é analisado no espectro, a maior parte dos íons adquire carga unitária, ocorrendo à seleção pelo espectro das massas, em prática, e em teoria, permitindo a identificação do composto original (VOGEL; MENDHAM, 2002). Logo abaixo será apresentado um esquema de espectrômetro de massas (figura 2). Figura 2: Diagrama esquemático de um espectrômetro de massa típico. (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). 24 As amostras a serem introduzidas no espectrômetro de massas necessitam estar atomizadas – convertidas em átomos e íons em fase gasosa (SKOOG et al., 2007). Podem ser amostras orgânicas e biológicas, inorgânicas, em fase gasosa, liquida ou sólidas, ou depositadas em superfícies (VOGEL; MENDHAM, 2002). Amostra passa pelo sistema de vácuo, onde é vaporizada e ionizada pela uma fonte de íons, onde as moléculas sofrem fragmentação e passam a ser íons moleculares. Esses íons moleculares são acelerados e dirigidos para um campo magnético onde os íons descrevem uma trajetória circular, cujo raio depende da relação massa/carga, resultando a sua separação (HARRIS, 2008; SOLMONS; FRIHLE, 2005; VOLLHARDT; SCHORE, 2004; BECKER, 1997). Um espectrômetro de massas depende de algumas técnicas a serem utilizadas para o seu funcionamento como: sistema de introdução da mostra, métodos de ionização (fonte de íons), fragmentação, espectrometria de alta resolução, analisadores de massas e por fim, os detectores. 4.1 Sistema de Introdução da Amostra Para a espectrometria de massas, temos duas classes de atomizadores: os atomizadores contínuos e atomizadores discretos. Os atomizadores contínuos, as amostras são introduzidas de forma continuas e são representados pelos plasmas e as chamas. Já nos atomizadores discretos, as amostra são introduzidas de forma discreta com um dispositivo que pode ser uma seringa ou um auto-amostrador, faz parte dessa classe o atomizador eletro térmico (SKOOG et al., 2007). Os atomizadores contínuos possuem métodos de introdução da amostra, onde a nebulização direta é a forma mais empregada. O nebulizador converte um liquido em um jato gasoso de spray ou névoa denominada de aerossol. Com a introdução continua da amostra na chama ou no plasma, produz-se uma população em estado estacionário de átomos, moléculas e íons. O plasma dos atomizadores é definido como ―uma mistura de gás quente parcialmente ionizado, que contém uma concentração relativamente alta de íons" (SKOOG et al., 2007). Os atomizadores de chama contêm um nebulizador pneumático que converte a solução da amostra em um aerossol, que é introduzido em um queimador que fornece uma 25 chama estável proporcionando um aumento da sensibilidade e reprodutibilidade para absorção atômica (SKOOG et al., 2007). O atomizador discreto eletro térmico proporciona um aumento na sensibilidade devido a atomização acontecer em um curto intervalo tempo. As amostras são introduzidas em um forno de volume confinado, onde não são diluídas tanto quanto estariam em um plasma ou em uma chama. Eles são empregados para medidas de absorção atômica e de fluorescência atômica (SKOOG et al., 2007). 4.2 Métodos de Ionização/ Fonte de Íons Vários métodos de ionização são utilizados para a espectrometria de massas, mas antes de falar dos métodos torna-se interessante descrever a fonte de íons utilizada para gerar a fase gasosa a ser analisada pelo espectrômetro (VOGEL; MENDHAM, 2002). Os métodos dividem-se em três grandes áreas: fase gás, dessorção e ionização por evaporação (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). Nos métodos de ionização em fase gás, estão inseridos os de ionização por impacto de elétrons (EI) e o de ionização química (CI). É um dos métodos mais antigos utilizados, pois se aplicam à compostos com pressão de vapor de ordem 10 6 torr em uma temperatura na qual o composto é estável (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). A ionização por impacto de elétrons (EI) as moléculas colidem com um feixe de elétrons formando íons moleculares radicais. Essa colisão ocorre devido ao bombardeio de elétrons com alta energia (70 eV), onde haverá a remoção de um elétron da molécula de amostra para produção de um cátion-radical, conhecido como íon molecular. Essa energia é mais elevada do que se torna necessário para a ionização (8 a 15 eV), onde o íons molecular se decompõem em fragmentos carregados e sem carga: M+e M+. + 2e M+. A+ + B. M+. C+ + D. 26 Nos espectros EI geralmente obtêm-se íons positivos, porém, a obtenção de íons negativos torna-se possível invertendo-se as voltagens na fonte de íons (HARRIS, 2008; BECKER, 1997). A ionização química (CI) ocorre paralelamente a EI, que leva a um grau elevado de fragmentação em que não se observa o íon molecular. A CI é utilizada porque não é submetida ao bombardeamento de elétrons com alta energia, e sim, a utilização de um gás reagente (normalmente metano, isobutano, amônia) que é introduzido na fonte e ionizado, e que por colisões transmite a sua carga às moléculas que estão a ser investigadas, ocorrendo a transferência de prótons para produzir íons [M + 1] + (BECKER, 1997). Um exemplo é o gás reagente metano (CH4) que com energia suficiente (100-200 eV) é convertido em uma variedade de produtos reativos: CH4 + e- CH4+. + 2e- CH4+. + CH4 CH4+. CH5+ + .CH3 CH3+ + H. CH3+ + CH4 C2H5+ + H2 A escolha do gás reagente permite o controle da tendência que tem o íon [M + 1] + produzido por CI de se fragmentar. O principal uso da ionização química é a detecção de íons moleculares, determinando os pesos moleculares (HARRIS, 2008). Nos métodos de dessorção, estão inseridos: ionização por dessorção de campo, bombardeio por átomos rápidos, ionização por dessorção com plasma e dessorção/ionização com laser. Nesses métodos as moléculas da amostra passam de uma fase condensada para a fase de vapor na forma de íons, ocorrendo de forma direta. Essa técnica é utilizada para compostos pesados, não voláteis ou iônicos (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). O método de dessorção possui algumas desvantagens importantes como: Não utilizam eficientemente a amostra disponível; A informação obtida é limitada; 27 Seu principal uso é a determinação do peso molecular, em caso de substâncias desconhecidas e em alguns casos, a obtenção de uma massa exata; Os espectros obtidos são complicados por abundantes íons na matriz (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). A ionização por dessorção de campo (DC) é um método no qual a amostra é colocada em um campo elétrico forte, onde gradientes de voltagem muito altos removem o elétron da amostra e o cátion resultante é repelido para longe do emissor. Os íons formados são desadsorvidos e têm pouquíssima energia em excesso, ocorrendo pouca fragmentação. Neste tipo de ionização, substâncias que não são voláteis também podem ser analisadas, diferentemente da ionização química e por impacto de elétrons (BECKER, 1997). No bombardeio por átomos rápidos (FAB), usam-se átomos de xenônio ou argônio de alta energia (6-10 keV) para o bombardeamento da amostra dissolvida em um liquido com baixa pressão de vapor, como por exemplo, o glicerol. A amostra é protegida pela matriz de danos excessivos provocados pela radiação (VOGEL; MENDHAM, 2002). O resultado é a formação de íons moleculares e fragmentos tanto da sustância a investigar, como também da matriz (BECKER, 1997). Um dos maiores problemas encontrados nessa técnica é que o espectro mostra sempre um alto nível de íons gerados pela matriz, limitando a sensibilidade e podendo esconder fragmentos iônicos importantes da amostra e a técnica é mais útil com massas inferiores a 6 kDa (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). A ionização por dessorção de plasma é uma técnica usada quase que exclusivamente com analisadores de vôo, por ser muito especializada. A amostra é bombardeada e ionizada com o produto de fissão do califórnio 252 ( 252Cf) com energia de 80-100 MeV. Com a decomposição do 252 Cf, é produzido duas partículas que se movem em direções diferentes. Uma partícula atinge o detector marcando o tempo inicial, enquanto a outra atinge a matriz que ejeta alguns íons em um espectrômetro de vôo (TOF-EM). Os íons são liberados em formas protonadas onde tem uma energia muito baixa, e em conseqüência, observam-se raramente fragmentos úteis para a análise da estrutura molecular. Esta técnica é útil para massas de peso molecular até 45 kDa (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). Na dessorção/ionização com laser (MALDI), pode-se utilizar um feixe pulsado de laser para a ionização das amostras em espectrometria de massas. A técnica é acoplada com o analisador de tempo de vôo ou transformação de Fourier, por ser pulsada em milissegundos. 28 São usados dois tipos de laser: o de CO2 – emite radiação no infravermelho distante - e o laser de neodímio/ítrio-alumínio (Nd/YAG) – emite radiação na região do ultravioleta na faixa de 266nm (VOGEL; MENDHAM, 2002). Ocorre à mistura de alguns picomols da amostra com a matriz, e são irradiados com pulsos de laser, fazendo com que íons da amostra sejam ejetados da matriz para o espectrômetro de massas. Como acontece com outros métodos que utilizam matrizes, MALDI é afetado pela interferência de picos da matriz, fazendo com que a determinação do íon molecular da amostra desconhecida seja pouco precisa. Nesse método, os resultados obtidos são armazenados e sua média é o espectro desejado; o tempo de operação é pequeno (5 min); e o sistema é sensível (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007; VOGEL; MENDHAM, 2002). Nos métodos de ionização por evaporação encontramos a espectrometria de massas por nebulização térmica e por nebulização com elétrons. Nesse método os íons perdem as moléculas de solvente com ionização simultânea, deixando os íons para análise das massas. (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). Na espectrometria por nebulização térmica, a solução da amostra é introduzida através de um tubo capilar no espectrômetro de massas. Esse tubo vai nebulizar e evaporar parcialmente o solvente, tendo a formação de uma corrente de pequenas gotas que entram na fonte de íons. Os íons da amostra podem ser analisados após uma evaporação completa do solvente (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). A espectrometria de massas por nebulização com elétrons usa uma fonte de íons por nebulização com elétrons, operando em pressões próximas a da atmosfera. A amostra entra na fonte de íons em um tubo envolvido por um fluxo de nitrogênio que é o gás nebulizador. A solução deixa o tubo, formando um aerossol de gotículas carregadas. O efluente é arrastado pelo fluxo do gás nebulizador para o espectrômetro de massas, onde é analisado (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). 4.3 Íons Moleculares e Composição Isotópica O espectro de massas de um composto é um gráfico que apresenta as massas dos fragmentos sobre o eixo x (valores m/z) e intensidade sobre o eixo y (numero de íons de uma dada m/z colidindo com o detector). O pico base é o pico mais intenso do espectro o qual é 29 atribuído uma intensidade 100%, e o pico principal ou íon molecular é o pico que corresponde ao cátion radical não fragmentado (M+) (MCMURRY, 2005). O íon molecular M+. irá nos informar qual a massa molecular de uma amostra desconhecida, porém sob o impacto de elétrons (EI) alguns íons fragmentam-se com muita facilidade. Para solucionar esse problema, é melhor obter um espectro de ionização química (CI) onde teremos um pico intenso em [M + 1]+ e pouquíssima fragmentação (HARRIS, 2008). Segundo Harris (2008, p. 528) Uma maneira prática para estabelecermos a composição de íons moleculares, é a regra do nitrogênio: Se um composto apresenta um número ímpar de átomos de nitrogênio, além de um número qualquer de átomos de C, H, halogênios, O, S, Si, P, então M+. terá uma massa nominal ímpar. E para um composto com um numero par de átomos de nitrogênio (0, 2, 4, etc.), M+. terá uma massa nominal par. Muitos compostos orgânicos apresentam isótopos naturais. A tabela 1 mostra a abundância dos isótopos de elementos comuns. 30 Tabela I - Massas Exatas dos Isótopos Peso Elemento Atômico Nuclídeo Massa Hidrogênio 1,00794 1 1,00783 Carbono Nitrogênio Oxigênio 12,01115 14,0067 15,9994 H D(2H) 2,01410 12 C 12,00000 (padrão) 13 C 13,00336 14 N 14,0031 15 N 15,0001 16 O 15,9949 17 O 16,9991 18 O 17,9992 Flúor 18,9984 19 F 18,9984 Silício 28,0855 28 Si 27,9769 29 Si 28,9765 30 Si 29,9738 Fósforo 30,9738 31 P 30,9738 Enxofre 32,0660 32 S 31,9721 33 S 32,9715 34 S 33,9679 35 Cl 34,9689 37 Cl 36,9659 79 Br 78,9183 81 Br 80,9163 Cloro Bromo Iodo 35,4527 79,9094 126,9045 Fonte: SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007. 127 I 126,9045 31 Os picos isotópicos fornecem métodos para a determinação das fórmulas moleculares das amostras desconhecidas. Para o carbono, hidrogênio e nitrogênio, o isótopo principal é uma unidade de massa maior do que o isótopo mais comum. Esses elementos dão origem aos ―picos de isótopos‖ em M +1, onde é o pico isotópico com uma unidade de massa maior do que o íon molecular, e para M + 2, o isótopo é duas unidades de massa maior que o isótopo mais comum – para os elementos oxigênio, enxofre, cloro e bromo (SOLOMONS; FRIHLE, 2005). Um exemplo é a massa unitária do íon molecular de C 7H7NO (m/z 121), a soma das massas unitárias dos isótopos mais abundantes: (7 x 12 [para 12C]) + (7 x 1 [ para 1H]) + (1 x 14 [para 14 N]) + (1 x 16 [para 16 O]) = 121 (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). Outro exemplo de isótopos são as fórmulas moleculares C5H12 e C4H8O com massa molecular (MM) = 72, porém diferenciam-se por poucas casas decimais: C5H12 tem massa exata de 72,0939 unidades de massa atômica (u.m.a), enquanto C4H8O possui massa exata de 72,0575 u.m.a. Sendo assim a soma da massa atômica exata de cada isótopo da molécula é medida à soma da média de massas atômicas (MCMURRY, 2005). 4.4 Fragmentação Segundo Mcmurry (2005, p. 392), ―o espectro de massa de um composto orgânico é único, dependendo de sua estrutura, a probabilidade de dois compostos possuírem massas idênticas é pequena‖. Desse modo torna-se possível a identificação estrutural de um composto pela interpretação do modelo de fragmentação observado (MCMURRY, 2005). Os fragmentos formados pela energia de ionização produzem outros picos no espectro de massas, contendo massa molecular menor do que a do íon molecular original, fazendo com que o espectro resultante seja chamado de padrão de fragmentação do espectro de massas. O pico base é definido com intensidade de 100% enquanto que os demais picos podem ser o pico do íon molecular ou de outros fragmentos (Figura 3) (VOLLHARDT; SCHORE, 2004). 32 Figura 3: Espectro de massas do metano. O pico m/z = 16 corresponde a CH4=. , referem-se ambos ao pico base e ao pico principal. O espectro de massas também mostra picos m/z = 15 e 14, correspondendo à clivagem do íon molecular em fragmentos CH3= e CH2=.. VOLLHARDT; SCHORE, 2004. 4.5 Espectrometria de Alta Resolução Os espectros descritos até o presente momento são considerados espectros de ―baixa resolução‖, pois eles medem somente até o numero inteiro mais próximo da unidade de massas. Muitos laboratórios são equipados com esse tipo de espectrômetro, porém, há alguns laboratórios que estão equipados com os mais caros espectrômetros de massa de ―alta resolução‖. Esses espectrômetros diferem-se dos demais devido a sua capacidade de medir valores de m/z com até quatro casas decimais, fornecendo um método extremamente exato para determinar as massas moleculares (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007; SOLOMONS; FRYHLE, 2005). Para se obter a garantia de medidas exatas de massas, os espectrômetros são calibrados com compostos como o perfluoroquerosene (CF3(CF2)nCF3) ou o perfluorotributilamina ((CF3CF2CF2CF2)3N). Em trabalhos de alta resolução, as amostras desconhecidas devem ser medidas conjuntamente com os padrões (HARRIS, 2008). 4.6 ANALISADORES DE MASSAS Os analisadores de massa são o coração do espectrômetro de massas, pois eles que separam a mistura de íons formados na fonte de acordo coma suas razões massa/carga 33 (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007; VOGEL; MENDHAM, 2002). Os analisadores diferem entre si pelas características que cada um possui. A diferença de cada analisador é feita através do ―poder de resolução‖ R. O R é definido por R = m/variação m; onde variação m = diferença entre massas de dois picos adjacentes separados no limite da resolução do aparelho e m = média da massa nominal dos dois picos (VOGEL; MENDHAM, 2002). Os analisadores a serem descritos a seguir são: espectrômetros de massas com setores magnéticos, com quadrupolo, espectrometria de massas por captura de elétrons, espectrômetro de massas por tempo de vôo, com transformações de Fourier e espectrometria de massas em seqüência. 4.6.1 Espectrômetros de Massas com Setores Magnéticos Esse tipo de espectrômetro utiliza um campo magnético para desviar os íons em movimento para uma trajetória curva. O campo magnético funciona separando os íons de massas diferentes (os mais leves desviam-se mais do que os mais pesados) e com energia cinética constante, pela trajetória de curva diferente que cada um faz (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). Os íons são formados a partir de partículas neutras com um pequeno espalhamento de energia cinética e passam a ser acelerados a partir de diversas intensidades dependendo da região dentro da fonte de íons onde eles foram criados (Figura 4) (HARRIS, 2008). A variação da energia cinética dos íons que surgem da fonte de íons (~ 0,1%) é quem determina o poder de resolução de um espectrômetro de massas. O poder de resolução de um setor magnético com focalização dupla pode chegar a 100.000 quando utilizadas fendas de abertura pequenas, o que proporciona o modelo de formas moleculares inequívocas, sendo muito útil (HARRIS, 2008; SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). 34 Figura 4: Representação de um espectrômetro de massas de ionização de elétron. As moléculas são ionizadas por colisão com elétrons a alta energia, provocando a fragmentação de algunas moléculas. A saída, após a passagem dos fragmentos carregados através de um campo magnético, ocore de acordo com sua massa. MCMURRY, 2005. 4.6.2 Espectrômetros de Massas com Quadrupolo Devido a seu custo, o espectrômetro de massas com quadrupolo é um dos mais utilizados. É formado por quatro hastes metálicas paralelas as quais recebem um potencial elétrico constante e um potencial oscilante de radiofreqüência (HARRIS, 2008; SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007; VOGEL; MENDHAM, 2002). O campo elétrico irá defletir os íons em trajetórias complexas na medida em que mudam da câmara de ionização em direção para o detector. Através das variações rápidas dos potenciais elétricos, íons com massas diferentes são selecionados para atingirem o detector. Registros com 2 a 8 espectros por segundo são efetuados por instrumentos de transmissão com quadrupolos, chegando a cobrir uma faixa de 4000 unidades de m/z (HARRIS, 2008). No que se refere à resolução e à faixa de massas, o espectro de setor magnético é superior ao de quadrupolo (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). 35 4.6.3 Espectrometria de Massas por Captura de Elétrons Esse tipo de espectrometria é semelhante ao do quadrupolo devido a aparência e a operação dos dois se assemelharem, mas a espectrometria de massas por captura de elétrons (armadilha de elétrons) é mas versátil e com maior potencial de desenvolvimento. É um dos métodos mais utilizados para a separação de massas devido a sua compactação e adequação para o uso como detector cromatográfico (HARRIS, 2008). Ao contrário do quadrupolo que filtra as massas, a armadilha de íons pode ―prender‖ os íons por tempos longos, com importantes conseqüências como: a produção de um espectro de massas convencionais após a liberação dos íons presos para um determinado detector (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). Na armadilha de íons as substancias que surgem da coluna cromatográfica introduzem-se na cavidade do analisador de massas, por intermédio e uma linha de transferência aquecida. Elétrons provenientes do filamento aquecido são admitidos por um eletrodo comutador, localizado na parte superior da cavidade. A cavidade é formada por dois eletrodos terminais e um eletrodo central em forma de anel, que promovem ionização das moléculas devido a formação dos íons pela cavidade. Esses eletrodos encontram-se isolados entre si. Pode-se realizar a ionização química, onde um gás reativo é colocado dentro da cavidade (metano) (HARRIS, 2008). Um potencial de radiofreqüência é aplicado no eletrodo central, fazendo com que os íons circulem em trajetórias estáveis dentro da cavidade. Os íons são ejetados da cavidade devido a radiofreqüência com um determinado valo m/z, onde são capturados pelo multiplicador de elétrons e detectados com alta sensibilidade. Esse processo permite uma sensibilidade de 10-100 vezes mais do que os de instrumentos de quadrupolo devido ao alcance da metade dos íons, com todos os valores de m/z, no detector (VOGEL; MENDHAM, 2002). 4.6.4 Espectrômetro de Massas por Tempo de Vôo Silverstein e colaboradores (2007, p. 11) definem esse analisador como simples: ―íons são acelerados por um potencial (V) e passam por um tubo até um detector. Se todos os íons que entram no tubo tiverem a mesma energia, então íons de massas diferentes terão velocidades diferentes‖. 36 No entanto, esse aparelho necessita produzir os íons em uma determinada localização e momento conhecido, limitando os espectrômetros de massas por tempo de vôo (TOF) às técnicas de ionização pulsada (HARRIS, 2008, VOGEL; MENDHAM, 2002). Esse tipo de instrumento possui excelente sensibilidade devido à falta de fendas. É muito utilizado para análise de biomoléculas de grande massa (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). 4.6.5 Espectrômetros de Massas com Transformações de Fourier Devido a seu alto custo, esses espectrômetros de massas com transformações de Fourier não são muito comuns. Nesse tipo de analisador os íons são mantidos em uma célula sob um campo magnético de alta intensidade e um potencial elétrico de captura. Cada íon órbita no interior de cada célula, em uma direção perpendicular à do campo magnético com uma freqüência simétrica ao m/z do íon. A célula recebe um pulso de radiofreqüência que faz com que todas as freqüências cicloidais entrem em ressonância, para originar um interferograma. O interferograma - que é um espectro no domínio do tempo – sofre uma conversão de Fourier para um espectro no domínio da freqüência, que dá o espectro m/z convencional. Esse é um método de alta resolução podendo ser acoplado à instrumentação de cromatografia e de vários métodos de ionização (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). 4.6.6 Espectrometria de Massas em Seqüência A espectrometria de massas em seqüência (MS-MS) um íon ―principal‖ da fragmentação inicial é selecionado, onde ele fragmenta-se novamente gerando íons ―filhos‖. Esses íons filhos, em misturas complexas, fornecem evidencia inequívoca da presença de um composto conhecido, e permitem a obtenção de muitas informações estruturais de compostos novos ou desconhecidos (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). Silverstein e colaboradores (2007, p. 12) exemplificam o método através de um exemplo: 37 Um uso comum da MS-MS envolve a ionização de uma amostra impura, com recuperação seletiva de um íon característico do composto que está sendo estudado e obtenção de um espectro de diagnóstico dos íons filhos produzidos por aquele íon. [...] MS-Ms pode ser uma poderosa ferramenta de procura de compostos. Sendo assim, esse método pode ser utilizado para a análise de amostra de urina humana na detecção de drogas ou de seus metabólitos (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2007). 5 DETECTORES A espectrometria de massas utiliza alguns tipos de detectores para auxiliar na identificação dos compostos, sendo os cinco principais: asa placas fotográficas, o vaso de Faraday, as multiplicadoras de elétrons, as multiplicadoras de elétrons em canais e os detectores de cintilação (VOGEL; MENDHAM, 2002). As placas fotográficas possuem alta resolução e são mais rápidas do que os dispositivos eletrônicos. Elas têm a capacidade de detectar simultaneamente os íons de qualquer massa, quando utilizado um analisador de geometria invertido (VOGEL; MENDHAM, 2002). O vaso de Faraday é um vaso de metal para onde todos os íons são dirigidos, e só é utilizado em aplicações especiais. Possui como desvantagem a baixa sensibilidade devido as correntes induzidas pelos feixes de íons (utilizados no circuito que controla o vaso) serem muito pequenas, porém, o sinal produzido é muito estável e reprodutível. Esse sistema é utilizado sempre que as informações quantitativas são importantes no espectro de massas (VOGEL; MENDHAM, 2002). As multiplicadoras de elétrons ou detectores de cintilação, em geral, utilizadas como equipamento dos espectrômetros de massas por serem dispositivos muito versáteis e sensíveis. Existem dois tipos de multiplicadoras de elétrons: o dispositivo de dinodo discreto e de dinodo contínuo. Ambos trabalham da mesma forma e tem características de ganho semelhantes, porém, no dinodo contínuo, os elétrons são substituídos por um tubo de vidro curvo, feito com vidro de alto conteúdo de chumbo dopado com óxidos de metais. Os íons chegam aos dois tipos de detectores, para atingirem um bom funcionamento, devem ter alta 38 velocidade e energia. As vantagens que as multiplicadoras de elétrons possuem, é que são; confiáveis, robustas e sensíveis, porém seu desempenho e tempo de meia vida são afetados pelo vácuo do espectrômetro de massas, podendo ocorrer contaminação (VOGEL; MENDHAM, 2002). Os detectores de cintilação são usados como alternativa para sanar os problemas pela multiplicadora de elétrons. São utilizados um cintilador ou detector de Daly, que são semelhantes aos detectores utilizados em radioquímica. O detector de é uma fotomultiplicadora convencional que possui uma janela de disco de fósforo cristalino que quando é atingido pelos íons, a superfície emite fótons de luz os quais são detectados pela multiplicadora. A amplificação dos elétrons ocorre em um vidro sujeito a alto vácuo, independente do espectrômetro, o que proporciona um tempo de vida mais longo ao detector, além de ser mais estável do que as multiplicadoras de elétrons convencionais (VOGEL; MENDHAM, 2002). As multiplicadoras de elétrons em canais são operadas em conjunto com instrumentos mais modernos. Cada canal funciona como uma multiplicadora de elétrons, que quando ligados dois ou mais conjuntos um após o outro, podem gerar ganhos muito elevados. Esse arranjo permite o controle de cada canal independente dos demais (VOGEL; MENDHAM, 2002). 6 A ESPECTROMETRIA DE MASSAS ACOPLADA COM A CROMATOGRAFIA GASOSA (CG/ EM) Após transcorrer sobre as técnicas de CG e EM separadamente é necessário um olhar no sentido da utilização desses equipamentos de consonante, com a finalidade de fornecer em uma mesma análise amostral, dados relacionados à característica físico-química da amostra, assim como fornecer a estrutura química analisada. A análise fornecerá um resultado irrefutável, ou seja, sem margem para dúvidas, o que é de suma importância no momento de fornecer laudos periciais que podem culpar ou inocentar um réu. Portanto a técnica de CG é associada à EM para fornecer melhores resultados. Enquanto a CG separa os componentes de uma mistura, o EM fornece a informação estrutural 39 sobre cada um deles. Quando utilizados em conjunto, fornecem dados quantitativos quando os padrões de concentração conhecida são utilizados com a amostra desconhecida (SOLOMONS; FRYHLE, 2005). Na análise da CG/EM, uma quantidade pequena da amostra a ser analisada é injetada no cromatógrafo a gás. A amostra é vaporizada e arrastada por um fluxo de gás inerte para dentro da coluna capilar, o interior da coluna capilar é revestido com uma fase estacionária de baixa polaridade. Na medida em que as moléculas vão passando pela coluna, a velocidade com que elas se movem irá depender dos seus pontos de ebulição e pelo grau de afinidade pela fase estacionária. Moléculas com pontos mais baixos de ebulição e apolares transitam mais rapidamente. O tempo que cada composto leva para se movimentar é descrito como tempo de retenção2. Na proporção de saída de cada componente da mistura pela coluna de CG, eles são transportados para o espectrômetro de massas, onde as moléculas serão bombardeadas por elétrons; os íons e os fragmentos são constituídos, e o espectro de massas mostra o resultado (figura 5) (SKOOG et al., 2007; SOLOMONS; FRYHLE, 2005). Figura 5: Esquema de um espectrômetro de massas acoplado a um cromatógrafo gasoso (CG/EM) capilar típico. SOLOMONS; FRYHLE, 2005. 2 Tempo de retenção é o tempo decorrido entre a injeção da amostra e o aparecimento do pico do soluto no detector de uma coluna cromatográfica (Skoog et al., 2007, p. 879). 40 7 EXEMPLO DO EMPREGO DE CG/EM EM ANÁLISE DE AMOSTRAS HUMANAS NA BUSCA DE INFORMAÇÕES SOBRE A CAUSA/CRIME 7.1 CG x CG - Nova técnica analítica para o ambiente forense A técnica de CG x CG é um novo método analítico utilizado para a identificação de compostos no ambiente forense. Essa técnica utiliza duas dimensões de cromatografia gasosa, o que possibilita uma maior identificação de picos. Para a análise e identificação de compostos desconhecidos por CG x EM são necessários colunas capilares de alta resolução e um detector de espectrômetro de massas de quadrupolo. Essa técnica produz alguns picos formados por separação de íons ou método de monitoramento de íons do espectro de massas, que podem conter compostos inesperados com a mesma amostra de íons. A nova técnica analítica é capaz de separar em uma ordem de magnitude mais compostos de misturas complexas do que os métodos tradicionais de CG, ela produz cromatogramas com milhares de resoluções de picos de amostras enquanto que o método tradicional de cromatografia tem uma resolução de 100 picos. Para a análise do ambiente forense, a técnica permite a examinação completa de uma grande variedade de compostos químicos, como por exemplo; na extração de sedimentos marinhos contaminados com compostos orgânicos, como alcanos, cicloalcanos, alquilbenzenos, alquilnaftalenos, etc, e frações de biomarcadores de petróleo. A leitura feita por CG x CG em dois planos identifica melhor os picos que são posteriormente analisados por CG x EM para uma comparação dos dados (figura 6) (FRYSINGER; GAINES, 2002). 41 Figura 6: Conceitos abrangentes de cromatografia gasosa bidimensional. (CG x CG): (a) pico cromatográfico primeira dimensão contendo coeluentes, (b) Modulador de amostras do pico de primeira dimensão e injeta pico estreito em segunda dimensão, (c) coeluentes são separados na segunda dimensão (d) fluxo de dados serial FID é cortado em segmentos e guardado em uma ordem, (e) matriz é visualizada com um contorno. FRYSINGER; GAINES, 2002. 7.2 Desenvolvimento e Validação de IE–CG–EM. Método para Determinação de Benzodiazepinas e seus Metabólitos no Sangue: Aplicações na Clínica e Toxicologia Forense A cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas é um método validado para a separação, identificação e quantificação de 23 benzodiazepínicos e seus derivados. É um método com alta seletividade, sensibilidade e confiável para a análise de compostos em amostras de sangue humano. Esse método foi avaliado com sucesso para a aplicação na investigação de casos clínicos específicos e de interesse forense. Através desse método podese identificar o uso por abuso de benzodiazepinas por: erro de posologia ou overdose, tentativa de suicídio, rotas de tráfico, por ser uma das classes de drogas mais utilizadas pelos 42 usuários. Este trabalho exemplifica o uso da técnica demonstrando cinco casos onde os benzodiazepínicos foram utilizados. 1. Os benzodiazepínicos podem ter influenciado na capacidade de condução de veículo por um individuo (caso I). 2. Os benzodiazepínicos podem ter diminuído os reflexos de um indivíduo (casoII). 3. Os benzodiazepínicos mostram sinergia dinâmica com álcool (caso III) 4. Os benzodiazepínicos mostram sinergia dinâmica com opióides (caso IV) que pode ser fatal. 5. Os benzodiazepínicos podem ter sido tomados acidentalmente (caso V). Caso I: Um homem, 38 anos, motorista envolvido em um acidente de trânsito foi internado em um hospital. A análise toxicológica foi realizada para a presença de álcool e outras drogas de abuso em sangue. A análise da amostra de sangue revelou a presença de alprazolam e midazolam, em concentrações de 10,3 e 395,8 ng/ml, respectivamente. Usando o método desenvolvido a identificação e a determinação quantitativa dos dois benzodiazepínicos foi possível. Midazolam foi dado dentro do hospital antes da intubação, enquanto que o alprazolam tinha sido tomado pelo indivíduo sem prescrição médica. Levando em consideração que os benzodiazepínicos, em geral, podem influenciar a capacidade de condução de um indivíduo, a ingestão de alprazolam pode ser considerada como uma provável causa do acidente de trânsito (PAPOUTSIS et al., 2010). Caso II: mulher de 72 anos foi retirada morta do mar e a autópsia revelou que sua morte foi causada por afogamento. A análise de seu sangue revelou a presença de diazepam e seus metabólitos nordiazepam e temazepam, nas concentrações de 181,2, 370,6 e 70,3ng/ mL, respectivamente. Os resultados da análise toxicológica mostrou que a causa do afogamento poderia ser acidental como resultado de depressão do sistema nervoso central e diminuição dos reflexos do indivíduo, devido ao consumo de diazepam (PAPOUTSIS et al., 2010). Caso III: mulher de 45 anos foi encontrada morta num quarto de hotel com uma garrafa vazia de bebida alcoólica ao seu lado. Pela análise da amostra de sangue dela, a presença de lorazepam a uma concentração de 295,6 ng / ml foi revelado. Alcoolemia mostrou-se 1,7 g / 43 L. O caso acima é um exemplo clássico de uma sinergia de benzodiazepínicos com álcool. A morte pode ser atribuída à sinergia de lorazepam e álcool (PAPOUTSIS et al., 2010). Caso IV: Um homem de 27 anos foi encontrado morto em uma área abandonada com apetrechos de abuso de drogas perto dele. Durante a autópsia, apenas um extenso edema pulmonar foi encontrado. A análise da amostra de seu sangue revelou a presença de 7aminoflunitrazepam, principal metabólito do flunitrazepam, em uma concentração de 306,4 ng / mL. Além disso, com a utilização de um método específico para a determinação de opiáceos, a presença de morfina, codeína e 6acetilmorfina, que implica o uso de heroína, foi confirmado. É bem conhecido que os usuários de heroína geralmente recebem benzodiazepínicos, juntamente com a heroína ou como um substituto do mesmo. Este caso é um exemplo típico de uso simultâneo de heroína e flunitrazepam de um usuário de droga (PAPOUTSIS et al., 2010). Caso V: Uma criança de 4 anos foi admitida ao hospital com sintomas de sonolência, disartria3 e perda de seu equilíbrio. A análise de seu sangue revelou a presença de bromazepam, em uma concentração de 119,1 ng / mL. A análise toxicológica foi realizada no quadro do diagnóstico diferencial e mostrou que os sintomas apresentados não foram por razões patológicas, mas foram o resultado de envenenamento acidental, como foi comprovado, devido à ingestão de comprimidos de bromazepam, que foram prescritos para o seu avô que vivia na mesma casa (PAPOUTSIS et al., 2010). 7.3 Determinação de Esteróides Androgênicos Anabólicos em Urina por cromatografia Gasosa Acoplada à Espectrometria de Massas Algumas substâncias estão na lista de uso proibido determinado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e os esteróides andrógenos anabólicos (EAA) são uma delas. Ultimamente, os EAA são os anabolizantes mais utilizados no meio esportivo com o objetivo de aumentar a massa muscular e a resistência física dos atletas, que não demonstram importância sobre os efeitos tóxicos causados pelo uso dos EAA. Para minimizar a dopagem 3 Disartria, corresponde às alterações que resultam de distúrbios do controle muscular causados por lesões do sistema nervoso central ou periférico. Darley FL, Aronson A, Brown JR- Differential diagnostic patterns of dysarthria. J Speech Hear Res 1969a; 12: 246-252. 44 no esporte, é realizado um controle sistemático pela realização de análises toxicológicas em material biológico fornecido pelos atletas (Figura 7). Alguns métodos são propostos para a detecção de EAA e/ou seus produtos de biotransformação em amostras de urina, e um deles é o método analítico por CG x EM que foi validado de acordo com os guias internacionais e nacionais que norteiam as normas de boas práticas laboratoriais (World Anti-Doping Agency, 2003a; ANVISA, 2003). Nos resultados das análises das amostras dos voluntários que relataram o uso de esteróides androgênicos anabólicos (Figuras 8, 9), verificou-se a prevalência do uso de estanozolol pela detecção de seus produtos de biotransformação na urina (3-hidroxi-estanozolol e 16-beta-hidroxiestanozolol). Esse método apresentou-se preciso e sensível para a análise quantitativa e qualitativa dos principais esteróides anabólicos androgênicos utilizados no âmbito esportivo. Sua constatação pode ser verificada não somente pela identificação dos esteróides e/ou seus produtos de biotransformação, mas também pelas alterações do perfil cromatográfico das amostras biológicas analisadas (CAMPOS, D.R. et al., 2005). Figura 7: Perfil cromatográfico da análise de uma amostra de urina de um individuo adulto, do sexo masculino, não usuário de esteróides anabólicos. Sendo , A – androsterona, B – etiocolanolona, C – epitestosterona, D – testosterona (CAMPOS, D.R. et al., 2005). Figura 8: Perfil cromatográfico da análise de uma amostra de urina de um indivíduo adulto, do sexo masculino, usuário de testosterona. (Durateston®). Sendo A – epitestosterona, B – testosterona (CAMPOS, D.R. et al., 2005). 45 Figura 9: Perfil cromatográfico da análise de uma amostra de urina de um indivíduo adulto, do sexo masculino, usuário de estanozolol. (Winstrol®). Sendo A – androsterona, B – etiocolanolona, C – 3-hidroxiestanozolol, D – 16-beta-hidroxiestanozolol (CAMPOS, D.R. et al., 2005). 7.4 CG–EM Detecção e Caracterização de Reticulina como Marcador de Usuários de Ópio Produtos opiáceos como heroína, ópio, codeína e semente de papoula são identificados nas amostras de urinas de usuários utilizando a técnica de CG-EM, uma vez que os metabólitos principais G-MAM e 6-ACD são marcadores específicos dessas moléculas. Entretanto, a noscapina e a papaverina são os alcalóides de maior constituintes do ópio e são co-extraídos com morfina. Sendo assim, eles podem ser considerados como um marcador de usuários de opiáceos, além de a noscapina e a papaverina serem drogas utilizadas na terapêutica, por isso, o uso delas como marcadores têm suas limitações. A reticulina é uma molécula precursora da tebaína e da codeína, alcalóides presentes no ópio, e está presente em pequenas concentrações, e também em plantas. No entanto por análise através de CG-MS do ópio a reticulina foi identificada pelo pico m/z 264 enquanto que na heroína e semente de papoula não apresentam este pico. Após elucidação estrutural da molécula através de comparação de produto referência que apresentou o mesmo perfil cromatográfico e o mesmo pico m/z 264 podendo-se confirmar a presença de reticulina na amostra. Desta forma, na ausência dos marcadores específicos de heroína e na presença de metabólitos da noscapina e papaverina ela pode ser usada como marcador sugestivo (secundário). Neste trabalho os pesquisadores caracterizaram usuários de ópio e derivados através da detecção da substância reticulina (Figura 10) (AL-AMRI, A.M. et. al., 2004). 46 O OH HO N O Figura 10: Molécula de reticulina – precursor do alcalóide do ópio. 8 O PAPEL DO PROFISSIONAL FARMACÊUTICO NA PERÍCIA CRIMINAL A partir do século XIX, quando teve início a fase técnico-científica, cabia somente a medicina legal toda a parte que envolvia pesquisa, exames de integridade física do corpo humano e outros elementos associados com a materialidade do fato penal. Com o aparecimento de novas informações e desenvolvimento das áreas técnicas, como física, matemática, química, biologia, toxicologia, etc, tornou-se indispensável à criação de uma nova disciplina para pesquisa, análise, interpretação dos vestígios materiais encontrados em locais de crime, sendo fonte de apoio à polícia e à justiça: a ―Criminalística‖ (STUMVOLL; QUINTELA, 1995). A criminalística é uma ciência que estuda os indícios deixados no local do delito, benefícios pelos quais se podem estabelecer, nos casos mais favoráveis, a identidade do criminoso e as circunstâncias que ocorreram o delito. Mas para tal identificação é necessário o envolvimento de profissionais interdisciplinares como o farmacêutico: para a realização de exames, principalmente em laboratórios, engenheiros: para os exames de acidentes de trânsito, redes elétricas, dentre outros profissionais. Esses profissionais que atuam na área da criminalística são denominados de peritos (STUMVOLL; QUINTELA, 1995). Tomamos como exemplo a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo que é divida em: Polícia Militar, Civil e Superintendência da Polícia Técnico-Científica. Nesta última cabe a divisão entre Instituto de Criminalística (IC) e Instituto Médico-Legal (IML). O Farmacêutico perito atuará no IC, na área de Centro de Exames, Análises e Pesquisas (CEAP) podendo estar inserido no Núcleo de Análise Instrumental – análise de 47 alimentos, medicamentos -, Núcleo de Entorpecentes – análise de entorpecentes – e no Núcleo de Biologia e Bioquímica (destacados em vermelho), que trabalha mais com a parte de análise de DNA (Figuras 11 e 12). Figura 11: Fluxograma da divisão da polícia do Estado de São Paulo. 48 Figura 12: Inserção do Farmacêutico nos núcleos do Centro de Exames, Análises e Pesquisas. Diante da visão do campo de atuação para o profissional farmacêutico como perito criminal, cabe ressaltar que para fazer parte de um desses núcleos, o profissional necessita ser aprovado em concurso público para polícia civil ou federal. No caso da polícia civil, qualquer profissional formado com o ensino superior pode realizar a prova e aprovado torna-se um perito para atuar em quaisquer áreas que desejar, já que a prova baseia-se em conteúdos de matéria de vestibular, exceto geografia e história, sendo substituídos por conteúdos de noções de direito e informática. Já para o concurso da polícia federal, há a prova de conhecimentos gerais que englobam conteúdos de português, informática e atualidades, além dos conteúdos específicos por área. No caso do farmacêutico, a área é a de farmácia que exigirá conhecimentos em: toxicologia, farmacologia, farmacognosia, química analítica, química orgânica, química 49 inorgânica, incluindo os conhecimentos adquiridos em direito penal, direto processual penal, direito administrativo, direito constitucional. Além das provas objetivas e discursivas que têm caráter classificatório, o profissional farmacêutico terá de realizar, se passar pela classificação, a prova de capacidade física que é de caráter eliminatório, e visa avaliar a capacidade do candidato para suportar, física e organicamente, as exigências da prática de atividades físicas a que será submetido durante o Curso de Formação Profissional e para desempenhar as tarefas típicas da categoria funcional. As provas são realizadas conforme a demanda pública ou a cada dois anos para perito civil e quatro anos para perito federal. Em anexo consta um orçamento realizado para um cromatógrafo gasoso e um cromatógrafo gasoso acoplado à espectrometria de massas. A cotação encontra-se em moeda americana e livre de taxas de impostos, ou seja, importação direta. Caso a aquisição seja via perkin-elmer devem-se acrescentar essas taxas, o que significa em uma adição de 50% ou mais no valor final. 50 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os laboratórios de criminalística utilizam-se de vários métodos para análise e identificação de amostras trazidas ao laboratório pela equipe forense, para a elucidação de crimes. Após a compilação das informações sobre cromatografia gasosa e espetrometria de massas, observa-se a importância da técnica no que tange a especificidade, grau de pureza e reprodutibilidade dos resultados, fornecendo um grau de confiabilidade próximo a 100%, descaracterizando qualquer dúvida sobre a veracidade do laudo. O farmacêutico é um profissional multi e interdisciplinar o que valida seu perfil na área forense, além é claro de ser um dos poucos profissionais que possui em sua formação disciplinas que incluem a cromatografia como ferramenta no isolamento e caracterização de moléculas orgânicas como, por exemplo, os fármacos, informação indispensável para técnica forense. No curso de farmácia/UNESC a cromatografia permeia as disciplinas de química, controle de qualidade, farmacognosia, toxicologia, imunologia e hematologia (eletroforese capilar) além de oferecer a disciplina optativa de Análise Orgânica Instrumental, sendo um estímulo e um facilitador para profissionais que optarem por essa área. O curso também fornece informações para que o acadêmico possa se preparar para prestar a prova oferecida para especialista em farmácia. Em relação à aquisição do equipamento, uma vez que é sugerido pelo profissional da área, deve-se pensar no objetivo a ser alcançado e é claro no valor disponível para o investimento. No entanto a compra de um equipamento que possa ser utilizado para um grande número de amostras e que tenha facilidade de manutenção deve ser priorizada frente aos outros instrumentos. 51 10 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA AL-AMRI, A.M. et al. The GC–MS detection and characterization of reticuline as a marker of opium use. Forensic Science International, v.140, p. 175–183, 2004. BECKER, H. G. O. Organikum: química orgânica experimental. 2. ed Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. 1053 p. CAMPOS, Daniel Rossi et al. Determinação de esteróides androgênicos anabólicos em urina por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. v. 41, n. 4, out./dez., 2005 COLLINS, Carol H.; BRAGA, Gilberto L.; BONATO, Pierina S. Introdução a métodos cromatográficos. 7 ed. Campinas: UNICAMP, 1997. 279 p. (Série manuais ) Eles trabalham próximos à morte, ou melhor, na post-mortem. Química Hoje. Revista da Federação Nacional dos Profissionais da Química, Ago – Out. 2007. n. 9, p. 14. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 6. ed. rev. e atual Curitíba, PR: Positivo, 2004. 895 p. FRYSINGER, Glenn S.; GAINES, Richard B. GC x GC - A New Analytical Tool For Environmental Forensics. Environmental Forensics. v.3, p.27-34, 2002. HARRIS, Daniel C. Análise química quantitativa. 7. ed Rio de Janeiro: LTC, 2008. 868p. MCMURRY, John. Química orgânica. São Paulo: Thomson, 2005. 2v PAPOUTSIS, Ioannis I. et al. Development and validation of an EI–GC–MS method for the determination of benzodiazepine drugs and their metabolites in blood: Application in clinical and forensic toxicology. Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis, v. 52, p. 609–614, 2010. RANGEL, Rui; PINHEIRO, Maria de Fátima; MAGALHÃES, Teresa. Noções gerais sobre outras ciências forenses. Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. MEDICINA LEGAL - 2003/2004. SILVERSTEIN, Robert M.; WEBSTER, Francis X.; KIEMLE, David J. Identificação espectrométrica de compostos orgânicos. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2007. 490 p. SKOOG, Douglas A. Fundamentos de química analítica. São Paulo: Thomson, 2007. 999 p. SOLOMONS, T. W. Graham; FRYHLE, Craig. Química orgânica. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2005. 2v. STUMVOLL, V.P. e QUINTELA, V. Criminalística. Em: TOCHETTO, D. (Coord.). Tratado de perícias criminalísticas. Porto Alegre: Ed. Sagra-DC Luzzatto, 1995. VOGEL, Arthur Israel; MENDHAM, J. Vogel: análise química quantitativa. 6.ed. Rio de Janeiro: LTC, c2002. 461 p. 52 VOLLHARDT, K. Peter C; SCHORE, Neil Eric. . Química orgânica: estrutura e função. 4. ed Porto Alegre: Bookman, 2004. 1112 p. ZARZUELA, J.L. Química Legal. Em: TOCHETTO, D. (Coord.). Tratado de perícias criminalísticas. Porto Alegre: Ed. Sagra-DC Luzzatto, 1995. 53 ANEXO A – CROMATÓGRAFO GASOSO 54 55 56 57 58 ANEXO B – CROMATÓGRAFO GASOSO ACOPLADO A UM ESPECTRÔMETRO DE MASSAS 59 60 61 62 63 64 65