Módulo 1 A qualidade social da educação escolar “O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.” Carlos Drummond de Andrade, Mãos dadas. Sentimento do mundo Presidente da República do Brasil Luís Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Diretora do Departamento de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental Jeanete Beauchamp Coordenadora Geral de Políticas de Formação Roberta de Oliveira Universidade Federal da Bahia Reitor Naomar Monteiro de Almeida Filho Vice-Reitor Francisco José Gomes Mesquita Pró-Reitor de Extensão Eugênio de Ávila Lins Pró-Reitora de Planejamento e Administração Nádia Andrade de Moura Ribeiro Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Antônio Alberto da Silva Lopes Pró-Reitor de Graduação Maerbal Bittencourt Marinho Pró-Reitora de Desenvolvimento de Pessoas Joselita Nunes Macedo Centro de Estudos Interdisciplinares para o Setor Público (ISP) Diretor Antonio Virgílio Bittencourt Bastos Rede Nacional de Formação e Desenvolvimento da Educação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Área: Gestão e Avaliação Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica (Proged) Coordenador Geral Robert Evan Verhine Coordenador Executivo Paulo Cezar Vilaça de Queiroz Coordenadora da Ação 01 Ana Maria de Carvalho Luz Coordenadora da Ação 02 Patrícia Rosa da Silva Série Formação Vol. 3 Módulo 1: A qualidade social da educação escolar Este módulo teve como referências principais texto gerador da autoria de Tércio Rios de Jesus e a publicação A formação de gestores educacionais: desafios e perspectivas de saberes em construção (Salvador: ISP/UFBA, 2006, referido na bibliografia). Foi elaborado por Ana Maria de Carvalho Luz. Atualizado em março de 2007. Organizadores: Ana Maria de Carvalho Luz Patrícia Rosa da Silva Fernanda Alamino do Amaral Diagramação e projeto gráfico: Fernanda Alamino do Amaral Foto da capa: Dmitry Sladkov Este módulo faz parte da publicação: Gestão de Unidades Escolares. -[recurso eletrônico] / ISP /PROGED / UFBA. Programa eletrônico. Salvador : ISP, 2008. 1 CD ROM: il ; 43/4 pol. + encarte: il;1 folha solta dobrada; 42 x 30 cm . (Série Formação; n. 2). Sistema requerido: Windows 98, 2000, XP ou Vista; Adobe Reader 6.0 ou versões compatíveis, com atualização gratuita no próprio CD. E-books. Série Formação; n. 3, foi baseada na Série Seminários Organização: Ana Maria de Carvalho Luz, Patrícia Rosa da Silva e Fernanda Alamino do Amaral. Tamanho do CDs: 5,71Mb 2 Conteúdo: 1 CD com E-books: 1. E-book 1 - A qualidade social da educação escolar 2. E-book 2 - Organização e gestão da escola: planejamento e avaliação 3. E-book 3 - A construção do projeto político-pedagógico da escola 4. E-book 4 - A avaliação da aprendizagem na escola 5. E-book 5- Gestão de pessoas e do ambiente físico da escola. 6. E-book 6 - Autonomia financeira das escolas. 7. E-book 7 - Convivência na escola: o papel do gestor. 8. E-book 8 Sobre todas as coisas... I. Título. CDD: 371.3 Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA >>> Caro Cursista É um prazer tê-los conosco! Com este módulo, estamos iniciando mais um Curso de Formação de Equipes Gestoras de Unidades Escolares. E nada mais significativo do que iniciar com o convite de Drummond. Já que o mundo é tão grande, os problemas da educação são tantos, os desafios são imensos, vamos unir nossas cabeças e nossos corações para enfrentá-los... Vamos começar nosso contato a partir de uma questão bastante concreta, óbvia até: os alunos não estão aprendendo, nas escolas públicas. Certamente você já deve ter visto que o desempenho dos alunos brasileiros tem sido objeto de preocupação de todos, e o governo federal acaba de lançar um pacote de medidas que tentam reverter esse quadro: o Plano de Desenvolvimento da Educação. Já deve ter ouvido falar de possíveis causas para esse fenômeno. Já deve ter ouvido pessoas que acham que a culpa é dos professores. Ou dos gestores. Outros, de que a culpa é dos alunos, ou de sua família. Há ainda os que culpam os métodos de ensino. Ou os que consideram ser a culpa do governo, que subtrai as verbas da educação... Não queremos que este módulo seja um rosário de hipóteses sobre a culpa por essa situação. Por isso, vamos tomar um caminho inverso: vamos discutir o que poderia ser considerado como uma escola de qualidade, tentando discutir as características que poderiam ser tomadas como indicadores de qualidade da escola. Vamos lá? 3 Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA >>> Sumário função tem a escola hoje? 7 Que Pense / 8 / • aspectos são a chave para ressignificar a escola e os processos que nela se desen9 Que volvem? • Reflita / 10 / que é uma escola de qualidade? 10 OPense / 11 / • da escola? Como? 11 Autonomia Pense / 13 / • 13 Gestão democrática e participação da comunidade - Isso é possível? • Pense / 16 / o ambiente educativo influencia na qualidade da escola? 16 Como Pense / 18 / • a dinâmica curricular e a prática pedagógica podem encaminhar a qualidade 19 Como da escola? • Pense / 20 / de utilização do tempo na escola: tem tempo para tudo? 20 Formas Pense / 21 / • 21 Como as formas de avaliação têm influência na qualidade da escola? andam as condições de trabalho e a formação dos trabalhadores da educa22 Como ção? • Analise / 23 / 4 se constitui o reconhecimento público de uma escola? 24 Como Pense / 24 / • que representa o apoio externo à escola? 25 OPense / 25 / • Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA do Módulo 1 26 Atividade Opine / 26 / • 26 Referências e indicações bibliográficas 5 Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA 6 Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA >>> Que função social tem a escola hoje? O Brasil conseguiu, em período relativamente curto, universalizar a oferta de ensino fundamental, ou seja, colocar a maioria das crianças e jovens de 7 a 14 anos na escola. Essa foi uma grande conquista, do ponto de vista quantitativo! Mas essas crianças e jovens não estão aprendendo nas escolas públicas. Depois de nove anos de escolaridade – num período da vida que abarca o desenvolvimento da criança e sua passagem para a adolescência – verifica-se que grande número de jovens não dominam conhecimentos básicos, necessários e instrumentais não só para a continuidade dos estudos como para inserirem-se num mundo em que o conhecimento ocupa um lugar central. Os dados recentemente divulgados pelo MEC são assustadores. Comparando-se dados do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) nos anos de 1995 e 2005, o desempenho dos alunos, numa escala de 0 a 500 pontos, sofreu, em 10 anos, as seguintes alterações: • na quarta série do ensino fundamental, a nota de português caiu de 188,3 para 172,3; em matemática, a queda foi de 190,6 para 182,4; • na oitava série, em português, a nota caiu de 256,1 para 231,9; em matemática, de 253,2 para 239,5. Por se tratar de escola pública, essa questão é mais grave ainda, pois essas crianças e jovens têm nela talvez a única oportunidade de apoio e instrumentalização para a superação das condições adversas de suas existências. Ou seja: ou a escola aproveita a passagem dessas crianças e jovens por ela, ou restam poucas alternativas de elas escaparem das situações de marginalização ou de marginalidade. Não se deve esquecer que português e matemática são as linguagens básicas de acesso ao conhecimento em todas as áreas. Essa questão deve estar no centro das atenções das equipes gestoras de unidades escolares. E colocar essa questão no centro significa ter bem claro que a escola tem uma função social importante, que é, através da formação dessas crianças e jovens, colaborar na construção de um projeto de sociedade que possibilite a participação dos indivíSérie Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA 7 duos na produção da sua existência, como sujeitos de direitos, ativos na realidade que se constrói historicamente. Assim, além da preparação para a cidadania e para o trabalho, a função social da escola na atualidade consiste na formação de seus alunos para a convivência na cultura global, a partir do desenvolvimento das capacidades de Aprender a conhecer, aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser: aprender a ser. Quatro pilares da educação, Aprender a conhecer significa dominar os instrumeninstituídos a partir do relatório tos do conhecimento, através do exercício autônomo de elaborado pela Comissão Interprocessos e habilidades cognitivas. Assim, tem especial im- nacional sobre a Educação par a portância, nesse processo, o domínio das linguagens que o Século XXI (UNESCO, 1999). permitam o acesso à construção de novos conhecimentos, tais como a linguagem verbal e a linguagem matemática. Aprender a fazer significa desenvolver competências que envolvem experiências sociais e de trabalho diversas, possibilitando ao sujeito as condições necessárias para enfrentar a dinâmica e os processos de trabalho no mundo contemporâneo, os quais estão sofrendo mudanças significativas que afetam os trabalhadores, particularmente de segmentos socialmente desfavorecidos. Aprender a conviver significa entender e conviver com as questões postas pela diversidade (cultural, étnica, de gênero, lingüística, etc.) e pelo multiculturalismo, desenvolvendo o reconhecimento e o respeito pelas diferenças, assumindo atitudes e posturas fundamentadas em valores como solidariedade, tolerância e cooperação com o outro. Aprender a ser significa pensar de forma autônoma e critica, desenvolvendo, de forma plena, as potencialidades individuais: espírito e corpo, sensibilidade, sentido ético, sentido estético, capacidade de comunicação, responsabilidade, afetividade, etc. Por isso, a escola deve fundamentar seu trabalho no compromisso com a qualidade, no respeito à diversidade, na tolerância, na necessidade de reconhecimento, aceitação e pertencimento, na solidariedade, na participação e cooperação, na autonomia e na liberdade. Glossário Pense 8 Agora, reflita: por que, na prática, se torna tão difícil a escola trabalhar efetivamente com esses quatro pilares? Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA >>> Que aspectos são a chave para ressignificar a escola e os processos que nela se desenvolvem? Em primeiro lugar, cabe destacar que as rápidas transformações que se operam no mundo contemporâneo vêm se refletindo num ritmo bem lento nas instituições escolares. Por outro lado, lenta também é a assimilação do fato de que o acesso mais amplo das camadas populares à educação escolar traz para a escola novas questões e necessidades e, por conseqüência, novos desafios e novas responsabilidades. Indisciplina dos alunos, vio: ola esc da or eri int no São evidentes, em muitos casos, a perplexidade e o senlência A esse respeito, BRASLAVSKI timento de impotência dos educadores, no âmbito das es(2005) salienta que: “No mundo colas, frente a problemas desafiadores – indisciplina dos e atual, a incerteza, o temor ant alunos, violência no interior da escola, altos índices de repeo futuro, a falta de confiança na s tência e de evasão, dificuldades de captar as novas tendêncapacidade de construir projeto üen seq con compartilhados e as cias do currículo, dificuldades no relacionamento entre os tes reações de violência nas esdiversos segmentos escolares e com a família dos alunos, colas estão na ordem do dia. Realém da falta de condições salariais e de trabalho. centemente, jovens adolescentes s Nesse contexto, os profissionais responsáveis pela conempunharam armas contra seu tos tex dução do processo educativo podem revelar comportacompanheiros em três con tão diferentes como os da Alema mentos que vão desde a indiferença e a naturalização dos s nha (Erfurt), dos Estados Unido fatos do cotidiano, até a um sentimento de perplexidade e da Argentina (Carmen de Patae impotência. Ou ainda podem alimentar um idealismo gones). Esses fatos não são necesingênuo, que logo se desvanece em pessimismo quanto à sariamente uma manifestação da s Ma ão. caç má qualidade da edu solução dos problemas enfrentados. sem dúvida revelam que os jovens A superação desses sentimentos ou comportamentos não encontram outras formas de pode ser estimulada através de uma reflexão sobre os caexpressão além da violência, e que minhos de transformação da atual dinâmica de funcionaa exercem no seu lugar: as escolas. de r ece mento da organização escolar, em direção a uma necesEsses jovens parecem car pos a : [...] s tica cinco caracterís sária mudança de paradigmas, ou seja: um processo de a sibilidade de explicar sua própri ressignificação da escola como um todo e, particularmene vida e o mundo; a auto-estima te, dos processos de gestão que nela se desenvolvem. a estima pelos outros; a possibio Assim, o processo de gestão da escola é um espaço lidade de realizar um projeto; áess nec es dad domínio das capaci importante na produção de um contexto favorável à as égi rat est e ; í-lo clu con a rias par aprendizagem dos alunos e de todas as pessoas que para relacionar-se com os demais constituem a comunidade escolar. É preciso pensar, de maneira saudável. (BRASLAportanto, na superação de um modelo estático e infleVSKI, (2005. p. 18-9) Saiba mais Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA 9 xível de escola, em direção a um modelo dinâmico, descentralizado, autônomo e democrático, capaz de produzir uma nova escola, capacitada para enfrentar com sucesso os desafios que lhe são postos. Nesse processo, três palavras-chave na caracterização desse novo modelo precisam ser trabalhadas: autonomia, participação e democracia. A concepção de uma escola autônoma, participativa e democrática é imprescindível para que possa ser desenvolvida uma ampla competência tanto na dimensão pedagógica (processos de ensino e aprendizagem) como na administrativa (estrutura e funcionamento) e na política (relações que a escola estabelece internamente e com mundo exterior). Reflita Agora, pense com seus botões: como você vê a concretização do sentido dessas três palavras no cotidiano da sua escola? >>> O que é uma escola de qualidade? 10 O que é uma boa escola, uma escola de qualidade? Para traçar o perfil de uma escola ideal, no nosso tempo e no nosso espaço, precisamos fazer um exercício de análise de características e fatores que constituem indicadores de qualidade da escola, a partir do que estudiosos dessa questão têm levantado. Trata-se de aspectos intra e extra-escolares que podem ajudar a definir o grau de eficiência da escola, denominados indicadores de qualidade da escola. Esses indicadores podem ser tomados como referência para a caracterização do grande desafio de coordenação de esforços em busca de uma educação de qualidade. E também podem servir para uma comparação entre a escola que julgamos ideal e aquela em que estamos atuando, no sentido de traçar metas de aproximação sucessiva desse patamar. Assim, neste módulo, vamos analisar os seguintes indicadores de qualidade da escola: • Autonomia Saiba mais Indicadores de qualidade da escola: Ver AÇÃO EDUCATIVA, UNICEF, INEP-MEC. Indicadores de qualidade na educação. São Pau lo: Ação educativa, 2004. E ain da: XAVIER, Antônio C. da R. & PLANK, David & AMARAL SO BRINHO, José. A Escola eficaz, escola de qualidade: novos paradIgmas para a gestão da escola . In: Guia de Consulta do Progra ma de Apoio aos Secretários Mu nicipais de Educação – PRASEM / Organizado por Terri Demsky e Maristela Rodrigues. Brasília: Projeto Nordeste, 1997. p. 193 Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA • Gestão democrática e participação da comunidade. • Ambiente educativo • Dinâmica curricular e prática pedagógica • Formas de utilização do tempo • Formas de avaliação • Formação e condições de trabalho dos trabalhadores da educação • Sucesso escolar • Reconhecimento público • Apoio externo Pense Agora, pense com seus botões: você acrescentaria outros indicadores de qualidade da escola? Quais? >>> Autonomia da escola? Como? A instituição escolar é um organismo vivo e dinâmico, marcado pela pluralidade e pelas contradições mais amplas da sociedade. As questões sociais não param na porta da escola... Elas entram junto com os alunos, os professores, os pais, a comunidade, que trazem para ela não apenas os seus problemas, mas também traços culturais que constituem a sua identidade. Sendo assim, essas características do contexto onde a escola está situada constituem o ponto de partida para o trabalho a ser desenvolvido e não podem ser ignoradas. O princípio da autonomia, então, parte do suposto de que apenas no âmbito local é possível promover uma gestão eficiente da escola e construir a sua identidade social, através de processos de interação efetiva com a comunidade. Mais ainda: além da interação com a comunidade do entorno, a escola precisa tomar como objeto de trabalho as questões, os desejos, as necessidades das pessoas, de modo que elas se sintam acolhidas, contempladas, e a escola passe a fazer parte de suas vidas... Mas a autonomia não significa que a escola vai apenas contemplar seu próprio umbigo, descolando-se do contexto mais amplo da educação do município, do estado, do país, ou desligando-se do sistema educacional em direção a uma autonomia que, se levada às últimas conseqüências, promoveria uma diferenciação radical entre as escolas, Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA 11 comprometendo a vinculação às políticas nacionais, estaduais e municipais de educação. Também a autonomia da escola, se olhada do ponto de vista das secretarias de educação, não se caracteriza apenas pela transferência de responsabilidades, pela transferência de recursos financeiros, ou pela possibilidade de eleição de diretores... Se a escola está vinculada a um sistema público de educação, municipal ou estadual, ela tem o dever de, no seu âmbito, tornar concretas as políticas públicas definidas para o país, o estado, o município, considerando as normas e a legislação em vigor. Então, que espaços de autonomia constituem prerrogativas da escola? A autonomia da escola deve ser exercida nos quatro campos da gestão: pedagógico, de pessoal, de recursos materiais e de recursos financeiros (art. 15 da LDB). Projeto político-pedagóEm primeiro lugar, vamos pensar um pouco na auto- gico: nomia pedagógica, que se materializa na prerrogativa de No módulo 3, trataremos esp ecificamente, da elaboracada escola elaborar seu próprio projeto político-pedagógico e seus planos de trabalho, considerando, de um ção do projeto político-pedagóg lado, as diretrizes nacionais e locais e, de outro lado, as ass ico. Mas podemos desde já inalar que muitas escolas características particulares do contexto em que está situ- adotam ou aplicam projetos ada. Além disso, outras decisões de natureza pedagógica oferecidos pelos governos mudevem ser assumidas pelo coletivo da escola, tais como a nicipal, estadual e federal, sem definição de parâmetros de avaliação, a escolha do livro uma análise da propriedade desses pro didático, a elaboração e execução de projetos específicos, suas necessjetos em relação às idades ou em relaas medidas a serem tomadas para reduzir índices de re- ção à sua proposta pedagógica . petência, etc. Cabe à escola, portanto, definir, utilizando Fragmenta-se, assim, o trabao seu espaço de autonomia, os elementos que contribu- lho pedagógico, perdendo-se de vista a autonomia da escola. am para a qualidade do ensino e, conseqüentemente, para o sucesso escolar de seus alunos. No âmbito da gestão, a autonomia deve permitir a cada escola elaborar e aprovar seu próprio regimento, observando as diretrizes gerais do sistema educacional e contemplando suas especificidades. O regimento não deve ser apenas um texto arquivado, “letra morta” no cotidiano da escola, mas um documento construído coletivamente e capaz de dar conta dos pactos efetivados entre as pessoas que constituem a comunidade escolar. Do mesmo modo, a gestão dos recursos financeiros destinados à escola deve passar por um pacto coletivo no que diz respeito à destinação e à aplicação desses recursos, constituindo, também, espaços de autonomia. No que diz respeito a pessoal, a escola precisa promover a qualificação permanente de seus profissionais, identificando com clareza as necessidades de formação continuada. Glossário 12 Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA MARTINS (2001) destaca a prevalência da gestão pedagógica sobre os demais campos da gestão: A gestão educacional pode ser abordada segundo concepções e enfoques variados. Há, porém, alguns pontos que são comuns. Dentre eles, ressalta o fato de que a administração da educação é, antes de tudo, administração pedagógica, voltada para o foco central da educação escolar, que é a formação do aluno, realizada na relação básica que se estabelece na escola, a relação ensinoaprendizagem. Tudo o mais deve girar em torno desse foco. As demais dimensões da gestão educacional (de pessoal, financeira e de recursos materiais) devem estar voltadas para atender à essência pedagógica da atividade educacional. (MARTINS, 2001. p. 333, grifos nossos) Assim, queremos, finalmente, enfatizar que a autonomia da escola não se dá “por decreto”, a partir de um determinado momento. Ela é um processo a ser desenvolvido de forma gradual e consistente pelo coletivo da escola tendo como meta central à criação de condições para cumprir sua missão social e promover, cada vez mais, patamares superiores de qualidade do ensino. Na realidade, o princípio da autonomia só se realiza plenamente com o atendimento aos princípios da democracia e da participação, o que vai exigir da equipe gestora a condução de processos participativos que exigem decisões e responsabilidades compartilhadas com a comunidade escolar: diretor, vice-diretores, professores, coordenadores pedagógicos, funcionários, alunos, pais e comunidade do entorno da escola. É o que veremos a seguir... Pense Agora, pense com seus botões: como anda o princípio da autonomia na escola em que você trabalha? >>> Gestão democrática e participação da comunidade – Isso é possível? As questões de disciplina e de violência nas escolas têm levado muitos educadores a fazer esse questionamento. E, o que é pior: têm Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA 13 14 levado muitos a imaginar que só através do autoritarismo se conseguiria transformar esse clima em direção a uma situação de controle do quadro atual, em direção a uma escola de qualidade. Será mesmo essa a única saída possível? Acreditamos que, no quadro atual, para que a escola atinja patamares superiores de qualidade, é preciso construir um comprometimento coletivo nessa direção, e isso só se consegue através da participação responsável na gestão da escola, dentro de um clima democrático. Isso implica promover o compartilhamento de responsabilidades, a busca compartilhada de soluções para os problemas. Numa síntese das características da gestão democrática, PORTELA (2004) ressalta: Gestão democrática é, pois, a coordenação dos esforços individuais e coletivos em torno de objetivos comuns, definidos por uma política de ação e inspirados por uma filosofia orientadora e por todos partilhada. Tem como características: • o comprometimento de todos os segmentos com o trabalho da escola; • o compartilhamento de poder e de responsabilidades com todos os segmentos envolvidos na escola; • a articulação de todos os aspectos dos trabalhos da escola: administrativos, físicos, pedagógicos e sociais; • a redução das relações manipulativas, substituídas por relações democráticas; • a instalação de um clima favorável ao trabalho e à aprendizagem; • a redução da dependência vertical, com a construção da autonomia, e a ampliação da integração horizontal, pela participação conjunta nas decisões e conseqüente assunção das responsabilidades; • a busca de melhoria da qualidade do trabalho escolar. Essa ressignificação busca a superação do autoritarismo, da centralização, da fragmentação do trabalho pedagógico, da mecanização, da uniformização e cristalização de procedimentos, do controle de comportamentos e da repressão. Isso implica mudanças significativas num padrão de gestão em que o papel do diretor era ... o de guardião ou gerente de operações estabelecidas em órgãos centrais. Seu trabalho constituía-se, sobretudo, em repassar informações, controlar, supervisionar, “dirigir” o fazer escolar, de acordo com as normas propostas pelo sistema de ensino ou pela mantenedora. (LÜCK, 2000. p. 13) Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA para um novo papel em que ... um diretor de escola é um gestor da dinâmica social, um mobilizador e orquestrador de atores, um articulador da diversidade para dar-lhe unidade e consistência, na construção do ambiente educacional e promoção segura da formação de seus alunos. (LUCK, 2000, p. 160) Nesse novo padrão de gestão educacional, conforme afirmado em trabalho conjunto entre UNESCO e MEC, ... o diretor é cada vez mais obrigado a levar em consideração a evolução da idéia de democracia, o que conduz o conjunto de professores, e mesmo os agentes locais, à maior participação, à maior implicação nas tomadas de decisão (Valérien, apud, LÜCK 2005, s.d, p.1) Por isso, a gestão escolar democrática, com vistas a excelência dos processos pedagógicos que conduzem à aprendizagem, constitui a referência fundamental nos processos que se desenvolvem no contexto das escolas públicas. Trata-se do desafio de construir parâmetros a partir dos quais se consiga gradualmente atingir o ideal de uma escola pública que assegure aos alunos a formação comum indispensável para o exercício da cidadania, uma escola articulada com a cultura, a cidadania e a democracia. Um estudo desenvolvido em escolas de Salvador demonstra a importância de se considerar um dos indicadores de qualidade da escola a gestão democrática. O diagnóstico realizado nesse estudo indicou, quanto a essa questão, a existência dos seguintes problemas: estilos de gestão que oscilam entre o autocrático e o laisser faire; ênfase em aspectos buProjeto Escolas em Movimento: uma experiência de gestão rocráticos, com pouco foco na aprendizagem dos alunos; a preocupação prioritária com a indisciplina, tratada com compartilhada. PRADEM, 2003 2005. atitudes autoritárias e punição; concentração da atenção mais em aspectos periféricos do que nos essenciais da vida escolar; desconhecimento da comunidade escolar em relação à proposta pedagógica da escola, ao Plano de Desenvolvimento Escolar - PDE e ao regimento escolar. De um modo correlato, nessas escolas, a qualidade da aprendizagem era comprometida por um baixo rendimento dos alunos em Português e Matemática, com altos índices de reprovação. Por outro lado, um dos desafios mais contundentes da equipe gestora de uma escola é a participação da comunidade. Muitos gestores alegam a indiferença de pais e responsáveis e a não participação nas atividades da escola como o comportamento mais freqüente. Como um dos traços da gestão democrática, a participação da comunidade na escola representa um elemento básico de controle e acompanha- Saiba mais Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA 15 mento de sua função social. No caso dos pais ou da família do aluno, é fundamental o reconhecimento da importância da educação da criança, o que cria um ambiente que encoraja a aprendizagem, fazendo com que o aluno se saia melhor na escola. Fica evidenciado, também, que a construção de uma visão positiva a respeito da educação depende, em grande parte, da participação que os pais ou responsáveis têm na vida escolar dos seus filhos. Não se pode esperar que a família sozinha forneça o suporte para o desenvolvimento de uma perspectiva positiva da educação. As escolas devem envolver, de forma significativa, as famílias na educação de suas crianças, o que vai além dos eventuais encontros de pais, incluindo a identificação de elementos culturais da comunidade que podem ajudar a fazer a ligação entre os objetivos da escola e os objetivos sociais do grupo ou comunidade a que pertencem pais e alunos. Estudo realizado pelo SAEB indica que existe estreita associação entre a implementação de conselhos escolares, com a participação efetiva dos pais, e o resultado obtido pelos alunos nas provas aplicadas. Assim, é considerado um indicador de qualidade da escola o estímulo que ela fornece para a participação dos pais na vida escolar dos filhos e para a participação da comunidade como um todo na vida da escola. Pense Agora, é bom pensar como nos posicionamos frente à questão que intitula este segmento - Gestão democrática e participação da comunidade – isso é possível? >>> Como o ambiente educativo influencia na qualidade da escola? 16 Esse indicador corresponde a dois desafios: a gestão do ambiente físico e a constituição de um ambiente favorável à convivência, ou seja, o clima de trabalho existente na escola. O primeiro desafio é representado pela disponibilidade e qualidade dos espaços ou equipamentos e o seu uso pedagógico adequado. Um desafio para os gestores escolares é a utilização dos recursos disponíveis para a criação e manutenção de um espaço escolar com características Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA que favoreçam a aprendizagem e a interação da comunidade intra e extra-escolar. Esse espaço não é só definido por um bom projeto arquitetônico, mas pelo uso pedagógico que dele é feito. Um espaço limpo, organizado, bonito e atraente é um elemento educativo de grande força, que estimula a sensibilidade artística e criativa do aluno. Um cuidado especial deve ser dispensado à criação e manutenção das salas de leitura ou bibliotecas, mas a sala de aula deve merecer atenção especial, por ser o lugar em que os alunos permanecem mais tempo. Nessa tarefa, todos devem ser envolvidos, especialmente os professores, que nem sempre estão atentos para a importância que a organização espacial da sala tem para a aprendizagem escolar. É essencial entender ainda que o espaço de aprendizagem vai além da sala de aula e da própria escola. Ele inclui muitos outros espaços onde se podem oferecer experiências significativas de aprendizagem para os alunos: fábricas, oficinas, fazendas, teatro, cinema, praça, supermercado etc. Há indicações de que, quando se usam também esses espaços com o objetivo de trabalhar os conteúdos escolares, os alunos constroem aprendizagens mais significativas e, por isso, duradouras. Cabe, então, à equipe gestora enfrentar o desafio de utilizar, da melhor maneira possível, os recursos existentes para, em conjunto com a comunidade, constituir a escola como espaço agradável, receptivo e acolhedor dos alunos. Quanto a esse indicador, o diagnóstico empreendido em algumas escolas de Salvador, já mencionado, detectou os seguintes problemas: pisos estragados, paredes e corredores sujos, janelas mal conservadas; reservatório de água rachado, com risco de desabar sobre os alunos; salas da direção e dos professores pequenas e usadas, também, como depósito de material; área externa da escola sem nenhuma segurança, um muro iniciado e não concluído; tubulação de esgoto sanitário situada em nível mais baixo que o da rua, causando freqüentes alagamentos em dias de chuva; acúmulo de carteiras velhas e estragadas nas salas de aula; espaço externo da escola sem uso, devido a buracos e sujeira; presença de cartazes velhos e sujos nas paredes; desorganização no horário da merenda, provocando sujeira com copos, papéis e mesmo restos de alimentos jogados nas salas e nos corredores. O cuidado com o ambiente físico da escola também é de suma importância para o desenvolvimento da aprendizagem, pois, como afirmou o educador Eduardo D’ Amorim, Tudo na escola deve ser feito para educar. Tudo. Assim, a sujeira deseduca, o abandono deseduca, a desorganização deseduca. Por outro lado, a limpeza educa, a organização educa, as paredes educam, os quadros educam, as plantas educam. Por isso a estrutura física para mim é importante Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA 17 para a visualização da seriedade do processo e da concepção que se tem da escola. (Eduardo D’Amorim, citado por PORTELA, 2001. p. 175.). O segundo desafio é o de criar um clima de trabalho propício à satisfação das expectativas da comunidade escolar e caracterizado como participativo grupal, em que as relações são permeadas de amizade, solidariedade, respeito à diversidade, combate à discriminação, clareza quanto a direitos e deveres, além de bom humor, alegria e motivação. PORTELA (2004) destaca as principais características desse clima: • o diretor confia nos professores e nos demais agentes escolares; • o diretor tem altas expectativas em relação às possibilidades de aprendizagem dos alunos e estimula toda a escola nessa mesma linha; • as decisões são tomadas pela organização como um todo; • a comunicação é um elemento constante e se faz em todas as direções; • o ambiente é ordenado e sinaliza com clareza para alunos e professores o propósito da instituição; • os professores se sentem envolvidos e implicados no seu trabalho; • todos se sentem responsáveis pelo sucesso da escola e unem seus esforços para atingir os objetivos e fins da organização. Para ilustrar esse indicador, vale refletir sobre um trecho do relatório do estudo citado: Assim, o Projeto encontrou desde exemplos de gestão centralizadora, autoritária, desagregadora, provocando revolta do grupo de professores, até direções comprometidas com a escola, organizadas, atuantes, empreendedoras, desenvolvendo um clima marcado por afetividade e calor humano e articuladas com a comunidade, as quais, mesmo não sendo o modelo perfeito de gestão democrática e participativa, de certo modo dela se aproximavam. Entre os dois extremos, encontraram-se representações de gestão com traços especialmente burocráticos, sem preocupação com os aspectos pedagógicos, cuja característica principal era a acomodação, ou com traços domésticos, estabelecendo um clima do tipo laisser faire sem compreensão do papel da direção no interior da escola. 18 Analise Avalie para você mesmo: Você se sente bem quando entra na sua escola? Como vão as relações entre as pessoas? Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA >>> Como a dinâmica curricular e a prática pedagógica podem encaminhar a qualidade da escola? Quanto mais a escola se preocupa com o quê ensinar e o como ensinar, maior a probabilidade de ela se tornar eficaz. Daí ser o currículo um dos elementos centrais da escola, um indicador de sua eficiência e eficácia. Constitui, então, um desafio para as equipes gestoras encaminhar o trabalho da escola para uma vivência curricular que envolva a todos e que amplie as possibilidades de os alunos desenvolverem, no espaço da escola, as competências necessárias à integração na vida contemporânea e ao exercício da cidadania. Assim, integra esse desafio a criação das condições para que a prática pedagógica dos professores corresponda a uma ação cuidadosamente planejada para o sucesso da aprendizagem dos alunos, e não para simplesmente aprová-los ou reprová-los. É preciso desenvolver, na escola, processos de construção coletiva e compartilhada de uma proposta pedagógica permanentemente atualizada, de um planejamento cuidadoso das aulas ou atividades, definindo-se as melhores estratégias e os melhores recursos de ensino-aprendizagem a serem utilizados. É bom lembrar que: O projeto pedagógico é a alma da escola. E só poderá ser motivador para todos os integrantes da comunidade escolar caso sua elaboração decorra de um processo realmente participativo. E sendo assim, a gestão do desenvolvimento desse projeto, para dar certo, só pode ser feita de forma coletiva, com repartição de responsabilidades e decisões de grupo. Não cabe mais a idéia de um gestor ou diretor onipotente, detentor exclusivo da autoridade pedagógica e administrativa na escola. Mas cuidado: isto não significa que não seja necessária a existência de um gestor executivo eficiente, líder de processos e estimulador das iniciativas. (MARTINS, 2003, p. 62) Assim, cabe um trabalho efetivo junto à coordenação pedagógica da escola e mesmo junto aos professores, no sentido de atentar para os resultados do processo ensino-aprendizagem, os procedimentos de Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA 19 avaliação da aprendizagem e as medidas necessárias para a melhoria constante desses resultados. Continuando a ilustração deste módulo com dados do trabalho desenvolvido pelo PRADEM, a dinâmica curricular e a prática pedagógica das escolas trabalhadas revelaram: inexistência de coordenadores pedagógicos nas escolas; não utilização dos horários das AC’s (Atividades Complementares) ou utilização para reuniões rápidas e individualizadas de planejaProcessos de alfabetimento; desinteresse por parte dos professores quanto ao zação: desenvolvimento pedagógico da escola e tendência a culUma das propostas do Plano par os alunos e suas famílias pelo fracasso escolar; falta de de Desenvolvimento da Edufoco nos processos de alfabetização e realização excessiva de cação lançado pelo MEC em março de 2007 é a aplicação da atividades de cópia sem sentido; trabalho realizado com o “PROVINH A BRASIL” a alucoletivo da sala de aula, sem observação dos diferenciados nos de 6 a 8 anos, com foco na alfabetização. níveis de aprendizagem dos alunos; despreocupação com a aprendizagem dos alunos; atribuição das causas do insucesso escolar à situação socioeconômica dos alunos e à desatenção dos pais e das famílias; deficiências graves de aprendizagem em língua portuguesa e matemática. Está claro, portanto, que o currículo e a prática pedagógica da escola devem constituir o centro das preocupações da equipe gestora... Ou não? Saiba mais Pense Vamos “matutar” um pouco: por que, em muitas escolas, a questão pedagógica não é o centro das atenções da equipe gestora? >>> Formas de utilização do tempo na escola: tem tempo pra tudo? 20 Pesquisas indicam que alunos de professores que permanecem mais tempo em contato com as atividades escolares tendem a apresentar maior rendimento. No entanto, é preciso entender que esse tempo não se refere apenas ao número de horas que alunos e professores passam na escola, mas Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA à maneira como esse tempo é utilizado, ou melhor, à qualidade desse tempo, o que envolve: • a forma como o tempo escolar está organizado; • os aspectos que são privilegiados dentro desse tempo; • a diversidade dos conteúdos trabalhados dentro desse tempo; • a oportunidade de uso efetivo do tempo disponível com atividades significativas para os alunos. Por isso, o desafio para a escola é propiciar aos alunos um tempo rico em oportunidades de troca, de interações que envolvem não apenas o conteúdo escolar, mas aprendizagens de convivência social. É interessante notar como certos comportamentos de professores e alunos podem indicar o prazer ou desprazer durante o tempo em que estão na escola: O professor olha sempre para o relógio, para verificar quanto tempo falta para acabar a aula? Ao sinal de que a aula acabou, os alunos imediatamente levantam em balbúrdia, ávidos por sair da escola? Ao terminar a aula, professores e alunos continuam conversando, nos corredores ou na saída, sobre o tema que estavam trabalhando? Há um “ar” de felicidade em todos, na véspera de um feriado que cai na quinta-feira, diante da perspectiva de se “enforcar” na sexta? Ou uma sensação de alívio? Pense Vamos continuar refletindo: há um bom aproveitamento do tempo na sua escola? >>> Como as formas de avaliação têm influência na qualidade da escola? Saiba mais Parâmetros de avaliação: Trataremos mais especificamenno te da avaliação da aprendizagem inmódulo 4 deste curso. Mas temos s, ola esc itas mu dicações de que, em a pel os nid esses parâmetros são defi Secretaria de Educação e aos professores apenas cabe cumpri-los... O tipo de acompanhamento que a escola faz do desempenho dos seus alunos indica a sua eficácia, a qualidade do seu trabalho. Para fazer bem esse acompanhamento, a escola deve ter clareza do que significa “bom desempenho”, ou seja, ter parâmetros de avaliação definidos, a partir dos quais possa estabelecer o processo de avanço ou não dos seus alunos e identificar as formas de superação das dificuldades que eles estão encontrando. Uma escola eficaz evita o fracasso de seus alunos pelo Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA 21 acompanhamento contínuo e pela identificação imediata das dificuldades que merecem uma atenção especial. Assim, o processo de recuperação paralela faz parte do cotidiano da escola e não ocorre apenas ao final das unidades ou do período letivo. É preciso também ter atenProva Brasil: ção aos resultados das avaliações externas, empreendidas A Prova Brasil foi idealizapelo SAEB, dentre as quais a “Prova Brasil” da para produzir informações Mas a avaliação diz respeito também à atuação da sobre o ensino oferecido por município e escola, individuprópria escola como um todo, de seu currículo, de seus almente, com o objetivo de profissionais, de suas instalações, de seus processos de auxiliar os gov gestão, de suas relações com a comunidade. Assim, todas cisões e no dirernantes nas deecionamento de as atividades desenvolvidas na escola devem ser objeto recursos técnicos e financeiros, assim como a comunidade de avaliação contínua por parte de todos os envolvidos, escolar no estabelecimento de no sentido não de indicar “culpados”, mas de descobrir metas e implantação de ações formas de superação dos problemas detectados. pedagógicas e administrativas, Assim, o auto-conhecimento da escola vai possibilivisando à melhoria da qualidatar não apenas a integração e o envolvimento de todos de do ensino. É realizada pelo INE P. os profissionais que nela trabalham, mas, sobretudo, a construção da sua identidade. Em suma, uma maior compreensão da sua dinâmica de organização e funcionamento, frente às demandas atuais de uma escola de qualidade. Glossário >>> Como andam as condições de trabalho e a formação dos trabalhadores da educação? 22 A ressignificação do papel da escola passa por uma nova compreensão do trabalho pedagógico, antes responsabilidade exclusiva do professor, que passa a ser tarefa de todos os que constituem a comunidade escolar, trabalhadores docentes e não docentes: gestores, secretários, coordenadores pedagógicos, bibliotecários, professores, porteiros, merendeiras, etc. E a existência de profissionais qualificados é condição essencial para o sucesso da escola. Cabe, portanto, à equipe gestora, as iniciativas de estimular a formação inicial e continuada em serviço desses profissionais, através de cursos de ampliação e atualização de conhecimentos específicos e técnicopedagógicos. As pesquisas mostram que as escolas que, de modo formal ou informal, se constituem em espaços de formação permanente Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA de seus profissionais apresentam melhor desempenho. A qualidade do trabalho do professor está vinculada a uma série de condições, tais como: tamanho das turmas a que atende, horário de trabalho, tempo disponível para preparação das aulas, presença de profissional preparado para o acompanhamento e apoio sistemático da sua prática educativa, qualidade dos recursos didáticos existentes e es ent doc s ore had Trabal na escola e local próprio para reuniões de estudo. não docentes: A remuneração dos professores é outro ponto essencial. Esses trabalhadores se enquaias: gor O professor bem remunerado pode realizar um trabalho dram nas seguintes cate r, ola esc o açã ent alim técnicos em melhor por várias razões: não precisa acumular horas técnicos em multimeios didáticos; excessivas de trabalho, nem dispersar sua energia atenr; técnicos em administração escola adendo a escolas diferentes; pode se concentrar mais, técnicos em manutenção da infr deem icos técn ter um melhor conhecimento dos seus alunos, ter mais estrutura escolar; L, senvolvimento infantil. (BRASI tempo e disposição para se dedicar tanto à preparação MEC, 2004). das aulas quanto à correção dos trabalhos individuais Conhecimentos específicos e dos alunos. Um bom salário melhora a auto-estima, técnico-pedagógicos: a aquisição materiais de aperfeiçoamento profissional, Uma das medidas anunciadas E além de lhe possibilitar o acesso a bens culturais como pelo Governo Federal com o PD um de ção teatro, cinema etc . (março de 2007) é a cria caedu da s ore fess vínculo dos pro A equipe gestora precisa assumir o compromisso de, sida ver uni a um com ica bás ção de reivindicar, junto ao poder público, as condições para capacitação. de desenvolvimento de um trabalho de qualidade nas Remuneração dos professores: escolas, muitas vezes comprometido por questões vinNo que diz respeito a salário do culadas ao órgão central, ou seja, às secretarias de eduprofessor, o PDE anuncia um piso cação. Um exemplo disso foi à situação encontrada nacional para o magistério. em algumas escolas de Salvador, estudadas em Projeto desenvolvido pelo PRADEM, já citado: extrema rotatividade dos professores; professores com contratos temporários de curta duração; presença de estagiários inexperientes de nível médio; inexistência de coordenadores pedagógicos; descontinuidade do trabalho pedagógico, dentre outros. Saiba mais Analise Voltemos à questão inicial, de forma invertida: a quem interessa o fracasso escolar dos alunos? Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA 23 >>> Como se constitui o reconhecimento público de uma escola? A imagem pública da escola é um indicador de sua eficácia. Uma escola torna-se reconhecida publicamente por sua competência, quando é capaz de realizar um bom trabalho com seus alunos e com a comunidade que a cerca. Prédios novos ou reformados, bons equipamentos, professores qualificados e um clima escolar voltado para o sucesso dos alunos são aspectos que podem determinar o reconhecimento da eficácia de uma escola. Quando os pais fazem um esforço grande para matricular e manter seus filhos em uma determinada escola, por razões que vão além da proximidade físico-espacial de suas casas, isso significa que essa escola foi escolhida a partir de critérios outros provavelmente relacionados com o tipo de trabalho que realiza. Esse reconhecimento vai acontecer também entre os professores, alunos e funcionários, que passam a se identificar com o conjunto de valores comuns que regem a organização escolar e a se comprometer com a manutenção e ampliação do padrão de atendimento que foi construído. Os laços afetivos construídos no âmbito da escola vão permanecer, mesmo depois que o aluno concluiu seus estudos. São inúmeros os casos de ex-alunos que continuam a freqüentar a escola, a participar de atividades e a ajudar em projetos diversos. É preciso, pois, contribuir para que a expressão “minha escola” corresponda a sentimentos positivos por parte de todos que vivem na escola e que constituem a comunidade do seu entorno. Analise Pense com sinceridade: quando você diz hoje “minha escola”, que sentimentos experimenta? 24 Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA >>> O que representa o apoio externo à escola? O poder público é o parceiro fundamental da escola. Quanto maior é o seu grau de envolvimento e de compromisso, maior a probabilidade de que a escola tenha êxito na tarefa a que se propõe. O apoio do poder público se expressa, por exemplo: na aparência física, nas condições das instalações e do mobiliário; na disponibilidade de equipamentos necessários à modernização dos processos pedagógicos; na existência de acompanhamento e apoio sistemático ao trabalho dos professores; na garantia do tempo de aprendizagem; no fornecimento regular de uma alimentação nutritiva aos alunos; na disponibilidade de livros e de outros materiais didáticos; na qualificação dos docentes; na garantia de transporte seguro para os que freqüentam escolas distantes de suas casas. Se esses elementos não estão presentes na escola, cabe, principalmente, à equipe gestora a iniciativa de buscar e de exigir o apoio das autoridades competentes. Por outro lado, é desejável que a escola, quando comprovados os limites e conhecidas as impossibilidades de um apoio mais amplo e imediato do poder público, busque outras formas de parceria, a título de complementação de recursos, a fim de assegurar as condições mínimas necessárias para o pleno cumprimento dos objetivos de suas ações. Essas parcerias não envolvem apenas recursos financeiros. É possível constituir um quadro externo de apoio à escola a partir de contribuições de diversa natureza, que vão desde o apoio de empresas ao de pessoas físicas que disponibilizam seu tempo para ajudar a escola. Pense Para finalizar nossa reflexão, pense: É possível conseguir apoio externo para sua escola? 25 Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA Atividade do Módulo 1 Esperamos que este módulo tenha propiciado a você momentos de reflexão sobre a qualidade social da educação escolar. Para um debate proveitoso sobre esse tema, neste encontro presencial, sua tarefa agora é: 1. Escolher uma das questões que finalizam os segmentos deste módulo (marcadas por um ícone, um ponto de interrogação) e respondê-la por escrito. Você deve fazer isso num texto breve e simples e pode ser chamado a apresentá-lo para os colegas durante o debate. Bom trabalho! Opine Sua avaliação sobre este módulo é muito importante. Escreva um texto livre sobre este módulo, focalizando: - conteúdo, estrutura e linguagem do módulo; - atividades propostas; - interação com o instrutor, colegas e outras pessoas. >>> Referências e indicações bibliográficas BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. _____. Ministério da educação. Por uma política de valorização dos trabalhadores da escola. Em cena, os funcionários da escola. Brasília: SEB /MEC, 2004. 26 BRASLAVSKY, Cecília. Dez fatores para uma educação de qualidade para todos no século XXI. 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