FÓRUM NACIONAL DE EDUCAÇÃO SUPERIOR Núria HangleiCacete Nos dias 24, 25 e 26 de maio p.p. participamos, em nome da Associação dos Geógrafos Brasileiros, do Fórum Nacional de Educação Superior realizado em Brasília na sede do Conselho Nacional de Educação. Esse Fórum tem como antecedentes a primeira Conferência Mundial de Educação Superior – CMES 1998 realizada em Paris por convocatória da UNESCO com 182 países participantes. Conferências prévias na Ásia, Europa, África, América Latina e Caribe, foram convocadas para estabelecer os princípios enunciados na CMES /1998, entre eles “que a Universidade do século XXI deve considerar o novo papel do conhecimento como fundamento do desenvolvimento sustentável da sociedade e, como decorrência, a educação como direito vital e bem público na medida em que faz do seu acesso um direito de todos os cidadãos”. (Documento referência para o Fórum Nacional de Educação Superior/2009) Entretanto, em 1999 Organização Mundial do comercio (OMC) incorporou a educação como um dos serviços que passaria a ser regulamentado pelos Acordos Gerais de comércio e Serviços. Essa proposta foi defendida por países como os EUA, Austrália e Japão e tem por objetivo a liberação progressiva dos serviços. Os EUA é um dos países que vinha exercendo maior pressão para que as companhias estadunidenses possam operar programas de treinamento ou oferecer produtos educacionais com fins lucrativos. A pressão pela abertura dos serviços sobretudo no âmbito dos países “em desenvolvimento” se constitui como moeda de troca para concessões na área agrícola, ou seja, as nações em desenvolvimento estão convocadas a abrir seus mercados às empresas educacionais estrangeiras em troca de leis de protecionismo agrícola mais brandas. Isso significaria no âmbito da OMC a incorporação da educação que é um setor tradicionalmente mantido e regulado pelo Estado sendo parte dos direitos sociais e subjetivos dos cidadãos frutos de anos de lutas e conquistas. Na “Conferência Paris + 5” promovida pela UNESCO em 2003 ficou claro a dificuldade de que a educação como “bem público” com qualidade e pertinência socialmente referenciadas fosse validado. No informe final do evento a educação aparecia com “bem público global e insumo econômico”. Entretanto, em função da reação dos representantes de países latino americanos, esse termo não permaneceu na versão final do documento. Em junho de 2008 realizou-se a Conferência Regional de Educação Superior para a América Latina e Caribe (CRES/2008) em Cartagena das Índias, por convocatória do Instituto Internacional para a Educação Superior na América Latina e Caribe (IESALC),órgão da UNESCO reunindo 34 países da América Latina e do Caribe, além de convidados de outros países com o objetivo de analisar e deliberar sobre a realidade e a necessidade de realizar mudanças estratégicas na Educação Superior da região. Participaram cerca de 3.500 integrantes da comunidade acadêmica, representantes de governos e organismos nacionais, regionais e internacionais além de entidades e associações. A Declaração Final da CRES 2008 reafirmou ao princípio da Educação Superior como direito humano e bem público e social. Além disso, reafirma ainda a necessidade de “políticas que reforcem o compromisso da Educação Superior para todos e todas tendo como meta alcançar uma maior cobertura social com qualidade , equidade e compromisso com nossos povos (...) favorecendo a mobilização das competências e dos valores universitários de nossa região para edificar uma sociedade latino americana e caribenha diversa, forte, solidária e perfeitamente integrada.” (Documento referência para o Fórum Nacional de Educação Superior/2009). O Ministério de Educação no Brasil assumiu na CRES 2008 o compromisso de realizar um Fórum Nacional de ES preparatório à Conferência Mundial de 2009 e aberto à participação de representantes de outros países e região. O Conselho Nacional de Educação responsabilizou-se pela organização do Fórum. O evento foi organizado na forma de mesas redondas com três eixos temáticos: 1- Democratização do Acesso e Flexibilização de modelos de formação 2- Elevação da qualidade e avaliação 3- Compromisso social e inovação A sessão de abertura do evento, domingo dia 24 de maio, contou com uma mesa de autoridade composta por membros do Conselho Nacional de Educação (CNE) e pela secretaria do Ensino Superior Maria Paula Dallari Bucci. Após a solenidade de abertura houve a palestra proferida pelo Prof. Paulo Speller. No dia 25/05, segunda-feira, no período da manhã a mesa redonda sobre o tema “Democratização do acesso e flexibilização de modelos de formação” foi coordenada pelo conselheiro Antonio Carlos Caruso Ronca e como painelistas os professores Luiz Davidovich e Leandro Tessler (UNICAMP). O levantamento de problemas e as medidas governamentais que têm buscado minimizá-los foram a tônica das falas dos palestrantes além de uma série de dados que justificaram a sinalização de algumas propostas para o ensino superior brasileiro. No período da tarde a temática “Elevação da qualidade e avaliação” foi abordada pelo professor Robert Verhine e pela professora Maria Isabel da Cunha (UNISINOS) sendo a mesa coordenada pela Conselheira Maria Beatriz Luce. A concepção de qualidade e de avaliação e suas relações no nível superior foram vetores para a discussão sobre a naturalização do pressuposto que a pesquisa qualifica o ensino com muita pouca discussão sobre essa qualificação. Além disso, o conhecimento pedagógico dos professores do ensino superior tem posição absolutamente periférica em sua formação, não considerando, portanto o campo da Pedagogia como importante para seus docentes. Essa questão assume centralidade na discussão sobre qualidade, sobretudo se considerarmos que a universidade forma professores para todos os níveis de ensino. Um aspecto curioso colocado pela professora Maria Isabel, num contexto de necessidade de alteração da ênfase do ensino para a aprendizagem, é que no ensino superior “o professor fica distraído consigo mesmo e esquece os alunos.” No último dia o tema “Compromisso social e inovação” foi tratado no período da manhã na mesa redonda em que participaram os professores Ricardo Henriques da UFF e Alex Fiúza de Mello da UFPA com a coordenação do conselheiro Hélgio Henrique Casses Trindade. Em nossa avaliação foi a mesa com conteúdo mais crítico, entre outros aspectos foram abordados assuntos como a necessidade de uma rede universitária internacional de cooperação e a necessidade de criação de uma “residência social” ou “serviço civil obrigatório” para estudantes que se formaram em instituições de ensino superior públicas. A tese defendida pelo professor Ricardo Henriques foi de que a educação está na origem e na perpetuação da desigualdade, sobretudo, porque tende a apagar as diferenças com ideário da homogeneidade. O encerramento do fórum, no período da tarde, foi realizado com uma mesa de: autoridades e convidados estrangeiros (espanhóis) e o relato das mesas redondas. É necessário esclarecer que a organização do fórum com base em mesas redondas com perguntas a serem enviadas aos palestrantes somente por escrito foi bastante criticado, sobretudo porque não foi dada a palavra aos participantes e, não houve um espaço de discussão. Além disso, o relato das mesas redondas no encerramento foi extremamente longo e desnecessário. Entretanto cumpre assinalar que a participação da AGB em eventos como esse é de fundamental importância como forma de acumular discussão e de alguma maneira influir nos rumos da política educacional do país.