O CINEMA COMO RECURSO DE ENSINO NA EDUCAÇÃO BÁSICA Raphael Nunes Nicoletti SEBRIAN, [email protected] DEHIS/G-UNICENTRO (Universidade Estadual do Centro-Oeste) Aliandra Cristina Mesomo LIRA, [email protected] DEPED/G-UNICENTRO (Universidade Estadual do Centro-Oeste) Paulo GUILHERMETI, [email protected] DEPED/G-UNICENTRO (Universidade Estadual do Centro-Oeste) Este estudo tem por objetivo apresentar reflexões acerca das possibilidades de utilização da produção imagética, mais especificamente do cinema, em sala de aula. Trata-se de reflexões desenvolvidas teoricamente e empiricamente a partir das atividades desenvolvidas no projeto “O cinema como recurso de ensino na educação básica”, vinculado ao programa Universidade Sem Fronteiras, subprograma “Apoio às Licenciaturas”, em convênio estabelecido entre a UNICENTRO e a SETI/PR. No referido projeto propõe-se a discussão, com professores e alunos da Educação Básica, das possibilidades de análise e de trabalho com filmes. Tal intuito adquire relevância dentro do contexto educativo na medida em que o cinema, como um tipo de mídia, possui espaço fundamental na contemporaneidade e os questionamentos que propicia adentram, direta ou indiretamente, o universo escolar. É importante, pois, que os professores e os alunos estejam preparados para uma análise e utilização crítica da produção cinematográfica, percebendo aspectos positivos e negativos da mesma bem como o papel dessa linguagem na construção dos sujeitos, de suas formas de ver e estar no mundo. Além de tais objetivos, o projeto, como atividade extensionista, objetiva articular efetivamente a universidade e a comunidade, compartilhando o conhecimento acadêmico e assimilando as contribuições que as discussões em âmbitos menos restritos podem proporcionar. Buscaremos expor questões que podem ser relevantes para o profissional que deseja utilizar este recurso (cinema) em suas aulas. O projeto “O cinema como recurso de ensino na educação básica” é desenvolvido desde outubro de 2007 em escolas estaduais do Paraná, nas cidades de Pitanga, Palmital e Santa Maria do Oeste, ou seja, em municípios sob a responsabilidade do Núcleo Regional de Educação de Pitanga. A equipe do projeto é composta pelos seguintes membros: Professora Aliandra Cristina Mesomo Lira, do Departamento de Pedagogia da UNICENTRO (DEPED/G), coordenadora geral; Professor Raphael Nunes Nicoletti Sebrian, do Departamento de História da UNICENTRO (DEHIS/G), orientador/coordenador; Professor Paulo Guilhermeti, Departamento de Pedagogia da UNICENTRO (DEPED/G), orientador/coordenador; Roberto Machado Guimarães, graduado em Letras e acadêmico de História da UNICENTRO, Campus Avançado de Pitanga, supervisor (profissional recém-formado); Abel Antonio dos Santos (acadêmico de Pedagogia da UNICENTRO, Campus Avançado de Pitanga), Daniel Ivori de Matos (acadêmico de História da UNICENTRO, Campus Avançado de Pitanga), Maria Fátima de Souza (acadêmica de Pedagogia da UNICENTRO, Campus Avançado de Pitanga), Valderes dos Santos (acadêmica de História da UNICENTRO, Campus Avançado de Pitanga), Viviane Cristina Princival (acadêmica de Pedagogia da UNICENTRO, Campus Avançado de Pitanga), estudantes de graduação. Vivemos em uma época em que a necessidade de uma educação audiovisual se torna indispensável diante da influência que imagem e som têm em nossas vidas, tornando-se um meio de educação informal. Nesse sentido, destacamos a necessidade de educar o olhar do indivíduo dentro da escola, dentro da sala de aula. Utilizar o cinema como recurso de ensino, além de ajudar o aluno a ter uma visão mais crítica sobre os filmes e programas de televisão que ele assiste, permite ao professor levar seus alunos a uma posição em que não sejam simples consumidores de imagens, mas construtores autônomos do conhecimento. Considerando a importância da consciência dos indivíduos quanto à informalidade no ensinoaprendizagem, reconhecemos que o professor poderá buscar diferentes “caminhos” para seu trabalho em sala de aula, desde que tal busca seja fruto de pesquisa. Várias questões se colocam quando pretendemos analisar produções cinematográficas. Entre elas, talvez a mais premente seja: afinal, o cinema é registro da “realidade” ou manifestação artística? Qualquer polarização nesta resposta é empobrecedora e estéril. Devemos considerar que os filmes são portadores de uma tensão entre evidência e representação, pois, ao mesmo tempo, ajudam a compreender acontecimentos ou eventos e, por outro lado, permitem perceber de que maneira as sociedades representam a si mesmas e as outras sociedades, próximas ou distantes temporalmente. Portanto, em qualquer aproximação com o cinema enquanto recurso de pesquisa e ensino há a necessidade de articular a linguagem técnico-estética das fontes audiovisuais e musicais (ou seja, seus códigos internos de funcionamento) e as representações da “realidade” histórica ou social nela contidas (ou seja, seu “conteúdo” narrativo propriamente dito). Deve-se considerar a especificidade técnica das linguagens, os suportes tecnológicos e os gêneros narrativos que se insinuam nos documentos audiovisuais, sonoros ou artísticos em geral. Poderíamos dizer que se trata de buscar os elementos narrativos que poderiam ser sintetizados na dupla pergunta: “o que um filme diz e como diz?”. São várias as questões a serem consideradas a respeito das peculiaridades da linguagem cinematográfica, mas vários são, também, os passos que se deve dar para apresentar um filme em sala de aula, e, neste ponto, coloca-se a necessidade de conhecimento por parte do professor para que isto se desenvolva sem problemas. O objetivo fundamental do projeto “O cinema como recurso de ensino na educação básica” é, diante deste quadro de questões, dar condições ao professor para que possa utilizar de forma crítica e produtiva o cinema como recurso de ensino, em prol de um uso dos filmes no qual esses não sejam utilizados para substituir a discussão de determinado conteúdo e muito menos para apresentar os fatos “tais como aconteceram”. A sala de aula não pode ser apenas um local de reprodução de conhecimento, mas deve ser um espaço de produção, e o professor deve estar consciente da importância da reflexão de forma interativa. Levando em consideração as indicações acima, sobre o “caráter” dos filmes, percebe-se que a utilização em sala de aula como substituição às outras atividades pode acarretar conseqüências desastrosas para a formação dos indivíduos em contato com este tipo de mídia. A identidade cultural de cada sociedade está intimamente ligada às representações artísticas produzidas e/ou compartilhadas por estes indivíduos, logo, o cinema traz formas de ser, de sentir e de viver a partir de personagens. É preciso preparar o indivíduo para a leitura dessas imagens. Os resultados do projeto, diante de tantas questões a serem enfrentadas, têm sido muito relevantes. Operacionalmente, cada bolsista, em consenso com o colégio no qual atuou e depois de realizadas reuniões com a equipe pedagógica, escolheu – neste primeiro ano de atividades – apenas um professor e teve com este, por sua vez, encontros semanais ou quinzenais, dependendo do calendário do colégio. No desenvolvimento do projeto vimos que além da capacitação do professor no trabalho com o cinema como recurso de ensino, destaca-se também a educação do aluno frente aos recursos imagéticos que hoje estão presentes no seu dia-a-dia. Outro ponto importante é a integração da universidade com a comunidade. Ainda com relação ao desenvolvimento do projeto, a parceria com o Núcleo de Educação solidificou relações e ofereceu oportunidades de interlocução, que culminarão na elaboração de um caderno pedagógico com informações dos filmes e com os roteiros trabalhados no primeiro ano do projeto. Este será distribuído aos professores, aumentando a abrangência do projeto, mesmo que indiretamente. Além disso, para toda a equipe envolvida no projeto, os momentos prático-reflexivos envolvidos com a temática trabalhada têm oferecido excelente oportunidade de crescimento como profissionais, ampliando o conhecimento sobre cinema, formação de professores, ensino público, recursos de ensino, temas afeitos à área de licenciatura e de extrema relevância no âmbito da universidade. Como o próprio nome sugere, o projeto Universidade Sem Fronteiras tem como intuito expandir a Universidade para além de seus portões, levando-a a se integrar à comunidade. E em nosso projeto observamos que todos os bolsistas que tiveram a oportunidade de atuar em sala de aula com certeza alcançaram muito mais do que o objetivo inicial, pois puderam produzir conhecimento que proporcionou a eles, aos professores e aos alunos das escolas, preparação para a análise e utilização crítica da produção cinematográfica, percebendo aspectos positivos e negativos da mesma bem como o papel dessa linguagem na construção dos sujeitos, de suas formas de ver e estar no mundo. Referências bibliográficas FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2003. MORETTIN, Eduardo Victorio. O cinema como fonte histórica na obra de Marc Ferro. In: MORETTIN, E.; NAPOLITANO, M.; CAPELATO, M. H.; SALIBA, E. T. (orgs.). História e cinema: dimensões históricas do audiovisual. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2007, p. 39-64. NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003. ______. 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