FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FACS CURSO: ENFERMAGEM ANA CLÁUDIA AGUIAR ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA HEMORRAGIA PÓS-PARTO PRECOCE BRASÍLIA Novembro/2007 ANA CLÁUDIA AGUIAR ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA HEMORRAGIA PÓS-PARTO PRECOCE. Monografia apresentada como requisito para conclusão do curso de Enfermagem do Centro Universitário de Brasília – UniCEUB. Prof. (a) Orientadora: Lígia Richter Brasília/DF. Novembro de 2007 ANA CLÁUDIA AGUIAR ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA HEMORRAGIA PÓS-PARTO PRECOCE. Monografia apresentada como requisito para conclusão do curso de Enfermagem do Centro Universitário de Brasília – UniCEUB. Prof. (a) Orientadora: Lígia Richter Brasília, 01 de novembro de 2007. BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Profª Enfª Mestre Ligia Richter Orientadora _________________________________________ Profª Enfª MestreRosângela Garcia Jaramillo Examinadora ______________________________________________ Profª Enfª MestreNilvia Jacqueline Linhares Examinadora convidada RESUMO O trabalho foi elaborado com base na assistência de enfermagem, na principal complicação do puerpério, a hemorragia pós-parto precoce. A função do enfermeiro foi abordada considerando seus aspectos teóricos, práticos e contextualizada sóciopoliticamente. A fim de possibilitar uma compreensão e reflexão sobre o assunto aos futuros acadêmicos de enfermagem e demais interessados. Foi realizada uma revisão bibliográfica no período de março a maio do ano de 2007, as fontes utilizadas na pesquisa constaram-se de livros, revistas e artigos científicos publicados no período de 1985 a 2005. Inicialmente foi dada uma explanação teórica quanto ao conceito, causas, fatores predisponentes, avaliação, intervenção e assistência de enfermagem. Em seguida, foram apresentados dados epidemiológicos mundiais e brasileiros e também a política adotada pelo governo brasileiro e pela OMS referente a saúde e direitos da mulher. A partir do conhecimento e da visão critica a respeito da assistência de enfermagem obstétrica é que se pode esperar bons resultados no combate a mortalidade materna. Palavras Chaves: hemorragia pós-parto precoce, assistência de enfermagem, combate a mortalidade materna. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 6 1 JUSTIFICATIVA............................................................................................................ 8 2 OBJETIVOS .................................................................................................................. 9 2.1 Objetivo Geral ......................................................................................................... 9 2.2 Objetivos Específicos .............................................................................................. 9 3 MATERIAL E MÉTODO .............................................................................................. 10 4 REFERENCIAL TEÓRICO.......................................................................................... 11 4.1 Hemorragia Pós-Parto........................................................................................... 11 4.2 Epidemiologia ....................................................................................................... 12 4.3 Etiologia ............................................................................................................... 15 4.4 Fatores de risco para hemorragia pós-parto ........................................................ 19 4.5 Assistência Obstétrica ........................................................................................... 21 4.6 Avaliação e cuidado no pós-parto imediato........................................................... 22 4.7 Intervenções de enfermagem ................................................................................ 24 4.8 Complicações do HPP ......................................................................................... 26 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 28 REFERENCIAS .............................................................................................................. 29 6 INTRODUÇÃO Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a hemorragia pós-parto (HPP) é uma das principais causas da morbidade e da mortalidade materna. A HPP e outras possíveis complicações demonstram o valor da boa assistência nesta fase gestacional comumente negligenciada pela enfermagem, conforme Maranhão (1990). Segundo Espírito Santo (2000) apud Stojanoff(2001), o puerpério é um período delicado em que ocorre a involução fisiológica da genitora. Seu organismo começa a regredir ao seu padrão pré-gravídico, exceto as mamas, e paralelamente, ocorrem as alterações hormonais. Além disso, a transformação se dá no comportamento psicológico da mãe e vários fatores internos e externos influenciam nisso. Quando ocorre alguma complicação, o puerpério assume um grau de complexidade ainda maior que demanda de enfermagem, mais sensibilidade e cuidados. A cobertura que os serviços vem dispensando ao grupo materno-infantil e em particular as puérperas é deficiente"(IDEM). Quanto a assistência Rezende (2005) considera que a maioria dos processos mórbidos é evitável com cuidados pré-natais e assistência qualificada ao parto e ao pós-parto imediato. Todas as mudanças físicas e emocionais pós-parto tornam a mulher vulnerável e a enfermagem atenta a esse ponto pode detectar precocemente e prevenir as possíveis complicações. A necessidade em promover a qualificação de assistência a genitora já vem sendo ressaltado a décadas e politicamente trouxe algumas mudanças. Através da Secretaria de Políticas de Saúde o Ministério da Saúde (OMS), instituiu o programa de humanização no pré-natal e nascimento pela portaria 569 de Junho de 2000, baseado nas necessidades de atenção específica à genitora e ao recém-nascido no período pósparto e prioriza: - Concentrar esforços no sentido de reduzir as altas taxas de morbi-mortalidade materna, peri e neonatal registrados no país. - Adotar medidas que assegurem a melhoria do acesso da cobertura e da qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto, puerpério e neonatal. - Ampliar as ações já adotadas pelo OMS na atenção à gestante como a maternidade 7 segura, projeto de capacitação de parteiras tradicionais além da distinção de recursos para treinamento e capacitação de profissionais desta área. O programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN) tem como preceito que a humanização da Assistência Obstétrica e Neonatal é condição prioritária para o adequado acompanhamento do parto e puerpério e tem como princípios: - Toda gestante tem direito ao acesso, a atendimento digno de qualidade no decorrer da gestação, parto e puerpério - Toda gestante tem direito de saber e ter assegurado o acesso à maternidade em que será atendida no momento do parto. - Toda gestante tem direito à assistência ao parto e ao puerpério e que esta seja realizada de forma humanizada e segura. Para que haja a efetivação do programa é necessário, no entanto uma postura ética e solidária por parte dos profissionais para criar um ambiente acolhedor capaz de instituir uma sistematizada e humanizada assistência de enfermagem. A sistematização da assistência é um simplificador de ações que visa à efetividade e eficiência do tratamento. Porém quando não humanizada, tal propósito é comprometido, a saúde como um bem estar biopsicossocial é negligenciado. Observa-se que embora já tenham sido implantadas mudanças, a postura do profissional de enfermagem matem-se no geral, presa a antigas rotinas,sob uma visão limitada. O aspecto holístico, contextual que envolve a puérpera bem como a representatividade social que a assistência tem não são reconhecidos pela enfermagem. Tal característica é comum também ao processo de formação acadêmica dos enfermeiros. Relacionado a isso, Bawes (1980) apud Rezende (2005), considera que na formação e treinamento em obstetrícia, o puerpério é o período mais negligenciado. Segundo Maranhão (1990) “…docentes de enfermagem, de um modo geral, preferem atuar em outros setores da obstetrícia no lugar do puerpério”. Mediante as conquistas e o progresso já realizados na assistência à saúde da mulher ratifica-se que a qualificação dos cuidados bem como o compromisso com a promoção da sua saúde e com a vigilância epidemiológica trazem resultados positivos, particularmente em relação à hemorragia pós-parto. 8 1 JUSTIFICATIVA No puerpério, a enfermagem obstétrica é responsável em dar assistência completa e qualificada a mãe. Nesta fase, as necessidades maternas são muitas e requer bastante atenção e cuidado da enfermeira. Além da sobrecarga física e emocional é possível ocorrer a complicação puerperal, o que torna o momento mais delicado e arriscado. A hemorragia pós-parto precoce, em particular, é responsável por altas taxas de mortalidade. A mortalidade materna nas últimas décadas, apresentou uma tendência decrescente em seus índices graças ao progresso na assistência a mulher. No entanto, com base no que pude observar nos estágios em obstetrícia nos hospitais públicos e nos estudos bibliográficos realizados, há ainda muito o que melhorar na assistência materna. A percepção de que o trabalho de enfermagem não atingiu a qualificação preconizada comprometendo a saúde da puérpera influenciou-me na escolha do tema para a elaboração da presente monografia. 9 2 OBJETIVO 2.1 – OBJETIVO GERAL Ressaltar a sistematização humanizada da assistência de enfermagem no puerpério no caso de hemorragia pós-parto precoce, permitindo uma reflexão a respeito da assistência materna prestada e suas conseqüências na promoção à saúde da mulher. 2.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS Descrever a hemorragia pós-parto precoce quanto aos seus conceito sinais, sintomas e sua evolução. Fornecer dados epidemiológicos que tracem a tendência de morbidade e mortalidade materna em decorrência de HPP precoce. Identificar a assistência de enfermagem nos casos de HPP precoce. 10 3 MATERIAL E MÉTODO O estudo descritivo de revisão bibliográfica foi realizado no período de agosto a novembro do ano de 2007, ressaltando os anos de 1985 a 2006 e utilizando livros, revistas e artigos científicos. 11 4 REFERENCIAL TEÓRICO 4.1 - HEMORRAGIA PÓS-PARTO (HPP) O puerpério é o período do ciclo grávido-puerperal em que as modificações locais e sistêmicas decorrentes da gestação materna, retornam ao estado pré-gravídico. Sua duração é imprecisa, mas considera-se que se inicia imediatamente após a expulsão total da placenta e das membranas ovulares, dequitação.O seu final varia entre os autores.Para alguns o término natural da lactação e o retorno da menstruação marcariam o fim do puerpério. Durante o período de involução e recuperação do organismo materno, que se adaptou e sofreu profundas modificações durante a gravidez e o parto, podem surgir alterações decorrentes da regressão dos tecidos, entre elas está a HPP (REZENDE, 2005). Segundo o autor, a hemorragia pós-parto (HPP) consiste em todo sangramento excessivo que ocorre em qualquer momento a partir da dequitação, retirada da placenta, até a sexta semana ou fim do puerpério. São consideradas precoces quando ocorrem nas primeiras 24 horas, e tardias, após esse período até o fim do puerpério. Hemorragia pós-parto constitui a principal causa de morbidade e mortalidade materna sendo responsável por 20% das mortes das parturientes. Para Roberts (1995), a HPP consiste numa perda de sangue acima de 1000ml, qualquer que seja o tipo de parto. Uma perda de sangue pós-parto de até 1000ml é, geralmente, bem tolerada pela mulher, sem mudanças significativas na pressão sanguínea e no débito cardíaco uma vez que há aumento do volume de sangue na gestação, e ainda, clinicamente constata da diminuição importante do hematócrito, em 10 ou mais pontos percentuais ou da necessidade de terapia transfusional. Zahn e Yeomans (1990) apud Lowdermilk et al (2002) consideram que tal complicação é o sangramento que exceda a definição do profisssional e não possa ser controlada por massagem, compressão uterina ou uso de ocitocina. A perda sanguínea é tão importante quanto os sinais e sintomas clínicos no diagnóstico. A enfermagem 12 deve estar atenta para os sintomas de hemorragia ou de choque hipovolêmico. 4.2 - EPIDEMIOLOGIA 4.2.1 - MORTALIDADE MATERNA Trata-se de uma morte anunciada para as mulheres excluídas,na medida em que ocorre mais em países pobres e em desenvolvimento. Os estudos comprovam que acomete, especialmente, as mulheres de baixa renda e pouca escolaridade principalmente na periferia dos centros urbanos (SOARES, 2006). Segundo Neme (2002), entende-se como mortalidade materna aquela que, de alguma forma, relaciona-se direta ou indiretamente com o processo reprodutivo, a partir do início da gestação A última da Classificação Internacional de Doenças (CID-10 revisão), publicada em 1995, revisou e estendeu conceitualmente o período pós-parto de apenas 42 dias para até um ano após o término da gravidez, para a classificação da morte como materna. As mortes maternas obstétricas podem ser classificadas como diretas ou indiretas. As mortes diretas resultam de complicações obstétricas relacionads à gravidez, parto e puerpério, devidas a intervenções, omissões, tratramento incorreto ou de uma sequência de eventos resultantes de qualquer uma dessas situações. Representam ainda a principal causa de morte materna nos países em desenvolvimento. As mortes indiretas decorrem de doenças préexistentes ou que se desenvolvem durante a gestação e que não se devem a causas obstétricas diretas, mas que foram agravadas pelos efeitos fisiológicos da gestação (COSTA et al, 2002). O mesmo autor refere que a mortalidade materna representa grava problema de saúde pública. Estima-se que 600.000 mulheres morram anualmente no mundo durante o ciclo gravídico-puerperal,sendo que 99% dessas mortes ocorrem nos países em desenvolvimento. Esses são responsáveis por 86% dos nascimentos em todo mundo. Há várias décadas já se dispõe do conhecimento e dos meios necessários para remover o risco relacionado à concepção,de forma que nenhuma mulher deveria morrer por complicações associadas a gravidez, parto e puerpério. Em sua quase totalidade, 13 as mortes maternas são evitáveis por uma boa assistência pré-natal, perinatal e pósnatal imediata (COSTA et al 2002). Ainda segundo o autor, em países como Finlândia, Holanda, Canadá e outros, a mortalidade materna encontra-se em torno de 4 para 100.000 nascidos vivos, admitindo-se mesmo que se possa alcançar situação em que não mais ocorram mortes maternas. A OMS considera aceitável uma razão de morte materna entre 10 e 20 por 100.000 nascidos vivos. No entanto, em várias regiões do mundo, a mortalidade materna continua sendo bastante alta. Em países africanos como a Nigéria têm sido descritas taxas de até 1000 mortes por 100.000 nascidos vivos ( aproximadamente uma morte materna em cada 100 nascimentos). Na América latina calcula-se haver 270 óbitos maternos por 100.000 nascidos vivos. Na Ásia, 420 por 100.000 nascidos vivos. A morte materna chega a constituir cerca de 20-45% dos óbitos femininos em idade fértil nos países em desenvolvimento e ao redor de 1% nos países desenvolvidos. Representando uma exceção, a hemorragia pós- parto ocorre em 5 a 15% dos partos, sendo responsável por altas taxas de morbidade-mortalidade maternas, tanto em países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. Segundo a OMS, estima-se que a HPP é responsável por 22% das mortes maternas (CORRÊA et al, 2004). A medida da mortalidade materna proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é a razão de mortalidade materna (RMM) que se calcula pelo número de mortes maternas dividido pelo número de nascidos vivos de uma mesma área geográfica, durante um ano, multiplicado por 10.000. De acordo com Laurenti et al (2004) a RMM nas capitais brasileiras e Distrito Federal, no primeiro semestre de 2002, foi de 54,3 por 100.000 nascidos vivos. Esse valor é elevado, embora não pareça ser exageradamente alto. Os maiores índices foram observados nas capitais das regiões Norte e Nordeste e a menor na região Sul, seguindo-se os relativos ao Sudeste e Centro-Oeste. Foi apontado que 67,1% das mortes maternas foram decorrentes de causas obstétricas diretas. Quanto aos diagnósticos específicos, predominaram os transtornos hipertensivos com quase 25%. Somente a doença hipertensiva específica da gravidez ( pré- eclampsia e eclampsia) totalizou 37% de todas as mortes obstétricas diretas. As 14 complicações hemorrágicas foram responsáveis por 9% do total e 13,3% das mortes obstétricas diretas. Esses dados indicaram que a melhoria da assistência é fundamental Embora no Brasil mais de 90% dos partos ocorram em hospitais e, em algumas regiões cheguem praticamente a 100%, esta claro que o que precisa melhorar é a assistência, aí incluídos os cuidados de pré-natal e uma adequada atenção ao parto e ao puerpério imediato (LAURENTI et al, 2004). Segundo Costa et al (2002), na cidade do Recife entre os anos de 1994 e 2000 a RMM foi 75,5 por 100.000 nascidos vivos e o percentual de sub-registro foi 27,8%. Observou-se uma predominância de causas diretas, sendo as mais frequentes hipertensão (19%), hemorragia (16%) e infecção (11%). Cerca de 82% das mortes também foram consideradas evitáveis por meio de assistência adequada ao pré-natal, parto e puerpério. As estatísticas oficiais estão longe de refletir a situação real do país, o que levou o Ministério da Saúde a homologar a resolução Nº 256 do Conselho Nacional de Saúde, que considera: - a morte materna é elevada e subnotificada de forma importante Brasil; - a comunicação do evento é feita pelas declarações de óbito; - a declaração de óbito em nosso meio é preenchida de maneira inadequada; - há necessidade de agilizar o trabalho dos Comitês de Morte Materna já instituídos e cumprir as metas de redução de mortalidade materna, pelo Ministério de Saúde, em 50%. Em um país de dimensões continentais, com realidades distintas é impotante a existência de comitês de mortalidade materna com a função de identificar os problemas regionais e estabelecer medidas apropriadas para saná-los. Em 1989, foram instituídos pelo MS os comitês de prevenção da mortalidade materna, organismos de natureza interinstitucional, multiprofissional e confidencial que visa identificar todos os óbitos maternos e apontar medidas de intervenção para sua redução (SOARES et al, 2006). É preocupação permanente da Organização Mundial de Saúde a prevenção da mortalidade materna. recomendações: Por esse motivo, elaborou e divulgou as seguintes 15 - A mortalidade materna há de ser alvo de constante atenção e de iniciativa da OMS, autoridades governamentais e sociedades médicas. - Cumpre organizar programas que proponham o encaminhamento precoce de mulheres de alto-risco para serviços de referência, criar nas maternidades de espera recursos mais adequados para tratar complicações em centros de atendimento primário, divulgar meios de planejamento familiar como medida de primeira linha de defesa contra a gravidez indesejada e o abortamento ilegal. 4.3 – ETIOLOGIA 4.3.1 – ATONIA UTERINA Para Lowdermilk e Perry (2002), “a atonia uterina é a hipotonia notável do útero”. Normalmente, a contração uterina provoca a expulsão da placenta e impede a hemorragia. O corpo do útero é essencialmente uma rede de feixes lisos, fortes e entrelaçados pelos quais passam muitos dos grandes vasos sanguíneos maternos. Se o útero esta flácido após o deslocamento parcial ou total da placenta subitamente ocorre um sangramento venoso, a coagulação normal fica comprometida,continuando o sangramento até a contração muscular do útero. “A atonia uterina constitui a principal causa do HPP, relacionando-se a mais de 90% dos casos” Norris(1997) apud Lowdermilk et al (2002). 4.3.2 – LACERAÇÃO DO TRATO GENITAL “As lacerações da cérvice, da vagina e do períneo também constituem causas de HPP. Deve-se considerar a hemorragia relacionada a lacerações se o sangramento continuar, embora o fundo uterino esteja firme e contraído. Esse sangramento pode ser um gotejar lento, por um vazamento ou por uma hemorragia franca” (LOWDERMILK e PERRY, 2002). Os fatores que influenciam as causas e a incidência das lacerações obstétricas do trato genital inferior incluem o parto operatório; o parto precipitado; as anormalidades 16 congênitas das partes moles maternas, a pelve pequena; o tamanho; a apresentação anormal e a posição do feto; o tecido cicatricial da infecção, a lesão ou a operação prévia; além das varicosidades ovulares, perineais e vaginais. As lacerações do períneo são as mais comuns de todas as lesões na porção inferior do trato genital. “Os hematomas vaginais (depósito de sangue no tecido conjuntivo) estão mais comumente associados a episiotomia, à primigestação e ao parto assistido por fórceps” RIDGEWAY(1995) apud LOWDERMILK et al (2002). Os sinais e sintomas são caracterizados pelo relato da mulher de dor perineal ou retal persistente, ou de uma sensação de pressão na vagina. A manipulação contínua do períneo, as condições do tecido e tipo de parto interferem nas lacerações e nos hematomas. (LOWDERMILK e PERRY 2002) 4.3.3 PLACENTA RETIDA A placenta normalmente implantada desprende-se com a primeira ou com a segunda contração uterina forte após o nascimento do bebê. O seu desprendimento ocorre aos 15 minutos em aproximadamente 90% das mulheres; 30 minutos após o nascimento, em torno de 95% das mulheres terão a placenta expulsa e aos 45 minutos, ao redor de 98% atingem a dequitação. A retenção da placenta devido a falha no seu desprendimento é comum nos partos muito prematuros (20 a 24 semanas de gestação) 4.3.4 COAGULOPATIAS “Quando o sangramento for contínuo e não existir origem identificável, a causa pode estar relacionada a uma coagulopatia. A condição coagulatória da mulher precisa ser avaliada rapidamente. Os resultados anormais dependem da causa e podem envolver o aumento do tempo de protrombina, o aumento do tempo parcial de protrombina, a diminuição das plaquetas, a diminuição do nível de fibrinogênio, o aumento dos produtos de degradação da fibrina e o tempo prolongado de sangramento (DRUELINGER, 1994) apud LOWDERMILK (2002)). 17 As causas das coagulopatias podem ser as complicações da gestação, como a púrpura trombocitopênica idiopática ( PTI ) ou a doença de Von Willebrand. A PTI consiste em um distúrbio auto-imune no qual os anticorpos antiplaquetários diminuem o ciclo de vida das plaquetas. A trombocitopenia , a fragilidade capilar e o tempo aumentado de sangramento são os achados diagnósticos. A PTI pode provocar hemorragias intensas após o parto cesário ou em virtude de lacerações cervicais ou vaginais. A incidência de sangramento uterino pós-parto e de hematomas vaginais também é maior nessa situação (LOWDERMILK et al, 2002). A doença de Von Willebrand, um tipo de hemofilia, é provavelmente o mais comum de todos os distúrbios de sangramento hereditários. É causada por uma deficiência do fator VIII e pela disfunção plaquetária, transmitida como um traço autossômico dominante para ambos os sexos. Embora a doença de Von Willebrand seja rara, apresenta-se como um dos defeitos de coagulação mais comuns entre as americanas em fase reprodutiva (KLEINERK, 1997) apud (LOWDERMILK, 2002). Os sintomas englobam a tendência de sangramento familiar, os episódios de sangramentos prévios, o tempo prolongado de sangramento a deficiência do fator VIII e o sangramento das membranas mucosas. O fator VIII aumenta durante a gestação, tal aumento pode ser suficiente para contrabalançar o perigo de hemorragia durante o parto. No entanto, a condição da mulher deve ser observada durante, ao menos, uma semana após o parto (LOWDERMILK et al, 2002)). Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD) é uma forma patológica de coagulação. Caracteriza-se por ser difusa e consumir grandes quantidades de fatores de coagulação, causando sangramento externo amplo, sangramento interno ou ambos. Na população obstétrica, a CIVD pode ocorrer em razão do deslocamento prematuro da placenta, da embolia do líquido amniótico, da síndrome do feto morto, da pré-eclampsia grave, da septicemia, da parada cardiopulmonar e da hemorragia. O exame clínico revela o sangramento incomum, o sangramento espontâneo das gengivas ou do nariz da mulher podem ser notados. As petéquias podem surgir. Os sintomas também abrangem taquicardia e diaforese. Os testes laboratoriais revelam níveis diminuídos de plaquetas, de fibrinogênio, de proscelerina, de fator anti-hemolítico e de protombina (fatores consumidos durante a coagulação). A fibrinólise é aumentada 18 inicialmente, mas depois deprime-se fortemente, o tempo de protrombina e tromboplastina estão aumentados (LOWDERMILK et al, 2002). 4.3.5 PLACENTA RETIDA ADERIDA A aderência anormal da placenta é supostamente associada a implantação do zigoto em área endometrial defeituosa de maneira que não há uma zona de separação entre a placenta e a decídua. Alguns fatores como a cicatrização do útero, miomectomia, curetagem vigorosa, endometrites, implantação anormal da placenta (cérvice ou segmento uterino inferior), e a malformação placentária predispõe para a fixação anormal da placenta (LOWDERMILK e PERRY, 2002). Os autores reconhece os seguintes graus de fixação: Placenta acreta: penetração leve do endométrio pelo trofoblasto placentário. Placenta increta: penetração profunda do miométrio pela placenta. Placenta percreta: perfuração do útero pela placenta. 4.3.6 INVERSÃO UTERINA Segundo Lowdermilk e Perry, (2002), a inversão uterina pode ser completa ou parcial, na primeira ocorre a protusão de 20 a 30 cm para fora do intróito de uma massa grande, vermelha e redonda. Já a incompleta, só pode ser sentida e uma massa lisa será palpada através da cérvice dilatada. Sua incidência é maior nas mulheres multíparas e com placenta acreta ou increta.Os principais sinais de inversão uterina são a hemorragia, o choque e a dor. A hemorragia é o principal sinal em até 94% das mulheres, com a perda de sangue estimada entre 800 e 1000ml. ] 19 4.3.7 SUBINVOLUÇÃO DO ÚTERO O sangramento pós-parto tardio pode ocorrer em virtude de subinvolução do útero. Ele é definido como atraso do útero aumentado no retorno ao tamanho e a função normais. As causas reconhecidas incluem a retenção de restos placentários e a infecção pélvica. Os sinais e os sintomas envolvem a secreção prolongada de lóquios, o sangramento irregular ou excessivo e, algumas vezes, a hemorragia. O exame pélvico geralmente apresenta um útero maior que o normal e que pode estar relaxado(LOWDERMILK e PERRY, 2002). 4.4 FATORES DE RISCO PARA A HEMORRAGIA PÓS-PARTO De acordo com Leveno et al (2005), os fatores mais comuns são: 4.4.1 MACROSSOMIA É um termo impreciso para descrever um feto neonato muito grande. Existe uma conformidade entre os obstetras de que recém-nascidos pesando menos de 4000g não são excessivamente grandes. Os fatores de risco maternos são identificados em apenas 40% das mulheres que tem parto com crianças macrossômicas. Atualmente, uma estimativa acurada de tamanho fetal não é possível, como conseqüência, o diagnóstico de macrossomia só pode ser confirmado após o parto. A obesidade materna acrescenta mais acurácia às estimativas clínicas de peso fetal por meio de exame físico. 4.4.2 GEMELARIDADE Durante as últimas décadas, com o advento da tecnologia da reproduição assistida, o número de gestação gemelares aumentou com uma velocidade surpreendente o que resultou no aumento também das complicações maternas. 20 4.4.3 POLIDRÂMNIO Arbitrariamente, mais do que 2000ml de líquido amniótico é considerado excessivo e é denominado polidrâmnio. O grau de polidrâmnio, bem como seu prognóstico, está relacionado com a sua causa. O polidrâmnio está freqüentemente associado a malformações fetais, especialmente do sistema nervoso central ou do trato gastrointestinal. As complicações maternas mais comuns são o deslocamento de placenta, a disfunção uterina e a hemorragia pós-parto. 4.4.4 PARTO CESÁRIO É definido como o parto do feto através de incisões na parede abdominal (laparotomia) e na parede uterina (histerotomia). Mais de 85% das cesarianas são realizadas por causa da cesariana prévia, distócia de trabalho de parto, sofrimento fetal e apresentação pélvica. 4.4.5 ANALGESIA E ANESTESIA Os riscos variam de acordo com o tipo de analgesia selecionada. Após a administração de raquianalgesia ou epidural, deve se ter atenção freqüente à medida da pressão sanguínea, aos níveis de anestésico e à medida da oxigenação materna. A analgesia epidural prolonga o primeiro período do trabalho de parto e aumenta a necessidade de estimulação com ocitocina. Já a raquianestesia com bloqueio sensório, é muito usada para cesariana, a sua complicação grave mais comum é a hipotensão. 4.4.6 CORIOAMNIONITE É a inflamação das membranas fetais, usualmente em associação à ruptura e ao trabalho de parto longo. A corioamnionite oculta é causada por uma série de microorganismos. Clinicamente se manifesta com febre materna igual ou maior a 38°, usualmente na presença de membranas rotas, além disso, ocorre a taquicardia, lóquios fétidos e a sensibilidade do fundo uterino. 21 4.4.7 PLACENTA PRÉVIA A placenta está localizada sobre ou muito próximo do orifício interno. Esta condição complica a média de 1 a cada 200 partos. Embora metade das mulheres estejam próximas do termo quando ocorre o primeiro sangramento, o parto pré-termo é um grande problema para as demais, pois não há condições favoráveis ao parto. 4.5 ASSISTÊNCIA OBSTÉTRICA No final dos anos 90, após quase duas décadas da instituição do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), a assistência à saúde da mulher no Brasil permanecia com muitas questões a serem enfrentadas. O MS havia definido a saúde da mulher como prioritária e sistematizou, a partir de três linhas pricipais de ações, projetos específicos: melhorar a saúde reprodutiva, reduzir a mortalidade por causas evitáveis e combater a violência contra a mulher (SERRUYA et al, 2004). Segundo o autor, para a melhoria da assistência obstétrica a Secretaria de Assistência a Saúde em conjunto com a Área Técnica de Saúde da Mulher, elaborou um plano em três etapas. Na primeira aumentou a remuneração no parto normal, instituiu um limite percentual máximo para pagamento de cesárias por hospital e incluiu a remuneração aos procedimentos referentes à analgesia de parto e ao parto realizado por enfermeira obstétrica. Na segunda, foi instituído o Programa de Apoio a Implantação de Sistema Estadual de Referência Hospitalar para a gestação de auto risco, com a finalidade de organizar e melhorar a assistência às mulheres com maior risco obstétrico. A terceira etapa tratava especificamente da atenção no pré-natal e ao parto, enfocando a qualidade da assistência, o acesso, e a humanização da atenção. Essas ações tinham como ponto de partida a necessidade de diminuir a morbi-mortalidade materna e melhorar os resultados perinatais, com a perspectiva da humanização como 22 grande fio condutor. O termo humanização pode agregar diferentes significados. Busca expressar uma mudança na compeensão do parto como experiência humana, gerando interpretações de diversas influências no campo ideológico-cultural. Os principais sentidos atribuídos ao termo podem ser agrupados em sentidos relacionados aos aspéctos de ordem técnica e de ordem ético-política . Segundo Pereira (2007), o primeiro agrupamento refere-se aos sentidos de humanização relacionados com a assistência baseada em evidências científicas, que utilizam a tecnologia apropriada e inspirado no paradigma da desmedicalização da atenção ao parto e nascimento. O parto passa a ser compreendido como um evento "natural" e fisiológico, resgatando-se a competência institiva feminina no processo parturitivo. Nos sentidos identificados com aspectos ético-politicos, a humanização foi associada com uma assistência baseada principalmente nos direitos humanos das mulheres. Reivindica práticas que promovam a autonomia, a liberdade de escolha, a equidade, a não violência de gênero e as demais violações de direitos nos serviços de saúde. Nesse conjunto de sentidos há busca pela democratização das relações de poder entre os sujeitos no campo da saúde. Especificamente na relação cliente- profissional através da promoção do acolhimento e do cuidado integral e sensível as necessidades psíquicas, culturais e sociais, por meio de um processo dialógico nas ações de cuidado denominado de assistência (PEREIRA et al, 2007). 4.6 AVALIAÇÃO E CUIDADO NO PÓS-PARTO IMEDIATO Segundo Lowdermilk e Perry (2002), para prestar um cuidado de qualidade, a enfermeira deve estar informada das mudanças físicas na mãe e das mudanças psicossociais e emocionais. As primeiras duas horas após o nascimento, algumas vezes denominadas de quarto estágio do parto, são uma ocasião crucial para a mãe e para o recém-nascido. Ambos estão recuperando-se do processo físico do nascimento. 23 Durante esse período, os órgãos maternos começam a readaptar-se ao estado prégravídico e as funções dos sistemas orgânicos começam a reabilitar-se. O papel da enfermeira no quarto estágio do trabalho de parto é monitorizar a recuperação da mãe, além de identificar e controlar, imediatamente, qualquer desvio dos processos normais que possa ocorrer. Nos ambientes tradicionais, as mulheres são levadas da sala de parto para uma área separada para observação.As condições que podem predispor a mãe à hemorragia são de grande importância,como o parto precipitado, o bebê grande, a grande multiparidade ou o parto induzido. Para as mulheres sadias, a hemorragia é provavelmente a complicação potencialmente mais perigosa . Durante a primeira hora na sala de recuperação,são freqüentes as avaliações físicas da mãe.Todos os fatores, exceto a temperatura, são avaliados a cada 15 minutos durante uma hora.Avalia-se a temperatura a cada 4 a 8 horas.Após a quarta avaliação, se todos os parâmetros estiverem estabilizados nos limites normais, o processo é geralmente repetido a cada 30 minutos na segunda hora (LOWDERMILK e PERRY, 2002). No quarto estágio do parto, muitas pacientes apresentam tremores intensos, semelhantes ao estremecimento de um calafrio. Eles são vistos, comumente, após o nascimento e não estão relacionados à infecção. Várias teorias têm sido propostas para explicar esses tremores ou estremecimentos: eles resultariam da súbita liberação de pressão sobre os nervos pélvicos após o nascimento, de uma resposta da transfusão feto-mãe que ocorreu durante a separação da placenta, de uma reação à produção de adrenalina materna durante o trabalho de parto e o parto ou de uma reação à anestesia peridural (LOWDERMILK e PERRY, 2002). A recuperação da anestesia exige que a enfermeira conte com apoio cardiovascular disponível e suprimentos de emergência. Uma pontuação de recuperação anestésica é atribuída a cada paciente na sua chegada e atualizada a cada 15 minutos como parte da investigação. Os componentes dessa pontuação abrangem a atividade, a respiração, a pressão sanguínea, o nível de consciência e a cor. Nenhuma mulher deve ser liberada da área de recuperação até estar completamente recuperada dos efeitos da anestesia. 24 4.7 INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM A HPP pode evoluir rapidamente para o choque, portanto, a enfermeira deve avaliar a paciente cuidadosamente. Terminado o trabalho de parto o perigo de hemorragia é maior, durante a hora seguinte o período é considerado crítico (LOWDERMILK e PERRY, 2002). Segundo os autores o reconhecimento precoce depende da avaliação do fundo uterino para determinar se está firmemente contraído, no nível ou próximo ao umbigo. A observação do sangue quanto a cor e quantidade. Na verificação freqüente dos sinais vitais durante as primeiras duas horas após o parto pode identificar tendências relacionadas à perda de sangue, como: taquicardia, taquipnéia, queda de pressão sangüínea. A avaliação da distensão da bexiga é importante porque se distendida ela pode deslocar o útero e impedir a sua contração. A pele é examinada em relação ao calor e a hidratação; verificam-se os leitos da unha quanto à cor e ao enchimento capilar. Os exames laboratoriais determinam os níveis de hemoglobina e de hematócrito. Em relação ao tratamento e cuidados de enfermagem a primeira meta no controle da hemorragia a contenção do sangramento corrigindo a causa. A segunda meta é manter um volume sanguíneo circulante para prevenir o choque ou a anemia, e como última meta, prevenir a infecção (LOWDERMILK e PERRY, 2002). Quando o sangramento ocorre após a saída da placenta a atonia uterina é a primeira causa a ser considerada, por ser a mais comum. O fundo uterino pode ser prontamente palpado. Quando relaxado, a causa mais provável é a falha das fibras musculares em comprimir os vasos sanguíneos. Se o fundo uterino está firme, o sangramento provavelmente decorre de lacerações. Segundo os autores, quando a musculatura está atônica, o primeiro passo para controlar a hemorragia resultante é estimular o músculo a se contrair. Isto é obtido através da massagem e da administração de ocitócicos. O fundo uterino deve ser comprimido contra a sínfise púbica, ou entre as mãos, e massageado vigorosamente. Ocitocina, 10ui. ou ergonovina, 0,2mg, podem ser administrados intramuscularmente. Um gotejamento de ocitocina, 10ui ou mais de 1000ml de uma solução 25 apropriada, é iniciada se o sangramento persistir ou se houver tendência da musculatura uterina permanecer relaxada. A administração pode ser mais rápida do que a feita no trabalho de parto. A ocitocina pode ser dada num período de várias horas até que útero esteja espontaneamente contraído. Compressões bimanuais do útero podem ser empregadas se a massagem abdominal e os ocitócitos não são eficientes para controlar o sangramento. Ao realizar esse procedimento o médico ou a enfermeira obstétrica insere o punho na vagina e a comprime, os dedos fechados contra o lado anterior do útero, colocando a outra mão sobre o abdômen e massageando o lado posterior do útero com ela. Se o útero ainda não se formar, implementa-se a exploração da cavidade uterina em busca de retenção de restos placentários (LOWDERMILK e PERRY, 2002). Se tais procedimentos ainda não forem eficazes, a abordagem cirúrgica é a única alternativa. Dentre elas estão as técnicas tradicionais como as ligaduras arteriais, embolização angiográfica e a histerectomia. Mais recentemente, 1997, passou a ser utilizada a técnica hemostática de sutura compressiva, B-Lynch, para casos de hemorragia pós-parto secundária a atonia uterina, uma alternativa com menor morbidade em relação aos métodos cirúrgicos tradicionais (NAGAHAMA et al 2007). O cuidado da mulher que apresentou uma inversão uterina concentra-se na estabilização imediata da condição hemodinâmica. Isso exige a observação rigorosa de sua resposta ao tratamento para prevenir o choque ou a sobrecarga de líquido. Se o útero tiver sido reposicionado manualmente, deve-se tomar cuidado após o parto para evitar a massagem agressiva do fundo uterino.(LOWDERMILK e PERRY, 2002). 4.8 COMPLICACÃO DO HPP 4.8.1 CHOQUE HIPOVOLÊMICO A hemorragia pode levar ao choque hipovolêmico. Este último consiste em uma situação emergencial no qual a perfusão dos órgãos do corpo pode ficar gravemente comprometida e provocar a morte. Os mecanismos fisiológicos compensatórios são ativados em resposta a hemorragia (LOWDERMILK e PERRY, 2002). 26 O fluxo de sangue disponível é desviado para o cérebro e para o coração, afastando-se dos outros órgãos inclusive do útero. Se o choque for prolongado, a redução constante de oxigenação celular causa o acúmulo de ácido lático e a acidose provoca vasodilatação arteriolar, a vasoconstrição venosa persiste. Estabelece-se um padrão circular, isto é, perfusão diminuída, aumento da anoxia do tecido e da acidose, formação de edema e depósito de sangue, diminuindo ainda mais a perfusão e por fim, ocorre a morte celular. 4.8.2 CUIDADOS DE ENFERMAGEM NO CHOQUE HIPOVOLÊMICO O choque hipovolêmico pode manifestar-se rapidamente, por outro lado seus sinais clássicos nem sempre aparecem até que a mulher no pós-parto perca de 30 a 40% do volume de sangue. Por isso a avaliação da enfermeira deve ser contínua, além de mobilizar os recursos apropriados. A maioria das intervenções servem para melhorar e monitorizar a perfusão dos tecidos (CLARK et al, 1994, apud LOWDERMILK e PERRY, 2002). As observações adicionais envolvem a avaliação da temperatura, a cor e a turgidez da pele assim como a verificação das membranas mucosas da mulher. Os ruídos respiratórios devem ser auscultados antes da reposição do volume de líquidos, se possível para proporcionar uma linha basal em virtude de futuras verificações. A observação das perdas hemorrágicas nos locais de incisão ou de injeção e a avaliação de presença de petéquias em áreas não associadas à cirurgia ou ao trauma, são fundamentais na avaliação da coagulopatia intravascular disseminada (LOWDERMILK e PERRY, 2002). O oxigênio é administrado preferencialmente pela máscara facial, 10 a 12L por minuto com o objetivo de manter a sua saturação. Esta deve ser monitorizada com oxímetro de pulso embora as medidas nem sempre sejam exatas na paciente com hipovolemia ou com queda de perfusão, o nível de consciência é verificado freqüentemente e proporciona indicações adicionais do volume de sangue e da saturação de oxigênio. É comum a inquietude e a ortopnéia, a medida que a hipoxia 27 cerebral aumenta, e também a confusão e a reação lentificada, pode ocorrer queixa de cefaléia. Insere-se um cateter de Foley para ter o maior controle do balanço hídrico considerando o mínimo de 100ml/h. 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS Qualificar a assistência materna de enfermagem a fim de assegurar a promoção da saúde da puérpera bem como a sua vida nos casos da HPP precoce é uma medida possível. No entanto, é fundamental uma reciclagem constante da equipe multiprofissional associada a uma enorme vontade política para que o atendimento a mulher seja feito de forma digna, amparada pelo conhecimento e pela tecnologia. O modelo de atenção ao parto e puerpério passa por um processo de humanização em que as mulheres são vistas como sujeitos que advêm de culturas diferentes e que têm a sua individualidade e seus direitos. Além disso é necessário o aprimoramento do sistema de informação em mortalidade para a elaboração e avaliação dos programas e políticas de saúde. A qualificação da assistência à mulher é um trabalho árduo e sem resultados imediatos, porém de suma importância para reduzir os índices de mortalidade materna. 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Ministério da Saúde Secretaria Executiva. Programa Humanização no Prénatal e Nascimento. Brasília, Ministério da Saúde. 2000. II Titulo. CORRÊA, Mário Dias et al. Noções Práticas em Obstétricia.13ª ed. Belo Horizonte: COOPMED, 2004. COSTA, Aurélio et al. Mortalidade Materna na cidade do Recife. RBGO, v.24, nº 7, p.455, 2002. ERNA e ZIEGEL. Enfermagem Obstétrica. 8ª ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1985. LAURENTI, Ruy et al. A mortalidade materna nas capitais brasileiras: algumas características e estimativa de um fator de ajuste. Epidemiologia, 2004. v.7,n.4, p.449. LEVENO, Kenneth J. et al; Manual de Obstetrícia de Willians; Trad. Edison. Porto Alegre: Artmed, 2005. Cap. 21. LOWDERMILK e PERRY. O Cuidado em Enfermagem Materna. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. 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