Lemos IC, Agenor CS, Oliveira DCC, Carvalho FC
Enfermagem Obstétrica, 2014; 1(1):25-30.
ISSN 2358-4661
Produção científica nacional sobre práticas interativas não farmacológicas no
trabalho de parto: uma revisão integrativa da literatura.
National scientific writing about non-pharmacological interactive practices in labor:
an integrative literature review.
Producción científica nacional sobre prácticas interactivas no farmacológicas en el
trabajo de parto: una revisión integrativa de la literatura.
Isamara Corrêa Lemos1; Cláudia de Souza Agenor2; Débora Cecília Chaves de Oliveira3; Fernanda Celina de Carvalho4
RESUMO - Objetivo: identificar como as práticas integrativas têm sido discutidas na produção científica nacional. Metodologia:
trata-se de uma revisão integrativa da literatura desenvolvida por meio de busca na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram
analisados 14 artigos publicados, no Brasil, no período de 2007 a 2011. Resultados: as pesquisas abordaram as seguintes práticas: exercícios respiratórios; movimentos pélvicos; banho de aspersão e imersão; mudança de posição; deambulação; bola;
massagem; técnicas de relaxamento; aromoterapia e musicoterapia. A região Sudeste apresentou maior publicação, acerca
dessa temática, e com maior proporção em 2011. Verificou-se uma maior quantidade de publicações da área de enfermagem,
nos estudos analisados. Conclusão: Foi evidenciado que as práticas integrativas não farmacológicas, em sua maioria, garantem
um resultado significativo no alívio da dor, no trabalho de parto.
Descritores: Saúde da mulher; terapias complementares; dor do parto; trabalho de parto; enfermagem obstétrica; cuidados
de enfermagem.
ABSTRACT - Objective: to identify how integrative practices has been discussed in Brazilian scientific literature. Methodology:
This is an integrative literature review based on data from Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). It had been analyzed 14 published
articles in Brazil, in the period from 2007 to 2011. Results: The studies covered the following practices: breathing exercises;
pelvic movements; use of warmed water by showers or immersion; change of position; ambulation; fisioball; massage; relaxation techniques; aromatherapy and music therapy. The Brazilian Southeast region showed higher number of publication on this
theme and with a higher proportion in 2011. Observed a greater number of publications in the field of nursing was responsible
for a higher number of publications in the studies analyzed. Conclusion: It was verified that mostly non-pharmacological integrative practices guarantee a significant pain relief in labor.
Descriptors: Women’s health; complementary therapies; labor pain; labor; nurse midwifery; nursing care.
RESUMEN - Objetivo: identificar como las prácticas integrativas son discutidas en la producción científica Brasileña. Metodología:
se trata de una revisión integrativa de la literatura desarrollada por medio de dados en la Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).
Fueron analizados 14 artículos publicados, en Brasil, en el período de 2007 a 2011. Resultados: Las pesquisas abordarán las
siguientes prácticas: ejercicios respiratorios, movimientos pélvicos, baño de aspersión e inmersión, cambio de posición, de
deambulación, fisioball, masaje, técnicas de relajamiento, aromaterapia y musicoterapia. La región Sudeste de Brasil presentó
mayor publicación cerca de esta temática y con mayor proporción en 2011. Se verificó una mayor cantidad de publicaciones del
área de enfermería, en los estudios analizados. Conclusión: Fue evidenciado que las prácticas integrativas no farmacológicas,
en su mayoría, garantizan un resultado significativo en el alivio del dolor en trabajo de parto.
Descriptores: salud de la mujer; terapias complementarias; dolor de parto; trabajo de parto; enfermería obstétrica; cuidados
de enfermería.
Introdução
A gravidez é um momento único na vida da mulher,
é um período de transformações do corpo, da aparência
e mudança na condição social. Essas mudanças ocorrem
ao mesmo tempo em que vão acontecer as alterações fisiológicas, no sistema corporal da gestante, e psicossociais,
em todos os membros da família1.
Diante de expectativas tão grandes, muitas gestantes
apresentam diversas emoções, ao longo da gravidez, que
são influenciadas pela sua formação emocional, sua base
cultural e sociológica, sua aceitação ou rejeição da gravidez
e sua rede de apoio1.
Para algumas mulheres, a maternidade é percebida
como um diferencial que concretiza o papel feminino,
porém outras mantêm a percepção de algo que traz dor e
sofrimento. A dinâmica do parto envolve várias alterações
hormonais para que ocorram as contrações uterinas,
Enfermeira. Especialista em Terapia Intensiva Adulto pelo Instituto de Educação Continuada da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – IEC – PUC-Minas (2006). Mestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local pelo Centro Universitário UNA (2010). Consultora em Enfermagem na área de
Sistematização da Assistência de Enfermagem. Docente nos cursos de graduação e pós-graduação latu sensu em enfermagem, no Centro Universitário UNA,
e-mail: [email protected].
2
Graduanda em enfermagem no Centro Universitário UNA, e-mail: [email protected].
3
Graduanda em enfermagem no Centro Universitário UNA, Residente em Enfermagem Obstétrica UFMG, e-mail: [email protected].
4
Graduanda em enfermagem do Centro Universitário UNA, Enfermeira do Grupo Mineiro de Cirurgia Plástica. email: [email protected].
1
Recebido em: 05/01/2013 – Aprovado em: 29/03/2014
Enfermagem Obstétrica, Rio de Janeiro, 2014 jan/abr; 1(1):25-30 • p.25
Práticas interativas não farmacológicas no trabalho de parto
sendo a dor vivenciada em dois momentos distintos: na
primeira fase de dilatação, a sensação de dor se apresenta
subjetiva e aguda e, na segunda fase, da descida fetal, uma
dor somática e mais intensa, sendo que o emocional e o
ambiente podem influenciar para o aumento da dor2.
A dor de um parto é longa e dolorosa e tem que ser
aliviada, a fim de diminuir e minimizar sérios prejuízos,
tanto para a mãe quanto para o bebê, durante o processo
de nascimento, visando ao respeito da assistência obstétrica
humanizada e dos diretos das mulheres e das crianças2.
É de extrema relevância o acesso às práticas farmacológicas e não farmacológicas para o alívio da dor, no trabalho de parto, pois delega certa autonomia à parturiente,
o que permite a ela e ao acompanhante uma participação
efetiva na escolha do tipo de parto2.
Métodos terapêuticos não convencionais vêm sendo
utilizados há milênios por diversos povos e culturas, no
cuidado, manutenção e recuperação da saúde. Conhecidos
atualmente como Práticas Integrativas e Complementares
(PIC), estas estratégias utilizam recursos simples e seguros,
convergentes à atenção à saúde da mulher e as propostas
de humanização da assistência ao parto e nascimento3.
A terapia integrativa aplicada à saúde da mulher, em
especial na obstetrícia, engloba inúmeros métodos para
alívio da dor, como: mudança de posição, deambulação,
exercícios respiratórios, massagem lombossacral, banho de
imersão e aspersão, técnicas de relaxamento muscular, método cavalinho, bola suíça, aromoterapia, musicoterapia2,3.
Essas práticas integrativas e complementares são
definidas pela Portaria de nº 971, de 3 de maio de 2006 do
Ministério da Saúde / Gabinete do Ministro, que aprova a
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
(PNPIC) no Sistema Único Saúde4 e pelo decreto nº 5813 de
22 de junho de 2006, aprova a Política Nacional de Plantas
Medicinais e Fitoterápicos e dá outras providências5, sendo
monitoradas pelo sistema nacional de vigilância sanitária.
Com essa política, busca-se atender à demanda da sociedade brasileira, ampliam-se os serviços oferecidos pelo SUS
e contribui para a consolidação de políticas de assistência
à saúde, ainda mais ampla e segura, que estão distribuídas
em Homeopatia, Fitoterapia e Medicina Antroposófica5.
Os levantamentos iniciais apontam que as práticas
integrativas no alívio da dor são benéficas para a mulher,
durante o pré-parto, parto e pós-parto, para tanto este
trabalho pretende responder ao seguinte problema de pesquisa: qual a tendência de publicações científicas nacionais
no campo das práticas integrativas não farmacológicas no
trabalho de parto.
As práticas integrativas e complementares estão incluídas no modelo de assistência humanizada, utilizando
recursos baratos, simples e seguros. Estas estão mais valorizadas e estudadas por profissionais da área da saúde e
inclusive pelas mulheres, ainda no pré-natal, pois se baseia
na participação ativa da mulher no processo3.
Nos últimos anos, houve uma necessidade de mudança dos modelos de assistência à saúde da mulher, devido
às limitações impostas pelo modelo biomédico, em que o
ciclo gravídico-puerperal deixa de ser familiar, natural e fisi-
ológico, tornando-se um ato institucional e intervencionista,
marcado pela medicalização da assistência3.
As práticas integrativas, na assistência de enfermagem,
podem contribuir para a humanização, manutenção do controle da dor, emoções e ações, durante o trabalho de parto,
que é um momento singular para a mulher e sua família3.
Diante deste contexto, o objetivo deste trabalho é
identificar como as práticas integrativas têm sido discutidas
na produção científica nacional.
Enfermagem Obstétrica, Rio de Janeiro, 2014 jan/abr; 1(1):25-30.
Recebido em: 05/01/2013 – Aprovado em: 29/03/2014
p.26 •
Material e métodos
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura,
feita a partir de uma coleta de dados, em bases científicas,
onde se identificou os seguintes tipos de estudo: revisão
e estudo de caso.
Para elaboração da revisão integrativa, foi utilizada
a metodologia proposta por Mendes, Silveira e Galvão6.
Essa metodologia tem a finalidade de reunir e sistematizar
resultados de pesquisas sobre um delimitado tema ou
questão, de maneira sistemática e ordenada, que contribui
para aprofundar o conhecimento sobre o tema investigado.
Para a construção da revisão integrativa, percorremos
seis etapas distintas, descritas abaixo:
1ª etapa: Estabelecer a hipótese ou a pergunta da revisão
Inicialmente, estabeleceu-se para esta pesquisa, a
seguinte questão norteadora: como as práticas integrativas
têm sido discutidas na produção científica nacional.
2ª etapa: Selecionar a amostra a ser revista
Para a seleção dos artigos, consultou-se a interface
da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), mediante descritores
como: saúde da mulher and terapias complementares, dor
do parto, trabalho de parto and enfermagem obstétrica,
cuidados de enfermagem and parto, musicoterapia and
parto. Nesse mesmo site, utilizou-se a Base de Dados de
Enfermagem (BDENF), as bases de dados da Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e a Biblioteca Científica Eletrônica Online (SCIELO)
para ampliação do estudo. É válido ressaltar que, depois
de uma análise criteriosa, foram inclusos somente artigos
da base de dados LILACS, pois melhor se adequaram aos
critérios de inclusão.
Os critérios de inclusão dos artigos definidos para a
presente revisão integrativa foram: artigos nacionais, com
resumos disponíveis nas bases de dados selecionadas e
com período de publicação compreendido entre 2006 a
2012, momento em que as práticas integrativas tornam-se
respaldadas por lei no Sistema Único de Saúde (SUS).
3ª etapa: Categorização dos estudos
A coleta de dados dos estudos foi realizada por meio
de um quadro sinóptico, a partir de um instrumento elaborado por Pompeo, Rossi e Galvão7 e atualizado conforme o
necessário, contemplando os seguintes aspectos: referência
da publicação, região do Brasil de origem da publicação,
título do periódico, base/fonte de dados, ano de publicação,
classificação na sistema Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Ensino Superior (CAPES) e tipo de estudo.
Lemos IC, Agenor CS, Oliveira DCC, Carvalho FC
4ª etapa: Avaliação dos estudos
Para alcançar o objetivo proposto, os artigos foram
analisados buscando responder ao teste de relevância I e
teste de relevância II, elaborados por Pereira e Bachion8
em anexo. Esses testes são compostos por uma lista de
perguntas que geram respostas afirmativas ou negativas,
com o intuito de refinar a seleção dos artigos que foram
acessados e lidos na íntegra.
5ª etapa: Interpretação dos resultados
Após leitura analítica e interpretativa, a apresentação
dos resultados desta pesquisa e a discussão foram feitas, de
forma descritiva, a fim de possibilitar a aplicabilidade desta
revisão em prol da melhoria na prática de enfermagem.
Código
E01
Estado de
origem da
publicação
Minas
Gerais
E02
Ceará
E03
Goiás
E04
Paraná
E05
São Paulo
E06
São Paulo
E07
São Paulo
E08
São Paulo
E09
Santa
Catarina
E10
Paraná
E11
São Paulo
E12
São Paulo
E13
São Paulo
6ª etapa: Apresentação da revisão ou síntese do conhecimento
A revisão foi apresentada mediante a utilização de
tabela e gráficos que melhor demonstram os resultados
da pesquisa.
Resultado e Discussão
Foram identificados 29 artigos na Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS), após uma análise criteriosa, realizada por meio
dos testes de relevância I e II (anexos), foram selecionados
14 artigos da base dados LILACS, os quais se enquadraram
nos critérios de inclusão e exclusão.
Qualis
Tipo de
estudo
REME – Rev.
Min. Enferm.
B2
Revisão
Rev. RENE.
B2
Revisão
Davim RMB et al. 2008
Rev. Eletr. Enf
B1
Revisão
Silva TF, Costa
2011
GAB, Pereira ALF
Tabarro CS et al
2010
Cogitare
Enferm.
Rev Esc
Enferm USP
Rev Esc
Enferm USP
B2
Revisão
A2
Revisão
A2
Relato
de Caso
Título do periódico
Autor
Ano de
publicação
As práticas integrativas e
complementares na atenção à
saúde da mulher: uma
estratégia de humanização da
assistência no hospital Sofia
Feldman
Avaliação do uso de
estratégias não farmacológicas
no alivio da dor de
parturientes.
Banho de chuveiro como
estratégia não farmacológica
no alívio da dor de
parturientes
Cuidados de enfermagem
obstétrica no parto normal.
Efeito da música no trabalho
de parto e no recém-nascido
Efetividade de estratégias não
farmacológicas no alívio da
dor de parturientes no trabalho
de parto.
Estratégias não farmacológicas
no alívio da dor durante o
trabalho de parto: pré-teste de
um instrumento.
Hidroterapia durante o
trabalho de parto: relato de
uma prática segura
Métodos não farmacológicos
para alívio da dor no trabalho
de parto: uma revisão
sistemática
Os cuidados não
farmacológicos para alívio da
dor no trabalho de parto:
orientações da equipe de
enfermagem.
Recursos não farmacológicos
no trabalho de parto:
protocolo assistencial
Resultados maternos e
neonatais em Centro de Parto
Normal peri-hospitalar na
cidade de São Paulo, Brasil
Uso da bola suíça no trabalho
de parto
Borges MR,
Madeira LM,
Azevedo VMGO
2011
Davim RMB,
Torres GV
2008
Periódicos
Davim RMB,
Torres GV,
Dantas JC.
2009
Davim RMB,
Torres GV, Melo
ES.
2007
Rev Latino-am A1
Enfermagem
Revisão
Mazoni SR, Faria
DGS, Manfredo
VA
Gayeski ME,
Bruggemann
OM.
2009
Arq Ciênc
Saúde
B3
Relato
de Caso
2010
Texto
Contexto
Enferm
A2
Revisão
Sescato AC,
Souza SRRK,
Wall ML.
2008
Cogitare
Enferm
B2
Revisão
Gallo RBS et al.
2011
Femina
B3
Revisão
Lobo SF et al.
2010
Rev Esc
Enferm USP
A2
Revisão
Silva LM,
Oliveira SMJV,
Silva FM,
Alvarenga MB
2011
Acta Paul
Enferm
A2
Revisão
Figura 1: Descrição dos articos ioncluídos na revisão integrativa.
Recebido em: 05/01/2013 – Aprovado em: 29/03/2014
Enfermagem Obstétrica, Rio de Janeiro, 2014 jan/abr; 1(1):25-30 • p.27
Práticas interativas não farmacológicas no trabalho de parto
Na análise dos artigos incluídos nesta pesquisa, identificou-se um aumento nas publicações durante o período
de 2007 a 2011, não havendo publicações no ano de 2006,
tampouco em 2012.
Figura 4: Seleção da amostra por profissão do autor principal
do artigo publicado.
Figura 2: Seleção da amostra por ano de publicação.
8
7
6
5
4
3
2
1
0
7
5
5
4
4
3
3
3
2
2
2
o
nh
ia
ap
ho
er
lin
ot
va
ic
a
ca
us
pi
M
o/
ra
c
e
i
at
lv
pé
om
o
to
Ar
çã
en
si
im
po
ov
de
M
ça
an
o
ud
çã
M
la
bu
r
m
la
ea
a
cu
D
íç
us
m
Su
la
to
en
Bo
o
sã
am
al
er
cr
ax
el
im
sa
s
R
de
bo
o
s
m
nh
lo
rio
m
tó
Ba
ge
ira
sa
sp
re
as
M
ão
os
ci
rs
cí
pe
er
as
de
Ex
Ba
Os achados da Fig. 2 se justificam pela aprovação da
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da
portaria Nº 971, de maio de 20064.
Aliado a essa política, o enfermeiro tem respaldo
legal na oferta das práticas integrativas como alívio da dor,
mediante uma resolução do COFEN – 197/19979.
Segundo o local de publicação dos artigos inclusos
nesta pesquisa, a região sudeste obteve o maior número,
demonstrando 8 dos 13 estudos analisados, e sendo São
Paulo o estado com um maior número.
Figura 5: Seleção das terapias integrativas no trabalho de parto,
para o alívio da dor.
Além disso, a análise demonstrou que o maior número
de publicações foi de enfermeiros (autor principal), com
apenas um estudo realizado por fisioterapeuta (autor principal). Esse dado demonstra uma disponibilidade maior da
equipe de enfermagem, na procura de evidências sobre a
real efetividade das práticas integrativas para o alívio da
dor da parturiente.
Na Figura 5 serão descritas as práticas integrativas,
de acordo com a maior prevalência nos artigos analisados
e evidenciada a influência destas no alívio da dor, no momento do parto.
O banho de aspersão tem como objetivo promover
o relaxamento corporal, vasodilatação periférica e redistribuição do fluxo sanguíneo. Esse método eleva as endorfinas e reduz as catecolaminas, diminuindo a ansiedade e
propiciando o bem estar da parturiente2. A discussão então
levantada nos estudos E03, E04, E06, E07, E08, E10, E11, E12
concluíram que o banho de aspersão propicia alívio da dor
das parturientes, durante o trabalho de parto, provocando
relaxamento e conforto. Em alguns casos, descreveu-se ainda a diminuição de solicitação de analgesia farmacológica.
Os exercícios respiratórios, no trabalho de parto,
utilizam o diafragma da parturiente, de forma lenta e profunda, para o aumento da saturação dela2. A prática pode
ser aplicada de forma combinada ou isolada e é uma técnica
efetiva para o alívio da dor e conforto das parturientes,
durante a fase ativa do trabalho de parto, concluídos por
E06, E07 e E11. No entanto, o artigo E02 e E04 concluíram
que não houve diminuição da dor, mas promoveu redução
do nível de ansiedade.
A massagem lombossacral é uma técnica em que o
profissional ou acompanhante coloca a mão espalmada
sobre a projeção do fundo uterino da mulher e a outra mão,
também espalmada, sobre a região lombossacral, fazendo
movimentos circulares, até acabar a contração uterina10.
Todos os estudos identificados sobre essa prática E02, E06,
E07, E09, E11 demonstram uma fundamental importância
para o alívio da dor e potencialização no processo de relaxamento por meio do toque, diminuindo o estresse emocional
e liberando o fluxo sanguíneo para melhor oxigenação dos
tecidos, principalmente quando esta intervenção é associada a outras práticas integrativas.
Enfermagem Obstétrica, Rio de Janeiro, 2014 jan/abr; 1(1):25-30.
Recebido em: 05/01/2013 – Aprovado em: 29/03/2014
Figura 3: Seleção da amostra publicada por região do Brasil.
p.28 •
Lemos IC, Agenor CS, Oliveira DCC, Carvalho FC
A eficácia do banho de imersão no alívio da dor e na
evolução do trabalho do parto não está bem comprovada,
porém alguns autores relatam a existência de evidências
cientificas quanto a esse assunto, apesar de ser este um
recurso pouco utilizado nas instituições hospitalares brasileiras, devido à ausência de banheiras disponíveis para
este fim2. Assim como no banho de aspersão, os estudos
E08, E09, E11, E12 concluíram que o banho de imersão
também propicia alívio da dor das parturientes, durante
o trabalho de parto, provocando relaxamento e conforto.
A técnica de relaxamento muscular demonstra que
a parturiente é orientada a relaxar, soltar os membros superiores e inferiores até o momento em que a contração
termina11. De acordo com os artigos analisados E02, E06,
E07 e E11, demonstram que a real finalidade da prática é
o relaxamento do tônus muscular, e consequentemente
diminuição da ansiedade. Mas é válido ressaltar que três
(E02, E06 e E07) dos quatro artigos que evidenciam essa
prática foram escritos pelo mesmo autor.
A bola Suíça (fisioball) consiste em uma bola de borracha inflável, utilizada no trabalho de parto, para auxiliar
na descida e rotação fetal12. Para tanto, estudos feitos nessa
área como E11 e E12 demonstram que sua empregabilidade
instiga a posição vertical na mulher, proporciona liberdade
na adoção de diferentes posições e, além disso, trabalha a
musculatura pélvica e oferece à mulher um conforto físico
e psicológico, no momento do parto. É válido ressaltar que
o estudo E13 destaca importantes questões que ainda são
pouco esclarecidas sobre essa prática, como a segurança da
mulher ao utilizá-la, a limpeza da superfície para prevenir a
contaminação cruzada e ainda são necessários estudos que
demonstrem qual o momento adequado para a utilização
desse recurso, no trabalho de parto.
A deambulação tem como vantagem a ação da gravidade para a descida do feto, além de tornar as contrações
menos dolorosas e mais produtivas13. No entanto, pesquisas
realizadas e concluídas por E04, E07, E11 descrevem que a
deambulação é uma das técnicas menos utilizadas, devido,
em alguns casos, a infusão de ocitocina trazer certo incômodo, aumentando as contrações e dificultando a deambulação e, em outros, a técnica não ser avaliada, devido ao
baixo número de aceitação pelas parturientes. No estudo E11
demonstrou-se que o método não é eficaz, comprovando que
as parturientes que deambulavam nas primeiras três horas
do trabalho de parto tinham um aumento significativo na
dilatação, mas não na diminuição do nível de dor.
A literatura descreve que a gestante ao mudar de
posição, acelera o trabalho de parto, pois conta com a ajuda
da gravidade para a descida do feto e mudanças no formato
da pelve, além de trazer conforto e aumentar o retorno sanguíneo13. Relacionado a esse assunto, três artigos descrevem
os resultados comprovados na prática em E04, E11, E13 os
quais demonstraram ser eficientes, aumentando a velocidade
da dilatação cervical, diminuindo a compressão da veia cava
e artéria aorta, contribuindo também para um maior controle
da mulher na tolerância à dor, o que reduz ou até evita o uso
de fármacos.
O método cavalinho ou movimento pélvico é realizado
com um equipamento que consiste de um assento com
apoio para os braços favorecendo uma posição sentada,
com as costas inclinadas para frente, promovendo assim o
balanço pélvico14. Dentre os artigos, E04 e E10 concluíram
que a livre movimentação, permitida pela técnica, diminui
a dor e a duração do primeiro estágio do trabalho de parto.
A prática alternativa, descrita como aromaterapia nos
artigos E01 e E09, demonstram que essa técnica associada
à humanização do ambiente proporcionam equilíbrio, paz
e aconchego no momento do parto, reduzindo, consequentemente, a dor, a ansiedade e o medo, na maioria das
pacientes estudadas. É importante ressalvar que ainda não
está esclarecido o mecanismo de ação, mas o que se sabe é
que as essências excitam o organismo para a produção de
substâncias que são relaxantes e tranquilizantes3. Segundo
E09, há uma maior redução da dor em nulíparas em relação
às multíparas. Vale destacar que, segundo os resultados
neonatais, há uma menor admissão de recém-nascidos na
UTIN (Unidade de Terapia Intensiva Neonatal), com o uso
dessa prática.
Segundo E01 e E05, a musicoterapia é uma ciência
que estuda os resultados terapêuticos da música, no ser
humano. De acordo com relatos desses estudos, essa
prática obteve bons resultados, pois aliviam a dor durante
as contrações, minimizam a sensação de medo e tensão,
proporcionando que o local seja um ambiente agradável,
estimulando, assim, a espiritualidade e as orações15.
Recebido em: 05/01/2013 – Aprovado em: 29/03/2014
Enfermagem Obstétrica, Rio de Janeiro, 2014 jan/abr; 1(1):25-30 • p.29
Conclusão
Segundo as práticas integrativas demonstradas neste
estudo, conclui-se que as terapias integrativas como: banho
de aspersão e imersão, massagem lombossacral, relaxamento muscular, mudança de posição, método cavalinho
ou movimento pélvico, aromaterapia e musicoterapia
contribuem sim para diminuir a dor durante o trabalho de
parto. Atividades como exercícios respiratórios – como foi
possível observar em E06, E07 e E11 – realmente alivia a
dor da parturiente. Os artigos E02 e E04 revelam que não
há um alívio da dor e sim uma redução da ansiedade, no
momento do parto, o que, de certa forma, não deixa de
ser positivo.
Esta pesquisa também evidenciou que a deambulação
não diminui a dor, mas aumenta a dilatação do colo uterino
diminuindo, consequentemente, o tempo de trabalho de
parto. Já a bola suíça traz um conforto físico e psicológico
para a mulher, mas também não suaviza a dor desse momento.
Conclui-se que, apesar de as terapias integrativas se
mostrarem efetivas, seguras e serem de baixo custo, há uma
deficiência em sua aplicabilidade nos hospitais brasileiros,
devido a não terem uma estrutura física adequada para
aplicação de algumas práticas. Além disso, termos relativamente poucos estudos acerca dos benefícios dessas técnicas
analisadas, para o alívio da dor, no trabalho de parto.
Nesta revisão, evidenciou-se ainda que, no ano de
2011, houve maior abordagem desse tema em artigos
científicos e que a maioria dos artigos analisados foi escrito
por profissionais da área da enfermagem, o que sugere
Práticas interativas não farmacológicas no trabalho de parto
que estes estão preocupados em preservar o processo de
parturição, garantindo uma experiência menos dolorosa e
mais agradável à mulher.
Além disso, notou-se também que a lei que aprova as
práticas integrativas no Brasil é relativamente recente, para
tanto, se faz necessário que as equipes multidisciplinares
do âmbito da saúde se preparem e propaguem esse novo
modelo de cuidado.
1. Silva TF, Costa GAB, Pereira ALF. Cuidados de enfermagem obstétrica
no parto normal. Cogitare Enferm. 2011; 16(1):82-7.
2. Gallo RBS, et.al. Recursos não-farmacológicos no trabalho de parto:
protocolo assistencial. Femina. Jan 2011.v.39.n 1.
3. Borges MR, Madeira LM; Azevedo VMGO. As práticas integrativas
e complementares na atenção à saúde da mulher: uma estratégia de
humanização da assistência no Hospital Sofia Feldman. Rev. Min. Enferm.
2011; 15(1):105-13.
4. Brasil. Portaria nº 971, de 3 de maio de 2006. Política Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde.
Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/PNPIC.pdf.
5. 2a - Brasil. Decreto nº 5813 de 22 de junho de 2006, aprova a Política
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e dá outras providências
6. Mendes KDS, Silveira RCCP and Galvão, CM. Revisão integrativa:
método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na
enfermagem. Texto contexto - enferm. 2008; 17(4):758-64.
7. Pompeo DA, Rossi LA and Galvão CM. Revisão integrativa: etapa inicial do processo de validação de diagnóstico de enfermagem. Acta paul.
enferm. 2009; 22(4):434-8.
8. Pereira AL, Bachion MM. Atualidades em revisão sistemática de literatura, critérios de força e grau de recomendação de evidência. Revista
Gaúcha de Enfermagem, 2006; 27(4):491-8.
9. COFEN. Resolução do COFEN-197/1997. Estabelece e reconhece as
Terapias Alternativas como especialidade e/ou qualificação do profissional
de Enfermagem. Disponível em: http://novo.portalcofen.gov.br/resoluocofen-1971997_4253.html.
10. Davim RMB, Torres GV. Avaliação do uso de estratégias não farmacológicas no alívio da dor de parturientes. Rev.Rene.Fortaleza, 2008; 9(2):64-72.
11. Davim RMB, Torres GV, Dantas JC. Efetividade de estratégias não
farmacológicas no alívio da dor de parturientes no trabalho de parto. Rev.
esc. enferm. USP, 2009; 43(2):438-45.
12. Silva LM, Oliveira SJV, Silva FMB, Alvarenga MB. Uso da bola suíça no
trabalho de parto. Acta paul. enferm. 2011; 24(5):656-62.
13. Ricci SS et al. Enfermagem Materno-Neonatal e Saúde da Mulher. Rio
de Janeiro (RJ): Ed Guanabara Koogan, 2008, p. 211 – 212; 256 - 257; 266.
14. Sescato AC, Souza SRRK; Wall ML. Cuidados não-farmacológicos para
alívio da dor no trabalho de parto: orientações da equipe de enfermagem.
Cogitare Enferm, 2008;13(4):585-90.
15. Tabarro CS, et al. Efeito da música no trabalho de parto e no recémnascido. Rev.EscEnferm USP. 2010; 44(2)445-52.
Enfermagem Obstétrica, Rio de Janeiro, 2014 jan/abr; 1(1):25-30.
Recebido em: 05/01/2013 – Aprovado em: 29/03/2014
Referências
p.30 •
Download

Baixar este arquivo PDF