Lemos IC, Agenor CS, Oliveira DCC, Carvalho FC Enfermagem Obstétrica, 2014; 1(1):25-30. ISSN 2358-4661 Produção científica nacional sobre práticas interativas não farmacológicas no trabalho de parto: uma revisão integrativa da literatura. National scientific writing about non-pharmacological interactive practices in labor: an integrative literature review. Producción científica nacional sobre prácticas interactivas no farmacológicas en el trabajo de parto: una revisión integrativa de la literatura. Isamara Corrêa Lemos1; Cláudia de Souza Agenor2; Débora Cecília Chaves de Oliveira3; Fernanda Celina de Carvalho4 RESUMO - Objetivo: identificar como as práticas integrativas têm sido discutidas na produção científica nacional. Metodologia: trata-se de uma revisão integrativa da literatura desenvolvida por meio de busca na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram analisados 14 artigos publicados, no Brasil, no período de 2007 a 2011. Resultados: as pesquisas abordaram as seguintes práticas: exercícios respiratórios; movimentos pélvicos; banho de aspersão e imersão; mudança de posição; deambulação; bola; massagem; técnicas de relaxamento; aromoterapia e musicoterapia. A região Sudeste apresentou maior publicação, acerca dessa temática, e com maior proporção em 2011. Verificou-se uma maior quantidade de publicações da área de enfermagem, nos estudos analisados. Conclusão: Foi evidenciado que as práticas integrativas não farmacológicas, em sua maioria, garantem um resultado significativo no alívio da dor, no trabalho de parto. Descritores: Saúde da mulher; terapias complementares; dor do parto; trabalho de parto; enfermagem obstétrica; cuidados de enfermagem. ABSTRACT - Objective: to identify how integrative practices has been discussed in Brazilian scientific literature. Methodology: This is an integrative literature review based on data from Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). It had been analyzed 14 published articles in Brazil, in the period from 2007 to 2011. Results: The studies covered the following practices: breathing exercises; pelvic movements; use of warmed water by showers or immersion; change of position; ambulation; fisioball; massage; relaxation techniques; aromatherapy and music therapy. The Brazilian Southeast region showed higher number of publication on this theme and with a higher proportion in 2011. Observed a greater number of publications in the field of nursing was responsible for a higher number of publications in the studies analyzed. Conclusion: It was verified that mostly non-pharmacological integrative practices guarantee a significant pain relief in labor. Descriptors: Women’s health; complementary therapies; labor pain; labor; nurse midwifery; nursing care. RESUMEN - Objetivo: identificar como las prácticas integrativas son discutidas en la producción científica Brasileña. Metodología: se trata de una revisión integrativa de la literatura desarrollada por medio de dados en la Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Fueron analizados 14 artículos publicados, en Brasil, en el período de 2007 a 2011. Resultados: Las pesquisas abordarán las siguientes prácticas: ejercicios respiratorios, movimientos pélvicos, baño de aspersión e inmersión, cambio de posición, de deambulación, fisioball, masaje, técnicas de relajamiento, aromaterapia y musicoterapia. La región Sudeste de Brasil presentó mayor publicación cerca de esta temática y con mayor proporción en 2011. Se verificó una mayor cantidad de publicaciones del área de enfermería, en los estudios analizados. Conclusión: Fue evidenciado que las prácticas integrativas no farmacológicas, en su mayoría, garantizan un resultado significativo en el alivio del dolor en trabajo de parto. Descriptores: salud de la mujer; terapias complementarias; dolor de parto; trabajo de parto; enfermería obstétrica; cuidados de enfermería. Introdução A gravidez é um momento único na vida da mulher, é um período de transformações do corpo, da aparência e mudança na condição social. Essas mudanças ocorrem ao mesmo tempo em que vão acontecer as alterações fisiológicas, no sistema corporal da gestante, e psicossociais, em todos os membros da família1. Diante de expectativas tão grandes, muitas gestantes apresentam diversas emoções, ao longo da gravidez, que são influenciadas pela sua formação emocional, sua base cultural e sociológica, sua aceitação ou rejeição da gravidez e sua rede de apoio1. Para algumas mulheres, a maternidade é percebida como um diferencial que concretiza o papel feminino, porém outras mantêm a percepção de algo que traz dor e sofrimento. A dinâmica do parto envolve várias alterações hormonais para que ocorram as contrações uterinas, Enfermeira. Especialista em Terapia Intensiva Adulto pelo Instituto de Educação Continuada da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – IEC – PUC-Minas (2006). Mestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local pelo Centro Universitário UNA (2010). Consultora em Enfermagem na área de Sistematização da Assistência de Enfermagem. Docente nos cursos de graduação e pós-graduação latu sensu em enfermagem, no Centro Universitário UNA, e-mail: [email protected]. 2 Graduanda em enfermagem no Centro Universitário UNA, e-mail: [email protected]. 3 Graduanda em enfermagem no Centro Universitário UNA, Residente em Enfermagem Obstétrica UFMG, e-mail: [email protected]. 4 Graduanda em enfermagem do Centro Universitário UNA, Enfermeira do Grupo Mineiro de Cirurgia Plástica. email: [email protected]. 1 Recebido em: 05/01/2013 – Aprovado em: 29/03/2014 Enfermagem Obstétrica, Rio de Janeiro, 2014 jan/abr; 1(1):25-30 • p.25 Práticas interativas não farmacológicas no trabalho de parto sendo a dor vivenciada em dois momentos distintos: na primeira fase de dilatação, a sensação de dor se apresenta subjetiva e aguda e, na segunda fase, da descida fetal, uma dor somática e mais intensa, sendo que o emocional e o ambiente podem influenciar para o aumento da dor2. A dor de um parto é longa e dolorosa e tem que ser aliviada, a fim de diminuir e minimizar sérios prejuízos, tanto para a mãe quanto para o bebê, durante o processo de nascimento, visando ao respeito da assistência obstétrica humanizada e dos diretos das mulheres e das crianças2. É de extrema relevância o acesso às práticas farmacológicas e não farmacológicas para o alívio da dor, no trabalho de parto, pois delega certa autonomia à parturiente, o que permite a ela e ao acompanhante uma participação efetiva na escolha do tipo de parto2. Métodos terapêuticos não convencionais vêm sendo utilizados há milênios por diversos povos e culturas, no cuidado, manutenção e recuperação da saúde. Conhecidos atualmente como Práticas Integrativas e Complementares (PIC), estas estratégias utilizam recursos simples e seguros, convergentes à atenção à saúde da mulher e as propostas de humanização da assistência ao parto e nascimento3. A terapia integrativa aplicada à saúde da mulher, em especial na obstetrícia, engloba inúmeros métodos para alívio da dor, como: mudança de posição, deambulação, exercícios respiratórios, massagem lombossacral, banho de imersão e aspersão, técnicas de relaxamento muscular, método cavalinho, bola suíça, aromoterapia, musicoterapia2,3. Essas práticas integrativas e complementares são definidas pela Portaria de nº 971, de 3 de maio de 2006 do Ministério da Saúde / Gabinete do Ministro, que aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único Saúde4 e pelo decreto nº 5813 de 22 de junho de 2006, aprova a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e dá outras providências5, sendo monitoradas pelo sistema nacional de vigilância sanitária. Com essa política, busca-se atender à demanda da sociedade brasileira, ampliam-se os serviços oferecidos pelo SUS e contribui para a consolidação de políticas de assistência à saúde, ainda mais ampla e segura, que estão distribuídas em Homeopatia, Fitoterapia e Medicina Antroposófica5. Os levantamentos iniciais apontam que as práticas integrativas no alívio da dor são benéficas para a mulher, durante o pré-parto, parto e pós-parto, para tanto este trabalho pretende responder ao seguinte problema de pesquisa: qual a tendência de publicações científicas nacionais no campo das práticas integrativas não farmacológicas no trabalho de parto. As práticas integrativas e complementares estão incluídas no modelo de assistência humanizada, utilizando recursos baratos, simples e seguros. Estas estão mais valorizadas e estudadas por profissionais da área da saúde e inclusive pelas mulheres, ainda no pré-natal, pois se baseia na participação ativa da mulher no processo3. Nos últimos anos, houve uma necessidade de mudança dos modelos de assistência à saúde da mulher, devido às limitações impostas pelo modelo biomédico, em que o ciclo gravídico-puerperal deixa de ser familiar, natural e fisi- ológico, tornando-se um ato institucional e intervencionista, marcado pela medicalização da assistência3. As práticas integrativas, na assistência de enfermagem, podem contribuir para a humanização, manutenção do controle da dor, emoções e ações, durante o trabalho de parto, que é um momento singular para a mulher e sua família3. Diante deste contexto, o objetivo deste trabalho é identificar como as práticas integrativas têm sido discutidas na produção científica nacional. Enfermagem Obstétrica, Rio de Janeiro, 2014 jan/abr; 1(1):25-30. Recebido em: 05/01/2013 – Aprovado em: 29/03/2014 p.26 • Material e métodos Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, feita a partir de uma coleta de dados, em bases científicas, onde se identificou os seguintes tipos de estudo: revisão e estudo de caso. Para elaboração da revisão integrativa, foi utilizada a metodologia proposta por Mendes, Silveira e Galvão6. Essa metodologia tem a finalidade de reunir e sistematizar resultados de pesquisas sobre um delimitado tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, que contribui para aprofundar o conhecimento sobre o tema investigado. Para a construção da revisão integrativa, percorremos seis etapas distintas, descritas abaixo: 1ª etapa: Estabelecer a hipótese ou a pergunta da revisão Inicialmente, estabeleceu-se para esta pesquisa, a seguinte questão norteadora: como as práticas integrativas têm sido discutidas na produção científica nacional. 2ª etapa: Selecionar a amostra a ser revista Para a seleção dos artigos, consultou-se a interface da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), mediante descritores como: saúde da mulher and terapias complementares, dor do parto, trabalho de parto and enfermagem obstétrica, cuidados de enfermagem and parto, musicoterapia and parto. Nesse mesmo site, utilizou-se a Base de Dados de Enfermagem (BDENF), as bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e a Biblioteca Científica Eletrônica Online (SCIELO) para ampliação do estudo. É válido ressaltar que, depois de uma análise criteriosa, foram inclusos somente artigos da base de dados LILACS, pois melhor se adequaram aos critérios de inclusão. Os critérios de inclusão dos artigos definidos para a presente revisão integrativa foram: artigos nacionais, com resumos disponíveis nas bases de dados selecionadas e com período de publicação compreendido entre 2006 a 2012, momento em que as práticas integrativas tornam-se respaldadas por lei no Sistema Único de Saúde (SUS). 3ª etapa: Categorização dos estudos A coleta de dados dos estudos foi realizada por meio de um quadro sinóptico, a partir de um instrumento elaborado por Pompeo, Rossi e Galvão7 e atualizado conforme o necessário, contemplando os seguintes aspectos: referência da publicação, região do Brasil de origem da publicação, título do periódico, base/fonte de dados, ano de publicação, classificação na sistema Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Ensino Superior (CAPES) e tipo de estudo. Lemos IC, Agenor CS, Oliveira DCC, Carvalho FC 4ª etapa: Avaliação dos estudos Para alcançar o objetivo proposto, os artigos foram analisados buscando responder ao teste de relevância I e teste de relevância II, elaborados por Pereira e Bachion8 em anexo. Esses testes são compostos por uma lista de perguntas que geram respostas afirmativas ou negativas, com o intuito de refinar a seleção dos artigos que foram acessados e lidos na íntegra. 5ª etapa: Interpretação dos resultados Após leitura analítica e interpretativa, a apresentação dos resultados desta pesquisa e a discussão foram feitas, de forma descritiva, a fim de possibilitar a aplicabilidade desta revisão em prol da melhoria na prática de enfermagem. Código E01 Estado de origem da publicação Minas Gerais E02 Ceará E03 Goiás E04 Paraná E05 São Paulo E06 São Paulo E07 São Paulo E08 São Paulo E09 Santa Catarina E10 Paraná E11 São Paulo E12 São Paulo E13 São Paulo 6ª etapa: Apresentação da revisão ou síntese do conhecimento A revisão foi apresentada mediante a utilização de tabela e gráficos que melhor demonstram os resultados da pesquisa. Resultado e Discussão Foram identificados 29 artigos na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), após uma análise criteriosa, realizada por meio dos testes de relevância I e II (anexos), foram selecionados 14 artigos da base dados LILACS, os quais se enquadraram nos critérios de inclusão e exclusão. Qualis Tipo de estudo REME – Rev. Min. Enferm. B2 Revisão Rev. RENE. B2 Revisão Davim RMB et al. 2008 Rev. Eletr. Enf B1 Revisão Silva TF, Costa 2011 GAB, Pereira ALF Tabarro CS et al 2010 Cogitare Enferm. Rev Esc Enferm USP Rev Esc Enferm USP B2 Revisão A2 Revisão A2 Relato de Caso Título do periódico Autor Ano de publicação As práticas integrativas e complementares na atenção à saúde da mulher: uma estratégia de humanização da assistência no hospital Sofia Feldman Avaliação do uso de estratégias não farmacológicas no alivio da dor de parturientes. Banho de chuveiro como estratégia não farmacológica no alívio da dor de parturientes Cuidados de enfermagem obstétrica no parto normal. Efeito da música no trabalho de parto e no recém-nascido Efetividade de estratégias não farmacológicas no alívio da dor de parturientes no trabalho de parto. Estratégias não farmacológicas no alívio da dor durante o trabalho de parto: pré-teste de um instrumento. Hidroterapia durante o trabalho de parto: relato de uma prática segura Métodos não farmacológicos para alívio da dor no trabalho de parto: uma revisão sistemática Os cuidados não farmacológicos para alívio da dor no trabalho de parto: orientações da equipe de enfermagem. Recursos não farmacológicos no trabalho de parto: protocolo assistencial Resultados maternos e neonatais em Centro de Parto Normal peri-hospitalar na cidade de São Paulo, Brasil Uso da bola suíça no trabalho de parto Borges MR, Madeira LM, Azevedo VMGO 2011 Davim RMB, Torres GV 2008 Periódicos Davim RMB, Torres GV, Dantas JC. 2009 Davim RMB, Torres GV, Melo ES. 2007 Rev Latino-am A1 Enfermagem Revisão Mazoni SR, Faria DGS, Manfredo VA Gayeski ME, Bruggemann OM. 2009 Arq Ciênc Saúde B3 Relato de Caso 2010 Texto Contexto Enferm A2 Revisão Sescato AC, Souza SRRK, Wall ML. 2008 Cogitare Enferm B2 Revisão Gallo RBS et al. 2011 Femina B3 Revisão Lobo SF et al. 2010 Rev Esc Enferm USP A2 Revisão Silva LM, Oliveira SMJV, Silva FM, Alvarenga MB 2011 Acta Paul Enferm A2 Revisão Figura 1: Descrição dos articos ioncluídos na revisão integrativa. Recebido em: 05/01/2013 – Aprovado em: 29/03/2014 Enfermagem Obstétrica, Rio de Janeiro, 2014 jan/abr; 1(1):25-30 • p.27 Práticas interativas não farmacológicas no trabalho de parto Na análise dos artigos incluídos nesta pesquisa, identificou-se um aumento nas publicações durante o período de 2007 a 2011, não havendo publicações no ano de 2006, tampouco em 2012. Figura 4: Seleção da amostra por profissão do autor principal do artigo publicado. Figura 2: Seleção da amostra por ano de publicação. 8 7 6 5 4 3 2 1 0 7 5 5 4 4 3 3 3 2 2 2 o nh ia ap ho er lin ot va ic a ca us pi M o/ ra c e i at lv pé om o to Ar çã en si im po ov de M ça an o ud çã M la bu r m la ea a cu D íç us m Su la to en Bo o sã am al er cr ax el im sa s R de bo o s m nh lo rio m tó Ba ge ira sa sp re as M ão os ci rs cí pe er as de Ex Ba Os achados da Fig. 2 se justificam pela aprovação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da portaria Nº 971, de maio de 20064. Aliado a essa política, o enfermeiro tem respaldo legal na oferta das práticas integrativas como alívio da dor, mediante uma resolução do COFEN – 197/19979. Segundo o local de publicação dos artigos inclusos nesta pesquisa, a região sudeste obteve o maior número, demonstrando 8 dos 13 estudos analisados, e sendo São Paulo o estado com um maior número. Figura 5: Seleção das terapias integrativas no trabalho de parto, para o alívio da dor. Além disso, a análise demonstrou que o maior número de publicações foi de enfermeiros (autor principal), com apenas um estudo realizado por fisioterapeuta (autor principal). Esse dado demonstra uma disponibilidade maior da equipe de enfermagem, na procura de evidências sobre a real efetividade das práticas integrativas para o alívio da dor da parturiente. Na Figura 5 serão descritas as práticas integrativas, de acordo com a maior prevalência nos artigos analisados e evidenciada a influência destas no alívio da dor, no momento do parto. O banho de aspersão tem como objetivo promover o relaxamento corporal, vasodilatação periférica e redistribuição do fluxo sanguíneo. Esse método eleva as endorfinas e reduz as catecolaminas, diminuindo a ansiedade e propiciando o bem estar da parturiente2. A discussão então levantada nos estudos E03, E04, E06, E07, E08, E10, E11, E12 concluíram que o banho de aspersão propicia alívio da dor das parturientes, durante o trabalho de parto, provocando relaxamento e conforto. Em alguns casos, descreveu-se ainda a diminuição de solicitação de analgesia farmacológica. Os exercícios respiratórios, no trabalho de parto, utilizam o diafragma da parturiente, de forma lenta e profunda, para o aumento da saturação dela2. A prática pode ser aplicada de forma combinada ou isolada e é uma técnica efetiva para o alívio da dor e conforto das parturientes, durante a fase ativa do trabalho de parto, concluídos por E06, E07 e E11. No entanto, o artigo E02 e E04 concluíram que não houve diminuição da dor, mas promoveu redução do nível de ansiedade. A massagem lombossacral é uma técnica em que o profissional ou acompanhante coloca a mão espalmada sobre a projeção do fundo uterino da mulher e a outra mão, também espalmada, sobre a região lombossacral, fazendo movimentos circulares, até acabar a contração uterina10. Todos os estudos identificados sobre essa prática E02, E06, E07, E09, E11 demonstram uma fundamental importância para o alívio da dor e potencialização no processo de relaxamento por meio do toque, diminuindo o estresse emocional e liberando o fluxo sanguíneo para melhor oxigenação dos tecidos, principalmente quando esta intervenção é associada a outras práticas integrativas. Enfermagem Obstétrica, Rio de Janeiro, 2014 jan/abr; 1(1):25-30. Recebido em: 05/01/2013 – Aprovado em: 29/03/2014 Figura 3: Seleção da amostra publicada por região do Brasil. p.28 • Lemos IC, Agenor CS, Oliveira DCC, Carvalho FC A eficácia do banho de imersão no alívio da dor e na evolução do trabalho do parto não está bem comprovada, porém alguns autores relatam a existência de evidências cientificas quanto a esse assunto, apesar de ser este um recurso pouco utilizado nas instituições hospitalares brasileiras, devido à ausência de banheiras disponíveis para este fim2. Assim como no banho de aspersão, os estudos E08, E09, E11, E12 concluíram que o banho de imersão também propicia alívio da dor das parturientes, durante o trabalho de parto, provocando relaxamento e conforto. A técnica de relaxamento muscular demonstra que a parturiente é orientada a relaxar, soltar os membros superiores e inferiores até o momento em que a contração termina11. De acordo com os artigos analisados E02, E06, E07 e E11, demonstram que a real finalidade da prática é o relaxamento do tônus muscular, e consequentemente diminuição da ansiedade. Mas é válido ressaltar que três (E02, E06 e E07) dos quatro artigos que evidenciam essa prática foram escritos pelo mesmo autor. A bola Suíça (fisioball) consiste em uma bola de borracha inflável, utilizada no trabalho de parto, para auxiliar na descida e rotação fetal12. Para tanto, estudos feitos nessa área como E11 e E12 demonstram que sua empregabilidade instiga a posição vertical na mulher, proporciona liberdade na adoção de diferentes posições e, além disso, trabalha a musculatura pélvica e oferece à mulher um conforto físico e psicológico, no momento do parto. É válido ressaltar que o estudo E13 destaca importantes questões que ainda são pouco esclarecidas sobre essa prática, como a segurança da mulher ao utilizá-la, a limpeza da superfície para prevenir a contaminação cruzada e ainda são necessários estudos que demonstrem qual o momento adequado para a utilização desse recurso, no trabalho de parto. A deambulação tem como vantagem a ação da gravidade para a descida do feto, além de tornar as contrações menos dolorosas e mais produtivas13. No entanto, pesquisas realizadas e concluídas por E04, E07, E11 descrevem que a deambulação é uma das técnicas menos utilizadas, devido, em alguns casos, a infusão de ocitocina trazer certo incômodo, aumentando as contrações e dificultando a deambulação e, em outros, a técnica não ser avaliada, devido ao baixo número de aceitação pelas parturientes. No estudo E11 demonstrou-se que o método não é eficaz, comprovando que as parturientes que deambulavam nas primeiras três horas do trabalho de parto tinham um aumento significativo na dilatação, mas não na diminuição do nível de dor. A literatura descreve que a gestante ao mudar de posição, acelera o trabalho de parto, pois conta com a ajuda da gravidade para a descida do feto e mudanças no formato da pelve, além de trazer conforto e aumentar o retorno sanguíneo13. Relacionado a esse assunto, três artigos descrevem os resultados comprovados na prática em E04, E11, E13 os quais demonstraram ser eficientes, aumentando a velocidade da dilatação cervical, diminuindo a compressão da veia cava e artéria aorta, contribuindo também para um maior controle da mulher na tolerância à dor, o que reduz ou até evita o uso de fármacos. O método cavalinho ou movimento pélvico é realizado com um equipamento que consiste de um assento com apoio para os braços favorecendo uma posição sentada, com as costas inclinadas para frente, promovendo assim o balanço pélvico14. Dentre os artigos, E04 e E10 concluíram que a livre movimentação, permitida pela técnica, diminui a dor e a duração do primeiro estágio do trabalho de parto. A prática alternativa, descrita como aromaterapia nos artigos E01 e E09, demonstram que essa técnica associada à humanização do ambiente proporcionam equilíbrio, paz e aconchego no momento do parto, reduzindo, consequentemente, a dor, a ansiedade e o medo, na maioria das pacientes estudadas. É importante ressalvar que ainda não está esclarecido o mecanismo de ação, mas o que se sabe é que as essências excitam o organismo para a produção de substâncias que são relaxantes e tranquilizantes3. Segundo E09, há uma maior redução da dor em nulíparas em relação às multíparas. Vale destacar que, segundo os resultados neonatais, há uma menor admissão de recém-nascidos na UTIN (Unidade de Terapia Intensiva Neonatal), com o uso dessa prática. Segundo E01 e E05, a musicoterapia é uma ciência que estuda os resultados terapêuticos da música, no ser humano. De acordo com relatos desses estudos, essa prática obteve bons resultados, pois aliviam a dor durante as contrações, minimizam a sensação de medo e tensão, proporcionando que o local seja um ambiente agradável, estimulando, assim, a espiritualidade e as orações15. Recebido em: 05/01/2013 – Aprovado em: 29/03/2014 Enfermagem Obstétrica, Rio de Janeiro, 2014 jan/abr; 1(1):25-30 • p.29 Conclusão Segundo as práticas integrativas demonstradas neste estudo, conclui-se que as terapias integrativas como: banho de aspersão e imersão, massagem lombossacral, relaxamento muscular, mudança de posição, método cavalinho ou movimento pélvico, aromaterapia e musicoterapia contribuem sim para diminuir a dor durante o trabalho de parto. Atividades como exercícios respiratórios – como foi possível observar em E06, E07 e E11 – realmente alivia a dor da parturiente. Os artigos E02 e E04 revelam que não há um alívio da dor e sim uma redução da ansiedade, no momento do parto, o que, de certa forma, não deixa de ser positivo. Esta pesquisa também evidenciou que a deambulação não diminui a dor, mas aumenta a dilatação do colo uterino diminuindo, consequentemente, o tempo de trabalho de parto. Já a bola suíça traz um conforto físico e psicológico para a mulher, mas também não suaviza a dor desse momento. Conclui-se que, apesar de as terapias integrativas se mostrarem efetivas, seguras e serem de baixo custo, há uma deficiência em sua aplicabilidade nos hospitais brasileiros, devido a não terem uma estrutura física adequada para aplicação de algumas práticas. Além disso, termos relativamente poucos estudos acerca dos benefícios dessas técnicas analisadas, para o alívio da dor, no trabalho de parto. Nesta revisão, evidenciou-se ainda que, no ano de 2011, houve maior abordagem desse tema em artigos científicos e que a maioria dos artigos analisados foi escrito por profissionais da área da enfermagem, o que sugere Práticas interativas não farmacológicas no trabalho de parto que estes estão preocupados em preservar o processo de parturição, garantindo uma experiência menos dolorosa e mais agradável à mulher. Além disso, notou-se também que a lei que aprova as práticas integrativas no Brasil é relativamente recente, para tanto, se faz necessário que as equipes multidisciplinares do âmbito da saúde se preparem e propaguem esse novo modelo de cuidado. 1. Silva TF, Costa GAB, Pereira ALF. Cuidados de enfermagem obstétrica no parto normal. Cogitare Enferm. 2011; 16(1):82-7. 2. Gallo RBS, et.al. Recursos não-farmacológicos no trabalho de parto: protocolo assistencial. Femina. Jan 2011.v.39.n 1. 3. Borges MR, Madeira LM; Azevedo VMGO. As práticas integrativas e complementares na atenção à saúde da mulher: uma estratégia de humanização da assistência no Hospital Sofia Feldman. Rev. Min. Enferm. 2011; 15(1):105-13. 4. Brasil. Portaria nº 971, de 3 de maio de 2006. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/PNPIC.pdf. 5. 2a - Brasil. Decreto nº 5813 de 22 de junho de 2006, aprova a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e dá outras providências 6. Mendes KDS, Silveira RCCP and Galvão, CM. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto contexto - enferm. 2008; 17(4):758-64. 7. Pompeo DA, Rossi LA and Galvão CM. Revisão integrativa: etapa inicial do processo de validação de diagnóstico de enfermagem. Acta paul. enferm. 2009; 22(4):434-8. 8. Pereira AL, Bachion MM. Atualidades em revisão sistemática de literatura, critérios de força e grau de recomendação de evidência. Revista Gaúcha de Enfermagem, 2006; 27(4):491-8. 9. COFEN. Resolução do COFEN-197/1997. Estabelece e reconhece as Terapias Alternativas como especialidade e/ou qualificação do profissional de Enfermagem. Disponível em: http://novo.portalcofen.gov.br/resoluocofen-1971997_4253.html. 10. Davim RMB, Torres GV. Avaliação do uso de estratégias não farmacológicas no alívio da dor de parturientes. Rev.Rene.Fortaleza, 2008; 9(2):64-72. 11. Davim RMB, Torres GV, Dantas JC. Efetividade de estratégias não farmacológicas no alívio da dor de parturientes no trabalho de parto. Rev. esc. enferm. USP, 2009; 43(2):438-45. 12. Silva LM, Oliveira SJV, Silva FMB, Alvarenga MB. Uso da bola suíça no trabalho de parto. Acta paul. enferm. 2011; 24(5):656-62. 13. Ricci SS et al. Enfermagem Materno-Neonatal e Saúde da Mulher. Rio de Janeiro (RJ): Ed Guanabara Koogan, 2008, p. 211 – 212; 256 - 257; 266. 14. Sescato AC, Souza SRRK; Wall ML. Cuidados não-farmacológicos para alívio da dor no trabalho de parto: orientações da equipe de enfermagem. Cogitare Enferm, 2008;13(4):585-90. 15. Tabarro CS, et al. Efeito da música no trabalho de parto e no recémnascido. Rev.EscEnferm USP. 2010; 44(2)445-52. Enfermagem Obstétrica, Rio de Janeiro, 2014 jan/abr; 1(1):25-30. Recebido em: 05/01/2013 – Aprovado em: 29/03/2014 Referências p.30 •