Casos Clínicos Patrícia A. Hoffee. GENÉTICA MÉDICA MOLECULAR, 1998 Caso clínico 1 Marie e George levaram seu filho Jerry ao pediatra para uma visita rotineira. Jerry, com 14 meses de idade, tem sido uma criança normal e ativa. Marie informou ao pediatra que há pouco tempo ela notou que o olho esquerdo de Jerry começou a cruzar e ele frequentemente esfregava o olho. O pediatra examinou os olhos de Jerry e encontrou um reflexo pupilar branco no olho esquerdo, mas não no direito. O pediatra recomendou que Marie e George levassem Jerry a um oftalmologista para exame. Marie ficou muito preocupada e perguntou ao pediatra se era possível que Jerry tivesse um tumor em seu olho. O pediatra, vendo o sofrimento de Marie, tentou acalmála e disse que isto era possível, mas era muito cedo para ter certeza. Seriam necessários mais testes para diagnosticar com exatidão o problema. Ele então perguntou a Marie e George se eles ou alguém em suas famílias tinha tido um tumor ocular. Ambos disseram que não sabiam de ninguém, mas que iriam verificar. Caso clínico 1 No dia seguinte, Marie telefonou ao pediatra para dizer que Jrry tinha uma consulta no oftalmologista em 2 dias. Ela também disse ao pediatra que ninguém consultado em suas famílias tinha tido um tumor ocular. O pediatra explicou a Marie que os tumores oculares, conhecidos como retinoblastomas, podem se transmitir nas famílias e podem ser herdados. Entretanto, como não havia incidência de retinoblastoma nas famílias dos genitores, ou Jerry não tinha retinoblastoma, ou, se tivesse, seria causado por uma mutação nova. Se o exame ocular indicasse que Jerry tinha retinoblastoma, eles seriam capazes de determinar a base genética da doença com testes moleculares diretos. Um tanto hesitante, Marie disse ao pediatra que havia um problema adicional que ela inicialmente não queria revelar. George não era o pai biológico de Jerry, e Marie não sabia exatamente onde estava seu pai verdadeiro. Ela disse ao pediatra que esta informação era confidencial, a menos que se tornasse um fator decisivo no tratamento da condição de Jerry. O pediatra garantiu a Marie que a informação seria mantida em segredo. Resolução Caso clínico 2 O Sr. e a Srª. Smith e seu filho de 2 anos e meio, Mark, foram encaminhados ao departamento de genética médica para uma avaliação. Mark nasceu com anomalias congênitas múltiplas e tem um moderado retardo de desenvolvimento e um grave retardo de linguagem. A Srª Smith também está preocupada com o risco de recorrência para a sua gestação atual (12 semanas). O geneticista foi informado de que a Srª Smith já teve 2 abortos espontâneos (13 e 18 semanas) desde que Mark nasceu. Uma revisão da história médica de Mark indicou que ele era produto de uma gestação complicada por retardo de crescimento intra-uterino (IUGR) e uma ativa infecção de hepatite B em sua mãe, com 22 anos e primigrávida. Ele nasceu de 39 semanas por uma cesariana programada, devido a uma apresentação de nádegas. Seu peso foi de 1200g e seu exame físico era normal exceto pelo IUGR, testículos bilateralemnte não descidos, e duas covinhas pilonidais. Ele precisou de oxigênio devido a um leve sofrimento respiratório e permaneceu no hospital por 3 semanas devido a pouca alimentação, sofrimento respiratório e uma infecção ocular. Um exame oftalmológico revelou que eles tinha albinismo ocular. A avaliação de seu desenvolvimento indicou uma resposta evocada auditiva anormal (BAER), função e comportamento automotor anormal, e audição anormal. Caso clínico 2 Por ocasião da alta hospitalar, o neonatologista recomendou um acompanhamento e uma avaliação genética, que não foram seguidos. O exame físico indicou que Mark estava em boa saúde exceto por recorrentes bronquites e otite média. Sua altura e peso estavam abaixo do 5° precentil, e ele demonstrava múltiplas anomalias, as quais incluíam braquicefalia com um ocipúcio achatado, nariz antevertido com um filtro plano e fino lábio superior, pregas epicânticas, boca com queda nos cantos, palato estreito e ogival, orelhas de implantação baixa e com rotação posterior, clinodactilia bilateral do quinto dedo, e testículos não descidos. Seu desenvolvimento psicomotor era marcado por retardo no início, mas aos 2 anos e meio, ele era capaz de andar e subir mas não de correr. A história familiar do Sr. Smith não tinha nada de incomum. Entretanto, a Srª Smith revelou informações potencialmente importantes em relação ao distúrbio de Mark. A mãe da Srª Smith teve 11 gestações reconhecidas que resultaram em apenas 3 nativivos e oito abortos espontâneos. A Srª Smith era a mais velha dos 3 filhos, seguida de uma irmã com 19 anos e um irmão com 15 anos. Além disso, a história familiar também indicou que o pai de Mark não era o pai da atual gestação. O genetiscista pediu amostras de sangue da Srª Smith e de seu filho para análise citogenética. Resolução Caso clínico 3 O Sr. e a Srª Green, ambos caucasianos, se apresentaram para uma consulta genética sobre fibrose cística (CF) porque a Srª Green tinha hitória familiar positiva. O Sr. Green era adotado e , assim, não conhecia sua família biológica. Eles queriam conhecer suas chances de ter um filho com CF. A CF é um dos distúrbios genéticos mais comuns nos caucasianos americanos, afetando aproximadamente 1 em 2500 neonatos caucasianos. Ela foi identificada clinicamente em 1938, e foi originalmente chamada de “fibrose cística do pâncreas” devido às lesões fibróticas que se desenvolvem no pâncreas. O pâncreas é incapaz de secretar enzimas digestivas na maioria dos pacientes com CF, o que eventualmente leva à má nutrição. As glândulas sudoríparas são anormais, resultando em altos níveis de cloreto no suor. Aproximadamente 10% dos neonatos com CF têm mecônio íleo. Mais de 95% dos homens com CF são estéreis devido a anomalias no vas deferens. A complicação mais grave da CF é a obstrução dos pulmões por um muco espesso que não pode ser efetivamente eliminado, o que aumenta muito o risco de infecções pulmonares. Resolução Caso clínico 4 Lisa, uma mulher com 28 anos de idade, grávida (idade gestacional de 18 semanas), visitou seu obstetra para um exame. O obstetra notou a presença de manchas cafè au lait em sua perna esquerda durante um exame pré-natal rotineiro e recomendou que ela consultasse seu médico para um exame. Ele não viu nenhum neurofibroma em um exame limitado da pele, embora não tenha examinado o corpo todo. Não havia escoliose clinicamente óbvia, embora Lisa tivesse aparentemente uma cabeça grande. Ela possuía muitas sardas. Lisa não se lembrava de nenhum membro na família com problemas médicos, mas seu irmão com 22 anos de idade tinha pontos similares na pele, e um sobrinho de 8 anos tinha sardas e dificuldade de aprendizagem. O médico mandou Lisa a um oftalmologista para um exame de retina e notificou o oftalmologista para um exame de retina e notificou o oftalmologista de que a paciente tinha um possível diagnóstico de neurofibromatose. Resolução Caso clínico 5 Durante o exame pré-nupcial, o médico de Mary e Edmund obteve uma história médica e familiar como parte de sua avaliação. Em vista da boa saúde tanto de Edmund quanto de Mary, e de uma história totalmente negativa, o médico achou que eles teriam apenas o risco que todos t~em de ter um filho com grave defeito de nascimento, que é de cerca de 3%. Após 2 anos de casamento, Mary engravidou . O obstetra verificou a gravidez com 10 semanas, e relatou que Mary pareceia estar em boa saúde. Após uma gravidez normal, o casal teve uma menina saudável. Dezoito meses depois, Mary engravidou novamente, e marcou uma consulta de rotina com seu obstetra por volta de 8 semanas. O obstetra disse que tudo parecia normal, e perguntou se Mary estava interessada em testes diagnósticos pré-natais, particularmente a triagem tripla. O obstetra indicou que a triagem tripla ajudaria a determinar se ela tinha um risco aumentado de ter uma criança com vários defeitos de nascimento, incluindo defeitos de tubo neural aberto (ONTDs) (anencealia, espinha bífida cística) e síndrome de Down. Devido a suas crenças religiosas, Mary não quis fazer a triagem. Caso clínico 5 Como todos os outros fatores estavam normais, ela achou que as chances de ter uma criança com um defeito de nascimento eram pequenas. Seu obstetra concordou com isto. Entretanto aos 4 meses, um ultra-som de rotina para determinar o crescimento do feto revelou um achado suspeito na área lombar. Foi feita uma sonografia diagnóstica, a qual revelou uma pequena massa cística. O casal foi avisado de que a criança tinha espinha bífida cística. O obstetra descreveu a espinha bífida cística como sendo parte de uma ONTD, um defeito comum mas grave. Na maioria das áreas dos EUA, a incidência de ONTDs (anencefalia, espinha bífida cística) é de pouco mais que 2 por 1000 por ano, com uma prevalência de nascimento de anencefalia de 1 em 1000 e para a espinha bífida cística, um pouco menos que 1 em 1000. O obstetra explicou que durante a embriogênese, o sulco neural completa seu fechamento no 25º dia de gestação. Se a cabeça do embrião (porção cefálica) não se fecha, a criança nasce com anencefalia. Se a extremidade inferior do sulco neural não se fecha, a criança nasce com espinha bífida cística, que podeenvolver as áreas cervical, torácica ou lombar. Resolução Caso clínico 6 Uma mulher com 38 anos apresenta-se a seu médico com 8 semanas desde seu último período menstrual para os cuidados pré-natais de rotina. Esta é sua primeira gestação, após muitos anos de infetilidade. Sua história familiar é negativa quanto a qualquer fator que coloque sua gestação em risco de distúrbios genéticos. A história médica anterior não revela condições médicas na paciente. Devido à idade da paciente, o obstetra a encaminha para uma consulta genética com o intuito de discutir o diagnóstico pré-natal Resolução Resolução do caso clínico 1 Após examinar Jerry, o oftalmologista suspeitou que o menino tinha o retinoblastoma e o mandou para o hospital para um exame mais minuncioso de ambos os olhos. O exame foi feito sob anestesia geral e revelou 2 tumores em seu olho esquerdo, um com o tamanho mais ou menos de uma ervilha e o outro no estágio de tumor focal. Em seu olho direito, havia também um foco tumoral, indicando o começo de um terceiro tumor. Foram feitos outros testes, inclusive ressonância magnética e ultra-sonografia, mas eles falharam em revelar outros tumores em outros tecidos de seu corpo. Após discutir os resultados com Marie e George, o oncologista recomendou um curso inicial de radioterapia. Ele também sugeriu que os genitores se submetessem a uma análise genética, de modo que pudessem ser informados quanto à possível transmissão da doença para uma futura prole. Marie disse ao médico que ninguém nas famílias deles, inclusive eles próprios, teve tumores oculares, e que ela não compreendia como eles podiam ter um defeito genético que causou o problema de Jerry sem ter apresentado os sintomas. Resolução do caso clínico 1 O oncologista explicou a Marie e George que, às vezes, uma pessoa pode ter uma alteração genética e não manifestar a doença a doença devido à falta de penetrância. Este, as vezes é o caso do retinoblastoma. O oncologista pegou uma folha de papel e desenhou um diagrama para mostrar a Marie e George como o retinoblastoma é herdado. Aproximadamente 40% dos casos de retinoblastoma são genéticos, e herdados como uma característica autossômica dominante. Os 60% restantes surgem como mutações novas. Quando a doença é de origem familiar, o paciente a desenvolve mais cedo, e ela é caracterizadapor uma distribuição bilateral com tumores ocorrendo em ambos os olhos. Na forma genética da doença, a pessoa afetada herda um alelo defeituoso, que está presente em todas as célulasdo corpo. Entretanto, isto não significa que todas as células sejam cancerosas, ou que irão se desenvolver em células cancerosas. Para que um tumor se desenvolva, deve haver uma segunda mutação que ocorra nas células somáticas. Com o retinoblastoma, há uma alta incidência da segunda mutação ocorrendo nas células do olho. Tendo herdado um gene defeituoso, a segunda mutação que ocorre no outro alelo do gene, conhecido como gene Rb, resulta na perda de uma proteína supressora tumoral. A função desta proteína é evitar o desenvolvimento de tumor. Resolução do caso clínico 1 No caso de Jerry, cada célula no corpo é provavelmente defeituosa em um alelo do gene Rb, e nas células tumorais, o segundo alelo também é defeituoso. Uma pessoa pode herdar o alelo defeituoso mas não desenvolver uma mutação no segundo alelo do gene Rb. Assim , embora uma pessoa possa ter o defeito genético, ele nunca se expressa como tumor no olho. O oncologista disse a Marie e George que sua condição de portadores e a base molecular da doença de Jerry podia ser determinada por um teste molecular. Os genitores concordaram com o teste particularmente quando o oncologista explicou que há um aumento do risco de pessoas que tenham o gene Rb defeituoso desenvolveram osteossarcoma ou tumores ósseos mais tardedurante a vida. Jerry corre risco de desenvolver esses tumores, e precisará fazer exames regulares para monitorar o desenvolvimento de outros tumores. Após a radioterapia, o prognóstico de Jerry era bom. O grande tumor em seu olho esquerdo diminuiu significativamente e ambos os focos tumorais desapareceram. Marie e George, bem como Jerry, forneceram amostras de sangue para um diagnóstico molecular da doença. Marie não disse ao oncologista que George não é o pai biológico de Jerry. Resolução do caso clínico 1 Os resultados da análise molecular indicaram que nem George nem Marie tinham uma mutação no gene Rb. Entretanto, a análise cromossômica mostrou que em todas as células de Jerry havia uma deleção em um de seus cromossomos na posição do gene Rb. O oncologista sugeriu que a mutação mais provavelmente teria ocorrido no espermatozóide do pai, e assim estava presente em todas as células de Jerry, embora nenhum dos genitores fosse portador. Marie não disse nada, sabendo que mesmo que contasse que George não era o pai biológico de Jerry, o resultado para o menino seria o mesmo. Ela se confortou em saber que nenhum filho que ela e George tivessem teria um risco maior de desenvolver retinoblastoma que a população em geral. Um ano após a radioterapia, Jerry permanecia livre de tumor. O oncologista recomendou que os pais trouxessem Jerry regularmente para continuar a monitorar qualquer outro desenvolvimento de tumor. Aos 4 anos de idade, um novo tumor foi encontrado no olho esquerdo de Jerry. Como o tumor ainda era pequeno, o oncologista sugeriu que fosse tentada uma crioterapia, um processo no qual o tumor é congelado a 27°C. o tumor foi congelado por 30 a 60 segundos, e o processo foi repetido 3 vezes. Foram formados microcristais no tumor e o destruíram. Resolução do caso clínico 1 A crioterapia foi bem-sucedida e Jerry permaneceu livre de tumores oculares por 3 anos. Ele continuou a fazer exames regulares e rotineiramente é testado quanto a um possível sinal de osteossarcoma. Além disso, ele tem uma vida saudável normal. Marie e George têm uma filha com 3 anos de idade sem sinais de retinoblastoma. Caso Clínico 2 Resolução do caso clínico 2 Os Smith voltaram para uma nova consulta de acompanhamento 2 semanas depois para discutir os resultados da análise citogenética. Os resultados indicaram que Mark tinha uma deleção parcial da parte terminal do braço curto do cromossomo 17 na anda p13. A deleção era muito pequena mas podia ser vista com o bandeamento cromossômico de alta resolução. Esta deleção está comumente associada à síndrome de Miller-Dieker, que é uma síndrome de múltiplas malformações caracterizadas pelo tipo de lissencefalia, convulsões, grave retardo mental e um aspecto facial típico. Características faciais incluem testa proeminente com cristas e sulcos de tecido mole, depressão bitemporal e um nariz curto com nostrilos elevados, lábio superior protuberante, borda avermelhada do lábio superior e uma mandíbula pequena. A maioria das crianças que nasce com síndrome de Miller-Dieker tem insuficiência pós-natal de desenvolvimento e morre em geral antes dos 2 anos de idade. O geneticista achou os resultados de Mark curiosos porque ele só tinha algumas das características associadas à síndrome de Miller-Dieker. Solicitou então que o laboratório confirmasse o diagnóstico usando FISH com uma sonda específica para a região Miller-Dieker no cromossomo 17. Resolução do caso clínico 2 Os resultados desses estudos indicaram que Mark não tinha a deleção desta região no cromossomo 17. Sua deleção era menor e mais terminal, o que provavelmente contribuiu para seu fenótipo mais brando. O cromossomos da Srª Smith pareciam ser normais. Com base nesses resultados, o geneticista achou que a deleção de Mark era mais provavelmente uma mutação nova, e que a atual gestação da Srª Smith não tinha um risco aumentado de uma condição genética similar. Seis semanas depois, o geneticista recebeu um telefonema do laboratório de citogenética. A Srª Smith havia feito uma amniocentese com 18 semanas devido a um resultado anormal de AFP de soro materno, o que indicava que ela corria risco aumentado de ter um feto com síndrome de Down. Os resultados da análise citogenética do líquido amniótico da Srª Smith revelaram que o feto tinha uma deleção no cromossomo 17p13, similar à que foi observada no filho dela. O laboratório desejava fazer um teste adicional com sonda FISH correspondente à região subtelomérica do cromossomo 17 em p13.3 na amostra do líquido amniótico, bem como nas amostras de sangue da mãe e de Mark. Os resultados da análise FISH estariam disponíveis no dia seguinte. Resolução do caso clínico 2 O geneticista aprovou o teste adicional e marcou uma nova consulta de acompanhamento para o dia seguinte. Os resultados da análise FISH indicaram que tanto a Srª Smith quanto o feto feminino eram portadores de uma translocação balanceada entre o braço curto do cromossomo 17 e o braço longo do cromossomo 9. Entretanto, Mark só tinha o cromossomo derivativo 17, o que o tornava um portador não balanceado, com trissomia parcial da parte terminal do braço longo do cromossomo 9 e monossomia parcial da parte terminal do braço curto do cromossomo 17. Quando o Sr. e a Srª Smith chegaram, o médico explicou os resultados da análise FISH. Ele destacou que embora o feto parecesse ter uma deleção, todo o material genético ainda estava presente na quantidade correta. Como a Srª Smith tinha um fenótipo normal, era esperado que o feto também fosse normal. O motivo pelo qual a deleção não havia sido originalmente detectada na amostra de sangue da Srª Smith era mais provavelmente devido a uma baixa resolução do bandeamento. Resolução do caso clínico 2 O médico revisou a história familiar da Srª Smith e explicou que seus 2 abortos eram provavelmente devidos à presença de um complemento cromossômico não balanceado em cada uma das gestações. Entretanto, como não tinha sido feito um exame citogenético nesses conceptos, seria possível confirmar isto. Ele também sugeriu que um dos genitores da Srª Smith poderia ser portador de uma translocação balanceada, com base na história de múltiplos abortos. Seria importante que seus pais e irmãos cedessem uma amostra de sangue para análise citogenética, de modo a poder excluir uma translocação críptica familiar. Se os irmãos da Srª Smith também fossem portadores da translocação balanceada, então eles teriam um risco aumentado de ter filhos com anomalias cromossômicas, bem como múltiplos abortos. A Srª Smith concordou em transmitir essa informação para sua família, e disse ao médico que entraria em contato com ele caso ele se dispusessem ao teste. Caso Clínico 3 Resolução do caso clínico 3 A figura mostra o Sr. e a Srª Green, incluindo a família da Srª Green. Esse padrão familiar exibe as características de um distúrbio autossômico recessivo. Resolução do caso clínico 3 A CF é um distúrbio autossômico recessivo presente em aproximadamente 1/2500 neonatos caucasianos. Portanto, a freqüência do alelo CF é a raiz quadrada de 1/2500 = 1/50, e a frequência do alelo normal é 1-(1/50)=(49/50), ou aproximadamente 1,0. Pelas expectativas do equilíbrio de Hardy-Weinberg, a freqüência de portadores (heterozigotos) é de 2 x (1/50) x 1 = 1/25. Isto é aproximadamente 1/25 caucasianos são portadores de fibrose cística. Se não houvesse nenhuma informação sobre a históriafamiliar dos Green, a chance de ambos serem heterozigotos seria de 1/25 x 1/25 = 1/625. Então, a chance de ter um filho afetado seria de ¼ (a probabilidade que 2 heterozigotos tenham um filho afetado) x 1/625 = 1/2500 (a incidência populacional da CF) A Srª Green é irmã de uma mulher com CF, portanto, sua chance de ser portadora é de 2/3. O Sr. Green não tem história familiar conhecida , portanto sua chance de ser um portador é aproxiamdamente 1/25. Assim, a chance de que tanto o Sr. e a Srª Green sejam portadores é de 2/3 x 1/25 = 2/75. Geralmente , ¼ da prole de dois heterozigotos será afetada. O risco do casal ter uma prole com CF é de ¼ x 2/75 = 1/150, que risco geral da população (incidência), de 1/2500 nascimentos. Resolução do caso clínico 3 Usando a análise de ligação entre CF e marcadores polimórficos do DNA, a CF foi mapeada no cromossomo 7 em 1985 por pesquisadores em Londres, Toronto e Salt Lake City. O gene foi clonado em 1989 por pesquisadores de Michigan e Toronto, e descobriu-se que codifica uma proteína chamada regulador transmembranar de fibrose cística (CFTR). Foram feitos muitos esforços para caracterizar o locus CFTR, suas mutações e seu produto proteico. O locus é grande (aproximadamente 250Kb), e inclui 27 éxons. A CFTR está envolvida no transporte de íons de Clatravés de membranas de c´lulas epiteliais especializadas. Hoje em dia, o sequenciamento do DNA já descobriu mais de 300 mutações possíveis (alelos) do locus CFTR. Um alelo chamado ∆F508 (por uma deleção de fenilalanina na posição 508 do produto proteico) é o mais comum, contribuindo com aproximadamente 70% das mutações entre caucasianos. O DNA da Sra Green foi examinado quanto às variantes mais comuns de CFTR usando métodos baseados em PCR. Descobriu-se que ela era portadora da mutação ∆F508. Em vista dos resultados da Srª Green também foi examinado quanto ∆F508, e ele não era portador. Portanto, a Srª Green é heterozigota, e o Sr. Green é homozigoto não afetado, logo, essencialmente não há risco de que eles tenham um filho afetado pela CF. A disponibilidadedos testes para alelos de CFTR reduz seu risco de 1/150 (baseado na história familiar e incidência populacional da CF) para aproxiamdamente 0. Caso Clínico 4 Resolução do caso clínico 4 Lisa voltou ao seu médico para uma consulta de acompanhamento. O relato do oftalmologista diz que Lisa tem múltiplos nódulos de Lisch mas não dá um diagnóstico específico. Não havia opacidades lenticulares posteriores présenis (cataratas). O médico informou a Lisa que ela de fato tinha NF1. Lisa imediatamente entrou em pânico e perguntou sobre as implicações do diagnóstico para ela e seu filhos ainda não nascido. O médico garantiu a Lisa que a maioria dos casos de NF1 é de natureza relativamente benigna, tal como o dela. Um dos problemas mais difíceis seria se o diagnóstico de NF1 tivesse sido incluído no relato de seu oftalmologista, o que poderia ter futuras implicações com relação a fazer um seguro ou mesmo conseguir um emprego. Lisa perguntou se existem outros testes que pudessem confirmar o diagnóstico. O médico informou que não havia necessidade de outros testes porque ela atendia o mínimo de 2 critérios: 6 manchas café au lait e a presença de pelo menos 2 nódulos de Lisch. Ele ainda assegurou a Lisa que , mais provavelmente, seu filho seria apenas brandamente afetado, mas o risco de recorrência de seu filho é de 50%, devido ao padrão de herança dominante da doença. Resolução do caso clínico 4 A doença também apresenta uma alta taxa de mutação, dificultando o uso de testes genéticos para o diagnóstico, pois muitas das mutações que ocorrem são novas e não facilmente detectadas pelos métodos atuais. Além disso, mesmo que a criança seja diagnosticada tendo NF1, não há modo de prever a gravidade clínica da doença. As condições que podem ser vistas na criança incluem as manchas café au lait e os nódulos de Lisch, como Lisa tem. Adicionalmente, as mudanças de visão e audição ou um pouco de escoliose podem se desenvolver, bem como crescimentos benignos que ocorrem ao longo dos nervos (neurofibromas). Infelizmente, não há modo de determinar se a criança será mais gravemente afetada ou menos, ou do mesmo modo que Lisa. Seis meses depois Lisa voltou ao médico com sua filha. Após examinar cuidadosamente a menina, o médico não encontrou manchas café au lait ou outros sinais que possam indicar que a criança herdou a NF1 da mãe. Após ouvir as boas novas Lisa ficou bastante alegre. Entretanto o médico repetiu o que já havia dito antes. A NF1 é uma doença herdada dominantemente, e cada filho que ela venha a ter terá um risco de 50% de herdar a condição. Caso Clínico 5 Resolução do caso clínico 5 O obstetra de Mary e Edmund encaminhou o casal a um geneticista clínico que revisou suas histórias médica e familiar. O obstetra explicou que os ONTDs são em geral herdados multifatorialmente, significando que existem muitos genes tanto em Mary quanto em Edmund que determinam o fechamento mais lento que o normal do sulco neural, e que talvez existam fatores ambientais que precipitaram o defeito de nascimento em seu filho ainda não nascido. A equipe médica também explicou aos genitores a necessidade de monitorar cuidadosamente a espinha bífida cística quanto a seu tamanho e se ainda permanecia coberta pela pele . Eles indicaram que se o cisto permanecesse relativamente pequeno e coberto pela pele, eles poderiam recomendar um parto vaginal. Entretanto, se o cisto fosse rompido (se não ficasse coberto pela pele), e a coluna dorsal fosse exposta à pressão do útero em contração, seria mais seguro fazer uma cesariana antes que Mary entrasse em trabalho de parto. Mary e Edmund perguntaram a seu geneticista médico e ao neurocirurgião sobre o futuro de seu filho ainda não nascido. Eles disseram que, de certo modo, isto dependeria da extensão da lesão e se as meninges e a pele cobririam a espinha bífida cística. Resolução do caso clínico 5 Se o cisto se abrisse, expondo a coluna à infecção, haveria uma chance muito grande de que a criança tivesse distúrbio de funcionamento de sistema nervoso, particularmente no tronco inferior e nas pernas . Muitas dessas crianças também têm falta de controle da bexiga e do intestino, devido a um dano durante o desenvolvimento e de aporte aos nervos que suprem esses órgãos. Os genitores também foram alertados de que, infelizmente, a maioria das crianças com espinha bífida cística (aproximadamente 80%) desenvolve hidrocefalia. Na maioria das clínicas neurocirúrgicas de espinha bífida, isto é acompanhado atentamente de modo que na primeira indicação de hidrocefalia seja corrigida. A filosofia de tratar a espinha bífida cística hoje em dia é muito diferente do que era nas décadas de 40 e 50, pois percebeu-se que muitas das crianças com espinha bífida cística, se forem tratadas precocemente, podem ter uma vida bem produtiva, e tomar parte da maioria das funções na sociedade. Resolução do caso clínico 5 O médico geneticista informou a Mary e Edmund sobre alguns novos achados na prevenção de ONTDs. Ele citou as extensas pesquisas feitas durante os últimos 40 anos, primeiro em animais e depois em crianças, envolvendo o ácido fólico, uma das vitaminas B. As pesquisas mostram que começando com esta vitamina 2 meses antes da concepção é possível reduzir o número de casos de ONTDs. Recentemente, para reduzir a freqüência de ONTDs e seus resultados, o U.S. Public Health Service recomenda que todas as mulheres em idade reprodutiva nos EUA, que são capazes de ficar grávidas, devem consumir 0,4mg de ácido fólico pr dia para reduzir seu risco de ter uma criança afetada por espinha bífida e outros ONTDs. Como os efeitos das altas ingestões não sem bem conhecidos mas incluem a complicação do diagnóstico de deficiência de vitamina B12, é preciso tomar cuidado para manter o consumo total de folato em menos que 1mg/d, exceto sob supervisão de um médico. As mulheres que tiveram uma gestação anterior afetada por um defeito de tubo neural correm um risco maior de ter uma gravidez subseqüente afetada. Quando essas mulheres planejam uma gravidez, elas devem consultar seus médicos. O médico geneticista disse ao casal que como eles têm uma criança com espinha bífida, eles têm risco maior de ter um filho com anencefalia ou espinha bífida cística, em comparação à população geral. Resolução do caso clínico 5 Comumente, eles teriam uma chance de aproximadamente 4% de ter um segundo filho com um dos ONTDs. Entretanto, começando a dose de manutenção de 0,4mg de ácido fólico por dia 2 meses antes da concepção, este risco poderia ser consideravelmente reduzido. O médicotambém sugeriu que Edmund e Mary mudem seus hábitos alimentares e incluam em sua dieta alimentos ricos em folato, tais como vegetais com folhas verdes, farinha fortificada e outros. Edmund e Mary estavam enganados quanto ao motivo pelo qual ocorreu este defeito em seu filho. O geneticista médico citou algumas pesquisas novas, incluindo o trabalho de Mills e colaboradores , que demonstraram que uma anomalia no metabolismo de homocisteína, aparentemente relacionado a metionina sintase, está presente em muitas mulheres que tiveram filhos com defeitos de tubo neural. Superar esta anomalia provavelmente é o mecanismo pelo qual o ácido fólico evita os defeitos de tubo neural. Estes achados sugerem que a profilaxia peri-concepcional mais efetiva para evitar os defeitos de tubo neural pode exigir a vitamina B12 bem como o ácido fólico. Outras pesquisas hoje estão avaliando o DNA do gene que pode estar envolvido. Van der Put e colaboradores estudaram a freqüencia da mutação 677 C T no gene de 5,10-metilenotetraidrofolato redutase (MTHFR) em 55 pacientes comespinha bífida e genitores de tais pacientes (70 mães, 60 pais). Resolução do caso clínico 5 Eles observaram que 5% dos pacientes 207 controles eram homozigotos para a mutação 677 C T, em comparação a 16% das mães, 10% dos pais e 13% dos pacientes , e que a mutação estava associada a uma diminuição de atividade da MTHFR, baixo folato plasmático, alta homocisteína do plasma e concentrações de folato nas hemácias. Eles concluíram que a mutação 677 C T deve ser vista como um fator de rico genético para espinha bífida. O valor da descoberta de uma mutação específica foi explicado aos genitores e a vários de seus parentes colaterais, que também foram à consulta. Mencionou-se que, no futuro, fazendo um simples teste de DNA, poderá ser possível dar números exatos do risco de ocorrência ou de recorrência dos ONTDs. O filho de Edmund e Mary, Johnny, já aprendeu a andar. Ele ainda não apresentou nenhum sinal de hidrocealia, e tem bom controle da bexiga e intestino. Ele se socializa bem com a equipe da clínica de espinha bífida, e também com as crianças dos vizinhos. Ele é inteligente, articula bem as frases, compreende, e pode apontar figuras e objetos. Mary e Edmund decidiram planejar uma terceira gestação. Caso Clínico 6 Resolução do caso clínico 6 Uma mulher de 38 anos de idade tem um risco de aproximadamente 1 em 75 de ter uma gestação afetada por uma anomalia cromossômica. Durante a seção de consulta genética, forma discutidas as várias opções diagnóticas (amniocentese tradicional, amniocentese mais cedo, CVS) e as opções de triagem (testes de marcadores múltiplos) de um modo não-diretivo. Foram apresentados os riscos e os benefícios de ambos os enfoques. Como a paciente queria uma informação diagnóstica precisa, e queria ter esta informação o mais cedo possível, ela escolheu a CVS, que foi feita com 10 semanas de gestação. Os resultados foram normais. Como a CVS não testa NTDs, e a história familiar e médica indicou que não havia nenhum fator colocando a paciente em risco aumentado, ela escolheu fazer uma triagem de NTD por teste de MSAFP. Este resultado, obtidocom 16 semanas de gestação, foi de 0,9MoM, reduzindo seu risco de ter uma criança com um NTD a aproximadamente 1 em 10000. Ao término de todos os testes genéticos, a paciente foi lembrada de que nem todos os defeitos de nascimento são detectados por esses teste diagnósticos e de triagem. Entretanto, com base nestes resultados normais, seu risco de um defeito de nascimento agora é menor que o risco da população em geral, que é de 2% a 3%. Em outras palavras, o diagnóstico pré-natal não garante uma criança normal