Entomologia aplicada à pesca com mosca Parte II – Efêmerópteras Por: Alejandro Antúnez (Índio) 1.- Introdução Origem do Nome - O nome efêmeróptera derivase do grego Ephemeros - que significa de “curta vida”, e Pteron - asas; Refere-se ao curto período de vida do adulto, que usualmente não ultrapassa alguns dias. Os insetos desta ordem são comumente conhecidos como “moscas com as asas em pé” (upwinged flies) ou ainda mayflies (moscas de maio)1. Eles habitam nas proximidades de lagos e rios, com uma ampla variedade de espécies adaptadas aos diferentes meio ambientes. Além disso, elas estão presentes praticamente em todos os continentes: existem Adultos de mayfly (Spinner) – Genero Callibaetis aproximadamente 200 espécies na Europa; 570 Foto: Alejandro Antúnez© na América do Norte; a Nova Zelândia tem pelo menos 40; Austrália tem acima de 80; e a América do Sul tem tantas quanto à soma de todas as anteriores. As mayflies são provavelmente um dos insetos mais importantes que o pescador precisa entender. São também famosas fora do ambiente da pesca com mosca, devido a sua frágil beleza assim como pela curta vida adulta que normalmente não excede de alguns dias para se reproduzir e morrer. Identificação - Esta é provavelmente a maior e mais diversa ordem dos insetos. Algumas características que distinguem os adultos desta ordem são as asas que são mantidas na posição vertical durante o repouso, o par frontal de pernas e o par posterior de asas significativamente menor, e algumas vezes, inexistente. Os adultos também têm duas ou três longas caudas. As ninfas são únicas no sentido de ter uma combinação de caudas e guelras em formato de “placas” ou “penas” localizadas nas laterais ou na parte superior do abdômen. Existem uma ou duas espécies que são verdadeiras exceções à regra e suas ninfas jovens são difíceis de identificar. Habitat - As mayflies requerem água limpa, despoluída e geralmente bem oxigenada. São as primeiras espécies aquáticas a desaparecer quando aumentam os níveis de poluição. A utilização de motores à gasolina nos lagos ou rios assim como outros dejetos jogados na água 1 Conhecidas no Brasil como “borboletas de piracema” (Família Baetis), aleluias, besouros-de-maio, efêmeros, siriruias ou sirirujá. reduzem drasticamente a população de mayflies. As ninfas habitam tanto nas águas em movimento ou calmas e ocasionalmente podem ser encontradas até numa profundidade de 60m. As ninfas geralmente ficam no fundo se alimentado de algas, diatomáceas2 ou de qualquer outra matéria vegetal ou orgânica que fica acumulada no leito. As larvas tendem a cavar nos substratos e se escondem embaixo de pedras ou da vegetação. Relevância para a pesca com mosca - As mayflies têm sido tradicionalmente consideradas como a “principal” fonte de alimento das trutas e outras espécies de peixes, esse não é necessariamente o caso em todos os lugares do planeta. Mas elas sem dúvida ocupam sempre um lugar destacado no cardápio das trutas. As mayflies são particularmente importantes para a pesca com mosca ao por do sol ou logo após escurecer quando elas formam enxames acima da água. Dados revelam que a percentagem das trutas que se alimentam de mayflies (em qualquer dos estágios de vida do inseto) é significativamente menor do que se pensava o que aparentemente indica uma modalidade de alimentação “oportunista” por parte das jovens trutas em crescimento no lugar de uma alimentação “sistemática” como uma das principais fontes de alimentação. Imitações (Moscas) - Existe um número infindável de iscas que imitam estes insetos nos diferentes estágios do ciclo de vida sendo que alguns dos padrões existentes são genéricos (isto é, imitam mais de uma espécie) e outros são específicos. Seria impossível enumerar todos estes padrões neste artigo, motivo pelo qual temos publicado no nosso site uma tabela de padrões para as imitações mayflies. Dada a disponibilidade de novos materiais para atado e o constante desenvolvimento de novas iscas é impossível construir uma lista exaustiva, motivo pelo qual sempre recomendo consultar livros ou sites de atado para se manter sempre atualizado. Em termos gerais, as moscas Gold Ribbed Hare‟s Ear e a Pheasant Tail imitam muito bem estes insetos no estado de ninfa. Os padrões do tipo Cripple e a mosca Klinkhamer são muito efetivos para imitar o adulto durante a eclosão. Em relação às moscas que imitam adultos, sempre evite os padrões “sobrecarregados” que exageram na quantidade de material utilizado na sua construção. Padrões com o abdômen feito de quill ou biot como a BWO são muito efetivos, leves e flutuam extremadamente bem. As moscas secas com asas feitas com as pontas das penas do pescoço do galo ou lã sintética são efetivas para imitar o adulto no estágio de spinner. Moscas molhadas com colares macios (soft hackled wet-flies) são freqüentemente utilizadas para imitar os spinners presos na corrente. Táticas de pesca - Quando as trutas estão se alimentando de ninfas levadas pela corrente (drift) ou nadando em direção à superfície utilize a tática de pesca rio acima (upstream) ou ascendente (lifting). Para imitar as emergentes, duns e spinners utilize as táticas padrão de 2 As diatomáceas são um importante grupo de protistas organismos unicelulares que estão presentes na água doce e salgada. pesca com mosca seca. Temos um artigo sobre técnicas de apresentação publicado no nosso site onde você poderá revisar todas as formas de apresentação, tanto para ninfas como para moscas secas. 2.- Ciclo de vida As mayflies têm um ciclo de vida denominado de “incompleto”, durante este ciclo elas passam por três estágios: Ovo, Larva (ou ninfa) e Adulto. Já nos ciclos de vida denominados “completos” o inseto passa por 4 estágios: Ovo, Larva (ou ninfa), Pupa e Adulto. O processo chamado de metamorfose acontece no estágio denominado de “Pupa”. Neste estágio o inseto passa por uma transformação física radical, ao ponto do adulto guardar pouca ou nenhuma semelhança com o estágio prévio (larva ou ninfa). [1] Os adultos de mayflies sexualmente maduros formam enxames (ou swarms), acasalando durante o vôo. Nos enxames os machos adultos voam com movimentos na vertical enquanto as fêmeas atravessam o enxame na horizontal. Durante esta passagem o macho prende a fêmea e acontece o acasalamento. Estes enxames acontecem geralmente ao amanhecer ou no crepúsculo. Figura 1- Ciclo de vida das mayflies [2] Os ovos de muitas espécies como a Pale evening dun (Procloeon bifidum) são depositados pela fêmea adulta quando ela sobrevoa (roçando) a superfície d’água. Estes ovos afundam e acabam grudando em plantas aquáticas, pedras e outras superfícies. Algumas espécies mergulham na água para depositar os ovos no meio da vegetação submersa. [3], [4] Os ovos que geralmente são depositados aos milhares por um mesmo adulto, amadurecem num período de tempo que varia de 1 a 3 meses e viram larvas ou ninfas que se desenvolvem em estágios denominados instars3 até atingir a maturidade. Elas geralmente habitam no fundo, escondidas entre a vegetação, sob as pedras ou algumas vezes cavando refúgios na lama. Durante o crescimento a larva irá se alimentar basicamente de matéria orgânica, por um período que, dependendo da espécie, pode durar de 3 meses a 2 anos. [5], [6] Quando a ninfa atinge sua maturidade ela passa por um processo de transformação para virar um subimago (ou também chamado de dun) esta transformação é denominada de eclosão (hatch) esta transformação acontece num período de 1 a 2 horas durante aproximadamente duas semanas na primavera ou no verão com grandes variações dependendo de cada espécie. Ninfas da espécie Iron blue dun (Nigrobaetis niger) nadam até a superfície d’água onde se transformaram em subimagos. Em outras espécies como a Pale evening dun (Ephemerella dorothea) a eclosão acontece embaixo da água e depois o adulto flutua até a superfície para alçar vôo. A Gray drake (Siphlonuridae siphlonuru) rasteja fora da água para eclodir numa pedra ou plantas na beira do rio. O subimago é um estágio adulto ainda imaturo sexualmente falando, porém com asas. Antes do primeiro vôo o subimago descansa na superfície da água para que as asas sequem e adquiram certa rigidez. [7] Depois do primeiro vôo o subimago normalmente descansa na vegetação ciliar por 1 ou 2 dias enquanto se transforma gradualmente num Imago ou spinner. Neste segundo estágio adulto o inseto não irá mais se alimentar, pois acaba substituindo o aparelho digestivo por um aparelho reprodutor. [8] O ciclo se completa quando o adulto sexualmente maduro acasala durante um ou dois dias, deposita os ovos e depois morre. O adulto morto cai na superfície da água com as asas abertas, é neste ponto que o inseto é chamado de “spent” (gasto ou acabado). A maioria das mayflies completa uma ou duas gerações por ano, mas isso pode variar de um par de semanas a um par de anos dependendo da espécie. 3 Os invertebrados expandem o exoesqueleto várias vezes durante este período, estes estágios são chamados de instars. 3.- Ninfa de mayfly A mayfly passa a maior parte da sua vida como uma ninfa. Este estágio aquático pode durar entre 2 semanas e 2 anos dependendo da espécie e da temperatura da água. Apesar de que a grande maioria se alimenta de algas e matéria orgânica, algumas ninfas são carnívoras. Devido a curta vida do adulto, muitos estudos científicos focam-se no estágio de ninfa. De fato, os estágios adultos de muitas espécies nunca têm sido caracterizados. Ninfa de mayfly – Baetis Anatomia - A cabeça da ninfa varia muito em formato e tamanho, pode possuir projeções e até uma armadura. Na cabeça ficam localizados dois grandes olhos, o aparelho bucal e antenas. Cada um dos três segmentos torácicos (protórax, meso-tórax e meta-tórax) sustenta um par de pernas que terminam numa única garra. As asas em desenvolvimento se encontram dentro de estojos localizados no meso-tórax e, na maioria das espécies, no meta-tórax. Em algumas espécies as pernas têm sido modificadas para filtrar alimento, escovar ou cavar. Todas as mayflies têm 10 segmentos abdominais, cada um dos quais (dependendo da espécie), pode sustentar guelras. Na maioria das espécies, o 10º segmento abdominal sustenta 3 filamentos ou caudas, uma central e dois cerci. Em algumas espécies o filamento central é muito pequeno ou inexistente. Ninfa de Callibaetis Aquatic Entomology- W. Patrick McCafferty Comportamento - A ninfa (ou larva) cava nos substratos, rasteja, ou se agarra nas plantas e detritos no fundo do leito. Freqüentemente nadam como peixes com movimentos amplos e ondulados do abdômen e da cauda. Relevância para o pescador - A ninfa de mayfly é um estágio importante a ser imitado pelo pescador (veja tabela com os padrões mais utilizados para a imitação das ninfas). Os grandes peixes são mais propensos a se alimentar de uma ninfa do que um subimago ou um spent adulto na superfície. Outro fato relevante é que as ninfas estão disponíveis na maior parte do ano, elas normalmente habitam nas águas rasas onde elas acostumam ficar próximas do fundo. Uma boa imitação de uma ninfa quando apresentada corretamente a truta no inicio da eclosão pode produzir excelentes resultados. O maior sucesso vem geralmente quando a ninfa é utilizada as tardes ou no crepúsculo e arremessada no meio dos cardumes de peixes. No começo da eclosão, existe uma mistura de peixes grandes e pequenos alimentando-se de ninfas. Geralmente os peixes menores se alimentam dos adultos (subimagos ou imagos) enquanto os maiores continuam se alimentando das ninfas próximas a eclodir. Tipos de ninfas de mayfly – Para nos pescadores, é mais prático agrupar as ninfas de mayflies em 4 categorias de acordo com as adaptações particulares das ninfas para cada tipo de micro-habitat: Nadadoras (swimmers) Agarradoras (clingers) Cavadeiras (burrowers) Rastejadoras (crawler) Os entomologistas usam um sistema similar de classificação, mas eles ampliam o numero de categorias, pois algumas cavadeiras são boas nadadoras outras agarradoras rastejam bem e algumas famílias como a Potamanthidae, extrapolam mais de uma destas categorias. Swimmers (Nadadoras) Clinger (Agarradoras) Baetidae (Blue-Winged Olives) Rhithrogena impersonata (Dark Red Quill) Burrower (Cavadeiras) Crawler (Rastejadoras) Hexagenia Limbata (Hex) Drunella lata (Large Blue-Winged Olive) Nadadoras (Swimmers): Este grupo caracteriza-se por ter corpos em formato aerodinâmico. Utilizam seu corpo e cauda para se movimentar, em alguns casos chegam a ser mais rápidas do que peixes do mesmo tamanho e nadam sem problemas rio acima (upstream) contra a correnteza. Outras habitam correntes mais lentas e utilizam sua velocidade para esconder-se entre as folhas ou plantas subaquáticas. A Blue winged olive ou Baetis encontra-se entre os grupos mais conhecidos e estudados de mayflies. Os gêneros relevantes para a pesca com mosca são: (os menos relevantes estão em gris) Família Baetidae (BlueWinged O.) Siphlonuridae (Gray drakes) Ameletidae (Brown duns) Isonychiidae (Slate drakes) Metretopodidae (Pseudo-gray drakes) Gênero Acentrella Acerpenna Apobaetis Baetisq Callibaetis Centroptilum Cleon Diphetor Iswaeon Labiobaetis Plauditus Procloeon Pseudocleon Americabaetis Baetodes Baetopus Barbaetis Carmelobaetidius Cloeodes Fallceon Heteroncloeon (Outros 5 gêneros) Siphlonurus Edmundsius Parameletus Siphlonisca Ameletus Isonychia Metretopus Siphloplecton Agarradoras (Clinger): Habitam tipicamente as águas rápidas em alguns casos até turbulentas. As ninfas deste grupo desenvolveram corpos planos para diminuir a resistência, assim como fortes pernas e garras para segurar firmemente na superfície das pedras. Para aumentar sua capacidade de se fixar nos substratos rochosos algumas espécies do gênero Rhithrogena tem ido além, desenvolvendo ventosas localizadas na parte inferior do abdômen. As ninfas deste grupo pertencem à família Heptageniidae, os 12 gêneros relevantes são: Família Heptageniidae (March Browns, Cahills, Quill Gordon) Gênero Cinygma Cinygmula Ecdyonurus Epeorus Heptagenia Ironodes Leocrocuta Maccaffertium Nixe Rhithrogena Stenacron Stenonema Anepeorus Macdunnoa Raptoheptagenia Spinadis As espécies mais conhecidas deste grupo são a Western e American March browns. Cavadeiras (Burrower): As cavadeiras são criaturas pálidas e noturnas que cavam buracos em formato de “U” onde elas acabam passando a maior parte das suas vidas. São inconfundíveis, pois tem corpos amarelos alongados e guelras cinza em formato de penas. As eclosões destes insetos são as favoritas dos pescadores, especialmente da gigante Hexagenia limbata do meio-oeste americano, e a Green Drake do leste (Ephemera guttulata). Três famílias formam este grupo, sendo que os gêneros relevantes para os pescadores são: Família Ephemeridae (Hexes & Big drakes) Polymitarcyidae (White flies) Potamanthidae (Golden drakes) Gênero Ephemera Hexagenia Litobrancha Ephoron Campsurus Tortopus Anthopotamus Rastejadoras (Crawler): Existe uma grande diversidade entre as ninfas deste grupo devido as adaptações feitas para cada habitat, desde os riachos até as águas rápidas dos rios, açudes e lagos. As espécies que habitam as águas rápidas têm evoluído em formas similares as das “agarradoras” (clingers), enquanto as que habitam as águas mais lentas acabam sendo muito parecidas as “nadadoras” (swimmers). Normalmente as ninfas rastejadoras com suas limitadas capacidades de nadar, estão adaptadas para explorar os espaços entre as pedras, cascalho e a vegetação submersa. As Hendricksons e Sulphurs do gênero Ephemerella são rastejadoras típicas. Existem pequenas rastejadoras como a Tricorythodes, e existem as redondas como a Baetisca. As rastejadoras do gênero Leptophlebiidae são boas nadadoras, e aquelas do gênero Drunella são boas de garras. Apesar de existirem várias famílias e gêneros dentro deste grupo, só aquelas relevantes para a pesca com mosca são relacionadas: Família Ephemerellidae (Hendricksons, Sulphurs, PMD, BWOs) Leptophlebiidae (Black & Blue quills) Leptohyphidae (Tricos) Caenidae (Anglers curses) Baetiscidae (Armored Mayflies) Gênero Attenella Caudatella Dannella Drunella (BWO) Ephemerella Eurylophella Matriella Penelomax Serratella Teloganopsis Timpanoga Caurinella Detanella Tsalia Leptoohlebia Paraleptophebia Choroterpes Farrodes Habrophlebia Habrophlebiodes Hydrosmilodon Neochoroterpes Thraulodes Traverella Tricorythodes Ableptemetes Allenhyphes Asioplax Horoleptohyphes Leptohyphes Tricoryhypes Vacupernius Brachycercus Caenis Americaenis Cercobrachys Baetisca 4.- Mayfly emergente e a eclosão Existem três maneiras pelas quais as ninfas de mayfly emergem como adultos (dun). 1. Na maioria das vezes, a ninfa nada em direção à superfície e abre o exoesqueleto na altura do tórax. Então, o adulto (dun) se contorce para sair do exoesqueleto e freqüentemente fica flutuando na superfície até as asas secarem. Estas espécies constituem o primeiro alvo das trutas famintas, e são as favoritas dos pescadores com mosca seca. No entanto, muitas espécies importantes não seguem este padrão de comportamento. Os pescadores mais experientes entendem as Ninfa de mayfly emergente – diferenças de comportamentos entre as espécies, Foto: Stuart Crofts e tiram vantagem deste conhecimento na hora de escolher e apresentar a isca mais Foto: www.buglife.org.uk apropriada. 2. Em algumas espécies, o adulto (dun) emerge do casulo ninfático sob a água e nada até a superfície, com as asas expostas. As antigas moscas molhadas com asas (winged wet-flies) imitam este tipo de eclosão. Hoje em dia, graças à utilização da lã sintética brilhante, estas eclosões podem ser imitadas quase perfeitamente. 3. Em outras espécies, a ninfa sai da água rastejando entre as pedras ou troncos à beira do rio. Os adultos emergem fora da água, motivo pelo qual é de pouco interesse para os pescadores a menos que exista vento suficiente para derrubá-las na água. Alguns pescadores sugerem que nestes casos devem-se usar iscas que imitem o estágio de ninfa. Relevância para o pescador - As trutas podem escolher como alvo a ninfa quando elas estão nadando em direção à superfície para eclodir. Para identificar este comportamento, o pescador deve estar atento a brilhos ou bolhas de ar muito sutis na água, combinados com alguns adultos (duns) ou mayflies que acabaram de nascer e que ainda se encontram na superfície. As ninfas podem ter dificuldade em quebrar a tensão superficial da água durante a eclosão. Algumas param e ficam sob a superfície, recuperando o fôlego. É neste momento, que uma ninfa do tipo flutuante ou abaixo da superfície (que pode ser apresentada no estilo dropper) faz sucesso. Se você vê um redemoinho na água e não aparece o nariz da truta ou se aparece o dorso da truta, mas não a cabeça, o peixe está provavelmente se alimentando deste tipo de ninfas emergentes. Algumas trutas podem se focar nas mayfly emergentes no momento que elas estão quebrando o exoesqueleto. Isto varia de peixe para peixe e de eclosão para eclosão. A pressão de pesca afeta o comportamento das trutas. Hoje em dia muitas variedades de iscas emergentes são oferecidas pelas lojas ou nos catálogos online. A maioria delas foi desenhada para ficar acima ou abaixo da superfície, você tem que observar e escolher a isca mais apropriada segundo a situação. Quando o adulto (dun) finalmente sai do esqueleto (shuck) e pula na superfície da água. Quanto tempo isso leva? E quanto tempo o adulto fica na superfície? Isto varia de espécie para espécie; a observação do fenômeno é absolutamente necessária para escolher a isca assim como a correta apresentação. Algumas poucas espécies de mayflies que habitam nas águas mais rápidas deixam o esqueleto de ninfa antes de chegar à superfície. Isto pode ser imitado pelas moscas molhadas tradicionais (Wet-flies) e as de colar flexível (Soft-hackle) assim como outros desenhos de moscas mais modernos. Finalmente, seja por algum acidente ou deformidade, algumas mayflies não conseguem completar a eclosão e ficam permanentemente aleijadas, flutuando indefesas. Esta situação é explorada pelos pescadores com varias iscas que imitam este tipo de fenômeno chamadas de cripple (aleijado em inglês) 5.- Mayfly adulto As mayflies são únicas no sentido de ter dois estágios do ciclo de vida, com “asas”: Sub-imago (chamado também de dun) E a imago (chamado de spinner). Ambos os estágios podem ser rapidamente identificados pelas asas que são mantidas na posição vertical durante o repouso, pelo vôo errático subindo e descendo e pelas 2 a 3 longas caudas. A sub-imago (dun) possui asas opacas enquanto as da imago (spinner) são transparentes, brilhantes e com os veios bem definidos. Os entomólogos utilizam as características dos veios para identificar a família e o gênero. Os adultos imaturos ou duns tem asas opacas com veios e cercadas de pequenos pelos. Na posição de repouso as asas são mantidas juntas na vertical, dai o nome em inglês de “upwinged flies” (moscas com as asas em pé). As asas anteriores são relativamente grandes, sendo que no mínimo são do mesmo tamanho do corpo. As asas posteriores são significativamente menores, sendo que em algumas espécies elas simplesmente não existem. As características específicas de cada asa permitem identificar a espécie de mayfly. O corpo da sub-imago (dun) tem geralmente uma coloração opaca e possui 2 ou 3 longas caudas. As trutas sempre se alimentam avidamente das sub-imagos quando eles emergem em águas abertas para se livrar do exoesqueleto ou no breve repouso antes de empreender o primeiro vôo. Faça coincidir seus padrões de emergentes e moscas secas com os insetos dos quais as trutas estão se alimentando. Mahogany dun “sub-imago” Asas opacas Mahogany spinner “Imago” Asas transparentes e brilhantes A imago (spinner) é geralmente mais colorida, tem as asas com veios, transparentes e livres dos pelos microscópicos. As caudas são longas e geralmente maiores do que as das subimagos (duns). O macho do spinner possui na extremidade do abdômen dois fechos que são utilizados para segurar a fêmea durante o acasalamento. Os machos também têm as pernas dianteiras maiores para facilitar o acasalamento. Depois da última transformação, os machos adultos voam em enxames próximos da mata ciliar ou em terrenos mais afastados do rio. As fêmeas voam dentro desses enxames para acasalar e uma vez fertilizadas voltam para depositar seus ovos na água. Após o acasalamento e a desova, os spinners morrem. Dependendo da espécie, vários cenários podem resultar em oportunidades para o pescador. Quando os insetos voam em enxames acima da superfície, suas mortes eventuais resultam na queda do inseto na água, e se você tiver sorte, numa constante ascensão das trutas para se alimentar dos spinners mortos. Nesta hora você pode utilizar seus padrões de spinners feitos de lã acrílica ou com as asas feitas com as pontas de pena de pescoço de galo. Quando os spinners vão embaixo da superfície da água para depositar seus ovos eles geralmente acabam sendo levados pela corrente. Nesta situação o peixe parece estar se alimentando de ninfas, portanto não se esqueça de utilizar os padrões do tipo “sunk spinner” (spinner afundado) ou uma isca tradicional do tipo “hackled wet” (isca molhada com colar), elas podem ser a chave do sucesso. Sub-imago (dun) - Após emergir do casulo de ninfa, a sub-imago sexualmente imaturo (ou dun) pode ser reconhecido por vários aspectos: Um deles são as asas que são opacas se comparadas com o adulto. A sub-imago está coberto por inteiro por uma densa camada de pelos microscópicos (microtrichia) que torna o inseto ”a prova de água”. Esta microtrichia torna o sub-imago (dun) menos brilhante do que a imago (spinner). Hexagenia Limbata (Hex) Spinner, macho Detalhe: Fecho reprodutor Comportamento da imago (spinner) - Uma vez convertidos em spinner as mayflies se reúnem geralmente em enxames (swarms) acima do rio para acasalar. Os primeiros a comparecer são os machos que iniciam o ritual de acasalamento bem acima da superfície. Eles começam a inquietar-se e “dançam” na vertical num esforço para atrair as fêmeas. As fêmeas não demoram muito a comparecer, mergulhando no enxame para encontrar um parceiro. Na medida em que o acasalamento decorre o enxame se aproxima cada vez mais da superfície da água. Inquietos, os machos seguram as fêmeas no ar com seus fechos (órgão sexual). Assim que o acasalamento termina, as fêmeas começam a tarefa de depositar os ovos na água, esgotados, os machos começam a cair na superfície. Eles lutam para se manter vivos por algum tempo mantendo suas asas na posição vertical, mas eles não conseguem sustentar esta posição por muito tempo e as asas acabam caindo na horizontal. Depois de depositar seus ovos as fêmeas seguem o mesmo destino dos machos. Spinner de mayfly (spent) Foto: Alejandro Antúnez© Dependendo da espécie, as fêmeas depositam os ovos de diferentes maneiras; muitas espécies soltam os ovos ao mesmo tempo em que caem na superfície da água, outras pousam na água, soltam alguns ovos e voam de novo para outro lugar repetindo esta operação várias vezes. Outras espécies soltam os ovos desde o alto. Num dos gêneros mais comuns de Baetis, as fêmeas pousam perto da beira do rio e rastejam embaixo da água para depositar seus ovos em pequenas fileiras nas pedras ou nos troncos. Como a maioria das coisas que acontecem na natureza, os spinner de mayfly não são tão previsíveis quanto gostaríamos. Algumas nuvens com milhares de spinners pode se posicionar à tarde acima de um riacho e de repente voarem de volta para o bosque tão rapidamente quanto vieram, e assim os spinners nunca cairão na água como esperado. Dependendo da espécie a queda dos spinners na água pode acontecer a qualquer hora do dia, mas o crepúsculo é de longe à hora mais freqüente. Estes eventos concentram em geral mais mayflies do que a eclosão da mesma espécie, o que significa que as espécies que não são importantes durante a eclosão podem se tornar importantes no estágio de imago (spinners). A queda dos spinners na água pode acontecer em qualquer lugar do rio, mas eles acontecem com mais freqüência nas corredeiras (riffles). Relevância para o pescador As sub-imagos e o adulto spent são muito importantes para o pescador, principalmente na forma de moscas “secas” (Dry flies). Os padrões de moscas para a sub-imago devem ser atados com as asas na vertical como se estivesse pronto para voar. No estágio de adulto spent, a mosca deve ser atada como se o inseto estivesse morto, isto é, com as asas na horizontal em relação à superfície da água. Não se esqueça de atar duas ou três caudas nestas moscas. Ambos os tipo de padrões são muito efetivos dados que as trutas tendem a se alimentar muito dos insetos em ambos os estágios. O pescador que utiliza uma imitação de spinner poderá aprender muito observando o verdadeiro inseto flutuando na água. Sua silueta e postura não coincidem com a forma dos spinner “tradicionais” são imitados mais efetivamente pelos novos padrões como a Ellis triple wing e o Galloup‟s crippled spinner descritos no livro Cripples & Spinners do Kelly Galloup. Dica: Se a pesca estiver muito devagar, e você vê as trutas menores ascendendo use um padrão de isca de mayfly (sub-imago) na superfície. Isto sempre lhe dará certa diversão no que poderia ter sido um péssimo dia de pesca. Em algumas ocasiões, os peixes maiores podem eventualmente atacar uma mosca seca de mayfly. Bibliografia e Fontes de Consulta: - Mayflies: An Angler's Study of Trout Water Ephemeroptera, Malcolm Knopp & Robert Cormier, 1997, Greycliff Publishing Company. - John Goddard's Waterside Guide, John Goddard, 1988, Unwin Hyman Ltd, London. - Aquatic Insects and Their Imitations, Rick Hafele & Scott Roederer, 2nd Edition, 1995 (Johnson Printing, Colorado). - A field Guide to Insects in Australia, Paul Zborowski & Ross Story, 1995, Reed New Holland, Sydney. - Larvae of the British Ephemeroptera: A key with ecological notes, J.M.Elliott, U.H.Humpesch, and T.T.Macan, 1988, Scientific Publications of the Freshwater Biological Association No. 49. - A Key to the Adults of the British Ephemeroptera, J.M.Elliott and U.H.Humpesch, 1983, Plublicação Científica da Freshwater Biological Association No. 47. - Trout Fly Recognition, John Goddard, Second Edition Reprinted 1974, A & C Black, London. - A Guide to Aquatic Trout Food, Dave Whitlock, 1994, Swan Hill. - Aquatic Entomology – The Fishermen's and Ecologists„ Illustrated Guide to Insects and their Relatives, W.Patrick McCafferty, 1981, ISNB : 0-86720-017-0 - Hatch Guide for Western Streams, Jim Schollmeyer, 1997, ISNB : 1-57188-109-3 Sites de Consulta recomendados: - www.troutnut.com - Fotos e informação detalhada sobre as principais famílias de insetos aquáticos. São Paulo, Fevereiro de 2012