INDICADORES Brasil Ações da Marfrig ON Econom ico 6,43 (em R$) 5,92 5,92 5,95 8/7 10/7 11/7 6,00 www.brasileconomico.com.br 14/7 15/7 PUBLISHER RAMIRO ALVES . CHEFE DE REDAÇÃO OCTÁVIO COSTA . EDITORA CHEFE SONIA SOARES . QUARTA-FEIRA 16 DE JULHO DE 2014 . ANO 5 . Nº 1.222 . R$ 3,00 China sedia banco de Brics, Índia preside e conselho é do Brasil Com esta arquitetura, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul selaram a criação do banco de fomento para investir nesses países. Os mandatos serão de cinco anos e, após a Índia, será a vez de o Brasil assumir a presidência. A sede do banco será localizada em Xangai, como queria a China, e a África do Sul foi contemplada com o primeiro centro regional, em Joanesburgo. Foi criado ainda o fundo de reserva de US$ 100 bilhões que garantirá aos países do grupo cobertura de desequilíbrios de curto prazo no balanço de pagamentos. P3a5 Murillo Constantino Nem tão elementar assim Guruduth Banavar, VP da IBM Research, garante que Watson, o software que aprende com uso, não é uma ameaça como na ficção científica. “Os computadores terão fins específicos”, diz. P10e11 Confiança do consumidor para de cair Há quem diga que bateu no chão. Mas fato é que após cinco meses de intenções negativas de consumo, a CNC registrou ligeira alta. A melhora de humor não é resultado da Copa, mas sim do recuo dos preços dos alimentos. P7 TECNOLOGIA Chris Torto, CEO da Ascenty, revela planos de ter nos próximos anos oito data centers no país, em espaços onde há maior oferta de energia, que representa 20% dos gastos. Em Jundiaí, a empresa tem geradora própria. P14e15 AUTOMANIA Plataformas, motores e câmbios iguais nos diferentes Audi A3 e Golf. P19 AVIAÇÃO Compra de aviões Embraer é parte da estratégia da Azul para mercado regional. P13 AÇÕES Fed alerta para ‘preços esticados’ das empresas da internet em Wall Street. P25 Quarta-feira, 16 de julho, 2014 Brasil Econômico 3 ▲ Divulgação BRASIL ENERGIA Produção em eólicas aumenta 44,4% A produção de energia eólica aumentou 44,4% em maio, na comparação com igual mês de 2013, segundo boletim da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. No mesmo período, a geração de energia termelétrica subiu 20,7% e o total de energia gerada por usinas hidrelétricas caiu 5,1%. No entanto, o segmento mantém-se predominante e responde por 66,5% da produção brasileira. ABr Editor: Paulo Henrique de Noronha [email protected] Brasil cede NBD à Índia NovoBancodeDesenvolvimentodosBricsficaránaChina.OgovernobrasileiropresidiráoConselhodeAdministração Nacho Doce/ Reuters Mariana Mainenti [email protected] Sonia Filgueiras [email protected] Brasília O Brasil acabou cedendo para que o acordo de criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco dos Brics, pudesse ser anunciado ontem, ao final da sexta reunião de cúpula do grupo, em Fortaleza. Apósnegociaçõesao longoda terçafeira entre os cinco países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o governo brasileiro, que chegou a aspirar a primeira presidência da instituição, abriu mão do pleito em favor da Índia, que disputava a sede com a China. OBrasil cedeu a partir de um pedido dos próprios indianos, que passaram a considerar a presidência uma alternativa, já que a China mostrava forte interesse em sediar a instituição. No arranjo institucional do banco, coube ao Brasil indicar o primeiro presidente do seu Conselho de Administração. O primeiro presidente do Conselho de Governadores, ao qual caberá a definição das diretrizes gerais, será nomeado pela Rússia. Todos oscargossão rotativos. Também foi anunciada a criação do Arranjo Contingente de Reservas do Brics (CRA, pela sigla em inglês), com recursos iniciais de US$ 100 bilhões, que dará cobertura aos países do grupo, em caso de desequilíbrios de curto prazo no balanço de pagamentos. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o mecanismo vai complementar as atividades do Fundo Monetário Internacional (FMI). EmentrevistaemFortaleza,apresidenta Dilma Rousseff negou que o Brasiltenhaabertomãodapresidência do banco apenas para evitar um impasse. “É preciso conhecer a história dos Brics. Quem propôs o banco de desenvolvimento foi a Índia. PorissoachamosqueseriajustoaÍndia presidi-lo. Nós propusemos que fosse feita uma contingência de reservas”, afirmou. “Masascoisas não saem se não houver consenso (...) É preciso fazer um exercício de perceberoquantoumainiciativacomoessabeneficia a todos os países”, disse. O presidente do NBD terá cinco anos de mandato. Após a Índia, será a vez de o Brasil assumir o posto. A sede do banco será em Xangai, como queria a China. A África do Sul foi contemplada com o primeiro centro regional do banco, a ser instalado em Joanesburgo. Costurado entre os ministros das finanças dos cinco países, o acordo foi endossado pelos chefes de Estado. As participações dos países no CRA são diferentes. A China entrará com US$ 41 bilhões; Brasil, Índia e Rússia com US$18 bilhões cada um; e África do Sul, com US$ 5 bilhões. A eventual liberação dos recursos se dará por meio de operações de swap. O país solicitante receberá dólares e, em contrapartida, fornecerá sua moeda aos países contribuintes. O valor máximo de saque será determinado por multiplicador aplicado à contribuição de cada país: a China terá multiplicador igual a 0,5, podendo sacar até metade dos seus compromissos (US$ 20,5 bilhões); Brasil, Índia e Rússia terão multiplicador igual a 1, podendo sacar montante equivalente a seus compromissos individuais (US$ 18 bilhões); e África do Sul terá multiplicador igual a 2, podendo sacar o dobro de seu compromisso (US$ 10 bilhões). Especialistas em relações internacionaisnãoveemumaderrotapara o Brasil. “O fato de o Brasil ter cedido foi positivo. A criação do banco reduz bastante as críticas dos que afirmam que os Brics não fazem nada de concreto. É uma grande conquista e não veio para desafiar ninguém,masparadarmaiorparticipação aos países emergentes no cenário internacional”, afirmou o especialista em relações internacionais Evandro Menezes, da FGV Direito Rio e professor visitante da Fudan University (China).O especialista em comércio internacional Antônio Garbelini Júnior, do escritório Siqueira Castro Advogados, concorda. “Abrir mão da presidência não reduz nossa participação no banco, mostra maturidade política. Se o Brasil não tivesse cedido, teríamos perdido uma oportunidade importante no campo internacional”. Após a Índia, será a vez de o Brasil assumir a presidência do banco dos Brics. O mandato será de cinco anos e a sede será em Xangai, como queria a China ApresidentaDilmanafotooficialcomPutin(Rússia),Modi(Índia)Jinping(China)eZuma(ÁfricadoSul) Consenso em Fortaleza Rogerio Studart [email protected] A 6ª Cúpula dos Brics representa o ápice de um processo de diálogos e negociações de um grupo de países que têm muita diversidade, mas também alguns aspectos e aspirações em comum. Um grupo que possui um potencial de crescimento maior, desenvolvimento duradouro e um protagonismo internacional mais amplo. Em comum, também tem uma visão de que os recursos e as instituições da atual arquitetura financeira internacional não são suficientes para fazer face aos desafios que enfrentam as economias em desenvolvimento. Aqui foram criados um acordo contingente de reservas e um banco de desenvolvimento que se complementam como instrumentos para ajudar a estabilidade das finanças externa e investimentos nestes países. O fundo contingente será um colchão adicional de liquidez de US$ 100 bilhões dos países membros, que podem utilizá-lo caso um surto de volatilidade no mercado internacional ameace a sustentabilidade de balanço de pagamen- tos de qualquer dos cinco membros. Em um mundo traumatizado por um crise sem precedentes, e com estabilidade financeira ainda vulnerável a fenômenos (econômicos ou políticos) pontuais, a iniciativa é bem-vinda. O banco de desenvolvimento foi criado com um capital subscrito de US$ 50 bilhões e um capital autorizado de US$ 100 bilhões. Ele nasce como um banco de tamanho significativo, se comparamos com outras instituições financeiras internacionais. E se volta primordialmente ao financiamento de infraestrutura — o tendão de Aquiles do desenvolvimento na maioria dos países em desenvolvimento. A expectativa é de que ele seja capaz de alavancar recursos de longo prazo nos mercados locais e internacionais, além de promover parceiras com os setores privados dos países membros. Não foi por outra razão que o empresariado mostrou tanto interesse, com centenas participantes na Cúpula. Conforme foi amplamente comentado pela imprensa, houve uma negociação sobre a primeira presidência e a sede da instituição. A solução encontrada foi inte- ressante, tendo em vista a complexidade dos interesses em jogo. A sede será Xanghai, o que facilita a alavancagem de recursos no mercado internacional. A primeira presidência será da Índia, em um sistema de rotação no qual o Brasil seria o segundo a apresentar nomes. O Conselho de Governadores do banco, composto por ministros da Economia e de Finanças, tem um papel de aprovar objetivos estratégicos da instituição, e seu primeiro presidente será da Rússia. O Conselho de Administração, formado por diretores dos cinco países, terá poder de definir estratégias, políticas e projetos, fundamental especialmente no momento que se consolida a instituição — e será presidido por um brasileira. No total, o consenso em Fortaleza foi que a cúpula se constitui um sucesso. Agora, é construir, sob bases sólidas, as instituições que já nascerão como um novo marco na arquitetura financeira internacional. *Rogerio Studart, Professor da UFRJ e Diretor Executivo Adjunto pelo Brasil no Banco Mundial 4 Brasil Econômico Quarta-feira, 16 de julho, 2014 ▲ BRASIL Índice de Gini (2013; 0, melhor, a 1, pior) OS NÚMEROS DOS BRICS 0,500 BRASIL Rússia 0,420 Densidade populacional Habitantes por km2 0,280 Rural Índia 0,370 Urbana PIB 144 milhões US$ trilhões China de habitantes 0,473 África do Sul RÚSSIA 8,4 2,096 0,650 1,35 bilhão Área cultivada (milhões de hectares) de habitantes BRASIL 1,21 bilhão 69 (2012) 121 Rússia de habitantes (2012) 156 Índia China ÍNDIA de habitantes 52 milhões Índice de preços ao consumidor (2013) BRASIL de habitantes 23,6 2,246 42,3 0,382 141 9,185 China PIB per capita (US$) População economicamente ativa (2013, %) 11.171 14.604 Índia 418 China 6.768 7.810 65,9 52,7 53,1 56,6 5,7% População rural (Milhões de habitantes) Dados para a África do Sul indisponíveis Rússia 171,3 73,1 bilhões (2012) 292 bilhões (2012) Índia China BRASIL 358,8 bilhões BRASIL África do Sul 821,3 2,6% bilhões 50,7 bilhões (2012) Investimento estrangeiro direto (2013, emUS$) BRASIL Rússia (2013, %) 6,1 (2013, % do PIB) 35,4 2,6% Reservas cambiais (2013, em US$) 29,7 Taxa de desemprego Investimento em educação África do Sul 11,1% África do Sul População urbana Rússia 6,8% Índia CHINA CIDADE E CAMPO BRASIL 5,9% Rússia ÁFRICA DO SUL BRASIL (2009) Dados para a África do Sul indisponíveis 382 1,726 201 milhões (2010) 135 5,3 5,5 4,3 5,3 3,3 4,1 4,3 25,1 Rússia 37,2 106,1 6,8 64 bilhões Índia 26 bilhões 28 bilhões Índia China África do Sul 2,6% 117,5 trilhões 4,8 bilhões (2012) Saldo da balança comercial (até 2012, US$ milhões) Expectativa de vida ao nascer (2013, em anos) 373 851 74,8 70,7 66,1* 74,8* Mortalidade infantil 15 8,2 42 10,3** 231,8 58,1 China (2013, para cada 1.000 nascidos vivos) Dados para a África do Sul indisponíveis 45,1 731 629 53,5 28,8 -4,2 -7,8 Rússia 145,8 BRASIL -21,6 Índia -125,4 2000 06 07 08 09 10 *Para Índia, em 2011; para a China, em 2010 **China, em 2012 Fonte: Brics - Publicação Conjunta de Estatísticas 2014/Organizado pelo IBGE China 11 2012 Quarta-feira, 16 de julho, 2014 Brasil Econômico 5 Divulgação EDUCAÇÃO Ensino público usa mais a internet Os professores de escolas públicas utilizaram mais a internet durante as aulas em 2013. O percentual de utilização da rede subiu de 36% em 2012 para 46% no ano passado, segundo o Comitê Gestor da Internet no Brasil. O levantamento, feito com 994 escolas públicas e privadas do país, revelou também que a velocidade de conexão com a internet é menor nas instituições públicas. ABr Nacho Doce/ Reuters Evitar uma hegemonia da China é uma preocupação de Brasil, Rússia, Índia e África do Sul, que fizeram reunião de cúpula dos Brics ontem em Fortaleza Divergências geram tensão As fotos de líderes de mãos dadas não refletem os atritos que vários temas provocam entre os países do Brics, como as pretensões comerciais da China na América Latina Mariana Mainenti [email protected] Sonia Filgueiras [email protected] Brasília Apesar do clima de ótimos amigos que os mandatários dos Brics transpareceram após a cúpula de ontem, remanesceram do encontro divergências importantes das quais os participantes não poderão se esquivar por muito tempo. Não à toa, no acordo fechado em Fortaleza, o Brasil tratou de assegurar uma equidade na participação dos integrantes dos Brics no banco de desenvolvimento. Um peso maior da China poderia fazer com que o país asiático tivesse também um poder maior de decisão sobre a gestão dos investimentos da instituição. Mas o esforço brasileiro para evitar uma hegemonia chinesa não se esgota aí. A própria realização da reunião entre os Brics e países da América do Sul, agendada para hoje em Brasília, demonstra, na visão de espe- cialistas, uma necessidade do Brasil de marcar posição em relação à China no continente. “O Brasil tomou a iniciativa de convocar essa reunião porque os chineses querem um acordo de livre comércio com a América Lati- Um peso maior da China poderia fazer com que o país asiático tivesse também um poder maior de decisão sobre a gestão dos investimentos do novo banco dos Brics na e o governo brasileiro tem resistido a isso. O Brasil é um país com pretensões elevadas no cenário internacional, como integrar o Conselho de Segurança da ONU, e com um peso econômico muito maior do que os demais países da região. Ele teria um peso diferenciado num acordo como esse. Por isso, tomou a iniciativa de liderar o diálogo, sem correr o risco de ser ultrapassado pela China”, afirmou o especialista em relações internacionais Evandro Menezes, professor da FGV Direito Rio e professor visitante da Fudan University (China) e Senior Scholar da Shanghai University of Finance and Economics (Programa OEA-China). Na entrevista coletiva, a presidenta Dilma Rousseff disse que não há riscos de que a China tenha uma posição hegemônica no novo banco de desenvolvimento. “No banco dos Brics, optamos por fazer uma distribuição igualitária do capital subscrito porque nenhum de nós quis se mostrar hege- “ A China atua discretamente porque o que ela quer é assegurar a sua segurança energética e alimentar, mas não tem pretensão de ser uma liderança mundial” Evandro Menezes Professor de Direito da FGV Rio mônico perante os demais”, afirmou a presidenta, acrescentando que a questão igualitária das cotas previne a possibilidade de hegemonia chinesa. Dilma acrescentou que, principalmente, Brasil e Rússia também terão elevada ca- pacidade de contribuir financeiramente com a instituição, devido ao seu alto nível de reservas. “Eu não acredito que o formato do banco dos Brics levará a um conflito do padrão das instituições de Bretton Woods”, afirmou Dilma. A criação do banco, contudo, é especialmente estratégica para os chineses. “A China não depende do banco dos Brics para fazer os financiamentos que pretende fazer. Mas a instituição fortalece o país no sistema internacional”, avaliou Menezes, da FGV. O especialista em relações internacionais, que reside em Xangai, ressaltou que aos chineses não interessa ultrapassar os EUA como potência mundial. “A China atua discretamente porque o que ela quer é assegurar a sua segurança energética e alimentar, mas não tem pretensão de ser uma liderança mundial”, destacou. Dessa forma, acredita Menezes, fazer financiamentos por meio do banco dos Brics concede ao país uma posição menos visada do que fazendo empréstimos diretamente. Além de demarcar território em relação à China na reunião com os países da América do Sul prevista para a tarde, a presidenta Dilma terá hoje um encontro com o primeiro-ministro indiano, no qual terá de tratar de temas também sinuosos. Por questões de segurança alimentar, a Índia apresentou preocupações em relação ao acordo de Bali, que o Brasil apoia. “Estamos falando em banco de fomento e fundo, mas acho que a implementação desses projetos não será fácil, pois ainda temos questões prementes para resolver com países do bloco, como a Índia”, diz Menezes.