1 Edição nº 01 | Julho de 2014 O I See BRICS é produzido pela agência de comunicação Imagem Corporativa com a finalidade de analisar as percepções em torno da 6ª Cúpúla dos Brics, realizada em julho, que reuniu os chefes de Estado de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul em Fortaleza (CE). Ela inclui uma pesquisa inédita, realizada para este boletim, junto a executivos de empresas de diversos setores, assim como entrevistas com especialistas no assunto. 2 PANORAMA A projeção internacional que o Brasil obteve com a realização da Copa do Mundo de Futebol no país teve continuidade na semana seguinte ao encerramento do evento esportivo. Em 14 de julho foi iniciada a 6ª Cúpula dos Brics – e as discussões deslocaram-se para o campo da política e da economia. Sob o tema Crescimento inclusivo: soluções sustentáveis, o encontro reuniu em Fortaleza (CE) os países emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul até o dia 15, e contou com uma série de encontros paralelos entre autoridades e empresários. O documento final do encontro (a Declaração de Fortaleza) comentou de passagem o cenário político internacional, fazendo referências às crises na África, no Oriente Médio e (de forma bem diplomática) na Ucrânia, além de citar a questão climática. Mas a principal razão para o encontro foi o estreitamento de laços econômicos, bem como a busca de um espaço maior nas instituições financeiras multilaterais. “Reiteramos nosso compromisso de promover nossa parceria para o desenvolvimento comum”, afirmaram os países no documento, que também sinaliza a realização da 7º Cúpula do Brics em 2015 na cidade de Ufa, na Rússia. A pauta da reunião foi voltada à criação de mecanismos de financiamento comuns voltados ao desenvolvimento dos cinco integrantes do grupo. Os cinco chefes de Estado estiveram presentes: além de Dilma Rousseff, se reuniram na capital cearense o recém-empossado primeiro-ministro indiano Narendra Modi e os presidentes Vladimir Putin (Rússia), Xi Jinping (China) e Jacob Zuma (África do Sul). 3 DESENVOLVIMENTO PARA TODOS A medida mais expressiva tomada na cúpula foi a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) – uma instituição capitalizada com recursos dos cinco países que deverá atuar como um agente de fomento ao desenvolvimento dos Brics. Será estabelecida, desta forma, uma alternativa ao sistema de financiamento internacional criado em 1944 em Bretton Woods (EUA), que tem no Banco Mundial (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento, ou Bird) e no Fundo Monetário Internacional (FMI) seus principais expoentes. infraestrutura e serviços “devem atender, acima de tudo, aos interesses das comunidades pobres e vulneráveis, por meio de desenvolvimento de infraestrutura rural, da criação de empregos sustentáveis, da promoção dos direitos das mulheres e do incentivo à energia renovável. Não queremos mais do mesmo.” Já o economista Mark Weisbrot, codiretor do Center for Economic and Policy Research (CEPR) – um think tank norte-americano sediado em Washington –, afirmou que o novo banco terá como efeito reduzir a influência global de EUA e Europa sobre o resto do mundo. “Setenta anos é muito tempo para ter todas as instituições internacionais com alguma capacidade de decisão em questões econômicas sendo controladas pelos EUA e um punhado de aliados ricos”, afirmou, apostando que o NBD tem potencial de “virar o jogo”. “A criação do banco dos Brics, e com ele a promessa de se reformar a arquitetura global de desenvolvimento, representa uma oportunidade real e concreta para os governos destes países assegurarem o financiamento ao desenvolvimento de forma que leve em conta as necessidades dos mais pobres e marginalizados”, avaliou a Oxfam (organização internacional voltada ao combate à pobreza que atua em cerca de 90 países) no documento The Brics development bank: Why the world’s newest global bank must adopt a pro-poor agenda, lançado no mês passado. Com um capital inicial de US$ 50 bilhões (que deverá dobrar nos próximos anos), o banco inicialmente destinará seus recursos aos países-membros – embora a ideia seja, depois, expandir sua abrangência para outras nações. O estabelecimento da nova instituição ganhou muita atenção na imprensa brasileira por conta do fato de a presidência do NBD ter ficado com a Índia, e Xangai (China) ser designada como a De acordo com o diretor da entidade no Brasil, Simon Ticehurst, os investimentos do banco em 4 ~ A VISAO DA IMPRENSA cidade que sediará o banco. A presidente Dilma Rousseff chegou a justificar a decisão, afirmando que a primeira presidência da instituição deveria ficar com o país que propôs sua criação – a Índia. Em geral, a imprensa acompanhou com interesse a reunião de Fortaleza. Se, por um lado, os veículos estrangeiros pareceram mais propensos a dar atenção ao significado da criação do novo banco – inclusive admitindo que ele decorreria, em larga medida, da falta de espaço dos emergentes nas instituições multilaterais –, por outro os jornais brasileiros deram a essa perspectiva um viés mais nacionalista, com largo destaque ao fato de o Brasil não ter ocupado a presidência do NBD. “Não queremos mais do mesmo” Simon Ticehurst, diretor da Oxfam no Brasil Além do NBD, outra medida importante foi o estabelecimento do Acordo Contingente de Reserva (CRA, na sigla em inglês), por meio do qual será possível socorrer países em dificuldades. Com proposta de ter capital disponível de US$ 100 bilhões, o mecanismo será financiado por China (41%), Brasil, Rússia e Índia (18% cada) e África do Sul (5%). Neste ponto, o desafio à arquitetura de Bretton Woods é mais claro: afinal, os possíveis beneficiários dos recursos deste fundo não teriam de recorrer ao FMI ou ao Banco Mundial. Um destes países pode ser a Argentina – mas não na crise atual, decorrente das dívidas do país com os chamados “fundos abutres”. Isso porque o CRA só deverá entrar em operação em 2016, e atenderá inicialmente aos cinco Brics. Em 16 de julho, dia seguinte à Declaração de Fortaleza, o Financial Times não teve papas na língua e avaliou que o NBD estará sob a sombra da China – e a escolha de Xangai como sede do banco foi um símbolo desta situação. “Para os líderes democráticos do Brics e para o Brasil em particular, o perigo é que eles sejam vistos como um grupo que trocou um conjunto de potências hegemônicas (EUA e Europa) por outra, a China.” E alertou para a fragmentação da governança econômica em “múltiplos centros de poder, competindo por influência e menos capazes de trabalhar juntos”. 5 “Será interessante ver como as diferenças [entre os Brics] afetarão a governança e as operações do banco” Em editorial publicado em 23 de julho, o The New York Times reconheceu que, apesar de concentrarem 40% da população mundial e 20% da atividade econômica do planeta, os Brics sempre foram marginalizados em instituições como o FMI e o Banco Mundial, controladas por europeus e norte-americanos. Mas salientou que as diferenças entre os cinco países podem ser um grande desafio para sua ambição de estabelecer uma alternativa global de financiamento. “Rússia e China, por exemplo, são regimes autoritários; Índia e Brasil são democracias. Alguns serão mais dispostos que outros em observar as leis internacionais ou os direitos humanos (...). Será interessante ver como estas diferenças afetarão a governança e as operações do banco.” The New York Times, 23 de julho de 2014 No Brasil, as manchetes priorizaram o fato de o Brasil ter “aberto mão” de presidir o banco dos Brics. Em 16 de julho, por exemplo, a Folha de S. Paulo interpretou a decisão como uma derrota diplomática do país, ainda que tenha dado espaço para a visão de que a presidência do NBD seria um objetivo secundário. No dia seguinte, outro ponto que chamou a atenção da imprensa brasileira foi a presença da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, durante a reunião conjunta entre os líderes do Brics e os 12 países soberanos da América do Sul. A ideia da mandatária era chamar a atenção para a situação de seu país na luta contra os “fundos abutres”. O pesquisador do think tank norte-americano New America Foundation, Parag Khanna, publicou um texto no The Huffington Post (traduzido em 27 de julho por O Estado de S. Paulo) argumentando que, além de refletir a insatisfação dos países emergentes com os mecanismos de financiamento internacional estabelecidos em Bretton Woods, a criação do NBD mostraria também um posicionamento diferente dos Brics com relação a prioridades em alocação de recursos “no que concerne à necessidade de priorizar a infraestrutura física em relação a outras prioridades (como educação, saúde, direitos da mulher, entre outros), para os quais o Banco Mundial se voltou nas últimas décadas”. De acordo com o Valor de 17 de julho, além dos discursos de solidariedade à Argentina e às promessas de maior estreitamento econômico e político entre os países, o evento deu à China a possibilidade de se aproximar mais das nações da região – nas quais já tem uma presença econômica importante há anos. O presidente Xi Jinping chegou inclusive a firmar um compromisso de investir R$ 860 milhões no estado de São Paulo, por meio da Sany Heavy 6 7 Cantanhêde avaliou, na Folha de S. Paulo, que os Brics alavancariam a presença da América do Sul, ao mesmo tempo em que sustentariam o processo de construção da hegemonia da China no mundo. “Reiteramos nosso compromisso de promover nossa parceria para o desenvolvimento comum” Declaração de Fortaleza Dias após o fim da cúpula, em 18 de julho, a Folha de S. Paulo atribui ao encontro o estabelecimento de uma nova fase na história do bloco, o “Brics 2.0”. Segundo o articulista Marcos Troyjo – que integra o Conselho Consultivo do Fórum Econômico Mundial, é codiretor do BRICLab da Universidade Columbia (EUA) e pesquisador do Centre d’Études sur l’Actuel et le Quotidien (CEAQ) da Universidade Paris-Descartes (Sorbonne, França) –, o Brasil terá um papel importante no NBD, ao assumir a presidência de seu conselho e, assim, terá voz ativa na definição dos rumos estratégicos do banco. Mas o especialista também deixou claro que a instituição não é nenhuma panaceia para os males do Brasil. Dias antes, Troyjo falou ao Financial Times que o NBD será útil à China aos lhe dar um status de nação ainda emergente, quando na verdade já é uma superpotência econômica. Industry (máquinas para a construção civil), que construirá sua primeira fábrica latinoamericana em Jacareí; e da BYD (tecnologia da informação e energias renováveis), que montará ônibus elétricos, baterias de fosfato de ferro e painéis solares. No caso da Rússia, a vantagem tanto da cúpula quanto da reunião com os sul-americanos foi “mostrar que não está complementamente isolada no cenário internacional”. Esta disposição de Moscou se tornaria mais urgente na tarde do mesmo dia em que saiu a reportagem, quando um avião da Malaysia Airlines foi abatido sobre a Ucrânia, provavelmente por separatistas pró-russos. No mesmo dia, a articulista Eliane 8 A ORIGEM DOS BRICS Com experiência em instituições como o Bank of America e a Swiss Bank Corporation (SBC), o economista Jim O’Neill se tornou em 2001 o responsável pelas pesquisas econômicas do banco norte-americano Goldman Sachs. Foi nesta ocasião em que, em um relatório intitulado The world needs better economic Brics, ele criou o acrônimo que, ao reunir Brasil, Rússia, Índia e China, tentava revelar o dinamismo econômico que esse grupo de países vinha mostrando no cenário global. Ou seja, entre as nações emergentes do antigo Terceiro Mundo e do universo socialista havia forças com potencial de ganhar espaços das economias mais maduras com o tempo. Com o tempo o conceito acabou sendo politizado, dando origem ao grupo de países Brics – o “s” final denotando o ingresso da África do Sul. Com a crise financeira mundial de 2008, esses países acabaram resistindo aos impulsos da desaceleração generalizada que predominava nos Estados Unidos, na Europa e no Japão após a queda do banco Lehman Brothers. E se tornaram as “bolas da vez” entre analistas econômicos, vistos como novas forças que sustentariam a recuperação da economia global. Hoje o cenário é bem diferente – e o entusiasmo com os Brics, menor. Ao mesmo tempo em que a Europa ainda convive com sequelas da crise, a dinâmica de crescimento econômico dos emergentes diminuiu (veja quadro abaixo). O próprio O’Neill afirmou, no ano passado, que apenas a China é digna de ser percebida como uma economia pujante. “Se fosse mudar [a sigla], ela só teria a letra ‘C’”, afirmou. Mas outros grupos de “bolas da vez” foram sugeridos – e novamente O’Neill acionou sua bola de cristal ao se aposentar do Goldman Sachs Asset Management. Em seu último relatório aos clientes, em maio do ano passado, ele apostou no acrônimo Mist (criado por ele mesmo em 2012): México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia. E observou outro grupo de potenciais emergentes, o Next Eleven, ou N11 – este formado por Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, México, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Turquia, Coreia do Sul e Vietnã. 9 RAIO-X DOS BRICS Saldo comercial do Brasil (US$ milhões) (*) Reservas internacionais (em US$ bilhões) 11.208,08 --- 358,81 14.611,70 + 298,08 509,69 População (em milhões) PIB (em US$ bilhões) PIB per capita (em US$) Brasil 200,4 2.245,67 Rússia 143,5 2.096,77 Índia 1.252 1.876,79 1.498,87 - 3.227,22 298,09 China 1.357 9.240,27 6.807,43 + 8.724,00 3.880,36 África do Sul 52,98 350,63 6.617,91 + 1.116,72 49,70 Dados de 2013, em valores correntes, exceto (*), US$ FOB Fontes: Banco Mundial; MDIC DINAMISMO EM BAIXA Crescimento anual do PIB dos Brics de 2003 a 2013 (em %) Fonte: Banco Mundial 10 FINANCIAMENTO ALTERNATIVO B loco econômico em formação ou agremiação de países com pontos de vista em comum na política internacional? Colcha de retalhos entre países com pouco em comum ou associação de emergentes em busca de mais espaço nos fóruns globais? As percepções em torno do grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul são bastante variadas, dependendo da visão de mundo de quem faz a avaliação. I See BRICS entrevistou alguns especialistas acadêmicos, professores de instituições brasileiras de ensino superior, para saber um pouco sobre suas expectativas com relação ao potencial do bloco. tomadores de decisão do FMI”, afirmou, acrescentando que isso seria um instrumento de pressão para que os Brics tenham mais voz nas instituições financeiras mundiais. “A proposta [dos Brics] é mudar a ordem internacional estabelecida após a 2ª Guerra Mundial.” Williams Gonçalves, Uerj No entendimento do professor do programa de pós-graduação em Relações Interrnacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Williams Gonçalves, há uma incompreensão generalizada sobre o real significado da união dos cinco países. “Costuma-se analisar o Brics como se fosse uma proposta de integração, mas não se trata disso. O Brics é uma concertação política com vistas a uma atuação no nível multilateral. Ou seja, é paralelo e simultâneo às relações bilaterais entre os países que o compõem. E sua proposta é mudar a ordem internacional estabelecida no final da 2ª Guerra Mundial pelos EUA e seus aliados europeus”, afirmou. Segundo ele, essa postura do bloco vem gerando bastante interesse por parte de centros de formulação de políticas nos países Para o professor de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, a criação de um banco de desenvolvimento pelos Brics é algo bastante positivo. “Eu diria que a concretização do projeto cumpre um objetivo duplo. Em primeiro lugar, irá atender a eventuais desequilíbrios do balanço de pagamentos dos Brics. Ele servirá como um ‘colchão’ que os países poderão usar no caso de se verem às voltas com problemas cambiais, ou precisarem de financiamentos. Além disso, o banco apresenta a possibilidade de os Brics recorrerem a ele e não ao FMI em caso de uma necessidade. Essa autonomia reforçará a posição dos países emergentes diante da composição dos órgãos 11 novas agremiações tem sido problemática na América Latina, contribuindo para separar mais os países. “Temos de ter cuidado para não deixar de lado entidades que têm história, como a OEA [Organização dos Estados Americanos]. A Unasul [União de Nações Sul-Americanas], por exemplo, é muito focada no aspecto ideológico, e vemos novos acordos comerciais surgindo, como a Aliança do Pacífico.” desenvolvidos. “Aqui no Brasil nos prendemos a detalhes, como a questão da presidência do banco [de desenvolvimento dos Brics].” O professor defende que o fator em comum entre os cinco países é justamente essa disposição em criar um centro alternativo de poder. “Não temos nada a ver com a Rússia, como também somos diferentes da China, da Índia e da África do Sul. Mas temos uma visão comum da política internacional – e é isso que dá consistência ao Brics”, finalizou. Com relação a possíveis ganhos comerciais do Brasil a partir de sua associação com os demais Brics, Rochlin é cético. “O bloco abre canais de comunicação entre os seus integrantes. Mas o aumento do fluxo de comércio dependerá mais da produtividade dos produtos e das condições econômicas de cada país. Afinal, o Brics não é um bloco comercial, com tarifas alfandegárias em comum etc”, avaliou. “A autonomia [dos Brics] reforçará a posição dos países emergentes diante da composição dos órgãos tomadores de decisão do FMI.” Mauro Rochlin, FGV “Será necessário que [banco de desenvolvimento] trabalhe em conjunto com instituições como o FMI.” Já o professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Mario Gaspar Sacchi, defende que as estruturas criadas no âmbito do Brics atuem de forma complementar às instituições já existentes – inclusive na América Latina. “Trata-se da criação de mais um agente financiador – mas não será autossuficiente para enfrentarmos os problemas aqui da região. Será necessário que trabalhe em conjunto com instituições como o FMI”, afirmou. Ele acrescentou que a preocupação em se formar Mario Gaspar Sacchi, ESPM 12 13 PESQUISA: O QUE ESPERAR DOS BRICS? As expectativas em torno dos benefícios que o bloco Brics pode trazer a seus integrantes em termos de oportunidades de negócios e desenvolvimento econômico são bastante diferentes entre empresários brasileiros. I See BRICS realizou na semana passada uma pesquisa inédita com executivos de diversas companhias do país para saber sua percepção sobre as discussões realizadas durante a cúpula de Fortaleza – e se o bloco tem relevância em um cenário global que vem privilegiando acordos de livre comércio entre os países. Foi consultado um universo de 17 pessoas, atuantes em segmentos diversos – como financeiro, automotivo, alimentício e farmacêutico, entre outros. Pouco mais da metade dos consultados (56,25%) avaliou o impacto do Brics como positivo para o ambiente de negócios no país. Um total de 37,5% achou o saldo das conversas nulo, enquanto 6,25% o consideraram negativo. “Encontros como o de Fortaleza também proporcionam negociações paralelas entre os países emergentes. Mas há um longo caminho a se percorrer”, afirmou um dos entrevistados. Outro salientou que a união entre os cinco países poderia ser uma alternativa ao Mercosul, “que se mostra cada vez mais esgotado em seu modelo”. A criação de um banco de desenvolvimento, com capital repartido entre os cinco Brics, foi a principal medida anunciada durante a conferência. A ideia, alardeada pelos chefes de Estado participantes, é a de se desenvolver uma alternativa às fontes de financiamento internacionais atuais, estabelecidas ao término da 2ª Guerra Mundial – o FMI e o Banco Mundial. A maioria dos entrevistados (56,25%) considera que essa nova instituição não deverá substituir o sistema vigente. “O grupo ainda está em fase de consolidação. Por enquanto, sua influência é reduzida”, afirmou um dos participantes da pesquisa. De forma similar, a criação de um sistema de crédito entre os cinco países em moeda local, destinado a projetos de infraestrutura, foi percebido como positivo por 68,75% dos consultados. Já a escolha diplomática e comercial do Brasil por se aproximar com países emergentes – intensificada após a crise financeira mundial de 2008 ter debilitado as economias centrais 14 – foi vista como equivocada por 68,75% dos entrevistados. “As pretensões de que todos cresceriam a ponto de assumir um papel de maior importância no cenário econômico e geopolítico não se concretizaram, exceto no caso da China e da Índia. Vivese uma ilusão em torno de nações com interesses e potenciais econômicos diversos, que tomam decisões em alguns casos com viés ideológico que ‘cheira a naftalina’”, opininou um participante. A decisão do Brasil de abrir mão da presidência do futuro banco de desenvolvimento dos Brics – que ficou com a Índia – não deverá afetar a proeminência do país dentro do bloco; esta foi a opinião de 75% dos participantes do levantamento. “A criação do banco e de um fundo anticrise certamente surgem como alternativas às dependências econômicas do FMI e do Banco Mundial para esses países – que reivindicam mais influência e participação nas decisões econômicas mundiais.” Impacto do Brics para o ambiente de negócios no Brasil 6,25% A aproximação do Brasil com outros emergentes é acertada? 37,5% 31,25% Nulo Sim Positivo Não “Vejo [o bloco] como positivo por ser um posicionamento de países que antes não tinham protagonismo – e, quem sabe, possam ser mais criativos.” “Na falta de acordos bilaterais, que parecem ser o melhor caminho, o Brics é a melhor solução no momento, e os resultados da cúpula foram positivos.” “O Brasil é um país extremamente mal-posicionado em diplomacia e comércio exterior. Com parceiros como China e Rússia, tende a ser refém de medidas unilaterais de regimes não-democráticos.” É a oportunidade de fortalecer um grupo de países que têm alto potencial de crescimento.” “O Brics é relevante, ainda mais quando vemos outros países em desenvolvimento aparecerem no cenário mundial. A união deste grupo é importante para que cada país possa transmitir suas experiências e aprender com os demais.” 68,75% 56,25% VISÕES DIVERGENTES: OPINIÕES SOBRE O BRICS Negativo 15 ~ A DECLARACAO ‘ Acreditamos que o BRICS é uma importante força para mudanças e reformas incrementais das atuais instituições em direção à governança mais representativa e equitativa, capaz de gerar crescimento global mais inclusivo e de proporcionar um mundo estável, pacífico e próspero. O Banco [de desenvolvimento] fortalecerá a cooperação entre nossos países e complementará os esforços de instituições financeiras multilaterais e regionais para o desenvolvimento global, contribuindo, assim, para nossos compromissos coletivos na consecução da meta de crescimento forte, sustentável e equilibrado. [O Arranjo Contingente de Reservas] terá efeito positivo em termos de precaução, ajudará países a contrapor-se a pressões por liquidez de curto prazo, promoverá maior cooperação entre os Brics, fortalecerá a rede de segurança financeira mundial e complementará arranjos internacionais existentes. Estamos comprometidos em elevar nossa cooperação econômica a um novo patamar qualitativo. 16 O DE FORTALEZA Desenvolvimento e segurança são estreitamente interligados, se reforçam mutuamente e são centrais para o alcance da paz sustentável. Enfatizamos nosso compromisso com a solução sustentável e pacífica de conflitos, conforme os princípios e objetivos da Carta da ONU. Deve ser conferida especial atenção aos jovens e às pequenas e médias empresas, com vistas a promover o intercâmbio e a cooperação internacionais, bem como promover a inovação, a investigação e o desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Energia renovável e limpa, pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias e eficiência energética podem constituir importante motor para promover o desenvolvimento sustentável, criar novo crescimento econômico, reduzir custos energéticos e aumentar a eficiência no uso dos recursos naturais. 17 EXPEDIENTE REDAÇÃO E EDIÇÃO: Diretoria de Conteúdo, Gestão e Estratégia da Imagem Corporativa DIAGRAMAÇÃO: Alexandra Marchesini IMAGENS: Agência Brasil; Xinhua; Presidência da República DATA DA PUBLICAÇÃO: agosto/2014 18 Imagem Corporativa | São Paulo Av. Angélica, 2.530 - 19º andar - Consolação CEP: 01228-200 - São Paulo - SP Fone: 55 11 3526-4500 Imagem Corporativa | Brasília Business Center Tower, Complexo Brasil XXI SHS Quadra 6, Bloco C - 4º andar - CEP: 70316-000 - Brasília - DF Fone: 55 61 3039-8101 Imagem Corporativa | Rio de Janeiro Praia do Flamengo, 66, Bloco B, 14º andar CEP: 22210-903 - Rio de Janeiro - RJ Fone: 55 21 2240-8783 19 20