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Edição nº 01 | Julho de 2014
O I See BRICS é produzido pela agência de comunicação
Imagem Corporativa com a finalidade de analisar as
percepções em torno da 6ª Cúpúla dos Brics, realizada em
julho, que reuniu os chefes de Estado de Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul em Fortaleza (CE). Ela inclui uma pesquisa
inédita, realizada para este boletim, junto a executivos de
empresas de diversos setores, assim como entrevistas com
especialistas no assunto.
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PANORAMA
A
projeção
internacional que
o Brasil obteve
com a realização da Copa
do Mundo de Futebol no
país teve continuidade
na semana seguinte ao
encerramento do evento
esportivo. Em 14 de julho
foi iniciada a 6ª Cúpula
dos Brics – e as discussões
deslocaram-se para o campo
da política e da economia.
Sob o tema Crescimento
inclusivo: soluções
sustentáveis, o encontro
reuniu em Fortaleza (CE) os países emergentes
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul até o
dia 15, e contou com uma série de encontros
paralelos entre autoridades e empresários.
O documento final do encontro (a Declaração de
Fortaleza) comentou de passagem o cenário político
internacional, fazendo referências às crises na África,
no Oriente Médio e (de forma bem diplomática) na
Ucrânia, além de citar a questão climática. Mas a
principal razão para o encontro foi o estreitamento
de laços econômicos, bem como a busca de
um espaço maior nas instituições financeiras
multilaterais. “Reiteramos nosso compromisso de
promover nossa parceria para o desenvolvimento
comum”, afirmaram os países no documento, que
também sinaliza a realização da 7º Cúpula do Brics
em 2015 na cidade de Ufa, na Rússia.
A pauta da reunião foi voltada à criação de
mecanismos de financiamento comuns voltados
ao desenvolvimento dos cinco integrantes do
grupo. Os cinco chefes de Estado estiveram
presentes: além de Dilma Rousseff, se reuniram
na capital cearense o recém-empossado
primeiro-ministro indiano Narendra Modi e os
presidentes Vladimir Putin (Rússia), Xi Jinping
(China) e Jacob Zuma (África do Sul).
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DESENVOLVIMENTO PARA TODOS
A
medida mais expressiva tomada na
cúpula foi a criação do Novo Banco de
Desenvolvimento (NBD) – uma instituição
capitalizada com recursos dos cinco países que
deverá atuar como um agente de fomento ao
desenvolvimento dos Brics. Será estabelecida,
desta forma, uma alternativa ao sistema de
financiamento internacional criado em 1944
em Bretton Woods (EUA), que tem no Banco
Mundial (Banco Internacional para Reconstrução
e Desenvolvimento, ou Bird) e no Fundo
Monetário Internacional (FMI) seus principais
expoentes.
infraestrutura e serviços “devem atender, acima
de tudo, aos interesses das comunidades pobres
e vulneráveis, por meio de desenvolvimento
de infraestrutura rural, da criação de empregos
sustentáveis, da promoção dos direitos das
mulheres e do incentivo à energia renovável. Não
queremos mais do mesmo.”
Já o economista Mark Weisbrot, codiretor do
Center for Economic and Policy Research (CEPR)
– um think tank norte-americano sediado em
Washington –, afirmou que o novo banco terá
como efeito reduzir a influência global de EUA e
Europa sobre o resto do mundo. “Setenta anos
é muito tempo para ter todas as instituições
internacionais com alguma capacidade de
decisão em questões econômicas sendo
controladas pelos EUA e um punhado de aliados
ricos”, afirmou, apostando que o NBD tem
potencial de “virar o jogo”.
“A criação do banco dos Brics, e com ele
a promessa de se reformar a arquitetura
global de desenvolvimento, representa uma
oportunidade real e concreta para os governos
destes países assegurarem o financiamento ao
desenvolvimento de forma que leve em conta as
necessidades dos mais pobres e marginalizados”,
avaliou a Oxfam (organização internacional
voltada ao combate à pobreza que atua em
cerca de 90 países) no documento The Brics
development bank: Why the world’s newest global
bank must adopt a pro-poor agenda, lançado no
mês passado.
Com um capital inicial de US$ 50 bilhões (que
deverá dobrar nos próximos anos), o banco
inicialmente destinará seus recursos aos
países-membros – embora a ideia seja, depois,
expandir sua abrangência para outras nações.
O estabelecimento da nova instituição ganhou
muita atenção na imprensa brasileira por conta
do fato de a presidência do NBD ter ficado com
a Índia, e Xangai (China) ser designada como a
De acordo com o diretor da entidade no Brasil,
Simon Ticehurst, os investimentos do banco em
4
~
A VISAO DA
IMPRENSA
cidade que sediará o banco. A presidente Dilma
Rousseff chegou a justificar a decisão, afirmando
que a primeira presidência da instituição deveria
ficar com o país que propôs sua criação – a Índia.
Em geral, a imprensa acompanhou com
interesse a reunião de Fortaleza. Se,
por um lado, os veículos estrangeiros
pareceram mais propensos a dar atenção
ao significado da criação do novo banco
– inclusive admitindo que ele decorreria,
em larga medida, da falta de espaço dos
emergentes nas instituições multilaterais –,
por outro os jornais brasileiros deram a essa
perspectiva um viés mais nacionalista, com
largo destaque ao fato de o Brasil não ter
ocupado a presidência do NBD.
“Não queremos
mais do mesmo”
Simon Ticehurst,
diretor da Oxfam no Brasil
Além do NBD, outra medida importante foi
o estabelecimento do Acordo Contingente
de Reserva (CRA, na sigla em inglês), por
meio do qual será possível socorrer países
em dificuldades. Com proposta de ter capital
disponível de US$ 100 bilhões, o mecanismo
será financiado por China (41%), Brasil, Rússia
e Índia (18% cada) e África do Sul (5%). Neste
ponto, o desafio à arquitetura de Bretton Woods
é mais claro: afinal, os possíveis beneficiários
dos recursos deste fundo não teriam de recorrer
ao FMI ou ao Banco Mundial. Um destes países
pode ser a Argentina – mas não na crise atual,
decorrente das dívidas do país com os chamados
“fundos abutres”. Isso porque o CRA só deverá
entrar em operação em 2016, e atenderá
inicialmente aos cinco Brics.
Em 16 de julho, dia seguinte à Declaração
de Fortaleza, o Financial Times não teve
papas na língua e avaliou que o NBD
estará sob a sombra da China – e a escolha
de Xangai como sede do banco foi um
símbolo desta situação. “Para os líderes
democráticos do Brics e para o Brasil
em particular, o perigo é que eles sejam
vistos como um grupo que trocou um
conjunto de potências hegemônicas (EUA
e Europa) por outra, a China.” E alertou
para a fragmentação da governança
econômica em “múltiplos centros de
poder, competindo por influência e menos
capazes de trabalhar juntos”.
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“Será interessante ver como
as diferenças [entre os Brics]
afetarão a governança e
as operações do banco”
Em editorial publicado em 23 de julho, o
The New York Times reconheceu que, apesar de
concentrarem 40% da população mundial e 20%
da atividade econômica do planeta, os Brics
sempre foram marginalizados em instituições
como o FMI e o Banco Mundial, controladas por
europeus e norte-americanos. Mas salientou que
as diferenças entre os cinco países podem ser um
grande desafio para sua ambição de estabelecer
uma alternativa global de financiamento. “Rússia
e China, por exemplo, são regimes autoritários;
Índia e Brasil são democracias. Alguns serão
mais dispostos que outros em observar as leis
internacionais ou os direitos humanos (...). Será
interessante ver como estas diferenças afetarão a
governança e as operações do banco.”
The New York Times, 23 de julho de 2014
No Brasil, as manchetes priorizaram o fato de
o Brasil ter “aberto mão” de presidir o banco
dos Brics. Em 16 de julho, por exemplo, a Folha
de S. Paulo interpretou a decisão como uma
derrota diplomática do país, ainda que tenha
dado espaço para a visão de que a presidência
do NBD seria um objetivo secundário. No dia
seguinte, outro ponto que chamou a atenção da
imprensa brasileira foi a presença da presidente
da Argentina, Cristina Kirchner, durante a
reunião conjunta entre os líderes do Brics e os 12
países soberanos da América do Sul. A ideia da
mandatária era chamar a atenção para a situação
de seu país na luta contra os “fundos abutres”.
O pesquisador do think tank norte-americano
New America Foundation, Parag Khanna,
publicou um texto no The Huffington Post
(traduzido em 27 de julho por O Estado de S.
Paulo) argumentando que, além de refletir a
insatisfação dos países emergentes com os
mecanismos de financiamento internacional
estabelecidos em Bretton Woods, a criação do
NBD mostraria também um posicionamento
diferente dos Brics com relação a prioridades
em alocação de recursos “no que concerne
à necessidade de priorizar a infraestrutura
física em relação a outras prioridades (como
educação, saúde, direitos da mulher, entre
outros), para os quais o Banco Mundial se voltou
nas últimas décadas”.
De acordo com o Valor de 17 de julho, além
dos discursos de solidariedade à Argentina e às
promessas de maior estreitamento econômico
e político entre os países, o evento deu à
China a possibilidade de se aproximar mais
das nações da região – nas quais já tem uma
presença econômica importante há anos. O
presidente Xi Jinping chegou inclusive a firmar
um compromisso de investir R$ 860 milhões no
estado de São Paulo, por meio da Sany Heavy
6
7
Cantanhêde avaliou, na Folha de S. Paulo, que
os Brics alavancariam a presença da América do
Sul, ao mesmo tempo em que sustentariam o
processo de construção da hegemonia da China
no mundo.
“Reiteramos nosso compromisso
de promover nossa parceria para
o desenvolvimento comum”
Declaração de Fortaleza
Dias após o fim da cúpula, em 18 de julho,
a Folha de S. Paulo atribui ao encontro o
estabelecimento de uma nova fase na história
do bloco, o “Brics 2.0”. Segundo o articulista
Marcos Troyjo – que integra o Conselho
Consultivo do Fórum Econômico Mundial, é
codiretor do BRICLab da Universidade Columbia
(EUA) e pesquisador do Centre d’Études sur
l’Actuel et le Quotidien (CEAQ) da Universidade
Paris-Descartes (Sorbonne, França) –, o Brasil
terá um papel importante no NBD, ao assumir
a presidência de seu conselho e, assim, terá voz
ativa na definição dos rumos estratégicos do
banco. Mas o especialista também deixou claro
que a instituição não é nenhuma panaceia para
os males do Brasil. Dias antes, Troyjo falou ao
Financial Times que o NBD será útil à China
aos lhe dar um status de nação ainda
emergente, quando na verdade já é uma
superpotência econômica.
Industry (máquinas para a construção civil),
que construirá sua primeira fábrica latinoamericana em Jacareí; e da BYD (tecnologia da
informação e energias renováveis), que montará
ônibus elétricos, baterias de fosfato de ferro e
painéis solares.
No caso da Rússia, a vantagem tanto da cúpula
quanto da reunião com os sul-americanos foi
“mostrar que não está complementamente
isolada no cenário internacional”. Esta disposição
de Moscou se tornaria mais urgente na tarde do
mesmo dia em que saiu a reportagem, quando
um avião da Malaysia Airlines foi abatido sobre
a Ucrânia, provavelmente por separatistas
pró-russos. No mesmo dia, a articulista Eliane
8
A ORIGEM DOS BRICS
Com experiência em instituições como o Bank of America e a Swiss Bank Corporation (SBC),
o economista Jim O’Neill se tornou em 2001 o responsável pelas pesquisas econômicas
do banco norte-americano Goldman Sachs. Foi nesta ocasião em que, em um relatório
intitulado The world needs better economic Brics, ele criou o acrônimo que, ao reunir Brasil,
Rússia, Índia e China, tentava revelar o dinamismo econômico que esse grupo de países
vinha mostrando no cenário global. Ou seja, entre as nações emergentes do antigo Terceiro
Mundo e do universo socialista havia forças com potencial de ganhar espaços das economias
mais maduras com o tempo.
Com o tempo o conceito acabou sendo politizado, dando origem ao grupo de países
Brics – o “s” final denotando o ingresso da África do Sul. Com a crise financeira mundial de
2008, esses países acabaram resistindo aos impulsos da desaceleração generalizada que
predominava nos Estados Unidos, na Europa e no Japão após a queda do banco Lehman
Brothers. E se tornaram as “bolas da vez” entre analistas econômicos, vistos como novas
forças que sustentariam a recuperação da economia global.
Hoje o cenário é bem diferente – e o entusiasmo com os Brics, menor. Ao mesmo tempo em
que a Europa ainda convive com sequelas da crise, a dinâmica de crescimento econômico
dos emergentes diminuiu (veja quadro abaixo). O próprio O’Neill afirmou, no ano passado,
que apenas a China é digna de ser percebida como uma economia pujante. “Se fosse mudar
[a sigla], ela só teria a letra ‘C’”, afirmou.
Mas outros grupos de “bolas da vez” foram sugeridos – e novamente O’Neill acionou sua bola
de cristal ao se aposentar do Goldman Sachs Asset Management. Em seu último relatório
aos clientes, em maio do ano passado, ele apostou no acrônimo Mist (criado por ele mesmo
em 2012): México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia. E observou outro grupo de potenciais
emergentes, o Next Eleven, ou N11 – este formado por Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã,
México, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Turquia, Coreia do Sul e Vietnã.
9
RAIO-X DOS BRICS
Saldo comercial
do Brasil
(US$ milhões) (*)
Reservas
internacionais
(em US$ bilhões)
11.208,08
---
358,81
14.611,70
+ 298,08
509,69
População
(em milhões)
PIB
(em US$ bilhões)
PIB per capita
(em US$)
Brasil
200,4
2.245,67
Rússia
143,5
2.096,77
Índia
1.252
1.876,79
1.498,87
- 3.227,22
298,09
China
1.357
9.240,27
6.807,43
+ 8.724,00
3.880,36
África do Sul
52,98
350,63
6.617,91
+ 1.116,72
49,70
Dados de 2013, em valores correntes, exceto (*), US$ FOB
Fontes: Banco Mundial; MDIC
DINAMISMO EM BAIXA
Crescimento anual do PIB dos Brics de 2003 a 2013 (em %)
Fonte: Banco Mundial
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FINANCIAMENTO ALTERNATIVO
B
loco econômico em formação ou
agremiação de países com pontos de
vista em comum na política internacional?
Colcha de retalhos entre países com pouco
em comum ou associação de emergentes em
busca de mais espaço nos fóruns globais? As
percepções em torno do grupo formado por
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul são
bastante variadas, dependendo da visão de
mundo de quem faz a avaliação. I See BRICS
entrevistou alguns especialistas acadêmicos,
professores de instituições brasileiras de ensino
superior, para saber um pouco sobre suas
expectativas com relação ao potencial do bloco.
tomadores de decisão do FMI”, afirmou,
acrescentando que isso seria um instrumento de
pressão para que os Brics tenham mais voz nas
instituições financeiras mundiais.
“A proposta [dos Brics] é mudar a
ordem internacional estabelecida
após a 2ª Guerra Mundial.”
Williams Gonçalves, Uerj
No entendimento do professor do programa de
pós-graduação em Relações Interrnacionais da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj),
Williams Gonçalves, há uma incompreensão
generalizada sobre o real significado da união
dos cinco países. “Costuma-se analisar o Brics
como se fosse uma proposta de integração, mas
não se trata disso. O Brics é uma concertação
política com vistas a uma atuação no nível
multilateral. Ou seja, é paralelo e simultâneo
às relações bilaterais entre os países que o
compõem. E sua proposta é mudar a ordem
internacional estabelecida no final da 2ª Guerra
Mundial pelos EUA e seus aliados europeus”,
afirmou. Segundo ele, essa postura do bloco
vem gerando bastante interesse por parte de
centros de formulação de políticas nos países
Para o professor de Economia da Fundação
Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, a criação
de um banco de desenvolvimento pelos
Brics é algo bastante positivo. “Eu diria que a
concretização do projeto cumpre um objetivo
duplo. Em primeiro lugar, irá atender a eventuais
desequilíbrios do balanço de pagamentos dos
Brics. Ele servirá como um ‘colchão’ que os países
poderão usar no caso de se verem às voltas
com problemas cambiais, ou precisarem de
financiamentos. Além disso, o banco apresenta
a possibilidade de os Brics recorrerem a ele
e não ao FMI em caso de uma necessidade.
Essa autonomia reforçará a posição dos países
emergentes diante da composição dos órgãos
11
novas agremiações tem sido problemática na
América Latina, contribuindo para separar mais
os países. “Temos de ter cuidado para não deixar
de lado entidades que têm história, como a OEA
[Organização dos Estados Americanos]. A Unasul
[União de Nações Sul-Americanas], por exemplo,
é muito focada no aspecto ideológico, e vemos
novos acordos comerciais surgindo, como a
Aliança do Pacífico.”
desenvolvidos. “Aqui no Brasil nos prendemos
a detalhes, como a questão da presidência
do banco [de desenvolvimento dos Brics].”
O professor defende que o fator em comum
entre os cinco países é justamente essa
disposição em criar um centro alternativo de
poder. “Não temos nada a ver com a Rússia,
como também somos diferentes da China, da
Índia e da África do Sul. Mas temos uma visão
comum da política internacional – e é isso que dá
consistência ao Brics”, finalizou.
Com relação a possíveis ganhos comerciais do
Brasil a partir de sua associação com os demais
Brics, Rochlin é cético. “O bloco abre canais de
comunicação entre os seus integrantes. Mas o
aumento do fluxo de comércio dependerá mais
da produtividade dos produtos e das condições
econômicas de cada país. Afinal, o Brics não é um
bloco comercial, com tarifas alfandegárias em
comum etc”, avaliou.
“A autonomia [dos Brics]
reforçará a posição dos
países emergentes diante
da composição dos órgãos
tomadores de decisão do FMI.”
Mauro Rochlin, FGV
“Será necessário que
[banco de desenvolvimento]
trabalhe em conjunto com
instituições como o FMI.”
Já o professor de Relações Internacionais da
Escola Superior de Propaganda e Marketing
(ESPM), Mario Gaspar Sacchi, defende que as
estruturas criadas no âmbito do Brics atuem de
forma complementar às instituições já existentes
– inclusive na América Latina. “Trata-se da criação
de mais um agente financiador – mas não será
autossuficiente para enfrentarmos os problemas
aqui da região. Será necessário que trabalhe em
conjunto com instituições como o FMI”, afirmou.
Ele acrescentou que a preocupação em se formar
Mario Gaspar Sacchi, ESPM
12
13
PESQUISA: O QUE ESPERAR DOS BRICS?
As expectativas em torno dos benefícios que o bloco Brics pode trazer a seus integrantes em
termos de oportunidades de negócios e desenvolvimento econômico são bastante diferentes
entre empresários brasileiros. I See BRICS realizou na semana passada uma pesquisa inédita
com executivos de diversas companhias do país para saber sua percepção sobre as discussões
realizadas durante a cúpula de Fortaleza – e se o bloco tem relevância em um cenário global
que vem privilegiando acordos de livre comércio entre os países. Foi consultado um universo
de 17 pessoas, atuantes em segmentos diversos – como financeiro, automotivo, alimentício e
farmacêutico, entre outros.
Pouco mais da metade dos consultados (56,25%) avaliou o impacto do Brics como positivo para
o ambiente de negócios no país. Um total de 37,5% achou o saldo das conversas nulo, enquanto
6,25% o consideraram negativo. “Encontros como o de Fortaleza também proporcionam
negociações paralelas entre os países emergentes. Mas há um longo caminho a se percorrer”,
afirmou um dos entrevistados. Outro salientou que a união entre os cinco países poderia ser
uma alternativa ao Mercosul, “que se mostra cada vez mais esgotado em seu modelo”.
A criação de um banco de desenvolvimento, com capital repartido entre os cinco Brics, foi
a principal medida anunciada durante a conferência. A ideia, alardeada pelos chefes de
Estado participantes, é a de se desenvolver uma alternativa às fontes de financiamento
internacionais atuais, estabelecidas ao término da 2ª Guerra Mundial – o FMI e o Banco
Mundial. A maioria dos entrevistados (56,25%) considera que essa nova instituição não deverá
substituir o sistema vigente. “O grupo ainda está em fase de consolidação. Por enquanto, sua
influência é reduzida”, afirmou um dos participantes da pesquisa. De forma similar, a criação
de um sistema de crédito entre os cinco países em moeda local, destinado a projetos de
infraestrutura, foi percebido como positivo por 68,75% dos consultados.
Já a escolha diplomática e comercial do Brasil por se aproximar com países emergentes –
intensificada após a crise financeira mundial de 2008 ter debilitado as economias centrais
14
– foi vista como equivocada por 68,75% dos entrevistados. “As
pretensões de que todos cresceriam a ponto de assumir um
papel de maior importância no cenário econômico e geopolítico
não se concretizaram, exceto no caso da China e da Índia. Vivese uma ilusão em torno de nações com interesses e potenciais
econômicos diversos, que tomam decisões em alguns casos com
viés ideológico que ‘cheira a naftalina’”, opininou um participante.
A decisão do Brasil de abrir mão da presidência do futuro banco
de desenvolvimento dos Brics – que ficou com a Índia – não
deverá afetar a proeminência do país dentro do bloco; esta foi
a opinião de 75% dos participantes do levantamento. “A criação
do banco e de um fundo anticrise certamente surgem como
alternativas às dependências econômicas do FMI e do Banco
Mundial para esses países – que reivindicam mais influência e
participação nas decisões econômicas mundiais.”
Impacto do Brics para o
ambiente de negócios
no Brasil
6,25%
A aproximação do Brasil
com outros emergentes
é acertada?
37,5%
31,25%
Nulo
Sim
Positivo
Não
“Vejo [o bloco] como positivo por
ser um posicionamento de países
que antes não tinham protagonismo – e, quem sabe, possam ser
mais criativos.”
“Na falta de acordos bilaterais,
que parecem ser o melhor caminho, o Brics é a melhor solução
no momento, e os resultados da
cúpula foram positivos.”
“O Brasil é um país extremamente
mal-posicionado em diplomacia e
comércio exterior. Com parceiros
como China e Rússia, tende a ser
refém de medidas unilaterais de
regimes não-democráticos.”
É a oportunidade de fortalecer
um grupo de países que têm alto
potencial de crescimento.”
“O Brics é relevante, ainda mais
quando vemos outros países em
desenvolvimento aparecerem no
cenário mundial. A união deste
grupo é importante para que
cada país possa transmitir suas
experiências e aprender com
os demais.”
68,75%
56,25%
VISÕES DIVERGENTES:
OPINIÕES SOBRE O BRICS
Negativo
15
~
A DECLARACAO
‘
Acreditamos que o BRICS é uma importante
força para mudanças e reformas incrementais
das atuais instituições em direção à governança
mais representativa e equitativa, capaz de gerar
crescimento global mais inclusivo e de proporcionar
um mundo estável, pacífico e próspero.
O Banco [de desenvolvimento]
fortalecerá a cooperação
entre nossos países e
complementará os esforços
de instituições financeiras
multilaterais e regionais para
o desenvolvimento global,
contribuindo, assim, para
nossos compromissos coletivos
na consecução da meta de
crescimento forte, sustentável e
equilibrado.
[O Arranjo Contingente de Reservas] terá
efeito positivo em termos de precaução, ajudará
países a contrapor-se a pressões por liquidez
de curto prazo, promoverá maior cooperação
entre os Brics, fortalecerá a rede de segurança
financeira mundial e complementará arranjos
internacionais existentes.
Estamos comprometidos em elevar
nossa cooperação econômica a um
novo patamar qualitativo.
16
O DE FORTALEZA
Desenvolvimento e segurança são estreitamente
interligados, se reforçam mutuamente e são
centrais para o alcance da paz sustentável.
Enfatizamos nosso
compromisso com a solução
sustentável e pacífica de
conflitos, conforme os
princípios e objetivos da
Carta da ONU.
Deve ser conferida especial atenção aos
jovens e às pequenas e médias empresas,
com vistas a promover o intercâmbio e
a cooperação internacionais, bem como
promover a inovação, a investigação e
o desenvolvimento das Tecnologias da
Informação e Comunicação (TICs).
Energia renovável e limpa,
pesquisa e desenvolvimento de
novas tecnologias e eficiência
energética podem constituir
importante motor para
promover o desenvolvimento
sustentável, criar novo
crescimento econômico, reduzir
custos energéticos e aumentar a
eficiência no uso dos
recursos naturais.
17
EXPEDIENTE
REDAÇÃO E EDIÇÃO:
Diretoria de Conteúdo, Gestão e Estratégia da Imagem Corporativa
DIAGRAMAÇÃO:
Alexandra Marchesini
IMAGENS:
Agência Brasil; Xinhua; Presidência da República
DATA DA PUBLICAÇÃO:
agosto/2014
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