INDIVIDUOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS NA SOCIEDADE EM REDE: UM OLHAR INCLUSIVO Dayse Alvares de Morais Faculdade Araguaia e Universidade Federal de Goiás http://uttopia21.blogspot.com /[email protected] RESUMO: A presente pesquisa tem como objetivo geral analisar o acesso de pessoas com necessidades especiais na sociedade em rede, mostrando a presença desse público na educação online, comunidades de aprendizagem, assim como em sites que promovem a inclusão e facilita o acesso desse público na Sociedade em Rede. Palavras-chave: Educação online; necessidades especiais e sociedade em rede. Abstract: The present research has as objective generality to analyze the access of special people with necessities in the society in net. Showing, the presence of this public in the education online, communities of learning, thus as sites that promote the inclusion and facilitates the access of this public in the Society in Net. Word-key: Education online; necessities special and society in net. INTRODUÇÃO Com as transformações tecnológicas, crescimento e o acesso as novas formas de relações sociais no mundo virtual e, consequentemente, uma nova forma de ensinar e aprender, perceber-se que um público-alvo ainda vive à margem dessas transformações sociais, não apenas pela falta de inclusão digital, mas pela falta de uma interface amigável, comodidade e falta de planejamento de alguns sites e até mesmo do ambientes virtuais de aprendizagem. 1 Se no mundo dito real as pessoas com necessidades especiais físicas, auditivas e mentais passam por obstáculos reais, no mundo virtual tal realidade surge como problemas de navegação, falta de acesso a cursos virtuais e sites, surgindo as mesmas pedras do meio do caminho real no mundo virtual. Como diria nosso saudoso Drummond: “ existe uma pedra no meio do caminho” , mas e agora José...José para onde? Para onde esse público deve ir? Foi pensando nisso que surgiu esse artigo: para trazer algumas considerações a respeito das pessoas com algum tipo de necessidade especial na terceira vida (internet). Quem são eles? Para onde vão? De onde vem? Como capacitar e incluir esse público na educação online e consequentemente no mercado de trabalho? Quem são eles? As pessoas especiais são todos os indivíduos que têm algum tipo de necessidade especial, seja de cunho físico, auditivo ou mental. Hoje temos mais de 14% da população brasileira com alguma necessidade especial, seja ela baixa visão, restrição física, auditiva ou mental entre outros tipos de restrições ou necessidades especiais. Essas pessoas são compostas por vizinhos, amigos, parentes, gerente, empresário, pela dona de casa, pelo amigo de cerveja do bar do Zé e nós mesmos. O que torna mais preocupante é que com o crescimento da modalidade de educação a distância, em 2007, o Brasil aparece com mais 300 milhões de alunos na graduação a distância e destes apenas 137 eram portadores de necessidades especiais,segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, do Ministério da Educação. 2 Uma modalidade que tem em seu nome a flexibilidade de tempo e espaço, a comodidade para realizar a aprendizagem em casa ou no ambiente de trabalho, que propõe currículos mais flexíveis para o ingresso do individuo ao mercado de trabalho não consegue romper com paradigmas tradicionais na inclusão de pessoas com necessidades especiais. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA OU ONLINE: UM OLHAR NOS INDIVIDUOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS Muitas instituições dizem que a educação online passa a não ser atrativa para pessoas portadoras de necessidades especiais pelo próprio preconceito em relação a modalidade. Mas, de onde vem esse preconceito? A história da educação a distância vem de décadas e até milênios atrás. Temos relatos de educação a distância desde Roma Antiga. Os papiros eram levados de uma cidade para outra e destinados aos poucos habitantes que sabiam ler. Estes tinham acesso ao conteúdo teórico do documento. No entanto, educação a distância antes da internet sempre esteve ligada a chamada camada excluída da sociedade. Através do correio e rádio essa camada da sociedade ia em busca de uma qualificação profissional. Essa mesma qualificação acontecia nas escolas presenciais direcionadas às classes mais altas da população. Talvez venha dai o grande medo, receio e preconceito da comunidade acadêmica em relação à modalidade. 3 Com o advento da internet a mesma modalidade aparece com uma nova face, novas interações, novos avatares e, por isso, novas propostas pedagógicas. Mas, ainda desconhecida de uma grande parte da população, que a vê ligada ao passado de inclusão das minorias sociais, e por isso tão desprezada pela maior parte da população. Na educação online existe mais possibilidade de adaptar o material do curso, trazer flexibilidade na aprendizagem em rede para portadores de necessidades especiais, seja através da adaptação de software livres e disponíveis em vários sites, nos ambientes virtuais de aprendizagem ou da possibilidade de transformação do material em áudio ou vídeo. No entanto, pouco é feito ainda pelas Instituições que planejam os cursos online, planejamento a um que direcionam público-alvo sem todo o pensar nas diversidades especificas encontradas nesse público. Nos pólos das Universidades públicas em parceria com a Universidade Aberta do Brasil ainda faltam impressoras especiais para Braille e os conversores para áudio ainda perde no quesito qualidade, o que torna muitas vezes a caminhada das pessoas com necessidade especial repletas de pedregulhos, embora seus direitos sejam assegurados desde 1999, através da portaria nº1679, na prática pouco é feito. E ai voltamos na velha questão: e agora José? José para onde... PERCURSO PELO CAMPO VIRTUAL Esta pesquisa de campo resumiu-se em uma passagem e viagem pelo mundo virtual, as grandes dificuldades relatas pelos portadores de necessidades especiais em alguns sites freqüentados por esse público. Apresenta também alguns 4 sites que questionam seus problemas e ajudam esse público. A pesquisa de campo não teve o intuito de quantificar esses relatos e nem transformá-los em fatos verídicos para uma visão positivista de análise metodológica. Ao fazer análise de conteúdo dos relatos encontrados nos mais variados sites, blogs e lista de discussão sobre o tema, a pesquisa qualitativa propõe trazer reflexões sobre a temática. Esse percurso atrás dos relatos dos portadores de necessidades especiais na rede e nos ambientes virtuais de aprendizagem que hoje contemplam tanto ambientes fechados com o Moodle, das Instituições públicas e privadas, que ministram cursos de pós graduação e graduação como também listas de discussão, blogs, comunidades virtuais entre tantas outras formas de aprendizagem, visa conhecer mais a respeito desse público. Uma comunidade de aprendizagem online é muito mais que apenas um instrutor interagindo com alunos e alunos entre si. E´ na verdade, a criação de um espaço no qual alunos e docentes podem se conectar como iguais em um processo de aprendizagem, onde podem se conectar como seres humanos. Logo eles passam a se conhecer e sentir que estão juntos em alguma coisa. Eles estão trabalhando com um fim comum, juntos. (PALLOFF& PRATT, 2002) O olhar teórico na Rede Segundo relatos do aluno de Pedagogia do CEDERJ encontrado no site conselhos dos surdos, a dificuldade encontrada num curso a distância pode ser comparada a um curso presencial. O site conselhos dos surdos foi criado por uma comunidade aberta de pessoas de São Paulo que 5 promove reuniões toda semana para discutir problemas pertinentes a comunidade de surdos. No entanto, o site é freqüentado por pessoas da comunidade em geral e que possuem ou não outros tipos de necessidades especiais. O aluno do CEDERJ é portador de necessidade especial visual, optou pela modalidade de educação a distância, por um acaso. Como não passou na modalidade presencial tentou a sorte na modalidade a distância, foi aprovado no vestibular e hoje frequenta aulas no curso de pedagogia. Para ele, são várias as barreiras enfrentadas desde que começou a freqüentar o curso, desde falta de impressora de Braille no pólo que frequenta, até livros e materiais em Braille, como também um conversor de áudio muito agudo. A falta de instrutores capacitados para ajudar a utilizar softwares também é um ponto deficiente apontado pelo aluno. Utilizar a gravação das aulas presenciais é a única fonte de apoio de aprendizagem encontrada. Portanto, o discente considera que essas dificuldades seriam as mesmas que enfrentaria num curso presencial. De acordo com Moran (2003), aprender e ensinar e a aprender, 6 integrando ambientes presenciais, virtuais é um dos grandes desafios que a educação vem enfrentando no mundo inteiro. Outro site visitado e que pode apoiar muitos tutores na inclusão do público com necessidades especiais visuais é Braille virtual. Esse site foi criado por componentes da Universidade de São Paulo e visa capacitar a comunidade em geral para entender mais da escrita em Braille. O curso é livre, metodologia de aprendizagem de fácil acesso e pode ser usado tanto na educação presencial quanto na educação a distância como forma de divulgação da linguagem em Braille. O curso pode ser iniciado a qualquer momento pelos interessados. Quem se propor a conhecer a metodologia irá encontrar um mundo divertido de objeto de aprendizagem, games e diversão. Outro relato de estudante da educação a distância é encontrado no site da ABED. Do sexo masculino, o discente teve paralisia cerebral ao nascer e isso afetou seus 7 movimentos inferiores. Aos 26 anos o jovem estudantes anda apoiado nas paredes e sente dificuldade para andar, subir escadas e pegar transporte coletivo. Viu na educação a distância uma forma de qualificar-se profissionalmente: Procurei por uma instituição conceituada, que tivesse seus certificados reconhecidos pelo MEC e válidos para faculdade. Já conclui cinco cursos a distância: Motivação Pessoal, Matemática Básica, Matemática Financeira, Redação Técnica e Informática Básica. Atualmente, faço, simultaneamente: Práticas Administrativas, Marketing, Empreendedorismo, Gestão Financeira, Direção e Administração de Empresas e Técnico em Informática. (Relatos do estudante,26 anos) No entanto, o aluno enfrenta algumas dificuldades para acesso ao mercado de trabalho, mesmo com a qualificação especifica e seus direitos garantidos por lei em relação ao acesso de pessoas com necessidades especiais em empresas. O relato do estudante foi encontrado no site da ABED, Associação Brasileira de Educação a Distância. O site da Associação Brasileira de Educação a Distância tem a proposta de reunir educadores e profissionais que 8 trabalham com educação a distância e divulgar currículos dos mais diversos profissionais que atuam na área, além de oferecer cursos e demonstrar os pólos da ABED pelas mais diversas regiões do Brasil. Outro site visitado foi o deficiente online, que tem fóruns, noticias, downloads. Para maior comodidade da pessoa com necessidade especial visual, o site muda de cor, largura, tamanho de letra e tem opção de contraste. “Na educação o mais importante não é utilizar grandes recursos, mas desenvolver atitudes de comunicação e afetivas.” (MORAN, 2007) Nos temas dos fóruns de discussão do site não foi encontrado nenhuma discussão em relação à educação a distância, sendo os assuntos: o acesso as empresas por pessoas veículos, com necessidades esporte para especiais, portadores de adaptação de necessidades especiais, isenção de impostos. Nos fóruns de discussão 9 tem uma categoria separada por tipo de limitação e Informações sobre dúvidas que vão de esporte a sexualidade. O site é composto por 11969 usuários cadastrados. CONCLUSÃO O artigo traz alguns questionamentos em relação a pessoas com necessidades especiais, tanto em relação ao acesso a educação a distância, como comunidades virtuais de aprendizagem, quanto a sua interatividade com as interfaces pouco amigáveis. O que percebe-se é que mesmo diante de tantas transformações tecnológicas o acesso e inclusão digital do público com necessidades especiais ainda continua ineficiente e com grandes buracos negros. Muitas vezes o acesso desse público à educação a distância torna mais difícil pela interface, pela qualificação ineficiente dos recursos humanos que atuam na educação a distância e até mesmo pelo difícil acesso aos pólos das universidades, o que traz alguns questionamentos a portaria nº 1679, de 1999. Por outro lado, percebemos que mesmo com as dificuldades encontradas na modalidade a distância, vemos alguns indivíduos procurando-a para ter maior qualificação e poder concorrer nesse mercado de trabalho mais competitivo. O artigo planta algumas sementes para que seja repensado os planejamentos de cursos das universidades públicas e particulares, por meio da relação entre os problemas relatados pelas pessoas com necessidades especiais e a busca de soluções para o atendimento a esse público, melhorando a qualificação dos profissionais que prestam 10 serviço nessa modalidade, em uma hibridação de ambientes para o melhor atendimento às limitações dos alunos ou mesmo na preocupação quanto a estrutura física dos pólos de atendimento aos estudantes da modalidade. REFERÊNCIAS BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BOURDIEU, P. Coisas Ditas. S.P: Brasiliense, 1990. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. S.P: Paz e Terra, 1999. DOWBOR, Ladislau. 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